SEGURANÇA DO PACIENTE ONCOHEMATOLÓGICO: ANÁLISE DO MANEJO DO CATETER VENOSO TOTALMENTE IMPLANTADOEM UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO EM FORTALEZA-CEARÁ

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10020131


Ítala Barbosa da Silva Monteiro1
Suellen Silva Vaz2


RESUMO: A administração de medicamentos consiste na forma mais comum de intervenção no cuidado à saúde prestado pela equipe de enfermagem. Quando a terapêutica empregada é a quimioterapia, os pacientes necessitam de uma via segura para a administração das drogas. Geralmente, os pacientes que apresentam rede venosa debilitada, ou com previsão de tratamento quimioterápico longo, são encaminhados para o implante de cateteres venosos centrais de longa permanência. Diante disso, o presente estudo objetivou analisar a prática de enfermagem no manejo do cateter venoso totalmente implantado em pacientes oncohematológicos atendidos em um hospital universitário em Fortaleza-Ceará. Trata-se de um estudo exploratório, descritivo, observacional, transversal, de abordagem quantitativa. A população foi constituída por: enfermeiros e técnicos de enfermagem que atuam no serviço ambulatorial, que realizam o manejo do cateter venoso totalmente implantado. A coleta iniciou-se após aprovação do comitê de ética em pesquisa da referida instituição. Durante a coleta de dados ocorreram 119 punções para administração de medicações quimioterápicas, destas 75,6% foram punção periférica, 22,7% Punção de Porth a cath, e 1,7% outra via de administração. Diante do trabalho foi possível concluir que os profissionais da referida instituição de pesquisa estão qualificados e são competentes para o manuseio do cateter porth a cath, uma vez que a maioria das etapas está em conformidade com as boas práticas. Porém, vale ressaltar que é sempre necessário lançar mão da educação permanente, tendo em vista que as práticas estão constantemente passíveis de atualizações para a melhoria do cuidado e segurança do paciente.

Palavras-chaves: Punção venosa, Port a cath, cuidado de enfermagem.

ABSTRACT: Medication administration is the most common form of intervention in the health care provided by the nursing team. When the therapy used is chemotherapy, patients need a safe route for administering the drugs. Generally, patients who have a weakened venous network, or who are expected to undergo long chemotherapy treatment, are referred for the implantation of long-term central venous catheters. Given this, the present study aimed to analyze nursing practice in the management of fully implanted venous catheters in oncohematological patients treated at a university hospital in Fortaleza-Ceará. This is an exploratory, descriptive, observational, cross-sectional study with a quantitative approach. The population consisted of: nurses and nursing technicians who work in the outpatient service, who manage the fully implanted venous catheter. Collection began after approval by the research ethics committee of that institution. During data collection, 119 punctures occurred for the administration of chemotherapy medications, of which 75.6% were peripheral puncture, 22.7% Porth a cath puncture, and 1.7% another route of administration. In view of the work, it was possible to conclude that the professionals at the aforementioned research institution are qualified and competent to handle the port-a-cath catheter, since most of the steps are in accordance with good practices. However, it is worth highlighting that it is always necessary to make use of continuing education, considering that practices are constantly subject to updating to improve patient care and safety.

Keywords: Venipuncture, Port a cath, nursing care.

INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, a qualidade dos cuidados em saúde em âmbito global, envolvendo a segurança do paciente e o sistema de medicação tem sido foco para o desenvolvimento de diversas pesquisas (MATIAS, 2015). Com o advento da tecnologia, da modernização do processo de cuidar e da avaliação do cuidado em saúde, a temática vem se tornando cada vez mais pertinente. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 1 a cada 10 pacientes que recebe assistência em saúde sofre danos em países desenvolvidos e esse número provavelmente é mais alto em países em desenvolvimento. (BRASIL, 2013)

De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) a falha durante a assistência à saúde é o principal tipo de incidente que resulta em óbito (ANVISA, 2020). Assim trata-se de uma tarefa complexa e multidisciplinar, em que todos os profissionais envolvidos devem proporcionar um serviço de atendimento de qualidade, como segurança e eficácia ao paciente (CAMACHO et al., 2012).

