MENTAL HEALTH OF RIVERSIDE PEOPLE IN THE PIRIQUITAQUARA COMMUNITY LOCATED ON COMBU ISLAND: A STUDY OF COMMUNITY WELL-BEING.
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10241170956
Alana Gabrielly F. de Azevedo[1]
Amanda Elli de Castro Correa[2]
Bianca de Sena Felgueiras[3]
Renata Márjoire Souza Silva[4]
Thais de Souza Carvalho[5]
Vítor Gabriel Teixeira Barbosa[6]
Valber Luiz Farias Sampaio[7]
Resumo
A presente pesquisa explora a saúde mental de uma comunidade ribeirinha localizada na Ilha do Combu, focando nas experiências e desafios enfrentados pelos moradores da comunidade de Piriquitaquara. A investigação se concentra nas questões de saúde mental que emergem nesse contexto, considerando a complexidade das interações entre fatores socioeconômicos, culturais e ambientais que moldam a vida dos ribeirinhos. A análise se aprofunda nas particularidades socioculturais e históricas da comunidade, destacando como essas características influenciam a saúde emocional dos indivíduos. Além disso, o estudo examina o impacto das políticas públicas sobre a saúde mental dos ribeirinhos, avaliando a eficácia das intervenções governamentais e a sua adequação às necessidades locais. A pesquisa também aborda a noção de bem-estar comunitário, discutindo definições e perspectivas que ajudam a entender como os ribeirinhos percebem seu estado de saúde mental e qualidade de vida. Por meio de uma abordagem qualitativa aplicada, que inclui entrevistas e questionários, o artigo busca mapear os fatores de risco e proteção que afetam a saúde emocional dos moradores, oferecendo uma visão abrangente das dinâmicas sociais e ambientais que influenciam o bem-estar da comunidade. Os resultados alcançados não apenas contribuíram para o entendimento acadêmico sobre saúde mental em comunidades ribeirinhas, mas também forneceram subsídios para a formulação de políticas públicas mais eficazes e estratégias de intervenção adequadas às realidades locais.
Palavras-chave: Saúde Mental. Ribeirinhos. Piriquitaquara. Bem-Estar Comunitário. Políticas Públicas.
Abstract
The present research explores the mental health of a riverside community located on Combu Island, focusing on the experiences and challenges faced by the residents of the Piriquitaquara community. The investigation concentrates on the mental health issues that emerge in this context, considering the complexity of the interactions between socioeconomic, cultural, and environmental factors that shape the lives of the riverside dwellers. The analysis delves into the sociocultural and historical particularities of the community, highlighting how these characteristics influence the emotional health of individuals. Furthermore, the study examines the impact of public policies on the mental health of the riverside inhabitants, assessing the effectiveness of governmental interventions and their adequacy to local needs. The research also addresses the notion of community well-being, discussing definitions and perspectives that help understand how the riverside dwellers perceive their mental health status and quality of life. Through an applied qualitative approach, which includes interviews and questionnaires, the article seeks to map the risk and protective factors that affect the emotional health of the residents, offering a comprehensive view of the social and environmental dynamics that influence the community’s well-being. The results achieved not only contributed to academic understanding of mental health in riverside communities but also provided support for the formulation of more effective public policies and intervention strategies suitable for local realities.
Keywords: Mental Health. Ribeirinhos. Piriquitaquara. Community Well-Being. Public Policies.
1 INTRODUÇÃO
A saúde mental das populações ribeirinhas tem sido um tema pouco explorado, apesar da importância do bem-estar psicológico para o desenvolvimento das comunidades isoladas. A Ilha do Combu, localizada na região amazônica, apresenta um cenário peculiar, onde fatores ambientais, sociais e culturais desempenham um papel crucial na qualidade de vida de seus habitantes. Dada a sua localização e o acesso limitado aos serviços de saúde, os ribeirinhos enfrentam desafios diários que vão além da sobrevivência física, impactando diretamente sua saúde mental.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (2001), define saúde mental não apenas como a ausência de doenças mentais, mas como um estado de completo bem-estar físico, mental e social. Essa definição amplia a compreensão do que constitui a saúde mental e ressalta a importância de considerar fatores sociais e ambientais que impactam o bem-estar psicológico. A OMS também afirma que saúde mental é um componente essencial da saúde geral, e sua promoção deve ser uma prioridade em políticas públicas. No contexto ribeirinho, onde a relação com o ambiente e os recursos naturais é intrínseca ao modo de vida, essa promoção se torna ainda mais crítica.
Estudos recentes indicam que comunidades ribeirinhas, que frequentemente enfrentam isolamento geográfico e condições socioeconômicas precárias, são particularmente suscetíveis a problemas de saúde mental. De acordo com Silva et al. (2018), o acesso restrito a serviços de saúde, associado à vulnerabilidade social e à degradação ambiental, agrava o estado de saúde mental dos ribeirinhos. Além disso, Santos (2020) aponta que a falta de apoio social e a insegurança econômica são fatores determinantes para o desenvolvimento de transtornos como ansiedade e depressão nessas populações. A literatura evidencia que a interação com o meio ambiente, que é central para a identidade cultural dos ribeirinhos, pode atuar como um fator de proteção ou risco para a saúde mental, dependendo das condições em que ocorre (Cruz & Almeida, 2019).
