SEGURANÇA DO TRABALHO EM ESCAVAÇÕES: OS RISCOS POTENCIAIS E AS FORMAS DE MINIMIZAÇÃO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10045744


Kaio Gomes da Silva 
Lucas Barreto de Souza


RESUMO 

A segurança do trabalho representa um conceito abrangente, cuja abordagem no  campo da pesquisa científica deve ser passível de subsidiar tanto aspectos gerais  relacionados às diversas atividades produtivas, quanto específicos, em setores bem  definidos da produção. O presente trabalho discutiu a segurança do trabalho em  escavações, considerando os riscos que se relacionam a estas atividades e as  medidas de proteção ao trabalhador. As escavações são utilizadas em diversos  cenários, com diferentes níveis de riscos e suscitando várias intervenções no âmbito  da prevenção. O objetivo geral do trabalho foi identificar as estratégias a serem  adotadas para a redução dos riscos de acidentes evidenciados nas obras que  envolvem os trabalhos de escavação. A metodologia utilizada foi a revisão de literatura  em livros e artigos científicos, bem como em teses e dissertações. Foram abordados  aspectos conceituais relacionados às escavações, indicando sua aplicabilidade aos  diversos tipos de obra e a sua finalidade, compreendida como o processo empregado  para obter a ruptura da rigidez do solo natural, com a utilização de ferramentas.  Evidenciou-se que as escavações são atividades que oferecem elevados riscos aos  trabalhadores. As medidas de prevenção aos acidentes de trabalho nos processos de  escavação contam com a atenção às normas de segurança do trabalho,  principalmente a NR 18, que em vários pontos se refere às escavações. A dinâmica  do trabalho de escavação possui riscos que, ainda que minimizados, permanecem  significativos, sendo indicada a eficiência, respectivamente, da eliminação do risco,  da mudança da técnica empregada, da utilização de controles de engenharia, das  medidas administrativas e do uso de equipamentos de proteção individual.  

Palavras-chave: Escavações. Segurança do Trabalho. Acidentes. 

ABSTRACT 

Occupational safety represents a comprehensive concept, whose approach in the field  of scientific research must be able to subsidize both general aspects related to the  various productive activities, and specific ones, in well-defined sectors of production.  The present work discussed the safety of work in excavations, considering the risks  related to these activities and the worker protection measures. Excavations are used  in different scenarios, with different levels of risk and giving rise to various interventions  in the field of prevention. The general objective of the work was to identify the strategies  to be adopted for the reduction of the risks of accidents evidenced in the works that  involve the excavation works. The methodology used was the literature review of books  and scientific articles, as well as theses and dissertations. Conceptual aspects related  to excavations were addressed, indicating their applicability to different types of work  and their purpose, understood as the process used to break the rigidity of the natural soil, with the use of tools. It was evident that excavations are activities that offer high  risks to workers. Work accident prevention measures in excavation processes rely on  attention to work safety standards, especially NR 18, which at various points refers to  excavations. The dynamics of excavation work has risks that, although minimized,  remain significant, with efficiency being indicated, respectively, in eliminating the risk,  changing the technique employed, using engineering controls, administrative measures and the use of equipment of individual protection. 

Keywords: Excavations. Workplace safety. Accidents. 

1 INTRODUÇÃO 

As obras civis, de modo geral, apresentam como características de importante  observação a necessidade da atenção aos recursos relacionados à segurança,  compreendendo os riscos que permeiam tais atividades. Entre tais obras situam-se as  escavações, de diferentes dimensões e finalidades, nas quais as ameaças à  integridade física e à vida dos trabalhadores são evidenciadas e suscitam abordagens  que possam ser efetivas na minimização dos riscos.  

A segurança do trabalho na construção civil é um objeto de investigação que  tem implicações em diversos contextos, convertendo-se em uma temática  multidisciplinar. Trata-se da necessidade do desenvolvimento de meios efetivos de  proteção ao trabalhador. Nesse contexto, Anjos e Stoco (2017) compreendem que os  acidentes vêm sendo relacionados a atos de empregados displicentes e a atitudes  comportamentais que conduzem à insegurança da atividade. Todavia, compreende se que as causas dos acidentes se associam a diversos fatores, com destaque para  as variáveis de caráter ambiental e psicológico. 

