REVISÃO DA LITERATURA SOBRE A TELEREABILITAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA MOTORA, VIA VÍDEO, APLICADA PARA IDOSOS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7401091


 Edson Candido da Silva1
Paulo Mateus Costa Affonso2
Clineu de Mello Almada Filho3
Maysa Seabra Cendoroglo4


RESUMO: 

A telereabilitação é uma alternativa para a prática de fisioterapia mas, ainda conhecemos pouco sobre a sua aplicabilidade para idosos. Objetivo: realizar uma revisão da literatura sobre a telereabilitação fisioterapêutica motora síncrona e assíncrona, via vídeo, aplicada para idosos. Método: revisão da literatura nas seguintes bases de dados: Biblioteca virtual em saúde; National Center for Biotechnology Information via (PUBMED); Cochrane Central Register of Controlled Trials e Physiotherapy Evidence Database, de 2016 a 2022, utilizando os descritores de saúde: Idosos, Telereabilitação e modalidades de fisioterapia e termos MESH: Telerehabilitation, aged and Physical Therapy. Os critérios de inclusão adotados foram: estudos que incluíram idosos com 60 anos e mais; telereabilitação síncrona ou assíncrona por vídeos; fisioterapia motora, associada ou não à terapia respiratória e idosos independentes Resultados:  No período pesquisado, não encontramos nenhum estudo exclusivamente com idosos longevos ou que tenha sido realizado no Brasil. Dos 193 artigos obtidos, apenas oito artigos atenderam aos critérios de inclusão e exclusão. Apenas dois estudos foram realizados exclusivamente com idosos com 60 anos e mais. Os outros seis estudos apresentavam idosos longevos, representados em minoria. Encontramos uma revisão sistemática, três foram estudos controlados randomizados, um de custo-efetividade e três qualitativos. Dos três estudos controlados randomizados, apenas um deles, multicêntrico, comparava a telereabilitação ao tratamento convencional. Os desfechos estudados incluíram melhorias funcionais, composição corporal, desfechos psicológicos, dor e qualidade de vida. Seis artigos referiram-se à condutas em afecções músculo-esqueléticas e os outros dois sobre afecções cardio-pulmonares. Seis estudaram formas síncronas de telereabilitação e dois estudaram reabilitação assíncrona. Dois estudos pesquisaram a percepção do paciente com a telereabilitação (síncrono ou assíncrono) e um deles comparou a percepção do paciente entre o modo telereabilitação em vídeo e via telefone. Conclusão: A Telereabilitação tem sido aplicada em idosos mas estudos serão necessários para avaliar a sua aplicabilidade no contexto brasileiro, especialmente para longevos. 

PALAVRAS-CHAVE: idosos, muito idoso, telereabilitação, fisioterapia, serviços de saúde

KEYWORDS: elderly, very-old people, telerehabilitation, physiotherapy, health services

INTRODUÇÃO

A telereabilitação é uma modalidade de prestação de serviços de reabilitação à distância por meio de tecnologia de telecomunicação1 Ela tem como objetivo, aumentar o acesso à saúde e diminuir os custos, além de promover a melhora da qualidade dos serviços já implementados. No Brasil ela é pouco aplicada2

A fisioterapia por tecnologia de telecomunicação se caracteriza por 3 formas de atendimento: a teleconsulta, que consiste na avaliação clínica; o telemonitoramento, que representa o acompanhamento à distância do paciente previamente atendido presencialmente, podendo esta ser síncrona ou assíncrona; e a teleconsultoria, que consiste na comunicação registrada entre profissionais, gestores e outros interessados da área, com objetivo de discutir procedimentos clínicos, ações de saúde e outras questões relacionadas ao trabalho3 

Em meio à crise gerada pelo vírus da síndrome respiratória aguda grave (SARS-CoV-2), tem sido necessário distanciamento social e concomitantemente ocorrem interrupções de práticas físicas. A atual conjuntura abre oportunidades de experiências e mudanças nos sistemas de saúde e a implementação da telereabilitação.(1) Neste contexto, na busca de alternativas, o Conselho Federal de Fisioterapia apresentou a resolução nº 516, de 20 de março de 2020, tornando regular a prática de terapia a distância nas modalidades de teleconsulta, teleconsultoria e telemonitoramento.(3) 