Este estudo visa investigar o estado de saúde mental dos ribeirinhos, com o objetivo de mapear as principais questões de saúde mental enfrentadas pela comunidade, analisar os fatores socioeconômicos, culturais e ambientais que influenciam essa saúde, e identificar os fatores de risco e proteção que impactam a saúde emocional dos moradores da comunidade de Piriquitaquara. A literatura aponta que fatores como o isolamento geográfico, a pobreza e a falta de acesso a serviços de saúde são determinantes significativos para a saúde mental de populações ribeirinhas (Silva et al., 2018; Santos, 2020). Nesse sentido, a problemática central deste estudo é: Como as condições socioeconômicas, o isolamento geográfico e as experiências de vida dos ribeirinhos da comunidade Piriquitaquara impactam a saúde mental dessa comunidade?
Para abordar essa questão, foi adotada uma metodologia qualitativa aplicada, com a aplicação de questionários, entrevistas semiestruturadas e observação participativa. Esses métodos são amplamente reconhecidos por sua capacidade de proporcionar uma compreensão aprofundada dos fenômenos sociais (Minayo, 2014). A coleta de dados focou em aspectos como níveis de estresse, ansiedade, depressão, apoio social e condições de vida, permitindo uma análise holística do bem-estar dos ribeirinhos. A relevância deste estudo reside na sua contribuição para a formulação de intervenções e políticas públicas que considerem as especificidades e necessidades da saúde mental desta comunidade, alinhando-se às diretrizes da OMS sobre a promoção da saúde mental em populações vulneráveis.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O estudo da saúde mental dos ribeirinhos na comunidade Piriquitaquara, localizada na Ilha do Combu, demanda uma compreensão profunda das particularidades socioculturais, históricas e geográficas dessa população. Os ribeirinhos são comunidades tradicionais que vivem em regiões de difícil acesso na Amazônia, e suas rotinas e modos de vida são diretamente influenciados pelo ambiente fluvial e pela relação com a natureza. A saúde mental dessas populações está interligada a esses fatores, exigindo uma abordagem holística que contemple aspectos biopsicossociais.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (2001), saúde mental é um estado de bem-estar no qual o indivíduo percebe suas próprias habilidades, pode lidar com os estresses normais da vida, trabalhar de forma produtiva e contribuir para sua comunidade. Contudo, no contexto ribeirinho, a saúde mental precisa ser compreendida levando em consideração a cultura, os modos de vida e as relações socioambientais, neste sentido, pesquisar neste meio a problemática aqui apresentada é uma forma de avaliarmos como atualmente esta comunidade se encontra em relação a saúde mental e se existem formas de acompanhamento dentro dessa perspectiva.
- Saúde Mental em Comunidades Ribeirinhas
A saúde mental nas comunidades ribeirinhas é um tema de crescente relevância no contexto das políticas públicas de saúde, especialmente considerando as particularidades culturais e socioeconômicas dessas populações. As comunidades amazônicas, frequentemente marginalizadas, enfrentam desafios únicos que impactam diretamente o bem-estar psicológico de seus moradores. A literatura aponta que fatores como a precariedade dos serviços de saúde, a falta de acesso a recursos básicos e as condições de vida adversas são determinantes significativos para a saúde mental dessas populações.
Belloc (2023) destaca a importância da promoção e proteção da saúde mental nas comunidades amazônicas, enfatizando que a saúde não deve ser entendida apenas como a ausência de doenças, mas como um estado de bem-estar físico, mental e social. O autor argumenta que a construção de um modelo de saúde que considere as especificidades culturais e as realidades locais é fundamental para o desenvolvimento de intervenções eficazes. Ele sugere que a saúde mental deve ser integrada nas estratégias de saúde pública, promovendo um olhar mais amplo sobre o bem-viver das comunidades.
Por outro lado, Maués dos Santos (2023) aborda as rotinas familiares de ribeirinhos e como essas dinâmicas influenciam a saúde mental. A autora aponta que as condições de vida, como o acesso limitado a serviços de saúde e a insegurança alimentar, afetam as relações familiares e, consequentemente, o bem-estar psicológico. A pesquisa revela que a falta de recursos e o estresse ambiental geram um impacto significativo nas interações familiares, contribuindo para o aumento de problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão.
Além disso, a literatura aponta que a vulnerabilidade social e a exclusão econômica são fatores que exacerbam a situação da saúde mental nas comunidades ribeirinhas. Estudos mostram que a marginalização dessas populações em relação ao acesso a serviços essenciais, incluindo saúde mental, perpetua um ciclo de desamparo e sofrimento psicológico (SILVA et al., 2022). Portanto, é imperativo que políticas públicas sejam desenvolvidas com uma abordagem sensível às necessidades específicas dessas comunidades, considerando suas realidades e promovendo a inclusão social.
A intervenção em saúde mental deve ser multidisciplinar e envolver não apenas profissionais de saúde, mas também educadores, assistentes sociais e a própria comunidade. A formação de redes de apoio e o fortalecimento da participação comunitária são estratégias que se mostram eficazes na promoção da saúde mental. O trabalho colaborativo entre diferentes setores pode facilitar a construção de um ambiente que favoreça o bem-estar emocional e social das populações ribeirinhas.
A saúde mental em comunidades ribeirinhas demanda uma abordagem integrada que considere as especificidades culturais, sociais e econômicas dessas populações. A promoção do bem-estar mental deve ser uma prioridade nas políticas de saúde pública, assegurando que as vozes e necessidades dos ribeirinhos sejam ouvidas e atendidas. A partir dos estudos de Belloc e Maués dos Santos, é possível afirmar que a construção de um modelo de saúde inclusivo e culturalmente sensível é fundamental para a melhoria da qualidade de vida e da saúde mental nas comunidades ribeirinhas.
