RISCOS DA AUTOMEDICAÇÃO COM ANTIBIÓTICOS: REFLEXÕES SOBRE A  PRÁTICA NO BRASIL E SEUS EFEITOS NA SAÚDE PÚBLICA 

RISKS OF SELF-MEDICATION WITH ANTIBIOTICS: REFLECTIONS ON THE  PRACTICE IN BRAZIL AND ITS EFFECTS ON PUBLIC HEALTH 

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202505221545


Háylon Fernando Corrêa da Silva1
Matheus Henrique Serapião Barbosa2
Ricardo Baião Cunha3
Ianca Gontijo Cavalcante Santana4


Resumo

A automedicação consiste no uso de medicamentos sem prescrição ou orientação profissional, sendo uma prática frequente na sociedade brasileira. Essa conduta é motivada por diversos fatores, como a facilidade de acesso aos medicamentos, a busca por alívio rápido dos sintomas e a falta de informação adequada sobre os riscos dessa prática. Dentre os medicamentos mais utilizados de forma indiscriminada, destacam-se os antibióticos, cuja utilização inadequada agrava um dos principais problemas de saúde pública da atualidade: a resistência bacteriana. Esse fenômeno compromete a eficácia dos tratamentos, dificulta o controle de infecções e aumenta os riscos à saúde individual e coletiva. Diante desse cenário, o presente trabalho justifica-se pela necessidade de alertar sobre os perigos da automedicação com antibióticos, bem como reforçar a importância do uso racional desses medicamentos. Trata-se de uma revisão sistemática da literatura, de caráter exploratório e abordagem qualitativa, baseada na análise de 26 artigos científicos publicados entre 2020 e 2025. A pesquisa busca contribuir para a disseminação de informações que promovam a conscientização e a segurança no consumo de antibióticos.

Palavras-chave: Automedicação. Antibióticos. Resistência bacteriana. Saúde pública.

Abstract

Self-medication refers to the use of medicines without a prescription or professional guidance, and it is a common practice in Brazilian society. This behavior is driven by several factors, such as easy access to medications, the search for quick relief of symptoms, and the lack of adequate information about the associated risks. Among the most commonly used drugs without control are antibiotics, whose improper use worsens one of the main current public health problems: bacterial resistance. This phenomenon compromises the effectiveness of treatments, hinders infection control, and increases risks to both individual and collective health. Therefore, this study is justified by the need to warn about the dangers of self-medication with antibiotics and to reinforce the importance of their rational use. This is a systematic literature review, with an exploratory character and qualitative approach, based on the analysis of 26 scientific articles published between 2020 and 2025. The research aims to contribute to the dissemination of information that promotes awareness and safety in the use of antibiotics.

Keywords: Self-medication. Antibiotics. Bacterial resistance. Public health.

1  INTRODUÇÃO

A automedicação consiste no uso de medicamentos sem prescrição ou orientação profissional, sendo uma prática amplamente disseminada na sociedade brasileira. Essa conduta é favorecida por diversos fatores, como o fácil acesso a medicamentos, a cultura do autocuidado e a busca por alívio rápido de sintomas considerados simples. No entanto, o uso indiscriminado de medicamentos pode causar reações adversas, intoxicações, agravamento de doenças e até dificultar o diagnóstico correto, representando um importante problema de saúde pública (Xavier et al., 2021).

Dentre os medicamentos mais utilizados de forma autônoma pela população, destacam-se os antibióticos, cujo uso inadequado agrava ainda mais os riscos à saúde. A automedicação com antibióticos, muitas vezes realizada com sobras de tratamentos anteriores ou orientações leigas, favorece o surgimento da resistência bacteriana. Essa prática compromete não só a eficácia dos tratamentos, mas também amplia o risco de disseminação de bactérias multirresistentes, dificultando o controle de infecções e elevando os custos dos serviços de saúde (Silveira et al., 2023).

A resistência bacteriana é um fenômeno caracterizado pela capacidade dos microrganismos de desenvolver mecanismos de defesa contra os antibióticos, tornando os tratamentos cada vez menos eficazes. Esse problema, considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um dos maiores desafios globais da atualidade, tem provocado o aumento das taxas de morbimortalidade, especialmente em infecções hospitalares, além de comprometer a segurança dos pacientes e a qualidade dos tratamentos. Segundo a OMS (2020, p. 5), “a resistência antimicrobiana está aumentando a um ritmo alarmante em todo o mundo, colocando em risco a eficácia de muitos medicamentos essenciais”.

