REVISÃO INTEGRATIVA, O IMPACTO DA PANDEMIA DA COVID-19 NA SAÚDE MENTAL DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE. 

INTEGRATIVE REVIEW, THE IMPACT OF THE COVID-19 PANDEMIC ON THE MENTAL HEALTH OF HEALTHCARE PROFESSIONALS. 
 

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.10640760


Hélio Valdeci da Rocha1 
Fábio José da Rocha2 
Bruno Raphael Tadeu Moraes Brandão
Erica Cristina Moreira4 
 Ezymar Gomes Cayana5 


RESUMO 

Estudar os impactos da pandemia de COVID 19 constitui um grande desafio, sobretudo, considerando que a pandemia ainda não terminou e que muitos desses impactos, possivelmente, ainda não foram sentidos em toda a sua magnitude. Particularmente, no que se refere às sequelas desse mal sobre a saúde mental dos profissionais da área de saúde, não constitui desafio menor, seja pelo alcance que isto certamente tem, seja pela subjetividade do tema ou ainda porque talvez seja precoce considerar o tema concluso. Esta revisão integrativa foi realizada com base em 20 artigos, previamente selecionados, diretamente relacionados com este tema. Os estudos analisados permitem afirmar que os principais impactos saúde mental dos profissionais de saúde se manifestam no risco de contaminação que tem gerado afastamento do trabalho, doença e morte, além de intenso sofrimento psíquico, que se expressa em transtorno de ansiedade generalizada, distúrbios do sono, medo de adoecer e de contaminar colegas. O clima de cautela e incerteza, o desconhecimento da doença e óbitos entre os profissionais de saúde, o estresse causado por fatores organizacionais, como esgotamento de EPIs, preocupações sobre não ser capaz de fornecer cuidados competentes, falta de acesso a informações e comunicação atualizadas, falta de medicamentos específicos, a escassez de ventiladores e leitos de unidade de terapia intensiva necessários para atender o surto de pacientes graves e a mudança significativa em seu cotidiano social e familiar. Outros fatores de risco foram identificados, incluindo sentimentos de apoio inadequado, preocupações com a própria saúde, medo de levar a infecção para familiares ou outros e não ter acesso rápido a testes por meio da saúde ocupacional, se necessário, isolamento, sentimentos de incerteza e estigmatização social, carga de trabalho esmagadora ou apego inseguro. Existe um consenso em toda a literatura relevante de que os profissionais de saúde estão em maior risco de altos níveis de estresse, ansiedade, depressão, distúrbios do sono, burnout, dependência e transtorno de estresse pós-traumático, TOC, o que pode ter implicações psicológicas de longo prazo. Pode-se concluir que, os profissionais da saúde que atuam diretamente com os pacientes da COVID-19, jamais conviveram com situações tão estressantes e que os impactos na saúde mental desse grupo são diversos, são mensuráveis e podem ainda se estender no tempo, tomando dimensões ainda desconhecidas.  

Palavras chaves: Profissionais da saúde; Condições de trabalho; COVID-19; Saúde mental. 

ABSTRACT 

Studying the impacts of the COVID 19 pandemic is a major challenge, especially considering that the pandemic has not yet ended and that many of these impacts have possibly not yet been felt in their full magnitude. Particularly, about the consequences of this illness on the mental health of health professionals, it is no minor challenge, either because of the scope that this certainly has, or because of the subjectivity of the theme or even because it is perhaps too early to consider the theme concluded. This integrative synthesis was based on 20 previously selected articles directly related to this topic. The analyzed studies allow us to state that the main mental health impacts of health professionals are manifested in the risk of contamination that has generated absence from work, illness and death, in addition to intense psychic suffering, which is expressed in generalized anxiety disorder, sleep disorders, fear of getting sick and contaminating colleagues. The climate of caution and uncertainty, unfamiliarity with the disease and deaths among healthcare professionals, stress caused by organizational factors such as running out of PPE, concerns about not being able to provide competent care, lack of access to up-to-date information and communication, lack of specific medications, the shortage of ventilators and intensive care unit beds needed to deal with the outbreak of critically ill patients and the significant change in their social and family routine. Other risk factors were identified, including feelings of inadequate support, concerns about one’s own health, fear of taking the infection to family members or others, and not having quick access to testing through occupational health if needed, isolation, feelings of uncertainty, and social stigmatization, overwhelming workload, or insecure attachment. There is consensus across all relevant literature that healthcare professionals are at increased risk of high levels of stress, anxiety, depression, sleep disturbances, burnout, addiction and post-traumatic stress disorder, OCD, which may have implications long-term psychological It can be concluded that health professionals who work directly with COVID-19 patients have never lived with such stressful situations and that the impacts on the mental health of this group are diverse, measurable and can even extend over time, taking dimensions still unknown. 

