GESTATIONAL SYPHILIS IN PARÁ: SOCIODEMOGRAPHIC DETERMINANTS AND EPIDEMIOLOGY
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202501291621
Andressa da Silva Guerra¹;
Msc. Daniele Socorro de Brito Souza Paiva².
Resumo
Introdução: Apesar dos esforços para combater a sífilis gestacional, altas taxas da doença persistem no Brasil, com distribuição heterogênea entre os estados. O Pará apresenta desafios únicos devido às características sociodemográficas, que dificultam o controle efetivo da doença. Objetivo: Analisar as determinantes sociodemográficas e o perfil epidemiológico da sífilis gestacional no Pará. Métodos: Estudo transversal descritivo com dados do SINAN, abrangendo 2019 a 2023, utilizando informações sociodemográficas e epidemiológicas da região. A prevalência foi calculada com base no Censo Demográfico de 2022 do IBGE. Resultados: Foram registrados 12.541 casos de sífilis gestacional no Pará. A maior prevalência foi entre mulheres de 20 a 39 anos (70,4%), etnia parda (80,0%) e com ensino fundamental completo (37,5%). Observou-se falha significativa na adesão aos testes treponêmicos recomendados, com 18,5% das gestantes não realizando ou não tendo acesso a esses testes. A maioria dos casos foi diagnosticada na fase primária (41,7%), seguida pela fase latente (15,8%). Geograficamente, a região metropolitana I concentrou 25,5% dos casos, enquanto Marajó I teve apenas 2,4%. Conclusão: A sífilis gestacional no Pará afeta principalmente mulheres jovens, de etnia parda e com baixo nível educacional, destacando a necessidade de intervenções direcionadas a esses grupos. O acesso insuficiente aos testes recomendados é um problema crítico, assim como a necessidade de estratégias de saúde pública adaptadas às áreas urbanas e rurais. Políticas eficazes e vigilância epidemiológica contínua são fundamentais para reduzir as taxas de sífilis gestacional e mitigar seus impactos na saúde materno-infantil.
Palavras-chave: Sífilis. Epidemiologia. Prevalência. Saúde Materno-infantil.
1 INTRODUÇÃO
A sífilis gestacional (SG), é uma infecção bacteriana transmitida verticalmente de mãe para filho durante a gravidez (Munerato et al., 2023). A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 6,3 milhões de pessoas possuem sífilis (OPAS, 2019). No contexto brasileiro, apesar dos esforços contínuos para erradicar a doença, foi reportado 324.683 casos de SG, uma média de 64.936 casos anuais (Brasil, 2024).
Essa doença na gestante resulta em complicações graves como abortos espontâneos, mortes neonatais, partos prematuros e sífilis congênita (Marinho de Souza, 2019). Isso, contribui significativamente para a morbidade e mortalidade materna e infantil, especialmente em países com sistemas de saúde menos desenvolvidos (Bezerra et al., 2019). No Brasil, a heterogeneidade na distribuição dos casos revela uma complexa matriz de desafios epidemiológicos e socioeconômicos, que exacerbam as dificuldades de prevenção e controle da doença (Silva et al., 2021). Nesse sentido, a enfermidade se revela uma séria preocupação de saúde pública. (Cardoso et al., 2023).
Embora existam protocolos e estratégias para seu manejo, ainda existem barreiras significativas que impedem a erradicação efetiva da doença. Entre elas está o conhecimento, baixo índice de realização de pré-natais, falta de assistência, falta de conhecimento para diagnosticar a fase da infecção e não comprometimento dos parceiros sexuais em realizar o tratamento adequado (Carvalho; Aquino; Cardoso, 2023)
No Estado do Pará, as particularidades geográficas e socioeconômicas criam um cenário complexo para o diagnóstico e tratamento da sífilis gestacional. A vastidão territorial, aliada à dispersão populacional, impõe desafios únicos que afetam a eficácia das intervenções de saúde. Esses desafios são refletidos em dados locais, que mostram características específicas quando comparados às tendências nacionais (Pinheiro et al., 2020).
Essa realidade no Estado do Pará sublinha uma lacuna crítica. A necessidade de investigar essa condição em um contexto específico e atual é imperativo para moldar políticas públicas mais eficazes e direcionadas, que possam endereçar as especificidades locais. Portanto, este estudo tem como objetivo principal traçar as determinantes as sociodemográficas e o perfil epidemiológico da sífilis gestacional no Estado do Pará.
