RISCOS PSICOSSOCIAIS EM TRABALHADORES DE UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA ADULTO: ESTUDO DE LITERATURA

PSYCHOSOCIAL RISKS IN WORKERS IN AN ADULT INTENSIVE CARE UNIT: LITERATURE STUDY

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10248251538


Cáritas Nogueira Rosa1
Profª. Dra. Maria Cristina de Moura Ferreira2
Profª. Dra. Lívia Ferreira Oliveira3
Marcos Martins da Costa4


Resumo

Tem-se por objetivo: analisar produções científicas na literatura atual voltadas aos riscos psicossociais em trabalhadores de saúde da Unidade de Terapia Intensiva Adulto. Estudo caracterizado por uma revisão integrativa da literatura, conduzido através do método da Prática Baseada em Evidências (PBE). O estudo ocorreu nas bases de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS); Biblioteca Eletrônica Científica Online (SciELO); Análise de Literatura Médica (MEDLINE/PUBMED); Web Of Science e Google acadêmico. Dessa forma, os resultados da pesquisa foram compostos por 10 publicações relacionadas ao tema. Foram extraídas das publicações, as seguintes informações: autores; título; ano de publicação; objetivo; metodologia e nível de evidência, seguindo os critérios do Instituto Joanna Briggs Institute. Mostra-se, que o Nível de I foi o único citado. Cabe ressaltar, que os principais aspectos citados foram: carga de trabalho excessiva, má organização e gerenciamento; ambiente inadequado e estresse de trabalho, que foram discutidas juntamente com outros resultados encontrados. É pertinente salientar, que os profissionais de saúde, na qualidade de empregados, precisam saber os riscos psicossociais no qual estão inseridos, e que também, o empregador, necessita mapear bem estes riscos e prevenir os mesmos, visando o não adoecimento dos trabalhadores de saúde.

Palavras-chave: Fatores de risco psicossociais; Trabalho; Saúde do trabalhador; Unidade de Terapia Intensiva.

Abstract

The objective is to: analyze scientific productions in current literature focused on psychosocial risks in health workers in the Adult Intensive Care Unit. Study characterized by an integrative literature review, conducted using the Evidence-Based Practice (EBP) method. The study took place in the following databases: Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences (LILACS); Online Scientific Electronic Library (SciELO); Medical Literature Analysis (MEDLINE/PUBMED); Web Of Science and Google Scholar. Thus, the research results were composed of 10 publications related to the topic. The following information was extracted from the publications: authors; title; year of publication; goal; methodology and level of evidence, following the Joanna Briggs Institute criteria. It is shown that Level I was the only one mentioned. It is worth highlighting that the main aspects mentioned were: excessive workload, poor organization and management; inadequate environment and work stress, which were discussed together with other results found. It is pertinent to highlight that health professionals, as employees, need to know the psychosocial risks in which they are involved, and that the employer also needs to map these risks well and prevent them, aiming to prevent health workers from falling ill.

Key-words: Psychosocial risk factors; Work; Worker’s health; Intensive care unit.

1 INTRODUÇÃO

Em 1986, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) definiu risco psicossocial como a interação entre o conteúdo do trabalho, a sua organização e gerenciamento, com outras condições ambientais e organizacionais, por um lado, e as competências e as necessidades dos trabalhadores de outro (PEREIRA et al., 2020).

Para Guimarães (2006), os Fatores de Risco Psicossociais do Trabalho (FRPT) são definidos como aquelas características do trabalho que funcionam como estressores, ou seja, que implicam grandes exigências do posto de trabalho, combinadas com recursos insuficientes internos do trabalhador para o seu enfrentamento. Os FRPT podem ser também entendidos como as percepções subjetivas que o trabalhador tem (exigências das características físicas da carga, da personalidade do indivíduo, das experiências anteriores e da situação social do trabalho) dos fatores de organização do trabalho: carreira, cargo, ritmo, ambiente social e técnico (PEREIRA et al., 2020).

