RISCOS BIOMECÂNICOS E PREVALÊNCIA DE QUEIXAS MUSCULOESQUELÉTICAS EM SERVIDORES DE UMA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202510051152


Rafaela Dias Santos1
Nívia Cecília Kruta de Araújo2


Resumo: A crescente pressão no ambiente laboral, aliada ao uso intensivo de tecnologia e longas jornadas de trabalho, tem contribuído para o aumento de distúrbios musculoesqueléticos relacionados a condições ergonômicas inadequadas, como Lesões por Esforço Repetitivo (LER) e Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT). Este estudo observacional transversal avaliou as condições ergonômicas e a prevalência de queixas musculoesqueléticas em 21 servidores técnico-administrativos de uma universidade federal que utilizam computador como ferramenta principal de trabalho. Para isso, foram aplicados o Questionário Nórdico de Sintomas Osteomusculares (NMQ) e o método Rapid Office Strain Assessment (ROSA). Os resultados indicaram que as regiões do corpo mais acometidas foram ombros (11), região lombar (11) e pescoço (10), evidenciando um alto índice de desconforto. A avaliação ergonômica pelo método ROSA mostrou que muitos postos de trabalho apresentavam riscos ergonômicos elevados, apontando para a necessidade de intervenções corretivas imediatas. Os achados reforçam a importância da ergonomia na prevenção de distúrbios musculoesqueléticos e na promoção de ambientes de trabalho mais saudáveis e eficientes. 

Palavras- Chaves: Ergonomia; Dor musculoesquelética; Postura. 

Abstract: The increasing pressure in the work environment, combined with the intensive use of technology and long working hours, has contributed to the increase in musculoskeletal disorders related to inadequate ergonomic conditions, such as Repetitive Strain Injuries (RSI) and Work-Related Musculoskeletal Disorders (WMSDs). This observational cross-sectional study evaluated the ergonomic conditions and the prevalence of musculoskeletal complaints in 21 technical-administrative employees of a federal university who use computers as their main work tool. For this purpose, the Nordic Musculoskeletal Questionnaire (NMQ) and the Rapid Office Strain Assessment (ROSA) method were applied. The results indicated that the most affected body regions were the shoulders (11), lower back (11) and neck (10), evidencing a high level of discomfort. The ergonomic assessment by the ROSA method showed that many workstations presented high ergonomic risks, indicating the need for immediate corrective interventions. The findings reinforce the importance of ergonomics in preventing musculoskeletal disorders and promoting healthier and more efficient work environments.

Keywords: Ergonomics; Musculoskeletal pain; Posture.

Introdução 

Atualmente, a rotina laboral, impulsionada pelos avanços tecnológicos, em um ambiente cada vez mais competitivo, tem forçado os trabalhadores a desempenharem suas funções sob pressão, e muitas vezes para atingirem as metas precisam aumentar a jornada de trabalho, negligenciando as pausas na atividade e comprometendo sua saúde física. Pequenos sinais, como dores localizadas e ansiedade, com o tempo, podem evoluir e se tornar algo mais grave como uma LER (Lesão por Esforço Repetitivo) ou uma DORT (Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho) (Teibel, 2025). 

Silva et al. (2024) relatam que as LER e DORT são condições que estão frequentemente associadas à repetição de movimentos, posturas inadequadas e sobrecarga física, características de ambientes de trabalho que exigem atividades repetitivas ou que envolvem longas horas de trabalho físico intenso, como nas indústrias, no setor de serviços administrativos e em áreas que exigem manuseio constante de equipamentos. As LER e DORT afetam músculos, tendões, ligamentos e nervos, levando a sintomas como dores, inflamações e limitações de movimento, o que, muitas vezes, resulta no afastamento do trabalhador. Para prevenir essas doenças, a adoção de práticas ergonômicas, pausas adequadas e programas de exercícios físicos são medidas recomendadas.

Em 2019, o Ministério da Saúde do Brasil publicou um levantamento que revelou que, em um período de 10 anos, as duas doenças representaram 67.599 casos entre os trabalhadores no país, o que configurou um aumento de 184% nesse intervalo. Essas doenças foram identificadas como as que mais afetaram os trabalhadores brasileiros, conforme constatado pelo estudo Saúde Brasil 2018, elaborado pelo Ministério da Saúde com base nos dados do Sinan (Sistema de Informação de Agravos de Notificações) (Teibel, 2025).

