SÍFILIS ADQUIRIDA EM IDOSOS:UMA REVISÃO INTEGRATIVA DO PANORAMA EPIDEMIOLÓGICO E TESTES DIAGNÓSTICOS

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.10395735


Mayara Moraes Pinto
Orientadora: Ana Serpa


RESUMO

Apesar da sífilis adquirida ser mais comum entre os jovens, ela também pode afetar a população idosa, afinal de contas, muitos idosos tem mantido sua vida sexual ativa. Infecções Sexualmente transmissíveis (IST) na terceira idade tem sido um tema bastante negligenciado pela sociedade ou pelos profissionais da saúde. Deste modo, levando em consideração a alta prevalência nos últimos anos de sífilis nessa população, este trabalho de revisão integrativa teve como objetivo principal, analisar os casos de sífilis adquirida na terceira idade, destacando o perfil dos pacientes e os principais métodos diagnósticos utilizados. Esse estudo caracteriza-se com uma revisão integrativa de literatura, e os dados bibliográficos foram coletados no banco de dados da SciELO, MEDLINE, LILACS, PUBMED e Google Acadêmico. Portanto, após o levantamento bibliográfico, pode-se constatar que no Brasil, nos últimos dez anos, houve uma maior preponderância de pacientes idosas reagentes para sífilis adquirida (sexo feminino – N=06/60%, com faixa etária ≥ 60 anos – N=06/60%), autodeclaradas raça/cor parda (N=03/30%), com ensino fundamental fundamenta/ médio completo e incompleto (ambos N=02/20% respectivamente), residentes da região Nordeste (N=04/40%), nos estados no Maranhão (N=02/20%), Pernambuco (N=01/10%) e Rio Grande do Norte (N=01/10%), diagnosticadas através de exames laboratoriais (VDRL) (N=02/20%). Assim, essa alta incidência em todo o Brasil, destaca a necessidade de maiores planejamentos e desenvolvimentos de ações eficazes e multidisciplinares para a prevenção e assistência adaptada a esse público.

Palavras-chave: Sífilis adquirida. População idosa. VDRL.

ABSTRACT

Although acquired syphilis is more common among young people, it can also affect the elderly population, after all, many elderly people have maintained their sexual lives active. Sexually transmitted infections (STIs) in old age have been a topic largely neglected by society or health professionals. Therefore, taking into account the high prevalence of syphilis in this population in recent years, this integrative review work had as its main objective to analyze cases of syphilis acquired in old age, highlighting the profile of patients and the main diagnostic methods used. This study is characterized by an integrative literature review, and bibliographic data was collected from the SciELO, MEDLINE, LILACS, PUBMED and Google Scholar databases. Therefore, after the bibliographic survey, it can be seen that in Brazil, in the last ten years, there has been a greater preponderance of elderly patients reactive for acquired syphilis (female sex – N=06/60%, aged ≥ 60 years – N =06/60%), self-declared mixed race/color (N=03/30%), with complete and incomplete primary/secondary education (both N=02/20% respectively), residents of the Northeast region (N=04/ 40%), in the states of Maranhão (N=02/20%), Pernambuco (N=01/10%) and Rio Grande do Norte (N=01/10%), diagnosed through laboratory tests (VDRL) (N =02/20%). Thus, this high incidence throughout Brazil highlights the need for greater planning and development of effective and multidisciplinary actions for prevention and assistance adapted to this population.

Keywords: Acquired syphilis. Elderly population. VDRL.

1 INTRODUÇÃO

Em saúde pública, a sífilis é uma doença infectocontagiosa sistêmica, exclusiva do ser humano, significativamente importante a nível mundial. Ela é causada pela bactéria Treponema Pallidum, e caso não seja devidamente tratada, poderá evoluir para a sua forma crônica.1 Existem vários fatores associados à sua ocorrência, entre eles o baixo nível socioeconômico, dificuldade de acesso aos cuidados de saúde, entre outros; e sobre sua transmissão, ela pode ocorrer por contato sexual (Infecção Sexualmente Transmissível – IST), transfusão sanguínea ou transmissão vertical (da mãe para o feto).2

