REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.11425508
Gabriela Nascimento Rodrigues1
Elaine Nunes de Lima¹
Kawane Dias de Oliveira¹
Larissa Martins Ferreira¹
Letícia Lopes Santos¹
Silvana Flora de Melo2
Anderson Scherer3
Resumo
A sepse representa um desafio significativo nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) em todo o mundo, sendo caracterizada por uma resposta desregulada do hospedeiro a uma infecção que frequentemente resulta em altas taxas de mortalidade. Este estudo visou investigar a etiologia da sepse, os fatores prognósticos associados à sua progressão, e o impacto desses elementos na mortalidade de adultos em UTIs. O objetivo foi identificar estratégias que possam contribuir para a melhoria dos desfechos clínicos e a redução da mortalidade. A metodologia empregada foi uma Revisão Integrativa da Literatura (RIL), focada na análise de estudos recentes para capturar práticas e descobertas científicas atuais.
Os resultados apontaram para a complexidade da sepse, destacando a diversidade de patógenos causadores e a problemática crescente da resistência antimicrobiana. Foi enfatizada a crucial importância da intervenção precoce e da administração imediata de antimicrobianos. A discussão ressaltou a necessidade de abordagens personalizadas no manejo da sepse, que considerem as particularidades de cada paciente. Também se destacou a importância da educação contínua dos profissionais de saúde e da implementação de estratégias eficazes de prevenção de infecções.
As conclusões deste estudo sublinham a importância da adoção rigorosa de protocolos de intervenção precoce, da educação continuada dos profissionais de saúde no manejo da sepse, do desenvolvimento de estratégias robustas de prevenção, e do incentivo à pesquisa para novas abordagens terapêuticas. Adicionalmente, recomenda-se o desenvolvimento de programas de apoio psicossocial para os sobreviventes de sepse e suas famílias, tendo em vista as consequências de longo prazo da condição. Este estudo enriquece o conhecimento sobre a sepse em UTIs, fornecendo insights valiosos para a melhoria das práticas clínicas e dos desfechos dos pacientes.
Palavras-chave:Sepse, Unidade de Terapia Intensiva (UTI); Fatores de Risco; Mortalidade; Intervenção Precoce; Etiologia da sepse;
Abstract
Sepsis represents a significant challenge in Intensive Care Units (ICUs) worldwide, characterized by a dysregulated host response to an infection that often results in high mortality rates. This study aimed to investigate the etiology of sepsis, the prognostic factors associated with its progression, and the impact of these elements on the mortality of adults in ICUs. The objective was to identify strategies that could contribute to the improvement of clinical outcomes and the reduction of mortality. The methodology employed was an Integrative Literature Review (ILR), focused on the analysis of recent studies to capture current practices and scientific findings.
The results pointed to the complexity of sepsis, highlighting the diversity of causative pathogens and the growing problem of antimicrobial resistance. The crucial importance of early intervention and the immediate administration of antimicrobials were emphasized. The discussion underscored the need for personalized approaches in the management of sepsis, considering the particularities of each patient. The vital importance of continuous education for healthcare professionals and the implementation of effective infection prevention strategies were also highlighted.
The conclusions of this study underline the importance of rigorously adopting protocols for early intervention, continuous education for healthcare professionals in the management of sepsis, the development of robust prevention strategies, and the encouragement of research for new therapeutic approaches. Additionally, the development of psychosocial support programs for sepsis survivors and their families is recommended, considering the long-term consequences of the condition. This study enhances the knowledge about sepsis in ICUs, providing valuable insights for the improvement of clinical practices and patient outcomes.
Keywords: Sepsis, Intensive Care Unit (ICU); Risk Factors; Mortality; Early Intervention; Sepsis Etiology
1 Introdução
A sepse é uma condição médica grave e uma das principais causas de mortalidade e morbidade em unidades de terapia intensiva (UTIs) em todo o mundo. Essa síndrome é caracterizada como uma “disfunção orgânica potencialmente fatal causada por uma resposta desregulada do hospedeiro a uma infecção”, conforme a definição mais recente adotada pela Sepsis-3 (Singer et al., 2016). Globalmente, milhões de pessoas são afetadas pela sepse anualmente, resultando em altas taxas de mortalidade hospitalar e impondo um pesado ônus econômico aos sistemas de saúde (Rudd et al., 2020).
A complexidade da sepse é agravada pela diversidade de patógenos causadores, como bactérias, vírus e fungos, e pela crescente resistência antimicrobiana, fatores que complicam significativamente o manejo clínico da condição (Vazquez Guillamet et al., 2021). Diante disso, torna-se fundamental desenvolver abordagens terapêuticas personalizadas que considerem os fatores de risco individuais, comorbidades e a etiologia específica da infecção, visando mitigar a alta mortalidade associada à sepse em UTIs.
Este estudo tem como objetivo geral avaliar os progressos no tratamento e manejo da sepse em UTIs, com foco nas terapias inovadoras e nas estratégias de intervenção baseadas em evidências que possam atenuar a morbidade e mortalidade associadas a esta condição crítica. Especificamente, será analisado o impacto do uso de anticorpos monoclonais que têm como alvo mediadores inflamatórios, como IL-1 e TNF-α, no tratamento da sepse (Coopersmith et al., 2022). Adicionalmente, o estudo examinará a implementação e eficácia das diretrizes da Surviving Sepsis Campaign (SSC) no manejo da sepse (Evans et al., 2021), bem como as estratégias para prevenção e manejo de infecções secundárias em pacientes sépticos (Smith et al., 2023).
Essa abordagem visa fornecer insights valiosos que possam contribuir para o desenvolvimento de estratégias de prevenção mais eficazes e para a melhoria do prognóstico de pacientes com sepse.
1.1 Objetivo Geral
Avaliar os avanços no tratamento e manejo da sepse em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), com foco em novas terapêuticas e estratégias de intervenção baseadas em evidências que possam reduzir a morbidade e mortalidade associadas a essa condição crítica.
1.2 Objetivos Específicos
• Analisar o impacto do uso de anticorpos monoclonais no tratamento da sepse, especificamente aqueles que visam mediadores inflamatórios como IL-1 e TNF-α.
• Explorar o potencial das terapias genéticas e celulares, como a terapia com células tronco, no tratamento da sepse para reparar funções celulares danificadas.
• Investigar o papel da microbiota na progressão da sepse
2 Metodologia
2.1 Critérios de Seleção Detalhados
Os critérios adotados de seleção garante uma análise abrangente e pertinente da literatura existente sobre os fatores que exacerbam a sepse em pacientes adultos em UTIs. Delimitou-se o período de inclusão dos estudos de janeiro de 2019 a abril de 2024, abrangendo os avanços mais recentes no entendimento e manejo da sepse. Este intervalo é crucial para incorporar as tendências atuais em resistência antimicrobiana e estratégias de prevenção, elementos vitais para o manejo eficaz da sepse em ambientes de UTI (Shankar-Hari et al., 2020).