2 METODOLOGIA
Este estudo transversal descritivo emprega uma abordagem quantitativa para analisar a prevalência da sífilis gestacional (SG) no estado do Pará, Brasil, de 2019 a 2023. Para realizar essa análise, foram utilizados dados obtidos na base de dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), disponibilizado pelo Ministério da Saúde por meio do banco de dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS).
A população do estudo foi constituída pelas notificações do diagnóstico confirmado de SG no referido período. As variáveis de seleção no SINAN incluíram: casos por ano, idade da gestante, município de residência, escolaridade, etnia, tipo de teste realizado para confirmação diagnóstica (treponêmico e não treponêmico) e estágio clínico da doença (sífilis primária, secundária ou terciária). Foram excluídos os dados que não compreendiam o aludido período.
Após a seleção da população do estudo e das variáveis de interesse, os dados foram tabulados e organizados o software Microsoft Excel® 2010. As tabelas foram posteriormente analisadas de forma descritiva para identificar padrões, tendências e características do perfil epidemiológico da SG no estado do Pará.
O cálculo da incidência da SG no estado do Pará e no Brasil foi realizada a partir dos dados sociodemográficos obtidos no Censo demográfico do Brasil de 2022 disponibilizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para isso, foi feita a divisão do número total de casos notificados por ano dividido pelo número de habitantes, em seguida a multiplicação do resultado por 100.000. Os dados deste último Censo revelaram uma população no país de 203.080.756, já a população do estado do Pará somou 8.120.131. A escolha desse Censo se ampara por ser a pesquisa oficial do país e mais recente. Assim, reflete uma projeção mais próxima da realidade.
É importante ressaltar que no decorrer do estudo não foram realizadas intervenções em seres humanos. Dado o uso exclusivo de dados de domínio público, este estudo dispensa a aprovação por um Comitê de Ética em Pesquisa.
3 RESULTADOS
No período em estudo o Brasil registrou 324.675 casos de SG, dos quais 12.541 foram no Estado do Pará. Por conseguinte, este estado ocupa a 8ª posição entre os estados brasileiros em número de casos de SG (Figura 1). Além disso, é possível observar que embora em proporções diferentes o Estado do Pará e o país apresentam a mesma tendência no número de notificações. Há um aumento entre 2020 e 2022, em seguida uma queda até 2023 (Figura 2).
Figura 1. Notificações de Sífilis Gestacional no Brasil por UF entre 2019 e 2023.
Na análise da incidencia dos casos de SG a cada 100.000 habitantes em relação ao território nacional, o estado do Pará evidenciou uma pequena diminuição da incidencia entre o ano de 2019 a 2020. A partir de então houve um aumento em torno de 60% ate o ano de 2022, superando a nacional nos anos de 2021, 2022 e 2023, mesmo com um decrescimo maior que 50% no último ano analisado. No que tange os casos do país, o Brasil apresentou 28,6% de aumento de 2019 a 2022. Entretanto, no país, em 2023 também houve uma queda incidiosa (Figura 2).
Figura 2. Incidencia (1:100.000) de Sífilis gestacional no estado do Pará comparativamente com o Brasil entre 2019 e 2023.
Fonte: Ministério da Saúde/SVS – Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan Net
A análise dos dados das 13 Regiões de Saúde do estado (Quadro 1), evidenciou que a região Metropolitana 1 foi a que obteve o maior número de casos de SG no período analisado, seguido da região de Carajás e Baixo Amazonas. Em contrapartida, Marajó 1 contabilizou o menor número de casos de 2019 a 2023 (Figura 3).
Quadro 1. Divisão das regiões de saúde do Pará por município
Fonte: Universidade Federal do Pará (UFPA) – Instituto do Pacto de Saúde: Regionalização e municipalização da saúde no Estado do Pará (Nunes, 2018)
Figura 3. Casos notificados de Sífilis em gestantes por ano das regiões de saúde do estado do Pará entre 2019 e 2023.