- Bem-Estar Comunitário: Definições e Perspectivas
O conceito de bem-estar comunitário transcende as noções individuais de saúde e qualidade de vida, englobando as dinâmicas coletivas que promovem o desenvolvimento social, econômico e ambiental de uma comunidade. Conforme Wagley (1988), o bem-estar nas comunidades amazônicas está diretamente ligado à organização sociocultural, que determina as formas como os indivíduos se relacionam com o ambiente e entre si, moldando práticas sociais que garantem a sustentabilidade de suas formas de vida. Nas comunidades ribeirinhas, o bem-estar comunitário assume características singulares, pautadas pela interdependência entre os membros, pela valorização dos recursos naturais e pela preservação de saberes tradicionais.
No contexto da comunidade do Igarapé do Piriquitaquara, o bem-estar comunitário está associado à coesão social e à capacidade de enfrentar coletivamente os desafios impostos pelas condições geográficas e pela ausência de políticas públicas eficazes. A integração dos moradores em práticas de apoio mútuo é um aspecto central para a manutenção da vida comunitária, como destaca Belloc (2023), ao apontar que “a interconexão entre saúde física, mental e social nas comunidades amazônicas é essencial para a criação de ambientes sustentáveis, onde os laços sociais atuam como catalisadores do bem-estar coletivo”.
Entretanto, essa coesão social enfrenta pressões externas que comprometem a sustentabilidade do bem-estar comunitário. A precariedade do acesso a serviços essenciais, como saúde e educação, e a falta de infraestrutura adequada para o abastecimento de água e saneamento básico, intensificam as vulnerabilidades socioeconômicas. De acordo com Maués (2022), a ausência de políticas públicas que valorizem as especificidades culturais e territoriais das populações ribeirinhas dificulta a consolidação de um modelo de desenvolvimento comunitário sustentável, perpetuando ciclos de exclusão e desigualdade.
Apesar das adversidades, o bem-estar comunitário pode ser fortalecido por meio de iniciativas que promovam a participação ativa dos moradores na construção de soluções locais. Segundo Belloc (2023), a implementação de estratégias baseadas no protagonismo comunitário e na valorização de práticas tradicionais é um caminho viável para superar os desafios enfrentados por essas populações. Essas estratégias incluem programas de capacitação voltados à saúde preventiva, projetos de educação ambiental e iniciativas que estimulem a segurança alimentar, como a criação de hortas comunitárias e o manejo sustentável de recursos naturais.
Outra perspectiva importante é o fortalecimento de redes de colaboração entre comunidades, governos e organizações não governamentais. A criação de parcerias estratégicas pode viabilizar a implantação de tecnologias sociais adaptadas às condições locais, como sistemas de captação e tratamento de água, redes de telemedicina e transporte escolar acessível. Nesse sentido, Maués (2022) argumenta que “o diálogo entre os saberes tradicionais e o conhecimento técnico-científico é essencial para a promoção de políticas públicas que respeitem as particularidades das comunidades ribeirinhas e que favoreçam o fortalecimento das estruturas comunitárias”.
Portanto, o bem-estar comunitário na Amazônia deve ser compreendido como um fenômeno multidimensional, que requer uma abordagem integrada e sensível às especificidades culturais, sociais e ambientais das populações ribeirinhas. Somente por meio de ações coordenadas, fundamentadas na escuta ativa dos moradores e no respeito às suas formas de organização, será possível promover o desenvolvimento sustentável e a equidade social nessas comunidades. A valorização do bem-estar comunitário, conforme apontam Wagley (1988) e Belloc (2023), é um passo crucial para a transformação das relações sociais e ambientais na região, garantindo não apenas a sobrevivência, mas a dignidade e o florescimento humano nas margens dos rios amazônicos.
- Aspectos Socioculturais, Históricos, Econômicos e Geográficos da Comunidade Ribeirinha
As comunidades ribeirinhas da Amazônia possuem uma riqueza cultural e uma relação intrínseca com o ambiente natural que as cerca. Entretanto, diversos fatores socioculturais, históricos, econômicos e geográficos têm impactado diretamente a saúde mental dessa população que moldam suas condições de vida (Wagley, 1953; Loureiro, 1992).
As comunidades ribeirinhas amazônicas apresentam uma organização social e cultural particular, marcada pela forte relação com os recursos naturais e pelas atividades de subsistência (Becker, 1990). Segundo Loureiro (1992), o processo de colonização e reforma agrária na região impactou significativamente as formas de organização social e produtiva dessas localidades, gerando transformações que afetaram a saúde mental dos moradores. No entanto, as precariedades estruturais, o isolamento geográfico e a negligência histórica de políticas públicas acentuam as vulnerabilidades sociais e econômicas, afetando a saúde mental dessa população de forma significativa.
Do ponto de vista histórico e sociocultural, os ribeirinhos vivenciam uma integração entre tradições herdadas de gerações anteriores e as pressões da modernidade. Segundo Wagley (1988), essas comunidades são caracterizadas por uma organização social baseada na cooperação e no compartilhamento de recursos, o que reforça laços de solidariedade e um senso de pertencimento. Contudo, as transformações econômicas e a expansão das cidades próximas frequentemente impõem novos desafios, como o aumento da desigualdade e a perda de territórios. Essas mudanças estruturais afetam a saúde mental dos ribeirinhos, especialmente no que tange à sensação de insegurança e à fragilização das redes comunitárias, que, historicamente, são fundamentais para a resiliência diante das adversidades.
