REVISÃO DE LITERATURA: PARAPARESIA ESPÁSTICA TROPICAL ASSOCIADA AO VÍRUS HTLV-1

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8237609


Cassiano Reis de Sousa Tavares1; Fernanda Souto Nezzo1; Gabriel Borgo3; Hideky Ikeda Dolci3; Igor Pereira Bassani1; Jacqueline Gonçalves Domingues1; Lara Geovana de Santos Bezerra1; Letícia Moraes Silva1; Manuella Oliveira Costa2; Maria Eduarda Sousa Araújo Cavalcante4; Maria Fernanda Vaz Gratao1; Nadine Geha de Deus1; Nicolas Mota Souza Santos1; Sara Ribeiro Moreira2; Victoria Moraes Dias1


PARAPARESIA ESPÁSTICA TROPICAL NO HTLV-1

1. OBJETIVOS

Esta proposta de pesquisa se concentra na revisão de literatura sobre o vírus HTLV-1, sob o recorte da Paraparesia Espástica Tropical. De modo mais pontual, estabelece os seguintes objetivos.

1.1 Objetivos específicos 

a) identificar o quadro clínico, diagnóstico e tratamento da Paraparesia Espástica Tropical associada ao HTLV-1.

b) conhecer a incidência do HTLV-1.

2. INTRODUÇÃO

O vírus linfotrópico T humano tipo I (HTLV-1) é um retrovírus que infecta de 10 a 20 milhões de pessoas em todo o mundo, é considerado o patógeno humano mais oncogênico e foi isolado pela primeira vez em 1980, no Japão. Existem quatro subtipos do HTLV mas somente os tipos 1 e 2 circulam em território brasileiro atualmente e apenas o tipo 1 foi associado à doenças.

Estima-se que 5 a 10% dos portadores apresentarão manifestações clínicas, como doenças neurológicas (mielopatia associada ao HTLV-1, MAH/ HAM/TSP), hematológicas (linfoma/leucemia de células T do adulto, LTA), pulmonares, oftalmológicas, dermatológicas, urológicas, intestinais e articulações, entre outros.

O HTLV é transmitido por pelo menos 3 modos: da mãe para o filho, principalmente pelo leite materno, por relações sexuais e pelo sangue (por transfusões ou agulhas contaminadas). Em comparação ao HIV o HTLV é menos infeccioso e sua transmissão geralmente precisa de contatos entre células.

Por ser um retrovírus depende da enzima transcriptase reversa para sua replicação. Primeiramente o vírus se liga à superfície celular através de glicoproteínas do envelope viral e receptores específicos da superfície celular, assim penetra na célula e libera seu conteúdo no citoplasma.

Dentro da célula, a fita simples de RNA viral é transcrita à DNA de fita dupla pela transcriptase reversa e a dupla fita de DNA linear migra para o núcleo e integra-se no genoma do hospedeiro pela ação de uma integrase viral. Após ser integrado, o próvirus aproveita a maquinaria celular para a transcrição primária do RNA genômico. Parte do RNA viral produzido é processado para gerar o RNAm que será traduzido nas proteínas virais adequadas no citoplasma. Por último, o core viral é montado e o vírus é liberado da superfície celular por um processo mais ou menos simultâneo. Por ser um vírus pouco replicativo, a replicação viral in vivo ocorre mais devido à expansão clonal das células infectadas, via mitose, do que via transcrição reversa.

3. REVISÃO DE LITERATURA

Segundo o Ministério da Saúde (2020), estima-se que cerca de 800 mil pessoas estejam infectadas pelo HTLV-1 no Brasil. Desse modo, nota-se a urgência da produção e divulgação científica sobre o quadro clínico de pacientes acometidos e negligenciados a fim de promover visibilidade aos seus portadores.

O fato de se pouco conhecer o vírus e suas consequências , leva à demora do diagnóstico e ao sofrimento do paciente durante anos, dito isso interessa-nos esclarecer a condição de vida dos portadores, o retrocesso vital devido à demora do diagnóstico e descrever a patologia que os acomete.

