REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10213948
Clídia Mara Nascimento Rógeberg1
Dayane Pimentel Guerreiro2
Kesia Ferreira Feitosa Pontes3
Maria de Jesus do Nascimento Diniz4
Silvana Nascimento da Palma5
Enfª Raylane Katícia da Silva Gomes6
RESUMO
Introdução: A sífilis congênita decorre pela disseminação hematogênica do Treponema pallidum, por via transplacentária e durante o parto. Quando não tratada ou tratada indevidamente, pode ocasionar para as gestantes a indução do aborto e parto precoce.
Objetivo: Diante do exposto o objetivo do trabalho é identificar na literatura as formas de contaminação e tratamento da sífilis congênita, bem como descrever a atuação da equipe multiprofissional.
Justificativa: Justifica-se que é necessário que se façam incansáveis testes para diagnosticar a gestante portadora de sífilis o quanto antes, iniciando o seu tratamento o mais rápido possível.
Metodologia: A metodologia desse trabalho é uma revisão bibliográfica. A partir deste cenário junto com as pesquisas questiona-se: Quais as ações de enfermagem no contexto da sífilis gestacional como ocorrem à contaminação e o tratamento adequado.
Resultados e Discussão: O método que foi aplicado nesse estudo é de revisão bibliográfica utilizando os artigos e portal do Ministério da saúde. Para a busca dos artigos foram utilizados os descritores em pares sífilis congênitas, enfermagem, saúde pública e sífilis gestacional.
Conclusão: A partir dos resultados apresentados neste estudo conclui-se que a sífilis corresponde a um grave problema de saúde pública a ser solucionado.
Descritores: Sífilis Congênita, Gestação, Pré-Natal.
ABSTRACT
Introduction: Congenital syphilis occurs due to the hematogenous dissemination of Treponema pallidum, via transplantation and during childbirth. When not treated or treated improperly, it can cause pregnant women to induce miscarriage and early birth.
Objective: In view of the above, the objective of the work is to identify in the literature the forms of contamination and treatment of congenital syphilis, as well as to describe the performance of the multidisciplinary team. Justification: It is justified that it is necessary to carry out tireless tests to diagnose pregnant women with syphilis as soon as possible, starting their treatment as quickly as possible.
Methodology: The methodology of this work is a bibliographic review. From this scenario, together with the research, the question arises: What are the nursing actions in the context of gestational syphilis, how do contamination and appropriate treatment occur?
Results and Discussion: The method that was applied in this study is a bibliographic review using articles and the Ministry of Health portal. To search for articles, the descriptors congenital syphilis, nursing, public health and gestational syphilis were used in pairs. Conclusion: From the results presented in this study, it is concluded that syphilis corresponds to a serious public health problem that needs to be solved.
Descriptors: Congenital Syphilis. Gestation. Pre Christmas.
1 INTRODUÇÃO
A sífilis congênita decorre pela disseminação hematogênica do Treponema pallidum, por via transplacentária e durante o parto. Quando não tratada ou tratada indevidamente, pode ocasionar para as gestantes a indução do aborto e parto precoce. Já para o feto pode levar a infecção congênita, baixo peso ou até mesmo, a evolução para o óbito (ROSA et al., 2020).
A sífilis pode ser classificada, segundo o estágio da doença em sífilis latente, primária, secundária ou terciária, sendo os estágios primário e secundário, os que apresentam maior potencial de transmissão (MARQUES et al., 2018).
Quando a mãe com sífilis transmite a infecção ao filho durante a gestação, por via vertical ou na hora do parto, ou quando o recém-nascido entra em contato com as lesões genitais da mãe, ela é definida como Sífilis Gestacional (SG) (AHUMADA; LAVALLE; CHAMORRO, 2017).
Tal situação pode trazer consequências como: o abortamento, prematuridade, manifestações congênitas precoces ou tardias e morte do recém-nascido (BRASIL, 2019). Diante da gravidade da situação a SG se tornou uma doença de notificação compulsória (RAMOS; BONI, 2018).
Atualmente, no mundo, a sífilis atinge um milhão de gestantes por ano, causando mais de 300 mil óbitos fetais e neonatais e expondo em risco de morte prematura mais de 200 mil crianças (BRASIL, 2017). Essa infecção é um grave problema de saúde pública devido às complicações perinatais como a sífilis congênita (PADOVANI et al., 2018).
