SÍFILIS CONGÊNITA: DIAGNÓSTICO, TRATAMENTO EM AMBOS SEXOS E CUIDADOS FARMACÊUTICOS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7315653


LUAN SARMENTO DE SOUZA*
Ms. LEONARDO GUIMARÃES DE ANDRADE**

UNIG – Universidade Iguaçu, Curso de Graduação em Farmácia, Nova Iguaçu-RJ, Brasil.


RESUMO

A sífilis é uma infecção sexualmente transmissível (IST) causada pelo Treponema pallidum, que pode se apresentar de forma assintomática, mas quando apresenta sinais e sintomas, os indivíduos tendem a não perceber essas alterações, pois podem ser facilmente confundidas com outras doenças. Pode ser dividida em sífilis adquirida, que é transmitida principalmente por via sexual ou transfusão sanguínea; também pode ser classificada como sífilis congênita, que é transmitida principalmente pela placenta, de mãe para filho e até mesmo durante o parto. Ambos os tipos podem levar a sérios problemas de saúde se não forem tratados. Os farmacêuticos clínicos desempenham um papel extremamente importante após o diagnóstico, desde orientar os pacientes sobre a duração do tratamento e atribuição de tratamentos de acompanhamento até o registro para garantir a medicação segura e eficaz para garantir o controle do tratamento, trabalhar com uma equipe multidisciplinar contribuirá para a segurança dos resultados do tratamento, além de prevenir problemas de saúde relacionados ao uso incorreto do medicamento. Apesar de ser um tratamento seguro, eficaz e de baixo custo, a sífilis continua sendo um desafio para a saúde pública na atualidade, com alta incidência no Brasil devido ao aumento de casos. Inclui aspectos epidemiológicos e clínicos dessas doenças, bem como recomendações para gestores do programa de sífilis e gestão de operações. Também incluem orientações para profissionais de saúde rastrearem, diagnosticarem e tratarem pessoas com infecções sexualmente transmissíveis e seus parceiros sexuais, além de estratégias para monitorar, prevenir e controlar a doença.

Palavras-Chave: Sífilis; Sífilis congênita; Aspectos epidemiológicos; Aspectos clínicos; Papel do farmacêutico;

ABSTRACT

Syphilis is a sexually transmitted infection (STI) caused by Treponema pallidum, which may present asymptomatically, but when it presents signs and symptoms, individuals tend not to notice these changes, as they can be easily confused with other diseases. It can be divided into acquired syphilis, which is transmitted mainly through sexual intercourse or blood transfusion; it can also be classified a congenital syphilis, which is mainly transmitted through the placenta, from mother to child and even during childbirth. Both types can lead to serious health problems if left untreated. Clinical pharmacists play an extremely important role after diagnosis, from advising patients on duration of treatment and assigning follow-up treatments to registration to ensuring safe and effective medication to ensure treatment control, working with a multidisciplinary team will help for the safety of treatment results, in addition to preventing health problems related to the incorrect use of the medication. Despite being a safe, effective and low-cost treatment, syphilis remains a challenge for public health today, with a high incidence in Brazil due to the increase in cases. It includes epidemiological and clinical aspects of these diseases, as well as recommendations for syphilis program managers and operations management. They also include guidelines for healthcare professionals to screen, diagnose and treat people with sexually transmitted infections and their sexual partners, as well as strategies to monitor, prevent and control the disease.

Keywords: Syphilis; Congenital syphilis; Epidemiological aspects; Clinical aspects; Pharmacist role;

INTRODUÇÃO

A sífilis é uma doença infecciosa sistêmica provocada pela bactéria Treponema pallidum. A forma de transmissão da sífilis se resume em transmissão sexual e contato com lesões infecciosas, denominada sífilis adquirida, e transmitida verticalmente de mãe para feto, denominada sífilis congênita (SC). O risco de transmissão vertical de bactérias chega a 85% e pode se espalhar em qualquer fase da gravidez e até mesmo durante o parto (FERREIRA, 2018).

A doença apresenta curso crônico, influenciado pelos períodos ativo e latente da sífilis congênita. O diagnóstico da sífilis geralmente varia com o estágio evolutivo da doença. O tratamento da sífilis é feito com antibióticos betalactâmicos, que é a penicilina G parenteral, e quando se fala em neurossífilis, a escolha é a penicilina benzatina (FIGUEIREDO, 2020).

