SAÚDE E BEM-ESTAR PARA IDOSOS: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

HEALTH AND WELL-BEING FOR ELDERLY PEOPLE: AN EXPERIENCE REPORT

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202412081044


Bianca Fermontt Aires¹; Brunna Maia Martins²; Gabriel Resende de Lima Bueno³; Gabriella Boaventura Rodrigues⁴; Gustavo Messias Vasconcelos⁵; Maria Luiza Benício dos Santos⁶; Marina Duarte Gomes de Oliveira⁷; Ana Maria Dias Batista dos Santos⁸; Márcia Ferreira Sales⁹; Sara Janai Corado Lopes¹⁰.


Resumo

O presente relato de experiência baseia-se no projeto de extensão “Saúde e Bem-Estar para Idosos”, realizado por acadêmicos do 4º período de Medicina do Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos (ITPAC) e que visa promover a saúde e a qualidade de vida dos idosos residentes no Abrigo João XXIII, em Porto Nacional-TO. Este trabalho destaca a importância da integração entre teoria e prática na formação acadêmica, permitindo que os estudantes apliquem seus conhecimentos em contextos reais e contribuam para o bem-estar da comunidade. A iniciativa foi fundamentada em atividades que utilizam a música como ferramenta central, promovendo a reminiscência e o fortalecimento de vínculos sociais entre os participantes. Durante as atividades, foram realizadas oficinas e apresentações musicais que incentivaram a interação social e o resgate de memórias afetivas, fundamentais para a autoestima dos idosos. A escolha de músicas populares da juventude dos participantes ajudou a criar um ambiente acolhedor, onde os idosos puderam expressar suas preferências e se sentir valorizados. Além disso, o projeto também focou no desenvolvimento de habilidades motoras e cognitivas através de danças leves e exercícios com instrumentos de percussão. Os resultados demonstraram que a prática da musicoterapia não apenas melhorou a qualidade de vida dos idosos, mas também teve um impacto positivo na saúde mental, contribuindo para a redução do isolamento social e dos sintomas depressivos. Ao final do projeto, evidencia-se que as atividades promovidas não apenas beneficiaram os participantes, mas também enriqueceram a formação dos estudantes, tornando-os mais conscientes sobre as realidades enfrentadas pela população idosa. Em suma, o projeto “Saúde e Bem-Estar para Idosos” exemplifica como ações integradas podem transformar vidas, promovendo um envelhecimento ativo e saudável. Essa experiência reforça o papel das universidades como agentes de mudança social, destacando a necessidade de políticas públicas que atendam às demandas crescentes da população.

Palavras-chave: Arteterapia. Envelhecimento. Extensão universitária. Saúde.

1 INTRODUÇÃO

Os projetos de extensão universitária são iniciativas fundamentais no contexto da formação acadêmica, pois possibilitam que os estudantes apliquem, de maneira prática, os conhecimentos adquiridos em sala de aula em benefício da comunidade. Segundo Nascimento et al. (2021), a extensão universitária promove uma relação dialética entre teoria e prática, contribuindo para a formação de profissionais críticos e engajados com a realidade social.

Sob esse viés, o envelhecimento populacional tem se acelerado nas últimas décadas. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2022) estima que, até 2040, o Brasil terá mais de 58 milhões de pessoas com 60 anos ou mais. Este aumento demanda a implementação de políticas públicas e ações sociais que visem à promoção da saúde e à qualidade de vida dessa faixa etária. A promoção da saúde, conforme destaca Silva e Souza (2020), é um processo que envolve não apenas a ausência de doenças, mas também o desenvolvimento de uma vida ativa, com autonomia e participação social, características essenciais para o bem-estar dos idosos.

Ademais, garantir saúde e bem-estar aos idosos é crucial, pois esta fase da vida é marcada por mudanças físicas, emocionais e sociais. Conforme ressaltado por Costa e Almeida (2023), a manutenção da saúde mental e emocional é crucial para prevenir distúrbios como depressão e ansiedade, que são comuns entre os idosos. A prática de atividades físicas e a socialização sãoestratégias eficazes para promover não apenas a saúde física, mas também o bem-estaremocional.