O número de casos notificados de sífilis no Brasil tem aumentado a cada ano. Em 2020 foram notificados 49.154 casos de sífilis adquirida, sendo 24.189 casos de sífilis gestacional. Foram notificados 384.411 casos de sífilis gestacional entre os anos de 2005 e 2020, com uma taxa de detecção variando de 2,9 a 21,5 por 1.000 nascidos vivos. Estes aumentos significativos também impactaram na incidência nos casos de sífilis congênita, os quais atingiram valores 8.968 em 2020, englobando sífilis precoce e tardia (BRASIL, 2020).
Quando uma gestante apresenta diagnóstico positivo para sífilis é necessário que ela seja acompanhada por um profissional para tratamento, tanto da gestante quanto de seu parceiro (SANTANA et al., 2019). O profissional de enfermagem tem o papel de prestar uma atenção de pré-natal de qualidade, com a responsabilidade de averiguar o histórico de saúde da gestante, identificando precocemente as portadoras da infecção (FREITAS; MEDEIROS, 2018).
Considera-se sífilis gestacional aquela diagnosticada em qualquer fase da gestação, pós-aborto ou puerpério. Este diagnóstico pode ser realizado na primeira consulta de pré-natal, por meio do teste rápido e VDRL que compõem o teste da mamãe. É necessário garantir acessibilidade aos exames de rastreamento o mais precoce possível, para que assim, o tratamento seja realizado em tempo oportuno (ROSA et al., 2020).
Sendo assim, conhecer a magnitude do perfil epidemiológico da sífilis gestacional no estado do Amazonas poderá ampliar o entendimento dos acontecimentos patológicos que envolvem a mãe e o filho na gestação, bem como a qualidade dos serviços prestados à gestante com as ações de prevenção e promoção da saúde, permitindo a comparação da situação atual da doença.
Diante do exposto o objetivo do trabalho é identificar na literatura as formas de contaminação e tratamento da sífilis congênita, bem como descrever a atuação da equipe multiprofissional.
A partir deste cenário junto com as pesquisas questiona-se: Quais as ações de enfermagem no contexto da sífilis gestacional e como ocorrem à contaminação e o tratamento adequado?
Tendo em vista que o conhecimento adquirido através dos estudos analisados é um meio que permite preparar e qualificar melhor os profissionais em sua atuação, espera-se refletir sobre sua prática profissional e necessidade de transformação das ações sobre essa temática, contribuindo para um planejamento da assistência à gestante.
2 OBJETIVOS
2.1 Objetivos Gerais
Identificar na literatura científica as formas de contaminação e tratamento da sífilis congênita, bem como descrever a atuação da equipe multiprofissional.
2.2 Objetivos Específicos
Apresentar os principais fatores sócios demográficos da sífilis considerando os artigos filtrados;
Verificar ações de enfermagem que contribuem para o desenvolvimento da gestante portadora de sífilis;
Detalhar os sintomas mais persistentes à saúde da gestante nos últimos três anos (2020/2022).
3 JUSTIFICATIVA
O estudo da sífilis em gestantes é de grande importância para a saúde pública e pode ser considerado como um marcador para avaliar o acompanhamento das gestantes, principalmente mulheres de 15 a 35 anos. A transmissão sexual pode ser prevenida através do uso de preservativos. Diante disso, é necessário que se façam incansáveis testes para diagnosticar a gestante portadora de sífilis o quanto antes, iniciando o seu tratamento o mais rápido possível (SILVA et al; 2016).
Por ser uma condição evitável, o rastreamento e o tratamento correto das gestantes podem ser solucionados, ampliando o entendimento dos acontecimentos patológicos que envolvem a mãe e o filho na gestação, bem como a qualidade dos serviços prestados à gestante com as ações de prevenção e promoção da saúde, permitindo a comparação da situação atual da doença e por ser um agravo prevenível, a triagem e tratamento correto da gestante podem ser resolutivos, evitando maiores gastos públicos e diminuindo a sua incidência e as possíveis consequências nos sistemas de saúdes e na sociedade, visto que sua manifestação pode ser relacionada com sequelas adversas e uma morbidade significativa por toda a vida. Assim, estimando a epidemiologia dessa patologia na população e descrevendo seus dados, é possível conhecer melhor a população acometida, no caso mulheres e auxiliando na prevenção e tratamento precoce da sífilis em gestantes.