A sífilis tem sido um problema de saúde pública para o Ministério da Saúde (MS) no Brasil e no mundo, principalmente a sífilis congênita que, apesar do diagnóstico e tratamento, ainda causa elevada morbimortalidade materna, fetal e neonatal, envolve baixo custo. A sífilis congênita é definida pelo Ministério da Saúde como “qualquer criança, aborto espontâneo ou natimorto de mãe com evidência clínica de sífilis ou resposta sorológica à sífilis não treponêmica, qualquer titulação, assistência pré-natal na ausência de um Treponema pallidum confirmatório teste ou no momento do parto ou curetagem, não tratada ou subtratada (MOTTA, 2018).

O Ministério da Saúde recomenda que a testagem diagnóstica da sífilis seja coberta para todas as gestantes e, além disso, campanhas de prevenção e promoção da saúde para eliminar a sífilis congênita no país. De acordo com o Ministério da Saúde, a sífilis congênita é notificada nacionalmente desde 1986; desde 2005, a incidência de sífilis entre mulheres grávidas continua aumentando, refletindo a falha da sífilis em promover e prevenir e tratar a doença porque os casos notificados de sífilis em gestantes são subestimados (SOARES, 2020).

OBJETIVO GERAL

O presente artigo aborda o tema sífilis congênita, que compõem o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) para Atenção Integral em Pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST).

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

– Descrever o perfil epidemiológico dos casos de Sífilis Congênita;

– Contribuir para a implementação do diagnóstico e tratamento imediato dos casos de sífilis, materna e congênita, e da vigilância epidemiológica;

– Discorrer os aspectos científicos, preventivos de tratamentos relativos à Sífilis Congênita;

– Revisar o papel do farmacêutico no cuidado do paciente sifilítico.

JUSTIFICATIVA

A sífilis congênita tem a maior taxa de transmissão vertical no Brasil, embora possa ser prevenida com o pré-natal. A infecção por Treponema pallidum pode ocorrer em qualquer fase da gravidez, incluindo o parto, dois terços dos nascidos vivos são assintomáticos, mas alterações como parto prematuro e baixo peso ao nascer podem afetar os recém-nascidos infectados. Além disso, a sífilis congênita é uma forma avançada e os sintomas só podem aparecer na adolescência. O tratamento da sífilis congênita geralmente é realizado com penicilina, levando em consideração fatores como os sintomas do recém-nascido e a eficácia do tratamento administrado pela mãe durante a gravidez.

METODOLOGIA

O presente trabalho é uma revisão bibliográfica feita através de pesquisas em artigos científicos, publicados entre os anos de 2017 até 2022. As bases de dados utilizadas foram: Google Acadêmico, Scientific Eletronic Library Online (SCIELO), revistas e jornais on-line, Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde, site do Ministério da Saúde, etc. Foram utilizadas as palavras-chave: Sífilis, Diagnóstico e Tratamento. Sendo selecionados aqueles que apresentaram maior relevância acerca do objetivo deste trabalho.

REVISÃO DE LITERATURA

SÍFILIS

O aumento do número de casos de sífilis, além de melhorias no registro de casos infectados, também reflete os comportamentos de risco aos quais os pacientes estão expostos. O advento de medicamentos para tratar doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) e proporcionar maior sobrevida às pessoas que vivem com HIV levou as pessoas a se tornarem mais destemidas e menos cautelosas na prevenção dessas doenças (SILVA & CARDIM, 2017).

O período de incubação da exposição ao desenvolvimento de lesões primárias é de aproximadamente 21 dias. A lesão inicial, cancroide ou tumor sifilítico primário, ocorre no local da inoculação e localiza-se na região genital em 95% dos casos. É caracterizada por pápulas róseas que evoluem para vermelhidão intensa e úlceras. A úlcera é única e indolor, com margens firmes e elevadas e base lisa e limpa recoberta por material seroso. Um cancro resolverá espontaneamente dentro de 4 a 5 semanas sem deixar cicatrizes (AVELLEIRA & BOTTINO, 2016).

Após um período de incubação de 6 a 8 semanas, a doença volta à atividade e afeta a pele e os órgãos internos, como a sífilis secundária. Na pele, as lesões (sífilis) aparecem como eritema de curta duração (rosácea sifilítica). O envolvimento das palmas e solas dos pés é característico. No rosto, as espinhas se aglomeram ao redor do nariz e da boca. As imagens podem ser acompanhadas de sintomas gerais, como febre, dor de cabeça, fadiga, linfonodos inchados, perda de cabelo e perda de peso. As lesões desaparecem espontaneamente após 2 a 6 semanas (AVELLEIRA & BOTTINO, 2016).

