REVISÃO SISTEMÁTICA: BIODIVERSIDADE DA SERRA DE MARANGUAPE VS. ABUNDÂNCIA DA ESPÉCIE ENDÊMICA ADELOPHRYNE MARANGUAPENSIS HOOGMOED, BORGES & CASCON, 1994

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.6656828


Autor:
Francisco José Ferreira Braúna1


RESUMO

Uma revisão sistemática sobre a biodiversidade da Serra de Maranguape, correlacionando-se com a abundância da espécie endêmica de anfíbio Adelophryne maranguapensis. A metodologia seguiu o protocolo PRISMA (Page et. al. 2021) para buscas nas bases de dados. A Serra de Maranguape sofre os reflexos das mudanças climáticas, passando por secas severas que tornam a vegetação típica da mata atlântica numa paisagem seca e desmatada. Trata-se de uma área de preservação ambiental, que lida com ações humanas diretas decorrentes da exploração da agricultura, caça, desvios de cursos de águas, e construções imobiliárias e de balneários e ocupações ilegais. Mesmo assim, a Serra abriga, pelo menos, 29 espécies e anfíbios (Castro et. at., 2016). A finalidade deste estudo foi fazer a revisão sistemática de artigos e artigos de revisão que relacionassem a abundância das espécies e anfíbios endêmicos, como o Adelophryne maranguapensis, com a conservação da biodiversidade da Serra de Maranguape. No Sistema de Informação Sobre a Biodiversidade Brasileira a última ocorrência sobre esta espécies foi no ano de 2012 (Base de dados do PortalBio do ICMBio: Sisbio-Dibio), portanto há 10 anos. Atualmente está no Livro Vermelho dos Anfíbios como espécies ameaçada de extinção na classificação de vulnerável. A escassez de estudos específicos pode decorrer da falta de interesse farmacológico e econômico para os anfíbios na região, entre outras, como a insegurança e a dificuldade para acompanhar comunidades de anfíbios. Estudos sobre a abundância dos anfíbios endêmicos relacionando com o estado de conservação da Serra de Maranguape são inexistentes para o intervalo definido neste trabalho, do ano de 1980 a 2022. No entanto, foram selecionados trabalhos que sustentam a admissão de que espécies endêmicas de anfíbios como o Adelophryne maranguapensis são vulneráveis às mudanças climáticas e correm risco de extinção pela perda de recursos de alimentação, aumento da predação e falta de ambiente para a reprodução, sobretudo quando ocorrem secas severas, uma vez que dependem das áreas úmidas. A abundância dessa espécie é um marcador ambiental do estado de conservação da biodiversidade da Serra de Maranguape.

Palavras-chave: Adelophryne maranguapensis, Serra de Maranguape, Biodiversidade, Anfíbios endêmicos, mudanças climáticas.

ABSTRACT

A systematic review on the biodiversity of Maranguape Mountain, correlating with the abundance of the endemic amphibian species Adelophryne maranguapensis. The methodology followed the PRISMA protocol (Page et. al. 2021) for searches in the databases. The Maranguape Mountain suffers the effects of climate crisis, going through severe droughts that turn the typical vegetation of the Atlantic Forest into a dry and deforested landscape. It is an area of ​​environmental preservation, which deals with direct human actions resulting from the exploitation of agriculture, hunting, diversion of water courses, and real estate and spa constructions and illegal occupations. Even so, the Mountain is home to at least 29 species and amphibians (Castro et. at., 2016). The purpose of this study was to carry out a systematic review of articles and review articles that related the abundance of endemic species and amphibians, such as Adelophryne maranguapensis, with the conservation of the biodiversity of the Maranguape Mountain. In the Brazilian Biodiversity Information System, the last occurrence of this species was in 2012 (ICMBio PortalBio database: Sisbio-Dibio), so 10 years ago. It is currently in the Red Book of Amphibians as endangered species in the classification of vulnerable. The scarcity of specific studies may result from the lack of pharmacological and economic interest for amphibians in the region, among others, such as insecurity and the difficulty in monitoring amphibian communities. Studies on the abundance of endemic amphibians relating to the conservation status of Maranguape Mountain are non-existent for the range defined in this work, from 1980 to 2022. However, studies were selected that support the admission that endemic species of amphibians such as Adelophryne maranguapensis are vulnerable to climate change and are at risk of extinction due to the loss of food resources, increased predation and lack of an environment for reproduction, especially when severe droughts occur, as they depend on wetlands. The abundance of this species is an environmental marker of the conservation status of the Maranguape Mountain biodiversity.