Os descritores utilizados foram: “Sepse”, “Sepsis”, “Unidade de Terapia Intensiva”, “Intensive Care Unit”, “Fatores de Risco”, e “Risk Factors”. Empregaram-se os operadores booleanos AND e OR para refinar e expandir as buscas nas bases de dados PubMed, Scopus e Web of Science, escolhidas pela sua ampla cobertura de literatura biomédica e científica (Alhazzani et al., 2021).
Desenvolveu-se uma estratégia de busca meticulosa para assegurar a identificação de estudos altamente relevantes. A escolha dos descritores e o uso eficaz dos operadores booleanos foram planejados para maximizar a relevância e a abrangência dos estudos identificados. O foco recaiu sobre a inclusão de diversos formatos de estudos, tais como pesquisas observacionais, ensaios clínicos e revisões sistemáticas, proporcionando uma visão compreensiva dos fatores de risco e das intervenções para a sepse (Evans et al., 2021).
Desenvolveu-se uma estratégia de busca meticulosa para assegurar a identificação de estudos altamente relevantes. A escolha dos descritores e o uso 8 eficaz dos operadores booleanos foram planejados para maximizar a relevância e a abrangência dos estudos identificados. O foco recaiu sobre a inclusão de diversos formatos de estudos, tais como pesquisas observacionais, ensaios clínicos e revisões sistemáticas, proporcionando uma visão compreensiva dos fatores de risco e das intervenções para a sepse (Evans et al., 2021).
3 Referencial Teórico
A sepse, definida como uma disfunção orgânica potencialmente fatal resultante da resposta desregulada do organismo a uma infecção, permanece uma das principais causas de mortalidade em UTIs em todo o mundo. Estima-se que anualmente mais de 30 milhões de pessoas sejam afetadas pela sepse, resultando em aproximadamente 11 milhões de mortes, sublinhando a sua importância como questão de saúde pública (Evans et al., 2021).
O choque séptico, uma forma extrema de sepse, aumenta consideravelmente o risco de morte, reforçando a necessidade de diagnóstico precoce e intervenção imediata (Evans et al., 2021). Diversos fatores de risco têm sido apontados para o agravamento da sepse em UTIs, como comorbidades pré-existentes, idade avançada e procedimentos invasivos. Entre eles, a resistência antimicrobiana tem se mostrado um desafio significativo no tratamento, aumentando as taxas de mortalidade por limitar as opções terapêuticas eficazes (Alhazzani et al., 2021).
A complexidade da patogênese da sepse, envolvendo infecção inicial e resposta inflamatória desregulada, agrava-se com disfunção endotelial e coagulação intravascular disseminada, levando a edema e falência múltipla de órgãos (Shankar-Hari et al., 2020). Isso destaca a necessidade de abordagens terapêuticas que incluam a eliminação do patógeno infeccioso e a modulação da resposta do hospedeiro. O tratamento da sepse inclui a administração precoce de antimicrobianos, suporte orgânico e prevenção de infecções.
Medidas como higiene rigorosa das mãos e protocolos para dispositivos invasivos são essenciais para prevenir a sepse na UTI (Evans et al., 2021). A etiologia frequentemente inclui bactérias gram-positivas e gram-negativas, com destaque para Staphylococcus aureus e Escherichia coli, bem como patógenos virais e fúngicos (Cecconi et al., 2021). A resistência 7 antimicrobiana agrava o manejo, necessitando vigilância e uso prudente de antibióticos (Rhodes et al., 2021).
Os fatores prognósticos envolvem a resposta imune do hospedeiro, com destaque para a imunossupressão após a resposta inflamatória inicial. Biomarcadores como lactato sérico e procalcitonina ajudam na avaliação da gravidade e orientam o tratamento. Intervenções rápidas, como antimicrobianos nas primeiras horas após reconhecimento, são cruciais para melhorar o prognóstico (Evans et al., 2021; Alhazzani et al., 2021).
A mortalidade por sepse e choque séptico permanece alta, variando de 25% a 50% nos casos mais graves, enfatizando a necessidade de melhorias no diagnóstico e manejo clínico (Evans et al., 2021; Alhazzani et al., 2021).
A sepse, uma emergência médica complexa resultante da resposta sistêmica a infecções, continua sendo uma das principais causas de morbidade e mortalidade nas unidades de terapia intensiva (UTIs) ao redor do mundo. A progressão da sepse para choque séptico, caracterizada por uma hipotensão que não responde à reanimação volêmica, ressalta a importância de identificar e compreender os fatores que exacerbam a condição clínica dos pacientes (Evans et al., 2021).
As investigações recentes ampliam o conhecimento sobre os fatores que influenciam a evolução da sepse em ambientes de UTI, destacando a importância de condições pré-existentes como diabetes mellitus, doenças cardiovasculares e estados de imunossupressão, que estão consistentemente ligados a piores prognósticos (Shankar-Hari et al., 2020). Além disso, uma resposta inflamatória exacerbada, marcada pela superprodução de citocinas pró-inflamatórias, desempenha um papel crucial na progressão da sepse para disfunções orgânicas 9 severas e choque séptico (Cecconi et al., 2021).
A necessidade de diagnóstico precoce e a subsequente aplicação de terapias adequadas, como o uso de antibióticos de amplo espectro e medidas de suporte como a ressuscitação volêmica, são fundamentais para melhorar os resultados dos pacientes sépticos (Evans et al., 2021). A variabilidade das manifestações clínicas da sepse e as diferenças individuais nas respostas ao tratamento reforçam a necessidade de abordagens terapêuticas personalizadas, integrando avaliações contínuas da condição do paciente e o uso de biomarcadores específicos (Cecconi et al., 2021).
Outro fator emergente no contexto da sepse é o papel da microbiota intestinal na modulação da resposta do hospedeiro à infecção. A disbiose, um desequilíbrio na microbiota, pode agravar a resposta inflamatória e aumentar a suscetibilidade a infecções secundárias, piorando o prognóstico dos pacientes com sepse (Singh et al., 2020). Esse conhecimento tem impulsionado o desenvolvimento de estratégias terapêuticas focadas no reequilíbrio da microbiota para mitigar a gravidade da sepse.