Especificamente considerando os aspectos ambientais, os riscos que dizem  respeito a determinadas atividades, como exemplo das escavações, são diversos e  de necessária minimização. A natureza dos trabalhos de escavação faz com que sejam complexas as iniciativas voltadas à redução dos riscos intrínsecos às  atividades, mormente diante da possibilidade de desabamentos, quedas,  soterramentos, entre outras ameaças.  

Mesmo diante de tais riscos, a identificação de meios para que se possa prover  a segurança necessária ao exercício das atividades situa-se entre as atribuições dos  profissionais responsáveis pela segurança do trabalho, sendo imprescindível a efetividade destas iniciativas. Pergunta-se, diante de tais considerações, de que modo  podem ser minimizados os riscos inerentes aos trabalhos de escavação. O objetivo geral do trabalho foi identificar as estratégias a serem adotadas para  a redução dos riscos de acidentes evidenciados nas obras que envolvem os trabalhos  de escavação. Os objetivos específicos foram caracterizar as escavações,  contextualizar a importância das ações de segurança do trabalho nessas atividades e  discutir a segurança do trabalho no âmbito das escavações. 

O trabalho consistiu em uma revisão de literatura com fundamento em livros,  artigos científicos, teses e dissertações, publicados em português e inglês. Os critérios  de inclusão foram a pertinência ao tema proposto e a fidedignidade das fontes. Os  critérios de exclusão referiram-se aos trabalhos de graduação, resumos e estudos  bibliométricos. 

2 AS ESCAVAÇÕES: ASPECTOS CONCEITUAIS 

As escavações são necessárias na indústria da construção civil para a  realização de obras de bases de edificações, túneis e passagem, linhas subterrâneas,  entre outras. As escavações situam-se entre as obras a céu aberto, que são expostas  a ações da natureza. Alguns exemplos nesse sentido são as construções de ferrovias,  de rodovias, barragens, entre outras (ANJOS; STOCCO, 2017).  

De modo geral, projetos de construção como fundação de edifícios, linhas de  serviço público, túneis e passagens subterrâneas requerem escavação em  composição diferente, por exemplo, espeleologia, trincheiras, entre outras. A  escavação geralmente se refere a qualquer corte, trincheira, cavidade ou depressão  feita a partir da remoção de terra (KHAN et al., 2019). 

A escavação é o processo empregado para obter a ruptura da rigidez do solo  natural, com a utilização de ferramentas cortantes, como os dentes da caçamba de  uma carregadeira, a faca da lâmina ou desagregando-o e tornando possível seu  transporte (BRASIL, 2001).  

A escavação do terreno natural faz com que a terra que se encontrava em  determinado estado de compactação, proveniente do seu próprio processo de  formação, passe por uma expansão volumétrica, que chega a ser considerável em  certos casos (DNIT, 2010). 

Outro exemplo de escavação trata-se do trabalho offshore, que é realizada, por  exemplo, em obras feitas em ambiente aquático (MENDONÇA; DAIBERT, 2014). Na  Figura 1 pode ser observada uma escavação offshore: 

Figura 1 – Escavação offshore 

Fonte: Mendonça e Daibert (2014) 

Na Figura 1 observa-se a realização de uma escavação com uso de  escavadeira hidráulica, sobre uma balsa. Esse tipo de trabalho, no entanto, é  executado de diversas formas, sob os ambientes variados e riscos igualmente  heterogêneos. Segundo Peurifoy et al. (2015), as escavadeiras hidráulicas podem ser  utilizadas em várias aplicações, mas cada tipo de escavadeira oferece variações em  termos de vantagens econômicas. Estes equipamentos desenvolvem força de  desagregação por movimentos de ataque e giro da caçamba longe da máquina. Quando a máquina é composta de arco descendente, ela é classificada como  retroescavadeira. Ela desenvolve a força de desagregação da escavação puxando a  caçamba em direção à máquina e girando. 