Os fatores econômicos também exercem uma influência central na saúde mental dessa população. A economia ribeirinha, tradicionalmente baseada na pesca, na agricultura de subsistência e no extrativismo, enfrenta dificuldades impostas tanto pelas limitações de acesso ao mercado quanto pela exploração predatória de recursos naturais. Estudos como os de Maués (2022) apontam que a instabilidade econômica, agravada pela ausência de infraestrutura e políticas de fomento, gera estresse constante nos moradores, especialmente entre os provedores familiares. A insegurança alimentar, a imprevisibilidade da renda e a falta de oportunidades para os jovens intensificam o risco de problemas como ansiedade e depressão. Belloc (2023) destaca que, em regiões como a Amazônia, as condições econômicas adversas são frequentemente associadas a uma maior prevalência de transtornos mentais, exacerbando desigualdades que já estão enraizadas no contexto socioeconômico.
Além disso, o isolamento geográfico das comunidades ribeirinhas é um fator determinante para a saúde mental. A dificuldade de acesso a serviços essenciais, como saúde e educação, reforça o sentimento de exclusão social e limita a capacidade de enfrentamento das adversidades. Na comunidade do Igarapé de Piriquitaquara, por exemplo, conforme relatado por Belloc (2023), os moradores enfrentam longas distâncias para chegar aos centros urbanos e, muitas vezes, têm acesso limitado a atendimentos de saúde mental. Essa situação agrava problemas que poderiam ser tratados precocemente, como transtornos de ansiedade, depressão e até mesmo uso abusivo de substâncias, que são comuns em áreas de vulnerabilidade social.
Outro aspecto relevante para a saúde mental dos ribeirinhos é a relação com o ambiente natural, que tanto promove uma sensação de pertencimento quanto gera desafios específicos. A conexão simbólica e prática com os rios, por exemplo, é frequentemente uma fonte de tranquilidade e equilíbrio emocional para essas comunidades, como observado por Loureiro (1992). No entanto, a degradação ambiental, a poluição dos cursos d’água e o avanço de empreendimentos como hidrelétricas e mineradoras representam ameaças que afetam não apenas os meios de subsistência, mas também a saúde mental. Segundo Belloc (2023), a perda de territórios ou de recursos ambientais essenciais, como a pesca, pode gerar um sentimento de luto coletivo, comprometendo a identidade cultural e emocional dos moradores.
Portanto, a análise dos aspectos socioculturais, históricos, econômicos e geográficos revela que a saúde mental dos ribeirinhos está profundamente interligada a suas condições de vida e ao contexto em que estão inseridos. A negligência histórica e a ausência de políticas públicas comprometem o bem-estar dessas comunidades, que, apesar das adversidades, demonstram uma capacidade única de resiliência e adaptação. Para Belloc (2023), a implementação de ações que integrem a dimensão comunitária, o acesso a serviços essenciais e a valorização cultural é fundamental para transformar a realidade dessas populações, promovendo um bem-estar mental que esteja em consonância com suas necessidades e especificidades regionais.
- Impacto de Políticas Públicas na Saúde Mental dos Ribeirinhos
O A saúde mental das populações ribeirinhas constitui uma dimensão relevante para o desenvolvimento de políticas públicas que considerem as especificidades regionais e culturais desses grupos. Situados em áreas de difícil acesso, muitas vezes com infraestrutura precária e limitada presença do Estado, os ribeirinhos enfrentam desafios singulares que afetam diretamente seu bem-estar psicológico. Esses desafios, frequentemente negligenciados pelas políticas públicas, intensificam a vulnerabilidade dessa população, sobretudo no que diz respeito à saúde mental.
As comunidades ribeirinhas vivem em estreita relação com o ambiente natural, tendo suas atividades econômicas e práticas sociais diretamente ligadas ao meio ambiente. Embora esse modo de vida seja frequentemente descrito como harmonioso, ele também pode gerar situações de vulnerabilidade, como insegurança alimentar, isolamento geográfico e dificuldade de acesso a serviços básicos de saúde. Segundo Buss e Pellegrini Filho (2007), os determinantes sociais de saúde, como condições econômicas, sociais e culturais, influenciam profundamente o estado de saúde mental das populações, especialmente daquelas que vivem em contextos de exclusão.
Além disso, a estrutura social dessas comunidades é marcada por relações familiares e comunitárias estreitas, que podem tanto servir de apoio emocional quanto amplificar tensões internas. Estudos apontam que a ausência de políticas públicas voltadas para a saúde mental em áreas ribeirinhas intensifica as dificuldades enfrentadas por esses grupos. A falta de assistência especializada, aliada ao estigma associado aos transtornos mentais, contribui para a invisibilidade do problema (MINAYO, 2006).
Historicamente, as políticas públicas no Brasil têm priorizado os grandes centros urbanos, deixando as populações rurais e ribeirinhas em situação de desvantagem. A saúde mental, em particular, é uma área que sofre com a desigualdade na distribuição de recursos e profissionais especializados. De acordo com Amarante (2017), a Reforma Psiquiátrica no Brasil foi um marco importante para a desconstrução do modelo hospitalocêntrico, mas suas ações ainda são insuficientes para alcançar populações periféricas, como as comunidades ribeirinhas.
A Estratégia Saúde da Família (ESF), ampliada para as regiões ribeirinhas por meio da Estratégia Saúde da Família Fluvial, representa um avanço na tentativa de levar atenção primária a esses territórios. Contudo, a saúde mental ainda não é adequadamente integrada nessas ações. Segundo Paim et al. (2011), a universalidade do Sistema Único de Saúde (SUS) enfrenta desafios de implementação, especialmente em contextos em que o acesso físico e logístico aos serviços de saúde é limitado.