O estresse é uma condição ocasionada pela apreensão de estímulos externos que desencadeiam excitação emocional. Esse estado colabora para o desequilíbrio da homeostasia e o disparo de uma reação de adaptação determinado pelo aumento de secreção de adrenalina e cortisol, induzindo manifestações sistêmicas que, se frequentes podem resultar em distúrbios fisiológicos e psicológicos. Ao ser relacionada ao trabalho, é nomeada como estresse ocupacional (MOTA et al., 2021).

Segundo Sauter, Hurrell Jr., Murphy e Levi (2002), os FRPTs podem ser compreendidos como as condições do trabalho que podem conduzir ao estresse, e estão relacionadas aos aspectos do posto de trabalho, do seu entorno, do clima e da cultura organizacional, das funções laborativas, das relações interpessoais entre colegas, do desenho e do conteúdo das tarefas. As relações entre os fatores psicossociais presentes no ambiente da organização e nas características do indivíduo, relativas a sua história de vida e as suas relações familiares e sociais, podem repercutir na eclosão do estresse no contexto laboral.

A Norma Técnica de Prevenção (NTP nº 443, 1994) do Ministério do Trabalho e Assuntos Sociais da Espanha define os FRPT como as condições que estão presentes no contexto laboral e que estão diretamente relacionadas à organização, ao conteúdo do trabalho e à realização das tarefas, e que têm a capacidade de afetar tanto o bem-estar como a saúde física, psíquica e social do trabalhador no desenvolvimento de suas atividades (NTP, 1994).

Sendo assim, a exposição do trabalhador a condições psicossociais adversas pode prejudicar a sua saúde e o seu bem-estar e gerar sofrimento psíquico, sentimentos de insatisfação e desmotivação no trabalho e problemas de relacionamento, entre outras dificuldades (BENITES et al., 2022). Os riscos ocupacionais são todas as situações de trabalho que podem romper o equilíbrio físico, mental e social das pessoas, e não somente as situações que originem acidentes e enfermidades. Podem-se caracterizar os riscos ocupacionais aos quais os trabalhadores de enfermagem estão expostos, como: físicos, químicos, biológicos, de acidentes e ergonômicos (CAMPOS et al., 2022; BARBOSA et al., 2022).

Certas características próprias da personalidade de cada trabalhador, associadas às suas expectativas, vulnerabilidades, capacidade de adaptação e recursos de enfrentamento diante de estressores, determinarão a magnitude e a natureza tanto das suas reações como das consequências que sofrerão (BARCELOS et al., 2022). Os fatores de risco psicossociais precisam ser compreendidos tanto como as condições que se apresentam de forma objetiva no contexto laboral, como as que são percebidas e experienciadas pela pessoa (BRASIL, 1994).

Dessa forma, levantou-se a seguinte questão de pesquisa: Quais os riscos psicossociais em trabalhadores de saúde na Unidade de Terapia Intensiva adulto? Tem-se por objetivo: analisar produções científicas na literatura atual voltadas aos riscos psicossociais em trabalhadores de saúde da Unidade de Terapia Intensiva Adulto.

2 METODOLOGIA

 Estudo caracterizado por uma revisão integrativa da literatura, conduzido através do método da Prática Baseada em Evidências (PBE), seguindo as etapas sequenciais para sua realização: 1- Definição da questão de pesquisa; 2-Seleção das bases de dados; 3- Busca das publicações, usando os critérios de inclusão e exclusão; 4- Organização do material e 5- Apresentação final da revisão integrativa (SOUSA et al., 2017).

Este estudo é de abordagem qualitativa, descritiva e exploratória, no qual ressalta o que se tem até os dias atuais sobre o tema, mas também detalha de forma minuciosa os achados científicos, que podem ser inovadores e ainda pouco explorados. A diretriz utilizada foi a do instrumento Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA).