A escavação pode ser realizada também por meio da aplicação de torque,  como nos casos da instalação de estacas de fundação. Nesse contexto, a colocação  das estacas de hélice contínua requer a utilização da escavação com a aplicação de  torque e esses processos permitem atingir grandes profundidades. Na Figura 2 podem ser observadas as etapas de instalação das estacas de hélice contínua, sendo a  primeira etapa a escavação com aplicação de torque: 

Figura 2 – A escavação para instalação de estaca de hélice contínua

Fonte: Pereira (2017) 

Esse tipo de escavação pode ocorrer com limites acima ou abaixo do lençol  freático, sendo empregado mesmo em solos mais resistentes (PEREIRA, 2017). A  escavação por meio da aplicação de torque representa um importante recurso, diante  de sua ampla aplicabilidade. 

A escavação mecânica conta com o uso de escavadeiras e retroescavadeiras  pode permitir uma velocidade de trabalho que deve ser conjugada à liberação de  seções de trabalho versus liberar a movimentação dos equipamentos. Esses  equipamentos de escavação motorizados também têm a necessidade de uma praça  de apoio para manobra, manutenção e abastecimento, que serão distribuídos no  canteiro e nas proximidades da área de operação; as áreas livres correspondentes a  cada equipamento, para sua manobra e posicionamento, ficam a partir de oito vezes  a área de projeção de uso do equipamento no próprio terreno (QUALHARINI, 2018). 

Outra consideração importante no que diz respeito às escavações se refere à  existência dos empréstimos, que são as escavações feitas em locais definidos  previamente para a obtenção de materiais voltados à complementação de volumes necessários para aterros, nos casos em que existir insuficiência de volume nos cortes,  devido à quantidade de materiais disponíveis ou diante da necessidade de economia  de recursos financeiros (PEREIRA et al., 2015). 

Outra modalidade de escavação trata-se do trabalho manual. Conforme  Qualharini (2018), a escavação manual é utilizada quando surgem dificuldades quanto  ao uso de equipamentos mecanizados. Desse modo, na abertura de pequenas  aberturas pode-se executar as escavações escalonadas em níveis adequados, que  permitam a retirada do solo desagregado.  

A execução de uma grande obra requer a destinação imediata do resultado da  escavação, não sendo viável, em nenhuma hipótese, escavar o necessário e deixar  ao lado, aguardando o serviço ser executado para, depois, ser utilizado o resultado  da escavação para um aterro. As escavações de grandes obras exigem estudo prévio,  de forma que se faça a compensação do resultado da escavação com o resultado em  volume do que foi escavado, volume a ser transportado e o aterro (MENDONÇA;  DAIBERT, 2014). Importa considerar que as atividades de escavação envolvem riscos  significativos de acidentes de trabalho, sendo necessária a identificação das ameaças  e dos meios de prevenção. 

3 OS RISCOS E A PREVENÇÃO CONTRA ACIDENTES DE TRABALHO EM  ESCAVAÇÕES 

Realizadas em diferentes contextos, as escavações situam-se como obras a  céu aberto que trazem consigo os riscos que se relacionam, entre outros, à exposição  excessiva aos raios solares, às temperaturas extremas com frio ou calor, ao  soterramento, quedas e uso inadequado dos equipamentos e máquinas (ANJOS;  STOCO, 2017). 

Problemas comportamentais, gerenciais e técnicos causam acidentes de  construção. Entre esses acidentes, os desmoronamentos são alguns dos acidentes  mais frequentes. A minimização dos perigos que resultam em desmoronamentos é de  grande importância na gestão e controle das práticas de escavação. Na construção,  a estimativa do risco é baseada na gravidade, frequência de ocorrência e  probabilidade de detecção. As equipes de gerenciamento avaliam esses fatores antes  das ocorrências de falha usando julgamento subjetivo expresso por valores  linguísticos, como grave e muito provável (AL-HUMAIDI; TAN; ASCE, 2011).

Entre as medidas preventivas voltadas às ocorrências de soterramentos nas  escavações situam-se a garantia da estabilidade dos taludes e dos sistemas de  contenção em geral. As ações incluem o isolamento das regiões de coroamento; a  realização do arejamento dos acessos ao objeto da escavação, o cuidado quanto à  proteção dos trabalhadores envolvidos com o trabalho de escavação, o escoramento  da estrutura e o cumprimento da NR 18 e das NBRs. A capacitação e treinamento  contínuo dos trabalhos envolvidos também representa uma medida essencial para  prevenção contra soterramentos (ANJOS; STOCO, 2017). A proteção contra  acidentes nas escavações conta com a adequada elaboração do projeto executivo de  escavações.  