Após um longo período de incubação, sem tratamento adequado, a doença pode evoluir para seu estágio de pior prognóstico, a sífilis. Os pacientes apresentam lesões localizadas envolvendo a pele e membranas mucosas, sistemas cardiovascular e nervoso. As lesões de grau 3 são caracterizadas pela formação de granulomas destrutivos (gomas) com ausência quase completa de treponema. Ossos, músculos e fígado também podem ser afetados (ERRANTE, 2016).

Os sintomas cardiovasculares aparecem 10 a 30 anos após a infecção inicial. A aortite é caracterizada em 70% dos casos, e suas principais complicações são aneurisma, insuficiência aórtica e estenose do óstio coronariano. Na maioria dos casos, a apresentação clínica do envolvimento do SNC é inespecífica e semelhante a outras doenças. Manifesta-se como convulsões, tiques mioclônicos, hemiparesia, alterações de personalidade, hiperreflexia, ataxia, envolvimento de nervos cranianos, sinal de Babinski e pupilas de Argyll Robertson (BRASIL, 2020).

A sífilis deve ser investigada sempre que houver suspeita clínica, quando o paciente tiver sido diagnosticado com alguma infecção sexualmente transmissível (IST), se o parceiro sexual tiver sido diagnosticado com IST, em gestantes e em pacientes infectados pelo HIV sexualmente ativos (KUZNIK et al., 2015).

Figura 1: Treponema pallidum

Fonte: (FERREIRA, 2018).
  • Sífilis Primária

A primeira apresentação é caracterizada por uma úlcera rica em treponema, geralmente única e indolor, com margens bem definidas e regulares, base firme, base limpa, e ocorre no local de entrada bacteriana (pênis, vulva, vagina, colo do útero, ânus, boca ou outras partes da pele externa), conhecido como “cancro duro”. Aparece de 10 a 90 dias após a infecção e pode durar de 2 a 6 semanas (desaparece independentemente do tratamento). Embora menos frequentes, em alguns casos as lesões primárias podem ser múltiplas (SARKISIAN & BRILLHART, 2018).

Figura 2: Sífilis Primária “Cancro duro”


Fonte: (AVELLEIRA & BOTTINO, 2016).
  • Sífilis Secundária

Ocorre em média dentro de 6 semanas a 6 meses após a cura do câncer, e sintomas inespecíficos como febre baixa, mal-estar, dor de cabeça e fraqueza são comuns e desaparecem em poucas semanas, independentemente do tratamento. Inicialmente, aparece uma erupção macular eritematosa quase invisível (erupção macular rosada), principalmente no tronco e nas raízes das extremidades. As lesões cutâneas progridem então para lesões papulares marrom-avermelhadas mais pronunciadas que podem afetar todo o tegumento, muitas vezes nos genitais. Tipicamente, afetam as regiões plantar e palmar, com um colar escamoso característico que geralmente não coça (ERRANTE, 2016).

  • Sífilis Latente

Períodos em que não foram observados sinais ou sintomas, divididos em sífilis latente recente, com tempo de infecção inferior a dois anos, e sífilis latente tardia, com tempo de infecção superior a dois anos (BRASIL, 2020).

  • Sífilis Terciária

A inflamação causada pela sífilis nesta fase leva à destruição tecidual e ocorre em cerca de 15% a 25% das infecções não tratadas, após vários períodos de incubação. O envolvimento dos sistemas nervoso e cardiovascular é comum. Além disso, gengivas sifilíticas (tumores com tendência a se liquefazer) podem se formar na pele, membranas mucosas, ossos ou qualquer tecido. As lesões podem levar à desfiguração, incapacidade e até a morte (BRASIL, 2020).

CLASSIFICAÇÃO DA SÍFILIS

  • Sífilis Congênita

“No Brasil, desde 22 de dezembro de 1986, a sífilis congênita é classificada como doença infecciosa de notificação imposta, com a publicação da Portaria nº 542 do Ministério da Saúde”. A sífilis congênita ocorre quando o Treponema pallidum é transmitido sistemicamente para a criança, a mãe não é tratada, tratada inadequadamente, por reinfecção; pela placenta ou durante o parto. A infecção pode levar a aborto espontâneo, parto prematuro, perda fetal e morte perinatal (MACÊDO et al., 2017).

