RISCOS DA LOGÍSTICA NA REGIÃO AMAZÔNICA PARA EMPRESAS DO PIM

LOGISTIC RISKS IN THE AMAZON REGION FOR PIM COMPANIES

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11060816


John Willian Pedrosa Rodrigues1;
Marcos Paulo Mendes Araújo2.


Resumo

No Brasil, mais precisamente no Amazonas, onde está localizado o Polo Industrial de Manaus, encontra-se uma problemática que vai de frente com grandes estratégias das organizações voltadas para a competitividade de mercado, que trata-se da logística, que por sua vez está também relacionada com a infraestrutura e transporte, no qual impactam diretamente na qualidade dos produtos, visto que as empresas do Polo Industrial de Manaus precisam de estoque para suprir uma demanda mas acabam se deparando com a escassez de insumos por causa da logística. Este artigo tem como objetivo geral analisar os riscos da logística para as empresas do Polo Industrial de Manaus (PIM). As deficiências que existem na logística amazônica afetam diretamente a competitividade dos produtos pertencentes ao Polo Industrial de Manaus, pois há uma dependência dos insumos importados bem como de insumos que partem de outras partes do País. Trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa que tem como principal finalidade analisar os riscos logísticos decorrentes dos entraves que são presentes na logística das empresas pertencentes ao Polo Industrial de Manaus.

Palavras-chave: Polo Industrial de Manaus. Competitividade. Logística. Entraves. 

1. Introdução

Desde o início da chamada globalização, a competitividade passou a ser alvo de acaloradas discussões. Promovidos por diversos profissionais, os debates surgiram em diferentes ramos empresariais. E foi, justamente a partir deles, que vários países buscaram de forma incessante, mecanismos que pudessem potencializar a competitividade nos diversos setores de suas indústrias.  

No Brasil, mais precisamente no Amazonas, onde está localizado o Polo Industrial de Manaus, encontra-se uma problemática que encara de frente as mais significativas estratégias das organizações, sobretudo, aquelas voltadas à competitividade de mercado, entre as quais, a logística, que por sua vez está também relacionada com a infraestrutura e transporte que, de maneira geral, impactam diretamente na qualidade dos produtos, visto que as empresas do Polo Industrial de Manaus precisam de estoque para suprir certas demandas mas acabam se deparando com a escassez de insumos em razão das dificuldades logísticas enfrentadas pela região. 

De forma inevitável, essas deficiências que existem na logística amazônica afetam diretamente a competitividade dos produtos pertencentes ao Polo Industrial de Manaus, pois há uma dependência de tais insumos, quase sempre importados, bem como, dos insumos que partem de outras partes do país. Além disso, enquanto que em outras cidades do Brasil as indústrias trabalham com estoque mínimo, no Amazonas esses estoques são médios, o que acabam ocasionando maiores custos com armazenagem e manutenção.

Compreender as dificuldades que envolvem as empresas do PIM colabora com alternativas que podem ser geradas e construídas para logística integrada e que afetam diretamente a economia local através do comércio e na esfera social. Com isso, o conhecimento gerado através das pesquisas relacionadas com os riscos permite que gestores consigam desenvolver estratégias que possam colaborar com ajustes nas cadeias de suprimentos. Além disso, justifica-se a pesquisa pela relevância econômica voltada para a indústria do PIM visto que todo conhecimento investigado pode trazer contribuições estratégicas para as empresas do PIM.

Este artigo tem como objetivo analisar os riscos da logística para as empresas do Polo Industrial de Manaus (PIM). Para alcançar tai objetivo, buscou-se inicialmente descrever as dificuldades apontadas pelas empresas com relação à logística, apontar os principais fatores regionais que colaboram com os riscos dessas dificuldades para produção, listar as vantagens decorrentes da adoção de um sistema eficiente de logística integrada, capaz de compensar as limitações impostas pelas características geográficas desfavoráveis ao Polo Industrial.