Por conseguinte, em 2017, o Desafio Global de Segurança do Paciente deu ênfase ao tema “Medicação sem danos”, tendo como meta a redução em 50%, dos danos graves e evitáveis relacionados aos medicamentos nos próximos cinco anos. Segundo Silva (2012) a administração de medicamentos consiste na forma mais comum de intervenção no cuidado à saúde prestado pela equipe de enfermagem. Dessa maneira, a segurança no processo de preparo e administração de medicamentos deve ser meta constante e permanente da equipe de enfermagem, a fim de eliminar ou minimizar os fatores de risco que aumentam a probabilidade de ocorrência de erros (CAMERINI et al., 2013).

Segundo Ferner (2000) “Erros envolvendo medicamentos ocorrem frequentemente, sendo classificados como eventos adversos preveníveis, podendo ou não resultar em danos aos pacientes e, em média, um paciente é vítima de, pelo menos, um erro de medicação por dia”. De acordo com o protocolo de segurança na prescrição, uso e administração de medicamentos recomenda, para garantir a segurança no processo de administração de medicamento, o princípio dos nove certos, a saber: paciente certo, via certa, dose certa, medicamento certo, horário certo, registro certo, orientação certa, forma certa e resposta certa (BRASIL, 2013).

Quando a terapêutica empregada é a quimioterapia, os pacientes necessitam de uma via segura para a administração das drogas, dado que a administração em vias periféricas leva à falência da rede venosa pelo uso de drogas vesicantes e irritantes (OLIVEIRA, RODRIGUES, 2016). Embora de grande importância, trata-se de procedimento invasivo, que, como outros, apresentam riscos. Dentre estes, podemos citar o risco de infecção, sangramentos, lesão vascular, lesão de tecidos circunvizinhos ao vaso, extravasamento, infiltração, oclusão, respostas adversas ou alérgicas às substâncias infundidas. (MALAGUTTI; ROEHRS, 2012). Nesse contexto, é desafiador a garantia para a efetivação segura da terapêutica, visto que incidentes relacionados ao preparo e administração de quimioterapia antineoplásica têm uma incidência de aproximadamente 2% a 5% ano (OLIVEIRA et al., 2020).

Diante disso, faz-se necessária a realização de um acesso venoso seguro, prevenindo complicações como o extravasamento da droga (ÁVILA, 2017). Atualmente, existem cateteres de curta e longa permanência com tecnologias avançadas, permitindo maior conforto e segurança para o paciente (NICOLAO; PACZKOSKI; ELLENSOHN, 2013). Geralmente esses pacientes que apresentam rede venosa bastante prejudicada, ou com previsão de tratamento quimioterápico longo, são encaminhados para o implante de cateteres venosos centrais de longa permanência (MARTINS; CARVALHO, 2008).

O cateter totalmente implantado (ou Port-a-cath) consiste em um dispositivo de borracha siliconizada cuja extremidade distal é acoplada a uma câmara que permanece sob a pele do indivíduo, embutida em uma loja no tecido subcutâneo (geralmente da região torácica) sobre uma protuberância óssea (BONASSA; GATO, 2012).

Para o cateter manter uma vida útil prolongada é indispensável o cuidado do enfermeiro especializado, utilizando técnicas e materiais apropriados para punção, manuseio e manutenção desses dispositivos. Visto que o enfermeiro é o integrante da equipe multiprofissional habilitado e capacitado para desenvolver tais atividades (DAMACENA et al., 2020).

Diante do exposto, o presente estudo apresenta a seguinte questão norteadora: como ocorre a prática de enfermagem no manejo do cateter venoso totalmente implantado em pacientes oncohematológicos atendidos em um hospital universitário em Fortaleza-Ceará?

Buscar respostas para esse questionamento é uma oportunidade vista pela autora de avaliar um processo complexo e de alto risco, na perspectiva da oncohematologia, levando em consideração que o manejo do CVC-TI (Cateter Venoso Totalmente Implantado) deve ser realizado por uma equipe treinada e capacitada, que saiba a importância de seguir as recomendações para tal procedimento. Consequentemente, identificar os possíveis pontos frágeis e posteriormente propor medidas de alinhamento para prevenir e minimizar as falhas potenciais, aumentando a confiabilidade, segurança e qualidade da assistência de enfermagem no manejo e administração de medicamentos e/ou antineoplásicos.

2 OBJETIVO

Analisar a prática de enfermagem no manejo do cateter venoso totalmente implantado em pacientes oncohematológicos atendidos em um hospital universitário em Fortaleza-Ceará.

3 METODOLOGIA

3.1 TIPO DE ESTUDO

Trata-se de um estudo exploratório, descritivo, transversal, observacional, de abordagem quantitativa. 