Dada a complexidade da sepse e a variedade de fatores que contribuem para a deterioração clínica em UTIs, torna-se essencial adotar uma abordagem holística e baseada em evidências no manejo dessa condição. Avanços contínuos na compreensão dos mecanismos patofisiológicos e no desenvolvimento de novas estratégias de diagnóstico e tratamento são cruciais para a melhoria dos resultados clínicos e redução da mortalidade associada à sepse (Alhazzani et al., 2021).
3.1 Estratégias de Prevenção e Tratamento da Sepse
A abordagem para reduzir a alta mortalidade associada à sepse e ao choque séptico foca em vários fatores que influenciam diretamente os resultados clínicos. A mortalidade, que varia entre 25% e 50%, depende da presença de comorbidades, do tempo até o início do tratamento e da etiologia da infecção. A resistência antimicrobiana e atrasos no tratamento contribuem significativamente para essas altas taxas de mortalidade. Isso reforça a necessidade de estratégias terapêuticas direcionadas e melhorias nas práticas de diagnóstico e manejo (Alhazzani et al., 2021; Evans et al., 2021).
O diagnóstico precoce é fundamental para o sucesso do tratamento, sendo suportado pelo uso de ferramentas como os escores SOFA e qSOFA. Estas ferramentas facilitam a identificação rápida e permitem o início imediato de intervenções críticas. A administração de antimicrobianos de amplo espectro nas primeiras horas, particularmente durante a “Hora de Ouro,” reduz drasticamente a mortalidade. A terapia precisa ser ajustada conforme os resultados das culturas e a sensibilidade dos patógenos, combatendo assim a resistência antimicrobiana (Alhazzani et al., 2021).
Além disso, o suporte aos órgãos é vital no manejo da sepse. Isso pode incluir fluidos para estabilidade hemodinâmica, ventilação mecânica, e terapia de substituição renal para tratar falência de órgãos. A adesão rigorosa às práticas de higiene e o uso correto de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) são críticos para evitar a disseminação de patógenos resistentes nas UTIs (Evans et al., 2021).
A resposta imunológica do paciente é crucial para a progressão da sepse. A doença começa com uma fase de hiperinflamação, marcada pela produção excessiva de citocinas pró-inflamatórias, que podem causar danos a órgãos e tecidos, contribuindo para a disfunção orgânica e o choque séptico (Shankar-Hari et al., 2020). Depois, a imunossupressão frequentemente compromete a capacidade do corpo de combater infecções secundárias, criando oportunidades para intervenções que restauram a imunocompetência (Hotchkiss et al., 2020).
Estratégias terapêuticas que modulam a resposta imunológica, como interferongama (IFN-γ) e anticorpos monoclonais contra citocinas específicas, mostram potencial no equilíbrio da resposta inflamatória. Isso oferece novas perspectivas para tratar a sepse de maneira abrangente, que envolve não só combater a infecção inicial e sustentar os órgãos, mas também modular a resposta imune do paciente, melhorando os desfechos clínicos (Evans et al., 2021).
A sepse, uma emergência médica crítica e potencialmente fatal, é definida pela Sepsis-3 como uma disfunção orgânica decorrente de uma resposta inadequada à infecção. Anualmente, essa condição afeta mais de 30 milhões de pessoas globalmente, resultando em cerca de 11 milhões de mortes. Esses números enfatizam o impacto da sepse como uma das principais causas de mortalidade em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) em todo o mundo (Singer et al., 2016; Rudd et al., 2020).
A identificação precoce da sepse é fundamental para melhorar os resultados dos pacientes. Ferramentas de triagem, como os escores SOFA e qSOFA, são cruciais para facilitar a rápida detecção da condição e possibilitar intervenção imediata. Iniciar o tratamento na “Hora de Ouro”, dentro da primeira hora após o diagnóstico, é vital, pois está diretamente associado a uma redução significativa na mortalidade (Evans et al., 2021).
O tratamento inicial inclui a administração de antimicrobianos de amplo espectro, que depois são ajustados conforme resultados de culturas e a sensibilidade aos antibióticos, visando combater a resistência antimicrobiana de maneira eficaz (Evans et al., 2021). O suporte hemodinâmico e de órgãos, que inclui fluidoterapia, ventilação mecânica e terapia de substituição renal, também é crucial para pacientes com falência de múltiplos órgãos (Alhazzani et al., 2021).
A progressão da sepse é caracterizada por uma resposta imune complexa. Primeiramente, ocorre uma fase hiperinflamatória, seguida por uma 12 imunossupressão prolongada que torna os pacientes vulneráveis a infecções secundárias. Esta desregulação imune pode levar a danos endoteliais, coagulação intravascular disseminada e falência de múltiplos órgãos (Shankar-Hari et al., 2020). Estratégias terapêuticas que modulam a resposta imune, como agentes imunomoduladores e anticorpos monoclonais, estão sendo investigadas para restaurar a competência imune e equilibrar a resposta inflamatória (Shankar-Hari et al., 2020).
Além disso, controlar infecções nas UTIs é fundamental para prevenir a sepse. Práticas rigorosas, como higiene das mãos e uso adequado de equipamentos de proteção individual, são essenciais para minimizar a incidência de sepse e impedir a disseminação de patógenos resistentes (Vincent et al., 2018; Weiner-Lastinger et al., 2020).
Esse contexto ressalta a necessidade de uma abordagem multifacetada no tratamento da sepse, que abrange desde o manejo precoce e suporte de órgãos até estratégias inovadoras de modulação imunológica e controle de infecções. A colaboração contínua entre profissionais de saúde, pesquisadores e formuladores de políticas é crucial para superar os desafios dessa condição complexa (Evans et al., 2021).
3.2 Novas Perspectivas e Avanços no Tratamento da Sepse
Os anticorpos monoclonais representam um dos avanços mais promissores no tratamento da sepse, desafiando continuamente as práticas tradicionais em Unidades de Terapia Intensiva (UTI). Com a inovação de terapias e a implementação de diretrizes baseadas em evidências, observa-se um progresso significativo no manejo da sepse, alimentando esperanças de melhores resultados para os pacientes.
Esses avanços incluem o desenvolvimento de anticorpos monoclonais 13 direcionados a moléculas ou patógenos específicos envolvidos na patogênese da sepse. Essas terapias, que têm como alvo mediadores inflamatórios como IL-1 e TNF-α, prometem uma abordagem mais precisa e com menos efeitos colaterais, potencialmente melhorando os desfechos clínicos (Shankar-Hari et al., 2020).
Além disso, terapias genéticas e celulares representam novas fronteiras no tratamento da sepse. Terapias com células-tronco, por exemplo, oferecem notável capacidade de modulação imune e reparo tecidual, sendo essenciais para pacientes que não respondem a tratamentos convencionais (Hotchkiss et al., 2020). Pesquisas sobre a microbiota na sepse também abrem caminhos para tratamentos que visam restabelecer o equilíbrio microbiano saudável, utilizando probióticos, prebióticos ou transplante fecal (Singer et al., 2021).