1. A logística no PIM: uma análise necessária 

Para que haja uma compreensão sobre o Polo Industrial de Manaus faz-se necessário percorrer uma espécie de trilha de conhecimento, iniciada na criação da Zona Franca de Manaus. Para entender melhor as especificidades dessa área, talvez o melhor seria começar apresentando sua principal finalidade:

Art. 1º A Zona Franca de Manaus é uma área de livre comércio de importação e exportação e de incentivos fiscais especiais, estabelecida com a finalidade de criar no interior da Amazônia um centro industrial, comercial e agropecuário dotado de condições econômicas que permitam seu desenvolvimento, em face dos fatores locais e da grande distância, a que se encontram, os centros consumidores de seus produtos (BRASIL, 1967, s.p.).

A ZFM foi estabelecida para a finalidade de levar a amplitude do comércio para o Amazonas, com o intuito de empregar mão de obra local em troca de incentivos fiscais, contribuindo com o desenvolvimento econômico da região, permitindo com que, além de gerar renda para as famílias, os produtos fabricados no Polo Industrial tivessem um preço menor, devido a produção local, se comparado com os produtos ou insumos que são encaminhados através de frete aéreo.

O fato da ZFM estar situada em uma região de difícil acesso, onde as mercadorias chegam, desde sua criação, através dos modais aéreo e/ou fluvial por si só, já apresenta dificuldades. Além disso, na época de sua instalação a região escolhida era pouco povoada, demandando atrair mão de obra nacional ou de outros países. Para atrair essas pessoas e torná-la atraente o caminho foi oferecer oportunidades de trabalho e com isso teve início o povoamento da região e por consequência seu desenvolvimento econômico, como afirmou seráfico (2005, p. 99-100):

[…] A criação da Zona Franca de Manaus foi justificada pela ditadura militar com a necessidade de se ocupar uma região despovoada. Era necessário, portanto, dotar a região de “condição de meios de vida” e infraestrutura que atraíssem para ela a força de trabalho e o capital nacional e estrangeiro […] De fato, sua criação e desenvolvimento sempre estiveram atrelados a circunstâncias político-econômicas locais, nacionais e mundiais.

Outra contribuição da ZFM para o Amazonas está voltada para a preservação florestal, onde estima-se que os efeitos da atuação do Polo Industrial contribuíram na redução de aproximadamente 70% no desmatamento no Estado do Amazonas, entre 2000 a 2006. O mesmo ocorreu com a quantidade de carbono que foi emitido nessa época, onde o PIM conseguiu evitar cerca de US$ 10 bilhões no período (HOLLAND, 2015).

Domingues (2016) na sua vez, afirma que entre os anos de 1960 a 1980, período de instalação, foi quando ocorreu maior agravo de desmatamento, devido uma maior necessidade de crescimento urbano, foram realizadas novas aberturas de estradas, criação de centros e empreendimentos agrícolas. A presença de mineradoras e criação de projetos de infraestrutura também foram solicitados. Isso exigiu uma maior utilização de recursos naturais.

2.1.1 Zona Franca e sua produtividade 

A produção voltada para eletroeletrônicos e equipamentos de comunicação fez com que a ZFM crescesse nos últimos vinte anos. Dados da Relação Anual de Informações (RAIS) de Manaus, estava pertencendo a uma classificação, onde era considerada no ano de 2010, a décima terceira microrregião como a que mais emprega no setor da indústria de transformação. No quesito de salários, encontra-se um pouco abaixo, chegando em décima sexta colocação (RAIS, 2015).

1.1. A Falta de competitividade em exportação na ZFM

A Zona Franca de Manaus é uma área que permite o livre comércio de importação, pois no início do seu funcionamento, o modelo que se estabeleceu em mais de 50 anos da Zona franca de Manaus, usufruía de desonerações tributárias, que barateavam produtos importados, os quais podiam ser adquiridos a valores menores do que em outras regiões do Brasil. Contudo, após a abertura de mercado ocorrida na década dos anos 1990, a região foi afetada e a partir deste momento, deixou de ser competitiva na importação e venda de produtos, passando a consolidar-se como uma grande importadora de insumos, para uso no parque industrial aqui instalado.