Essa patologia divide-se em três fases distintas: a primeira é caracterizada pelo aparecimento de uma lesão indolor denominada cancro duro; na segunda surgem exantemas cutâneos em forma de máculas, pápulas ou de condiloma lata (o perigo de transmissão nessa fase é maior); e na última, a doença pode manifestar-se em um período de dez anos ou mais, surgindo na forma de inflamação, destruindo tecidos e ossos, chegando a atingir o sistema cardiovascular e neural. Entre a segunda e terceira fase, existe um período de latência que se subdivide em recente, tardio e sem manifestações clínicas.3

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que a cada ano ocorra cerca de 12 milhões de casos de sífilis adquirida no mundo, principalmente em países que estão em desenvolvimento. No Brasil por exemplo, dados do Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde (MS), mostraram que de 2010 a 2018, houve um aumento expressivo do número de ocorrências de sífilis adquirida em todas as regiões brasileiras, chegando na totalidade de 58,1 casos por 100 mil habitantes. 3, 4, 5

Sobre o tratamento para sífilies, o preconizado pelo MS é a aplicação de penicilina G benzatina.6 E no que se refere à assistência aos pacientes, o seu diagnóstico ocorre por meio da identificação de suas formas clínicas (sendo a sífilis primária a mais comum), ou ainda por meio de testes imunológicos disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS): treponêmicos (teste rápidos e FTA-abs) ou não treponêmicos (Venereal Disease Research Laboratory – VDRL).1, 2, 7 Caso haja algum tipo de falhas no tratamento, esta patologia pode evoluir de fases rapidamente.3

Apesar da sífilis adquirida ser mais comum entre os jovens, ela também pode afetar a população idosa, afinal de contas, muitos idosos tem mantido sua vida sexual ativa, visto que os avanços sociais e da medicina além favoreceram não somente a longevidade, mas ainda contribuíram com as reposições hormonais e os medicamentos para impotência. Nessa conjuntura, o MS mostrou no Brasil, um aumento significativo nos casos de sífilis na faixa etária ≥ 50 anos (22.011 notificações em 2017), relacionado especialmente a desinformação. Casos como esses são extremamente perigosos, pois esses indivíduos além de desenvolverem quadro de demência, podem também ir a óbito.6, 8, 9

As IST’s na terceira idade tem sido um tema bastante negligenciado pela sociedade ou pelos profissionais da saúde. A falta de prevenção, como camisinhas por exemplo, acaba sendo fruto de um preconceito existente em relação a sexualidade nessa idade. Todos esses fatores tornam essa população mais vulnerável a ocorridos como esses.10 Nesse sentido, faz-se necessário que os profissionais de saúde junto com as autoridades, criem mais espaços de discussão e até programas de prevenção relacionados a esse tema. 8

É dever dos profissionais da saúde prestarem as devidas orientações sobre os riscos de contaminação, aconselhamento para a realização de testes rápidos, exames complementares para a prevenção de qualquer tipo de IST, bem como a melhora da detecção das doenças em estágios mais precoces. Em razão da importância desse tema essa pesquisa foi desenvolvida, pois torna-se necessário conhecer a realidade no qual estamos inseridos, em especial a ocorrência de agravos como esses, a fim de que com os resultados obtidos, novas políticas públicas e estratégias de prevenção e controle da sífilis na terceira idade, possam ser criadas.

Mediante a identificação desse significante assunto de cunho social, foi levantado o seguinte questionamento que norteou este trabalho: “qual o perfil epidemiológico dos idosos brasileiros diagnosticados com sífilis adquirida?”

Deste modo, levando em consideração a alta prevalência nos últimos anos de sífilis nessa população, este trabalho de revisão integrativa teve como objetivo principal, analisar os casos de sífilis adquirida na terceira idade, destacando o perfil dos pacientes e os principais métodos diagnósticos utilizados.

2 METODOLOGIA

Esse estudo caracteriza-se com uma revisão integrativa de literatura. Os dados bibliográficos foram coletados no banco de dados Scientific Eletronic Library Online (SCIELO), Medical Literature Analysis and Retrievel System Online (MEDLINE), Centro Latino-Americano e do Caribe de Informações em Ciências da Saúde (LILACS), PubMed e Google Acadêmico.

Para selecionar os artigos, foram utilizados os seguintes Descritores em Ciências da Saúde (DeCS/MeSH), em português e inglês: sífilis “syphilis”, idosos “old-aged” e Treponema pallidum combinados.