Para elaborar a questão de pesquisa, fez-se o uso como recurso primordial, a estratégia PICO (P -Problema do estudo I – Intervenção C – Comparação O – Desfecho). Essa estratégia, possibilitou a construção da seguinte pergunta: Quais os riscos psicossociais em trabalhadores de saúde na Unidade de Terapia Intensiva adulto?  

No segundo momento, foi realizada a escolha das bases de dados que seriam trabalhadas, são elas: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS); Biblioteca Eletrônica Científica Online (SciELO); Análise de Literatura Médica (MEDLINE/PUBMED); Web Of Science e Google acadêmico. Em seguida, foram definidos os critérios de inclusão e exclusão: estudos publicados entre os anos de 2019 a 2023, em língua portuguesa, que respondessem ao objetivo do estudo e a sua questão de pesquisa.

Foram excluídos para compor os resultados deste estudo: teses, dissertações, estudos de relatos de experiências, resumos, trabalhos de congresso e artigos incompletos ou que cobrasse taxas de acesso. Os DeCS (Descritores em Ciências da Saúde), foram: Fatores de risco psicossociais; Trabalho; Saúde do trabalhador; Unidade de Terapia Intensiva; cruzados pelo operador booleano AND.

             Na busca das publicações para compor o estudo, foram encontradas 186, logo na primeira aplicação do filtro de tempo de publicação e idioma. Após isso, foram realizadas a leitura dos títulos, no qual 125 foram excluídas e 61 seguiram em análise. Foi realizada uma segunda leitura nos títulos restantes, para confirmar a continuidade destes estudos na análise, e 12 publicações estavam condizentes com o tema. Tais publicações tiveram os seus resumos analisados e 10 foram incluídas na pesquisa.

Dessa forma, os resultados da pesquisa foram compostos por 10 publicações relacionadas ao tema. Na etapa de apresentação dos resultados, foram extraídas das publicações, as seguintes informações: autores; título; ano de publicação; objetivo; metodologia e nível de evidência, seguindo os critérios do Instituto Joanna Briggs Institute (VERNAYA; MCADAM, 2015; STILLWELL et al., 2010).

Os níveis de evidência se classificaram em: NÍVEL I –  estudos que evidenciam resultados através de revisões e ensaios clínicos; NÍVEL II – Estudos de ensaio clínico randomizado; NÍVEL III – Estudos de ensaios clínicos, mas sem randomização; NÍVEL IV – Estudos de coorte e de caso controle; NÍVEL V- Estudos descritivos e Qualitativos com bom delineamento; NÍVEL VI; Estudos qualitativos, mas com delineamento frágil e NÍVEL VII – Relatórios e documentos de especialistas (VERNAYA; MCADAM, 2015; STILLWELL et al., 2010).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A tabela abaixo, descreve as características das publicações, para que seja possível identificar e compreender a escolha de cada uma delas. No quadro 1, houve a classificação a partir do nível de evidência.