4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
A sífilis é uma doença infectocontagiosa sexualmente transmissível registrada pela primeira vez há quase 500 anos com incidência crescente nas últimas duas décadas e em conjunto com a infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), por diversos motivos como o acesso limitado aos cuidados de saúde em algumas comunidades e, mais recentemente, pela falta do principal componente de tratamento: a penicilina (VERONESI, 2009; MILANEZ et al., 2008).
A origem do nome Sífilis procede da obra de Girolamo Fracastoro (1478-1553), um médico e poeta que vivia em Verona. Seu trabalho “Syphilis Sive Morbus Gallicus” (1530) é uma trilogia e apresenta o personagem chamado Syphilus, um pastor de rebanhos comandado pelo rei Alcihtous. Na obra, outro personagem, Apolo (Deus da mitologia grega), destrói grande parte da vegetação da área que Syphilus utilizada para alimentar o seu rebanho, o que causou tamanha revolta, a ponto que Syphilus irritado com a situação, prometeu devoção a seu rei e não a Apolo. Apolo então, se ofende e amaldiçoa a pessoa com uma terrível doença, chamada Syphilis (TAMPA et al., 2014).
Em países em desenvolvimento foi observado aumento da sífilis, e esse aumento está associado à falta de um parceiro fixo, uso de drogas injetáveis, elevando o índice de transmissão vertical da sífilis (PARETONI et al, 2018). O aumento de sífilis em adolescente de 11 a 18 anos é um indicador importante, pela quantidade de parceiros e consumo de álcool e drogas ilícitas, um estudo mostra que os adolescentes não fizeram uso de preservativo nos últimos 12 meses e 78,6% das adolescentes femininas se reinfectaram (MONTEIRO et al 2015).
O outro fator que está associado ao aumento da sífilis congênita no Brasil e no mundo, foi à falta da penicilina benzatina há algum tempo, prejudicando a qualidade do serviço básico de saúde (BRASIL, 2016). A sífilis congênita é considerada como importante identificador da qualidade da assistência pré-natal, existindo uma relação significativa com a sua presença em uma determinada instituição e a existência de sérios erros estruturais na saúde pública (MONTEIRO et al,2015).
5 SÍFILIS GESTACIONAL
A sífilis gestacional tem grande importância epidemiológica devido ao risco da transmissão vertical ao feto ocasionando à sífilis congênita. O Treponema pallidum pode atravessar a barreira placentária e, por via hematogênica, penetrar na corrente sanguínea fetal. (MARQUES, 2021).
O pré-natal é um conjunto de ações de caráter clínico e educativo, e tem como finalidade proporcionar uma gestação saudável, segura com assistência de qualidade do início até o término da gestação. A assistência deve alcançar as gestantes precocemente, assim podendo fornecer diagnósticos, orientações e tratamento (FERREIRA, 2021).
A SG apresenta diagnóstico simples e tratamento eficaz, entretanto, permanece com alta prevalência. Pode causar mortes fetais, graves sequelas aos nascidos vivos, prematuridade, lesões cutâneas, neurológica, cardiovascular, óssea, danos ao sistema nervoso, podendo levar à morte (MARQUES et al., 2018; GOMES; VIEIRA, 2020). Segundo Domingues e Leal (2016), os fatores de risco associados à transmissão da sífilis gestacional para sífilis congênita estão relacionados às condições sociais da gestante com a doença, como a renda baixa, baixa escolaridade e o início do pré-natal tardio. O mesmo estudo expõe que as taxas de óbito fetal foram seis vezes maiores do que o observado em mulheres sem diagnóstico de sífilis, evidenciando assim a grande importância do tratamento da sífilis antes ou durante a gestação.
A OMS estima que cerca de um milhão de pessoas do mundo são infectadas por diversas IST´s diariamente. No caso da sífilis, além de elevar os riscos de infecção por HIV, também é responsável por mais de 300 mil óbitos fetais e neonatais, além de mais de 215 mil crianças com morte prematura no mundo (BRASIL, 2017).