No Quadro 1 está descrito a busca realizada nas bases de dados mencionadas anteriormente, sobre sífilis adquirida em idosos no Brasil.

Quadro 1: Busca realizada nas bases de dados sobre sífilis adquirida em idosos no Brasil.

DescritoresScieloMedlineLilacsPubmedGoogle acadêmicoTotal  
Idosos+sifilis042811713781680
Old-aged+syphilis21416226456
Idosos+ Treponema pallidum11006346462
Old-aged + Treponema pallidum980725130
Total047034619752728

Fonte: Próprio autor, 2023.

Foram incluídos artigos que abordassem sobre a temática proposta em português e inglês, apresentados com texto na íntegra, disponíveis para leitura e publicados no período de 2013 à 2023. Foram excluídos artigos de revisão e aqueles com tangenciamento do tema, duplicados nas bases de dados, estudos pagos para leitura, teses, dissertações, monografias e estudos anterior ao ano de 2013.

Foi realizada a primeira leitura das publicações considerando o título e resumo, logo após, os artigos selecionados com relação a temática proposta foram lidos na íntegra e organizados segundo sua relação ao tema (Figura 1).

Foram encontrados 2728 trabalhos utilizando as combinações dos descritores (04 encontrados na Scielo, 703 no Medline, 46 no Lilacs e 1976 no Google Acadêmico), sendo excluídos 951 duplicatas. Após leitura do título foram descartados 1228 artigos aqueles que não contemplam o objetivo deste trabalho. Assim, restaram 549 publicações. Logo, realizou-se a leitura dos resumos, onde foram selecionados 39 artigos que posteriormente foram analisados na íntegra, ficando somente 10 artigos para serem discutidos neste trabalho (02 disponíveis no Medline e 08 no Google Acadêmico). A análise final buscou verificar se os estudos abordavam especificamente a sífilis adquirida em idosos e a realização no Brasil (imagem 1).

Imagem 1 – Fluxograma da coleta de dados.

Fonte: Próprio autor, 2023.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Todos os materiais selecionados para a construção desta revisão abordaram dados epidemiológico sobre o perfil dos pacientes diagnosticados com sífilis adquiridas no Brasil, nos últimos dez anos.

Portanto, costa no Quadro 1 a distribuição dos principais dados extraídos dos 10 (100%) artigos que compuseram esta revisão (Medlyne – N=02/ 20% e Google Acadêmico – N=08/ 80%): autores envolvidos, título do artigo, ano de publicação, tipo de estudo, objetivo alcançado e os principais resultados.

Dentre essas publicações foram encontrados estudos descritivos (N = 03/ 30%), ecológicos (N = 03/ 30%), exploratórios(N = 02/ 20%), transversal (N = 01/ 10%) e observacional analítico (N = 01/ 10%), publicados em 2019 (N = 02/ 20%), 2020 (N = 02/ 20%), 2021 (N = 01/ 10%), 2022 (N = 03/ 30%), e 2023 (N = 02/ 20%).