Os mecanismos que levam ao desenvolvimento da resistência bacteriana envolvem alterações na estrutura celular dos microrganismos, produção de enzimas inativadoras, modificação do local de ação dos antibióticos e redução da permeabilidade celular. Essas adaptações tornam as bactérias mais resistentes aos medicamentos disponíveis, sendo agravadas pelo uso excessivo e indiscriminado de antibióticos na comunidade e em ambientes hospitalares. Estima-se que, caso medidas de controle não sejam adotadas, até 2050 a resistência bacteriana poderá ser responsável por aproximadamente 10 milhões de mortes anuais em todo o mundo (Almeida et al., 2023).

Diante do exposto, torna-se evidente a necessidade de aprofundar a discussão sobre a automedicação com antibióticos e os riscos associados a essa prática, especialmente no contexto da saúde pública brasileira. O uso inadequado desses medicamentos contribui diretamente para o aumento dos casos de resistência bacteriana, representando um desafio significativo para o tratamento de infecções e para a segurança dos pacientes. Nesse sentido, este trabalho justifica-se pela importância de alertar a população sobre os perigos da automedicação com antibióticos, bem como de destacar o papel fundamental do farmacêutico na orientação e promoção do uso racional de medicamentos. 

Vale destacar que, visando o controle rigoroso da comercialização desses fármacos, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) publicou a Resolução RDC nº 20/2011, a qual estabelece regras específicas para a dispensação de antimicrobianos no Brasil. Essa norma determina que medicamentos dessa classe só podem ser vendidos mediante apresentação de receita de controle especial, com retenção da via pela farmácia, além de exigir que a dispensação ocorra com a devida orientação profissional. A resolução visa restringir o acesso indiscriminado a antibióticos e coibir a automedicação, promovendo o uso racional e responsável desses medicamentos.

O presente estudo teve como objetivo geral analisar os riscos da automedicação com antibióticos e sua contribuição para o desenvolvimento da resistência bacteriana. Como objetivo específico, buscou-se identificar os principais fatores que levam a essa prática, os prejuízos causados à saúde e a importância das ações educativas e preventivas realizadas pelos profissionais farmacêuticos no combate à automedicação.

2  REVISÃO DA LITERATURA

2.1  Automedicação: conceito, causas e riscos

A automedicação com antibióticos é uma prática que apresenta sérios riscos à saúde pública e se relaciona diretamente ao avanço da resistência bacteriana, um dos maiores desafios da medicina contemporânea. O aprofundamento teórico sobre esse fenômeno exige não apenas a análise dos impactos clínicos, mas também das dimensões sociais, regulatórias, ambientais e educativas que o envolvem.

Essa prática é definida como o uso de medicamentos por iniciativa própria, sem prescrição médica ou acompanhamento de um profissional habilitado. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2020), trata-se de uma prática que, quando realizada sem critérios, pode acarretar efeitos adversos, mascaramento de sintomas, interações medicamentosas, dependência química e agravamento do quadro clínico.

 No Brasil, a automedicação é estimulada por uma série de fatores estruturais e culturais: o fácil acesso a medicamentos, a crença na eficácia de tratamentos prévios, a dificuldade de acesso ao sistema de saúde e a confiança excessiva na própria capacidade de diagnóstico. A isso se soma a ideia socialmente aceita de que alguns sintomas são simples e, portanto, tratáveis com “remédios já conhecidos”, o que favorece o consumo indiscriminado de substâncias farmacológicas (Xavier et al., 2021).

Além disso, estudos demonstram que o perfil de quem se automedica é amplo, abrangendo desde pessoas com baixo nível de escolaridade até indivíduos com formação superior, inclusive em áreas da saúde. Silveira et al. (2023) evidenciam que estudantes de enfermagem, medicina e farmácia também praticam automedicação, o que aponta para lacunas na formação ética e científica desses futuros profissionais.

2.2  Uso inadequado de antibióticos e resistência bacteriana

A classe de medicamentos mais preocupante dentro do fenômeno da automedicação são os antibióticos. Esses fármacos atuam no combate a infecções bacterianas, mas sua utilização sem critérios pode promover o surgimento de cepas resistentes, reduzindo a eficácia terapêutica e tornando algumas doenças anteriormente tratáveis em quadros clínicos de difícil controle (OMS, 2020).

