SEDAÇÃO CONSCIENTE COM ÓXIDO NITROSO/OXIGÊNIO EM PACIENTES COM ANSIEDADE

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7994365


Maissa Ellen Andrade de Lima1
Andréia Ferreira do Carmo2


Resumo: O medo do cirurgião-dentista é algo comum, o que culmina em pacientes bastante ansiosos na ida ao consultório odontológico. Uma alternativa para facilitar o manejo e o comportamento do paciente é utilizando a técnica de sedação consciente com óxido nitroso e oxigênio, onde o intuito é manter o paciente mais relaxado e seguro para realizar o tratamento odontológico. Objetivo: O presente trabalho tem por objetivo discutir como a sedação consciente com óxido nitroso e oxigênio pode auxiliar no atendimento odontológico em pacientes com ansiedade. Metodologia: Realizou-se um estudo de uma revisão de literatura onde foram pesquisados livros, dissertações e artigos científicos selecionados através de busca nas seguintes bases de dados: Google Acadêmico e SCIELO. Discussão: A utilização do óxido nitroso e oxigênio proporciona um estado relaxante no paciente, no qual o limiar de medo diminui, facilitando o condicionamento na cadeira odontológica. A técnica deve ser conduzida por uma profissional habilitado e qualificado a fim de proporcionar uma sedação segura e eficaz, resultando em um paciente menos ansioso, nervoso e tenso, tornando o atendimento humanizado. Considerações finais: A sedação consciente com óxido nitroso é uma técnica eficaz para o controle do comportamento de pacientes com ansiedade proporcionando diversos benefícios para o paciente e o cirurgião-dentista. 

Palavras-chaves: Sedação consciente. Óxido nitroso e oxigênio. Paciente com ansiedade.

1. Introdução

Sabe-se que a odontologia está associada como fonte de medo desde sua origem e, em consequência disso, o tratamento odontológico fica vinculado ao sofrimento psicológico e ao desconforto e ansiedade do paciente. Em virtude desse pensamento, várias pessoas acabam por postergar as visitas ao consultório ou até mesmo deixam de realizá-las. O resultado dessa atitude culmina na piora do quadro clínico, podendo acarretar casos irreversíveis de patologias orais.

Dessa forma, observa-se a necessidade de uma ferramenta que auxilie o cirurgião-dentista no condicionamento desse paciente, no intuito de obter a redução do quadro de ansiedade e medo, proporcionando o relaxamento adequado, de forma que possa facilitar a realização dos procedimentos odontológicos requeridos pelo mesmo de maneira segura e eficaz.

O óxido nitroso oxigênio é umas das técnicas favoritas utilizadas nesse tipo de situação pelo seu excelente potencial de relaxamento empregado de forma a manter o paciente consciente, facilitando o manejo físico e psicológico e proporcionando conforto. Portanto, o seguinte trabalho tem o objetivo de descrever a importância e a otimização do tempo de atendimento, salientando entender como a ansiedade está relacionada com a odontologia e entender como é utilizada a sedação inalatória com o óxido nitroso e oxigênio no atendimento odontológico

Ademais, vale ressaltar que a indicação desse método apresentada aos acadêmicos tende a facilitar e otimizar a conduta odontológica em clínica e a relação dentista/paciente, tanto para adultos, como para crianças, considerando que a odontologia ainda provoca muito temor e receio entre os pacientes devido a todo o estigma existente com relação ao assunto, mesmo com toda a evolução de métodos que favoreçam o conforto deles. 

2. Desenvolvimento

2.1 Metodologia

O tipo de pesquisa realizada foi uma revisão de literatura, onde foram pesquisados livros, dissertações e artigos científicos selecionados através de busca nas seguintes bases de dados: Google Acadêmico e SCIELO. O período dos artigos pesquisados foram os trabalhos publicados nos últimos 15 anos, nos idiomas português e inglês. Os critérios de exclusão foram todos os artigos que não complementam a pesquisa em estudo, outros idiomas, e/ou em outros períodos. As palavras-chaves utilizadas na busca foram: Sedação consciente, oxido nitroso, pacientes com ansiedade odontológica.