Como ressalta Teixeira (2013):

A partir desse momento, com o intuito de manter o compromisso de continuar dinamizando e integrando a região com o restante do país, a ZFM, por meio da ação de planejamento da SUFRAMA, passou a incrementar seu parque industrial e a concentrar seus esforços na implementação de políticas fiscais que viessem a manter a competitividade de seus produtos, diante daqueles produzidos nas demais regiões brasileiras.

Com isso, observa-se a prática dos preceitos da Constituição, mas com foco na aquisição de insumos, em contraste com a importação de produtos acabados. Este foco permanente em incentivar a importação de produtos acabados no início da Zona Franca de Manaus e mais recentemente na importação de insumos, que deu início a um déficit na Balança Comercial da Zona Franca de Manaus.

Uma série de resultados negativos foram tomando conta do PIM, tais como a alavancagem dos déficits comerciais e a vulnerabilidade do setor industrial nacional, que deram passagem a uma nova fase, a da abertura indiscriminada do comércio. Nessa temática Filgueira (2006) discorre:

Como decorrência, na etapa seguinte, surgem e avolumam-se saldos negativos na Balança Comercial (exportação/importação de mercadorias) e na conta de Transações Correntes (soma da Balança Comercial, da Balança de Serviços e das Transferências Unilaterais), colocando esses países numa situação de vulnerabilidade de dependência com relação ao fluxo de capitais estrangeiros.

O déficit da balança comercial (Exportações menos Importações) no Polo Industrial de Manaus atinge valores expressivos, de acordo com os relatórios dos Indicadores do Polo Industrial de Manaus do ano de 2010, esse efeito ocorre justamente como consequência da isenção da alíquota para importação de produtos estrangeiros para uso dentro da ZFM. Ocorrendo esse evento, a importação realizada pela ZFM passa a superar a exportação, causando esse déficit. Como cita Holland (2015): 

Além dos incentivos destinados ao IPI e aos PIS/COFINS, o Decreto-Lei 288/67 prevê a isenção do Imposto de Importação na importação de produtos estrangeiros destinados ao seu uso e consumo na ZFM ou na industrialização por empresas estabelecidas na referida área. Caso os produtos industrializados na Zona Franca de Manaus saiam para qualquer ponto do território nacional, ficam sujeitos ã exigibilidade do Importo de Importação relativo a matérias primas, produtos intermediários, materiais secundários e de embalagem, componentes e outros insumos de origem estrangeira neles empregados, mediante a aplicação do coeficiente de redução de 88%. Para os insumos importados para a fabricação de veículos, o §9º, do art. 7º, do DL 288/67, prevê a aplicação de um coeficiente de redução de 93%.

Este foco definido no início do modelo, pode ser uma grande causa da falta de competitividade que assola as industrias do PIM, pois não priorizando exportar, as indústrias não buscam ser mais competitivas, se comparadas com as indústrias pertencentes a outros países. Nesse caso, importar insumos e produzir com foco apenas nas vendas nacionais pode resultar em um comércio pouco impactante para a competitividade entre as indústrias pois não alavanca a indústria brasileira. Com objetivo de evidenciar esta potencial causa, segue abaixo o gráfico que mostra a evolução da balança comercial no Polo Industrial de Manaus no período de 2012 até 2017.

Gráfico 1 – Demonstrativo da exportação e da importação no PIM
Fonte: SUFRAMA, 2010.

O Gráfico 1 acima, evidencia o quantitativo de importação comparado com a quantidade de exportação realizada pela ZFM ao longo de 7 anos, onde observa-se que a quantidade em todos os anos estudados (2012 – 2017), possui em quantidade superior a importação se comparada com a exportação nesse mesmo período. A indagação que repercute envolta desse demonstrativo, o aprofundamento ao conceito de Zona Franca x Zona as Zonas de Processamento de Exportação são comumente confundidas com as Zonas de Processamento de Exportação, que por sua vez são locais onde o foco é a exportação, passando a se beneficiar de um regime especial, direcionada a auxiliar as empresas para fazerem a exportação (TEIXEIRA, 2013).