6 SÍFILIS CONGÊNITA
A sífilis congênita é resultante da transmissão por via transplacentária, da gestante infectada para o feto, do Treponema pallidum. Contudo pode haver também transmissão por via direta através do contato da criança pelo canal do parto, na presença de lesões genitais maternas, ou durante o aleitamento através de lesões mamárias por sífilis (PINHATA; YAMAMOTO, 1999).
A probabilidade de transmissão está diretamente relacionada ao estágio da sífilis na mãe, à duração da exposição do feto e à realização ou não de tratamento, sendo que mulheres não tratadas possuem uma taxa de transmissão da infecção de 70 a 100% nas fases primária e secundária da doença, e 30% nas fases latentes tardias e terciárias (BRASIL, 2006). Segundo estudo, no Brasil a prevalência média de sífilis varia de 1,4% e 2,8%, havendo uma taxa de transmissão vertical de 25% (CAMPOS et al., 2010).
A sífilis congênita pode se manifestar de forma assintomática em até 50% das crianças ao nascimento, podendo ser classificada em precoce ou tardia (BRASIL, 2006). A sífilis congênita precoce se manifesta até o 2º ano de vida e é caracterizada por: lesões ósseas como periostite, hepatomegalia podendo ou não ser acompanhada de esplenomegalia, lesões cutâneas, alterações pulmonares, icterícia, anemia e linfadenopatia generalizada, além de estar relacionada à prematuridade e ao baixo peso ao nascer (PINHATA; YAMAMOTO, 1999).
A Sífilis Congênita Tardia surge após o 2º ano de vida e tem como principais características alterações ósseas e articulares como a tíbia em “Lâmina de Sabre”, nariz “em sela”, dentes incisivos medianos superiores deformados (dentes de Hutchinson), surdez neurológica e dificuldade no aprendizado. Ademais cerca de 40% das infecções a partir de mães não tratadas resultam em aborto espontâneo, natimorto ou morte perinatal (BRASIL, 2006).
A sífilis congênita constitui um importante evento sentinela, sendo um marcador da qualidade da assistência materno-infantil por sua facilidade no diagnóstico e fácil prevenção (RUTSTEIN, 1976). Está na lista de doenças de notificação compulsória desde 1986, objetivando a ampliação do diagnóstico e melhor controle epidemiológico (PINHATA; YAMAMOTO, 1999), contudo o número de casos está aumentando.
No Brasil, ocorreu uma evolução das taxas de sífilis entre 2010 e 2017, havendo um aumento de 3,6 vezes na taxa de incidência de sífilis congênita e um aumento de 4,9 vezes na taxa de detecção de sífilis em gestantes (BRASIL, 2018).
Segundo (SOUZA; BENITO, 2016): Outro estudo realizado no Brasil que traçou o perfil epidemiológico da sífilis congênita no país entre os anos de 2008 a 2014 constatou um aumento do número de casos de sífilis gestacional notificados ano a ano no país. Esse fator pôde ser relacionado tanto com uma melhoria nos serviços de notificação da vigilância epidemiológica, com a ampliação do número de notificações, quanto com um acompanhamento inadequado do pré-natal, havendo falhas na assistência, diagnóstico, tratamento e conduta da gestante e parceiro.
Houve também a descrição do perfil sociodemográfico materno, relacionando fatores como a idade entre 20 e 29 anos, baixa nível de instrução e diagnóstico tardio com os casos notificados de sífilis gestacional (SOUZA; BENITO, 2016).
Segundo FREITAS (2001) a gravidez não confere imunidade contra nenhum tipo de doença sexualmente transmissível, estas são doenças infectocontagiosas muito preocupantes em função de que existe um grande risco de que sejam transmitidas via transplacentária ou no momento do parto para o feto.
Para AVELLEIRA (2006), a Sífilis Congênita é evidenciada quando há transmissão da mãe para o feto através da placenta por uma espiroqueta, o Treponema Pallidum, o que ocorre a partir do quarto mês de gestação em razão de que quando a membrana da placenta deixa de ser impermeável ao treponema.
7 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA SÍFILIS
Para diagnosticar os portadores da doença, temos à disposição técnicas diretas, que buscam identificar a bactéria ou partes dela, e técnicas indiretas, que buscam identificar respostas dos anticorpos do corpo do hospedeiro ao patógeno (DORADO et al, 2014).