Outrossim, o Abrigo João XXIII, localizado em Porto Nacional – TO, acolhe um número significativo de idosos que frequentemente enfrentam situações de vulnerabilidade social. Nesse contexto, o projeto de extensão “Saúde e Bem-Estar para Idosos” promoveu oficinas, palestras e atividades que promoveram hábitos saudáveis, além do fornecimento informações sobre direitos e serviços disponíveis para essa população. A importância dessa ação se reflete na necessidade de prepararos acadêmicos para atuar em cenários reais, fortalecendo sua formação prática e sua capacidadede intervenção social.

Nesse sentido, dentre os objetivos, enquadrou-se o estímulo da participação dos idosos em atividades musicais interativas, como canto e ritmo, para promover a expressão pessoal e a integração social entre os residentes, o resgate de memórias afetivas por meio da seleção de músicas antigas e populares, incentivando a lembrança de experiências pessoais significativas, além do desenvolvimento de atividades de movimento e coordenação motora associadas à música, como danças simples e exercícios com instrumentos de percussão, para melhorar a mobilidadee o bem-estar físico e da criação de um ambiente de convívio saudável e acolhedor, utilizando a música como ummeio de fortalecer os laços entre os idosos, os cuidadores e os voluntários do projeto.

Logo, ao desenvolver competências e habilidades em um campo tão crucial, os estudantes nãoapenas contribuem para a melhoria da qualidade de vida dos idosos do Abrigo João XXIII, mastambém se tornam agentes de transformação social. Este projeto, portanto, não é apenas uma oportunidade de aprendizado, mas também um compromisso com a sociedade, reafirmando o papel da universidade como agente de mudança e inclusão social.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA OU REVISÃO DA LITERATURA

2.1 Extensão Universitária

A extensão universitária é uma das três funções essenciais das instituições de ensino superior, ao lado do ensino e da pesquisa. Segundo a Associação Nacional de Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior (ANDIFES, 2021), a extensão é compreendida como um conjunto de atividades que visam integrar a universidade com a sociedade, promovendo a troca de saberes e experiências entre acadêmicos e a comunidade. Essa interação é fundamental para a formação integral dos estudantes, uma vez que possibilita a aplicação prática dos conhecimentos teóricos adquiridos durante o curso, contribuindo para o desenvolvimento de habilidades e competências essenciais no mercado de trabalho.

Além de favorecer a formação dos estudantes, a extensão universitária desempenha um papel crucial na promoção da cidadania e no fortalecimento da democracia. Por meio de projetos e programas extensionistas, as universidades se tornam agentes transformadores da realidade social, atuando em áreas como saúde, educação, meio ambiente e cultura. Nesse sentido, a extensão possibilita que os acadêmicos se tornem mais conscientes de suas responsabilidades sociais e desenvolvam uma visão crítica e reflexiva sobre os desafios enfrentados pela sociedade contemporânea (Almeida, 2015).

Ademais, a extensão universitária também é uma importante ferramenta de inovação social e tecnológica. Os projetos de extensão muitas vezes buscam soluções para problemas locais, promovendo a pesquisa aplicada e o desenvolvimento sustentável. Conforme o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq, 2020), essa relação entre universidade e comunidade resulta em benefícios mútuos: enquanto a sociedade se beneficia do conhecimento acadêmico, os estudantes e professores têm a oportunidade de vivenciar realidades diversas e complexas, enriquecendo seu aprendizado e estimulando a criatividade.

Por fim, a extensão universitária reforça a responsabilidade social das instituições de ensino superior, evidenciando sua função pública e compromisso com o bem-estar da comunidade. Através da promoção do conhecimento acessível e da inclusão social, a extensão contribui para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa. Assim, é imperativo que as universidades invistam em suas atividades extensionistas, reconhecendo-as não apenas como uma obrigação institucional, mas como uma oportunidade ímpar de transformar realidades e promover um desenvolvimento sustentável (Bittencourt, 2024).

Ademais, nas últimas décadas, devido à diminuição da natalidade infantil, melhora das condições socioeconômicas e desenvolvimento dos conhecimentos técnicos da saúde, a população idosa atingiu um quantitativo inédito. No Brasil, houve um aumento significativo de 18% a essa faixa etária no período entre 2012 e 2017, superando dessa forma a marca dos 30,2 milhões de idosos (IBGE, 2017).