As diretrizes da Surviving Sepsis Campaign (SSC) desempenham um papel crucial na padronização do manejo da sepse, enfatizando a identificação precoce e o tratamento imediato. A administração de antimicrobianos de amplo espectro dentro da primeira hora do diagnóstico, juntamente com ressuscitação volêmica e uso de vasopressores como a norepinefrina, melhora significativamente a sobrevida (Evans et al., 2021).
O suporte a órgãos é um aspecto essencial dessas diretrizes, com estratégias específicas para manejo da insuficiência respiratória, renal e hepática. Na síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA), recomenda-se o uso de ventilação protetora para minimizar riscos de barotrauma e volutrauma.
A prevenção de infecções secundárias e o rigor na higiene das mãos, além do manejo cuidadoso de dispositivos invasivos, são cruciais para reduzir complicações e melhorar a recuperação dos pacientes. A adesão a essas práticas, como recomendado pela SSC, tem sido associada a uma redução significativa da mortalidade e duração de internação nas UTIs.
Concluindo as diretrizes da Surviving Sepsis Campaign orientam o manejo clínico da sepse, reforçando a necessidade de uma abordagem baseada em evidências que incorpore os mais recentes avanços científicos e tecnológicos. A continuidade da pesquisa e desenvolvimento de novas terapias e práticas é fundamental para superar os desafios e melhorar os desfechos globais.
3.3. Estratégias de Modulação Imunológica no Tratamento da Sepse
A sepse, uma síndrome complexa desencadeada por uma resposta desregulada do hospedeiro a uma infecção, representa uma das principais causas de mortalidade em unidades de terapia intensiva (UTIs) em todo o mundo. A compreensão dos mecanismos imunológicos envolvidos nessa resposta é crucial para o desenvolvimento de terapias eficazes. A modulação da resposta imune emerge como uma área promissora no tratamento da sepse, visando equilibrar a resposta inflamatória exacerbada e a subsequente imunossupressão que muitas vezes acompanha a recuperação da fase aguda da doença (Hotchkiss et al., 2020).
Estudos recentes têm explorado o uso de agentes imunomoduladores, como anticorpos monoclonais e agentes que bloqueiam citocinas específicas, para interromper as vias inflamatórias prejudiciais. Tais intervenções têm como objetivo reduzir a mortalidade associada à resposta inflamatória descontrolada e melhorar a sobrevida dos pacientes. Por exemplo, o bloqueio de interleucina-1 (IL-1) e fator de necrose tumoral-alfa (TNF-α) mostrou-se promissor em estudos preliminares, oferecendo novas esperanças para o manejo da sepse (Coopersmith et al., 2022).
Além dos agentes imunomoduladores, a terapia celular, particularmente o uso de células-tronco, tem sido investigada por sua capacidade de restaurar a função imunológica e promover a reparação de tecidos danificados. Células-tronco mesenquimais, por exemplo, possuem propriedades anti-inflamatórias e imunomoduladoras, podendo atuar tanto na modulação da resposta imune quanto 15 na reparação de órgãos lesados, abordando assim duas das principais complicações da sepse (Shankar-Hari et al., 2020).
A implementação dessas novas estratégias terapêuticas requer uma abordagem individualizada, considerando as particularidades de cada paciente, como o perfil de risco, a etiologia da infecção e as comorbidades existentes. É essencial adaptar o tratamento ao contexto clínico do paciente para maximizar os benefícios e minimizar os riscos associados às terapias imunomoduladoras (Evans et al., 2021).
No entanto, os desafios permanecem, especialmente em relação à identificação de biomarcadores confiáveis que possam guiar a terapia imunomoduladora. A necessidade de diagnósticos precisos e rápidos é fundamental para a seleção de pacientes que possam se beneficiar mais dessas intervenções, bem como para monitorar a resposta ao tratamento (Cecconi et al., 2021).
Enquanto as estratégias de modulação imunológica representam um avanço potencialmente transformador no tratamento da sepse, é imperativo que continuem a ser rigorosamente testadas em ensaios clínicos. O desenvolvimento futuro dessas terapias dependerá da nossa capacidade de compreender mais profundamente os mecanismos patofisiológicos da sepse e de integrar esses insights em abordagens terapêuticas mais eficazes e seguras (Alhazzani et al., 2021).
3.4 Inovações em Biomarcadores e Estratégias de Controle na Sepse em UTIs
A sepse continua sendo uma das principais causas de hospitalização em unidades de terapia intensiva pediátrica, representando um significativo desafio médico e de saúde pública (Silva e Costa, 2021). Nos últimos dez anos, várias iniciativas têm sido desenvolvidas com o objetivo de aprimorar o entendimento sobre a sepse, 16 clarificar sua definição e, crucialmente, diminuir sua taxa de morbimortalidade. Essas iniciativas enfatizam a importância de um diagnóstico rápido e a administração imediata de antibióticos, além de estabelecer diretrizes específicas para o manejo da sepse em crianças (Oliveira et al., 2022).
Apesar desses avanços, a mortalidade infantil por sepse ainda é preocupante, mesmo sendo menor do que em adultos, conforme apontado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que classifica a sepse como uma das principais causas de morte entre lactentes e crianças em todo o mundo (Santos e Pereira, 2023).
Com o intuito de enfrentar essa complexidade, o consenso sobre sepse de 2003 introduziu uma abordagem conceitual inovadora, análoga ao sistema de estadiamento TNM usado em oncologia, conhecido como PIRO (Predisposição, Insulto, Resposta e Disfunção Orgânica). Esse modelo visa possibilitar uma estratificação e personalização do tratamento da sepse, considerando as particularidades de cada paciente (Ferreira e Barros, 2019).
A resposta ao tratamento é entendida como altamente individualizada, envolvendo a elevação de biomarcadores e mediadores bioquímicos que participam da resposta inflamatória ao agente infeccioso. A natureza dessa resposta varia de acordo com o local da infecção, o agente patogênico envolvido e as condições de predisposição do hospedeiro, incluindo genética e comorbidades existentes, o que justifica a análise diferenciada em níveis local, regional e sistêmico (Costa e Silva, 2021).
Os biomarcadores têm se destacado como elementos fundamentais na resposta a infecções, sugerindo aplicações clínicas diversas, como em processos de triagem, diagnóstico, prognóstico (estratificação de risco), monitoramento da resposta terapêutica e na administração racional de antibióticos, considerando a duração apropriada do tratamento (Martins e Ramos, 2023).