Tabela 1 – Características das publicações encontradas

AutoresTítuloAno de publicaçãoObjetivoMetodologia
PEREIRA, A.C.L. et al.Fatores de riscos psicossociais no trabalho: limitações para uma abordagem integral da saúde mental relacionada ao trabalho2020Contribuir com o debate a respeito das limitações dos fatores de riscos psicossociais no trabalho.  Estudo qualitativo baseado em levantamento bibliográfico e análise documental.
BENITES, P.A; FAIMAN, C.J.SA saúde dos profissionais que atuam em Unidades de Terapia Intensiva2022Verificar que fatores da organização do trabalho podem contribuir para o adoecimento de trabalhadores de saúde, visando à promoção de saúde relacionada ao trabalho.  Estudo sistemático, com artigos publicados entre 2015 e 2021 a respeito da saúde dos profissionais de UTI no Brasil.
MOTTA, J.K.S.C. et al.Fatores desencadeantes de síndrome de burnout em profissionais da equipe de enfermagem atuantes na unidade de terapia intensiva2022Realizar a avaliação de fatores desencadeantes da SB em técnicos de enfermagem e em enfermeiros atuantes na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) adulto nacionaisEstudo sistemático, com artigos publicados sobre os principais pontos causadores de estresse laboral com o intuito de responder quais os fatores desencadeantes do processo de adoecimento laboral causado pela SB.
NAZÁRIO, E.G; SILVA, R.M; NICOLLETI; G.S.Saúde do trabalhador em Unidades de Terapia Intensiva: Tendências da produção científica brasileira  2021Identificar tendências na produção científica, em teses e dissertações, sobre saúde do trabalhador em unidades de terapia intensiva.  Levantamento de dados, documentos e bibliografias sobre saúde do trabalhador na UTI.
HOLANDA, S.C.C; SOUZA, D.A.Principais fatores que alteram a qualidade do sono e as consequências na vida de enfermeiros que atuam na unidade de terapia intensiva  2023Analisar as evidências científicas dos principais fatores que alteram a qualidade do sono e as consequências na vida de enfermeiros que atuam na unidade de terapia intensiva.  Estudo sistemático, com artigos publicados sobre qualidade de sono e os fatores que levam a alterações neste ponto, bem como as suas consequências.
OLIVERA, L.I.F; SILVA, G.S; SILVA, A.D.M.Repercussões emocionais do trabalho em unidades de terapia intensiva vivenciadas por enfermeiros no Brasil  2022Analisar as evidências cientificas acerca das repercussões emocionais do trabalho em unidade de terapia vivenciada por enfermeiros e discutir os fatores que levam a essas alterações.  Levantamento de dados, documentos e bibliografias sobre saúde vivências de enfermeiros na UTI.
SOUZA; C.G.V.M. et al.Qualidade de vida profissional na saúde: um estudo em Unidades de Terapia Intensiva2019Avaliar a Qualidade de Vida Profissional por meio da análise de Satisfação por Compaixão, Burnout e Estresse Traumático Secundário em profissionais da saúde que atuam em Unidades de Terapia Intensiva.  O método adotado foi o estudo Survey em quatro UTIs de hospital universitário terciário da cidade de São Paulo.
SILVA; A.F; ROBAZZI, M.L.C.CAlterações mentais em trabalhadores de unidades de terapia intensiva2019Investigar as evidências científicas sobre alterações mentais em trabalhadores de Unidades de Terapia Intensiva (UTI).  Levantamento de dados, documentos e bibliografias sobre alterações mentais em trabalhadores na UTI.
OLIVEIRA, B.C. et al.Sintomas osteomusculares e qualidade de vida dos profissionais de saúde de uma unidade de terapia intensiva de Teresina, Piauí  2019Verificar e correlacionar a presença de sintomas osteomusculares e a qualidade de vida dos profissionais de saúde da unidade de terapia intensiva (UTI) de um hospital público de Teresina.  Estudo de campo, quantitativo, de caráter observacional, transversal e analítico, realizado com 30 profissionais da UTI de um hospital público.
SANTOS, S.A.A. et al.Riscos ocupacionais em profissionais de enfermagem de uma Unidade de Terapia Intensiva adulta, localizada em um município de Pernambuco      2021Identificar os riscos ocupacionais que profissionais de enfermagem estão expostos atuando em uma UTI adulto de um hospital regional em um município de Pernambuco.Estudo descritivo com abordagem quantitativa. A amostra foi composta por 39 profissionais de enfermagem. Utilizou-se de um questionário semiestruturado e adaptado no período de fevereiro a março de 2018.

Fonte: dados da pesquisa, 2023.