Segundo Gil (2010), as pesquisas descritivas apresentam informações, dados, inventários de elementos constitutivos ou contíguos ao objeto, dizendo o que ele é, do que se compõe e em que lugar está localizado no tempo e no espaço.

Nos estudos transversais, as medições são realizadas em um único momento, sem período de acompanhamento. Os delineamentos transversais são úteis quando se deseja descrever variáveis e seus padrões de distribuição, além de poder examinar associações (POLIT; BECK, 2019).

Nos estudos observacionais, o pesquisador é um mero expectador de fenômenos ou fatos, realizando medições, análises e outros procedimentos para coleta de dados, sem intervenções que possam modificar o curso natural e/ou desfecho, podendo se desenvolver de quatro maneiras: prospectiva, retrospectiva, longitudinal e transversal (FONTELLES et al., 2009).

Os estudos quantitativos se apoiam em dados estatísticos, sem excluir uma possível apreciação qualitativa do objeto investigado, designa também o caminho matemático de examinar um objeto (POLIT; BECK, 2019).

3.2 LOCAL DE ESTUDO

O estudo foi desenvolvido em um serviço responsável pela administração de quimioterapia antineoplásica em um hospital universitário de referência estadual no Ceará. O serviço atende pacientes da capital e do interior do estado que necessitam de tratamento quimioterápico, sendo a quimioterapia uma das formas de tratamento ao paciente oncohematológico mais utilizada. A instituição possui serviço ambulatorial, médicos oncologistas, hematologistas, enfermeiros, técnicos de enfermagem, psicólogos, nutricionistas, fisioterapeutas, assistentes sociais, dentre outros.

Destaca-se que a instituição em estudo possui toda estrutura física necessária ao processo de administração de medicamentos: recursos humanos e materiais adequados para a execução dos procedimentos com Procedimento Operacional Padrão – POP referentes à temática.

 3.3 POPULAÇÃO E AMOSTRA

A população do estudo foi constituída pelos profissionais de enfermagem: Enfermeiros e técnicos de enfermagem que atuam no ambulatório e realizam assistência aos pacientes oncohematológicos. A amostra foi constituída pelo total de fichas de acompanhamento das manutenções no CVC-TI, realizadas através de um documento da própria instituição, que contém os dados dos pacientes portadores desse tipo de cateter, bem como, a frequência e descrição das manutenções.

Considerando que o evento da punção do cateter totalmente implantado ocorre 2 vezes por semana e existem cerca de 67 fichas de pacientes que realizam acompanhamento. Logo, 2 x 4 = 8 punções/mês ao considerar o universo de 6 meses, haveriam cerca de 48 punções do cateter totalmente implantado. Para estimativa amostral foi utilizada a fórmula com base em populações finitas, conforme exposto a seguir:

Onde: n – Amostra calculada; N – População; Z – Variável normal padronizada associada ao nível de confiança; p – Verdadeira probabilidade do evento; e – Erro amostral.

Através do cálculo da amostra do número de observações obteve-se um total de 30 observações do processo de punção do cateter totalmente implantado, no ambulatório de quimioterapia. Será considerado como parâmetro o nível de confiança de 95%, erro amostral de 5%.

A amostra dos profissionais foi composta pelos profissionais de enfermagem que atenderam aos seguintes critérios de inclusão: atuar na referida unidade na assistência de enfermagem direta aos pacientes no procedimento de administração de medicamentos. E como exclusão: estar de férias ou licença no período de coleta de dados.

3.4 COLETA DE DADOS

O estudo utilizou dois métodos: entrevista semiestruturada com os profissionais de enfermagem que trabalham diretamente na assistência de enfermagem e a observação sistemática não participativa / interventiva do processo de administração de medicamentos, incluindo a técnica de punção do cateter totalmente implantado.

A entrevista semiestrutura dos profissionais de enfermagem teve o intuito de caracterizar a equipe que foi observada, por meio dos seguintes itens: categoria, sexo, idade, tempo no serviço, tempo de experiência profissional, tempo de experiência de em punção de cateter totalmente implantado, tempo de experiência profissional em oncologia, qual o turno que trabalha na unidade, quantos vínculos empregatícios, qual carga horária semanal total de serviço, conhecimento sobre o documento de Procedimento Operacional Padrão (POP) de administração de medicamento quimioterápico endovenosa da instituição.

As entrevistas e observações foram realizadas de forma aleatória de segunda a sexta feira, no horário de funcionamento do serviço, de 7:00 às 19:00, até atingir todos os profissionais que atenderam aos critérios de inclusão da pesquisa e aceitaram participar do estudo. A coleta de dados iniciou-se após parecer favorável do comitê de ética da instituição, n° 4.643.664, CAAE 44547221.9.0000.5045.