Estudos demonstraram que a telereabilitação quando comparada com os atendimentos presenciais, não tem resultados inferiores, por exemplo, no pós operatório de artroplastia total de joelho,(4) acidente vascular cerebral (AVC),(5,6) doença cardíaca coronariana(7) e insuficiência cardíaca congestiva (ICC).(8) A adesão também parece ser satisfatória(8); alguns trabalhos mostram que essa modalidade envolve menor custo e utilização de recursos, quando comparada ao tratamento em centros de reabilitação(4,7-9) ; ela amplia o alcance da fisioterapia para áreas geográficas distantes dos grandes centros de reabilitação e facilitam a orientação por exemplo de pacientes com  dificuldade de deslocamento por sequelas motoras de AVC.(7) 

A idade pode influenciar na escolha do atendimento via telessaúde, mas em estudo de análise qualitativa mensurando a experiência do usuário, há boa aceitação, mesmo quando os usuários têm pouca experiência com tecnologias.(9) São poucos os estudos que analisam os resultados da telereabilitação em idosos.(10,11,12) 

OBJETIVO

Revisão da literatura sobre a telereabilitação fisioterapêutica motora síncrona e assíncrona, via vídeo, aplicada para idosos.

MÉTODOS

Realizamos a revisão da literatura nas seguintes bases de dados: Biblioteca virtual em saúde (BVS); National Center for Biotechnology Information via (PUBMED); Cochrane Central Register of Controlled Trials (COCHRANE CENTRAL) e Physiotherapy Evidence Database (PEDro), publicadas no período de 2016 a 2022. Selecionamos os artigos publicados em inglês, português e espanhol, utilizando palavras-chave (Telereabilitação e Idosos), descritores de saúde – DesC (Idosos, Telereabilitação e modalidades de fisioterapia) e termos MESH (Telerehabilitation, aged and Physical Therapy). 

Os critérios de inclusão adotados foram: 1) estudos que incluíram idosos com 60 anos e mais; 2) telereabilitação síncrona ou assíncrona por vídeos; 3) fisioterapia motora, associada ou não à terapia respiratória; 4) idosos independentes.

Os critérios de exclusão foram: 1) estudos que não incluíram idosos; 2) estudos com exclusivamente outras modalidades assíncronas, tais como: telefone, realidade virtual, jogos terapêuticos, exercícios via DVD, etc.; 3) idosos institucionalizados; 4) idosos com doenças graves, doenças agudas descompensadas, doenças neurológicas degenerativas, pós-operatórios de cirurgias;  5) fisioterapia respiratória exclusiva e 6) estudo de caso.

RESULTADOS

A busca resultou em cento e noventa e três artigos para análise e destes, cento e oitenta e cinco artigos foram excluídos: Ao final, oito artigos atenderam aos critérios de inclusão e exclusão. Apenas dois estudos foram exclusivamente com idosos com 60 anos e mais.(13,14) Os outros seis estudos apresentavam idosos longevos, representados em minoria.(15-20)

Fluxograma 1. Pesquisa e análise da revisão bibliográfica:

Encontramos uma revisão sistemática,(15) três foram estudos controlados randomizados(13,16,17) um de custo-efetividade(18) e três qualitativos.(14,19,20) Dos três estudos controlados randomizados, apenas um deles, multicêntrico, comparava a telereabilitação ao tratamento convencional.(17) Os desfechos estudados incluíram melhorias funcionais, composição corporal, desfechos psicológicos, dor e qualidade de vida. Seis artigos referiram-se à condutas em afecções músculo-esqueléticas(13-15,17-19) e os outros dois sobre afecções cardio-pulmonares.(16,20) Seis estudaram formas síncronas de telereabilitação(13-16,19,20) e dois estudaram reabilitação assíncrona.(17,18) Dois estudos pesquisaram a percepção do paciente com a telereabilitação (síncrono ou assíncrono)(14,20) e um deles comparou a percepção do paciente entre o modo telereabilitação em vídeo e via telefone.(19)

Quadro 1. Artigos selecionados segundo os critérios de inclusão e exclusão adotados