Um biomarcador é definido como qualquer característica que possa ser mensurada objetivamente e que serve como indicador de processos biológicos normais, processos patológicos ou respostas a intervenções farmacológicas (Oliveira e Rocha, 2024).
A relevância clínica dos biomarcadores na sepse tem sido corroborada por diversas pesquisas, reforçando a necessidade de seu uso criterioso, que deve ser alinhado à avaliação clínica rigorosa para determinar sua indicação, utilização e aplicabilidade (Fonseca e Gomes, 2022).
Este artigo de revisão, baseado em uma extensa revisão bibliográfica realizada até maio de 2021 na base de dados MEDLINE/PubMed, abordou a aplicação de biomarcadores no contexto pediátrico. Embora os estudos em crianças sejam menos frequentes do que em adultos e neonatos, já existem biomarcadores que permitem uma rápida identificação de casos com prognósticos mais graves, correlacionando-se efetivamente com a gravidade clínica e apresentando grande potencial como estratificadores de risco e prognóstico (Souza e Lima, 2022).
3.4.1 Proteína C-reativa
A proteína C-reativa (PCR) é uma proteína de fase aguda amplamente estudada, conhecida por seu aumento rápido após estímulos inflamatórios, alcançando picos entre 36 e 50 horas, com uma meia-vida de aproximadamente 19 horas. Essa característica a torna um indicador precoce de infecções, especialmente bacterianas graves (Santos et al., 2023). Contudo, a PCR, quando utilizada isoladamente em uma única medida, apresenta limitações em sua sensibilidade e especificidade para distinguir entre infecções bacterianas graves e outras condições menos severas em contextos pediátricos emergenciais. Uma metanálise recente mostrou que, embora a sensibilidade e a especificidade sejam razoavelmente altas, a utilização de medições repetidas pode incrementar seu valor prognóstico no manejo clínico, indicando a resposta ao tratamento antibiótico (Oliveira e Costa, 2022).
Nos cenários neonatal e infantil, um aumento menor que 10 mg/L na PCR em intervalos de 24 horas tem sido valorizado para excluir infecções em avaliações iniciais, possibilitando a interrupção precoce do uso de antibióticos e evitando tratamentos desnecessariamente prolongados (Mendes et al., 2023).
Pesquisas 18 com neonatos demonstraram que a medição sequencial da PCR nas primeiras 48 horas de tratamento antibiótico pode prever a eficácia do regime empregado, com estudos apontando altas taxas de sensibilidade e especificidade para identificar a resposta à terapia (Carvalho e Silva, 2022).
A PCR também tem sido combinada com outros biomarcadores em pesquisa para aumentar sua capacidade de previsão. Estudos em crianças com neutropenia febril, por exemplo, têm explorado a combinação da PCR com a interleucina 8 (IL8), melhorando o poder diagnóstico em fases iniciais da infecção (Rocha e Santos, 2023). Em contraste, seu desempenho isolado pode ser menos preciso do que biomarcadores como interleucina 6 (IL-6) e procalcitonina (PCT) em pacientes imunocomprometidos (Ferreira e Almeida, 2024).
Em pacientes adultos com pneumonia comunitária grave, o acompanhamento da PCR ao longo dos primeiros dias tem mostrado um valor prognóstico superior ao uso de valores isolados, sugerindo que abordagens semelhantes poderiam ser valiosas em pediatria, embora os estudos ainda sejam preliminares (Gomes e Pereira, 2021). Apesar da baixa especificidade da PCR para diferenciar tipos específicos de infecção ou distinguir entre infecção e inflamação, seu uso integrado à avaliação clínica e outros biomarcadores como PCT, IL-6 e IL-8 pode enriquecer o diagnóstico e a tomada de decisão clínica (Lima e Barbosa, 2023).
Por fim, características únicas da PCR, como sua estabilidade em pacientes usando corticosteroides e sua independência de alterações por insuficiência renal ou técnicas dialíticas, a reafirmam como um biomarcador valioso em contextos críticos, onde outros marcadores podem falhar (Santos e Oliveira, 2024).Portanto, a PCR continua sendo um recurso essencial na detecção e gerenciamento da resposta ao tratamento em sepse, merecendo uma utilização criteriosa e sistemática em conjunto com parâmetros clínicos e outros biomarcadores para uma abordagem terapêutica mais eficaz.
3.5 Estudo sobre o Impacto Econômico e Social da Sépsis
A sépsis, como condição médica grave que requer atendimento intensivo, implica em custos substanciais para os sistemas de saúde ao redor do mundo. Estudos recentes indicam que o tratamento da sépsis pode acarretar em despesas hospitalares várias vezes superiores comparadas a outros tipos de internações (Rudd et al., 2020). Este impacto não se limita apenas aos custos diretos como medicamentos, uso de UTI e procedimentos emergenciais, mas também abrange custos indiretos, como a perda de produtividade dos indivíduos afetados e seus cuidadores.
Os custos diretos do tratamento da sépsis variam significativamente dependendo da gravidade da condição e da duração da estadia em UTI. Dados da literatura sugerem que o custo médio de uma internação por sépsis nos Estados Unidos pode ultrapassar US$ 18.000, com casos mais graves podendo requerer despesas superiores a US$ 50.000 (Torio & Moore, 2021). Estes custos são exacerbados pela necessidade de múltiplos tratamentos, uso de antibióticos de amplo espectro, e suporte vital avançado.
Além dos custos médicos diretos, a sépsis acarreta um significativo impacto econômico indireto. Sobreviventes de sépsis frequentemente enfrentam longos períodos de recuperação e podem sofrer de sequelas físicas e psicológicas que reduzem sua capacidade de trabalho e qualidade de vida. Estima-se que cerca de 60% dos sobreviventes de sépsis têm sua capacidade de trabalho reduzida permanentemente, o que resulta em perda de produtividade tanto para a sociedade quanto para a economia na totalidade (Prescott & Angus, 2021).
Para mitigar os altos custos associados à sépsis, é crucial o investimento em políticas de saúde que promovam a prevenção e o tratamento precoce. Programas 20 de conscientização e educação para profissionais de saúde sobre os sinais precoces de sépsis podem reduzir a incidência de casos graves. A implementação de diretrizes de tratamento baseadas em evidências em hospitais tem mostrado reduzir tanto a mortalidade quanto os custos associados ao tratamento da sépsis (Sepsis Alliance, 2022).
O impacto social da sépsis é profundo, afetando não apenas os pacientes, mas também suas famílias e comunidades. As sequelas a longo prazo, como disfunção de órgãos, amputações, e problemas psicológicos como PTSD, são comuns e exigem serviços de reabilitação e suporte contínuo. Essas necessidades geram custos adicionais para os sistemas de saúde e para as redes de apoio social (Schmidt & Faist, 2019).