Para a observação sistemática do procedimento de punção e administração de medicamentos e/ou antineoplásicos pelo CVC-TI, o pesquisador utilizou um roteiro do tipo checklist, construído pelo mesmo. O instrumento teve como base o protocolo de segurança na prescrição, uso e administração de medicamentos do Ministério da Saúde e os Procedimentos Operacionais Padrão – POP da instituição pesquisada.

O instrumento de observação é composto por oito tópicos: 1. Caracterização do paciente em que foi realizado o procedimento; 2. Leitura da prescrição médica; 3. Higienização das mãos; 4. Organização do ambiente e seleção do material adequado; 5. Preparo da medicação ou soroterapia; 6. Orientação acerca do procedimento para o paciente; 7. Técnica de administração do medicamento; 9. Técnica de punção do cateter totalmente implantado.

Tendo em vista a magnitude do estudo, foi formada uma equipe de pesquisadores constituída por residentes em oncohematologia do referido hospital, os quais passaram por um treinamento prévio antes de iniciarem a coleta dos dados. O treinamento da equipe de pesquisa ocorreu em uma única reunião na qual foram apresentados e discutidos os objetivos do estudo, o instrumento de avaliação e o POP de coleta dos dados, o qual deverá ser seguido por todos os membros durante a coleta, sendo estabelecida ainda uma programação de coleta de dados a partir da disponibilidade de cada membro.

O instrumento utilizado para entrevista dos profissionais foi auto aplicado, os profissionais foram convidados a participar da pesquisa, e, concordando responderam o questionário, sendo esclarecido que seria mantido o sigilo e que este não seria identificado, sendo garantido o direito de desistência em qualquer momento da pesquisa. Com a concordância, todos os profissionais assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido.

Para realização das observações foi escolhida a técnica de amostragem por conveniência e de forma consecutiva, onde o pesquisador se colocou a espera que o evento acontecesse.

Os dados foram armazenados em um banco de dados no Excel 365, processados e analisados no SPSS 21 de forma descritiva de acordo com a literatura pertinente à temática. 

Os procedimentos estatísticos permitem que o pesquisador resuma, organize, interprete e comunique a informação numérica. A estatística descritiva é usada para descrever e sintetizar os dados. As médias e porcentagens são exemplos de estatística descritiva (POLIT; BECK, 2019).

Os resultados foram expostos em forma de tabelas e quadros, pois são caracterizados como bons auxiliares na organização e apresentação dos dados, uma vez que facilitam a compreensão e a interpretação rápida da massa de dados, podendo apreender detalhes importantes (LAKATOS; MARCONI, 2003).

3.5 ASPECTOS ÉTICOS

O presente estudo fez parte de um projeto guarda-chuva, este, submetido à Plataforma Brasil, no Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Ceará, obtendo parecer favorável de número 4.643.664, CAAE 44547221.9.0000.5045, obedecendo às normas regulamentadoras da Resolução nº 466/2012, do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 2012). 

Para aplicação dos instrumentos de coleta de dados, foi realizada uma explanação aos sujeitos envolvidos na pesquisa sobre os objetivos do estudo, o método de coleta dos dados e a importância da colaboração deles no estudo. Nesse momento, foi realizada a solicitação da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) aos participantes. 

4  RESULTADOS

Ocorreram 119 punções para administração de medicações quimioterápicas, incluindo a punção periférica, a punção de porth a cath e outras vias de administração. Destas, 27,22% corresponde a punção de Porth a Cath, como mostra o gráfico 1.

Gráfico 1.  Tipo de Punção

Fonte: elaborado pela autora (2021)

Punção periférica (90, 75,6%), Punção de Porth a carth (27, 22,7%), outra via de administração (2, 1,7%).

Diante de todas as punções realizadas, a escolha correta do material foi unânime (n=100%). Sobre a utilização de equipamento de proteção individual maioria dos profissionais Sim (26, 96,3%) (n = 96,3%) com exceção de um (n = 3,7), Parcial (1, 3,7%) , Não (0,0%), assim como mostram os gráficos 2 e 3, respectivamente.

Gráfico 2. Escolha de materiais adequados de acordo com o procedimento

Fonte: elaborado pela autora (2021)

Gráfico 3. Utiliza Equipamento de proteção individual adequado

Fonte: elaborado pela autora (2021).