Keywords: Health professionals; Work conditions; COVID-19; Mental health. 

INTRODUÇÃO 

A pergunta norteadora do tema desta revisão é: Quais são os impactos causados pela pandemia da COVID-19, na saúde mental dos profissionais da área de saúde? Essa questão se desdobra necessariamente em outras, admitindo-se que, de fato, a pandemia tenha impactado a saúde mental da categoria profissional em pauta: Como esses impactos aconteceram ou estão acontecendo? Qual é a magnitude dos mesmos? Seriam esses impactos reversíveis? O que se pode fazer para minimizá-los? Afinal de contas, pouco sentido faz identificar impactos seja de qual natureza forem, se subjacente a isto não pairar a intenção de minimizar tudo o que for negativo e potencializar o que for positivo. 

As estatísticas da COVID-19 no mundo mostram que o número oficial de mortes registradas seria da ordem de 6 milhões, contudo, alega-se que, devido as subnotificações esse número pode ser três vezes maior, chegando assim a mais de 18 milhões de pessoas que perderam suas vidas. As estimativas globais revisadas por pares sobre o excesso de mortes relacionadas à doença, são baseadas nos dados de 74 países e 266 localizações subnacionais, inclusive o Brasil, entre 1 de janeiro de 2020 e 31 de dezembro de 2021. A subnotificação é calculada a partir da diferença entre o número de mortes registradas por todas as doenças e o número esperado com base em tendências passadas, sendo esta uma medida fundamental para avaliar o verdadeiro número de óbitos da pandemia. Na ciência, esse conceito é chamado de “excesso de mortes”. De acordo com o estudo, a taxa de mortalidade não contabilizada é estimada em 120 mortes por 100 mil habitantes em todo o mundo. Estima-se que 21 países tenham taxas de mais de 300 mortes por 100 mil habitantes. A região com mais mortes subnotificadas é o Sul da Ásia, com 5,3 milhões, seguido pelo Norte da África e Oriente Médio (1,7 milhão) e Europa Oriental (1,4 milhão). Em relação aos países, as maiores estimativas ocorreram na Índia (4,1 milhões), Estados Unidos (1,1 milhão), Rússia (1,1 milhão), México (798 mil), Brasil (792 mil), Indonésia (736 mil) e Paquistão (664 mil). Esses sete países podem ter sido responsáveis ​​por mais da metade do excedente global de mortes causadas pela Covid-19 no período de 24 meses1

Inicialmente, o desconhecimento da doença, a inexistência de medicamentos e protocolos médicos adequados, a falta de infraestrutura para receber tantos pacientes simultaneamente acometidos, somando-se à ausência de vacinas, induziram sobremaneira o agravamento do quadro epidemiológico e, com isto espalha-se o medo e até o pânico2. Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), Saúde mental refere-se a um bem estar no qual o indivíduo desenvolve suas habilidades pessoais, consegue lidar com os estresses da vida, trabalha de forma produtiva e encontra-se apto a dar sua contribuição para sua comunidade³. 

Embora as experiências mundiais apontassem sempre para a necessidade do isolamento social e para a adoção de medidas preventivas, como o uso de máscaras, por exemplo, sempre pairavam muitas incertezas. No âmbito hospitalar âmbito apontava-se para a necessidade do uso de ventiladores e mecanismos de respiração artificial, bem como a internação em unidades de terapia intensiva em curto espaço de tempo. Embora todas essas medidas, apresentassem alguma eficiência, quase sempre não foram capazes ou suficientes de estagnar as contaminações. Ou seja, o agravamento do quadro epidemiológico, motivado por várias causas, inclusive pelo descumprimento das medidas de controle, por parte da população, contribuíram também para gerar mais incertezas e medo. Na linha de frente de tudo isso estavam os profissionais da área de saúde, tendo que exercer o seu papel, expondo-se riscos maiores e às vezes, pagando com a própria vida.  É natural que num cenário como este a saúde mental dessa população tenha sido impactada, em diferentes níveis e pelas mais diversas patologias, como mostram os principais estudos realizados sobre o tema4