2.2 Discussão

Muitos pacientes ansiosos evitam de ir ao consultório odontológico em busca de tratamento dental, tornando-se cada vez mais difícil ter uma saúde bucal adequada. Para a odontologia, a ansiedade é vista como preocupação, tensão e nervosismo, trazendo uma sensação desagradável. Diante da ansiedade, a dor fica mais difícil de ser controlada, pois seu limiar está diminuído, podendo surgir o estresse (GAUDERETO, 2008, p.118).

A administração e condicionamento desses sentimentos é fundamental para a conduta clínica do cirurgião-dentista, uma vez que, desmistificando o processo curativo, pode-se obter mais tranquilidade durante a realização dos procedimentos odontológicos, visando a qualidade e segurança do tratamento.

Considerando que as práticas odontológicas eram, inicialmente, primitivas e rudimentares, visto que a odontologia representava penalidade e tortura para quem transgredisse as leis, fez com que se atribuísse o estereotipo negativo em relação ao cirurgião-dentista. Traumas advindos de tratamentos anteriores ou relatos de experiências negativas eram comuns e ainda estão presentes nos dias de hoje em algumas situações (SANGALETTE et al., 2020, p.493).

O medo subjetivo associado ao cirurgião-dentista desencadeia uma onda de ansiedade frente a qualquer tratamento odontológico, podendo interferir no processo curativo e até mesmo a procura por esse serviço, dessa forma, para melhorar o atendimento e garantir o conforto do paciente, são empregadas várias técnicas de manejo para o controle da ansiedade, como a sedação medicamentosa via oral, a sedação inalatória consciente com óxido nitroso, a sedação venosa e a anestesia geral. 

Desta maneira, cabe ao cirurgião-dentista conhecer os métodos farmacológicos e suas características, no intuito de facilitar o atendimento e promover o bem-estar do paciente, além de empregar corretamente o uso dos mesmos, de acordo com a necessidade apresentada pelo paciente. 

Para facilitar o condicionamento do cirurgião-dentista no manejo dos pacientes, a odontologia avançou nos meios farmacológicos para os tratamentos odontológicos, como pode-se observar no quadro abaixo, onde constam outros tipos de medicamentos utilizados em pacientes ansiosos.

Na clínica odontológica, os benzodiazepínicos são os ansiolíticos mais utilizados para obter a sedação mínima via oral, pela eficácia, boa margem de segurança clínica e facilidade posológica (ANDRADE, 2014, p.24). Seu uso corroborando para que deixe o paciente mais tranquilo e cooperativo na cadeira odontológica. Os critérios utilizados para a posologia dependem dos dados da anamnese do paciente, como: idade, estado físico, tipo de procedimento e duração.

Segundo Monteiro (2013), os gases utilizados na sedação foram descobertos pelo inglês Joseph Priestly por volta de 1770. Os primeiros relatos referentes a inalação foram publicados em 1800 pelo Humprey Davy, o primeiro a inalar o oxido nitroso e observar o alívio da dor de dente. Dessa maneira o gás foi denominado “gás hilariante”. 

Apesar do custeio do óxido nitroso e oxigênio (N2O) ser relativamente alto, seu uso em consultório odontológico otimiza tempo de atendimento, dado a praticidade de ter um paciente calmo e controlado, facilita a conduta clínica com o mesmo e, por essa razão, o número de cirurgiões-dentistas que adquiriram o uso de sedação com oxido nitroso aumentou gradativamente nos consultórios. 

A técnica de sedação inalatória demonstra como vantagem os poucos efeitos adversos e a não toxicidade, onde apresentam baixos acontecimentos do mesmo, o tempo ágil da latência e recuperação, duração e intensidade controladas pelo profissional habilitado, a administração individualizada correspondente a cada necessidade.

