SIALODENITE INFLAMATÓRIA EM GLÂNDULA SUBLINGUAL: RELATO DE CASO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10150040


Joelli Gomes da Silva Lima1; Everton Silva Marques2; Râmilla Mariana Souza Belmiro3; Maria Eduarda Martins Costa4; Everton Jhony Silva5; Nathan Carlos de Souza Goncalves6; Ana Maria Vieira da Silva7; Ana Paula Mota Castilho8; Lucas Pinheiro da Silva9; Larêssa Santiago Teixeira10; Elaine Damasceno Maciel11; Nicole Albuquerque Fais12 Orientador: Prof. Marcelo Sales13.


RESUMO

Sialodenite consiste numa inflamação das glândulas salivares, clinicamente se apresenta com edema, eritema, secreção purulenta e diminuição ou ausência da saliva, em sua maioria das vezes está associada a quadro de dores a alimentação. O objetivo desse trabalho foi relatar um caso clínico de sialodenite associado a variação anatômica do freio lingual. Paciente do sexo feminino compareceu ao serviço relatando intensa dor ao se alimentar e aumento de volume na região submandibular, ao exame físico foi observado a presença de um freio lingual, a ordenha da glândula submandibular se apresentou ineficiente com baixa produção de saliva.  As hipóteses de diagnostico apontavam o freio lingual causando um fluxo salivar tortuoso impedindo o fluxo correto da saliva, foi sugerido a remoção do freio como forma de tratamento. Após 30 dias a paciente apresentou melhoras de seus sintomas, bem como o aumento do fluxo salivar e restabelecimento da qualidade de vida do paciente.

Descritores: Glândula sublingual, Xerostomia, Doenças da glândula submandibular

INTRODUÇÃO

Sialodenite é caracterizada por uma inflamação das glândulas salivares, pode ser de origem infecciosa ou não, clinicamente se apresenta com um edema, eritema, secreção purulenta e diminuição ou ausência da salivação da glândula afetada, além disso a dor também pode ser relatada pelo paciente principalmente durante as refeições, devido a maior produção de saliva. O quadro também pode ser acompanhado de febre, trismo, calafrios, prostração e linfoadenopatia 1. Apresenta- se em duas formas: aguda e crônica 1-4.

Na sua forma aguda, tem como agentes causadores vírus e bactérias, sendo mais comum a glândula parótida a ser acometida bilateralmente, com 10% a 25% dos casos1,4. No quadro crônico temos vários episódios de dor e inflamação que é a evolução da sua forma aguda que leva à destruição do parênquima e a sua substituição por tecido fibroso associada à infiltração de linfócitos, sendo decorrente da diminuição da taxa de secreção ou da obstrução do ducto por sialolitos7.

Essa infecção se dá pela migração retrógrada de bactérias provenientes da cavidade bucal, através do ducto da glândula2. Essas infecções acometem mais as glândulas maiores, principalmente a parótida por produzir saliva com menor atividade bacteriostática em relação à da glândula submandibular. Alguns fatores favorecem a migração dessas baterias, como: redução do fluxo salivar (devido à presença de cálculo e estenose ductal, desidratação, grandes perdas de sangue, diarreia, medicação anticolinérgica ou diurética), comprometimento da resistência do hospedeiro, má higiene bucal e cirurgias recentes (principalmente abdominais)1, 4, 5-6.

Seu diagnostico requer uma boa realização de um exame físico e radiográfico, também é valido lançar mão de exames complementares 4. A sialodenite na sua forma crônica é facilmente diagnosticada com um exame radiográfico, onde se apresentam os sialolitos, que aparecem como massas radiopacas, que nem sempre são identificados em radiografias pois irá depender do seu grau de mineralização. Cerca de 20% dos sialolitos podem ser radiolúcidos necessitando de outros tipos de exames como sialografia, tomografia computadorizada, ultrassonografia, ressonância magnética, cintilografia e sialoendoscopia5.

Sendo assim, o tratamento da sialodentite pode ser variado, dependendo do tipo, da etiologia e das possíveis associações. O presente estudo tem como objetivo relatar um caso de sialodenite inflamatória em região sublingual, bem como seu diagnóstico e tratamento.

RELATO DE CASO

Paciente mesoderma, 16 anos, compareceu ao serviço de média complexidade com queixa principal que ao se alimentar tem dores e inchaço na região submandibular esquerda que começou há aproximadamente 1 mês, relatou que esse inchaço e dor não aparecem em outros momentos. Aos exames imaginológicos (raio x panorâmico, oclusal de mandíbula e ultrassonografia) não foram observadas alterações. Ao exame físico não foram observadas alterações na região submandibular esquerda e sublingual, mas observou a presença do freio lingual. A ordenha da glândula submandibular esquerda mostrou uma deficiência de pouca produção de saliva. A conduta foi a prescrição medicamentosa da Pilocarpina 2%, Meloxican 7,5% e Amoxicilina + Ácido Clavulânico 875mg + 125mg e retorno com 15 dias. Ao retorno paciente relatou melhoras dos sintomas, as medicações foram suspensas e solicitou-se a realização da frenectomia lingual.