A doença é caracterizada por um início insidioso de fraqueza lentamente progressiva e espasticidade de uma ou ambas as pernas, juntamente com hiperreflexia, clônus do tornozelo, respostas plantares extensoras e dor lombar. Outras características incluem dor nas costas, instabilidade do detrusor levando a noctúria, frequência urinária, incontinência e pequenas alterações sensoriais, especialmente parestesias e perda do senso de vibração. A função cognitiva não é afetada e não há envolvimento do membro superior.

MAH é mais comum em mulheres do que homens, esta condição é semelhante à esclerose múltipla em alguns aspectos e alguns pacientes podem apresentar neuropatia periférica.

O diagnóstico da infecção pelo HTLV-I é geralmente baseado em testes sorológicos para detectar anticorpos contra o vírus. Um ensaio de imunoabsorção enzimática (ELISA) é o teste de triagem mais frequentemente usado. Western blotting (WB) é normalmente usado para testes de confirmação, que requerem a detecção de anticorpos para produtos de genes virais gag e env. WB também distingue entre infecção com HTLV-I e HTLV-II menos patogênico.

Alguns indivíduos com um teste ELISA de triagem positiva podem ter um teste de Western blot indeterminado, com reatividade incompleta do anticorpo aos antígenos do HTLV-I. O significado clínico deste achado não é claro, mas pode refletir exposição prévia, reatividade cruzada a outros agentes infecciosos ou infecção por um novo retrovírus.

O teste baseado na reação em cadeia da polimerase (PCR) para detectar DNA proviral em células mononucleares do sangue periférico é um teste diagnóstico alternativo. Este teste também diferencia o HTLV-I da infecção pelo HTLV-II. 

O manejo da MAH é principalmente sintomático, pois as opções de tratamento modificadores da doença são limitadas, um painel multidisciplinar de especialistas da International Retrovirology Association apoia o uso de corticosteroides sistêmicos em pacientes com doença progressiva (alta dose de metilprednisolona pulsada para indução; baixa dose (5 mg) de prednisolona oral para terapia de manutenção). Corticosteróides sistêmicos foram relatados em algumas séries de casos para retardar a progressão, reduzir a incapacidade neurológica e melhorar a dor, presumivelmente através de seu efeito anti-inflamatório. No entanto, outros estudos não relataram tal benefício, e não houve ensaios clínicos randomizados.

Um anticorpo monoclonal anti-CCR4, mogamulizumab, que tem alguma eficácia na leucemia de células T adultas e está disponível no Japão para essa indicação, também pode ter benefícios em MAH. Em um estudo preliminar de 21 pacientes com MAH, doses variadas de mogamulizumabe foram associadas a melhorias na espasticidade e reduções na incapacidade motora, bem como reduções na carga proviral do HTLV-I e marcadores de inflamação do SNC. Mais estudos são necessários para definir a eficácia clínica, segurança a longo prazo e dosagem ideal de mogamulizumab para MAH.

Com as poucas opções de tratamento existentes há a necessidade de trazer este tema para o ambiente acadêmico a fim de incentivar pesquisas e conscientizar a sociedade acerca desta patologia e de suas complicações aos seus portadores.

4. REFERENCIAL TEÓRICO

O vírus lintrofotrópico de células T humano tipo 1 (HTLV-1) foi descrito em 1980 como o primeiro retrovírus humano, isolado de um paciente com linfoma cutâneo de células T. O HTLV-1 é endêmico em várias regiões do mundo, como no sul do Japão, Caribe, África, América do Sul e ilhas da Melanésia (FERREIRA ROMANELLI, et al, 2010). 

Existem três formas principais de transmissão sendo elas: horizontal (sexualmente), materno-infantil, e parenteral. Aproximadamente 2 a 5% das infecções por HTLV-I de longa duração, ou seja, por toda a vida, estão associadas à transmissão materno-infantil (PUCCIONI-SOHLER, et al, 2009).