Na fase em que há uma grande quantidade de bactérias circulando no sangue, a fase aguda, a chance de transmissão para o feto é maior. Na sífilis primária e secundária, a incidência está entre 70-100%. O período de incubação recente atingiu 40% e o período de incubação atingiu 10%. Diagnosticada sífilis em crianças menores de dois anos, temos sífilis congênita precoce, as manifestações clínicas são: parto prematuro, osteocondrose, anemia, hepatoesplenomegalia, alterações do sistema nervoso central, baixo peso corporal, nariz em sela, icterícia, lesões de pele e mucosas, febre, rinite, trombocitopenia, meningite, pele pálida e outros sintomas (ERRANTE, 2016).

Se o diagnóstico for em uma criança com mais de dois anos de idade, temos sífilis congênita avançada, cujas características clínicas são irreversíveis, dentre as quais podemos citar: tíbia em lâmina, mandíbula curta, surdez, fronte olímpica, dentes de Hutchinson, interstício córnea Sintomas como inflamação, molares de amora e surdez causada por danos nos nervos. Notavelmente, a sífilis congênita afeta os recém-nascidos mais do que qualquer outra doença neonatal (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2015).

  • Sífilis em Gestantes

É transmitida da mesma forma que a sífilis adquirida, ou seja, pela via sexual. O agravante disso é a infecção das gestantes, e se não manuseado adequadamente, existe o risco de contaminação vertical. A bactéria pode ser transmitida através da placenta em qualquer fase da gravidez ou através da vagina durante o parto (MILANEZ & AMARAL, 2008).

Segundo a OMS, a meta de eliminação da sífilis deve atingir 95% das taxas de cobertura e tentativas de pré-natal materna, normalizando-a assim para países latino-americanos como Cuba e Chile, que têm uma taxa de incidência de 0,5 por 1.000 nascidos vivos, por exemplo. O Ministério da Saúde recomenda a sorologia para VDRL no início do pré-natal (se positivo, a gestante e seu parceiro devem ser tratados) e no terceiro trimestre (por volta da 28ª semana). Além disso, rastrear sífilis durante o trabalho de parto ou aborto espontâneo (SILVA, 2016).

Dessa forma, o número de gestantes infectadas pelo Treponema pallidum é enorme, e a análise e o tratamento também são simples, pois, quanto mais precoce o diagnóstico e o tratamento mais adequado, maior a chance de redução desse número. É preciso compreender que o tratamento adequado e imediato do parceiro e da gestante está relacionado aos medicamentos utilizados e sua duração, pois a reinfecção é comum nessa doença (ERRANTE, 2016).

Segundo a Organização Mundial da Saúde, a meta de eliminação da sífilis deve ser de 95% das gestantes com cobertura de pré-natal e testagem, o equivalente a 0,5 por 1.000 em países latino-americanos como Cuba e Chile (KUZNIK et al., 2015).

  • Sífilis Adquirida

A sífilis adquirida é uma doença infecciosa sistêmica que se espalha através de relações sexuais desprotegidas, geralmente através da área genital ou anal. Esta é uma infecção com poucos sintomas, o que significa que o indivíduo desconhece a doença e pode transmiti-la a outras pessoas. Pode ser dividido em primário, secundário, terciário e latente (BRASIL, 2020).

Geralmente há úlceras primárias nos genitais. Afetados, incluindo boca, língua e ânus. As lesões já estão na segunda camada da pele, causando úlceras nas extremidades e no tronco do corpo, como mãos e pés. O estágio três resulta em sintomas mais graves que afetam os órgãos internos, o sistema cardíaco e até o sistema nervoso central (SNC), que podem até levar à morte. Quanto ao tempo após a infecção, é dividido em período de incubação precoce (dentro de um ano) ou período de incubação tardio (mais de um ano) (LEAL et al., 2020).

ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS

Em 2016, havia uma estimativa de 661.000 casos de sífilis congênita em todo o mundo. No Brasil, o número de casos de sífilis adquirida no adulto, sífilis materna e sífilis congênita aumentou entre 2014 e 2018. Esse crescimento pode ser atribuído ao aumento da testagem devido à disponibilidade de testes rápidos, mas também a um declínio no uso de preservativos, um declínio na administração de penicilina nos serviços de atenção primária à saúde e uma escassez global desse medicamento (SILVA et al., 2019).