Autores, referênciaPaísnCaracterística da populaçãoObjetivo(s)Principais resultados e conclusão(ões): 
Grona et al.,(15)Canadá1439Pacientes com distúrbios músculo-esqueléticos; 18 à 80 anosDeterminar a validade e a confiabilidade da videoconferência segura para o gerenciamento fisioterapêutico de condições musculoesqueléticas em tempo realOs estudos de intervenção foram de qualidade moderada e encontraram impacto positivo nos resultados de saúde e satisfação. 
Hong et al.,(14)Coréia do Sul23 Idosos comunitários; 69 a 93 anosInvestigar o tele-exercício que permita interações em tempo real e seus efeitos na melhoria dos fatores relacionados à sarcopenia. Melhoria na massa muscular dos membros inferiores (p=.017),  tecido magro apendicular (p=.032) massa muscular total (p=.033) e comprimento do “sentar e alcançar” na cadeira (p=.019) Não foi detectado interação grupo x tempo no teste de step de 2 min e teste de “sentar-levantar”( p>0,05) 
Peng et al.,(16)China98Pacientes com ICC; idade média= 66,3 anos (68% maior de 60 anos)Examinar o efeito de um programa de treinamento em telessaúde sobre os resultados de saúdeMelhorias estatisticamente significativas observadas entre grupos para qualidade de vida ao longo do tempo (p=.000) e na interação entre grupo x tempo (p=.000). No entanto, sem melhorias com relação à classificação da NYHA e Fração de ejeção do ventrículo esquerdo, ansiedade e depressão pós teste ou 4 meses depois. 
Kloek et al.,(17,18)Holanda208Pacientes com OA de joelho e quadril; 40 à 80 anosInvestigar a eficácia de curto e longo-prazo de exercícios assíncronos em comparação com a fisioterapia usualEm ambos os grupos, houve melhorias significativas para desempenho físico (p<.01), qualidade de vida (p<.01), dor (p<.01) e autoeficácia(p<.01). Aumento relatado da atividade física no E-exercise após 3 meses (p<.01) Diferença estatística para comportamento sedentário entre os grupo em 12 meses (p<0.01).  O exercício assíncrono não foi superior ao tratamento convencional. Para desempenho físico e atividade física, a probabilidade máxima do e-Exercise ser custo-efetivo em comparação com a fisioterapia usual foi moderada (< 0,82) para ambas as perspectivas. 
Lawford et al.,(19)Austrália330Pacientes com OA; 45 anos ou maisInvestigar a percepção sobre o telereabilitação com exercícios propostos por um fisioterapeuta.Maior concordância sobre a telereabilitação: economizar tempo (vídeo: 81%), ser fácil de usar (vídeo: 78%) e manter a privacidade (video: 82%). Não houve consenso sobre: falta de contato físico (video:22%) disposição para pagar (video: 22%)..
Shulver et al.,(14)Austrália17Pacientes com comprometimento da mobilidade; 60 à 92 anosCompreender como os idosos da comunidade vivenciam programas de reabilitação usando tecnologias de telessaúde e quão aceitáveis ​​são as tecnologias de telessaúde para os idosos no contexto da reabilitação.Foram elencados cinco temas emergentes da análise temática: 1- a telereabilitação é conveniente; 2- a telereabilitação promove a motivação e autoconsciência; 3- A telereabilitação promove relacionamentos; 4- dominar tecnologias usadas por parentes mais jovens é um aspecto valorizado; 5-  A telereabilitação não substitui as terapias tradicionais de reabilitação face a face. 
Rawstorn et al.,(20)Nova Zelândia162Pacientes com doença arterial coronária; 36 a 85 anosAvaliar as experiências do usuário de uma intervenção de tele reabilitação cardíaca baseada em exercícios (REMOTE-CR) que forneceu acesso a treinamento remoto em tempo real e suporte comportamental de especialistas em exercícios.87% dos participantes escolheriam o REMOTE-CR se estivesse disponível como um serviço de atendimento habitual. 79% acharam fácil usar o app e 97% responderam que se sentiam amparados durante o programa de telereabilitação.    

ICC: insuficiência cardíaca congestiva; OA: osteoartrite.

A revisão sistemática, publicada por Grona et al.,(15) compreendeu o período de 2003 a 2016, sobre adultos de 18 a 80 anos com distúrbios musculoesqueléticos crônicos (> 3 meses de duração). As intervenções foram: avaliação ou tratamento fisioterapêutico, realizado por meio de videoconferência segura, em tempo real (telereabilitação), comparados aos que receberam os cuidados habituais. Várias ferramentas foram utilizadas para avaliar o risco de viés. Ao final foram selecionados 17 artigos. Os estudos de validação e confiabilidade foram identificados como tendo risco de viés alto. Os estudos de intervenção (qualidade moderada) mostraram melhora para desfechos como dor, função e qualidade de vida, semelhantes para os dois grupos. A satisfação do paciente foi de alta a muito alta para a telereabilitação em três estudos e houve evidência de economia de custos em um estudo.