Ainda, a maioria dos profissionais antes de puncionar expõem a área do cateter assim como avaliam-na (n=88,9%).  Em relação a antissepsia da pele com clorexidina, todos realizam este preparo antes de puncionar, como mostram os gráficos 4 e 5, respectivamente.

Gráfico 4. Avalia e expõe a área a ser puncionada

Sim (24, 88,9%), Não (2, 7,4%), Parcial (1, 3,7%). 
Fonte: elaborado pela autora (2021).

Gráfico 5. Realiza antissepsia da pele com clorexidina em movimentos circulares

Fonte: elaborado pela autora (2021).

O gráfico 6 mostra que maioria dos cateteres estavam pérvios (n= 74,1%), 7 (n = 25,9%) apresentaram resistência durante a infusão, seja de medicações ou do próprio soro fisiológico utilizado durante o processo de limpeza e manutenção do dispositivo. Por fim, o gráfico 7 mostra que a maioria dos profissionais higienizaram as mãos antes e depois do procedimento (n = 92,6%), porém 2 (n = 7,4%) não higienizaram após o procedimento.

Gráfico 6. Infusão sem dificuldade

Sim (20, 74,1%), Não (7, 25,9%), Parcial (0, 0,0%).
Fonte: elaborado pela autora (2021).

Gráfico 7. Higienizou as mãos antes e após o procedimento

Sim (25, 92,6%), Não (2, 7,4%).
Fonte: elaborado pela autora (2021).

5 DISCUSSÃO

A partir da coleta e tabulação dos dados, foi possível construir gráficos e realizar uma análise das informações, a  fim de caracterizar a prática dos profissionais do serviço com esse dispositivo.

Os dados achados condizem e vão de encontro com as boas práticas no manejo dos cateteres totalmente implantáveis. Todavia, para que as ocorrências de eventos adversos e complicações associadas sejam evitadas e para que haja, também, uma padronização da técnica utilizada é de fundamental importância a existência de protocolos que fundamentem as etapas a serem respeitadas.

A padronização de protocolos para o manejo do cateter totalmente implantado favorece a profilaxia das infecções, pois, quando é realizada por profissionais devidamente qualificados e que demonstrem competência, há diminuição das complicações inerentes ao uso do dispositivo, revelando uma grande vantagem na avaliação custo/benefício tanto para o paciente como para a instituição.

Boas práticas de uso aumentam a vida útil dos cateteres, minimizando a ocorrência de eventos adversos e complicações associadas, sejam elas complicações mecânicas ou infecciosas. São inúmeras as contribuições da enfermagem para pacientes com esses dispositivos, tais como a punção segura, cuidados e troca do curativo, a manutenção do sistema fechado, são medidas imprescindíveis para a prevenção de infecção do cateter totalmente implantado (OLIVEIRA; RODRIGUES, 2016).

Este estudo mostra que os profissionais avaliados são qualificados e competentes para a punção do cateter porth a cath, uma vez que a maioria das etapas estão em conformidade com as boas práticas.

Antes da punção do CVC-TI é de suma importância que o profissional inspecione e avalie a área que irá ser puncionada, uma vez que deve-se puncionar o centro da ilha do cateter para garantir o seu acesso. Outrossim, ao observar e palpar o cateter antes da punção pode-se analisar se ele apresenta edema, hiperemia, dor à palpação, exteriorização ou interiorização no tecido adiposo, alguns destes sinais são indícios que a punção não deve ser prosseguida (ARAÚJO et al., 2011).

Além disso, o preparo da pele do paciente é essencial. Este deve ser realizado com clorexidina alcoólica, pois possui ação microbicida e um efeito residual maior quando comparado com outras soluções (OLIVEIRA;FONTES;SILVA, 2019). O profissional deve estar paramentado com máscara cirúrgica simples, gorro e luvas estéreis, uma vez que trata-se de um procedimento estéril que exige um manuseio estéril do cateter e de suas conexões (OLIVEIRA;RODRIGUES, 2016). 

Todo este cuidado tem com a finalidade evitar infecções, uma vez que é uma das principais complicações associadas a perda do cateter. Os riscos de infecção relacionados aos dispositivos totalmente implantados são menores em relação aos acessos semi-implantados ou periféricos, por não haver contato com o meio externo quando não estão acessados (SOUZA et al., 2013).