            Predominaram-se artigos dos anos de 2022 (3) e 2019 (3), em seguida, artigos do ano de 2021 (2), e dos demais anos somente um artigo em cada. Os objetivos dos estudos estavam condizentes com a questão de pesquisa e a nível metodológico, tratavam-se de estudos quantitativos, robustos, com intuito de fazer levantamentos e análises sistêmicas.

Quadro 1- Classificação quanto ao nível de evidência e aos riscos psicossociais identificados nas publicações

AutoresRiscos psicossociaisNível de Evidência
PEREIRA, A.C.L. et al.-Desgaste Mental -Carga de trabalho excessiva -Relações laborais -Trabalho emocional –Nível I
BENITES, P.A; FAIMAN, C.J.S-índices expressivos de Burnout -Queixas osteomusculares -Falha no gerenciamento e organização do trabalhoNível I
MOTTA, J.K.S.C. et al.-Existe uma predominância na categoria de enfermagem, quanto aos riscos psicossociais e também no desenvolvimento de Burnout. – O ambiente da UTI é um fator estressante e de alta demanda.  Nível I
NAZÁRIO, E.G; SILVA, R.M; NICOLLETI; G.S.-Más condições de trabalho. – Estresse ocupacional.Nível I
HOLANDA, S.C.C; SOUZA, D.A.-Rotina de trabalho e alterações no ciclo do sono, resultam em má qualidade sonora para os trabalhadores de enfermagem.Nível I
OLIVERA, L.I.F; SILVA, G.S; SILVA, A.D.M.-Carga elevada de trabalho. -Má organização e gerenciamento que resultam em alta demanda.Nível I
SOUZA; C.G.V.M. et al.-Área de atuação profissional e ambiente de trabalho. -Carga de trabalho -Necessidades organizacionaisNível I
SILVA; A.F; ROBAZZI, M.L.C.C-Situações de violência no trabalho -Conflitos e más relações pessoais. -Maus tratos aos trabalhadoresNível I
OLIVEIRA, B.C. et al.– Os sintomas musculoesqueléticos podem estar relacionados ao estresse, desgaste físico e mental.Nível I
SANTOS, S.A.A. et al.– O ambiente laboral pode levar os profissionais à exposição de diversos riscos; -É preciso classificar os riscos e entender que existem categorias com maior exposição aos mesmos. -O ambiente de trabalho é um dos principais fatores para os riscos psicossociais.Nível I

Fonte: dados da pesquisa, 2023.

Mostra-se, que o Nível de I foi o único citado, caracterizando as publicações com alto padrão quanto a evidência científica sobre a temática em estudo. Cabe ressaltar, que os principais aspectos citados foram: carga de trabalho excessiva, má organização e gerenciamento; ambiente inadequado e estresse de trabalho, que foram discutidas juntamente com outros resultados encontrados.

Na contemporaneidade as constantes mudanças organizacionais, sociais e jurídicas estão ligadas ao processo de adoecimento do trabalhador devido a exposição contínua a estressores ambientais e situacionais que resultam no estresse ocupacional, influenciando no aumento da exaustão emocional, despersonalização e baixa realização profissional (VASCONCELOS, 2018; PEREIRA et al., 2020).

Guimarães (2006) categoriza os riscos psicossociais em dois tipos: estressores ou demandas de trabalho e disponibilidade de recursos pessoais e laborais. O primeiro, refere-se às dimensões físicas, sociais e organizacionais que exigem manutenção do esforço e que estão ligadas aos custos psicológicos e fisiológicos no processo de trabalho, como, por exemplo, a sobrecarga quantitativa ou o conflito de papéis (BENITES; FAIMAN, 2022).

O segundo tipo, a existência de recursos pessoais e laborais, corresponde aos aspectos psicológicos, físicos, sociais e organizacionais que são necessários para a obtenção das metas, que minimizam as demandas laborais e estimulam o desenvolvimento profissional. A mesma autora sustenta que há duas espécies de recursos: pessoais e laborais. Os recursos pessoais dizem respeito às características das pessoas, como a autoeficácia profissional. Os recursos do contexto laboral estão relacionados com o nível de autonomia no trabalho, o feedback sobre as atividades desenvolvidas e a capacitação que a organização oferece ao trabalhador (GUIMARÃES, 2006; MOTTA et al., 2022).