A leitura dos artigos deixa claro que os profissionais da saúde enfrentam diariamente condições de trabalho desfavoráveis, para não dizer insalubres. São ambientes nos quais se evidencia a falta de segurança, infraestrutura deficiente e incidência de riscos elevados para todos que ali trabalham. A convergência de todos esses fatores, somada às peculiaridades da COVID-19 e ao desconhecimento circunstancial sobre a doença, foram determinantes para imprimir elevados níveis de estresse aos profissionais da área de saúde, levando-os, frequentemente, a quadros patológicos sejam de natureza física e ou emocional. Isto é, parte dos profissionais da saúde não apenas foi afetada fisicamente, mas também do ponto de vista psicológico, a partir de várias patologias mentais, amplamente citadas pela literatura4

Faz-se necessário registrar que as patologias mentais citadas na literatura são mais frequentes nos profissionais que atuaram na linha de frente de combate à COVID-19. Não somente a exposição direta com os pacientes acometidos pelas formas mais graves da doença, mas, principalmente a rotina diária e o longo tempo de exposição a esse tipo de trabalho, somando-se às carências já citadas (falta de equipamentos, falta de medicamentos, infraestrutura deficitária, etc.) parecem ter sido determinantes para afetar a saúde mental desses profissionais5.  

As patologias registradas na literatura científica consultada sugerem que os elevados níveis de estresse constituem uma séria ameaça à saúde mental dos profissionais em pauta. O transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), a depressão, a ansiedade e os comportamentos sociais negativos podem interferir na qualidade do trabalho e na qualidade de vida dos profissionais da saúde6. Esta revisão integrativa tem como objetivo identificar os impactos da pandemia da COVID-19 na saúde mental dos profissionais de saúde. 

MATERIAL E MÉTODOS UTILIZADOS 

Uma síntese integrativa também chamada de revisão integrativa é um método que proporciona a revisão de conhecimentos e a incorporação da aplicabilidade de resultados de estudos significativos na prática. Este método permite a formulação de conclusões gerais a respeito de um determinado tema, de uma problemática ou de uma situação conjuntural, utilizando-se de uma síntese de estudos publicados na perspectiva em estudo. Estudos desta natureza podem compreender as seguintes etapas: 1ª Fase: elaboração da pergunta norteadora; 2ª Fase: busca ou amostragem na literatura; 3ª Fase: coleta de dados; 4ª Fase: análise crítica dos estudos incluídos; 5ª Fase: discussão dos resultados; 6ª Fase: apresentação da revisão integrativa7

Este estudo, particularmente, compreendeu as seguintes fases: 1) definição do tema para a elaboração da revisão integrativa; 2) seleção dos estudos (artigos científicos) para análise, síntese e interpretação; 3) extração e comparação das informações a partir dos estudos selecionados 4) avaliação dos estudos selecionados para esta revisão; 5) interpretação dos resultados; 6) apresentação da revisão ou síntese integrativa propriamente dita. 

A pergunta norteadora desta revisão integrativa foi: Quais são os impactos causados pela pandemia da COVID-19, na saúde mental dos profissionais da área de saúde? Para encontrar respostas adequadas essa questão, foram selecionados (disponibilizados) vinte artigos científicos relacionados ao tema, os quais serviram de base para esta propositura. A partir da pergunta norteadora e do objetivo da revisão integrativa, foram definidas as demais etapas que possibilitaram o alcance de cada uma das fases anteriormente mencionadas.  

Inicialmente se fez a leitura na íntegra dos 20 artigos previamente disponibilizados, procurou-se separá-los por categorias, conforme a abordagem. Em seguida, foram estabelecidas comparações para eliminar sobreposições ou repetição de conteúdos, mantendo o que era exclusivo de cada estudo. Por fim, foram sintetizados os resultados que a base de estudos permitiu chegar. 

RESULTADOS 

Esta revisão integrativa foi elaborada a partir de uma amostra de vinte estudos que tratam  dos principais impactos sobre a saúde mental dos profissionais da saúde, diretamente envolvidos com a COVID-19. O Quadro 1 apresenta uma síntese desses estudos, contemplando autoria, ano de publicação, local do estudo, veículo de publicação e a população ou amostra contemplada em cada um deles. 