Outro aspecto importante é a falta de formação específica dos profissionais que atuam nessas comunidades. A ausência de capacitação voltada para as realidades culturais e sociais das populações ribeirinhas pode gerar atendimentos ineficazes ou mesmo reforçar preconceitos. Como destaca Furtado (2011), as políticas de saúde mental devem considerar os saberes locais e as especificidades culturais para promover intervenções que sejam realmente significativas para essas populações.
A ausência de políticas públicas eficazes direcionadas à saúde mental dos ribeirinhos gera efeitos diretos e indiretos sobre o bem-estar psicológico dessas comunidades. Em contextos de exclusão e vulnerabilidade social, transtornos como ansiedade, depressão e estresse pós-traumático podem emergir ou se agravar, especialmente diante de eventos adversos, como desastres ambientais e conflitos fundiários. Conforme Siqueira-Silva et al. (2017), a relação entre saúde mental e fatores estruturais, como pobreza e insegurança, é amplificada em áreas rurais e ribeirinhas, onde as redes de suporte formal são limitadas.
Além disso, o isolamento geográfico contribui para a sensação de abandono e falta de perspectivas, impactando negativamente a saúde mental dos indivíduos. A ausência de serviços especializados, somada à dificuldade de deslocamento até os centros urbanos, limita a capacidade dos ribeirinhos de buscar ajuda profissional. Esses fatores, de acordo com Minayo e Cavalcante (2013), reforçam a vulnerabilidade das populações rurais e periféricas em relação à saúde mental, criando um ciclo de exclusão que perpetua as desigualdades.
- Bem-Estar Subjetivo e qualidade de vida
Bem-estar subjetivo (BES) constitui um campo de estudos que procura compreender as avaliações que as pessoas fazem de suas vidas (Diener, Suh & Oishi, 1997). O BES é um constructo que se refere às percepções e avaliações que os indivíduos fazem sobre suas próprias vidas, englobando tanto aspectos emocionais quanto cognitivos. Segundo Diener et al. (1997), o BES é definido pela experiência de emoções positivas e pela satisfação geral com a vida. Este conceito é particularmente relevante no contexto da saúde mental, pois a percepção de bem-estar subjetivo pode influenciar diretamente a qualidade de vida dos indivíduos, especialmente em populações vulneráveis, como os ribeirinhos da comunidade Piriquitaquara, localizada na Ilha do Combu.
A qualidade de vida, conforme delineada pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 1997), é um fenômeno multidimensional que abrange aspectos físicos, psicológicos e sociais. A interrelação entre bem-estar subjetivo e qualidade de vida é evidente, uma vez que um maior nível de bem-estar está associado a uma percepção mais positiva das condições de vida. Estudos demonstram que a saúde mental, a satisfação nas relações interpessoais e o suporte social são fatores determinantes para o bem-estar subjetivo, impactando diretamente a qualidade de vida dos indivíduos (Ryan & Deci, 2001).
No contexto específico da comunidade de Piriquitaquara, a análise do bem-estar subjetivo pode revelar insights valiosos sobre as condições de vida e os desafios enfrentados pelos ribeirinhos. A literatura sugere que fatores como acesso a serviços de saúde, educação e infraestrutura têm um papel crucial na promoção do bem-estar subjetivo (Veenhoven, 1996).
Além disso, a relação com o meio ambiente desempenha um papel significativo no bem-estar subjetivo. Para os ribeirinhos, a conexão com a natureza e a dependência dos recursos naturais para a subsistência podem influenciar suas avaliações de qualidade de vida. Estudos demonstram que a valorização do ambiente natural e a prática de atividades que promovem a interação com a natureza estão associadas a níveis mais elevados de satisfação e bem-estar (Kaplan & Kaplan, 1989).
3 METODOLOGIA
Este estudo investigou o estado de saúde mental dos ribeirinhos da comunidade Igarapé do Combu por meio de uma revisão bibliográfica narrativa, onde os artigos foram consultados nos principais bancos de periódicos e por meio de uma pesquisa de campo com abordagem qualitativa. A pesquisa foi conduzida entre os meses de agosto e novembro e seguiu uma metodologia estruturada para compreender as percepções e vivências dos moradores locais sobre saúde mental.
Optou-se por uma abordagem qualitativa, considerando que esta permite explorar, de maneira mais aprofundada, os significados atribuídos pelos participantes às questões relacionadas à saúde mental. Este tipo de abordagem é ideal para estudos que visam compreender as subjetividades e especificidades culturais e sociais de grupos específicos, como comunidades ribeirinhas.
A pesquisa foi realizada na comunidade Igarapé do Combu, situada na região amazônica e conhecida por suas características tradicionais e estreita relação com o meio ambiente. O local foi escolhido pela relevância de compreender as condições de saúde mental em uma área marcada pelo isolamento geográfico e pela escassez de serviços de saúde especializados.
Para a coleta de dados, foram utilizados dois instrumentos principais. O primeiro foram questionários semiestruturados, aplicados a quatro participantes, sendo duas moradoras e duas líderes comunitárias. O questionário abordou temas como a percepção sobre saúde mental e possíveis transtornos, os impactos da rotina de trabalho e da vida na comunidade sobre o bem-estar emocional, e a disponibilidade de recursos e apoio para saúde mental na região. O segundo instrumento foi uma entrevista semiestruturada realizada com um professor da Universidade Federal do Pará (UFPA), que coordena uma roda de conversa semanal na comunidade. Esta entrevista explorou a experiência do docente em promover debates e reflexões sobre saúde mental entre os moradores, além de discutir os desafios e as possibilidades de intervenção comunitária.
