REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102410312138
Scheila Macedo Escobar Marques
INTRODUÇÃO
A sífilis é uma infecção sexualmente transmissível (IST) que tem representado uma séria preocupação em todo o mundo, especialmente devido ao aumento de casos nos últimos anos. Apesar de tratável, se não diagnosticada precocemente, a sífilis pode evoluir para estágios graves, levando a complicações neurológicas e até à morte. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), houve um crescimento global significativo nos casos de sífilis, especialmente em relação à sífilis congênita, que é transmitida de mãe para filho durante a gestação (World Health Organization, 2021).
No Brasil, estudos indicam que os casos de sífilis congênita aumentaram 30% entre 2018 e 2022, o que reflete desafios no diagnóstico precoce e no tratamento adequado das gestantes (Domingues et al., 2023). Assim, para elucidar um pouco sobre este assunto, por meio de uma revisão literária, o presente artigo visa destacar as principais estratégias recomendadas por especialistas para prevenção e tratamento da Sífilis no Brasil.
CONCEITO, SINTOMATOLOGIA E ESTÁGIOS DA DOENÇA
A sífilis é causada pela bactéria Treponema pallidum, um espiroqueta, identificado no início do século XX por Fritz Schaudinn e Erich Hoffmann em 1905, como uma infecção sexualmente transmissível (IST), sendo o sexo vaginal, anal ou oral as principais formas de transmissão. No entanto, a doença também pode ser transmitida de outras maneiras:
- Transmissão Congênita: A sífilis pode ser transmitida de uma mãe infectada para o bebê durante a gestação ou no momento do parto. Isso é conhecido como sífilis congênita, que pode causar sérios problemas de saúde para o recém-nascido, incluindo malformações e morte neonatal .
- Contato Direto com Lesões: A infecção pode ocorrer através do contato direto com as feridas ou lesões de uma pessoa infectada. Essas lesões podem estar presentes nos estágios primário ou secundário da doença, onde a sífilis se manifesta na forma de feridas indolores (cancros) ou erupções cutâneas .
- Transfusão de Sangue ou Instrumentos Contaminados: Embora raro, a sífilis pode ser transmitida através de transfusões de sangue contaminado ou pelo uso de instrumentos médicos não esterilizados que tenham sido expostos a fluidos corporais de uma pessoa infectada .
Essa doença é dividida em três estágios: primária, secundária e terciária. No estágio primário, uma ferida indolor (cancro) pode aparecer no local da infecção. Se não tratada, a doença evolui para o estágio secundário, onde sintomas como febre, lesões na pele e ínguas podem ocorrer. O estágio terciário, mais grave, pode afetar órgãos como coração e cérebro, levando a sérias complicações (Gomes et al., 2020). Em muitos casos, os pacientes permanecem assintomáticos durante os estágios iniciais, o que dificulta o diagnóstico e reforça a necessidade de exames periódicos para populações de risco (Oliveira et al., 2020).
PREVENÇÃO, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO
A prevenção da sífilis envolve, acima de tudo, a educação sexual e o uso de preservativos. O tratamento padrão no Brasil consiste na administração de penicilina benzatina, um antibiótico amplamente utilizado para eliminar a bactéria Treponema pallidum, agente causador da sífilis (Marangoni et al., 2020). Estudos indicam que, embora o tratamento seja eficaz, há uma necessidade urgente de campanhas de educação e políticas públicas que enfatizem a importância da testagem precoce, especialmente em populações vulneráveis (Rodrigues et al., 2021). Segundo Silva e Santos (2022), campanhas de conscientização são cruciais para aumentar a adesão à testagem e ao tratamento, principalmente entre jovens e pessoas vivendo com HIV.
No Brasil, a qualquer momento, qualquer pessoa pode procurar o posto de saúde para realizar o teste rápido de sífilis. O Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza gratuitamente testes por ser uma estratégia essencial para o controle e redução da transmissão da doença. Segundo Lima e Souza (2020), a ampliação do acesso aos testes rápidos de sífilis tem sido uma medida de saúde pública crucial para identificar e tratar precocemente os casos. Realizar o teste é um passo importante tanto para indivíduos em situação de risco quanto para aqueles que desejam garantir sua saúde sexual e reprodutiva.
Ele deve ser prioridade para pessoas sexualmente ativas, principalmente aquelas que não utilizam preservativos regularmente, são aconselhadas a buscar o teste. Para gestantes, a testagem é obrigatória durante o pré-natal, com repetição ao longo da gestação (Tavares et al., 2019). Além disso, parceiros de pessoas diagnosticadas com sífilis e aqueles que apresentem sintomas como feridas nos genitais ou ínguas na região da virilha também devem ser testados. O teste é realizado por meio da coleta de uma pequena amostra de sangue, com a qual se pode detectar a presença de anticorpos para a bactéria Treponema pallidum. De acordo com Soares e Junior (2021), essa metodologia é amplamente utilizada no Brasil devido à sua praticidade e precisão, além de fornecer resultados em poucos minutos, facilitando o encaminhamento para tratamento.
