REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202504132353
Giullia Hallgren Silva, Lígia Luana Freire da Silva, Dayane da Silva Cardozo Teixeira, Mariana Ribeiro dos Santos Fadel, Carolina Araújo Silva, Ana Letícia Domingos Tenório, Clara de Oliveira Nalini Martins, Bruna Siqueira Bonifácio, João Antonio Buzatto De Simone, Beatriz Pellizzon
RESUMO:
INTRODUÇÃO: A rinoplastia para correção de defeitos pós-traumáticos é uma cirurgia que visa restaurar a estética e a funcionalidade nasal após lesões comuns em acidentes ou agressões. Além de melhorar a aparência, esse procedimento também trata problemas respiratórios, que podem surgir devido a traumas nasais, impactando a qualidade de vida do paciente. A cirurgia, contudo, envolve desafios técnicos e riscos, como infecções ou insatisfação estética, sendo essencial o planejamento adequado para bons resultados. No Brasil, a distribuição das cirurgias não é homogênea, com uma concentração de atendimentos na Região Sudeste, o que evidencia desigualdades no acesso aos serviços de saúde e reforça a necessidade de melhorias na infraestrutura das regiões mais afastadas. OBJETIVOS: O objetivo do presente trabalho foi realizar o levantamento epidemiológico comparativo acerca dos casos de rinoplastia pós trauma, entre 2017 a 2024, nas Regiões Norte e Sudeste. METODOLOGIA: O presente trabalho trata-se de um estudo epidemiológico ecológico, descritivo, transversal e retrospectivo. Os dados foram coletados a respeito dos casos novos notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). A coleta dos dados foi realizada em 2025, sendo selecionados os dados relativos a rinoplastia pós trauma (código 0404020321), entre 2017 a 2024, nas Regiões Norte e Sudeste. Utilizou-se as variáveis: número de internações, raças, idade, caráter de internação (CID C54). RESULTADOS: O número de casos cirúrgicos no período analisado foi de 4.409. Sendo 147 (3,3%) na Região Norte e 4.262 (96,7%) na Região Sudeste. A distribuição dos procedimentos cirúrgicos se deu: 1) 2017: 51 (1,1%), 2) 2018: 843 (19.1%), 3) 2019: 970 (22%), 4) 2020: 417 (9,4%), 5) 2021: 480 (10,9%), 6) 2022: 612 (13,9%), 7) 2023: 576 (13%), 8) 2024: 460 (10,6%). Os atendimentos foram realizados nos seguintes caráteres: i) Eletivo: 3.697 (83,8%), ii) Urgência: 664 (15,1%) e iii) Outros: 48 (1,1%). Os procedimentos cirúrgicos foram divididos em dois tipos de financiamento: 1) Fundo de Ações Estratégicas e Compensações (FAEC): 50 (1,1%) e 2) Média e Alta Complexidade (MAC): 4.359 (98,9%). O valor total gasto nos procedimentos cirúrgicos foi de R$2.044.559,79 reais. Sendo a distribuição regional: i) Região Norte: R$74.233,90 (3,6%) e ii) Região Sudeste: R$1.970.325,89 (96,4%). CONCLUSÃO: A análise dos dados sobre os procedimentos cirúrgicos realizados entre 2017 e 2024 revela um total de 4.409 casos, com uma predominância significativa de procedimentos na Região Sudeste (96,7%) com uma crescente na realização destes procedimentos, com pico em 2019 (22%) interrompida temporariamente pela pandemia COVID-19, redução considerável em 2020 (9,4%). A maioria dos atendimentos realizados foi eletivo (83,8%), refletindo a tendência de priorização de procedimentos planejados. Em relação ao financiamento, os procedimentos foram amplamente financiados por recursos de Média e Alta Complexidade (98,9%), cuja maior parte do valor foi destinada à Região Sudeste (96,4%), o que é consistente também com a maior concentração de procedimentos nesta região. Os dados sugerem uma centralização dos atendimentos assim como menor acesso em regiões menos assistidas, exaltando a fragilidade da equidade de atendimento e mostrando necessárias as formulações de políticas públicas para balancear esta tendência.
PALAVRAS-CHAVE: “Rinoplastia”; “Procedimentos cirúrgicos operatórios” ; “Trauma múltiplo”.
INTRODUÇÃO:
A rinoplastia para correção de deformidades pós-traumáticas é um procedimento cirúrgico que visa restaurar a morfologia e a funcionalidade do nariz após lesões causadas por traumas físicos, como acidentes automobilísticos, quedas, agressões ou lesões esportivas. Esse tipo de cirurgia pode ser realizado tanto por otorrinolaringologistas com formação em cirurgia facial quanto por cirurgiões plásticos, a depender do foco principal do tratamento — seja ele estético, funcional ou combinado. Este tipo de procedimento tem ganhado relevância devido ao impacto psicológico e funcional que a deformidade nasal pode acarretar nos pacientes. A rinoplastia reconstrutiva, além de promover a harmonização estética da face, também desempenha um papel fundamental na recuperação das vias respiratórias afetadas (Mendonça et al., 2018).