A coleta de dados seguiu algumas etapas. Primeiramente, houve uma aproximação com a comunidade, na qual a equipe de pesquisa estabeleceu contato com lideranças locais para apresentar os objetivos do estudo e obter consentimento. Essa etapa foi essencial para criar um ambiente de confiança e garantir a colaboração dos participantes. Em seguida, os questionários foram aplicados de forma presencial, respeitando o tempo e a disponibilidade dos participantes. As respostas foram registradas em áudio, mediante consentimento, para posterior transcrição e análise. Por último, a entrevista com o professor foi realizada em um espaço da comunidade, proporcionando um ambiente descontraído e favorável ao diálogo. O docente compartilhou suas impressões sobre o impacto das rodas de conversa e as principais demandas da comunidade em relação à saúde mental.
Os dados obtidos foram transcritos e organizados em categorias temáticas para análise de conteúdo. As respostas dos questionários e da entrevista foram comparadas, permitindo identificar convergências e divergências nas percepções dos diferentes participantes. A análise buscou compreender tanto os fatores que contribuem para o bem-estar mental quanto aqueles que representam desafios para a comunidade.
Entre as limitações do estudo, destaca-se o reduzido número de participantes, o que pode restringir a generalização dos resultados. No entanto, o objetivo principal foi compreender as vivências e percepções de forma detalhada, e não generalizar os achados para toda a população ribeirinha. Além disso, o tempo disponível para a coleta de dados e a dificuldade de acesso à comunidade também representaram desafios.
A pesquisa seguiu os preceitos éticos estabelecidos pela Resolução nº 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde. Todos os participantes foram informados sobre os objetivos da pesquisa e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Garantiu-se o anonimato das respostas e a confidencialidade dos dados.
4 ANÁLISE DOS DADOS
O conceito de ribeirinhos na Amazônia está profundamente enraizado na história do ciclo da borracha, no século XIX, período marcado pela miscigenação entre povos indígenas e colonizadores portugueses (Loureiro, 1992). Esses povos, caracterizados pela vivência às margens de rios e igarapés, possuem uma relação intrínseca com os recursos naturais, que molda sua cultura, identidade e formas de organização social. Nesse contexto, a comunidade do Igarapé de Piriquitaquara, localizada na Ilha do Combu, foi fonte da análise da pesquisa aqui apresentada.
Para Wagley (1988), o termo ribeirinho, contudo, busca identificar um perfil sociocultural de grupos caboclos que se estabeleceram às margens dos rios no espaço dinâmico que articula as relações de sociabilidade e culturais dentro das particularidades deste espaço, onde a marca desse povo pode ser vista nos comportamentos, na maneira de viver, em sua alimentação, nas crenças, em sua religiosidade entre outras características culturais deste povo. De acordo com informações levantadas junto aos moradores, a comunidade é composta por aproximadamente 78 famílias, das quais, a entrevistada nº 01 que reside há 54 anos na comunidade, afirma que só após a disponibilidade das moradias pelo INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) as famílias que habitavam na APA (Área de Proteção Ambiental) verdadeiramente se sentiram pertencentes aquele lugar por direito, e assim a identidade e valorização de se reconhecer como ribeirinhos começou a existir de fato, ainda que muitas dessas famílias enfrentem diversos desafios relacionados ao acesso a serviços essenciais, refletindo as complexas interações entre saúde, educação e bem-estar social.
Em uma entrevista com o Professor Doutor em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Pará, Márcio Mariath Belloc, foi discutida sua experiência no projeto de ação participativa intitulado “Promoção e Proteção da Saúde Mental do Bem Viver Amazônidas”. Este projeto envolve a realização de rodas de conversa com quinze mulheres da comunidade da Ilha do Combu, com o objetivo de promover práticas de bem viver e investigar a ancestralidade dessa comunidade. Destaca-se que, nas famílias de Piriquitaquara, as mulheres exercem um papel central, não apenas como referências financeiras, mas também sociais. Segundo o entrevistado, o projeto foi iniciado durante a pandemia como uma estratégia para oferecer suporte emocional à comunidade e, atualmente, busca desenvolver abordagens que promovam o bem-estar sob diversas perspectivas, abrangendo não apenas aspectos mentais e emocionais, mas também a vivência cotidiana para o fortalecimento do bem-estar comunitário.
Neste contexto, Belloc (2024) destaca que as rodas de conversa têm atraído um número crescente de jovens, permitindo à comunidade discutir questões como machismo, preconceito e a viabilidade de processos de geração de renda, além de contribuir para a saúde mental, por meio do entendimento e fortalecimento coletivo. Diversos temas são abordados pelos membros da comunidade, incluindo a necessidade de melhorias no atendimento das políticas públicas, o acesso à água potável, e a reflexão sobre os impactos ambientais resultantes do crescimento do turismo predatório, que ocorre sem a devida fiscalização. Também se observa a apropriação indevida de áreas por empresários, o que é particularmente preocupante, dado que a região integra a Área de Proteção Ambiental (APA).
A análise dos questionários respondidos por mulheres da comunidade de Piriquitaquara revela que os habitantes possuem consciência acerca da temática “saúde mental” e valorizam as rodas de conversa realizadas nas quartas-feiras. Essas atividades, de alguma forma, fortalecem as participantes e auxiliam em suas demandas emocionais e sociais, abrindo oportunidades que, anos atrás, antes da implementação do projeto, eram inatingíveis. Exemplos incluem a compreensão de sua identidade indígena e ribeirinha, bem como a importância de se apropriar dessa identidade para lutar por direitos frequentemente negligenciados pelas políticas públicas e pelo governo da região.