A ZFM desde a sua criação está direcionada para importar insumos que serão utilizados na produção de produtos eletroeletrônicos dos mais variados comercializados no Brasil. Para que esse cenário fosse distinto, seria necessário que a Zona Franca fosse um Zona de Exportação (ZE), que são as mais implantadas ao redor do mundo, como no caso da Ásia, se tornando uma potencial geradora de empregos como pode-se observar no quadro abaixo. 

Quadro 1 – As Zonas Francas Mundiais
Fonte: CZFA, 2013.

As Zonas de Exportação possuem mais impacto na economia do local onde está inserida devido a quantidade de geração de empregos que surgem com a atividade de exportação, fator este propulsionador da competitividade das industrias que fazem parte desse aglomerado. O que pode resultar a longo prazo em novas estratégias, aquisição de novas tecnologias e mais empregos para a população.

A competitividade se reduz na ZFM devido à falta de atrativo para as indústrias, relacionada a oneração dos custos relacionados com a logística, que acabam refletindo no preço final. Primeiro fator está relacionado ao foco direcionado para importação de insumos, porém o que ocorre na maioria das vezes é a produção de um eletroeletrônico produzido no Polo Industrial possuir um preço de venda superior ou equiparado ao de uma empresa que importa de outro país com especificações completas e com alta tecnologia, o que gera divergência na compreensão de oferecer para o próprio Brasil a possibilidade de adquirir produtos industrializados e eletroeletrônicos sem precisar gerar procura por outros meios que possam inclusive contribuir com o desmatamento da floresta.  

Contudo, a busca por preço mais baixo para a população local faz com que a compra de eletrônicos de outros países ou lugares se tornem mais atraentes, como solicitados pela internet, seja uma boa opção, comportamento este que faz com que a exportação do PIM tenha uma queda, que geram impactos maiores na geração de empregos e rendas para o Estado do Amazonas.

2. Metodologia emprega na pesquisa.

A investigação apoiou-se nos dados levantados para realizar uma análise de natureza qualitativa. Nesta pesquisa o objeto central foi o de analisar os riscos logísticos decorrentes dos entraves que são presentes na logística das empresas pertencentes ao Polo Industrial de Manaus. A pesquisa apresenta uma abordagem exploratória descritiva com o objetivo de compreender os fenômenos que permeiam a indústria que faz parte da Zona Franca de Manaus.

Para fundamentação das análises, foi realizada uma revisão da literatura sobre o tema afim de explorar o máximo de informações sobre a temática no intuito compreender o estado atual do conhecimento deste campo de estudo. Sem dúvida, trabalhos sobre o tema ou próximos dele, contribuem para consolidação de evidências. Essa abordagem incluiu uma seleção cuidadosa de fontes que fossem relevantes, tais como, artigos científicos, obras clássicas como o tema central e os temas correlatos, além de pesquisas científicas publicadas ou não e outras possíveis fontes acadêmicas.

Além de oferecer uma visão abrangente do que já foi explorado, a revisão de literatura tem o propósito de identificar brechas no conhecimento existente, enfatizando áreas que requerem investigações adicionais. Essa análise crítica é essencial para contribuir para o avanço contínuo de uma determinada disciplina.

A coleta de dados foi realizada mediante pesquisa nas principais plataformas de dados tais quais: Scielo e Google Acadêmico. Foram adotados critérios para serem analisados os estudos encontrados, divididos em critérios de inclusão e exclusão. Para os critérios de inclusão, foram considerados estudos publicados entre os anos de 2014 a 2023, no idioma português, voltados para as dificuldades da logística que permeia o PIM. Foram descartados os estudos mais antigos, com publicações superiores a 10 anos e em outros idiomas, bem com o não correspondendo com os objetivos dessa pesquisa. 