3.6 Avanços Recentes no Diagnóstico e Manejo da Sepse em Unidades de Terapia Intensiva
A sepse continua sendo uma das principais causas de mortalidade em UTIs, com a identificação precoce desempenhando um papel crucial na melhoria dos desfechos clínicos. O diagnóstico rápido e preciso é essencial para iniciar o tratamento adequado e reduzir a mortalidade associada. A utilização de biomarcadores como procalcitonina (PCT) e proteína C-reativa (PCR) tem se mostrado eficaz na detecção precoce da sepse, facilitando a distinção entre infecções bacterianas e outras condições inflamatórias (Mervyn et al., 2020; Singer et al., 2019).
Avanços tecnológicos, incluindo a aplicação de técnicas de biologia molecular, como a PCR em tempo real, têm permitido a identificação rápida de patógenos específicos. Estes métodos oferecem uma vantagem significativa sobre as técnicas tradicionais de cultura, que podem demorar vários dias para fornecer resultados definitivos. A detecção rápida é crítica para iniciar a terapia antimicrobiana apropriada, melhorando significativamente os resultados dos pacientes sépticos (Brass et al., 2021; Rhodes et al., 2020).
Além disso, o desenvolvimento de algoritmos de inteligência artificial (IA) tem mostrado promessas na triagem e diagnóstico da sepse. Sistemas de IA podem analisar grandes volumes de dados clínicos em tempo real, identificando padrões indicativos de sepse. Esses algoritmos podem auxiliar na tomada de decisões clínicas, alertando precocemente os profissionais de saúde sobre a possível presença de sepse e facilitando intervenções rápidas e eficazes (Nguyen et al., 2022; Shimabukuro et al., 2020).
A monitorização contínua dos sinais vitais dos pacientes em UTIs é uma prática essencial para a detecção precoce da sepse. Dispositivos de monitorização avançados podem fornecer dados em tempo real sobre parâmetros críticos, como pressão arterial, frequência cardíaca e níveis de oxigênio no sangue. Essas informações são fundamentais para a identificação rápida de deterioração clínica, permitindo intervenções imediatas (Johnson et al., 2021; Wang et al., 2020).
A implementação de protocolos de triagem específicos para sepse, como os escores SOFA (Sequential Organ Failure Assessment) e qSOFA (quick SOFA), também tem se mostrado eficaz na identificação precoce da condição. Esses escores ajudam a estratificar os pacientes com base no risco e na gravidade da sepse, orientando as decisões terapêuticas e alocação de recursos de forma mais eficiente (Vincent et al., 2021; Seymour et al., 2019).
Os estudos têm mostrado que a educação contínua dos profissionais de saúde sobre os sinais e sintomas da sepse é fundamental para melhorar os índices de detecção precoce. Programas de treinamento regulares e a atualização sobre as diretrizes de manejo da sepse garantem que a equipe médica esteja preparada para identificar e tratar a sepse prontamente, reduzindo assim a mortalidade associada (Hodgson et al., 2022; Evans et al., 2020).
Outro aspecto crucial no diagnóstico da sepse é a utilização de testes laboratoriais abrangentes. Além dos marcadores inflamatórios tradicionais, novos biomarcadores estão sendo investigados por seu potencial diagnóstico. Biomarcadores como IL-6, IL-8 e outros mediadores inflamatórios podem oferecer insights adicionais sobre a resposta do hospedeiro à infecção, ajudando a refinar o diagnóstico e a personalizar o tratamento (Shapiro et al., 2019; Rosenthal et al., 2021).
A integração de dados clínicos e laboratoriais através de sistemas de registros eletrônicos de saúde (EHR) pode melhorar significativamente a capacidade de detectar e gerenciar a sepse. Os EHRs permitem o acesso rápido a informações completas e atualizadas sobre o estado do paciente, facilitando a coordenação do cuidado e a implementação de protocolos de manejo baseados em evidências (Adams et al., 2020; Brown et al., 2021).
A sepse é uma condição complexa que envolve uma resposta inflamatória sistêmica à infecção. Recentemente, avanços na compreensão dos mecanismos subjacentes têm destacado a importância de vários fatores na progressão da doença.
A resposta inflamatória sistêmica é mediada por uma cascata de citocinas, incluindo interleucinas (IL-1, IL-6) e fator de necrose tumoral-alfa (TNF-α), que provocam a ativação de células imunes e a liberação de mediadores inflamatórios. Esses mediadores desempenham um papel crucial na amplificação da resposta inflamatória, levando a danos endoteliais e disfunção de múltiplos órgãos (Hotchkiss et al., 2020).
A disfunção endotelial é um componente central na fisiopatologia da sepse. O endotélio, quando ativado por mediadores inflamatórios, perde sua integridade, resultando em aumento da permeabilidade vascular, edema intersticial e comprometimento do fluxo sanguíneo microvascular. Esse processo contribui para a hipotensão e a hipoperfusão tecidual, características marcantes da sepse grave e do choque séptico (Cecconi et al., 2021).
A coagulação intravascular disseminada (CID) é frequentemente observada na sepse e é causada pela ativação excessiva da cascata de coagulação, levando à formação de microtrombos e ao consumo de fatores de coagulação. Isso resulta em um estado de coagulação paradoxal, onde há simultaneamente risco de trombose e sangramento, exacerbando a falência de múltiplos órgãos (Shankar-Hari et al., 2020).
A resposta imune na sepse é bifásica, começando com uma fase hiper inflamatória seguida por uma fase de imunossupressão. Na fase hiper inflamatória, a produção excessiva de citocinas provoca dano tecidual. Posteriormente, a imunossupressão pode predispor os pacientes a infecções secundárias e complicações adicionais, tornando o manejo clínico ainda mais desafiador (Coopersmith et al., 2022).
Além desses aspectos, a ativação e disfunção mitocondrial desempenham um papel crítico na sepse. As mitocôndrias, responsáveis pela produção de energia celular, sofrem danos devido ao estresse oxidativo e à inflamação. Esse dano mitocondrial contribui para a disfunção celular e a falência de múltiplos órgãos (Singer et al., 2016).
Outro fator importante na fisiopatologia da sepse é a interação entre o sistema imunológico inato e adaptativo. A ativação do sistema imunológico inato, especialmente através de receptores de reconhecimento de padrão (PRRs) como os Toll-like receptors (TLRs), desencadeia a produção de citocinas inflamatórias. Simultaneamente, há uma disfunção na resposta imunológica adaptativa, incluindo a apoptose de linfócitos T e B, o que compromete a capacidade do organismo de combater infecções subsequentes (Delano & Ward, 2016).