Os traumas faciais, e particularmente os nasais, ocorrem em uma variedade de contextos, sendo comuns em ambientes urbanos e em situações de violência ou acidentes. De acordo com estudo de Almeida et al. (2020), a rinoplastia pós-traumática não é apenas uma necessidade estética, mas também uma questão de saúde, pois lesões no nariz podem comprometer seriamente a respiração, ocasionando disfunções crônicas e afetando a qualidade de vida dos indivíduos.
A complexidade dessa cirurgia está relacionada não apenas à habilidade técnica do cirurgião, mas também um período de recuperação prolongado e suscetível a intercorrências, como infecções, cicatrização insatisfatória ou desfechos estéticos abaixo do esperado. Assim, a decisão de realizar a rinoplastia pós-traumática deve considerar diversos fatores, incluindo a extensão da lesão, o estado clínico do paciente, o tipo de trauma e os objetivos estéticos e funcionais esperados (Duarte et al., 2019). Em muitas situações, o tempo entre o trauma e a cirurgia pode influenciar diretamente os resultados finais, sendo ideal que o procedimento seja realizado em um período adequado para evitar complicações e otimizar os resultados.
No Brasil, a oferta desse tipo de cirurgia ainda é desigual entre as regiões. Observa-se uma maior concentração dos procedimentos em áreas com infraestrutura médica mais robusta, como a Região Sudeste. Isso se deve à maior infraestrutura de saúde e à presença de especialistas em centros urbanos, o que pode gerar desigualdades no acesso a esses serviços nas regiões mais afastadas, como o Norte (Costa et al., 2020). Esse fenômeno reforça a necessidade de uma análise mais detalhada da distribuição geográfica desses procedimentos, bem como as barreiras de acesso enfrentadas por parte da população, pois a ausência de atendimento adequado pode resultar em sequelas permanentes e prejuízos à saúde e ao bem-estar dos pacientes.
OBJETIVOS:
O objetivo do presente trabalho foi realizar o levantamento epidemiológico comparativo acerca dos casos de rinoplastia pós trauma, entre 2017 a 2024, nas Regiões Norte e Sudeste.
METODOLOGIA:
O presente estudo trata-se de um estudo epidemiológico ecológico, descritivo, transversal e retrospectivo. Os dados foram coletados a respeito dos casos novos notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan).
A coleta dos dados foi realizada em 2025, sendo selecionados os dados relativos a rinoplastia pós trauma (código 0404020321), entre 2017 a 2024, nas Regiões Norte e Sudeste. Utilizou-se as variáveis: número de internações, raças, idade, caráter de internação (CID C54).
Em conformidade com a Resolução no 4661/2012, como o estudo trata-se de uma análise realizada por meio de banco de dados secundários de domínio público, este não foi encaminhado para apreciação de um Comitê de Ética em Pesquisa.
RESULTADOS:
O número de casos cirúrgicos no período analisado foi de 4.409. Sendo 147 (3,3%) na Região Norte e 4.262 (96,7%) na Região Sudeste (Tabela 1). Evidenciando a maior parte dos procedimentos cirúrgicos na Região Sudeste.
Tabela 1. Distribuição dos casos cirúrgicos, entre 2017 a 2024.
Região | N |
Região Norte | 147 |
Região Sudeste | 4262 |
TOTAL | 4.409 |
Fonte Datasus.
A distribuição dos procedimentos cirúrgicos se deu: 1) 2017: 51 (1,1%), 2) 2018: 843 (19.1%), 3) 2019: 970 (22%), 4) 2020: 417 (9,4%), 5) 2021: 480 (10,9%), 6) 2022: 612 (13,9%), 7) 2023: 576 (13%), 8) 2024: 460 (10,6%) (Gráfico 1). Sendo o ano de 2019 com maior número de casos.
Gráfico 1. Distribuição dos casos cirúrgicos, entre 2017 a 2024.

Fonte: Datasus.
Quanto ao caráter dos atendimentos, 3.697 (83,8%) foram de natureza eletiva, 664 (15,1%) de urgência e 48 (1,1%) classificados como “outros” (Gráfico 2).
Gráfico 2. Distribuição dos casos cirúrgicos por caráter de atendimento, entre 2017 a 2024.

Fonte: Datasus.