Entre 2010 a 2019 (dados de 30 de junho de 2019), um total de 650.258 casos de sífilis adquirida, 297.003 casos de sífilis grávida e 162.173 casos de sífilis congênita foram registrados em todo o país. No mesmo período, foram notificados 11.480 óbitos fetais precoces e tardios atribuídos à sífilis congênita. A sífilis congênita é evitável com diagnóstico e tratamento imediatos da sífilis na gravidez. No entanto, apesar dos esforços, continua sendo um grave problema de saúde pública e apresenta lacunas, principalmente na assistência pré-natal. A maioria dos casos de sífilis congênita resulta de falha no teste pré-natal, ou inadequada ou falta de tratamento da sífilis materna. É o resultado da disseminação hematogênica do Treponema pallidum em gestantes infectadas cujos fetos nunca foram tratados ou subtratados, geralmente por via transplacentária, independentemente da idade gestacional (LEAL et al., 2020).

Em última análise, essa transmissão pode ocorrer durante o trabalho de parto por contato direto com lesões de sífilis no canal do parto. A transmissão transplacentária de Treponema durante a gravidez pode ocorrer em qualquer estágio clínico da sífilis materna. Entretanto, a transmissão vertical é mais frequente na sífilis recente (lesões primárias, lesões secundárias e sífilis latente recente até um ano) e diminui à medida que a doença progride para estágios tardios (sífilis latente tardia e sífilis latente tardia após um ano), na doença terciária (ERRANTE, 2016).

A redução da probabilidade de transmissão está diretamente associada à redução do Treponema circulante, variando de 70% a 100% na sífilis de lesão primária ou secundária a 30% no período de incubação da sífilis tardia ou tardia. Além de serem mais contagiosas, estágios recentes da sífilis materna podem ter efeitos mais graves no feto. A carga treponêmica circulante diminui, mas não desaparece sem tratamento adequado. Além do estágio clínico da sífilis, a ocorrência da transmissão vertical também é influenciada pelo tempo de exposição fetal. Dos resultados adversos da sífilis materna recente não tratada, 40% resultarão em aborto precoce, 11% resultarão em morte fetal a termo e 12% a 13% resultarão em parto prematuro ou de baixo peso ao nascer. Pelo menos 20% dos recém-nascidos apresentarão sinais de sífilis congênita (MOTTA, 2018).

ASPECTOS CLÍNICOS

A sífilis congênita é uma doença clinicamente ampla que pode variar desde assintomática ou oligossintomática até formas graves com sepse e óbito fetal e neonatal. Ao nascimento, aproximadamente 60% a 90% dos recém-nascidos com sífilis congênita são assintomáticos, sendo importante a triagem sorológica das gestantes na maternidade. As manifestações clínicas em crianças com sífilis congênita podem aparecer a qualquer momento antes dos 2 anos de idade, geralmente durante o período neonatal. Cerca de dois terços das crianças desenvolvem sintomas dentro de três a oito semanas, com poucas manifestações clínicas após três a quatro meses (BRASIL, 2020).

Pedagogicamente, a sífilis congênita é dividida em sífilis precoce, que aparece até o segundo ano de vida, e sífilis tardia, onde os sinais e sintomas são observados a partir do segundo ano de vida. No caso da sífilis congênita precoce, os sinais e sintomas presentes ao nascimento dependem do momento da infecção intrauterina e do tratamento durante a gravidez. As manifestações comuns da sífilis congênita precoce são hepatomegalia, esplenomegalia, icterícia, rinite rósea, erupção maculopapular, pênfigo sifilítico (principalmente palmoplantar), linfadenopatia generalizada, anormalidades esqueléticas (periostite, inflamação osteocondral), trombocitopenia e anemia. O parto prematuro e o baixo peso ao nascer são complicações perinatais comuns (SILVA et al., 2019).

As manifestações clínicas da sífilis congênita tardia estão associadas à cicatrização ou inflamação persistente da infecção precoce e são caracterizadas pela presença de formação gengival sifilítica em vários tecidos. Cerca de 40% das crianças infectadas e não tratadas desenvolvem essas manifestações nos primeiros meses de vida. Certas manifestações podem ser prevenidas tratando a mãe durante a gravidez ou tratando a criança durante o primeiro trimestre de vida. No entanto, algumas outras doenças, como ceratite intersticial, articulação de Clutton e surdez neurossensorial, podem ocorrer e progredir apesar do tratamento adequado. No caso de sífilis congênita avançada, deve-se excluir a sífilis adquirida por agressão ou abuso sexual da criança. As manifestações mais comumente citadas da sífilis congênita avançada são: testa olímpica, nariz em sela, palato alto, ceratite intersticial, coriorretinite, perda auditiva sensorial, dentes molares de Hutchinson, atraso no desenvolvimento, deficiência intelectual e canela em sabre em amora (LEAL, 2020).