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS

No estudo realizado por Araújo, Santiago & Rodriguez (2014) foram evidenciadas as estratégias que colocam em risco as empresas do PIM para superar os riscos logísticos decorrentes das particularidades geográficas locais. Pode-se citar o caso da empresa que para reduzir os custos de Manaus para São Paulo passou a alugar um espaço para atender os clientes, para antecipar os custos com ICMS, sem que haja geração de receita e isso acaba comprometendo a margem de rentabilidade dos produtos. Outro caso está relacionado a um grupo de fornecedores, armazém geral e armazém alfandegário, que as empresas tentam formar para tentar diluir as dificuldades logísticas que envolvem suas demandas.

 No estudo de Nascimento e Oliveira (2022), os autores evidenciam que a infraestrutura logística se apresenta como um facilitador para as empresas, pois permite com que haja uma redução de tempo do desembaraço de cargas e a redução também dos custos envolvidos, sendo um dos benefícios para as empresas do PIM que importam e usam o transporte aéreo. O estudo traz como alternativa um sistema de gerenciamento como o Regime Aduaneiro Especial de Entreposto Industrial sobre Controle Informatizado (RECOF).

Picanço et al, (2023) apontaram os principais pontos que podem trazer riscos para a logística das empresas do PIM. Destacaram os seguintes itens: distância dos principais centros consumidores, dependência do transporte fluvial, limitações de infraestrutura, dificuldades de mão-de-obra, custo da energia elétrica. A empresa da pesquisa utiliza-se de cabotagem e rodoviário para transportar as mercadorias. A cabotagem se apresentou como a estratégia mais eficiente para enviar produtos para outras partes do país, além de ser uma alternativa que se apresenta como a mais sustentável. 

3.1 LOGÍSTICA NA AMAZÔNIA LEGAL 

De acordo com Ribeiro et al., (2017), a expressão “Amazônia Legal” está voltada para uma abordagem política do governo federal para orientar o desenvolvimento econômico e social de uma vasta região no Brasil. Composta por dez estados inseridos na Bacia Amazônica e na zona de vegetação amazônica (a saber: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Roraima, Rondônia, Tocantins, Mato Grosso, Goiás e partes do Maranhão), essa designação visa integrar áreas enfrentando desafios econômicos, políticos e sociais similares. A complexidade da Amazônia Legal exige políticas públicas abrangentes que considerem questões como preservação ambiental, gestão sustentável de recursos naturais e o bem-estar da população. É essencial uma abordagem inclusiva e coordenada para a formulação de estratégias, levando em conta as características específicas de cada estado.

A Amazônia Legal, atualmente ultrapassa 5,2 milhões de quilômetros quadrados, correspondendo a 61% do território brasileiro. Destes, 5,1 milhões de quilômetros quadrados são de terra firme, enquanto 96.000 quilômetros quadrados consistem em corpos d’água. Uma parcela significativa da área terrestre, aproximadamente 900.000 quilômetros quadrados, é ocupada por planícies de inundação, especialmente ao longo das margens de grandes rios (PICANÇO et al., 2023).

A localização estratégica dessa região no território nacional se destaca pela presença de 20% dos recursos hídricos mundiais de água doce e mais de 30% da reserva florestal do Brasil. A população urbana local contribui com 10% da população urbana total do país. Apesar da vastidão territorial, a densidade populacional é relativamente baixa, com uma média de 4,2 pessoas por quilômetro quadrado. É relevante notar que o estado do Maranhão apresenta a maior densidade populacional, com 17 pessoas por quilômetro quadrado (RIBEIRO et al., 2017). 

Esses dados não apenas evidenciam a extensão geográfica, mas também ressaltam a importância socioambiental e econômica dessa região específica. A concentração significativa dos recursos hídricos mundiais e a expressiva reserva florestal destacam a necessidade de uma gestão sustentável desses recursos. A baixa densidade populacional sugere desafios e oportunidades específicos para o desenvolvimento regional, exigindo estratégias que promovam a equidade, a preservação ambiental e o crescimento econômico sustentável (PICANÇO et al., 2023).

