REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202504241147
Tallitha Grawnth Santos Vidal
João Vitor Tavares França
Fábio do Couto Bandeira
Túlio Cesar Paiva Araújo
Danielle Andrade Ramalho
Sofia Elisa Rodrigues Alvarenga Carvalho
Maria Vitória Rodrigues Farias
Igor Gonçalves de Almeida
Isadora Sestak Borges
João Victor Azevedo Silva
RESUMO:
Introdução: A hérnia inguinal é uma das afecções cirúrgicas mais comuns em adultos. O tratamento padrão é a cirurgia, sendo as técnicas abertas (como Lichtenstein) e laparoscópica (TAPP/TEP) as principais abordagens. Metodologia: Revisão sistemática baseada no PRISMA 2020, com estudos publicados entre 2015 e 2025, comparando ambas as técnicas em adultos, avaliando dor, tempo cirúrgico, complicações, recidiva, retorno ao trabalho e custos. Resultados: A laparoscopia apresentou menor dor pós-operatória, recuperação mais rápida e menos complicações como parestesia e dor crônica. Contudo, teve maior tempo operatório e custo. As taxas de recidiva foram semelhantes. Discussão: A laparoscopia oferece benefícios importantes, especialmente em centros com estrutura adequada. Já a técnica aberta permanece eficaz e mais acessível em contextos com poucos recursos. Conclusão: Ambas as técnicas são seguras. A escolha deve ser individualizada, considerando fatores clínicos, econômicos e logísticos
INTRODUÇÃO
A hérnia inguinal é uma condição caracterizada pela protrusão de estruturas intra-abdominais através de uma fragilidade na região do canal inguinal. Essa afecção, que pode ser classificada em direta ou indireta conforme sua relação com os vasos epigástricos inferiores, é uma das patologias cirúrgicas mais comuns, sobretudo entre os homens.
Estima-se que mais de 20 milhões de procedimentos para correção de hérnia inguinal sejam realizados anualmente em todo o mundo. A cirurgia representa a intervenção definitiva, sendo indicada especialmente em casos sintomáticos ou com risco de complicações, como encarceramento ou estrangulamento.
A abordagem aberta tradicional, especialmente a técnica de Lichtenstein, tem sido amplamente adotada como padrão terapêutico. Trata-se de uma estratégia com uso de tela protética sob anestesia local, raquidiana ou geral, reconhecida por sua simplicidade, baixas taxas de recidiva e ampla aplicabilidade. Com os avanços da cirurgia minimamente invasiva, métodos laparoscópicos como a técnica transabdominal pré-peritoneal (TAPP) e a extraperitoneal total (TEP) passaram a ser considerados alternativas eficazes, oferecendo potenciais vantagens como redução da dor no pós-operatório, recuperação funcional mais rápida e melhor resultado estético.
Esses aspectos têm estimulado discussões sobre a superioridade das abordagens laparoscópicas em relação às técnicas convencionais, principalmente ao se analisarem desfechos como dor crônica, tempo cirúrgico, complicações e custos. A escolha da melhor abordagem cirúrgica é multifatorial, dependendo de aspectos como experiência da equipe, disponibilidade de recursos e condições clínicas do paciente.
Diante desse contexto, esta revisão sistemática tem como objetivo reunir e avaliar criticamente as evidências científicas recentes, publicadas a partir de 2015, que comparam os métodos laparoscópicos e abertos na correção da hérnia inguinal em adultos, fornecendo subsídios para uma tomada de decisão cirúrgica mais fundamentada e atualizada.
METODOLOGIA
Tipo de Estudo: Revisão sistemática da literatura, desenvolvida conforme as recomendações do PRISMA 2020.
Estratégia PICO:
- P (População): Adultos com hérnia inguinal
- I (Intervenção): Técnicas laparoscópicas (TAPP ou TEP)
- C (Comparador): Técnica aberta (ex: Lichtenstein)
- O (Desfechos): Dor pós-operatória, tempo cirúrgico, retorno ao trabalho, taxa de recidiva, complicações e custos
Bases de Dados: Foram consultadas as plataformas PubMed, Scopus, Embase e Web of Science, abrangendo o período de 2015 a 2025. Utilizaram-se os descritores: “inguinal hernia”, “laparoscopic repair”, “open repair”, “Lichtenstein”, “TAPP”, “TEP”, “randomized controlled trial” e “meta-analysis”.
Critérios de Inclusão: Estudos comparativos entre técnicas abertas e laparoscópicas em adultos, com texto completo, publicados entre 2015 e 2025, nos idiomas inglês, português ou espanhol.
Critérios de Exclusão: Estudos envolvendo populações pediátricas, relatos de caso, cartas ao editor, revisões narrativas ou artigos que não realizem comparação direta entre as técnicas.