Um dos principais pontos de atenção refere-se ao sistema de saúde disponível, que se apresenta como limitado em diversos aspectos. A Unidade Básica de Saúde (UBS) local opera exclusivamente durante a semana, com atendimento de emergência restrito às sextas-feiras. Essa limitação de horário pode comprometer o bem-estar da comunidade, especialmente em situações de urgência que ocorram fora do período de atendimento, conforme relatado pela entrevistada nº 01.
A saúde das populações ribeirinhas na Amazônia possui particularidades que refletem as condições precárias de acesso aos serviços básicos. Belloc (2023), em seu artigo “Promoção e proteção da saúde mental e do bem-viver amazônidas em Belém do Pará: primeiros passos de uma pesquisa viva em ato”, argumenta que a promoção da saúde mental deve levar em consideração as especificidades locais e as realidades enfrentadas pelas comunidades amazônicas. A presença de profissionais, como psicólogos, na UBS é especialmente relevante, uma vez que a saúde mental desempenha um papel fundamental no bem-estar geral da comunidade. Além disso, a atuação do agente de saúde se revela essencial, pois possibilita uma abordagem mais próxima e regular às necessidades dos moradores, contribuindo para a prevenção de doenças e a promoção de cuidados básicos.
Além disso, o acesso à água potável é um fator crítico para a qualidade de vida. Conforme analisado por Maués (2022) em sua investigação sobre as rotinas familiares dos ribeirinhos, a ausência de recursos essenciais, como água segura, compromete diretamente a saúde física e mental dos moradores. Na comunidade em questão, a água consumida provém de poços artesianos, que implicam custos, ou do próprio igarapé, sem tratamento adequado, expondo as famílias a riscos de doenças e reforçando as desigualdades estruturais que caracterizam a região. A autora afirma que “as condições de vida e os recursos disponíveis têm um impacto direto nas relações familiares e na saúde mental”, evidenciando a interconexão entre a falta de acesso à água tratada e o bem-estar emocional dos habitantes.
A educação, enquanto direito fundamental, enfrenta consideráveis desafios nas comunidades ribeirinhas. A Escola Municipal Santo Antônio atende a comunidade, oferecendo ensino até o quinto ano do ensino fundamental, o que limita as oportunidades educacionais das crianças. Após essa etapa, os alunos são obrigados a deslocar-se para localidades distantes, enfrentando barreiras econômicas e logísticas que dificultam a continuidade de seus estudos. A ausência de uma estrutura educacional completa compromete o desenvolvimento integral dos jovens e limita suas oportunidades futuras, perpetuando um ciclo de exclusão educacional e social. Maués (2022) enfatiza que a falta de estruturas educacionais adequadas perpetua esse ciclo de exclusão social e econômica, uma vez que restringe o acesso dos jovens a oportunidades de desenvolvimento. Além disso, a autora destaca que a educação é essencial para o fortalecimento das relações familiares e comunitárias, constituindo um elemento-chave para a promoção do bem-estar coletivo.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este artigo abordou de maneira abrangente a saúde mental dos ribeirinhos da comunidade de Piriquitaquara, destacando a complexa interseção entre os aspectos socioculturais, históricos, econômicos e geográficos que permeiam a vida nessa região. A análise revelou que a saúde mental não pode ser dissociada do contexto em que os indivíduos estão inseridos, sendo influenciada por uma série de fatores que afetam o bem-estar comunitário.
Os dados coletados demonstraram que as definições de bem-estar comunitário variam entre os moradores, refletindo suas vivências e perspectivas únicas. A saúde mental é percebida não apenas como a ausência de transtornos, mas como um estado de equilíbrio e satisfação que envolve tanto a dimensão individual quanto a coletiva. Nesse sentido, as interações sociais, a cultura local e as práticas comunitárias desempenham um papel crucial na promoção do bem-estar subjetivo.
Os aspectos históricos e econômicos da comunidade de Piriquitaquara também foram fundamentais para compreender as condições de saúde mental dos ribeirinhos. A história de marginalização e a escassez de recursos impactam diretamente a qualidade de vida e a saúde emocional dos moradores. A falta de acesso a serviços de saúde especializados e a precariedade das políticas públicas voltadas para a saúde mental evidenciam a necessidade urgente de intervenções que considerem as especificidades locais.
Além disso, o impacto das políticas públicas na saúde mental dos ribeirinhos foi um tema central nesta pesquisa. Observou-se que, apesar de algumas iniciativas voltadas para a saúde mental, ainda há lacunas significativas na implementação e no alcance dessas políticas. A efetividade das intervenções depende de uma abordagem mais integrada, que considere as realidades socioeconômicas e culturais da comunidade.
Por fim, os resultados indicam que o bem-estar subjetivo e a qualidade de vida dos ribeirinhos estão intrinsecamente ligados à sua capacidade de se organizar coletivamente e de buscar soluções para os desafios enfrentados. Promover espaços de diálogo e reflexão sobre saúde mental, bem como fomentar a participação ativa da comunidade na formulação de políticas públicas, são passos essenciais para a construção de um futuro mais saudável e equilibrado.
Em suma, este estudo não apenas contribuiu para o entendimento da saúde mental em comunidades ribeirinhas, mas também ressaltou a importância de uma abordagem holística e contextualizada. As considerações aqui apresentadas podem servir como base para futuras pesquisas e intervenções, visando à melhoria das condições de vida e saúde mental dos ribeirinhos de Piriquitaquara e de outras comunidades similares.
REFERÊNCIAS
AMARANTE, P. Saúde Mental e Atenção Psicossocial. 3. ed. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2017.