Andrade e Tonin (2024) apontam que ao longo do último século, transformações sociais, nas relações de trabalho e nos estudos ergonômicos contribuíram para que o escritório passasse a ser visto como um espaço mais integrado e saudável. Antes disso, especialmente até a metade do século XX, os profissionais administrativos eram percebidos como parte do processo produtivo, desempenhando funções centradas na geração e arquivamento de informações em papel. Atualmente, é comum que esses trabalhadores passem grande parte do expediente diante do computador, em posturas que restringem seus movimentos. Por isso, adaptar o ambiente e a dinâmica de trabalho às necessidades físicas e mentais de cada indivíduo é essencial para evitar problemas de saúde relacionados a más condições ergonômicas. 

Oliveira et al. (2023) afirmam que é necessário atentar para a segurança e adequação desses ambientes de trabalho, sob pena de efeitos na saúde e qualidade de vida desses trabalhadores, podendo impactar também na sua produtividade e resultados organizacionais, com efeitos como absenteísmo e doenças ocupacionais. A realização inadequada dessas atividades pode afetar o bem-estar dos trabalhadores, ocasionando desconfortos físicos como incômodo na coluna vertebral e no punho, principalmente (Souza, 2021). Uma pesquisa de Braga etc al. (2020), destaca que a “cinesioterapia laboral pode ser uma intervenção eficaz para mitigar esses sintomas, indicando que a implementação de exercícios físicos no ambiente de trabalho pode melhorar a flexibilidade e reduzir o desconforto físico”

Nesse sentido, a Ergonomia traz uma importante contribuição para se analisar os espaços de trabalho. Sob o olhar da ergonomia, o trabalho deve ser analisado de forma global, considerando aspectos físicos, cognitivos, organizacionais, sociais, culturais. A Ergonomia, segundo definição da International Ergonomics Association, “é a disciplina científica que estuda as interações entre os seres humanos e outros elementos do sistema de trabalho” e visa “otimizar o bem-estar humano e o desempenho geral desse sistema”. Os principais objetivos da Ergonomia são a saúde, segurança e satisfação dos trabalhadores, sendo a eficiência uma consequência e não seu objetivo último. A ergonomia do ambiente construído, por sua vez, busca a adequação do ambiente construído às atividades que abriga, adotando a visão sistêmica preconizada pela Ergonomia para os ambientes de trabalho e da vida (Oliveira et al; 2023).

Uma revisão de literatura conduzida por Heidarimoghadam, R et al,. (2020) diz que as  “intervenções ergonômicas como feedback, ergonomia participativa e rodízio de tarefas reduzem significativamente os distúrbios musculoesqueléticos nos membros superiores e melhoram as melhorias no local de trabalho”. Da mesma forma, um estudo sistemático de Gomes e Oliveira (2022), confirma que “mudanças no design de estações de trabalho e a implementação de práticas como o uso de cadeiras ajustáveis e a melhoria da iluminação podem reduzir significativamente os desconfortos associados ao trabalho de escritório”. Além disso, Silva e Costa (2021), destacam a importância de abordagens ergonômicas mais holísticas que considerem não apenas o ambiente físico, mas também fatores organizacionais e psicológicos. Essas abordagens são essenciais para a promoção da saúde no ambiente administrativo, uma vez que os fatores psicossociais, como o estresse e a pressão por produtividade, podem agravar os efeitos negativos de uma má postura ou de ambientes de trabalho inadequados.

A Ergonomia está também relacionada à aplicação de métodos e teorias, como a Análise Ergonômica do Trabalho (AET), método que compreende a avaliação dos elementos que compõem a atividade laboral, como as demandas, as tarefas e o ambiente, desde a percepção do problema até a descoberta de suas origens e realização de recomendações (Souza, 2021). Tais  métodos  e  ferramentas  podem  ser  aplicados  tanto  nos  setores privados quanto nos setores públicos, já que, neste último, há uma sobrecarga de  trabalho  e  alta  carga  mental  devido  à  sua  relevância,  atendendo  desde serviços  essenciais  à população  até  a  execução  de políticas  e  programas governamentais (Fernandes e Ferreira, 2024). 

Souza (2021) e Araújo et al. (2023) explanaram que existem ferramentas de avaliação de movimentos, que auxiliam a AET no entendimento do risco postural que a atividade demanda ao trabalhador como o método Rapid Office Strain Assessment (ROSA) que se destaca dentre outros métodos por ter sido desenvolvido especificamente para permitir uma avaliação ergonômica de trabalhos em escritórios. O método ROSA na avaliação ergonômica envolve a avaliação da altura do assento, superfície do encosto, apoio de braço, monitores, telefones e mouses/teclados, e o cálculo dos níveis de risco para cada funcionário (Najib, M., & Andesta, D. 2023). Uma avaliação ergonômica utilizando ferramentas como o ROSA, revelou que a maioria dos trabalhadores está exposta a altos níveis de risco ergonômico, especialmente em relação ao posicionamento do teclado e suporte para as costas (Chowdhury, N et al,. 2018).