A escavação de valas em solo solto requer retenção das paredes para evitar  que desmoronem e o risco de um acidente de trabalho. Alguns solos coesos mantêm  suas encostas algum tempo sem apoio, enquanto outros, soltos, exigem suporte  imediato. A contenção inclui a ação em uma mudança repentina de nível na superfície  da terra de forma que o solo e o sistema construtivo tenham deslocamentos limitados,  ou que este deslocamento seja limitado marginalmente. Entre as obras que  necessitam desse tipo de intervenção situam-se as obras de drenagem (ALAMANIS  et al., 2020). 

A segurança na construção é uma grande preocupação em todo o mundo.  Estudos recentes relataram um aumento significativo de acidentes relacionados à  escavação e que poderiam ter sido evitados com atenção às normas. A escavação do  solo é uma etapa essencial de desenvolvimento de infraestrutura que inclui a remoção  de terra para a instalação da fundação, corte e preenchimento para criar terras  utilizáveis e aterros sanitários para construir aterros para mitigação de enchentes  (KHAN et al., 2019). 

O projeto executivo de escavações deve considerar as condições geológicas e  os parâmetros geotécnicos identificados no estudo e análise do solo, devendo ser  acompanhado da anotação de responsabilidade técnica e da memória de cálculo.  Ressalta-se que tanto as cargas quanto as sobrecargas ocasionais, além das possíveis vibrações, são pontos a serem avaliados para a determinação das paredes  do talude, para a construção do escoramento e para que sejam calculados os elementos estruturais (CBIC, 2019).  

Desse modo, o projeto deve definir a totalidade dos parâmetros para a  execução da escavação segura. Entre as variáveis situam-se as tipologias dos taludes, os tipos de escoramentos e as respectivas dimensões desses taludes, entre  outros. A elaboração do projeto executivo das escavações deve contar com o trabalho  efetivo do especialista em segurança do trabalho para apoio quanto à especificação  dos requisitos relacionados à segurança (CBIC, 2019). 

O projeto e construção de obras para as escavações profundas requerem  investigações do local, as condições do subsolo e das águas subterrâneas, o estado  das águas marinhas e fluviais e estabilidade dos leitos dos rios, do risco de abalos  sísmicos, a extensão das cargas sobrepostas, o estado das estruturas e serviços  existentes, disponibilidade e qualidade dos recursos materiais estruturais disponíveis (KURIAKOSE, 2016). 

A proteção contra a exposição excessiva à radiação solar pode ser  desenvolvida a partir da observação da NR 21, que diz respeito ao trabalho a céu  aberto. Segundo Anjos e Stoco (2017), esta norma aborda as medidas  prevencionistas relacionadas a acidentes de trabalho nas atividades desenvolvidas a  céu aberto, como a existência de abrigos capazes de proteger os trabalhadores contra  intempéries em locais como minas ao ar livre e pedreiras ou que os protejam de  insolação excessiva, calor, frio, umidade e diante de ventos inconvenientes. A  proteção contra a excessiva exposição ao sol requer o uso de chapéus, camisas de  manga longa, saias longas ou calças. 

A proteção contra acidentes nas escavações envolve a construção de  passarelas. Esses recursos são necessários nos casos em que é necessária a  circulação de pessoas sobre os locais onde estão ocorrendo as atividades de  escavação. Os meios de acesso são também devem atender aos aspectos técnicos.  Todos os trabalhos devem ser planejados e os procedimentos devem ser  documentados e serem realizados de acordo com a NR 18 (CBIC, 2019). 

Conforme a NR 18, nos serviços de escavação, fundações e desmonte de  rochas estão presentes riscos de quedas de materiais e entulhos, soterramento, abalo  de estruturas vizinhas e perigos derivados de explosão, além de outros existentes.  Diante da possibilidade de desabamento, uma das principais considerações diz  respeito ao escoramento das estruturas e exame de sua estabilidade, devendo tomar se as providências de segurança. Os serviços de escavação, fundações e desmonte  de rochas deverão estar a cargo de responsável técnico legalmente habilitado e a  elaboração do projeto e execução das escavações a céu aberto, deve considerar as condições exigidas na NBR 9061/85 – Segurança de Escavação a Céu Aberto da  ABNT (PEREIRA, 2015). 