O conselho regional de odontologia (CRO) estabeleceu que a técnica de sedação inalatória deve ser conduzida por um profissional qualificado na sedação, a fim de proporcionar uma odontologia humanizada, terapêutica, segura e eficiente (GIORDANO, et al, 2020). 

O motivo pelo qual é necessário que o cirurgiões-dentistas sejam submetidos ao treinamento específico para o uso dessa técnica é que o óxido nitroso necessita ser misturado com o oxigênio em quantidades exatas de cada componente. Durante todo o procedimento, é realizado o acompanhamento do paciente com o auxílio de um oxímetro, para a monitoração do mesmo.

O N2O atua no sistema nervoso, com mecanismo de ação ainda não elucidado, promovendo uma leve depressão do córtex cerebral (LADEWIG et al., 2016, p.92). Não substitui a anestesia local, mas eleva o limiar de percepção a dor, tornando o paciente mais tranquilo e cooperativo durante o procedimento (ANDRADE, 2014, p.28). O paciente fica consciente, mas com o corpo totalmente relaxado, evitando desconforto durante o procedimento, bem como reduz significativamente a chance de acidentes decorrentes de movimentações bruscas.

Segundo Ladewig et al. (2016) a sedação consciente é um grau de depressão mínima da consciência na qual, a habilidade do paciente de manter a respiração espontânea, contínua e responder apropriadamente à estimulação física ou comando verbal são mantidos. A técnica induz o relaxamento, acompanhado de leve aumento da temperatura corporal, adormecimento de mãos e pês, formigamento peribucal e euforia (SOARES et al., 2013, p02).

A anamnese é um ponto chave no uso dessa técnica. É através dela que serão coletadas as informações pessoais inerentes ao paciente, como a história médica e a coleta e avaliação dos sinais vitais (pressão arterial, frequência cardíaca e respiratória). Conforme o estudo dessas informações concedidas, o profissional pode avaliar se o mesmo está ou não indicado para o uso do N2O.

Estão indicados para utilização do N2O pacientes: ansiosos, pacientes com necessidades especiais, pacientes com medos, traumas ou hiperativos. As contraindicações são a presença de obstrução das vias superiores (infecções respiratórias e desvio de septo), grávidas, doenças pulmonares ou psicóticos (SOARES et al., 2013). Pacientes com problemas sistêmicos, onde inclui doenças cardiovasculares e distúrbios convulsivos também são contraindicados para o uso dessa técnica.  

 Ademais, o uso do óxido nitroso oxigênio apresenta como desvantagem o alto investimento inicial, ocupação de espaço clínico para os equipamentos e a necessidade do curso teórico e prático para habilitação (PICCIANI et al., 2014). Outra desvantagem é o uso para pacientes infantis, em razão da cooperação e aceitação da criança, no qual é mais complicado ter o controle no atendimento odontológico.

A sedação consciente é utilizada em pacientes com ansiedade através da mistura do óxido nitroso e oxigênio em conjunto com uma máscara nasal que permite que o cirurgião dentista selecione a concentração de cada um dos gases de acordo com cada paciente para ter a sedação desejada e ideal. Vale ressaltar a importância da manipulação adequada para garantir a oxigenação correta ao paciente. O óxido nitroso não deve ser usado em concentração maior a 70%, sendo os 30% restantes de oxigênio. (SOARES et al., 2013).

Como mostrado na figura 1, observa-se os cilindros de oxigênio e o de óxido nitroso em suas respectivas cores, onde é utilizado em conjunto com uma máscara nasal, que deve ser de um material flexível, confortável e ter um tamanho adequado para cada paciente (adultos/crianças) como mostrado na figura 2.

Figura 1 – Cilindros de oxigênio e óxido nitroso com suas cores se segurança.

Fonte: Ladewig et al. (2016, p.94).

Figura 2- Máscara nasal flexível.

Fonte: Machado et al. (2022, p.103).