Hong et al.,(13) publicaram o estudo sobre 23 idosos coreanos comunitários (não praticavam exercícios por pelo menos 6 meses), os quais foram distribuídos aleatoriamente em 2 grupos: Tele-exercício e Controle. No inicio do estudo, não foram observadas diferenças entre os grupos quanto ao sexo, idade, peso, altura, tecido magro apendicular e massa muscular esqueletica total, avaliados pela densitometria ossea ( DXA – Dual-Energy X-ray Absorptiometry). O protocolo de Tele-exercício consistiu de três sessões de exercícios de resistência por semana em dias não consecutivos (separados por pelo menos 48 horas) por 12 semanas. Cada sessão iniciava com aquecimento (5 min), seguido do exercício principal (10 a 30 min) e terminava com relaxamento (5 min). A composição corporal e testes de aptidão funcional foram avaliados antes e após a intervenção. O Grupo em Tele Exercício apresentou melhora significativa na massa muscular dos membros inferiores, apendicular, massa muscular total e teste de alcance sentado na cadeira, quando comparado ao Grupo Controle.  

Na China, Peng et al.,(16)  publicaram os efeitos da telereabilitação em pacientes com ICC (diagnóstico primário há pelo menos 3 meses, NYHA – classificação I a III), comparado aos cuidados usuais. Foi proposta a telereabilitação síncrona com tecnologias disponíveis (app Wechat e QQ software via smartphone, ambos com grande popularidade na China). O programa de exercícios de treinamento em telessaúde incluiu uma intervenção de 2 meses (32 sessões de treinamento) e um acompanhamento de 4 meses. O programa de treinamento de exercício de 2 meses consistiu em 2 estágios: o primeiro estágio (1 a 4 semanas) foi focado em exercícios de resistência, com 3 sessões de 20 minutos por semana durante 4 semanas (12 sessões de 20 minutos). As modalidades de treinamento incluíram caminhada e corrida. O segundo estágio incluiu exercícios de resistência e fortalecimento muscular em 5 sessões de 30 minutos por semana. As modalidades de treinamento incluíram caminhada, corrida e ginástica para treinamento muscular (agachamento e uso de faixa elástica). O Grupo Controle recebeu cuidados comuns, incluindo educação simples sobre a doença e acompanhamento clínico esporádico (sem instrução para atividade física). Os resultados foram favoráveis para o Grupo Intervenção em relação a qualidade de vida (Minnesota Living With Heart Failure Questionnaire – MLHFQ), caminhada de 6 minutos e batimentos cardíacos em repouso, porém não houve diferença em relação a ansiedade e depressão (Hospital Anxiety and Depression Scale – HADS) e fração de ejeção de ventrículo esquerdo. Os autores ressaltaram que eles desenvolveram um programa de treinamento de exercícios de telessaúde aceitável para pacientes com ICC e obtiveram melhora da qualidade de vida e da capacidade funcional de exercício. 

Em 2018 Kloek et al.,(17) em um estudo simples-cego, multicêntrico, de superioridade, controlado por cluster randomizado, recrutaram 248 fisioterapeutas que atuavam em clínicas de fisioterapia da atenção primária. Eles orientaram que metade dos fisioterapeutas tratassem os pacientes de acordo com o protocolo e-Exercício e a outra metade com a conduta habitual. O protocolo e-Exercício propôs a telereabilitação mista: presencial com 5 sessões em média e sessões de exercícios assíncronas via vídeo. Ele era composto de três fases: atividade graduada – a duração da atividade escolhida (por exemplo caminhada, ciclismo), era gradualmente aumentada até que a meta individual de curto prazo fosse atingida; força e estabilidade – a cada semana, o participante era solicitado a realizar 2 exercícios com suporte de vídeo em 3 dias diferentes, e o número de repetições foi aumentado gradualmente a cada 4 semanas; e informações – a cada semana, um novo vídeo era gerado sobre a etiologia da osteoartrite (OA), controle da dor, controle de peso, motivação, medicação e influências sociais sobre a dor.