Para se evitar o desabamento de estruturas dentro do próprio terreno,  determina o item 18.6.1 que a área de trabalho deve ser previamente limpa, devendo  ser retirados ou escorados solidamente árvores, rochas, equipamentos, materiais e  objetos de qualquer natureza, quando houver risco de comprometimento de sua  estabilidade durante a execução de serviços. Além das áreas de trabalho internas, há  o risco de comprometimento de estabilidade das estruturas vizinhas, razão pela qual  determina o item 18.6.2 que os muros, edificações vizinhas e todas as estruturas que  possam ser afetadas pela escavação devem ser escorados (PEREIRA, 2015). 

A NR 18 representa, nesse contexto, umas das importantes formas de  promover a segurança do trabalho nas escavações. Entre as determinações desse  preceito encontra-se a exigência de que a escavação com profundidade superior a  1,25m requer a liberação e autorização de profissional legalmente habilitado. Outra  determinação é de que o projeto das escavações deve considerar as variáveis que  caracterizam o solo, as medidas de prevenção, as cargas atuantes e os riscos a que  estão expostos os trabalhadores. A norma determina também que nas escavações  em encostas, devem ser tomadas precauções especiais para evitar escorregamentos  ou movimentos de grandes proporções no maciço adjacente, devendo merecer  cuidado a remoção de blocos e pedras soltas (BRASIL, 2023). 

Outra medida voltada à prevenção de acidentes na construção civil, de caráter  normativo, trata-se do Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho (PCMAT). O PCMAT é exigido para as empresas de construção civil com mais de 20  empregados em seus estabelecimentos. Não há distinção explícita se os empregados  a serem considerados devem ser do empregador ou se entraram no cômputo os  empregados terceirizados. Sobre esse tema, a maioria opina no sentido de que devem  ser computados tanto empregados próprios quanto terceirizados (PEREIRA, 2015).  

Além disso, outro aspecto que suscita debates trata-se da consideração de que  as obras de construção usualmente passam por várias fases, possuindo grande  variação de número de empregados durante seu curso. Assim, não raro em algumas  fases haverá mais de vinte empregados, em outras menos. Nesse caso, a obrigação  de elaboração do PCMAT ocorre sempre que, em alguma fase da obra ou  empreendimento, houver previsão ou efetiva contratação de mais de vinte empregados, sendo irrelevante que tal quantia seja aumentada ou reduzida durante  algum período (PEREIRA, 2015). 

Entre as intervenções que são consideradas no contexto das escavações, a execução de valas trata-se de uma atividade caracterizada por diversos riscos. Ao  executar uma vala para assentamento de tubulações, é preciso verificar a  necessidade de escoramento da vala. Quando a profundidade de escavação for  superior a 1,50 m, o escoramento é obrigatório. O tipo de escoramento, entretanto,  pode variar de acordo com o terreno, a profundidade, ou o nível do lençol freático (MENDONÇA; DAIBERT, 2014).  

Mesmo com escoramento, deve-se evitar deixar o material escavado ao lado  da vala, pois ele aumenta consideravelmente o peso nas paredes laterais da vala e  este fato pode provocar o fechamento desta, mesmo com escoramento. Antes da vala  escavada fechar aparecem pequenas trincas ao longo do comprimento da vala,  indicando que o solo abaixo está com ruptura, ou simplesmente rompendo. O  fechamento de uma vala pode causar vítimas fatais, além da perda do trabalho já executado (MENDONÇA; DAIBERT, 2014). 

Abordando a segurança do trabalho em escavações manuais, verifica-se que  em terrenos de baixa coesão, é usual o escoramento com estroncamento dos  elementos verticais até que haja o preenchimento dos vazios escavados. Na  existência de lençol freático intermitente, e que impeça a boa execução dos serviços,  recomenda-se a realização de uma cava até um nível inferior ao conjunto periférico  de escavações, procedendo-se, então, ao bombeamento da água para um ponto  distante, que não comprometa a estabilidade do solo escavado e que não retorne pela  capa superficial aos pontos de trabalho (QUALHARINI, 2015). 