Reconhecer as mudanças da pirâmide etária é um processo já superado pela sociedade, porém estar preparada para as suas consequências é um debate recente principalmente pelos responsáveis e integrantes do (s) sistema (s) de saúde. Afinal, esse fenômeno populacional, entre seus efeitos, demanda maior quantidade de leitos, distribuição de fármacos e atenção especializada para evitar a sobrecarga desses serviços fundamentais para a manutenção do bem-estar desta comunidade (Veras; Oliveira, 2018). Dessa forma, a arte se apresenta como um método ímpar para que os indivíduos possam se manifestar e expressar seus sentimentos e ideias, promovendo melhoras na cognição e capacidade motora (Da Silva et al., 2019).

2.2 Interpessoalidade como forma de envelhecimento ativo

Vivenciar o processo de fragilização do organismo é uma situação a qual os idosos reconhecem e percebem, principalmente no que se refere à maneira diferenciada como passama ser vistos pela sociedade, enquanto indivíduos dependentes e menos ativos socialmente (Souza; Giacomin; Firmo, 2022). Nessa conjuntura há uma segregação silenciosa na qual a velhice é acompanhada da diminuição de tempo e espaço destinado às atividades interpessoais cujo condenam o idoso a um isolamento mudo e inerte onde os mais velhos pouco falam e são escutados.

As relações interpessoais são um conjunto de habilidades relacionadas a capacidadede comunicação, compreensão e empatia com a vivência de outros indivíduos, estando dessaforma presente enquanto uma aptidão cognitiva, cujo exige atenção para não ser inibida no processo de envelhecimento (Souza et al., 2022). Afinal, a ausência de exercíciospráticos e lúdicos os quais estimulam a linguagem, desenvoltura e a inteligência emocional para reconhecer seus sentimentos e das pessoas ao seu redor são necessárias para que os idosos consigam estar inseridos e atuantes enquanto pertencentes a uma comunidade.

Em contrapartida, a exclusão e o menosprezo a participação dos mais velhos nas questões cotidianas e sociais são um obstáculo à consolidação de um envelhecimento ativo e saudável, que relaciona um sistema cognitivo atuante e funcional às capacidades de relações interpessoais (OMS, 2005). Dessa forma, a realização de oficinas e atividades que propiciam um ambiente para preservar e desenvolver as habilidades interpessoais com diálogos, relatos, vivências e expressão de sentimentos e sensações devem ser impulsionadas enquanto meio de prevenção contra a diminuição da funcionalidade cognitiva (Souza et al., 2022). Sob esse viés, a arteterapia tem impacto positivo na amenização de sintomas depressivos, de modo que favorece melhoras na interpessoalidade e criatividade (Veras; Oliveira, 2018).

2.3 Envelhecimento, saúde mental e arteterapia

O processo de envelhecimento geralmente é associado à fragilidade, a qual é utilizada para descrever a vulnerabilidade do idoso a efeitos nocivos, como o declínio funcional e cognitivo. Esse fato é considerado um importante problema de saúde pública que pode ser evitado ou retardado se for reconhecido precocemente. Sob esse panorama, um dos padrões de reconhecimento é a avaliação da saúde mental do idoso, visto que, no século XXI, ela é uma questão multifacetada que pode ser influenciada por diversos fatores (Souza et al, 2022).

Nesse sentido, a depressão é uma das principais causas de incapacidade em todo o mundo e contribui significativamente para a carga global de doenças, pois pode levar a estressee disfunção adicionais, piorando a qualidade de vida do paciente e o próprio distúrbio (Souza et al, 2022). Destarte, uma velhice bem-sucedida e sadia pode ser entendida como uma velhiceem que o idoso é independente, ativo, claro, social, e sem muitos danos à saúde física e mental.A partir desse entendimento, é preciso criar mecanismos para preservar a cognição dessa população e, ao mesmo tempo, manter a saúde mental em dia, livre de pensamentos depreciativos, ansiedade, depressão e sentimentos de invalidez e incapacidade, construindo, assim, a velhice bem-sucedida e saudável.