O HTLV-I é o agente etiológico da leucemia/linfoma de células T do adulto (LLTA) e da paraparesia espástica tropical ou mielopatia associada ao HTLV-I (PET/MAH) (SANTOS, F. L. N., et al, 2005). HAM/TSP é mais comum em mulheres do que homens, de acordo com a maior prevalência de infecção por HTLV-I em mulheres. Afeta menos de 2% dos portadores de HTLV-I, com início variando de quatro meses a 30 anos (mediana de 3,3 anos) após a infecção (FREEDMAN, R., et al, 2022).

As manifestações clínicas da paraparesia espástica tropical começa de maneira insidiosa, de forma que seus portadores demoram a procurar atendimento. Surgem, igualmente, as primeiras queixas de disfunção autonômica, como constipação, disfunção erétil, redução de libido, retenção e incontinência urinária (PUCCIONI-SOHLER, et al, 2009).

O diagnóstico rotineiro da infecção causada pelo HTLV-I baseia-se na detecção sorológica de anticorpos específicos para componentes antigênicos das diferentes porções do vírus (core e envelope) (SANTOS, F. L. N., et al, 2005).

O tratamento para TSP/HAM é muito escasso, se baseia no controle dos sintomas. Corticosteróides sistêmicos foram relatados em algumas séries de casos para retardar a progressão, reduzir a incapacidade neurológica e melhorar a dor, presumivelmente através de seu efeito anti-inflamatório. (FREEDMAN, R., et al, 2022). 

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1) ANDREW R. FREEDMAN; FRCP; PAUL ROBERTSON; MRCP; FRCPATH (2022). Vírus linfotrópico T humano tipo I: associações de doenças, diagnóstico e tratamento. In: Milana Bogorodskaya, MD, ed. UpToDate. [citado 12 de outubro de 2022]. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/human-t-lymphotropic-virus-type-i-disease-associations-diagnosis-and-treatment?search=htlv%201%20associado%20com%20polineuropatia&source=search_result&selectedTitle=1~150&usage_type=default&display_rank=1#H1.

2) KASPER, Dennis L.. Medicina interna de Harrison. 19 ed. Porto Alegre: AMGH Editora, 2017. 1 v, . ISBN: 978-85-8055-582-0.

3) SANTOS, F. L. N.; Lima, F. W. M. Epidemiologia, fisiopatogenia e diagnóstico laboratorial da infecção pelo HTLV-I. J Bras Patol Med Lab, v. 41, n. 2, p. 105-16, abril 2005. [citado 12 de outubro de 2022]. Disponível em: https://www.scielo.br/j/jbpml/a/N7CCnFWv7PgdnhhFyV6WBCm/?lang=pt&format=pdf.

4) Neto SP, PUCCIONI-SOHLER M. Mielopatia associada ao HTLV-I: aspectos relacionados à infância. Revista Brasileira de Neurologia, v. 45, n. 2, p. 43, abr – mai – jun, 2009. [citado 12 de outubro de 2022]. Disponível em: http://files.bvs.br/upload/S/0101-8469/2009/v45n2/a41-46.pdf.

5) Luiz Cláudio FERREIRA ROMANELLI; Paulo Caramelli; Anna Barbara de Freitas Carneiro Proietti. O vírus linfotrópico de células T humanos tipo 1 (HTLV-1): Quando suspeitar da infecção?. Rev. Assoc. Med. Bras, Belo Horizonte, 56 (3), 2010. [citado 12 de outubro de 2022]. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ramb/a/CQn5RWZDrRj7twSGJ3wptwt/?lang=pt.

6) BRASIL, Prevalência da infecção por HTLV-1/2 no Brasil. Epidemiológico 48. Boletim Epidemiológico, v. 51, n. 48, 2020.


1CENTRO UNIVERSITÁRIO PRESIDENTE ANTÔNIO CARLOS – UNITPAC
2FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICA DO PARÁ – FACIMPA
3UNIVERSIDADE CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DE MARINGÁ – UNICESUMAR
4CENTRO UNIVERSITÁRIO DO MARANHÃO CAMPUS IMPERATRIZ – CEUMA