Observando a idade das gestantes infectadas por Sífilis, há um predomínio no número de casos na faixa etária entre 20 e 39 anos (70,4%) e de etnia parda (80,0%). Em relação à escolaridade, a maioria das gestantes notificadas com sífilis possui, ao menos parcialmente, ensino fundamental (37,5%). Notavelmente, 21,4% dos casos têm escolaridade desconhecida ou não informada (tabela 1).
Tabela 1. Características sociodemográficas dos casos notificados com Sífilis gestacional entre 2019 e 2023 no estado do Pará
Em relação as regiões de saúde, a faixa etária, em anos, apontam o predomínio das gestantes entre 20 e 39 anos na Metropolitana I, bem como da etnia mais acometida do estado, conforme a tabela 2 e 3.
Tabela 2. Faixa etária dos casos de SG nas regiões de saúde entre 2019 e 2023.
Tabela 3. Casos de SG por etnia nas regiões de saúde do estado do Pará entre 2019 e 2023.
A classificação clínica da Sífilis, em relação as regiões de saúde, aponta que no momento do diagnóstico a maioria das gestantes se encontravam na fase Primária, mesmo com muitas notificações ignoradas/branco (Tabela 4).
Tabela 4. Classificação clínica dos casos notificados de SG em relação as regiões de saúdo no estado do Pará de 2019 a 2023.
Por fim, o método diagnóstico das notificações do período estudado, dentre os dois tipos de testes, o teste não treponêmico foi positivo em 78,3%, enquanto treponêmico foi positivo em 70,2% (Tabela 5). Vale destacar, o padrão ouro para o diagnóstico é o teste treponêmico, porém mais de 18% não realizaram ou não tiveram acesso a ele. Em relação a fase clínica, o maior número de notificações foi na Sífilis Primária (41,7%), seguida pela Sífilis latente (15,8%).
Tabela 5. Teste para diagnóstico de Sífilis em gestantes entre 2019 e 2023
4 DISCUSSÃO
O trabalho realizado a partir do número de casos notificados de SG no estado do Pará entre 2019 e 2023 identificou um número total de 12.541 casos. Isso corresponde a 26% do número total do país, o que coloca o estado em 8º lugar no ranking nacional. Além disso, observou-se uma incidência de 19,4 casos a cada 100.000 habitantes. A maior prevalência foi nas gestantes com faixa etária entre 20 e 39 anos, etnia parda, nível de escolaridade fundamental, em fase clínica primária e diagnosticadas com teste não treponêmico.
Em relação a incidência, embora uma redução de mais de 50% em 2023, o estado paraense se manteve superior ao parâmetro da federação. Essa tendência é apontada desde 2021 e demonstra um grande problema de saúde pública.
Quando se trata da divisão do estado por regiões de saúde, o Pará possui 13 regiões. As regiões de saúde são delimitações geográficas estabelecidas para coordenar e administrar a oferta de serviços de saúde. Elas são fundamentais na distribuição de recursos federais e no planejamento das atividades de saúde. A análise dessas áreas é crucial, uma vez que desempenham um papel essencial na organização dos serviços e no direcionamento das políticas públicas de saúde (Rocha; Rache; Nunes, 2022).
Dessa forma, ao analisar as características das 13 regiões de saúde do Pará, conforme dados do DATASUS, observou-se uma predominância de casos na região Metropolitana 1 durante o período estudado, responsável por 25,5% dos casos. Essa região, inclui Belém, a cidade mais populosa do estado, o que pode justificar a concentração significativa da doença. Em contraste, a região do Marajó 1 registrou o menor número acumulado de casos, com apenas 2,4% dos casos.
Esse índice de casos pode levantar uma importante questão: o menor número de casos registrados reflete uma menor incidência real da SG ou pode estar relacionado a uma subnotificação devido à ausência de testes de rastreamento adequados? A baixa infraestrutura de saúde em áreas remotas, como a região do Marajó, pode dificultar o acesso ao diagnóstico e ao acompanhamento adequado das gestantes, levando à subnotificação dos casos (Saes et al., 2022). Sem um rastreamento eficiente e a realização dos testes diagnósticos necessários, muitos casos podem passar despercebidos, subestimando o verdadeiro volume da doença nessas áreas. Portanto, é crucial considerar que os dados apresentados podem não representar fielmente a realidade epidemiológica da SG, especialmente em regiões com acesso limitado aos serviços de saúde.