Para tal feito, centros de convivência e atividades para idosos podem oferecer oportunidades para atividades sociais, culturais, educacionais e físicas que podem melhorar as capacidades mentais e cognitivas dos idosos, garantindo a eles uma melhor qualidade de vidae o cuidado necessário para a saúde mental requerida por eles. Nessa perspectiva, dentre as atividades para os idosos enquadra-se a arteterapia, a qual abrange a musicoterapia e o incentivo ao desenho e à expressão dos sentimentos.

Atividades que estimulam as funções sensoriais, cognitivas e motoras da pessoa idosasão importantes para proteger o intelecto, pois, na velhice, é comum a perda do papel social, que acarreta sentimentos de incapacidade e isolamento para uma pessoa idosa (NSaúde, 2022). Sendo assim, os processos criativos constituem um caminho revelador e inspirador, que favorecem a pessoa idosa a entrar em contato com suas possibilidades de acreditar, desafiar, reconstruir, criar e expressar emoções, sentimentos e histórias de vida.

Essas ações permitem que a pessoa idosa conviva com restrições ou doenças que podem estar presentes, pois possibilitam uma melhor perspectiva de vida pessoal e social. Asvivências grupais, por meio das expressões artísticas, ajudam o idoso no senso de pertencimento e aceitação da sua própria história. Esse recurso pode ser significativo para queuma pessoa idosa se reconheça no processo do envelhecimento como ser integral que ele é. Essa possibilidade de abertura, faz com que o idoso ressignifique emoções que melhorem suaqualidade de vida.

2.4 A musicoterapia como forma de promoção da saúde do idoso

A musicoterapia tem se consolidado como uma prática terapêutica eficaz na promoção da saúde do idoso, proporcionando benefícios significativos tanto a nível físico quanto psicológico. De acordo com Guimarães et al. (2020), o envelhecimento populacional requer abordagens inovadoras que visem à qualidade de vida e ao bem-estar dessa faixa etária. A musicoterapia, por meio do uso da música como ferramenta terapêutica, favorece a expressão emocional e a comunicação, elementos fundamentais para o desenvolvimento da autonomia e da autoestima em idosos.

Estudos recentes evidenciam que a musicoterapia pode atuar no alívio de sintomas de doenças crônicas comuns na população idosa, como a depressão e a ansiedade. Segundo Jardim et al. (2020), a prática regular da musicoterapia resulta em melhorias significativas na saúde mental dos idosos, promovendo um estado de relaxamento e diminuindo níveis de estresse. Os autores afirmam que a música, quando utilizada em um contexto terapêutico, estimula a liberação de neurotransmissores associados ao prazer, favorecendo uma experiência emocional positiva que impacta diretamente na saúde geral dos pacientes.

Além dos benefícios psicológicos, a musicoterapia também tem mostrado efeitos positivos na cognição e na memória dos idosos. Em pesquisa realizada por Kerche e Silva (2022), foi identificado que a intervenção musical auxilia na melhora da atenção, da memória de curto prazo e da capacidade de concentração. Essas funções cognitivas são essenciais para a manutenção da independência e da qualidade de vida na terceira idade, destacando a importância de programas de musicoterapia em instituições geriátricas e na comunidade.

A socialização é outro aspecto que a musicoterapia promove entre os idosos. A prática em grupo, como as sessões de musicoterapia coletiva, incentiva a interação social, ajudando a combater o isolamento, uma condição frequentemente enfrentada por essa população. De acordo com Lima e Martins (2023), a participação em atividades musicais grupais gera um senso de pertencimento e de conexão com os outros, fatores que contribuem para a construção de uma rede de apoio social vital para a saúde mental e emocional do idoso.

Ademais, a musicoterapia pode ser uma estratégia de intervenção adaptativa, podendo ser ajustada de acordo com as necessidades específicas de cada idoso, levando em consideração aspectos como história de vida, preferências musicais e condições de saúde. A flexibilidade dessa abordagem é destacada por Noster et al. (2023), que ressalta a importância de personalizar as sessões de musicoterapia para garantir que todos os participantes se sintam incluídos e beneficiados, respeitando suas singularidades e potencializando os resultados terapêuticos.