Os distúrbios musculoesqueléticos, como dores nas costas, pescoço, ombros e punhos, são comuns entre trabalhadores que utilizam computadores no seu cotidiano em uma universidade. Passar longas horas em frente ao computador ou sentado em uma cadeira pode sobrecarregar o corpo, causando esses problemas. “Intervenções educacionais e ergonômicas podem reduzir os fatores de risco ergonômicos de distúrbios musculoesqueléticos e a prevalência de desconforto em trabalhadores de escritório” (Safarian, M et al., 2018). Uma pesquisa revelou que a ergonomia pode contribuir para a melhoria das posturas e a redução de lesões, enfatizando a necessidade de instruções específicas para os trabalhadores que enfrentam demandas físicas intensas (Neto, 2022).  Além disso, uma análise ergonômica deve considerar o aspecto subjetivo do trabalho, permitindo que os servidores expressem suas vivências e desafios, o que é crucial para uma abordagem holística da ergonomia (Sticca et al., 2019).

Atualmente, os riscos ergonômicos são um dos principais fatores que contribuem para o surgimento de doenças profissionais. Em diversas situações, os trabalhadores ficam longos períodos na mesma postura ao executar uma tarefa, como, por exemplo, na posição sentada. Casos que podem ocasionar em lesões e gastos médicos e até em casos mais graves como afastamento do trabalho para que se possa recuperar do acidente ergonômico (Lima, 2014). Por tanto, uma análise ergonômica deve ser vista como um processo contínuo que envolve a formação e a conscientização dos trabalhadores sobre a importância da ergonomia em suas atividades diárias. “A formação contínua e a participação dos servidores na identificação de problemas e na proposição de soluções são essenciais para o sucesso das intervenções ergonômicas” (Neves et al., 2018).

Diante disso, este trabalho tem como objetivo analisar as condições ergonômicas de trabalho dos servidores de uma universidade federal, com foco na exposição a riscos biomecânicos e na prevalência de queixas musculoesqueléticas. 

Metodologia 

Tipo de Estudo 

Este é um estudo observacional, descritivo e de abordagem quantitativa, com delineamento transversal, realizado com servidores técnico-administrativos de uma universidade federal.

População e Amostra 

A população do estudo foi composta por 21 servidores técnico-administrativos que utilizam o computador como ferramenta principal de trabalho. A amostragem foi por conveniência, considerando critérios de inclusão e exclusão previamente definidos.

Critérios de inclusão: servidores em atividade que utilizam computador em sua jornada de trabalho.

Critérios de exclusão: ser sinistro, não ter um posto de trabalho fixo, compartilhar a estação de trabalho, ter feito alguma cirurgia nos últimos seis meses. 

Instrumentos de coleta de dados

A coleta de dados foi realizada por meio da aplicação dos seguintes instrumentos:

Questionário Nórdico de Sintomas Osteomusculares (NMQ): foi originalmente desenvolvido por um grupo de pesquisadores do Comitê Nórdico de Ergonomia com o objetivo de padronizar a investigação de sintomas osteomusculares em diferentes regiões do corpo humano, permitindo a comparação entre estudos nacionais e internacionais, especialmente em populações trabalhadoras. Seu principal propósito é identificar a presença e a frequência de sintomas musculoesqueléticos (como dor, formigamento, dormência ou desconforto) em regiões corporais específicas, relacionados ou não às atividades laborais. A versão brasileira do instrumento foi validada por Pinheiro, Tróccoli e Carvalho (2002), que analisaram suas propriedades psicométricas e confirmaram sua adequação como ferramenta de mensuração de morbidade osteomuscular. O estudo de validação demonstrou evidências satisfatórias de validade de construto e consistência interna, consolidando o QNSO como um instrumento confiável e amplamente utilizado em pesquisas de saúde ocupacional e ergonomia no Brasil. O questionário apresenta uma estrutura simples e de fácil aplicação, composta por perguntas fechadas que avaliam a ocorrência de sintomas em nove regiões corporais: pescoço, ombros, parte superior das costas, cotovelos, punhos/mãos, parte inferior das costas, quadris/coxa, joelhos e tornozelos/pés. As questões abordam a ocorrência de sintomas nos últimos 12 meses e nos últimos 7 dias, além de investigar possíveis afastamentos das atividades habituais decorrentes dessas queixas.