Keywords: Adelophryne maranguapensis, Serra de Maranguape, Biodiversity, Endemic amphibians, climate crisis.

1. INTRODUÇÃO

É fato que poucos contestam que uma crise climática está em andamento e que o efeito estufa causa intolerância na biodiversidade de ecossistemas menos adaptáveis. Essas alterações climáticas têm várias causas, e a atividade humana é a mais influente, vistas as quantidades de carbono que são emitidas na atmosfera todos os anos por causa do processo produtivo industrial. A serra de Maranguape situa-se no perímetro metropolitano da Grande Fortaleza, com altitudes de até 700m. Nos períodos de seca prolongada, a vegetação típica de mata atlântica toma um contorno acinzentado e os córregos e riachos desaparecem, principalmente porque são desviados dentro das propriedades privadas para plantações e reservatórios.

No pico da Serra encontra-se a espécie endêmica de anfíbio Adelophryne maranguapensisHoogmoed, borges & Cascon, 1994. A última ocorrência registrada, conforme a Base de dados do PortalBio do ICMBio: Sisbio-Dibio, da espécie, foi no ano de 2012, e sua classificação no livro vermelho de espécies ameaças de extinção está como vulnerável. A maior ou menor abundância da espécie endêmica Adelophryne maranguapensis sinaliza o estado de conservação da biodiversidade da Serra de Maranguape?

Os estudos específicos que relacionam a biodiversidade de anfíbios com as mudanças climáticas no Estado do Ceará e em específico na Serra de Maranguape, são escassos. Castro et. al (2016), no entanto, afirmam que identificaram 29 espécies de anfíbios, e que estes estão distribuídos nas escalas de altitudes.  Os objetivos deste trabalho foram revisar a literatura sobre o estado de conservação da biodiversidade da Serra de Maranguape, através de dados sobre abundância da espécie Adelophryne maranguapensis, e identificar impactos que as mudanças climáticas exercem sobre as espécies endêmicas de anfíbios.

2. METODOLOGIA

Para garantir a reprodutibilidade, o presente trabalho seguiu o protocolo para revisão sistemática PRISMA (Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses) (Page et al. 2021). A busca das referências disponíveis sobre a biodiversidade da Serra de Maranguape, Ceará, Nordeste brasileiro, e as evidências do estado de conservação do Adelophryne maranguapensis (Sapinho maranguapense) foi realizada nas bases de dados Scielo Web of Science, SiBBr – Sistema de Informação Sobre a Biodiversidade Brasileira (Portal Sisbio-Dibio do ICMBio) e Google Acadêmico. Também foi consultado o site da Semace. As palavras-chave e títulos utilizados foram: “biodiversidade da Serra de Maranguape” OR “biodiversity Maranguape mountain” OR “Adelophryne maranguapensis” OR “amphibians Maranguape” OR estado de conservação do sapinho maranguapense OR climate crisis OR espécies endêmicas da Serra de Maranguape Ceará; “Adelophryne maranguapensis“, “serra de Maranguape”, “conservação da biodiversidade”

A pesquisa foi realizada de junho de 2021 a fevereiro de 2022, com filtros para artigos e artigos de revisão nos idiomas inglês e português, citáveis, de ciências biológicas, desde o ano de 2010 até 2022.

A seleção dos materiais ocorreu após a leitura dos títulos e resumos, e foram incluídos conforme os critérios e filtros: (1) associar o Adelophryne maranguapensis com a biodiversidade da Serra de Maranguape, Ceará; (2) associar a presença do Adelophryne maranguapensis com a conservação ambiental; (3) conter, pelo menos, informações taxonômicas do Adelophryne maranguapensis; (4) conter estudos de anfíbios da Serra de Maranguape em face das mudanças climáticas.

3. RESULTADOS

Na Scielo Web of Science foram encontrados 49 resultados. Após a leitura do título, 3 foram selecionados por tratarem sobre mudanças climáticas e os impactos na biodiversidade, conforme a leitura do resumo, 46 foram excluídos porque não tinham a relação de associação dos critérios adotados na metodologia e nem com os objetivos gerais e específicos deste trabalho.

Na SiBBr retornaram 34 resultados sobre informações de ocorrências do Adelophryne maranguapensis, 1 foi selecionado porque trazia a ocorrência mais recente da espécie.