Portanto, a musicoterapia se revela uma ferramenta valiosa na promoção da saúde do idoso, contribuindo para um envelhecimento ativo e saudável. Ao integrar aspectos emocionais, cognitivos e sociais, essa prática terapêutica não apenas melhora a qualidade de vida dos idosos, mas também reforça a necessidade de abordagens multidisciplinares no cuidado dessa população. As evidências recentes reafirmam a importância de incluir a musicoterapia nos planos de cuidado voltados para o envelhecimento, promovendo um entendimento mais abrangente das necessidades de saúde dos idosos (Guimarães et al., 2020).

3 METODOLOGIA

O presente trabalho é caracterizado como um relato de experiência desenvolvido no segundo semestre de 2024 a partir de um projeto de extensão denominado “Saúde e Bem- Estar para Idosos” e realizado por acadêmicos do 4º período de Medicina do Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos (ITPAC) de Porto Nacional-TO, como parte da avaliação da disciplina Práticas Interdisciplinares de Extensão, Pesquisa e Ensino IV (PIEPE).

Sob esse viés, o projeto foi realizado no Abrigo João XXIII em Porto Nacional-TO e teve como público-alvo os idosos residentes do local. Para a efetivação da ação, houve uma parceria realizada entre o Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos (ITPAC) – Porto Nacional-TO e o Abrigo João XXIII Porto Nacional-TO no qual cedeu o espaço para que fosse executada a ação do eixo de Práticas Interdisciplinares de Ensino, Pesquisa e Extensão (PIEPE).

Por conseguinte, não houve necessidade de submissão ao Comitê de Ética em Pesquisa, conforme estipuladona Resolução no 466 do Conselho Nacional de Saúde, com data de 12 de dezembro de 2012. Adicionalmente, não se fez necessário obter assinaturas no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), uma vez que se trata de um projeto de extensão que não demandaa identificação dos indivíduos. Portanto, todas as questões éticas foram rigorosamente seguidas nesse projeto, uma vez que a proteção dos direitos e da privacidade dos participantes será garantida.

Ademais, um aspecto importante do projeto consistiu no resgate de memórias afetivas, criando um espaço para que os idosos compartilhem histórias e experiências relacionadas às músicas, promovendo a reminiscência, o bem-estar emocional e um ambiente acolhedor, incentivando ainteração entre os idosos, cuidadores e voluntários, fortalecendo os laços por meio da música.

Desse modo, a primeira etapa consistiu no encontro com orientador para alinhamento dos prováveis temas a serem abordados com os idosos e as ações a serem trabalhadas. Nesse sentido, tudo foi idealizado com o objetivo de promover o bem-estar físico, emocional e social dos idosos do abrigo, utilizando a músicacomo ferramenta central. Essa etapa envolveu um planejamento cuidadoso, onde nós, alunos, nos reunimos para definir as atividades a serem realizadas em uma única sessão, levando em consideração a faixa etária e as preferências musicais dos residentes. As músicas foram selecionadas com foco em gêneros que possam resgatar memórias afetivas, priorizando canções populares da juventude dos idosos.

Após esse momento, houve uma visita ao Abrigo João XXIII para confirmar o perfil e necessidades do público-alvo a ser atendido pela proposta do trabalho. A visita foi realizada com a professora orientadora do projeto e descobriu-se que no abrigo residem 09 idosos e a maioria deles apresentam dificuldades de deambulação ou encontram-se em cadeiras de rodas. Posteriormente à vista, foi iniciada a confecção escrita teórica do projeto de extensão, com apresentação subsequente a uma apresentação perantea banca avaliadora, a fim de realizar a definição da melhor abordagem e proposta do tema. Cabe ressaltar que a banca avaliadora pontuou correções eventuais importantes para o trabalho, as quais foram realizadas em momento oportuno.