Quadro 1 – Caracterização da produção científica usada nesta revisão integrativa. 

 Título  Autores  Ano Local de Estudo  Periódico População/ A mostra 
A saúde dos profissionais de saúde no enfrentamento da pandemia de Covid- 19 Teixeira, Carmen Fontes de Souza et al 2020 Bahia Ciência & Saúde Coletiva   
Mitigating the Psychological Impact of COVID-19 on Healthcare Workers: A Digital Learning Package Blake H, Bermingham F, Johnson G, Tabner A. 2020  Int J Environ Res Saúde Pública  97  
Repercussão da Pandemia de COVID-19 nos Serviços de Saúde e na Saúde Mental dos Profissionais dos Cuidados de Saúde Primários Conceição O, Raquel B, Gomes J.C, et al. 2020 Portugal Revista Científica da Ordem dos Médicos 273        
Saúde mental dos profissionais de saúde no Brasil no contexto da pandemia por Covid-19  Dantas, Eder Samuel Oliveira.  2020 São Paulo Interface – Comunicação, Saúde, Educação [online]   
A Comparison of Burnout Frequency Among Oncology Physicians and Nurses Working on the Frontline and Usual Wards During the COVID-19 Epidemic in Wuhan, China Wu Y, Wang J, Luo C, Hu S, et al.  2020 China J Pain Symptom Manage  220 
Psychosocial burden of healthcare professionals in times of COVID-19 – a survey conducted at the University Hospital Augsburg  Zerbini G, Ebigbo A, Reicherts P, et al.   2020 Augsburg Ger Med Sci  110 
Prevalência de ansiedade em profissionais da saúde em tempos de COVID-19: revisão sistemática com metanálise    Silva, David Franciole Oliveira et al.  2021 Rio Grande do Norte Ciência & Saúde Coletiva [online]  861 
Depression, Anxiety and Stress in Health Professionals in the COVID-19 Context  Garcia GPA, Fracarolli IFL, Dos Santos HEC, de Oliveira SA, Martins BG, Santin Junior LJ, Marziale MHP, Rocha FLR. El-Hage W, Hingray C, Lemogne C, Yrondi A, et al 2022 São Paulo Int J Environ Res Public Health  529 
The prevalence of stress, anxiety and depression within front-line healthcare workers caring for COVID-19 patients: a systematic review and meta-regression  Salari N, Khaaie H, Hosseinian-Far A, Khaledi-Paveh B et al.  2020 Nigéria Hum Resour Health  29 
Prevalência de ansiedade em profissionais da saúde em tempos de COVID-19: revisão sistemática com metanálise.  Silva, David Franciole Oliveira et al. 2021 Natal – RN Ciência & Saúde Coletiva 32.367 
Personal protective equipment-associated headaches in health care workers during COVID-19: A systematic review and meta-analysis.  Sahebi A, Hasheminejad N, Shohani M, Yousefi A, et al. 2022 Lisboa – PT Front Public Health 539 
Desigualdade em meio à crise: uma análise dos profissionais de saúde que atuam na pandemia de COVID-19 a partir das perspectivas de profissão, raça e gênero.  Magri, Giordano, Fernandez, Michelle e Lotta, Gabriela. 2022 São Paulo – SP Ciência & Saúde Coletiva [online] 1829 
Conceição das. Covid-19 and the pandemic of fear: reflections on mental health  Silva, Dandara Almeida Reis da, Pimentel, et al. 2020 Salvador-BA Revista de Saúde Pública [online] 1210 
Covid-19 in the workplace Agius R M, Robertson J F R, Kendrick D, Sewell H F, Stewart M, McKee M et al.  2020  BMJ Author Hub  
Descrição dos casos hospitalizados pela COVID-19 em profissionais de saúde nas primeiras nove semanas da pandemia, Brasil, 2020 Duarte, Magda Machado Saraiva et al. 2020 Brasília – DF Epidemiologia e Serviços de Saúde [online] 184 
COVID-19 e saúde mental: a emergência do cuidado Faro, André et al.  2020 São Paulo – SP Estudos de Psicologia (Campinas) [online] 237 
Analyzing the Impact of COVID-19 Trauma on Developing Post-Traumatic Stress Disorder among Emergency Medical Workers in Spain Martínez-Caballero CM, Cárdaba-García RM, Varas-Manovel R, García-Sanz LM, et al.  2021 Espanha Int J Environ Res Public Health 317 
Dermatoses Ocupacionais em Profissionais de Saúde durante a Pandemia de COVID-19: Revisão Narrativa Vasques AI, Ochoa-Leite C, Ramos Rocha D, Bento J, et al. 2022 Porto – PT Acta Med Port. 45 
Prevalence of depression, anxiety, and insomnia among healthcare workers during the COVID-19 pandemic: A systematic review and meta-analysis Pappa S, Ntella V, Giannakas T, Giannakoulis VG, et al. 2020 Londres Brain Behav Immun 33.062 