Quadro 2: Resultados encontrados nesta revisão integrativa

AutorTituloAnoTipo de estudoObjetivoPrincipais resultados.
   Medline    
Bezerra11Burden of syphilis in Brazil and federated units, 1990-2016: estimates from the Global Burden of Disease Study 20192022Estudo descritivoApresentar informações sobre a principal carga imposta pela sífilis gerada pelo Global Burden of Disease (GBD) Study 2019 para o Brasil e seus 27 unidades federadas.Nesse estudo foi analisado a carga da sífilis no Brasil e suas 27 unidades federativas. Homens e mulheres tiveram taxas de incidência de sífilis por 100 mil habitantes no Brasil, principalmente aqueles com faixa etária acima de 60 anos, no entanto, as mulheres apresentaram os valores mais elevados para o indicador durante o período de estudo. As regiões brasileiras que que tiveram as maiores taxas por incapacidade anos de vida, nos três anos consecutivos foram: Maranhão, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul. Dentre elas, notadamente o estado do Maranhão (Nordeste região) teve as taxas mais altas para métricas de carga de sífilis em todos os três anos previstos.
Barros 6Syphilis detection rate trend in aged people: Brazil, 2011–20192023Estudo ecológico de série temporal Analisar a tendência da taxa de detecção de sífilis em idosos no Brasil no período de 2011 a 2019.Foram notificados 62.765 casos de sífilis em idosos, o aumento foi de aproximadamente seis vezes (média de 25% a cada ano). Foi identificado aumento predominante no sexo feminino e no grupo de 70 a 79 anos. Todas as macrorregiões do país apresentaram tendência crescente, com destaque para Nordeste, especificamente nos estados de Roraima, Maranhão, Amapá e Pará.  
   Google Acadêmico    
Oliveira 12O aumento da sífilis adquirida no idoso2019Estudo descritivoLevantar dados de Sífilis Adquirida em idosos e discutir a importância da estratificação por idade, para realização de prevenção de demência senil por Sífilis na fase terciária.Os boletins epidemiológicos do Ministério da Saúde e Estado de São Paulo estão categorizados em: ano de diagnóstico (2007 a 2017), faixa etária (de 50 a acima de 60 anos), sexo (mais expressivo na população masculina), escolaridade (predominância do ensino médio completo) e região (a Sudeste apresentou o maior número de detecção da infecção).
Nonato 13Panorama da Sífilis no município do norte brasileiro no período de 2013 a 20172019Estudo descritivoAnalisar os dados epidemiológico da população do município de Rio Branco – Acre – Brasil com diagnóstico positivo da Sífilis entre os anos de 2013 e 2017.No período de 2013 a 2017, 5.825 pessoas foram reagentes para o teste não treponêmico (VDRL), confirmados com sífilis adquirida. Dentre estes, 58,7% indivíduos pertencem ao sexo feminino, com prevalência de idade entre 20 a 30 anos, de cor/raça autodeclarada parda. Houve também diagnósticos reagentes para sífilis gestacional e congênita.
Silva 14Perfil epidemiológico do idoso com sífilis no Município de Cascavel/PR2020Estudo exploratório descritivoAnalisar a prevalência de idosos com sífilis no município de Cascavel – Paraná, no período de 2013 a 2016.Com base nas fichas de notificação compulsória de Sífilis Adquirida, de 159 idosos do município de Cascavel – Paraná, no período de janeiro de 2013 a dezembro de 2016, houve uma maior prevalência de casos em mulheres idosas (faixa etária de 60 a 64 anos), de raça/ cor branca, com ensino fundamental incompleto.
Batista 15Panorama epidemiológico dos idosos acometidos por sífilis adquirida em um município da zona da mata pernambucana2020Estudo observacional analíticoTraçar o panorama epidemiológico dos idosos acometidos por Sífilis Adquirida no município da Vitória de Santo Antão – PernambucoOs dados levantados pela Vigilância Epidemiológica, por meio do TABWIN, mostraram 34.638 casos de Sífilis Adquirida, sendo que destes, 9,1% foram registrados em indivíduos de 60 anos ou mais. Verificou-se ainda que 55,7% pertencentes ao gênero feminino, de cor/raça autodeclarada parda, analfabetas, moradores da zona urbana.
Medeiros 16Sífilis adquirida na população de 50 anos ou mais: distribuição geográfica e tendências2021Estudo ecológico exploratórioAvaliar a prevalência de sífilis adquirida na população ≥50 anos residente em Santa Catarina, sua distribuição geográfica e tendência no período 2013-2018.Durante o período de 2013 a 2018, foram notificados 4.546 casos de sífilis adquirida em Santa Catarina. Esse aumento ocorreu em ambos os sexos, mais houve um maior destaque ao sexo masculino, especialmente na faixa de idade de 50 a 59 anos. Na avaliação segundo raça, verificou-se que 74,3% dos acometidos eram da raça ou cor branca.
Santos 17Análise do número de internações por sífilis em idosas no Brasil entre 2010 e 2019 por faixa etária2022Estudo ecológico descritivoDescrever a tendência das taxas de internação por sífilis em idosas no Brasil entre 2010 e 2019No período de 2010 a 2019, foram registradas, no Brasil, 389 internações por sífilis em mulheres acima de 60 anos, representando uma tendência crescente significativa em relação à prevalência dessa IST em idosas observada no país até então.
Medeiros 18Perfil epidemiológico da sífilis no Rio Grande do Norte: um comparativo entre 2019 e 20212022Estudo transversalMapear o perfil epidemiológico da sífilis adquirida, notificados no DATASUS, no Estado do Rio Grande do Norte/RN, nos anos de 2019 e 2021As variáveis analisadas no presente estudo evidenciaram uma maior taxa de acometimento da sífilis adquirida no sexo masculino, na faixa etária de 20 – 39 anos, na população com nível escolar de nível fundamental e médio incompleto, do ensino fundamental e ensino médio incompleto. Por fim, 65,2% desses tiveram confirmação através de exames bioquímicos laboratoriais a partir de amostras coletadas.
Santos 19Análise epidemiológica da Sífilis Adquirida na Região Norte do Brasil2023Estudo exploratórioAnalisar e discutir o perfil epidemiológico da Sífilis adquirida na região Norte do Brasil, por meio de dados obtidos no Sinan.Nesse estudo, dentre os grupos afetados com sífilis adquirida, o gênero que apresentou uma maior prevalência foi o sexo masculino, com faixa etária entre 20 a 39 anos, pertencentes a raça parda, que concluíram o ensino médio. A justificativa para a prevalência da doença nesses grupos está atrelada a forma de transmissão de maior expressão correspondente as práticas sexuais desprotegidas, onde a população masculina apresenta maior resistência a utilização de preservativos e procura de assistência médica preventiva.