Por fim, a ação foi executada no abrigo conforme definido nos objetivos. Sob essa perspectiva, um cantor local se voluntariou para participar da ação e, durante a atividade, foram realizadas diversas ações a partir de momentos de canto e ritmo, utilizando instrumentos de percussão e incentivando a participação ativa dos idosos. Além disso, foram introduzidas danças leves e simples, adaptadas às capacidades físicas dos residentes, promovendo a coordenação motora e a mobilidade. Durante toda a ação houve interação entre os acadêmicos e os idosos, refletindo a sua importância e, ao final, foi ofertado um lanche para encerrar o momento.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

De início, houve a promoção um sentimento de valorização pessoal e autoestima entre os participantes e isso foi fundamental para reconhecer cada indivíduo como um membro importante da sociedade. Essa valorização não se limita apenas ao reconhecimento da presença de cada um, mas também se estende ao reconhecimento de suas capacidades, talentos e gostos pessoais, especialmente no que diz respeito à música. Ao dar voz e espaço para que os participantes expressem suas preferências musicais, criamos um ambiente onde eles se sentem valorizados e respeitados.

A integração com a comunidade é outro aspecto importante dessa iniciativa. Aumentar a interação entre os residentes do abrigo e a comunidade local por meio de apresentações e rodas de música não só valoriza a cultura local, mas também promove o estreitamento das relações sociais, visto que essas atividades ajudam a quebrar barreiras e preconceitos, criando um ambiente mais inclusivo e acolhedor.

Além disso, o fortalecimento de vínculos sociais foi um objetivo central desse projeto, então ao estimular a interação entre os participantes, promovemos a formação de novas amizades e o fortalecimento de laços existentes. Essa rede de apoio social é essencial para o bem-estar emocional e psicológico dos indivíduos, criando um senso de pertencimento que é vital para a autoestima. O desenvolvimento de habilidades também foi uma prioridade. Ao incentivar a expressão artística e a criatividade, proporcionamos aos participantes a oportunidade de desenvolver novas habilidades musicais. Esse processo não apenas enriquece suas vidas, mas também pode abrir portas para futuras oportunidades, seja no âmbito pessoal ou profissional.

Outrossim, a promoção do lazer é crucial para proporcionar momentos de descontração e diversão aos participantes. Essas experiências contribuem significativamente para a melhoria da qualidade de vida deles, permitindo que desfrutem de momentos de alegria e entretenimento em meio às suas rotinas diárias. Assim, ao unir todos esses elementos – valorização pessoal, fortalecimento de vínculos, desenvolvimento de habilidades, integração comunitária e promoção do lazer – pudemos construir um espaço mais humano e acolhedor para todos os envolvidos.

Além do mais, durante a implementação do projeto foram encontradas algumas dificuldades que impactaram a interação e a adesão dos participantes às atividades propostas. A primeira e mais significativa dificuldade foi a limitação física dos idosos, uma vez que a maioria deles é portadora de deficiência e possui restrições de mobilidade. Muitos dos residentes são cadeirantes e enfrentam limitações que dificultam atividades como cantar e dançar, elementos comuns em sessões de musicoterapia e que visam promover a expressão e o engajamento. Nesse sentido, essa restrição física reduziu a interação direta com as atividades musicais, o que nos desafiou a adaptar as propostas de forma a respeitar as limitações e, ao mesmo tempo, manter o estímulo musical.

Por fim, houveram desafios relacionados à saúde mental dos participantes. Parte dos idosos possui comprometimentos cognitivos que dificultaram ainda mais a participação plena nas atividades em grupo, levando esses residentes a permanecerem afastados em alguns momentos. Esse fator limitou a integração e a interação social que a musicoterapia poderia proporcionar, especialmente para aqueles que necessitam de um acompanhamento mais próximo para responder a estímulos. Apesar desses desafios, buscou-se adaptar as atividades para oferecer uma experiência musical que respeitasse as particularidades de cada residente, incentivando, dentro das possibilidades de cada um, momentos de apreciação musical e conexão social.

Sob esse panorama, a implementação de projetos voltados para a promoção da saúde e bem-estar de idosos,como o proposto no Abrigo João XXIII, é de extrema relevância, tanto para os participantes quanto para a sociedade em geral. O envelhecimento populacional é uma realidade crescente no Brasil, como apontado pelo IBGE (2022), e demanda ações integradas que não se limitem ao tratamento de doenças, mas que promovam a qualidade de vida, a autonomia e o envelhecimento saudável (Silva & Souza, 2020).