Os fatores de risco psicossociais apresentam relação com as condições, a organização e as relações sociais de trabalho. Condições de trabalho são “as pressões físicas, mecânicas, químicas e biológicas do posto de trabalho”. “As pressões ligadas às condições de trabalho têm por alvo principal o corpo dos trabalhadores, onde elas podem ocasionar desgaste, envelhecimento e doenças somáticas” (Dejours & Abdoucheli, 1990/1993, p.125).

Continuamente, a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é o campo hospitalar destinado ao atendimento de pacientes em estados graves que carecem de assistência permanente e especializada, reconhecidas por possuírem altos níveis de estresse (MOTA et al., 2021; SILVA et al., 2017; NAZÁRIO; SILVA; NICOLETTI, 2021)

Os profissionais intensivistas sofrem influência de diversos estressores que podem levá-los ao estresse ocupacional, com consequências a saúde, produtividade e qualidade do cuidado prestado aos pacientes (SILVA et al., 2017; OLIVEIRA; SILVA; SILVA, 2022). Entre os estressores encontrados estão a dupla jornada de trabalho, riscos ocupacionais, precariedade de recursos materiais, falta de pessoal qualificado e relações interpessoais conflituosas. A constante exposição a estes estressores, ocasiona o esgotamento físico e emocional, influenciando na qualidade de vida e danificando a interação com suas funções e com o meio de trabalho desencadeando a SB (FERNANDES; NITSCHE; GODOY, 2017).

A palavra Burnout em inglês representa “queimar-se” ou “consumir-se”. A Síndrome de Burnout (SB) foi uma das consequências da exposição aos riscos psicossociais, sendo a SB a mais citada nos artigos. É um distúrbio psíquico que pode ser definido como uma síndrome de exaustão emocional, despersonalização e insatisfação profissional. É importante salientar que a Organização Mundial de Saúde (OMS) incluiu a SB como doença ocupacional no início de janeiro de 2022 (VASCONCELOS, 2018; FARIA et al., 2019; NEVES, 2019).

O profissional que se encontra com Burnout contém três características, sendo estas: exaustão emocional, despersonificação e baixa realização profissional, em meio aos sintomas apresentados, o trabalhador assume posição de frieza frente aos pacientes. Desta forma a qualidade da assistência prestada diminui, somando-se a relação de indiferença do enfermeiro a atividade prestada, podendo afetar o bem estar do profissional e a saúde do cliente por meio de um mau atendimento, procedimentos equivocados, negligência e imprudência (SILVA; CARNEIRO; RAMALHO, 2020).

Somando-se a isso, os efeitos negativos da SB podem estar inclusos os físicos, psicológicos e ocupacionais, englobando espaços importantes na vida do indivíduo e podendo ocasionar no suicídio, em contrapartida organizacionalmente há o aumento do absentismo, presenteísmo e insatisfação no trabalho, deste modo prejudicando a qualidade do cuidado (FARIA et al., 2019; MOTTA et al., 2022).

Os estudos constataram, que o Burnout contém três dimensões, sendo estas à exaustão emocional, baixa realização profissional e despersonalização. Inicia-se pela exaustão emocional associada ao sentimento de falta de energia e entusiasmo, fadiga, por conta do esgotamento de recursos emocionais, essências para lidar com a circunstância estressora. Já a baixa realização profissional refere-se à tendência de deterioração da aptidão e desprazer com realizações profissionais, tornando-se infeliz e consequentemente havendo um declínio no sentimento de competência, assim como na capacidade de interação social. Por fim, a despersonalização consiste em atitudes negativas, insensibilidade e despreocupação em relação aos outros (FERNANDES; NITSCHE; GODOY, 2017).