Fonte: Próprio autor, 2023.

Após análise crítica dos artigos selecionados para a construção desta revisão sobre sífilis adquirida, foi possível extrair alguns dados importantes sobre perfil clínico-epidemiológico desses pacientes reagentes. Portanto, na Tabela 01 consta a distribuição desses dados, que foram distribuídos por varáveis, sendo elas: sexo, idade, raça, grau de escolaridade, região e diagnóstico.

Desta maneira, no Brasil, nos últimos dez anos, houve uma maior preponderância de pacientes idosas reagentes para sífilis adquirida (sexo feminino – N=06/60%, com faixa etária ≥ 60 anos – N=06/60%), autodeclaradas raça/cor parda (N=03/30%), com ensino fundamental fundamenta/ médio completo e incompleto (ambos N=02/20% respectivamente), residentes da região Nordeste (N=04/40%), nos estados no Maranhão (N=02/20%), Pernambuco (N=01/10%) e Rio Grande do Norte (N=01/10%), diagnosticadas através de exames laboratoriais (VDRL) (N=02/20%).

Tabela 01 – Perfil epidemiológico dos pacientes com sífilis adquirida no Brasil, conforme as varáveis: sexo, idade, raça, grau de escolaridade, região e diagnóstico.

VARIÁVEIS%
Sexo  
Feminino0660%
Masculino0440%
Idade   
20 a 39 anos0330%
50 a 59 anos0110%
≥ 60 anos0660%
Raça   
Parda0330%
Branca0220%
Dado não informado na pesquisa0550%
Grau de escolaridade   
Analfabeto0110%
Ensino fundamental/ médio incompleto0220%
Ensino médio completo0220%
Dado não informado na pesquisa0550%
Região com a maior prevalência de casos  
Norte0220%
Nordeste0440%
Sul0220%
Sudeste0110%
Dado não informado na pesquisa0110%
Diagnóstico   
Exames laboratoriais (VDRL)0220%
Dado não informado na pesquisa0880%
TOTAL10100%

Fonte: Próprio autor, 2023.

Analisando os resultados dos autores selecionados para a construção desta pesquisa, pode-se perceber que a sífilis, no que se refere a sua epidemiologia, é uma IST bastante heterogênea entre os gêneros, ou seja, homens e mulheres não somente apresentam diferentes níveis de risco biológico, como também as suas manifestações clínicas e a probabilidade comportamental de adquiri e transmitir essa doença, são bastante distintas. 11

Nos estudos de Barros6, Bezerra11, Oliveira12, Nonato13, Batista15 eSantos17, as mulheres brasileiras apresentaram maiores cargas da doença em comparação aos homens, demonstrando uma maior vulnerabilidade dessa população à essa doença. No cenário nacional, os pesquisadores afirmaram existir entre ambos os sexos, uma diferença gigantesca na incidência dessa IST, os homens por exemplo, tendem a procurar com menos frequência os cuidados de saúde, explicando assim, as menores taxas de detecção precoce, levando-os a um diagnóstico tardio e consequentemente a maiores probabilidades de morbidade.