Picanço et al., (2023) destaca que os modais ferroviário e dutoviário possuem estrutura limitada, e a rede física de transporte na Amazônia se apresenta dividida entre Bacia do Amazonas/ Solimões e a Bacia do Tocantins/Araguaia. Vale ressaltar que a bacia hidrográfica Amazonas/ Solimões apresenta cerca de 13.000 km de hidrovias e que na maior parte do ano apresenta profundidade superior a 1m.

Com relação aos aspectos da infraestrutura do PIM, é interessante registrar que a logística infra estrutural do Polo Industrial de Manaus (PIM) não atende completamente às expectativas de um parque industrial moderno, devido a várias lacunas no acesso aos meios de transporte. O PIM foi concebido como uma estratégia para colonizar uma região remota do país, o que explica muitas das deficiências associadas a áreas afastadas e com baixa conectividade. Apesar dessas limitações, a região usufrui de benefícios fiscais destinados a compensar as deficiências regionais, e demonstrou ser um empreendimento altamente bem-sucedido no Brasil. A continuidade dos benefícios fiscais foi respaldada pelo legislativo, indicando o apoio à manutenção do PIM (ROCHA, 2009).

O Polo Industrial de Manaus, como núcleo central da atividade econômica no estado do Amazonas, desempenha um papel crucial. Em 2008, o Produto Interno Bruto (PIB) total do estado alcançou R$ 46,8 bilhões, com um PIB per capita de R$ 14.014 no mesmo ano. De acordo com a Confederação Nacional do Transporte (CNT) de 2012, os três maiores setores econômicos do estado em termos de PIB são serviços, representando 53,2%, seguido da indústria de transformação, com 41,4%, e por último a agropecuária, com 5,4% (CNT,2012).

Pode-se afirmar que, para o PIM possui alta relevância o transporte de cargas, para os insumos e saída dos produtos acabados, tanto para o mercado nacional quanto para o internacional. Os modais mais usados são o aquaviário e o aéreo. O transporte rodoviário ainda é menos usado por causa das limitações referentes à extensão e condições de conservação das estradas. Está voltado para o transporte de insumos que são oriundos ou produtos destinados ao mercado nacional, pois trata-se de uma junção do transporte aquaviário (fluvial) com o rodoviário (FONSECA, 2013).

A escolha do modal a ser utilizado para o transporte depende de vários fatores de acordo com as particularidades de cada carga, prazos, custos, a distância a ser percorrida e as necessidades do cliente. Faz-se necessário o desenvolvimento de uma tática logística de deslocamento que envolva o progresso e mantenha a competitividade do transporte aéreo para o PIM (OLIVEIRA, 2009).

Conforme descreve a Suframa (2006), as estratégias logísticas do PIM possuem características específicas que precisam ser consideradas conforme os principais itens que fazem parte do processo logístico, que são: 

a) Entrada de Insumos: para insumos que são importados de outros continentes, como no caso dos provenientes da Ásia, Europa e Estados Unidos, estes são transportados por modais marítimos e aéreo. O rodo-fluvial é usado para insumos nacionais que vem da região Sudeste do país;
b) Saída de produtos acabados: realizada com o modal rodo-fluvial, com a distribuição a partir de Manaus, via Belém. Esse processo inicia-se em Manaus, com a distribuição dos produtos via Belém por meio de transporte fluvial, culminando na entrega em Centros de Distribuição localizados em São Paulo e Rio de Janeiro, realizada por via rodoviária. Adicionalmente, há uma alternativa de envio de produtos acabados por via aérea diretamente para a Região Sudeste. Contudo, o custo de transporte e a escassez de companhias aéreas especializadas em voos de carga representam desafios significativos para a eficácia desse método de envio. A estratégia logística rodo-fluvial demonstra a adaptação do Polo Industrial de Manaus às características geográficas da região e à necessidade de superar desafios logísticos específicos. O uso combinado de transporte fluvial e rodoviário otimiza a distribuição, aproveitando as vantagens dos rios locais e garantindo a chegada eficiente dos produtos aos seus destinos finais. 
c) Estratégias logísticas: as estratégias logísticas no Polo Industrial de Manaus (PIM) são estabelecidas de forma individual por cada empresa, considerando suas necessidades de mercado, natureza do negócio e prazos de entrega específicos. Dentro desse modelo de concentração industrial, que abrange desde empresas globais e multinacionais até locais e de pequeno porte, as estratégias logísticas podem variar entre globais e locais, refletindo a diversidade de escopo e atuação das empresas presentes no PIM.