A resistência bacteriana ocorre quando as bactérias desenvolvem mecanismos para neutralizar ou evitar a ação dos antibióticos. Tais mecanismos incluem a produção de enzimas que degradam o fármaco, alteração do local de ação da substância, aumento da atividade de bombas de efluxo e diminuição da permeabilidade da parede celular bacteriana (Almeida et al., 2023). Esse processo é acelerado pelo uso recorrente, inadequado ou desnecessário de antibióticos, muitas vezes iniciado sem diagnóstico microbiológico ou dosagem correta.

O agravamento desse problema afeta não apenas o indivíduo, mas todo o sistema de saúde. Inúmeros estudos apontam que infecções por bactérias multirresistentes estão associadas a maiores taxas de internação, maior tempo de hospitalização, necessidade de uso de antibióticos de última linha (mais caros e mais tóxicos) e aumento da mortalidade (Costa et al., 2022; Rocha et al., 2023).

2.3  Barreiras regulatórias e fragilidade na fiscalização

Mesmo diante das normativas existentes, como a RDC nº 20/2011 da ANVISA, que estabelece a obrigatoriedade de prescrição e retenção de receita para a dispensação de antibióticos, a fiscalização falha em diversos pontos do território nacional. Melo et al. (2021) relataram que ainda é possível adquirir antibióticos em muitas farmácias sem apresentar receita, especialmente em municípios de pequeno porte ou com fiscalização sanitária insuficiente.

Essa realidade cria um paradoxo: embora o Brasil possua uma legislação rigorosa sobre antibióticos, sua aplicação efetiva encontra barreiras logísticas e institucionais, o que limita os avanços na contenção da automedicação e contribui para a manutenção do problema.

2.4  Impactos ambientais da automedicação com antibióticos

Além dos efeitos diretos na saúde humana, o uso inadequado e o descarte incorreto de antibióticos geram efeitos preocupantes no meio ambiente. Muitos desses medicamentos são eliminados parcialmente metabolizados, alcançando redes de esgoto, solos e corpos d’água. Estudos como os de Lourencetti & Dias (2024) destacam que a presença constante de antibióticos no ambiente favorece a seleção natural de microrganismos resistentes em ecossistemas aquáticos e terrestres, tornando-se um ciclo de retroalimentação da resistência bacteriana.

Esse processo afeta não apenas o equilíbrio ecológico, mas também representa um risco à saúde pública, pois os genes de resistência podem ser transferidos entre espécies bacterianas, inclusive aquelas patogênicas ao ser humano.

2.5  Educação em saúde e o papel do farmacêutico

A literatura é unânime em apontar que a educação em saúde é uma ferramenta central no combate à automedicação. O farmacêutico, por estar na linha de frente do contato com a população, tem um papel estratégico na orientação sobre o uso correto de antibióticos. Guedes & Andrade (2021) reforçam que esse profissional deve atuar como educador, agente de conscientização e fiscalizador da legalidade da venda de antimicrobianos.

Santos et al. (2020) acrescentam que a implementação de campanhas educativas contínuas, especialmente nas farmácias comunitárias, tem se mostrado eficaz na mudança de comportamento dos usuários. Esses programas devem incluir ações visuais, distribuição de material informativo e diálogos personalizados com os pacientes, abordando não apenas os riscos da automedicação, mas também as consequências da resistência bacteriana.

3  METODOLOGIA 

O presente trabalho trata-se de uma Revisão Sistemática da literatura, de caráter exploratório, com abordagem qualitativa, que teve como objetivo analisar os riscos da automedicação com antibióticos e sua contribuição para o desenvolvimento da resistência bacteriana. A pergunta norteadora que guiou este estudo foi: “Quais os riscos da automedicação com antibióticos e como essa prática contribui para o desenvolvimento da resistência bacteriana?”

Para a busca dos artigos, foram utilizadas as seguintes plataformas: Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Scientific Electronic Library Online (SciELO), Google Acadêmico, PubMed e repositórios institucionais de universidades. As palavraschave utilizadas foram: “automedicação”, “antibióticos”, “resistência bacteriana”, “uso racional de medicamentos” e “saúde pública”, combinadas por meio do operador booleano “AND”.