De acordo com Barros 6, Oliveira12 e Batista 15 população idosa vem crescendo gradativamente em todo o mundo, devido ao aumento na expectativa de vida (79 anos para mulheres e 72 anos para os homens), o que justifica o maior número de ocorrência na faixa etária ≥ 60 anos.

As pontuações de Santos 17 sobre este assunto são bem interessantes, segundo ele, as mulheres idosas na perimenopausa, apresentam baixos níveis de estrogênio, causando uma diminuição da lubrificação e por conseguinte um estreitamento da mucosa vaginal, predispondo durante as relações sexuais, microabrasamentos da parede facilitando assim, a transmissão de ISTs, como a sífilis. Outros fatores que contribuem para a vulnerabilidade desse grupo etário, em relação ao aumento de infecções, são as mudanças fisiológicas decorrentes do avanço da idade (diminuição da imunidade celular/humoral, na produção de anticorpos e uma menor ativação de células T), e a falta de informação sobre os perigos de relações sexuais inseguras.

Apesar do maior aumento de sífilis adquirida ter sido observado na população feminina, é válido enfatizar que nos homens também foi observado um considerável aumento na taxa de detecção dessa IST, conforme pontua Oliveira12, Medeiros 16, Medeiros 18, Santos 19.

Segundo Barros 6 e Medeiros 18 os homens são mais suscetíveis a IST devido ao maior número de parceiros sexuais em todas as suas vidas, e se tratando de idades mais avançadas essa realidade não poderia ser diferente, afinal de contas, os idosos tendem a utilizar com mais frequência fármacos para disfunção erétil, favorecendo assim, a manutenção da atividade sexual. Associado a esse fato, existe ainda a negligência no uso do preservativo, a dificuldade no acesso a assistência e acompanhamento na atenção básica, sem mencionar o estilo de vida e os fatores sociais/ambientais. Todos esses fatores estão diretamente ligados à uma maior taxa de morbimortalidade precoce no sexo masculino.

Sobre o maior número de casos na raça/cor parda, Nonato 13, Batista 15 eSantos 19 ratificam que esse predominou é justificado pela maior parte da população brasileira pertencer a esta etnia. De acordo com os estudos sociológicos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística20 (IBGE), os indivíduos pardos são aqueles considerados a partir da sua diversidade, mistura inter-racial (mestiços) e diferença entre pessoas mestiças não possuidoras de características muito bem definidas. Soares21 ratifica que a sífilis adquirida não prepondera em uma etnia ou grupos específicos, esse dado também pode ser atribuído a uma possível subnotificação na região.

No referente à escolaridade, os dados apresentados nesta revisão são um facilitador para criação de políticas públicas voltadas para a prevenção de Sífilis Adquirida, afinal de contas, os resultados mostram uma maior notificação nos casos de sífilis na população menos instruída – somando os resultados de ensino fundamental/médio incompleto (N=02/20%) e analfabetos (N=01/10%). Sobre isso, Medeiros 18 e Batista 15 destacam a importância da educação em saúde como medida preventiva da doença. Enquanto Oliveira12 e Santos19 reiteram o quão necessário é a necessidade de políticas públicas voltadas para este nível de escolaridade, serem implantadas a população idosa.

É afirmado por Domingues 22 que quanto menor for o nível de escolaridade, maiores dificuldades as pessoas terão no acesso à informação, gerando uma compreensão limitada da importância dos cuidados de saúde e, consequentemente, de medidas preventivas.

Conforme é mostrado na Tabela 01, a região Nordeste apresentou a maior quantidade de caso de sífilis adquirida, especialmente no estado do Maranhão6,11. Esses resultados também são encontrados nas pesquisas de Domingues22 eMarques23, segundo as hipóteses levantadas pelos autores, os fatores que acabam justificando as maiores taxas de morbi-mortalidade de sífilis nessa região, são: (1) os menores números de serviços de saúde profissionais; (2) frágeis serviços de saúde nesta região; e (3) falhas no uso de protocolos de diagnóstico e tratamento pelos profissionais de saúde.

Bezerra11 eNonato 13 fazem em seus estudos, considerações relevantes sobre a sífilis gestacional. De acordo com os autores, dados nacionais da vigilância epidemiológica mostraram um aumento crescente nas taxas de sífilis congênita, de até três vezes. Por esta razão, destaca-se a importância do pré-natal, sendo possível por meio dele, a identificação precoce da doença.