Elaborado pelo autor desta Revisão, 2022. 

A base de estudos utilizada reforça que os principais impactos na saúde mental dos  profissionais da saúde relacionam-se principalmente    à insônia e diversos outros distúrbios do sono, à ansiedade, à exaustão, à depressão, à síndrome de Burnout, à angústia, ao Transtorno de Estresse Pós-Traumático-TEPT, ao Transtorno Compulsivo    Obsessivo-TOC, desânimo e baixo nível de satisfação com o trabalho8

Os estudos mostram também  que os profissionais de enfermagem estão entre os mais propensos a serem afetados psicologicamente, o que se justifica por estarem atuando em um contato mais próximo dos pacientes com COVID-19 e por possuírem uma carga de trabalho elevada, aumentando, consequentemente, seu tempo de permanência na unidade hospitalar, quando comparados com os médicos, por exemplo8. Os  profissionais do sexo feminino, principalmente enfermeiras, foram mais vulneráveis aos TEPT e à níveis mais altos de ansiedade, além disso, apresentaram maiores índices de depressão e  angústia8. Vale ressaltar que outros profissionais também sofreram dos mesmos males, porém em menor incidência, quando comparados com as as profissionais do sexo feminino. Já   os distúrbios do sono, foram mais frequentes entre os profissionais que atuam na pediatria, certamente devido à maior aproximação com os pacientes e por maiores turnos de trabalho9,10

De um modo geral, os profissionais da linha de frente da COVID-19 mostraram-se mais vulneráveis a desenvolver transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), patologia esta que persistiu mesmo após serem afastados do trabalho. Já os profissionais mais idosos foram acometidos pelo estresse pós-traumático, desencadeado pela COVID-19 9

DISCUSSÃO 

Os artigos selecionados para esta revisão integrativa elencam várias patologias que impactaram ou continuam a impactar a saúde mental dos profissionais da saúde diretamente envolvidos no combate à Covid-19. Certamente a incidência dessas patologias foi maior no início da pandemia e ou nos momentos em que o coronavírus se apresentou com maior letalidade. Na fase em que a doença estava matando milhares de pessoas, o sistema hospitalar sobrecarregado, em meio a todas as incertezas e limitações de infraestrutura, inerentes ao sistema de saúde, lá estavam os profissionais da saúde, arriscando as próprias vidas. Esses profissionais lidavam diariamente com situações muito difíceis, presenciando a morte de pacientes, enfrentando a escassez de recursos materiais e tendo que se desdobrar em jornadas de trabalho acima do normal. Em tais circunstâncias, não é de se estranhar que os mesmos fossem acometidos por doenças físicas e ou psicológicas, com maior incidência destas últimas. 

Os principais problemas enfrentados pela população alvo desta revisão, parecem ser o estresse, a ansiedade e os distúrbios do sono, além de outras patologias já mencionadas 11. Não menos importante, a falta de material  hospitalar, a falta de EPIs e a convivência direta com o sofrimento dos pacientes e suas famílias, também são fatores diretamente responsáveis por impactar a saúde dos profissionais alvos deste estudo11.  

É natural que o medo, a incerteza e os riscos de contrair a doença ou mesmo de disseminar o coronavírus entre seus entes queridos tenha permeado a vida desses profissionais e trazido sofrrimento. Daí porque muitos profissionais desenvolveram diversos transtornos psicológicos, depressão, ou simplementes perderam qualidade de vida 12. Também são muito importantes os  relatos dos profissionais da saúde sobre o aumento ou a exaustão das jornadas de trabalho, as más condições de trabalho, a falta de conhecimento e ou capacitação técnica para lidar com os novos protocolos, a carência EPIs, dentre outros problemas, que contribuiram para tornar o ambiente de trabalho insalubre, afetando diretamente a saúde mental dos profissionais diretamente envolvidos no combate à Covid-1913.  