Os riscos de acidentes de trabalho que se relacionam às escavações envolvem  a observação de todas as etapas da obra, com a consideração das principais causas  de acidentes. Nesse sentido, a análise preliminar de riscos pode ser uma importante  contribuição. Essa análise é realizada a partir de estudo prévio e detalhado  compreendendo todas as etapas do trabalho a ser executado, com a finalidade de  identificação dos perigos e possíveis riscos de acidentes, além de estabelecer as  respectivas medidas de controle (CBIC, 2019). 

Estas medidas de controle envolvem uma hierarquia e esta ordem indica a  efetividade de cada ação tomada no campo da segurança. Desse modo, a maior  efetividade quanto à segurança é apresentada a partir da eliminação do risco, seguida pela mudança da técnica empregada. O uso de controles de engenharia é a próxima  alternativa, antecedendo às medidas administrativas e o uso de equipamentos de  proteção individual (CBIC, 2019). 

As situações de risco mais elevado envolvendo as escavações decorrem da  movimentação de solos, passível de causar desmoronamento, projeção de materiais,  deslizamento de terra e outras ocorrências. A existência de algum fator de risco  constitui impedimento à execução dos trabalhos até que estes sejam eliminados ou  controlados (CBIC, 2019). 

As avaliações de risco ajudarão a reduzir os riscos prioritários e fornecer  informações sobre a probabilidade de dano decorrente e a gravidade do dano,  compreendendo o risco, combinar avaliações de probabilidade e gravidade para  produzir uma avaliação de risco e é usado na avaliação de risco como auxílio à tomada  de decisão (PUROHIT et al., 2018). 

Nesse contexto, Purohit et al. (2018) consideram que, a partir da identificação  do perigo, é necessário avaliar o risco que representam para os funcionários no local  de trabalho, podendo estabelecer uma medida do risco e determinar qual prioridade  eles devem ter para ações corretivas. A etapa de avaliação do risco é a parte do  processo que avalia a probabilidade e consequências do perigo que foram  identificados. Uma vez que se tenham estimado a probabilidade e as consequências  para cada perigo, pode ser atribuída a prioridade para ação corretiva. 

A natureza do trabalho de escavação é diferente de outro tipo de construção.  Além da óbvia questão associada ao solo e água, buracos no solo criam confinamento  e problemas de acesso. O aspecto desconhecido sobre o que já existe no local de  trabalho antes da escavação, o tamanho e requisitos de manuseio do que está sendo  construído e a superfície do solo são diferentes de outras atividades de construção.  Todas essas condições exigem o uso de método de segurança avançado e técnicas  de construção específicas (KURIAKOSE, 2016). 

De modo geral, observa-se que as condições de segurança na construção civil ainda carecem de melhorias. Conforme Costella, Junges e Pilz (2014), o caráter transitório das instalações conduz às dificuldades para a adoção de medidas eficazes  de prevenção. Além disso, aspectos como a mão de obra terceirizada, a falta de  técnicos especializados nas empresas e a elevada rotatividade entre os trabalhadores  dificultam a organização de ambientes de trabalho seguros nesse contexto.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Observando a importância da segurança do trabalho nas escavações, pode-se constatar que estas atividades representam riscos significativos, como soterramentos, desabamentos e quedas. A necessidade de realização de escavações em diversos tipos de obras e a imprescindível criação de meios para minimização dos riscos intrínsecos a esta atividade fez com que se desenvolvessem diversos preceitos normativos voltados à segurança do trabalho. Destacou-se a importância da NR 18, que diz respeito a diversos aspectos relacionados às escavações. 

Evidenciou-se que os principais riscos relacionados às escavações são resultantes da movimentação de solos, que pode causar desmoronamento, da projeção de materiais e do deslizamento de terra. A existência de algum fator de risco impede a execução dos trabalhos, até a eliminação destes riscos.  

Destacou-se, no entanto, que a própria natureza das escavações apresenta  riscos que, mesmo minimizados, permanecem em níveis elevados. Desse modo, foi  observada uma hierarquia de medidas cuja eficácia é maior, nessa ordem, com a  eliminação do risco, depois pela mudança da técnica empregada, pela utilização de  controles de engenharia, pelas medidas administrativas e a diante do uso de  equipamentos de proteção individual.  