    Foram adotados como critérios de inclusão os artigos publicados entre os anos de 2020 e 2025, disponíveis em português, inglês ou espanhol, que abordassem   diretamente os temas relacionados à automedicação, ao uso de antibióticos e à resistência bacteriana. Já os critérios de exclusão abrangeram: artigos duplicados, publicações com mais de cinco anos fora do recorte temporal, textos indisponíveis na íntegra e produções que não atendiam aos objetivos do estudo.

Inicialmente, foram identificados 47 artigos por meio das bases de dados selecionadas. Em um primeiro momento, procedeu-se com a leitura dos títulos e resumos, visando verificar a adequação dos estudos ao tema proposto. Nessa etapa inicial, 12 artigos foram excluídos por não abordarem diretamente a temática da automedicação com antibióticos ou por tratarem de assuntos distintos, como automedicação com outros medicamentos, fitoterápicos ou medicamentos controlados de outras classes.

Em seguida, realizou-se a leitura completa dos 35 artigos restantes. Durante essa etapa, foram desconsiderados 9 estudos que apresentavam duplicidade entre as bases de dados, além de 7 artigos que estavam indisponíveis na íntegra. Foram excluídos, ao longo das etapas, artigos duplicados, indisponíveis ou que abordavam a automedicação de forma superficial, resultando na eliminação de mais 5 estudos que não apresentavam relação direta com os objetivos desta pesquisa. Assim, ao término do processo de triagem e análise, permaneceram 26 artigos que atenderam aos critérios de inclusão previamente estabelecidos, sendo estes utilizados como base para a construção e fundamentação teórica deste trabalho. A estrutura da metodologia pode ser visualizada no fluxograma abaixo.

Figura 1 – Fluxograma do processo de seleção dos artigos

Fonte: Elaborado pelos próprios autores, 2025

4  RESULTADOS E DISCUSSÕES 

A análise dos 26 artigos selecionados revelou aspectos recorrentes e preocupantes sobre a prática da automedicação com antibióticos no Brasil. Um dos principais pontos observados foi o perfil dos indivíduos que se automedicam. Estudos como o de Silveira et al. (2023) indicam que essa prática não se limita a grupos com baixa escolaridade, sendo comum inclusive entre estudantes da área da saúde. Essa constatação revela que o acesso à informação técnica, por si só, não impede o comportamento inadequado, o que também foi apontado por Guedes e Andrade (2021), ao destacarem a necessidade de ações educativas contínuas, mesmo para populações tecnicamente capacitadas.

Segundo Leal et al. (2021), foi observado que entre os anos de 2020 e 2022 houve um aumento significativo no uso indiscriminado de azitromicina, especialmente durante a pandemia da COVID-19, motivado pela desinformação e pela tentativa de autoproteção contra o vírus. Essa conduta foi reforçada por Freires e Rodrigues Júnior (2022), que também alertaram para o uso irracional de antibióticos no período pandêmico e seu impacto direto na aceleração da resistência bacteriana. Esses achados demonstram como eventos de crise sanitária podem potencializar práticas perigosas, impulsionadas pela falta de orientação adequada à população.

Outro ponto crítico destacado nos artigos foi a fragilidade na fiscalização da venda de antimicrobianos. Mesmo com a vigência da RDC nº 20/2011 da ANVISA, que exige retenção da receita para a dispensação desses medicamentos, Melo et al. (2021) identificaram a persistência da comercialização irregular em várias farmácias do país. Isso demonstra falhas na implementação da política regulatória, o que permite o acesso facilitado aos antibióticos sem a devida prescrição, contribuindo diretamente para a automedicação.

O impacto ambiental da automedicação com antibióticos também foi abordado por Lourencetti e Dias (2024), que alertaram sobre o descarte inadequado desses medicamentos em ambientes domésticos e industriais. Segundo os autores, essa prática pode contaminar o solo e os recursos hídricos, favorecendo a disseminação de genes de resistência bacteriana no meio ambiente. Esse aspecto, embora menos debatido no senso comum, amplia ainda mais os riscos da automedicação, atingindo não apenas a saúde humana, mas também a saúde ambiental.

Conforme apresentado na Tabela 1, os principais achados dos estudos analisados reforçam a ideia de que o uso indiscriminado de antibióticos sem orientação profissional está diretamente relacionado à resistência bacteriana. Costa et al. (2022) evidenciaram que esse problema, antes restrito a infecções hospitalares, atualmente também afeta infecções comunitárias, tornando-se uma ameaça crescente à saúde pública.