As técnicas diretas são: microscopia de campo escuro, imuno fluorescência direta (IFD) e amplificação genômica (Reação em Cadeia da Polimerase – PCR). Elas são utilizadas exclusivamente na fase precoce (sífilis primária e secundária) em que estão presentes os cancros, que são ricos em números de bactérias, o que traz eficiência às técnicas. Já que as técnicas buscam bactérias e/ou estruturas dela. A utilização dessas técnicas na fase tardia é acompanhada de uma baixa eficiência (DORADO et al, 2014).
Já as técnicas de diagnóstico indireto são sorológicas e se classificam em treponemas e não-treponêmicas (DORADO et al, 2014). Testes não treponêmicos são mais baratos, então por motivos econômicos e de complexidade, eles têm preferência para serem realizados (BRASIL, 2016; DORADO et al, 2014).
Dorado et al (2014) atesta que, dando resultado reativo no teste não treponêmicos, um teste treponêmicos (mais caro) é solicitado para a confirmação e que independente da fase da doença e/ou do tratamento, os testes treponêmicos se mantém positivos por toda a vida.
VDRL (Laboratório de Pesquisa de Doenças Venéreas) é uma reação que acontece entre um antígeno lipídico, em especial a cardiolipina, e o soro do paciente, que leva a formação de flocos, que podem ser vistos ao microscópio óptico (ERRANTE 2016). Os compostos do antígeno (lecitina, colesterol e cardiolipina purificada) se ligam e formam micelas, ao entrar em contato com os anticorpos, estas micelas levam a formação de flocos que podem ser vistos a olho nu ou em microscópio óptico.
Entretanto, nem todos os anticorpos são oriundos de sífilis, podendo levar a um resultado falso positivo. Sendo assim, este teste não é definido unicamente para sífilis (BRASIL, 2016).
Tem mais de 50 anos que a penicilina vem sendo utilizada no tratamento da sífilis e sua eficácia é comprovada tanto na sífilis adquirida, quanto na sífilis congênita. A penicilina se usada em doses e em duração de tempo adequadas é bactericida, não deixando que precursores (que são formados por enzimas catalisadoras) da parede celular das bactérias atuem. A parede não consegue mais se reestruturar e fica sujeita à ação hidrolítica das lisozimas do organismo (GUINSBURG; SANTOS, 2010).
A droga de escolha para o tratamento da enfermidade é a Penicilina Benzatina, que é um medicamento barato e de fácil administração. O tratamento a ser seguido é com penicilina e este tratamento deve ser orientado segundo o estágio em que a enfermidade se encontra. No caso da sífilis congênita, a penicilina também é o medicamento de escolha (SILVA, 2016).
DORADO (2015) também afirma que a penicilina é o medicamento mais indicado para qualquer um dos tipos de sífilis. Porém nos alerta quanto ao fato de que é necessário identificar exatamente o caso, ou seja, o tipo de sífilis, porque o estágio da infecção e as manifestações clínicas serão importantes para indicar a forma farmacêutica (penicilina G, procaína, benzatina), a posologia, a via de administração e o tempo do tratamento.
Quando a mãe tem resultado positivo para a sífilis congênita, o medicamento de escolha é a penicilina benzatina e o tratamento deve acabar 30 dias antes do nascimento do bebê (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2007; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). Nos casos em que o diagnóstico acontece de forma tardia ou nos casos em que a gestante não é tratada de forma efetiva, o T. pallidum é passado para o bebê (BRASIL, 2010). Já nos casos em que o diagnóstico se dá no início da gravidez e o tratamento é realizado de maneira adequada e pelo tempo correto, há grande chance de a infecção não atingir o feto.
Caso ela já esteja mais adiante na gestação, a penicilina tratará o feto também. No caso de a mãe ser alérgica à penicilina e utilizar outro fármaco para se tratar como, por exemplo, a eritromicina, este não tratará a infecção fetal porque ela apresenta uma passagem transplacentária imprevisível e sem controle (GUINSBURG; SANTOS, 2010).
É de grande importância ressaltar que tanto gestante quando seu parceiro tenha sido orientado de forma clara e correta para que a informação chegue até eles de forma precisa. Pessoas de baixa renda e escolaridade tendem a ter mais entraves para assimilar as informações (VASCONCELOS et al., 2016).