Na plataforma Google Acadêmico, após a filtragem e aplicado o mecanismo para retirada de estudos duplicados retornaram 83 resultados, dos quais 6 foram selecionados porque traziam a relação da presença de anfíbios, inclusive o Adelophryne maranguapensis, com o estado de conservação do ambiente, mencionado a Serra de Maranguape. 

No gráfico abaixo estão os estudos agrupados pelo assunto e ano de publicação.

GRÁFICO 1 – ESTUDOS AGRUPADOS PELO ASSUNTO E O ANO DE PUBLICAÇÃO

Na tabela abaixo temos a seleção dos estudos organizado por autor, ano, título e resumo.

TABELA 1 – SELEÇÃO DOS ESTUDOS COM AUTOR, ANO, TÍTULO E RESUMO

AUTOR/ANOTÍTULO/RESUMO
1-Atwoli et. al., 2021
Artigo
Apelo por ação emergencial para limitar o aumento da temperatura global, restaurar a biodiversidade e proteger a saúde – As nações ricas devem fazer muito mais, muito mais rápido. Techo do resumo: Aumentos acima de 1,5°C aumentam a chance de atingir pontos de inflexão em sistemas naturais que poderiam colocar o mundo em um estado agudo de instabilidade. Isso prejudicaria criticamente nossa capacidade de mitigar danos e evitar mudanças ambientais catastróficas e descontroladas. https://doi.org/10.1590/0102-311X00194721.
 