Seleção e Extração de Dados: Dois revisores independentes realizaram a triagem dos títulos, resumos e textos completos. Foram extraídos: autor, ano, país, tipo de estudo, número de participantes, técnica utilizada, tempo cirúrgico, dor pós-operatória, retorno ao trabalho, recidiva, complicações e follow-up.
RESULTADOS
Três estudos principais foram incluídos, e seus dados estão resumidos na Tabela 1 a seguir para facilitar a comparação dos principais achados:


Legenda:
VAS: Visual Analog Scale (Escala Visual Analógica de dor)
RR: Risco Relativo
TAPP: Transabdominal Preperitoneal
TEP: Totally Extraperitoneal
Tempo Cirúrgico: O tempo operatório tende a ser levemente superior na abordagem laparoscópica.
Dor Pós-operatória: O grupo submetido à laparoscopia apresentou menor dor aguda nas primeiras 24 horas e menor incidência de dor crônica.
Retorno ao Trabalho: A recuperação funcional foi mais rápida no grupo laparoscópico.
Recidiva: Não houve diferença estatisticamente significativa entre as técnicas.
Complicações: Observou-se menor ocorrência de parestesia e dor persistente no grupo submetido à laparoscopia.
Custo: A laparoscopia tende a apresentar custos mais elevados, embora os dados sejam heterogêneos entre os estudos.
DISCUSSÃO
As técnicas laparoscópicas demonstraram vantagens quanto à dor no pós-operatório e à velocidade de recuperação, sendo particularmente indicadas em centros com estrutura adequada e profissionais experientes. Por outro lado, o maior tempo cirúrgico e os custos envolvidos ainda são desafios para sua aplicação ampla.
A abordagem aberta, especialmente a técnica de Lichtenstein, permanece uma opção segura e eficaz, com bom perfil de custo-benefício, sobretudo em sistemas de saúde com recursos limitados.
Em cenários de urgência, a abordagem laparoscópica também demonstrou ser viável, ampliando seu espectro de aplicação. Os estudos incluídos apresentaram qualidade metodológica variada, em geral de moderada a alta, com limitações pontuais relacionadas à padronização dos desfechos e à estimativa de custos.
Recomenda-se que futuras pesquisas foquem em custo-efetividade, impacto a longo prazo da dor crônica, qualidade de vida e análise da aplicabilidade da laparoscopia em diferentes perfis populacionais.
CONCLUSÃO
Com base na análise dos estudos incluídos nesta revisão sistemática, é possível afirmar que as técnicas laparoscópicas de reparo de hérnia inguinal, como TAPP e TEP, apresentam vantagens significativas em relação à dor pós-operatória imediata, retorno mais rápido às atividades diárias e menor incidência de dor crônica. Esses benefícios são especialmente relevantes para pacientes jovens, ativos ou com hérnias bilaterais, nos quais a recuperação funcional precoce é desejável.
Por outro lado, a técnica aberta de Lichtenstein continua sendo uma opção segura, eficaz e amplamente disponível, com baixos índices de recidiva quando realizada por cirurgiões experientes. Além disso, apresenta menor custo direto em muitas realidades de saúde pública, sendo uma alternativa importante em contextos com recursos limitados.
Embora não tenha havido diferença significativa nas taxas de recidiva entre as técnicas comparadas, o maior tempo operatório e o custo potencialmente mais elevado da laparoscopia devem ser considerados na escolha da abordagem. A expertise da equipe cirúrgica, bem como a infraestrutura disponível, também influenciam diretamente a viabilidade da abordagem minimamente invasiva.
Portanto, a escolha da técnica deve ser individualizada, baseada em uma avaliação criteriosa dos fatores clínicos, logísticos e econômicos. Estudos futuros devem focar em análises de custo-efetividade, impacto em longo prazo da dor crônica, qualidade de vida e aplicabilidade da laparoscopia em diferentes cenários, incluindo situações de urgência ou em populações especiais, como idosos ou pacientes com hérnias recidivadas.
REFERÊNCIAS
- Wu JJ, Way JA, Eslick GD, Cox MR. Transabdominal Preperitoneal Versus Open Repair for Primary Unilateral Inguinal Hernia: A Meta-analysis. World J Surg. 2018;42(5):1304–1311.
- KÖCKERLING, F. et al. Current status of laparoscopic inguinal hernia repair: a review of recent meta-analyses. Surgical Endoscopy, v. 33, p. 579–588, 2019.
- Haladu N, Alabi A, Brazzelli M, et al. Open versus laparoscopic repair of inguinal hernia: an overview of systematic reviews of randomised controlled trials. Surg Endosc. 2022;36(7):4685–4700.
- BITTNER, R. et al. Update of guidelines for laparoscopic treatment of inguinal hernia (IEHS). Surgical Endoscopy, v. 29, p. 289–321, 2015.
- HERNIASURGE GROUP. International guidelines for groin hernia management. Hernia, v. 22, n. 1, p. 1–165, 208.