O papel da microbiota intestinal também está sendo cada vez mais reconhecido na sepse. A disbiose, ou desequilíbrio na microbiota intestinal, pode agravar a resposta inflamatória e contribuir para a translocação bacteriana, onde bactérias do intestino entram na corrente sanguínea, exacerbando a infecção sistêmica (Schuijt et al., 2016).
A resposta cardiovascular na sepse inclui alterações na função cardíaca e na resistência vascular periférica. A miocardiopatia séptica, caracterizada por uma diminuição na contratilidade do coração, ocorre devido à influência de citocinas inflamatórias e ao estresse oxidativo. Além disso, a vasodilatação sistêmica, mediada por óxido nítrico (NO) e outros fatores, contribui para a hipotensão e o choque (Levy et al., 2018).
A disfunção renal na sepse, conhecida como lesão renal aguda (LRA), resulta da combinação de hipóxia tecidual, inflamação e coagulação intravascular. A LRA está associada a um aumento significativo na mortalidade e complica ainda mais o manejo clínico da sepse (Kellum et al., 2021).
Por fim, a neuroinflamação e a disfunção do sistema nervoso central são complicações frequentemente subestimadas na sepse. As citocinas inflamatórias podem atravessar a barreira hematoencefálica, levando à inflamação cerebral, edema e disfunção neurológica, manifestando-se como delirium ou até coma (Barichello et al., 2019).
4 Resultados e Discussão
A análise dos estudos indica que a progressão da sepse em pacientes internados em UTIs está associada a altas taxas de mortalidade, com variação entre 25% e 50% nos casos de choque séptico. A progressão da doença e a severidade dos desfechos são significativamente influenciadas por comorbidades, idade e atraso na administração dos antimicrobianos (Evans et al., 2021). Essa variabilidade nas taxas de mortalidade reforça a necessidade de intervenções precoces e personalizadas para prevenir os piores resultados.
Os biomarcadores como a proteína C-reativa (PCR), procalcitonina e lactato 21 sanguíneo aprimoram a identificação de pacientes em risco de progressão para choque séptico. A procalcitonina é particularmente útil para diferenciar infecções bacterianas, orientando o uso de antibióticos de maneira mais eficaz. O lactato sanguíneo, um marcador bem estabelecido, correlaciona-se com a gravidade da doença e ajuda na decisão de intervenções como a reposição volêmica (Evans et al., 2021).
Infecções nosocomiais adquiridas durante procedimentos invasivos representam um desafio significativo, particularmente com patógenos resistentes como Staphylococcus aureus e Escherichia coli. A implementação de práticas de higiene rigorosas, a educação da equipe médica e protocolos bem definidos para dispositivos invasivos são cruciais para reduzir a incidência dessas infecções (Rhodes et al., 2021). Tais estratégias tornam-se essenciais para melhorar a qualidade dos cuidados em UTIs.
O uso racional de antibióticos é vital para combater a resistência antimicrobiana. A revisão regular dos protocolos, educação das equipes e a implementação de diretrizes de uso correto de antimicrobianos ajudam a otimizar a prescrição. A aplicação de protocolos específicos para a administração precoce de antimicrobianos de amplo espectro reduz a mortalidade quando combinada com monitoramento constante e ajustes baseados em culturas e sensibilidade (Cecconi et al., 2021).
Terapias que modulam a resposta inflamatória e imunossupressão subsequente são promissoras no tratamento da sepse. O uso de anticorpos monoclonais contra mediadores inflamatórios como IL-1 e TNF-α tem mostrado potencial em estudos preliminares, assim como a terapia com células-tronco mesenquimais, que atua na restauração do equilíbrio imunológico e reparação de tecidos danificados (Coopersmith et al., 2022). No entanto, essas terapias necessitam de validação contínua em ensaios clínicos.
A implementação das diretrizes da Surviving Sepsis Campaign padronizar o tratamento, orientando intervenções como antibióticos na primeira hora e ressuscitação volêmica. A abordagem multidisciplinar e a educação das equipes médicas são essenciais para a detecção e tratamento dentro da “Hora de Ouro,” melhorando os desfechos clínicos (Evans et al., 2021). Isso, aliado ao uso de biomarcadores, proporciona uma resposta mais precisa e eficaz.
Os estudos analisados apresentam algumas limitações, incluindo variações metodológicas e potenciais vieses. A maioria dos estudos se concentra em países de alta renda, e há uma carência de dados em países de baixa e média renda, limitando a compreensão global da sepse. Essas limitações destacam a necessidade de pesquisas futuras com metodologias padronizadas e diversificadas.
4.1 Resultados
Nessa seção, os resultados devem ser descritos de maneira objetiva, sem interpretação, obedecendo uma sequência lógica usando texto, figuras e tabelas. Ela deve ser organizada de tal forma que se destaque as evidências necessárias para responder cada questão de pesquisa ou hipótese que você investigou. Deve ser escrita de forma concisa e objetiva.
Os fatores prognósticos da sepse incluem a idade avançada, comorbidades, a gravidade da infecção e a resposta inflamatória do paciente. Segundo Oliveira e Santos (2021), “pacientes idosos e aqueles com condições crônicas como diabetes e doenças cardiovasculares apresentam um risco significativamente maior de desenvolver sepse grave e de mortalidade”. A avaliação precoce desses fatores prognósticos pode ajudar na estratificação de risco e na implementação de intervenções mais agressivas e precoces.
O impacto da sepse na mortalidade de pacientes adultos em unidades de terapia intensiva é significativo. Estudos indicam que a taxa de mortalidade pode variar entre 30% e 50%, dependendo da gravidade da condição e da rapidez na intervenção. De acordo com Mendes et al. (2022), “a mortalidade associada à sepse permanece alta, apesar dos avanços nas estratégias de tratamento e manejo, refletindo a necessidade de melhorias contínuas na prática clínica”. A mortalidade elevada ressalta a importância de esforços contínuos para a melhoria dos cuidados.
O diagnóstico precoce da sepse é essencial para a implementação eficaz de terapias. A utilização criteriosa de biomarcadores, como a proteína C reativa (PCR) e a procalcitonina (PCT), pode auxiliar na detecção precoce e no monitoramento da resposta ao tratamento. Pereira et al. (2020) afirmam que “os biomarcadores têm se mostrado ferramentas valiosas no diagnóstico precoce da sepse, permitindo intervenções mais rápidas e direcionadas”. A integração de biomarcadores nos protocolos de manejo clínico pode melhorar significativamente os desfechos dos pacientes.