Entre as características analisadas no estudo, a faixa etária das gestantes infectadas, etnia parda e baixa escolaridade, assemelham-se aos dados nacionais e de algumas capitais como Maceió (Yandra et al., 2023) e São Paulo (Luppi et al., 2020). A baixa escolaridade, como afirma Mota et al (2020), pode sinalizar um fator de risco à saúde por interferir não somente no conhecimento do indivíduo em relação a doença, mas também no que concerne sua profilaxia e tratamento. Isso propicia relações sexuais desprotegidas (Correia et al, 2022) e menor número de consultas do pré-natal ou a não realização, o que ocasiona grandes prejuízos a mãe e seu bebê (Trento; Moreira, 2022).
Os resultados obtidos estão alinhados com observações feitas em outras regiões. Conforme trabalho realizado a partir de dados da cidade de São Luís, Maranhão, o grupo mais afetado é o de jovens entre 20 e 39 anos (Fernandes et al., 2021). Pesquisa similar em Anápolis, Goiás, identificou a faixa etária de 19 a 20 anos como a mais prevalente (Filho et al., 2020). Em contraste ao que foi apresentado neste estudo, Silva et al. (2019), notou uma predominância da sífilis entre gestantes brancas. Além disso, a escolaridade mais comum entre as participantes era fundamental incompleto. No entanto, há um aumento observável na quantidade de gestantes com ensino médio completo ou incompleto.
Vale ressaltar, que as regiões de saúde apontam características homogêneas em relação a faixa etária, escolaridade e etnia o que diferencia é a quantidade de cada. Apesar da etnia indígena obter os menores números de notificações, é importante destacar que o maior número de casos de SG entre indivíduos dessa etnia foi a região do Tapajós, a qual abriga a cidade Santarém, que possui a maior concentração indígena do estado segundo o IBGE, 2023.
Para o diagnóstico da Sífilis, conforme abordado no Manual Técnico para diagnóstico da Sífilis, emitido pelo Ministério da Saúde (Brasil, 2021), é necessário a realização de testes treponêmicos e não treponêmicos. No caso de divergência entre os testes, deve ser realizado um novo teste treponêmico com método de análise diferente do realizado anteriormente com a finalidade de comprovar ou excluir o diagnóstico (Lima et al., 2021).
O estudo realizado em Goiás (Oliveira; Oliveira; Alves, 2021), classifica o teste não treponêmico (VDRL ou RPR) como um teste sensível que usa como base a detecção do anticorpo anticardiolipina, porém, como apresenta 25% de resultados falso negativos em pacientes na fase clínica latente, ele representa um risco para as gestantes que utilizaram apenas este teste como método de rastreio. Em contrapartida, os testes treponêmicos (FTAAbs, TPHA, CLIA/CMIA) são testes específicos que detectam anticorpos contra antígenos do Treponema pallidum, fornecendo maior segurança no diagnóstico (Gaspar et al, 2021).
Um estudo conduzido por Mendes et al. (2023) analisou a realização de testes para diagnóstico de sífilis nos estados do norte do Brasil, observando um predomínio do teste não treponêmico, especialmente no Pará, seguido por Rondônia, Amazonas, Roraima e Tocantins. A exceção foi notada no Acre e no Amapá, onde os testes treponêmicos foram mais frequentes. De acordo com o Boletim Epidemiológico da Sífilis (Brasil, 2023), tem sido notada uma tendência nacional de redução no diagnóstico de sífilis com base exclusiva no teste não treponêmico, favorecendo uma abordagem combinada dos testes não treponêmicos e treponêmicos.
No que tange a análise do diagnóstico, revelou que a fase clínica primária de SG foi a mais notificada, contrapondo-se a tendência observada nacionalmente que apresentou a fase latente como a principal (Brasil, 2023). Esse padrão também se repetiu em Uberlândia, Minas Gerais, onde 56% dos casos registrados no período pertenciam a essa fase (Sousa et al., 2020), assim como na Bahia (Soares; Aquino, 2021), corroborando os achados deste estudo. Entretanto, há estados que se alinham com os parâmetros da federação, como Santa Catarina, onde a fase clínica latente representou a maioria dos casos (DIVE, 2022), possivelmente devido as práticas diagnósticas aprimoradas para identificar esta fase assintomática da doença (Brasil, 2021).