Vários fatores possuem influência na adesão do parceiro para tratar à sífilis e dentre eles podemos citar fatores socioeconômicos e culturais, educacionais e também sobre o próprio tratamento como, por exemplo, medicação e via de administração (FIGUEIREDO, 2015). A questão de o parceiro aderir ao tratamento e dar suporte a sua a parceira gestante eleva em muito a chance de conclusão do tratamento (HILDEBRAND, 2010).
8 O PAPEL DO ENFERMEIRO NO ACOMPANHAMENTO DE GESTANTES COM SÍFILIS
A atuação do enfermeiro na atenção básica perpassa inúmeras políticas públicas e tem como essência garantir aos usuários, família e coletividade os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde. Promovendo ações de atenção à saúde, como a promoção, proteção e recuperação, visando assegurar a integralidade da assistência de forma humanizada, subjetiva, instituindo o vínculo e assegurando a continuidade da assistência (BRASIL, 2017).
Segundo (CARIATI; SILVA, 2016): O enfermeiro possui um importante papel no enfrentamento à sífilis em gestantes que pode ser realizado através de condutas simples como o contato direto entre profissional e paciente no período gestacional, o qual permitirá que haja um diagnóstico precoce de forma a iniciar o tratamento o mais breve possível com vista a prevenir à sífilis congênita. Esse contato direto permite que haja confiança entre o profissional e a paciente, facilitando a comunicação entre ambos e diminuindo o índice de novas contaminações de sífilis congênita.
O enfermeiro é imprescindível na educação em saúde da população sobre a necessidade de prevenir a transmissão vertical da sífilis, já que, são esses profissionais que realizam o pré-natal no sistema público de saúde do Brasil e são importantes participantes das iniciativas de educação em saúde. (CABRAL; DANTAS; OLIVEIRA, 2017).
A equipe de saúde pode e deve ajudar as mulheres a evidenciar a doença, fornecendo suporte emocional e orientações necessárias para o tratamento e prevenção de novas infecções, além de criar um ambiente acolhedor que minimiza a possibilidade de se depararem com outras situações durante o tratamento e o acompanhamento do casal (CABRAL; DANTAS; OLIVEIRA, 2017).
O enfermeiro atuante na atenção primária, opera de forma estratégica em relação aos aspectos que envolvem a doença, sendo capaz de atuar nas atividades de prevenção, diagnóstico e tratamento da sífilis (VASCONCELOS et al., 2016).
Realizar mudanças em alguns pontos importantes, como incentivar o público masculino a utilizar os serviços de saúde, facilitar o acesso dos trabalhadores aos horários de atendimento, além de estimular o acompanhamento do parceiro durante as consultas de pré-natal, em que se pode estabelecer uma relação mais próxima entre profissionais e casais, promovendo uma melhor comunicação e adesão ao tratamento (ARAÚJO et al., 2018).
Além disso, o enfermeiro através do pré-natal de baixo risco consegue diminuir os impactos da sífilis na saúde materno-infantil. Ações simples como: consulta de enfermagem, acompanhamento da gestação, solicitação de exames laboratoriais como o (VDRL), entre outras, facilitam que a doença seja diagnosticada no início o que permitirá que a mesma seja tratada de maneira adequada e o mais rápido possível, quebrando assim a cadeia de transmissão da doença, impossibilitando a transmissão vertical e minimizando as consequências para a saúde da gestante e concepto (TEIXEIRA, 2015).
9 METODOLOGIA
Trata-se de um estudo descritivo feito a partir de uma revisão da literatura. Segundo MARCONI e Lakatos (2010), são estudos descritivos que têm como objetivo descrever por inteiro um determinado caso, um estudo de caso em que são realizadas observações práticas e teóricas. Podem ser de descrições quantitativas e/ou qualitativas e até mesmo acumulação de informações detalhadas que são adquiridas por meio da observação participante. Dá-se prioridade ao caráter representativo sistemático e, em decorrência, os procedimentos de amostragem são flexíveis.
Foram, também, realizados levantamentos bibliográficos eletrônicos junto à base de dados informatizados Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Literatura Latino Americana em Ciências da Saúde (LILACS) e Scientific Electronic Library Online (SciELO), para discussão do assunto e embasamento científico. Bem como artigos científicos, extraídos das bibliotecas e bases de dados selecionadas, materiais oficiais do Ministério da Saúde português, inglês e espanhol que atenderam aos descritores; leis, decretos, portarias que estejam em vigor e tenham sido emitidas pelo Ministério da Saúde ou órgãos oficiais a ele ligados.