Os resultados de Macêdo24 corroboram como os encontrados nessa pesquisa. Esse aumento nas taxas de nascidos vivos com doenças congênitas, inclusive a sífilis, no Brasil, nos anos de 2010 a 2019, mostram o quão desafiador é controlar a sífilis gestacional no país, especialmente nas regiões Norte e Nordeste, onde as dificuldades de controle persistem.

Nonato13 pontua que um inadequado acompanhamento médico, poucas consultas no pré-natal, pacientes que residem em locais de difícil acesso, associado a um tratamento inadequado ou a falta de tratamento do parceiro, são fatores que acabam contribuindo para esse aumento de sífilis na gestação. Pois um diagnóstico precoce, principalmente nos primeiros meses de vida da criança, em conjunto com o tratamento, são elementos considerado pelo autor, fundamentais para erradicar essa infecção nos recém-nascidos.

Torna-se crucial atualizar intervenções dirigidas às mulheres grávidas, sobre o reconhecimento da complexidade e o dinamismo das IST, prestando especial atenção aos fatores de risco relativos a aspectos comportamentais, sociodemográficos, condições de vida, e mudanças organizacionais no setor de saúde serviços e sistema. 25, 26 No Brasil, o MS por meio do SUS oferece a população, testagem e tratamentos gratuitos para sífilis em unidades básicas de saúde, considerando exames e esquemas terapêuticos diferenciados para sífilis gestacional, congênita e sífilis adquirida. 27

Bezerra11 assegura que os teste pré-natal para sífilis reduziram as dificuldades no acompanhamento do paciente, revelando taxas mais altas do que o esperado no Brasil. Além disso, durante os períodos de 2014 a 2017 houve uma escassez de penicilina G benzatina (BPG), procaína e cristalino formulações, influenciando negativamente o tratamento da sífilis, influenciando diretamente no aumento da incidência da doença. 

Nesta revisão os achados sobre os diagnósticos afirmam que os critérios de escolha dos exames utilizados, foram segundo a fase evolutiva da doença. portanto, na pesquisa de Nonato 13 e Medeiros 18 o exame laboratorial VDRL de primeira escolha foi o mais utilizado, pois ele faz a titulação treponêmica no sangue do hospedeiro. Após confirmação da infecção, segue-se o tratamento terapêutico pela equipe multiprofissional de saúde.

É garantido por Barros6 que o diagnóstico e o tratamento para sífilis são rápidos e extremamente eficazes. Sobre este assunto, Escoba28 e Clerici29 alegam que os exames para detectar essa doença (não treponêmicos e treponêmicos), devendo ser interpretados em consonância com os achados clínicos e histórico do paciente, bem como os testes laboratoriais. Sendo assim, na fase inicial ou primária da infecção, e até na fase de latência, a sífilis pode ser detectada por meio de diagnostico laboratorial diretos: imunofluorescência direta (IFD), microscopia de campo escuro e técnicas de amplificação genômica.

Vale ressaltar, que com o advento das facilidades ao acesso de meios de comunicação, como através das mídias sociais, ficou possível obter informações de maneira mais rápida quanto a prevenção da sífilis. Dessa forma, observa-se a necessidade de ações educativas para saúde pública que visem a conscientização da população sobre os perigos de uma vida sexual descuidada. Portanto, informações a respeito de métodos preventivos e tratamentos contra a IST são relevantes, no intuito de incentivar a adoção do processo preventivo e, consequentemente contribuir para a diminuição dos casos.19

04 CONSIDERAÇÕE FINAIS

Foi observado nesse estudo uma alta incidência de sífilis adquirida na população idosa no âmbito Nacional, principalmente na Região Nordeste, dando ênfase ao Estado do Maranhão. Esses pacientes se autodeclararem pertencentes a etnia parda.

Essa alta incidência em todo o Brasil, destaca a necessidade de maiores planejamentos e desenvolvimentos de ações eficazes e multidisciplinares para a prevenção e assistência adaptada a esse público.

Com os resultados obtidos por meio desse estudo, pode-se perceber a importância da capacitação de todos os profissionais da saúde, inclusive os que atuam na atenção básica, para quando necessário, estarem prestando as devidas informações a respeito da prevenção das IST´s na população idosa, inclusive a sífilis.

REFERÊNCIAS

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