Em relação ao tipo de financiamento, 50 procedimentos (1,1%) foram custeados pelo Fundo de Ações Estratégicas e Compensações (FAEC), enquanto 4.359 (98,9%) foram financiados pelo sistema de Média e Alta Complexidade (MAC), como mostra o Gráfico 3.
Gráfico 3. Distribuição dos casos cirúrgicos por tipo de financiamento, entre 2017 a 2024.

Fonte: Datasus.
O valor total gasto nos procedimentos cirúrgicos foi de R$2.044.559,79 reais. Sendo a distribuição regional: i) Região Norte: R$74.233,90 (3,6%) e ii) Região Sudeste: R$1.970.325,89 (96,4%) (Tabela 2)
DISCUSSÃO:
Os dados levantados neste estudo sobre rinoplastia pós-traumática nas Regiões Norte e Sudeste de 2017 a 2024 revelam importantes desigualdades regionais no acesso e na distribuição dos procedimentos. Observou-se uma predominância expressiva de casos na Região Sudeste, com 96,7% dos procedimentos realizados nesta região, contrastando com apenas 3,3% na Região Norte. Esses achados corroboram estudos prévios que também identificam um grande desequilíbrio no acesso a serviços de saúde entre as diferentes regiões do Brasil, com uma concentração de recursos e atendimentos nas regiões mais desenvolvidas, como Sudeste do país (Côrtes et al., 2020). A desigualdade pode estar relacionada a fatores como infraestrutura hospitalar, maior disponibilidade de profissionais especializados e a proximidade com centros de referência.
O aumento expressivo de casos a partir de 2018, com 843 procedimentos realizados, seguidos de um pico em 2019, com 970 casos, sugere uma tendência crescente na demanda por rinoplastia pós-traumática. No entanto, a queda observada em 2020 (417 casos) coincide com o período da pandemia de COVID-19, momento em que houve reconfiguração do sistema de saúde, priorizando atendimentos urgentes e suspendendo procedimentos eletivos (Silva et al., 2021). Tal comportamento foi igualmente descrito por outros autores, que identificaram a redução de cirurgias eletivas no contexto pandêmico (Nascimento et al., 2020).
A predominância dos atendimentos (83,8%) reflete a natureza programada da rinoplastia em casos pós-traumáticos. Esse perfil é consistente com a literatura, que caracteriza a rinoplastia como uma cirurgia comumente realizada de forma eletiva após traumas (Barbosa et al., 2019). Além disso, o financiamento dos procedimentos foi majoritariamente proveniente do sistema de Média e Alta Complexidade (MAC), o que reforça a gravidade e a necessidade de recursos especializados para a realização dessas intervenções.
O valor total gasto, R$2.044.559,79, e a significativa diferença na distribuição dos recursos entre as regiões (96,4% para a Região Sudeste) também apontam para um alto custo da assistência em procedimentos de rinoplastia pós-traumática. A disparidade na alocação de recursos entre as regiões sugere um descompasso na distribuição de investimentos, o que pode refletir a priorização de regiões mais populosas e com maior infraestrutura de saúde. Esse desequilíbrio no financiamento regional é amplamente discutido por Costa e Lima (2020), os quais evidenciam que, além das disparidades econômicas, fatores políticos e administrativos contribuem para as desigualdades na assistência à saúde no Brasil.
A concentração dos procedimentos na Região Sudeste, junto ao perfil de financiamento e ao aumento da demanda, reflete não apenas as desigualdades regionais no acesso, mas também a centralização de recursos em centros urbanos mais desenvolvidos, que acabam se tornando os principais responsáveis pela execução de procedimentos especializados. Esses achados reforçam a necessidade de políticas públicas que promovam a descentralização dos serviços e ampliem o acesso equitativo à saúde, especialmente em regiões com menor cobertura, como a Região Norte.
CONCLUSÃO:
A análise dos dados sobre os procedimentos cirúrgicos realizados entre 2017 e 2024 revela um total de 4.409 casos, com uma predominância significativa de procedimentos na Região Sudeste (96,7%) com uma crescente na realização destes procedimentos, com pico em 2019 (22%), interrompida temporariamente pela pandemia COVID-19, redução considerável em 2020 (9,4%). Quanto ao financiamento, 98,9% dos procedimentos foram custeados por recursos de Média e Alta Complexidade (MAC), totalizando um investimento de R$ 2.044.559,79, dos quais a maior parte foi destinada à Região Sudeste (96,4%), em consonância com a concentração de cirurgias nessa região.
Esses dados sugerem a centralização dos atendimentos e o menor acesso a procedimentos em regiões menos assistidas, evidenciando a fragilidade da equidade no sistema público de saúde. Tais desigualdades reforçam a necessidade de formulação de políticas públicas que promovam uma melhor distribuição dos serviços especializados, com vistas a garantir o acesso equitativo em todo o território nacional.
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