BELLOC, M. M. Promoção e proteção da saúde mental e do bem-viver amazônidas em Belém do Pará: primeiros passos de uma pesquisa viva em ato. Saúde em Redes, v. 9, n. 1, p. 45-67, 2023. Disponível em: http://revista.redeunida.org.br/ojs/index.php/rede-unida/article/view/4523. Acesso em: 13 nov. 2024.
BUSS, P. M.; PELLEGRINI FILHO, A. A saúde e seus determinantes sociais. Physis: Revista de Saúde Coletiva, v. 17, n. 1, p. 77-93, 2007.
CRUZ, J.; ALMEIDA, T. Interações ambientais e saúde mental: o caso das comunidades ribeirinhas. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 35, n. 3, e001234, 2019.
DIENER, E.; SUH, E. M.; OISHI, S. Bem-estar subjetivo: um campo de estudos que procura compreender as avaliações que as pessoas fazem de suas vidas. Journal of Happiness Studies, v. 8, n. 3, p. 319-335, 1997.
DIENER, E.; SUH, E. M.; OISHI, S. Well-being for all. Journal of Happiness Studies, v. 8, n. 3, p. 319-335, 1997.
FLEURY, S.; OUVERNEY, A. M. Política de Saúde: Uma análise da implantação do SUS. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2007.
FURTADO, J. P. Saúde mental na atenção básica: Estudo das práticas no SUS. São Paulo: Hucitec, 2011.
KAPLAN, R.; KAPLAN, S. The experience of nature: A psychological perspective. Cambridge University Press, 1989.
LOUREIRO, V. R. Amazônia: estado, homem, natureza. Belém: CEJUP, 1992. (Coleção Amazoniana, n.1).
MAUÉS S. T. Rotinas familiares de ribeirinhos amazônicos: uma possibilidade de investigação. Revista Brasileira de Psicologia, v. 12, n. 2, p. 123-139, 2023. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ptp/a/Z8SkyMGSSKnMYjKHbNsMmFD/. Acesso em: 13 nov. 2024.
MINAYO, M. C. S. O desafio do conhecimento: Pesquisa qualitativa em saúde. 12. ed. São Paulo: Hucitec, 2006.
MINAYO, M. C. S.; CAVALCANTE, F. G. Saúde mental e prevenção do suicídio na perspectiva da saúde pública. Ciência & Saúde Coletiva, v. 18, n. 10, p. 2985-2994, 2013.
MINAYO, M. C. de S. Pesquisa Social: Teoria, Método e Criatividade. São Paulo: Editora Hucitec, 2014.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Qualidade de vida: avaliação e definição. Genebra, 1997.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Mental health resources in the world: Initial results of Projet ATLAS. Genebra, Organização Mundial da Saúde (Fact Sheet No 260, abril 2001).
PAIM, J. S.; TRAVASSOS, C.; ALMEIDA, C.; BAHIA, L.; MACINKO, J. O Sistema de Saúde Brasileiro: História, avanços e desafios. The Lancet, v. 377, n. 9779, p. 1778-1797, 2011.
RYAN, R. M.; DECI, E. L. Self-determination theory: basic psychological needs in motivation, development, and wellness. Guilford Press, 2000.
SANTOS, L. O impacto do isolamento social na saúde mental de comunidades ribeirinhas. Saúde e Sociedade, São Paulo, v. 29, n. 1, p. 45-60, 2020.
SILVA, J. A. et al. Saúde mental e vulnerabilidade social: um estudo nas comunidades ribeirinhas. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 56, n. 3, p. 1-12, 2022.
SILVA, A.; OLIVEIRA, R.; COSTA, M. Saúde mental em populações ribeirinhas: desafios e perspectivas. Revista Brasileira de Saúde Pública, São Paulo, v. 34, n. 2, p. 112-120, 2018.
SIQUEIRA-SILVA, R. et al. Saúde mental em populações rurais: Vulnerabilidades e desafios. Revista de Saúde Pública, v. 51, p. 1-8, 2017.
VEENHOVEN, R. Happiness in nations: Subjective appreciation of life in 56 nations 1946-1996. Social Indicators Research, v. 38, n. 1, p. 1-58, 1996.
WAGLEY, C. Amazon Town: A Study of Man in the Tropics. Oxford University Press, 1988.
WAGLEY, C. Uma Comunidade Amazônica: Estudo do Homem nos Trópicos. São Paulo: Editora Nacional, 1953.
[1] Discente do Curso Superior de Psicologia da Universidade da Amazônia Campus UNAMA Gentil e-mail: alanagabrielly83@gmail.com
[2] Discente do Curso Superior de Psicologia da Universidade da Amazônia Campus UNAMA Gentil e-mail: amandaecorrea26@gmail.com.br
[3] Discente do Curso Superior de Psicologia da Universidade da Amazônia Campus UNAMA Gentil e-mail: biancadesenafelgueiras@gmail.com
[4] Discente do Curso Superior de Psicologia da Universidade da Amazônia Campus UNAMA Gentil e-mail: rmarjoire@gmail.com
[5] Discente do Curso Superior de Psicologia da Universidade da Amazônia Campus UNAMA Gentil e-mail: thayscarvalho_015@hotmail.com
[6] Discente do Curso Superior de Psicologia da Universidade da Amazônia Campus UNAMA Gentil e-mail: vgabrielbarbosa00@gmail.com
[7] Docente do Curso de Psicologia da Universidade da Amazônia Campus UNAMA Gentil. Mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e-mail: valbersampaio@hotmail.com.