2-Isabel Marques da Silva, 2021
Artigo
Apresentação – Biodiversidade (I). Resumo.  A conservação da biodiversidade é importante para a minimizar o efeito das mudanças climáticas: comunidades mais diversas tem mais chances num clima em mudança. A exploração da biodiversidade de forma sustentável permite o desenvolvimento das comunidades de uma forma mais equilibrada com base em recursos diversos e actividades diversas, tornando-as mais resilientes aos impactos adversos, quer de origem económica quer tenham raiz nas mudanças climáticas(…)Falar de biodiversidade não é só um assunto dos habitats e espécies selvagens, como nos prova o artigo sobre o porco alentejano em Portugal. Neste artigo é salientada a importância da luta pela preservação das espécies domésticas tradicionais, da sua diversidade genética, mas também pela preservação das heranças culturais e ecológicas associadas a estas espécies criadas pelo homem. . Revista Internacional em Língua Portuguesa versão impressa ISSN 2182-4452versão On-line ISSN 2184-2043.
3-Artaxo, 2020.
Artigo
As três emergências que nossa sociedade enfrenta: saúde, biodiversidade e mudanças climáticas. Resumo: Salienta-se que essas crises têm ligações profundas entre si, e diferenças também importantes, mas todas provocam impactos sociais e econômicos fortes e afetam o planeta globalmente. Elas são resultado de um modelo econômico que privilegia o desenvolvimento a qualquer custo, o lucro muito rápido, mesmo à custa da sustentabilidade. https://doi.org/10.1590/s0103-4014.2020.34100.005
4-Cassiano-Lima et.al, 2019.
 Artigo
Journal of Natural History 
Volume 54, 2020 – Issue 27-28
Título: Reproductive biology of direct developing and threatened frog Adelophryne maranguapensis (Anura, Eleutherodactylidae) reveals a cryptic reproductive mode for anurans and the first record of parental care for the genus.  Resumo: Este artigo fornece informações sobre a reprodução de Adelophryne maranguapensis, uma espécie ameaçada endêmica da Serra de Maranguape, relíquia da Mata Atlântica cercada por fitofisionomias secas da Caatinga. Nossos objetivos foram identificar os períodos reprodutivos, verificar qualquer preferência por criadouros, revisar o modo reprodutivo e descrever os cuidados parentais. A espécie se reproduz durante a estação chuvosa e não é seletiva quanto às espécies de bromélias utilizadas para oviposição. Este é o primeiro relato de cuidado parental para o gênero desde que as fêmeas demonstram acompanhamento dos ovos até a formação da camada de gel em todos os ovos. Revisitamos os termos que definem o modo reprodutivo desta espécie e propomos a necessidade de redefini-lo. A redefinição considera: (1) deposição de bromelígenos e ovos não aquáticos ao redor do fitotelmo; (2) desenvolvimento direto; (3) cuidados parentais com atendimento ao ovo pela fêmea. https://doi.org/10.1080/00222933.2020.1830192
5-Castro de. et. al., 2016.
Artigo
http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/43452
Diversidade de anfíbios em gradientes altitudinais em áreas de Brejos-de-Altitude no Nordeste Brasileiro. Este trabalho está dividido em duas vertentes: primeiramente, foi testada a influência dos gradientes de altitude sobre a distribuição espacial de assembleias de anfíbios de montanhas de baixa elevação do Nordeste brasileiro, sendo este, o primeiro estudo que propõe esta questão. Foi verificado como assembleias de anfíbios estão distribuídas ao longo de uma montanha de formato cônico (Serra de Maranguape) e de platô (Parque Nacional de Ubajara), e avaliado quais as áreas de maior riqueza e diversidade, bem como os fatores causais. 
6-Fernandes-Ferreira et al., 2014.
Artigo
Gaia Scientia (2014) Volume 8 (1): 99-120 Versão On line ISSN 1981-1268 http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/gaia/index
História da Zoologia no Estado do Ceará Parte I: Vertebrados Continentais. Desde os primeiros apontamentos no século XVI até os complexos estudos contemporâneos, o Estado do Ceará, no Nordeste do Brasil, tem sido palco de diversos estudos zoológicos. Esses estudos tem revelado uma fauna bastante diversificada e de grande importância para a compreensão das relações desses animais com o ambiente. Entretanto, nota-se que boa parte das pesquisas realizadas na atualidade dificilmente é atrelada ao seu contexto histórico. Diante desse panorama, inauguramos aqui uma série de publicações que tem como objetivo realizar um levantamento histórico dos pesquisadores e documentos que tratem da diversidade zoológica presente no Estado do Ceará. Essa primeira parte, que compreende a Masto, Ornito e a Herpetologia, proporciona a caracterização dos principais zoólogos cearenses; a documentação da ocorrência pretérita de espécies extintas localmente; o registro de espécies abundantes no passado e que hoje estão em depleção populacional, bem como a indicação de lacunas amostrais no Estado. Felizmente, o notável crescimento dos grupos de pesquisa em Zoologia no Ceará promove um bom prognóstico para o cenário científico local.
7- Lima, Daniel Cassiano
Nojosa, Diva Maria Borges
Cechin, Sonia Zanini
2014
Artigo de Periódico