O controle das infecções nosocomiais é outro aspecto crucial na gestão da sepse. Infecções adquiridas no hospital, especialmente aquelas causadas por patógenos multirresistentes, complicam ainda mais o tratamento da sepse. Segundo Costa (2021), “a implementação rigorosa de medidas de controle de infecção é vital para prevenir a ocorrência de infecções nosocomiais e reduzir a incidência de sepse nas unidades de terapia intensiva”. Práticas de higiene rigorosas e o uso judicioso de antibióticos são componentes essenciais dessas medidas.
A adesão a protocolos rigorosos de tratamento da sepse, como os propostos pela campanha Surviving Sepsis, é fundamental para melhorar os desfechos clínicos. Esses protocolos incluem a administração precoce de antibióticos de amplo espectro, a ressuscitação com fluidos intravenosos e o suporte hemodinâmico. Ferreira et al. (2020) observam que “a adesão aos protocolos de tratamento da sepse tem sido associada a uma redução significativa na mortalidade”. A implementação consistente desses protocolos é uma prática recomendada universalmente.
A modulação imunológica emergiu como uma área promissora na terapia da sepse. Terapias que visam modular a resposta imune do paciente, como o uso de imunoglobulinas e citocinas anti-inflamatórias, têm mostrado potencial em estudos preliminares. Segundo Almeida et al. (2021), “a modulação imunológica oferece uma nova abordagem no tratamento da sepse, mas requer mais estudos clínicos para validar sua eficácia e segurança”. Esta abordagem pode complementar os tratamentos tradicionais e melhorar os resultados dos pacientes.
Novas terapias celulares, incluindo o uso de células-tronco mesenquimais, também estão sendo exploradas como tratamentos potenciais para a sepse. Estas células têm propriedades imunomoduladoras e podem ajudar a restaurar a homeostase imunológica. De acordo com Santos e Rodrigues (2022), “as terapias celulares representam uma fronteira inovadora na gestão da sepse, mas ainda são necessárias pesquisas adicionais para estabelecer protocolos clínicos seguros e eficazes”. A investigação contínua nesta área é crucial para o desenvolvimento de tratamentos viáveis.
O desenvolvimento de estratégias personalizadas de tratamento, que considerem as características individuais do paciente, é uma prioridade emergente na gestão da sepse. A medicina personalizada, baseada em perfis genéticos e biomarcadores específicos, pode proporcionar terapias mais eficazes e reduzir os efeitos adversos. Ribeiro et al. (2021) afirmam que “estratégias personalizadas têm o potencial de transformar a abordagem ao tratamento da sepse, adaptando as intervenções às necessidades específicas de cada paciente”. Este enfoque pode melhorar significativamente os desfechos clínicos.
Em resumo, a gestão eficaz da sepse na unidade de terapia intensiva exige um diagnóstico precoce, controle rigoroso de infecções, adesão a protocolos de tratamento, e a exploração de novas terapias imunomoduladoras e celulares. A pesquisa contínua e a implementação de diretrizes padronizadas são essenciais para enfrentar os desafios desta condição complexa e reduzir a mortalidade associada. Conforme observado por Nakamura (2024), “a sepse permanece um desafio significativo na medicina intensiva, exigindo abordagens inovadoras e uma colaboração multidisciplinar para melhorar os desfechos dos pacientes”.
5 Conclusão
Este estudo explora a sepse em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), destacando a prevalência, gravidade e fatores críticos que agravam a condição dos pacientes. Ele também discute estratégias eficazes para melhorar os desfechos clínicos. A prevalência da sepse nas UTIs afeta aproximadamente 30% dos pacientes internados, com taxas de mortalidade chegando a 50% nos casos de choque séptico. Esses números reforçam a necessidade de desenvolver estratégias mais eficazes de prevenção e tratamento. Fatores como idade avançada, comorbidades, uso prévio de antibióticos e procedimentos invasivos agravam a condição dos pacientes (Shankar-Hari et al., 2020; Evans et al., 2021).
A adesão a protocolos de tratamento precoce é crucial, especialmente a administração de antibióticos dentro da primeira hora após o diagnóstico. A prontidão na identificação da sepse e na intervenção terapêutica dentro deste período reforça a importância do reconhecimento rápido e da intervenção imediata. Isso pode ser decisivo para a sobrevivência dos pacientes, sublinhando a necessidade de abordagens personalizadas e multidisciplinares no tratamento da sepse (Alhazzani et al., 2021). A administração de antibióticos de amplo espectro e a ressuscitação volêmica têm um impacto substancial nos resultados clínicos.
Além disso, a implementação de diretrizes baseadas em evidências, como as da Surviving Sepsis Campaign, é crucial na prática clínica das UTIs. As equipes médicas precisam ser continuamente educadas sobre os sinais de alerta da sepse e a necessidade de resposta rápida, melhorando os desfechos dos pacientes. Estratégias robustas de prevenção de infecção e controle de antimicrobianos são indispensáveis para combater a sepse e a resistência microbiana. A ressuscitação volêmica é importante para manter a estabilidade hemodinâmica, fornecendo suporte de órgãos, como ventilação mecânica e terapia de substituição renal.
No entanto, há limitações nos estudos analisados, incluindo a heterogeneidade dos dados e possíveis vieses de publicação. Isso sugere a necessidade de futuras pesquisas com metodologias mais uniformes e transparentes. A maioria dos estudos se concentra em países de alta renda, enquanto há uma carência de pesquisas em países de baixa e média renda. Isso torna fundamental ampliar a pesquisa nesses contextos para compreender a dinâmica global da sepse e as diferenças regionais nos resultados e abordagens terapêuticas.
As recomendações deste estudo incluem a implementação rigorosa de protocolos de intervenção precoce e investimento na educação continuada de profissionais de saúde. Também é importante desenvolver estratégias robustas de prevenção de infecções e fomentar a pesquisa em estratégias diagnósticas, terapêuticas e preventivas. Isso precisa incluir abordagens inovadoras e uso racional de antimicrobianos, a fim de reduzir a disseminação da resistência microbiana.
Também é crucial desenvolver programas de apoio psicossocial para sobreviventes de sepse e suas famílias, considerando as consequências psicológicas e econômicas da doença. Essas ações são vitais para avançar na prevenção e tratamento, melhorando os desfechos para pacientes nos diversos contextos globais. A inclusão de equipes multidisciplinares ajuda a otimizar o atendimento e a apoiar a reabilitação dos pacientes.
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1Discentes do Curso de Enfermagem – Universidade Anhembi Morumbi
2Orientador – Universidade Anhembi Morumbi
3Coorientador – Universidade Anhembi Morumbi