A diversidade entre as empresas instaladas no PIM, muitas das quais não compartilham produtos ou mercados em comum, torna desafiadora a formulação de uma estratégia logística que atenda de maneira abrangente ao conjunto de indústria do PIM. A falta de estratégias logísticas consolidadas tem como uma de suas consequências a negligência na priorização de obras de infraestrutura críticas, como aeroportos, portos e portos secos. 

A ausência de uma orientação unificada dificulta a alocação eficiente de recursos para o desenvolvimento de infraestrutura logística compartilhada, impactando a operação integral do Polo Industrial de Manaus. Estratégias colaborativas e a busca por sinergias entre as empresas do PIM poderiam mitigar esses desafios, promovendo uma infraestrutura mais eficaz e alinhada com as necessidades coletivas do polo industrial.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise realizada evidenciou uma situação crítica para as empresas localizadas no Polo Industrial de Manaus (PIM), uma área estrategicamente posicionada na região amazônica. As dificuldades identificadas, predominantemente ligadas à infraestrutura viária, refletem um desafio essencial na gestão logística. Nesse contexto, onde a logística se torna mais custosa devido às limitações infra estruturais, reflete as características singulares da região amazônica. 

A localização específica do PIM, em meio à vasta e desafiadora Amazônia, apresenta desafios adicionais para as operações logísticas das empresas lá instaladas. A infraestrutura logística na Amazônia enfrenta uma série de desafios complexos, incluindo a vasta área geográfica, a diversidade do ambiente natural e as limitações de infraestrutura básica, como estradas precárias e conectividade limitada. 

A logística é fundamental para o sucesso e a competitividade das empresas no mercado global, mas as empresas no PIM enfrentam constantemente a necessidade de superar barreiras logísticas significativas que podem afetar negativamente sua eficiência operacional, custos e capacidade de atender às demandas do mercado de maneira oportuna e econômica. 

A infraestrutura deficiente das rodovias na região amazônica aumenta os custos logísticos das empresas e pode resultar em atrasos nas entregas, danos aos produtos durante o transporte e uma redução na qualidade dos serviços oferecidos aos clientes. Esses problemas podem comprometer a reputação das empresas e prejudicar sua posição competitiva no mercado. 

É crucial que as empresas no PIM adotem abordagens inovadoras e estratégias adaptativas para mitigar os impactos negativos da infraestrutura logística inadequada. Isso pode envolver investimentos em tecnologias avançadas de gestão da cadeia de suprimentos, parcerias colaborativas com fornecedores e transportadoras, além de advocacia e pressão política por melhorias na infraestrutura de transporte. 

A logística no Polo Industrial de Manaus é notadamente dependente do transporte fluvial, mas esta dependência vem acompanhada da imprevisibilidade das condições climáticas e hidrológicas, requerendo planejamento logístico cuidadoso e flexibilidade para lidar com eventuais interrupções nas operações. 

Além dos desafios sazonais, as condições das vias na região muitas vezes são inadequadas, o que torna o transporte rodoviário uma tarefa difícil. Estradas em más condições podem resultar em atrasos nas entregas, aumento de custos operacionais e maior risco de danos aos produtos durante o transporte. A diversidade de empresas presentes no PIM, cada qual com demandas específicas, contribui para a complexidade logística. Estratégias logísticas individuais podem ser necessárias, mas a ausência de uma abordagem unificada dificulta a criação de sinergias entre as empresas para otimização dos processos logísticos. 