Diversos artigos mostram que existem três aspectos principais que impactam a saúde mental dos profissionais: a saúde física, a saúde cognitiva e a saúde psíquica. Na conjuntura da pandemia, esses fatores incidiram de forma negativa na saúde dos profissionais, agravando-se pela sobrecarga de trabalho e pela pressão psicológica que impõe a necessidade de tomar decisões e às vezes praticamente decidir sobre a vida ou a morte dos pacientes. Por si só, isto já impõe uma imensa responsabilidade, que se traduz numa miscelânea de sentimentos, que envolve medo, culpa, angústia e muitos outros. Como se manter saudável em tais circunstâncias? Eis a pergunta que não quer calar 14

Como já ressaltado anteriormente, as mulheres que trabalham na área da saúde foram as mais afetadas mentalmente, pois o sexo feminino compõe grande parte do pessoal de saúde, sendo também esse público frequentemente, responsável também pelo trabalho doméstico e cuidado com os filhos, tendo maiores chances de, quando aliada as demais circunstâncias as quais estão inseridas, terem sua saúde mental afetada.15 A carga de trabalho exacerbada, somada aos fatores como ansiedade, angústia e medo, por lidarem diretamente com o vírus, gera sentimentos e emoções as mais diversas e que resultam em doenças ou comprometimento da saúde mental.16 

Os artigos analisados demonstram que o   estresse psicológico e a ansiedade constituem sérios fatores de risco para a saúde mental dos profissionais diretamente envolvidos diretamente com os pacientes acometidos pela COVID-19, durante a pandemia que ainda se vivencia 17. Não menos importante, é o uso adequado e constante dos EPIs e das medidas de proteção. Vários artigos registram que a consciência de estar em risco constante influencia negativamente o comportamento dos profissionais, concorrendo para estes perderem a saúde17. Isto ratifica a importância das medidas de proteção, que devem estar sempre acessíveis e disponíveis para esses profissionais. Em se tratando de doença mental, o caráter preventivo, a sensação de segurança e o apoio psicossocial devem estar sempre presentes 18.  

A falta de conhecimentos, a inconstância das informações técnicas e até mesmo o bombardeamento de informações duvidosas pela mídia, concorrem perturbar e fragilizar esses profissionais, tornando-os mais vulneráveis às doenças mentais que foram acometidos19. Depreende-se, portanto, que a qualidade das informações, a seriedade com que forem tratadas as questões que envolvem a pandemia de COVID-19 e suas consequências, podem ter fortes desdobramentos, positivos ou negativos, na saúde mental dos profissionais diretamente envolvidos com essa problemática20

Por fim, não restou dúvidas de que a pandemia da COVID-19 impactou seriamente a saúde mental dos profissionais diretamente envolvidos com o combate ao coronavírus e suas consequências. Os impactos da pandemia sobre a saúde mental desses profissionais não se manifestam apenas no caráter individual, mas tem também algumas nuances de caráter coletivo. Faz-se, por fim, necessário implantar medidas de alcance igualmente abrangentes para amenizar os problemas apontados e cuidar da saúde dessa parcela da população que desempenhou tão importante papel, durante a pandemia da COVID-19. Vale ressaltar que os impactos  registrados na literatura não tratam apenas da saúde mental, mas também da saúde física, haja vista a impossibilidade de se separar uma da outra. A base de artigos analisada deixa clara a necessidade de uma assistência diferenciada para esses profissionais, particularmente às parcelas mais vulneráveis ou que foram submetidas aos maiores riscos, conforme já exposto neste documento21

CONCLUSÕES 

Após exaustiva leitura de todos os artigos disponibilizados, foram estabelecidas comparações, filtradas as sobreposições e elencados os impactos que a referida literatura registra como sendo decorrências da pandemia de COVID-19, sobre a saúde mental dos profissionais diretamente envolvidos na linha de frente, no combate à doença. 

As situações totalmente atípicas a que esses profissionais foram submetidos, sejam decorrentes da sobrecarga de trabalho, mas, principalmente da pressão psicológica, do estresse, das incertezas, do medo, do sentimento de culpa ou mesmo da sensação de impotência, diante da magnitude dos problemas, trouxeram impactos graves e sequelas à saúde mental dessa população.  