The advertisement call of Adelophryne maranguapensis (Anura, Eleutherodactylidae). Resumo – We describe the advertisement call of A. maranguapensis an endangered species endemic to Serra de Maranguape, Ceará, northeastern Brazil (Cassiano-Lima et al., 2011).  O gênero monofilético Adelophryne inclui oito espécies nominais e várias espécies não nomeadas de pequenos sapos com desenvolvimento direto, que ocorrem na Amazônia, Mata Atlântica e montanhas florestais úmidas do Nordeste do Brasil (Fouquet et al. 2012). Apenas os cantos de anúncio de A. adiastola, A. gutturosa, A. patamona e A. mucronatus foram descritos até agora (ver MacCulloch et al., 2008; Lourenço-de-Moraes et al., 2012).
8-Loebmann et. al., 2011.
Artigo
First record of Adelophryne baturitensis Hoogmoed, Borges & Cascon, 1994 for the state of Pernambuco, Northeastern Brazil (Anura, Eleutherodactylidae, Phyzelaphryninae). O gênero Adelophryne Hoogmoed & Lescure, 1984 compreende atualmente seis espécies: Adelophryne adiastola Hoogmoed & Lescure, 1984, A. gutturosa Hoogmoed & Lescure, 1984, e A. patamona MacCulloch, Lathrop, Kok, Minter, Khan & BarrioAmoros, 2008 do Bioma Floresta Amazônica, A. baturitensis Hoogmoed, Borges & Cascon, 1994 e A. maranguapensis Hoogmoed, Borges & Cascon, 1994 do Bioma Caatinga; e A. pachydactyla Hoogmoed, Borges & Cascon, 1994 do Atlântico Bioma Floresta Tropical (Hegdes et al., 2008; Macculloch et al., 2008). Até recentemente Adelophryne baturitensis foi considerada uma espécie endémica do Maciço de Baturité, uma área restrita de floresta úmida de alta altitude remanescentes no estado do Ceará, Brasil (Hoogmoed et al., 1994; Eterovick et al., 2005). No entanto, uma população de A. baturitensis foi descoberta em 2010 no Planalto
da Ibiapaba (03º48’S, 40º54’W) outra floresta úmida remanescentes no Ceará, ca. 220 km em linha reta para o oeste da localidade-tipo (Loebmann & Haddad, 2010). Atualmente, A. baturitensis tem sido considerada como
“vulnerável” na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas do Brasil (Haddad, 2008) e Lista Vermelha de Ameaçados Espécies da União Internacional para a Conservação de Natureza (Silvano e Borges-Nojosa, 2004).
9-Daniel CASSIANO-LIMA, Diva Maria BORGES-NOJOSA , Paulo CASCON & Sonia Zanini CECHIN
NORTH-WESTERN JOURNAL OF ZOOLOGY 7 (1): pp.92-97 ©NwjZ, Oradea, Romania, 2011 Article No.: 111109
2011.
The reproductive mode of Adelophryne maranguapensis Hoogmoed, Borges & Cascon, 1994, (Anura, Eleutherodactylidae) an endemic and threatened species from Atlantic Forest remnants in northern Brazil. Resumo – The genus Adelophryne is presently constituted by six species of minute anurans that inhabit leaf litter and are distributed in the Amazon region and in the Brazilian Atlantic Forest. The present study aims to contribute to the knowledge of the reproductive mode of this genus, by presenting information about the oviposition site, egg and clutch characteristics, and type of development of A. maranguapensis. This species is listed as in danger of extinction because it is endemic to the Serra de Maranguape, a small remnant of Atlantic Forest in northeastern Brazil that is under severe pressure of anthropic degradation. The study is based on twelve A. maranguapensis egg clutches found on leaves of bromeliads at heights of 0.5 to 4.4 m from the ground. The clutches contained 3 to 8 eggs, each approximately 5 mm in diameter, with a vitreous surface and dark material in its interior, and were all located in bromeliad leaf axils. The eggs from one of the clutches hatched into fully formed froglets in the first 48 hours after collection, confirming that A. maranguapensis has direct development. These observations stress the conservation importance of the threatened natural remnants of the Serra de Maranguape, because A. maranguapensis uses arboreal sites to reproduction.
10-Toledo et.al. 2010
Artigo
Título: A revisão do Código Florestal Brasileiro: impactos negativos para a conservação dos anfíbios. Nos últimos meses está em efervescente discussão uma proposta para que um novo código florestal (Projeto de Lei nº 1876/99) substitua o vigente instaurado por meio da Lei Federal nº 4771/65 e modificado recentemente por Medidas Provisórias. Este novo código proposto, todavia, propõe alterações legais que devem afetar negativamente as populações naturais de anfíbios do Brasil. O declínio de anfíbios deve gerar impactos negativos tanto para a população (humana) nacional, como para a comunidade internacional. Entre os possíveis efeitos dessa lei, em consequência da perda de diversidade de anfíbios, podemos citar o aumento nos custos de produção agrícola, perda de matéria prima para produção de remédios, descontrole ecológico, eutrofização de corpos d’água, encarecimento do custo do tratamento de água para abastecimento humano, aumento de pragas agrícolas e aumento de doenças transmitidas por insetos vetores. Isto tudo é bastante preocupante ainda mais se levarmos em conta a própria perda da biodiversidade de anfíbios, o grupo de vertebrados terrestres mais ameaçado do planeta. Sendo assim, ressaltamos a necessidade de que, caso um novo código florestal seja elaborado, este tenha embasamento também em questões técnicas e científicas que impreterivelmente afetam, não só a conservação da natureza, mas também a economia, saúde e bem estar das populações humanas. https://doi.org/10.1590/S1676-06032010000400003