Foram realizadas buscas de acordo com os descritores estabelecidos, com filtragens dos artigos que compõem esse trabalho, as informações foram analisadas através de notificação de sífilis congênita em todo o estado do Amazonas entre mulheres de 15 a 35 anos.
Com o intuito de responder à pergunta norteadora “Quais as ações de enfermagem no contexto da sífilis gestacional? Como ocorre a contaminação e o tratamento adequado”, a busca foi realizada por meio online, através do Portal (CAPES).
Sendo assim, foram analisadas cerca de 100 (cem) artigos no período de 2020 a 2022, onde os critérios de inclusão estabelecidos para o presente estudo foram: artigos originais que contemplassem a questão da pesquisa, disponíveis na íntegra nas bases de dados, publicados.
10 RESULTADO E DISCUSSÕES
O método que foi aplicado nesse estudo é de revisão bibliográfica utilizando os artigos e portal do Ministério da saúde. Foram realizadas também buscas na SCIELO, MED LINE, IBECS, LILACS BDENF.
Para a busca dos artigos foram utilizados os descritores em pares sífilis congênitas, enfermagem, saúde pública e sífilis gestacional.
Figura: Fluxograma da pesquisa de artigos.
Fonte: (Próprio Autor 2023)
As publicações foram organizadas em título, ano de publicação, e objetivos (Quadro 1).
As temáticas evidenciadas nos estudos compreenderam aspectos socioeconômicos relacionados às gestantes; aspectos de gestão e organizacionais do SUS, tais como integralidade do atendimento, acesso às medidas de prevenção, consultas multiprofissionais, diagnóstico e tratamento, criação de linhas de cuidados, como as barreiras que os profissionais enfrentam para uma assistência de qualidade, inclusão dos parceiros e a perspectiva das gestantes diante o diagnóstico de SG.
Quadro: Artigos filtrados sobre a sífilis
Autores, Ano | Título do Estudo | Objetivos |
Andrade et al., 2020 | Diagnóstico tardio de sífilis congênita: uma realidade na atenção à saúde da mulher. | Descrever um caso de SC com diagnóstico tardio e identificar as oportunidades perdidas nas diversas fases. |
Macêdo et al., 2020 | Sífilis na gestação: barreiras na assistência pré-natal para o controle da transmissão vertical. | Avaliar as barreiras na assistência pré-natal para o controle da transmissão vertical da SG, segundo o perfil sociodemográfico, reprodutivo e assistencial em uma metrópole do Nordeste brasileiro |
Araújo et al., 2021 | Fatores associados à prematuridade em casos notificados de sífilis congênita. | Analisar os fatores associados à prematuridade em casos notificados de sífilis congênita no município de Fortaleza, Ceará, Brasil. |
Domingues et al., 2021 | Protocolo brasileiro de Infecções sexualmente Transmissíveis 2020: sífilis congênita e criança exposta à sífilis | Abordar os temas SC e criança exposta à sífilis. Incluem orientações para profissionais de saúde no rastreamento, diagnóstico e tratamento de pessoas com ISTs. Além, das estratégias para prevenção e controle da doença. |
Filho et al., 2021 | Situação clínico epidemiológica da sífilis gestacional em Anápolis-GO: uma análise retrospectiva. | Descrever a situação clínica e epidemiológica da SG em Anápolis, Goiás, Brasil, entre os anos de 2012 e 2018. |
Nunes et al., 2021 | Tendência temporal e distribuição espacial da sífilis gestacional e congênita em Goiás | Analisar a tendência temporal e a distribuição espacial de SC e SG |
Freitas et al., 2021 | Protocolo Brasileiro para Infecções Sexualmente Transmissíveis 2020: sífilis adquirida. | Resumir o capítulo sobre SA que integra o PCDT para a atenção Integral às Pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis. |
Sousa et al., 2022 | Aspectos clínico epidemiológicos da Sífilis Gestacional | Descrever o perfil epidemiológico da SG no Nordeste brasileiro. |
Fonte: (Próprio Autor, 2023)
Dentre os resultados analisados, os autores pesquisados revelaram que a maioria das mulheres infectadas é identificada durante a gestação ou no momento do parto.