O elevado número de pacientes graves, a mortalidade diária desses pacientes no meio hospitalar, o estresse, a exaustão psíquica, as más condições de trabalho quase sempre reinantes, geraram uma situação de insalubridade para esses profissionais, levando-os a diferentes quadros de doenças mentais, nunca antes experimentados. 

Por fim, conclui-se que foram muitos os impactos da pandemia da COVID-19 sobre a saúde mental dos profissionais diretamente envolvidos no combate ao coronavírus. Antes de qualquer abordagem meramente numérica, não se pode esquecer que estamos nos referindo a pessoas que têm vida própria, vida pessoal, famílias e são igualmente vulneráveis a qualquer ser humano. O que os diferencia das outras pessoas nesse momento de pandemia é simplesmente a profissão que escolheram e a missão que assumiram ao arriscar suas vidas para tratar de outras pessoas acometidas de um mal à época quase que totalmente ainda desconhecido, ou pouco domínio pela ciência. Não basta saber a causa, é preciso saber tratar. Essa pode ser a diferença entre a vida e a morte, sempre que a humanidade se depara com uma epidemia e ou com uma pandemia, como foi o caso. Mais do que nunca, é preciso ter empatia, desenvolver um olhar mais empático e solidário, voltado para essa parcela da população, que sofreu e vivenciou desafios impensáveis para os dias atuais. Somos uma geração que acreditava ou tinha convicção de que a ciência e a tecnologia tudo resolviam em uma curta fração de tempo. De repente, nos vimos estáticos diante do invisível. Se para muitos o distanciamento social, o recolhimento aos seus lares, foi o bastante, para outros isso não lhes foi permitido: enfrentar o inimigo, significou salvar milhões de vidas. E assim agiram e se posicionaram os profissionais da saúde que enfrentaram a pandemia da COVID-19. A esse público nosso respeito e nossa solidariedade por tudo que foram capazes de fazer. Buscar e exigir medidas para mantê-los saudáveis é o mínimo que se pode fazer. A ciência já fez sua parte, quer seja desenvolvendo vacinas e protocolos mais eficazes. Resta ainda disponibilizar recursos e a necessária assistência, a esses profissionais que foram impactados e muitos trazem consigo as sequelas da pandemia em sua saúde mental. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

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10 – Silva, David Franciole Oliveira et al. Prevalência de ansiedade em profissionais da saúde em tempos de COVID-19: revisão sistemática com metanálise. Ciência & Saúde Coletiva [online]. 2021, v. 26, n. 02.  

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19 – Vasques AI, Ochoa-Leite C, Ramos Rocha D, Bento J, Rocha L. Dermatoses Ocupacionais em Profissionais de Saúde durante a Pandemia de COVID-19: Revisão Narrativa [Occupational Dermatoses in Healthcare Workers during the COVID-19 Pandemic: A Narrative Review]. Acta Med Port. 2022 Nov 2;35(11):830-834. Portuguese. 

20 – Pappa S, Ntella V, Giannakas T, Giannakoulis VG, Papoutsi E, Katsaounou P. Prevalence of depression, anxiety, and insomnia among healthcare workers during the COVID-19 pandemic: A systematic review and meta-analysis. Brain Behav Immun. 2020 Aug;88:901-907.  

21 – Zerbini G, Ebigbo A, Reicherts P, Kunz M, Messman H. Psychosocial burden of healthcare professionals in times of COVID-19 – a survey conducted at the University Hospital Augsburg. Ger Med Sci. 2020 Jun 22;18:Doc05. 


1Graduando em Medicina pela Universidade Federal de Campina Grade – PB, e-mail: helio.valdeci@estudante.ufcg.edu.br 

2Graduando em Medicina pela Faculdade Metropolitana, e-mail: fabiojr827@gmail.com 

3Graduando em Medicina pela Faculdade Metropolitana, e-mail: brandaolife@gmail.com 

4 Graduanda em Medicina pela Faculdade Metropolitana, e-mail: ftaericaa@gmail.com 

6 Professor do Departamento de Medicina da Universidade Federal de Campina Grade – PB, e-mail: ezymar.gomes@professor.ufcg.edu.br