Muitos estudos mostram que a incidência de infecção é baixa e ocorre, principalmente nos dias posteriores da inserção como por exemplo, MANGINI, 2005 aponta que dos 437 porth a caths estudados nove infeccionaram durante um período de 1000 dias de acompanhamento. NISHIARI et al, (2003) possuíam em seu estudo amostra semelhante e obteve uma taxa de 4,9% de infecções. Souza et al. (2013) observou uma taxa de infecção de 2%, relatando que os microorganismos mais frequentes encontrados são estafilococos coagulase-negativos (ECN), Staphylococcus aureus, Cândida spp., Enterococcus spp., Klebisiella spp.

Para acessar o CVC-TI todos os profissionais observados utilizaram uma agulha especial denominada de agulha tipo Hubber (não cortante), indo de encontro com a literatura. A recomendação do uso deste tipo de agulha justifica-se, pois a agulha hipodérmica pode fissurar o septo do silicone e, consequentemente, diminuir a vida útil do cateter (VASQUES; REIS; CARVALHO, 2009). Além disso, a introdução do artigo deve ser realizada em um ângulo de 90°, caso seja introduzida de forma diferente da recomendada pode desencadear erros no procedimento, não conseguindo acessar a câmara do cateter (OLIVEIRA; FONTES; SILVA, 2019).

Além disso, Souza et al. (2013) em seu estudo definiu a obstrução do CVC-TI como a complicação mais incidente tanto em pacientes que usaram um único cateter, como pacientes que já estariam utilizando seu segundo cateter ou mais. Essa complicação também foi encontrada em outro estudo com 66 implantes em que teve uma ocorrência de 17,2% de obstrução (FROEHNER, 2005).

No presente estudo não encontrou-se nenhum cateter obstruído, porém 25,9% apresentavam dificuldade de infusão. As principais causas de obstrução estão relacionadas a formação de trombos, fibrina e precipitação das drogas. As obstruções ocorridas são, em sua maioria, ocasionadas por uma manutenção ou manipulação mal conduzida. Portanto a principal conduta nesses casos é a lavagem com solução salina (OLIVEIRA; FONTES; SILVA, 2019).  Quanto maior for o tempo de formação de coágulo, sua remoção se tornará difícil prejudicando o tempo de vida do cateter. (SOUZA et al., 2013).

Boas práticas de uso aumentam a vida útil dos cateteres, minimizando a ocorrência de eventos adversos e complicações associadas, sejam elas complicações mecânicas ou infecciosas. São inúmeras as contribuições da enfermagem para pacientes com esses dispositivos, tais como a punção segura, cuidados e troca do curativo, a manutenção do sistema fechado, são medidas imprescindíveis para a prevenção de infecção do cateter totalmente implantado, essas ações visam a uma assistência segura para o paciente oncohematológico, já tão fragilizado pela doença e tratamento (OLIVEIRA; RODRIGUES, 2016).

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Comparado a outros tipos de acesso venoso, o Port-a-cath apresenta vantagens, como menor risco de infecção, menor risco de trombose, menor manuseio, permite tratamento ambulatorial, não interfere nas atividades diárias do paciente, preserva a rede venosa periférica, diminui o sofrimento e estresse dos pacientes, que muitas vezes são submetidos à repetidas punções venosas sem sucesso.

Por conseguinte, a punção desse dispositivo é atividade privativa do enfermeiro, pois ele é o profissional da equipe de enfermagem habilitado para executar cuidados de enfermagem de maior complexidade técnica e que exijam conhecimentos de base científica. O procedimento realizado é de grande importância para o paciente oncohematológico, já que o enfermeiro é capacitado para manusear todo o sistema do CVC-TI, realizando punções, infusões, curativos e outros procedimentos pertinentes.

Diante desse trabalho podemos concluir que os profissionais da referida instituição de pesquisa estão qualificados e são competentes para o manuseio do cateter porth a cath, uma vez que a maioria das etapas está em conformidade com as boas práticas. Não obstante, vale ressaltar que é necessário lançar mão da educação permanente para os profissionais, tendo em vista que as práticas estão constantemente passíveis de atualizações para a melhoria do cuidado e segurança do paciente.


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANVISAAgência Nacional de Saúde
CEPComitê de Ética e Pesquisa
HUWCHospital Universitário Walter Cantídio
OMSOrganização Mundial da Saúde
TCLETermo de Consentimento Livre e Esclarecido
UNACONUnidade Assistência de Alta Complexidade em Oncologia
CVC-TICateter Venoso Totalmente Implantado

7 REFERÊNCIAS

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1, 2Universidade Estadual do Ceará