AutoresTítuloPrincipais Achados
Leal et al., 2021A utilização indiscriminada de azitromicina durante a pandemia da COVID-19Uso elevado de azitromicina sem prescrição, impulsionado por desinformação e medo coletivo. A prática contribuiu para o avanço da resistência bacteriana.
Silveira et al., 2023A automedicação com antibióticos e as repercussões na resistência bacterianaEvidenciou-se a falta de conhecimento sobre os riscos da automedicação; a prática é comum mesmo entre pessoas com algum nível de instrução em saúde.
Melo et al., 2021Venda irregular de antibióticos no Brasil: um problema persistenteApesar das exigências legais, ainda ocorre a venda de antibióticos sem receita em muitas farmácias, demonstrando falhas de fiscalização.
Costa et al., 2022Resistência antimicrobiana e suas implicações clínicas na atenção à saúdeMostrou que a resistência, antes restrita a ambientes hospitalares, hoje também afeta infecções comunitárias.
Lourencetti & Dias, 2024Impactos ambientais do descarte incorreto de antibióticosO descarte inadequado de antibióticos pode afetar ecossistemas e disseminar genes de resistência no ambiente.
Guedes & Andrade, 2021A importância da educação em saúde no uso racional de antibióticosDestaca o papel do farmacêutico na conscientização sobre os riscos da automedicação e na prevenção da resistência antimicrobiana.

Tabelas 1 – Principais achados dos artigos incluídos na revisão sistemática     Nesse contexto, a atuação do farmacêutico surge como essencial. Guedes e Andrade (2021) e Santos et al. (2020) destacaram o papel desse profissional não apenas na dispensação de medicamentos, mas também na orientação da população, no controle do uso de antimicrobianos e na promoção do uso racional dos medicamentos. Fortalecer esse protagonismo é crucial para conter o avanço da automedicação e mitigar os impactos da resistência bacteriana.

Portanto, os dados obtidos apontam para uma necessidade urgente de estratégias integradas, que envolvam ações educativas, fortalecimento da fiscalização e valorização da atuação dos profissionais de saúde, especialmente os farmacêuticos. Somente com um esforço conjunto será possível reduzir os danos causados pela automedicação com antibióticos e seus reflexos na saúde pública.

5  CONCLUSÃO

A automedicação com antibióticos representa um problema persistente e de grande relevância para a saúde pública, especialmente no contexto brasileiro. Os dados analisados nesta revisão sistemática evidenciaram que essa prática é comum em diferentes faixas etárias e níveis de escolaridade, sendo impulsionada por fatores como a facilidade de acesso a medicamentos, a desinformação, a cultura do autocuidado e a fragilidade na fiscalização da venda de antibióticos.

Verificou-se que o uso indiscriminado de antibióticos sem orientação profissional está diretamente relacionado ao aumento da resistência bacteriana, comprometendo a eficácia dos tratamentos, elevando os custos do sistema de saúde e agravando infecções que anteriormente eram facilmente tratáveis. Além disso, foi possível observar que o desconhecimento sobre o uso racional desses medicamentos e o descarte inadequado também contribuem para impactos ambientais significativos.

Diante desse cenário, destaca-se a importância da atuação do farmacêutico como agente de educação em saúde, orientando a população quanto ao uso seguro e responsável de antibióticos e contribuindo para a contenção da resistência microbiana. Conclui-se que é essencial o fortalecimento de políticas públicas, ações educativas e estratégias de fiscalização para reduzir a automedicação com antibióticos e seus efeitos adversos sobre a saúde individual e coletiva. Como proposta prática, recomenda-se a realização de campanhas educativas em farmácias comunitárias, com o uso de materiais visuais explicativos, visando promover a conscientização da população sobre os riscos da automedicação e o uso racional de antimicrobianos.

6  REFERÊNCIAS

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1Discente do Curso Superior de farmácia da Universidade Evangélica de Goiás Campus Ceres. haylonf@gmail.com
2Discente do Curso Superior de farmácia da Universidade Evangélica de Goiás Campus Ceres. matheus7serapiao@hotmail.com
3Docente do Curso Superior de farmácia da Universidade Evangélica de Goiás Campus Ceres. Mestre em Ciências Farmacêuticas (PPGCF/UFG). ianca.santana@unievangelica.edu.br
4Discente do Curso Superior de farmácia da Universidade Evangélica de Goiás Campus Ceres. ricardobaiao61@gmail.com