Os estudos mostram que mulheres jovens, com baixa escolaridade e baixa renda, estão mais vulneráveis a adquirir Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST´s), especialmente a sífilis. Além disso, trata-se de uma população vulnerável, que provavelmente encontra dificuldade ao acesso dos serviços de saúde.
A desigualdade social gera dificuldade para as gestantes de situação precária ter acesso às unidades de saúde e consequentemente para iniciar o pré-natal, dificultando um diagnóstico precoce e um tratamento eficaz.
Para além das questões relacionadas ao sistema de saúde, a prevalência de SG continua alta devido a uma série de fatores. Um destes fatores é a falta de profissionais qualificados para o atendimento as gestantes, que engloba a anamnese, solicitação de exames, interpretação correta dos resultados e tratamento.
É notável que os profissionais Enfermeiros que tiveram uma capacitação contínua por meio dos protocolos assistenciais, não obtiveram dificuldades na abordagem das doenças sexualmente transmissíveis (DST) constata-se também que os profissionais com mais acesso a treinamentos e manuais técnicos apresentaram melhor desempenho (SANTOS 2016).
Outro fator importante destacado entre os autores é a educação em saúde da comunidade quanto ao uso de preservativo, início precoce do pré-natal, para evitar transmissão vertical. A forma correta de abordar os parceiros destas gestantes é de suma importância. Deve ser explicado sobre as consequências, para que assim ele entenda a importância de dar seguimento ao tratamento juntamente com a gestante. (BORBA, et al.,2020).
Além disso, diversos autores destacam também que são encontrados problemas pela falta de estrutura física, materiais e insumos nas unidades de saúde para a realização de testes rápidos; a demora pela entrega dos resultados dos exames realizados durante o pré-natal; falhas no gerenciamento nas unidades básicas de saúde e falta de profissionais qualificados para esta assistência. (SILVA, et al.,2020).
A sífilis gestacional atinge especificamente as gestantes de classe e nível de escolaridade baixa e que não realizaram o pré-natal (SILVA et al, 2021). Esta classe apresenta dificuldades para iniciar o pré-natal, por não ter condições financeiras para se locomover até a unidade de saúde, por não conseguir se ausentar do trabalho para ir às consultas de pré-natal, por falta de informação, dentre outros.
11 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo foi realizado com o intuito de mapear a produção científica sobre os cuidados, ações e obstáculos encontrados na assistência de enfermagem na prevenção, diagnóstico e tratamento da sífilis gestacional.
A partir dos resultados apresentados neste estudo conclui-se que a sífilis corresponde a um grave problema de saúde pública a ser solucionado, é extremamente agressivo, na saúde da mulher em período gestacional, causando danos severos e irreparáveis ao feto.
Nas bases de dados onde foi realizada a busca dos artigos, foi possível constatar número limitado de publicações sobre acompanhamento sorológico de VDRL de gestantes com diagnósticos de sífilis.
Os obstáculos encontrados que colaboram para a prevalência da SG são a dificuldade de locomoção das gestantes de comunidades carentes até a unidade de saúde, falhas nos diagnósticos e tratamento, alto número de reinfecção, pois os parceiros não estão sendo tratados.
A equipe de enfermagem deve ter conhecimento de planejamento e programas de saúde para resolver problemas e seguido por uma diminuição nos casos de sífilis gestacional.
O fortalecimento da atenção primária de saúde com realização de medidas socioeducativas eficientes e constantes, utilizando divulgações audiovisuais como cartazes, vídeos, folders, comerciais, rede sociais, educação continuada em grupos de gestantes, orientações em sala de espera, abordagem da gestante e captação dos parceiros para as consultas de pré-natal e orientações dos cuidados de saúde destacando a importância para a adesão ao tratamento, evitando a recidiva da infecção.
Por fim, considera-se que os estudos encontrados foram suficientes para mapear as ações de enfermagem no atendimento às gestantes com sífilis. Dessa forma, para o fortalecimento de boas práticas de saúde faz-se necessário que as unidades básicas de saúde ofereçam acesso universal e humanizado, conscientizando a população para as consequências da sífilis para gestante, parceiro e bebê. Contudo salienta-se que ainda são observados muitos obstáculos para uma assistência de qualidade.
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