A realização da frenectomia foi com anestesia infiltrativa optou-se pelo uso da Articaína, não houve intercorrências no procedimento cirúrgico, o retorno da paciente foi com 30 dias.

DISCUSSÃO

O fluxo comum da saliva garante a retenção de bloqueios e ajuda na remoção dos microrganismos no sistema dos ductos glandulares. Quando reproduzido, seja pelo bloqueio do ducto ou pela limitação da produção salivar pelos ácinos glandulares, ocorre infecções com maior facilidade. As causas dessas infecções por vezes podem ser desconhecidas 7.

A falta de assepsia oral, bloqueio dos ductos por sialolitíase, tumores ou corpo estranho são fatores locais consideráveis que podem acarretar o desenvolvimento das sialoadenites1.

Agentes sistêmicos além disso podem causar ao paciente um quadro inflamatório das glândulas salivares. A maior parte dos pacientes com sialoadenite encontram-se doentes ou desidratados.  Algumas condições, incluindo a diminuição da resposta imunológica, como diabetes, transtorno autoimunes, como a Síndrome de Sjögren, diminuição da produção salivar secundária a medicações (antidepressivos, anticolinérgicos e diuréticos) e a desidratação pós-cirúrgica pode aumentar as chances de aparições das sialoadenites. A sialoadentine aguda tem um comprometimento maior nas glândulas parótidas entre 10% a 25% dos casos 1.

As manifestações clínicas mais frequentes são: eritema, edema, aumento de temperatura e enrijecimento das áreas glandulares que foram acometidas. Existem pacientes que apresentam febre, queixando-se de dor.  O processo inflamatório está associado ao parênquima glandular e pela estimulação dos nervos sensoriais que ficam próximos a cápsula glandular contribuindo para a dor associada. A abertura do ducto salivar mostra-se eritematosa, e durante o exame intra-oral é possível identificar conteúdo purulento que pode ser drenado da glândula quando palpada, sendo a situação mais frequente, a infecção bacteriana 8.

Existe uma escassez na literatura quanto a casos de associação da sialodenite com a presença do freio lingual, sendo mais rotineiro os relatos da sialodenite por presença dos sialólitos. Foi observado uma alteração anatômica na região sublingual com a presença do freio lingual, observou-se com a presença desse freio a dificuldade na saída do fluxo salivar corretamente. Segundo Neville a obstrução do ducto pode advir com a a presença de sialólito ou de outras coisas que causem o bloqueio, sendo necessário remover cirurgicamente.

CONCLUSÃO

Dessa forma, com base na literatura observa-se uma insuficiência quanto a estudos relacionando a variação anatômica do freio lingual com a inflamação das glândulas salivares. O resultado obtido com a remoção do freio lingual foi a desaparição dos sintomas de dor e inchaço na região submandibular, bem como o aumento do fluxo salivar e restabelecimento da qualidade de vida do paciente.

Referências

  • Neville BW, Damm D, Allen CM, Bouquot JE. Patologia das Glândulas Salivares. In:Patologia Oral & Maxilofacial. 2 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2004. p. 379-80. 2. Rousseau P. Acute suppurative parotitis. J Geriatr Soc. 1990; 38:897-98.
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  • Gomes RT, Naves MD, Do Carmo MAV, De Aguiar MCF. Sialoadenite: revisão de literatura sobre a etiologia, o diagnóstico e o tratamento. Arq Odontol. 2006;42(4):257-336.
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  • Nusem-Horowitz S, Wolf M, Coref A. Acute suppurative parotitis and parotid abscess in children. Int. J. Pediatr. Otorhinolaryngol. 1995; 32: 123-126.

1Cirurgiã-Dentista UNIESP-PB  Membro da liga de cirurgia pela UFPB;
2Cirurgião-Dentista;
3Graduanda de odontologia UNIESP- PB;
4Graduanda de odontologia UNINASSAU- PA;
5Graduando de odontologia UNIBRA- PE;
6Graduando de odontologia UNIESP- PB;
7Graduanda de odontologia FIP- PB;
8Graduanda de odontologia UNL- AM;
9Cirurgião-Dentista UNIRV- GO;
10Graduanda de odontologia UNINCOR- MG;
11Graduanda de odontologia UDF- DF;
12Médica pela CESUPA;
13Professor patologia UFPB. Radiologista.