De modo geral, constata-se que os riscos inerentes às escavações podem ser  minimizados a partir da estrita observação das normas de segurança do trabalho,  principalmente da NR 18, sendo importante também a observação dos outros  preceitos normativos, como a NR 21 que diz respeito ao trabalho em céu aberto, além  das leis e determinações que regulamentam as atividades na construção civil e de  modo amplo. 

Ressalta-se a importância do tema apresentado, diante da relevância  acadêmica e social por ele apresentada. Sugere-se, inclusive, a realização de novas  pesquisas a esse respeito, diante da variedade de abordagens passíveis de realização  e da contribuição destas para o conhecimento no âmbito da segurança do trabalho.

REFERÊNCIAS 

ALAMANIS, N. et al. Risk of retaining systems for deep excavations in urban road  infrastructure with respect to work staff perception. International Journal of Scientific  & Technology Research, v. 9., n. 2, fev. 2020. 

AL-HUMAIDI, H. M.; TAN, F. H.; ASCE, F. Using Fuzzy Failure Mode Effect Analysis  to Model Cave-In Accidents. Journal of Performance of Constructed Facilities, v.  26, n. 5, 2011. 

ANJOS, M. S.; STOCO, F. Segurança do trabalho em construção civil. São Paulo:  Érica, 2017. 

BRASIL. Estradas. Manual de Campanha. Exército Brasileiro. 2001. Disponível em: https://bdex.eb.mil.br/jspui/bitstream/123456789/368/4/C-5-38.pdf. Acesso em 20  jun. 2023. 

BRASIL. Norma Regulamentadora n° 18 (NR-18). Ministério do Trabalho e  Previdência. 2023. Disponível em: https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt br/acesso-a-informacao/participacao-social/conselhos-e-orgaoscolegiados/ctpp/normas-regulamentadora/normas-regulamentadoras vigentes/norma-regulamentadora-no-18-nr-18. Acesso em 20 jun. 2023. 

CBIC. Manual de segurança e saúde no trabalho para escavação na indústria  da construção. Serviço Social da Indústria. 2019. Disponível em: https://cbic.org.br/wpcontent/uploads/2019/05/manual_de_sst_para_escavacao_na_industria_da_constru cao.pdf. Acesso em 20 jun. 2023. 

COSTELLA, M. F.; JUNGES, F. C.; PILZ, S. E. Avaliação do cumprimento da NR-18  em função do porte de obra residencial e proposta de lista de verificação da NR-18.  Ambiente Construído, v. 14, n. 3, set. 2014. 

DNIT. Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes. Manual de  Implantação Básica. Publicação IPR – 742. 2010. https://www.gov.br/dnit/pt br/assuntos/planejamento-e-pesquisa/ipr/coletanea-demanuais/vigentes/742_manual_de_implantacao_basica.pdf. Acesso em 20 jun.  2023. 

KHAN, N. Excavation Safety Modeling Approach Using BIM and VPL. Advances in  Civil Engineering, n. 1515808, 2019. 

KURIAKOSE, S. Safety in deep excavation and numerical simulation of room  corner test for polycarbonate. Tese (Mestrado). 2016. Disponível em: http://ethesis.nitrkl.ac.in/8601/1/2016_MT_214CH2524_Sanil_Kuriakose.pdf. Acesso  em 20 jun. 2023. 

MENDONÇA, A. V. R. M.; DAIBERT, J. D. Equipamentos e Instalações para  Construção Civil. São Paulo: Érica, 2014.

PEREIRA, D. M. et al. Introdução à terraplenagem. Universidade Federal do  Paraná, 2015. Disponível em http://www.tecnologia.ufpr.br/portal/dtt/wp content/uploads/sites/12/2019/05/Terraplenagem2015.pdf. Acesso em 20 jun. 2023. 

PEREIRA, A. D. Tratado de segurança e saúde ocupacional: aspectos técnicos e  jurídicos – NR 16 a NR 18. São Paulo: Saraiva, 2015. 

PEURIFOY, R. L. et al. Planejamento, Equipamentos e Métodos para a  Construção Civil. Porto Alegre: AMGH, 2015. 

PUROHIT, D. P. et al. Hazard Identification and Risk Assessment in Construction  Industry. International Journal of Applied Engineering Research, v. 13, n. 10,  2018. 

QUALHARINI, E. Construção Civil na Prática: Canteiro de Obras. Rio de Janeiro:  Elsevier, 2018.