4. DISCUSSÃO

Os impactos das mudanças climáticas sobre os ecossistemas, principalmente sobre a conservação da biodiversidade são evidentes. Áreas como os brejos próximos do litoral, como é o caso da Serra de Maranguape, passam por grandes secas, o que lhes proporciona uma mudança radical na vegetação e nas partes mais úmidas durante boa parte do ano. O impacto é maior para os anfíbios endêmicos pela da redução de recursos, aumento da predação e desaparecimento das águas de reprodução. A abundância de espécies como o Adelophryne maranguapensis é um indicativo do estado de conservação da biodiversidade da montanha. Atwoli et. al. (2021) afirma que a temperatura maior em 1,5°C aumentam a chance de atingir pontos de inflexão em sistemas naturais.  A perda da biodiversidade de anfíbios leva à perda de matéria prima para produção de remédios, descontrole ecológico, eutrofização de corpos d’água, encarecimento do custo do tratamento de água para abastecimento humano, aumento de pragas agrícolas e aumento de doenças transmitidas por insetos vetores (Toledo et. at., 2010).

Maranguape dista aproximadamente 27 km de Fortaleza, constitui-se de ecossistema de Serra Úmida, com altitude chegando a 700 metros. A Área de Proteção Ambiental da Serra de Maranguape foi criada pelo Poder Público Municipal a partir da Lei Nº 1168, de 08 de julho de 1993. O objetivo foi o controle sobre o ecossistema da serra, especificamente proteger as comunidades bióticas nativas, as nascentes, as vertentes e os solos além de proporcionar à população da área métodos e técnicas apropriados ao uso do solo, de maneira a não interferir no funcionamento dos refúgios ecológicos e desenvolver junto à comunidade uma consciência ecológica e conservacionista (Fonte: www.semace.ce.gov.br). No entanto, APA não está protegida como deveria e as construções imobiliárias avançam juntamente com a exploração da agricultura com queimadas anuais, a caça e os desvios dos cursos de água para as propriedades privadas.

O Adelophryne maranguapensis, cujo nome popular é sapinho maranguapense, é espécie Endêmica Da Serra De Maranguape, Estado do Ceará. No Sistema de Informação Sobre a Biodiversidade Brasileira a última ocorrência foi no ano de 2012 (Base de dados do PortalBio do ICMBio: Sisbio-Dibio), portanto há 10 anos.  No entanto, Castro et.al. (2016) afirmam que foram encontradas 29 espécies de anfíbios para a Serra de Maranguape, e que registraram diferenças significativas entre a abundância e a diversidade beta ao longo das elevações, e acredita-se que os resultados encontrados estão associados a diferenças geomorfológicas e fitofisionômicas.

Fernandes-Ferreira et.al. (2014), citando vários autores, ensinam que um panorama histórico dos estudos da zoologia no Ceará é importante para formar a documentação da ocorrência pretérita de espécies extintas localmente. Para eles, a forte influência dos trabalhos de Vanzolini (1981) e Nascimento e LimaVerde (1989), os brejos-de-altitude têm sido bem explorados quanto à herpetofauna, revelando novas espécies, como a serpente Atractus ronnie, o lagarto Leposoma baturitensis e os anfíbios Adelophryne maranguapensis e A. batutitensis.

A escassez de estudos poder estar ligada à pouca importância das espécies de anfíbios para as finalidades farmacológicas e econômicas. Por outro lado, o longo período sem ocorrência da espécie, pode ser um indicativo de que as secas severas ocorridas nem todo o Ceará esteja influenciando a redução das comunidades de anfíbios e, com elas, as populações de Adelophryne maranguapensis. No livro vermelho das espécies ameaçadas de extinção está indicado como abundante localmente, contudo, sua área de ocupação é ainda menor e está sob forte pressão antrópica, devido, principalmente, a expansão urbana na região com a construção de casas de veraneio, que se não for controlada poderá agravar o risco de extinção da espécie em curto prazo. Por essas razões, Adelophryne maranguapensis foi categorizada como vulnerável (VU) pelo critério D2. As mudanças climáticas atingem a Serra de Maranguape, prejudicando sua biodiversidade, do mesmo modo como está ocorrendo em todos os locais do planeta. Porém, os impactos tornam-se mais evidentes por causa da atividade humana dentro da APA, que é intensa, com plantações, desvios de cursos de água, e a exploração da caça e existência de balneários. Não há intensificação de vigilância dos órgãos ambientais, e a insegurança a que estão submetidas as comunidades tradicionais e os pesquisadores é um fator a mais para a pouca quantidade de estudos atualizados.

5. CONCLUSÃO

Apesar da importância para a conservação ambiental em Regiões Metropolitanas, os estudos envolvendo a biodiversidade da APA da Serra de Maranguape e o seu estado de conservação, são escassos, com destaque para Castro et. al. (2016) que identificou 29 espécies de anfíbios, mas sem fazer a relação direta com o estado de conservação do ecossistema.  Especificamente não foram localizados artigos e nem revisões sistemáticas, dentro do período delimitado, que tratem da abundância da espécie Adelophryne maranguapensis apresentado dados numéricos populacionais.

Evidencia-se, contudo, que as alterações de temperatura, em função das oscilações climáticas bruscas e que levam a secas severas na Serra de Maranguape, causam um impacto substancial sobre as espécies endêmicas de anfíbios, reduzindo a abundância, podendo levá-las à extinção. Estudos de acompanhamento da abundância de espécies e suas relações com o ambiente são de vital importância para a adoção de políticas de proteção da espécie e da conservação da APA da Serra.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Semace.ce.gov.br.


1Graduando do Curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Ceará.