As alterações clínicas na sífilis congênita, após a liberação direta do Treponema pallidum na circulação fetal, são variáveis ​​e decorrem de uma resposta inflamatória resultante da ampla disseminação do Treponema pallidum em quase todos os órgãos e sistemas. Portanto, quando necessário, são necessários exames complementares para investigar e identificar essas alterações, como hemograma completo, transaminases, radiografia de tórax, radiografia de ossos longos, estudo do líquido cefalorraquidiano e neuroimagem. A infecção do SNC ou neurossífilis pode ser sintomática ou assintomática e ocorre em aproximadamente 60% das crianças com sífilis congênita. Considerando as alterações do LCR: Laboratório de Pesquisa de Doenças Venéreas (VDRL) aumentou a responsividade, citose e proteólise (SILVA et al., 2020).

PAPEL DO FARMACÊUTICO NO CUIDADO DO PACIENTE

Um estudo constatou que as farmácias são uma das portas de entrada dos serviços de saúde para pacientes com sintomas de DST, onde eles relatam seus sintomas a um farmacêutico para obter um diagnóstico e, assim, tratamento. Os serviços prestados por este profissional incluem prevenção, identificação e resolução de problemas associados à medicação utilizada, além de facilitar a educação, exames de saúde e realização de exames laboratoriais, verificará e monitorará parâmetros clínicos antes e após o tratamento (CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA, 2016).

Os farmacêuticos, em conjunto com as farmácias comunitárias ou farmácias, podem apoiar e promover programas de educação da população, com foco na prevenção da sífilis e outras doenças sexualmente transmissíveis, incentivo ao uso do preservativo em todas as relações sexuais, sobre os perigos da promiscuidade do parceiro e busca de serviços de saúde para A importância do diagnóstico e tratamento precoces (BOAS et al., 2017).

Portanto, de acordo com o Conselho Federal de Farmácia, esses profissionais também podem realizar o aconselhamento farmacêutico. Essas consultas facilitam o contato direto entre farmacêutico e paciente a fim de melhorar a eficácia do tratamento medicamentoso, orientar o uso racional de medicamentos e as consequências da automedicação. É importante orientar o paciente com sífilis sobre o uso correto da penicilina, a duração do tratamento e o intervalo entre as doses, para que, mesmo que os sintomas melhorem, ele não pare de usar o medicamento antes do tempo prescrito. Logo, não há perda de eficácia antibiótica e, portanto, não há perda de resistência bacteriana (CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA, 2016).

Também é importante observar se o paciente está tomando outros medicamentos que estão causando certas interações. Nesses casos, a intervenção do farmacêutico é essencial, pois, ao revisar as prescrições e questionar os pacientes sobre o tratamento medicamentoso, podem ser identificadas interações medicamentosas não observadas durante o período de prescrição e as recomendações feitas por conveniência do médico durante o tratamento ajustadas (ERRANTE, 2016).

CONCLUSÃO

Concluiu-se, então, que a educação e a saúde são importantes por meio de palestras educativas sobre infecções sexualmente transmissíveis, com o objetivo de esclarecer a importância do tratamento precoce, ao mesmo tempo em que possibilita ações de saúde por meio da detecção rápida e alertas induzidos pela transmissão.

A sífilis apresenta sintomas leves no início da infecção, mas se não for tratada, pode levar a complicações graves. Na maioria dos casos, ocorre durante o sexo desprotegido, mas a doença ainda pode ser transmitida por meio de transfusões de sangue, por exemplo, de mãe para filho durante a gravidez ou o parto.

Além da forma latente, a doença possui três estágios sintomáticos, e seu diagnóstico é feito por meio de exames laboratoriais, que também ajudam a determinar a melhor forma de tratar os diferentes estágios da sífilis. Mas mesmo com a evolução da comunidade científica, a sífilis continua sendo um problema de saúde pública no Brasil e no mundo, podendo levar a sequelas irreversíveis se não for diagnosticada e tratada adequadamente.

São necessárias ações mais importantes para o controle da sífilis, incluindo ações de notificação, busca ativa, tratamento adequado e monitoramento sorológico para demonstrar a cura, mas devem começar pela educação em saúde voltada para informar os padrões de transmissão e prevenção da doença.

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*Acadêmico
**Orientador