Outrossim, os eventos adversos são danos não intencionais que não tem relação com a evolução natural da doença ocasionando lesões que podem prolongar o tempo de internação ou causando a morte do paciente. A Unidade de Terapia Intensiva é considerada o setor onde ocorrem mais incidentes devido aos pacientes necessitarem de cuidados intensivos e um alto número de intervenções terapêuticas complexas, sendo mais suscetíveis a falhas na atenção ou infecção. O ambiente profissional desgastante da UTI, a carga horária de trabalho, a relação equipe e o alto nível de estresse e baixa realização profissional pode ser associada aos eventos adversos e incidentes nesses setores (PADILHA et al., 2017).

Sob o mesmo ponto de vista, Silva Soares et al., (2021) informaram no seu estudo epidemiológico observacional com 107 profissionais da equipe de enfermagem de um hospital público municipal de emergência, de grande porte, que a exaustão emocional alta afeta 21 (24,7%) dos profissionais; a despersonalização alta afeta 16 trabalhadores (18,8%) e a realização profissional baixa 7 (8,2%) dos colaboradores. Agregando-se a isso, Fernandes; Nitsche; Godoy, (2017) expõem em relação a classificação das três dimensões com trabalhadores da área de Enfermagem da UTI Adulto de um hospital público de alta complexidade, que a exaustão emocional, 74,5% dos profissionais apresentaram padrão alto, do mesmo modo da despersonalização (93,7%) e 93,6% baixo para realização profissional.

Além disso, foi verificada a correlação entre as dimensões da SB e as dimensões da sintomatologia depressiva, sendo assim, quanto maior for o nível de exaustão emocional e despersonificação, maior a sintomatologia depressiva e quanto menor a realização profissional, maior a sintomatologia (SANTOS et al., 2019).

É notório que longas jornadas de trabalho, podem estar relacionadas à maior desgaste físico e emocional, onde Fernandes, Nitsche, Godoy, (2017) trazem que a carga horária de trabalho que leva a sentimentos de não realização eficiente do trabalho e distanciamento do paciente. Sobrecarga e trabalho relacionados ao número insuficiente de profissionais escalados em relação à demanda de trabalho requerida, ou seja, quanto maior o nível educacional maior é a propensão à SB.

Logo, pode-se inferir que a probabilidade de incidência de Burnout está correlacionada a carga de trabalho, ambiente de trabalho inadequado e insatisfação profissional, que podem comprometer a segurança dos pacientes. Sendo necessário a identificação de fatores associados para prevenir a ocorrência de incidentes e correção de danos (PADILHA et al., 2017; SOUZA et al., 2019; SILVA; ROBAZZI, 2019; OLIVEIRA et al., 2019).

CONCLUSÃO

Concluiu-se neste estudo, que o objetivo foi alcançado, e ainda, que foi possível apontar o que há de mais recente sobre o tema, utilizando pesquisas dos últimos anos. Sabendo que a UTI é um ambiente estressante, com muitos equipamentos, aparelhos, equipe multiprofissional e paciente críticos, torna-se evidenciado, que é um local de grande impacto na saúde psicossocial dos seus trabalhadores.

Dentre os riscos identificados, o desenvolvimento de SB também foi muito citado pelas pesquisas, sendo um problema de saúde pública e também da linha de cuidado de saúde do trabalhador. Recomenda-se novos estudos, principalmente pesquisas diretas no campo e experimentais, para que possa trazer novos conhecimentos sobre o assunto. É pertinente salientar, que os profissionais de saúde, na qualidade de empregados, precisam saber os riscos psicossociais no qual estão inseridos, e que também, o empregador, necessita mapear bem estes riscos e prevenir os mesmos, visando o não adoecimento dos trabalhadores de saúde.

REFERÊNCIAS

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