Dessa forma, a execução de um projeto que inclua atividades de arteterapia e musicoterapia para idosos impacta diretamente na saúde mental, emocional e física dos participantes. Estudos apontam que práticas como a musicoterapia podem melhorar funções cognitivas, como memória e atenção, além de promover interação social, essencial para a redução do isolamento e da depressão (Jardim et al., 2020). A socialização e a atividade física também contribuem para o bem-estar geral e a prevenção de doenças crônicas (Oliveira et al., 2021).

Ademais, o projeto transcende os benefícios individuais, atuando como uma ferramenta de transformação social. Ele fortalece a formação dos estudantes, que aplicam na prática os conhecimentos teóricos, além de proporcionar a eles uma consciência mais crítica eengajada com a realidade social (Nascimento et al., 2021). A extensão universitária, segundo ANDIFES (2021), é uma via fundamental de integração entre a academia e a comunidade, promovendo inovação social e tecnológica e estimulando soluções criativas para problemas reais.

Por conseguinte, a iniciativa também dialoga com a necessidade de adequar as políticas públicas ao crescente envelhecimento da população, conforme observado por Veras e Oliveira (2018). Ao promover atividades que visam à saúde física e mental, o projeto contribui para aliviar a pressão sobre os sistemas de saúde, prevenindo a sobrecarga de serviços e promovendo um envelhecimento mais ativo e participativo. Desse modo, o projeto não apenas ofereceu uma melhoria na qualidade de vida dos idosos do Abrigo João XXIII, mas também atuou como um catalisador para a formação de profissionaismais conscientes e capazes de atuar em prol de uma sociedade mais inclusiva e saudável, a partir de objetivos específicos.

5 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

O projeto “Saúde e Bem-Estar para Idosos”, desenvolvido por acadêmicos do 4º período de Medicina do Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos (ITPAC), representa uma valiosa iniciativa de extensão que promove não apenas a saúde física, mas também o bem-estar emocional e social dos idosos. Ao longo das atividades realizadas no Abrigo João XXIII foi possível observar a importância da música como ferramenta de interação e resgate de memórias afetivas, contribuindo para a valorização pessoal dos participantes. Essa experiência demonstrou que, ao reconhecer as capacidades e os gostos individuais dos idosos, criamos um ambiente propício para o fortalecimento da autoestima e da autoconfiança, atendendo aos objetivos propostos anteriormente.

Dessarte, a promoção do lazer e momentos de descontração foi crucial para garantir que os participantes pudessem desfrutar de experiências significativas em meio às suas rotinas diárias. A combinação de valorização pessoal, fortalecimento de vínculos, desenvolvimento de habilidades, integração comunitária e promoção do lazer resultou em um ambiente mais humano e acolhedor. Assim, este projeto não apenas atendeu aos objetivos propostos, mas também deixou um legado positivo na vida dos idosos atendidos e na comunidade como um todo.

REFERÊNCIAS

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¹Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos Campus Porto Nacional – biankafaires@gmail.com;
²Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos Campus Porto Nacional – brunna.maiam@gmail.com;
³Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos Campus Porto Nacional – gabrielresendemed@gmail.com;
⁴Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos Campus Porto Nacional – gabriellaboaventurarodrigues@outlook.com;
⁵Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos Campus Porto Nacional – gustavomessiasv11@gmail.com;
⁶Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos Campus Porto Nacional – malubenicioo@gmail.com;
⁷Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos Campus Porto Nacional – marinadgdo221002@gmail.com;
⁸Enfermeira, coordenadora da Vigilância em Saúde, mestranda do PPGECS/UFT – anamariadiasenf@hotmail.com;
⁹Docente do Curso Superior de Medicina do Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos Campus Porto Nacional, mestranda em Ensino, Ciências e Saúde (PPGGECS/UFR), especialista em Assistência de Enfermagem em Urgência e Emergência, UTI Geral e Oncologia Clínica (CGESP-GO) – marcia.sales@itpacporto.edu.br;
¹⁰Docente do Curso Superior de Medicina do Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos Campus Porto Nacional, especialista em Saúde da Família e Docência do Ensino Superior (Faculdade Iguaçu) – sara.lopes@itpacporto.edu.br.