Além disso, conforme Ramos et al. (2022), os pacientes costumam procurar atendimento médico após o surgimento do cancro duro, uma lesão mucosa única e indolor que se desenvolve aproximadamente 3 semanas após a infecção. Esta lesão muitas vezes passa despercebida devido à sua natureza indolor, aumentando o risco de uma doença não ser notada. No entanto, quando observada, este momento é crucial para a detecção, visto que a lesão pode desaparecer entre 2 e 6 semanas, aumentando consequentemente a probabilidade de transmissão vertical ao feto, resultando em sífilis congênita (Milanez; Lajos; Amaral, 2020).
O não diagnóstico ainda vêm sendo um problema de saúde pública e demonstra falhas durante o acompanhamento da gestação no pré-natal (Domingues et al., 2021). Isso acarreta graves consequências como aborto, baixo peso de nascimento e a transmissão vertical da doença para o recém-nascido, denominada Sífilis Congênita (Moraes; Correia; Machado, 2022). O tratamento da gestante se baseia na administração de Benzilpenicilina Benzatina imediatamente após o diagnóstico da SG (Freitas et al., 2021). Vale ressaltar, a importância da testagem e tratamento do parceiro, com a finalidade de evitar a reinfecção (Fernandes; Souza; Oliveira, 2021).
Apesar da magnitude e seriedade da doença, os dados analisados apresentam limitações quanto a possibilidade da presença de subnotificações mediante ao cenário de pandemia da COVID-19 vivido em 2020 e 2021, além das baixas taxas de detecção que toda a região norte e nordeste do país apresenta (Brasil, 2023). A grande quantidade de preenchimento das notificações como ignorado/branco também dificulta uma análise mais precisa da situação epidemiológica.
A notificação adequada dos casos de SG é essencial para entender a real magnitude do problema e planejar intervenções eficazes. A subnotificação é um desafio significativo, pois muitos casos podem não ser registrados devido a falhas no sistema de saúde, falta de acesso a serviços de diagnóstico ou desconhecimento dos profissionais de saúde e pacientes sobre a importância da notificação. Certamente se todos os casos fossem corretamente notificados, os números seriam ainda maiores, o que ressaltaria ainda mais a gravidade da situação e a necessidade urgente de melhorias nos sistemas de vigilância e notificação.
Os resultados deste estudo destacam um significativo problema de saúde pública no Pará, onde os índices de SG superam a média nacional. Apesar da notável diferença nas notificações, as determinantes analisadas mostraram pouca variação. Este estudo sublinha a urgência de medidas preventivas e de promoção da saúde para o controle efetivo de uma condição tão grave.
5 CONCLUSÃO
O perfil epidemiológico da SG no Estado do Pará de 2019 a 2023 revelou que o estado paraense enfrenta desafios significativos, com 12.541 casos registrados. Os resultados indicam uma prevalência elevada entre gestantes de 20 a 39 anos (70,4%), principalmente de etnia parda (80,0%) e com baixo nível educacional (37,5% com ensino fundamental), sublinhando a necessidade de estratégias de saúde pública que melhorem o acesso ao diagnóstico precoce e ao tratamento adequado.
A análise também apontou deficiências no seguimento dos protocolos de testes treponêmicos, essenciais para um diagnóstico preciso, com 18,5% das gestantes não realizando ou não tendo acesso a esses testes. Observou-se variações geográficas significativas, destacando a necessidade de intervenções locais específicas.
Esses achados reforçam a urgência de implementar ações educacionais direcionadas e adaptadas às particularidades locais para combater a transmissão vertical da sífilis. Além disso, é crucial avaliar e reforçar as políticas públicas existentes para garantir sua eficácia. Ademais, a continuidade da vigilância epidemiológica e estudos adicionais são cruciais para ajustar as intervenções e reduzir as taxas de SG no estado, mitigando suas consequências para a saúde materno-infantil.
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¹Médica, residente em Ginecologia e Obstetrícia da Universidade do Estado do Pará (UEPA), em parceria com a fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará. e-mail: andressaguerra0@gmail.com
²Médica (UEPA, Especialidade em Ginecologia e Obstetrícia (FSCMP).