A considerável distância geográfica também é um fator que aumenta os custos logísticos, afetando o transporte de mercadorias para outras regiões do Brasil. Tal situação pode resultar em prazos de entrega mais extensos e encargos adicionais, influenciando a competitividade das empresas do PIM no mercado nacional. 

A infraestrutura logística desempenha um papel essencial no sucesso e na competitividade das empresas no Polo Industrial de Manaus. Portos bem equipados são cruciais para facilitar o transporte de matérias-primas e produtos acabados, enquanto aeroportos eficientes são fundamentais para a logística de carga aérea e para a conexão com mercados globais. Além disso, estradas em boas condições são indispensáveis para o transporte terrestre de mercadorias dentro e fora da região. 

A ausência de investimentos em infraestrutura logística pode resultar em gargalos e atrasos nas operações, aumentando os custos e prejudicando a competitividade das empresas do PIM. Ademais, a qualidade inadequada da infraestrutura pode impactar negativamente a qualidade dos produtos, gerar insatisfação nos clientes e prejudicar a reputação das empresas no mercado. 

É essencial um compromisso contínuo com o desenvolvimento e aprimoramento da infraestrutura logística no Polo Industrial de Manaus. Isso requer investimentos substanciais em projetos de modernização e expansão de portos, aeroportos e estradas, além da implementação de políticas e regulamentações que incentivem o crescimento e a competitividade das empresas na região. 

É fundamental promover parcerias público-privadas e buscar financiamento de fontes diversas para garantir que os investimentos em infraestrutura sejam realizados de forma eficaz e sustentável. Somente assim será possível superar os desafios logísticos e desbloquear todo o potencial de crescimento das empresas do Polo Industrial de Manaus, fortalecendo a economia regional e nacional. 

REFERÊNCIAS

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CNT. Pesquisa CNT de rodovias 2012: relatório gerencial. Brasília: CNT, SEST e SENAT, 2012. Disponível em: http://pesquisarodovias.cnt.org.br/Relatorios/2012/RelatorioGeral2012_BaixaResoluca. Acesso em 25 jan 2024.

HOLLAND, M. Zona Franca de Manaus – Impactos, Efetividade e Oportunidade. Escola de Economia de São Paulo, FGV EESP, 2015.

NASCIMENTO, Enily Vieira; OLIVEIRA, Fabiana Lucena. Sistema logístico de recepção e movimentação de cargas aéreas: o caso do pólo indústria de Manaus (PIM). Brazilian Journal of Business, Curitiba, v.4, n.2, abr/jun, 2022. 

ROCHA, Augusto C. B. Um Modelo de Avaliação da Competitividade da Logística Industrial. 2009. 116 f. Tese (Doutorado em Engenharia de Transportes) -URFJ/COPPE, Rio de Janeiro, 2009.

SERÁFICO, J.; SERÁFICO, M. A Zona Franca de Manaus e o Capitalismo no Brasil. Estudos Avançados, Brasília, vol. 19, n.54, ago, 2005.

TEIXEIRA, L.C. A Zona Franca de Manaus: Evolução e Resultados. Tese de Bacharelado em Economia. Instituto de Economia: UFRJ, 2013.

BRASIL. Decreto-lei nº 288, de 28 de fevereiro de 1967. Altera as disposições da lei nº 3.173, de 6 junho de 1957 e regula a Zona Franca de Manaus. Brasília, 1967. Disponível em:< https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del0288.htm> Acesso em 12 mar 2024.


1Discente do Curso Superior de Engenharia de Produção da Faculdade Fucapi em Manaus. e-mail: atosjes@gmail.com 
2Docente dos Cursos Superiores em Administração e Engenharias da Faculdade Fucapi em Manaus. Mestre. Doutorando em Educação (UNINI – Mex). e-mail: cunhabebe@gmail.com