Após a confirmação do diagnóstico positivo, o tratamento é iniciado de imediato. Aqui, a terapia padrão para a sífilis consiste na aplicação de penicilina benzatina tanto para gestantes quanto para recémnascidos afetados pela doença, por ser um antibiótico de alta eficácia que pode ser administrado nos próprios postos de saúde. Marangoni et al. (2020) apontam que a penicilina é o tratamento de escolha para todos os estágios da sífilis e continua a ser o protocolo mais eficaz para a doença. Por isso, gestantes e recém-nascidos quando diagnosticados com a doença devem receber penicilina benzatina em doses que variam de acordo com a idade e o estágio em que se encontra a doença, conforme as diretrizes internacionais e brasileiras:
1. Para a gestante:
- Sífilis primária, secundária ou latente precoce: 2,4 milhões de unidades de penicilina benzatina, aplicadas em dose única.
- Sífilis latente tardia ou de duração desconhecida: 7,2 milhões de unidades de penicilina benzatina, divididas em três doses de 2,4 milhões a cada semana.
2. Para o recém-nascido: O tratamento depende de se a mãe foi tratada adequadamente durante a gravidez:
- Se a mãe não foi tratada adequadamente ou se o bebê apresenta sinais de sífilis congênita (sintomas como hepatoesplenomegalia, icterícia, lesões cutâneas, etc.), o tratamento da sífilis pós-parto permanece o mesmo e o recém-nascido deverá ser tratado com penicilina cristalina intravenosa (50.000 unidades/kg/dose) a cada 12 horas nos primeiros 7 dias de vida e a cada 8 horas nos dias subsequentes, por 10 a 14 dias.
- Para bebês assintomáticos, mas cujas mães não receberam tratamento adequado, o tratamento com penicilina procaína intramuscular por 10 dias também é recomendado.
Após o início do tratamento, é essencial que o paciente complete todo o ciclo prescrito e siga as orientações médicas, além de garantir que seus parceiros também realizem o tratamento. Além disso, o acompanhamento médico regular do bebê é fundamental para garantir a eliminação da infecção e monitorar possíveis complicações.
Importante salientar que depois de uma vez feito tratamento contra sífilis, o acompanhamento médico deve incluir novos testes para garantir que a infecção tenha sido completamente eliminada. Em casos de gestantes, o tratamento é especialmente importante para prevenir a transmissão congênita (Rodrigues et al., 2021).
CONCLUSÃO
A testagem regular de pessoas sexualmente ativas é a melhor maneira de prevenir a propagação da sífilis, especialmente para gestantes para reduzir a incidência de sífilis congênita. O acesso aos testes rápidos e ao tratamento da sífilis no Brasil, oferecido gratuitamente pelo SUS, é uma ferramenta poderosa no combate à propagação da doença. A conscientização, aliada a programas eficazes de prevenção e testagem, é fundamental para controlar essa infecção que, se não tratada, pode levar a complicações graves de saúde. Procurar um posto de saúde para fazer o teste de sífilis é um gesto de cuidado com a própria saúde e a de outras pessoas.
O acesso aos testes rápidos e ao tratamento da sífilis no Brasil, oferecido gratuitamente pelo SUS, é uma ferramenta poderosa no combate à propagação da doença. A conscientização, aliada a programas eficazes de prevenção e testagem, é fundamental para controlar essa infecção que, se não tratada, pode levar a complicações graves de saúde. Por isso, procurar um posto de saúde para fazer o teste de sífilis é um gesto de cuidado com a própria saúde e a de outras pessoas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DOMINGUES, Rosa Maria Soares Madeira et al. Sífilis no Brasil: série histórica de 2007 a 2014. Revista Brasileira de Epidemiologia, v. 26, n. 1, p. 45-52, 2023.
GOMES, R. F.; SILVA, A. R.; PEREIRA, G. A. Diagnóstico precoce de sífilis: desafios e estratégias. Revista de Saúde Pública, v. 40, n. 3, p. 32-38, 2020.
MAJANDER, K. et al. Syphilis microbe’s family has plagued humans for millennia. Nature, 2024. Disponível em: https://doi.org/10.1038/s41586-023-06965-x. Acesso em: 02 out. 2024.
MARANGONI, S. R.; SILVEIRA, M. F.; SOARES, A. C. Impacto da sífilis gestacional e congênita no Brasil. Cadernos de Saúde Pública, v. 36, n. 3, p. 58-64, 2020.
OLIVEIRA, M. L. et al. Prevalência e fatores associados à sífilis adquirida no Brasil. Revista Brasileira de Epidemiologia, v. 23, n. 4, p. 15-21, 2020.
RODRIGUES, M. L.; COSTA, A. P.; PINTO, L. G. Testes rápidos para sífilis: uma estratégia de saúde pública. Revista de Medicina Preventiva, v. 35, n. 2, p. 55-62, 2021.
SILVA, P. R.; SANTOS, C. V. A importância da testagem para a redução da sífilis congênita. Cadernos de Saúde Pública, v. 38, n. 3, p. 45-50, 2022.
SOARES, T. A.; JUNIOR, R. C. Uso dos testes rápidos no diagnóstico de sífilis no Brasil. Jornal Brasileiro de Infectologia, v. 25, n. 1, p. 110-115, 2021.
TAVARES, C. M.; PEREIRA, G. S. Sífilis congênita no Brasil: fatores associados à incidência em gestantes. Cadernos de Epidemiologia, v. 42, n. 1, p. 25-32, 2019.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Global progress report on STI 2021. Geneva: WHO, 2021.Available at: https://www.who.int/publications/i/item/9789240035840. Acesso em: out. 2024.