Método ROSA (Rapid Office Strain Assessment): foi originalmente desenvolvido por Michael Sonne, Dino L. Villalta e David M. Andrews (2012) como uma ferramenta prática para avaliar riscos ergonômicos associados ao uso de estações de trabalho com computador. Seu principal objetivo é identificar, de forma rápida e sistemática, fatores de risco relacionados a posturas inadequadas e à organização do posto de trabalho, auxiliando na prevenção de distúrbios musculoesqueléticos ocupacionais. O ROSA é composto por uma planilha de pontuação que avalia diferentes componentes da estação de trabalho, como cadeira, monitor, teclado, mouse, apoio de pés e telefone, atribuindo pontuações específicas que resultam em um escore final, o qual indica o nível de risco ergonômico e a necessidade de intervenção. A versão brasileira do ROSA foi traduzida, adaptada e validada por Rodrigues et al. (2020), em um estudo que avaliou a validade transcultural, confiabilidade inter e intraexaminador, além da validade estrutural do instrumento para o contexto brasileiro. Os resultados da validação demonstraram que a versão brasileira do ROSA apresenta boa consistência interna, confiabilidade adequada e estrutura semelhante ao modelo original, tornando-se uma ferramenta válida e confiável para aplicação em ambientes de trabalho no Brasil.

Procedimentos

Os participantes responderam o questionário durante o horário de expediente, com a devida autorização institucional e foi feita a aplicação do método ROSA presencialmente.

Aspectos éticos

O estudo foi previamente submetido à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa da instituição, sendo aprovado conforme o parecer nº 7.157.014, em conformidade com as diretrizes estabelecidas pela Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), garantindo a anuência voluntária e informada para a participação na pesquisa.

Resultados e Discussão  

Os resultados obtidos por meio da aplicação do Questionário Nórdico de Distúrbios Musculoesqueléticos (NMQ) estão apresentados na Figura 1.

Figura 1- Frequência de desconforto por zona corporal.

Fonte: Autoria própria, 2025.

Os dados obtidos por meio da aplicação do Questionário Nórdico de Distúrbios Musculoesqueléticos (NMQ) evidenciaram que as regiões mais frequentemente acometidas entre os trabalhadores foram os ombros e a região lombar, ambas com 11 registros de queixas. Em seguida, observou-se o pescoço como área afetada em 10 casos e a parte superior das costas em 7 casos. Queixas relacionadas aos joelhos e aos tornozelos/pés foram relatadas por 6 trabalhadores cada. As mãos/punhos apresentaram 4 registros, enquanto os quadris/coxas e os cotovelos foram apontados por apenas 1 trabalhador, respectivamente. 

Os resultados obtidos por meio do Questionário Nórdico de Distúrbios Musculoesqueléticos (NMQ) evidenciaram alta prevalência de queixas nas regiões dos ombros e da região lombar, seguidas pelo pescoço e parte superior das costas. Tais achados são consistentes com os dados da literatura, que apontam essas regiões como as mais acometidas em atividades laborais que envolvem posturas mantidas e movimentos repetitivos, especialmente em ambientes de trabalho com uso contínuo de computadores (BERSANETTI et al., 2021; SILVA et al., 2024).

Esses distúrbios musculoesqueléticos (DME) estão frequentemente associados à ausência de adequações ergonômicas nos postos de trabalho, fator evidenciado pelos dados obtidos por meio do método ROSA. A aplicação desse instrumento revelou que, embora parte dos trabalhadores tenha sido classificada com risco baixo (pontuações 3 e 4), uma parcela significativa apresentou risco alto (pontuação 5) ou muito alto (pontuações entre 6 e 8), o que evidencia a necessidade de ações corretivas imediatas. Isso corrobora os achados de Barros et al. (2022), que destacam a sensibilidade do método ROSA em identificar pontos críticos de inadequação postural, sobretudo em ambientes informatizados.

A aplicação do método ROSA possibilitou uma análise precisa das condições gerais de trabalho e das posturas adotadas pelos trabalhadores. Os resultados obtidos na avaliação foram classificados conforme os critérios estabelecidos pelo método e estão apresentados na tabela a seguir. 

Tabela 1 – Pontuação final e classificação de risco. 