Sabe-se que os atendimentos odontológicos em pacientes ansiosos podem demorar um pouco mais do que o esperado, pensando nisso, uma forma de condicionar o paciente a se sentir mais confortável no ambiente da clínica é priorizar pelo atendimento humanizado, disponibilizar e fazer o uso de músicas agradáveis e iluminação adequada, proporcionando um local calmo e acolhedor.

Quando utilizado de forma correta, a depressão do sistema nervoso gera uma redução de movimentos inesperados; permitindo que o profissional tenha um tempo clínico estendido para executar seu procedimento sem intercorrências (CAMARGO, 2020, p.15), reduzindo a necessidade de gasto gerais do consultório (luz, matérias de consumo e outros, por exemplo), além de ser uma prática totalmente segura e eficaz. 

Promover o atendimento odontológico através desse método implica na melhor qualidade de vida e saúde bucal desse público, tendo que em vista que, na ausência de fatores estressantes, o referindo tende a deixar de ver um perigo em potencial no ambiente odontológico, passando a relacionar a boa saúde bucal com uma experiência positiva.

3. Conclusão 

O uso do da sedação consciente com óxido nitroso e oxigênio corrobora para o bom condicionamento do paciente com ansiedade e facilita o tratamento do mesmo. Ressaltando que a administração dessa técnica também é eficiente pelo tempo de trabalho que proporciona, bem como pelo baixo nível de toxidade, a administração do óxido nitroso e oxigênio é totalmente segura. Dessa forma, como observado anteriormente, o uso da sedação na conduta dos pacientes ansiosos tem se mostrado eficaz na minimização do medo e tempo em consultório odontológico.

Referências

ANDRADE, E. Terapêutica medicamentosa em odontologia. São Paulo: artes médicas, 2014.

CAMARGO, P. SEDAÇÃO MEDICAMENTOSA EM ODONTOLOGIA: revisão de literatura.

DA SILVA MACHADO, A. A UTILIZAÇÃO DO ÓXIDO NITROSO NA SEDAÇÃO CONSCIENTE EM PACIENTES PEDIÁTRICOS NA ODONTOLOGIA. Cadernos de Odontologia do UNIFESO, v. 4, n. 1, 2022.

DE MELONARDINO, A.; ROSA, D.; GIMENES, M. Ansiedade: detecção e conduta em odontologia. Revista Uningá, v. 48, n. 1, 2016.

GAUDERETO, O. et al. Controle da ansiedade em Odontologia: enfoques atuais. Revista Brasileira de Odontologia, v. 65, n. 1, p. 118, 2008.

GIORDANO, C. et al. Sedação inalatória com óxido nitroso para assistência odontológica durante a pandemia de COVID-19. Revista Faipe, v. 10, n. 1, p. 69-84, 2020.

LADEWIG, V. et al. Sedação consciente com óxido nitroso na clínica odontopediátrica. Odontologia Clínico-Científica (Online), v. 15, n. 2, p. 91-96, 2016.

MONTEIRO, S. Sedação inalatória com óxido nitroso no paciente infantil. 2013. Tese de Doutorado. [sn].

MORETTO, M. et al. Conhecimento dos alunos de odontologia sobre o uso da sedação consciente com óxido nitroso. Journal of Multidisciplinary Dentistry, v. 10, n. 1, p. 14-8, 2020.

PICCIANI, B. et al. Sedação inalatória com óxido nitroso/oxigênio: uma opção eficaz para pacientes odontofóbicos. Revista Brasileira de Odontologia, v. 71, n. 1, p. 72, 2014.

SANGALETTE, B. et al. Sedação consciente com óxido nitroso e sua associação com ansiolíticos: aplicabilidade em Odontopediatria. ARCHIVES OF HEALTH INVESTIGATION, v. 9, n. 5, p. 493-497, 2020.

SOARES, D. et al. Sedação com óxido nitroso como adjuvante em procedimentos odontológicos. Rev. para. med, 2013.


1Acadêmico do Curso de Odontologia da Faculdade Anhanguera de Macapá.

2Docente do Curso de Odontologia da Faculdade Anhanguera de Macapá.