N° de trabalhadores Resultado final ROSA (pontuação) Classificação do risco 
73Baixo, porém, alguns pontos podem ser melhorados.
24Baixo, porém, alguns pontos podem ser melhorados.
65Alto e aponta que ações de correção são necessárias.
36Muito alto e pede melhorias na estação de trabalho o mais rápido possível.
27Muito alto e pede melhorias na estação de trabalho o mais rápido possível.
18Muito alto e pede melhorias na estação de trabalho o mais rápido possível.
Fonte: Autoria própria, 2025. 

A avaliação por meio do método ROSA indicou uma distribuição variada dos níveis de risco ergonômico entre os trabalhadores. Sete colaboradores apresentaram pontuação 3, classificada como risco baixo, com necessidade de melhorias pontuais. Dois obtiveram pontuação 4, igualmente classificados como risco baixo, porém com recomendações de ajustes específicos.

Seis trabalhadores alcançaram pontuação 5, representando risco alto, o que sinaliza a necessidade de ações corretivas nas estações de trabalho. Três indivíduos foram classificados com pontuação 6, e outros dois com pontuação 7, ambos enquadrados como risco muito alto, exigindo intervenções ergonômicas imediatas. Um trabalhador apresentou pontuação 8, também classificado como risco muito alto, reforçando a urgência de modificações estruturais no posto de trabalho.

Esses dados evidenciam a presença de fatores ergonômicos críticos em parte significativa da amostra, exigindo medidas corretivas prioritárias conforme o grau de risco identificado.

A comparação com outros estudos mostra convergência quanto à importância de intervenções ergonômicas nas estações de trabalho. Teibel (2025), ao aplicar o método ROSA em um setor de projetos com uso intensivo de computador, também observou a presença de escores elevados, recomendando melhorias urgentes na organização do mobiliário, na disposição dos equipamentos e nas pausas laborais. Do mesmo modo, Fernandes e Ferreira (2024) apontam que servidores técnico-administrativos frequentemente operam em condições inadequadas, que favorecem o surgimento de DME.

A literatura ainda reforça que o ambiente de trabalho, seja presencial ou remoto, precisa ser continuamente monitorado do ponto de vista ergonômico. Andrade e Tonin (2024) destacam que a análise ergonômica do trabalho deve considerar a variabilidade das condições laborais, uma vez que os riscos podem se intensificar tanto em ambientes institucionais quanto em domicílios adaptados para o trabalho remoto. Araujo et al. (2023), ao comparar diferentes métodos de avaliação postural, confirmaram que o ROSA se mostra eficaz na identificação de fatores de risco relacionados à má postura, sendo um recurso viável e acessível para diagnósticos iniciais.

Portanto, os achados desta pesquisa revelam a existência de um cenário preocupante, em que as queixas musculoesqueléticas podem estar associadas às condições inadequadas do ambiente de trabalho. A presença de escores elevados no método ROSA reforça a urgência de intervenções ergonômicas, que devem incluir não apenas adaptações físicas, mas também ações educativas e organizacionais, conforme sugerido por Souza (2021) e Oliveira et al. (2023).

Conclusão 

Os resultados obtidos neste estudo evidenciam a significativa prevalência de queixas musculoesqueléticas entre os trabalhadores avaliados, especialmente nas regiões dos ombros (52,4%), coluna lombar (52,4%) e pescoço (47,6%). A aplicação do Questionário Nórdico de Distúrbios Musculoesqueléticos (NMQ) permitiu identificar as áreas corporais mais acometidas, reforçando a necessidade de atenção às condições ergonômicas no ambiente laboral.

A análise complementar por meio do método ROSA revelou que, embora alguns postos de trabalho apresentem risco considerado baixo, uma parcela relevante dos trabalhadores foi exposta a níveis de risco alto e muito alto, exigindo intervenções corretivas urgentes. Esses achados demonstram a importância da avaliação ergonômica contínua como ferramenta fundamental para a prevenção de distúrbios musculoesqueléticos e para a promoção de ambientes de trabalho mais seguros e saudáveis.

Dessa forma, recomenda-se a implementação de medidas ergonômicas específicas, tanto no que diz respeito à adequação física dos postos de trabalho quanto à orientação e capacitação dos colaboradores quanto às boas práticas posturais. Intervenções planejadas com base em evidências, têm potencial para reduzir o adoecimento ocupacional e melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores.

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1Graduanda em Fisioterapia pela Universidade Federal do Delta do Parnaíba-UFDPar;

2Docente do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Delta do Parnaíba-UFDPAR.