O investigador principal foi mascarado para a atribuição de grupo até a conclusão das análises estatísticas. Em ambos os grupos, houve melhorias significativas para dor, cansaço, qualidade de vida, e autoeficácia, porém a análise final não mostrou diferença estatística entre os grupos. Houve diferença significante no comportamento sedentário sendo este maior no Grupo e-Exercício. Em outra publicação.(18) do mesmo grupo, foram apresentados os resultados relacionados aos custos do paciente durante a intervenção, levando em conta os custos com esportes, com cuidados informais, absenteísmo e produtividade (remunerada e não-remunerada). Os custos de intervenção foram significativamente menores no Grupo e-Exercício, mesmo considerando que os exercícios assíncronos não eram reembolsáveis. Custos de intervenção e custos de medicação foram menores no e-Exercício em comparação com a fisioterapia usual e os custos sociais totais e os custos totais de saúde não diferiram significativamente entre os grupos.

O Estudo de Lawford et al.,(19) comparou a percepção de 330 pacientes australianos com OA de quadril e joelho ao realizar telereabilitação por vídeo ou telefone. A maioria dos entrevistados não tinha experiência com telereabilitação, mas tinham celular, tablet ou computador e usavam a internet há mais de 6 anos. Baseado nos resultados das entrevistas (escala Likert com 5 pontos), as afirmações que obtiveram consenso (75 a 99%) foram: 1) a prescrição dos exercícios via telefone e vídeo economizaram tempo; 2) seria conveniente o fisioterapeuta prescrever exercícios por meio de vídeo; 3)  seria fácil consultar o fisioterapeuta via telefone ou vídeo; 4) receber um programa de exercícios usando vídeos na internet seria prático; e 5) a privacidade não seria violada com um programa de exercícios por telefone ou vídeo na internet ou telefone. Não houve consenso (menos de 50%) nas seguintes afirmações: 1) gostar da falta de contato físico com o terapeuta; 2) estar disposto a pagar por fisioterapia via telefone ou vídeo; 3) eficácia dos exercícios realizado por um fisioterapeuta; 4) crença de que um fisioterapeuta seria capaz de monitorar a OA por telefone. O vídeo foi preferível em relação ao telefone sendo afirmado que seria mais eficaz, útil, aceitável, ajudaria na melhor compreensão e monitoramento da OA e haveria maior disposição para pagar por um serviço por meio de vídeo. Houve uma chance 2,5% maior do paciente com OA de quadril não concordar em usar vídeo em relação aos pacientes com OA de joelho. A chance de não concordar foi reduzida em cerca da metade para as pessoas que estavam em condições financeiras melhores.

Em 2017, Shulver et al.,(14) relata as percepções, também de australianos, participantes de um programa de telereabilitação. A maioria deles relatou que era uma experiência positiva, incluindo nível de atividade física, condicionamento físico, funcionamento e bem-estar.  Embora uma minoria não tenha relatado melhora na mobilidade, nenhum participante foi totalmente negativo sobre o programa. Como motivações para participação, foram citadas: a oportunidade de receber algum exercício, aprender a usar um iPad e o contato social. Além disso, foi apontada a conveniência, a economia de tempo, de não ter que viajar para as atividades; a motivação e autoconsciência para acompanharem seus exercícios e resultados. Nenhum participante achou a conduta invasiva, fizeram comentários positivos sobre as conversas com os profissionais e relataram que tiveram mais tempo com eles quando comparados com a fisioterapia presencial. A privacidade e a confidencialidade não foram preocupações e geralmente havia uma sensação de confiança no terapeuta. Apenas um pequeno número de pacientes demonstrou estar apreensivo com o domínio das tecnologias, embora houvesse  uma expectativa de que a equipe de terapia fornecesse suporte técnico e respondesse rapidamente aos problemas. Também ocorreram dúvidas de como posicionar o iPad durante a terapia. Apesar da boa receptividade, foi quase consensual que a consulta por vídeo não substitui por completo a terapia “face a face”. 

Também em 2018, Rawstorn et al.,(20) entrevistou neozelandeses para participarem de um programa remoto, síncrono, de tele reabilitação cardíaca (“Remote-CR”) e outro grupo em fisioterapia tradicional, durante 12 semanas. Quase 30% dos entrevistados não quiseram participar pois tinham forte preferência por um tratamento e não gostariam de correr o risco de serem alocados para um tratamento não preferencial. Dos 162 que concordaram em participar, 82 foram alocados para o tele-reabilitação cardíaca e 80 para a fisioterapia tradicional. A  adesão aos exercícios remotos variou largamente (58% em média) e foi comparável à adesão da fisio tradicional. Segundo os participantes, os fatores que contribuíram para a não adesão foram: compromissos familiares ou trabalho e motivação. Quase 90% dos participantes disseram que escolheriam o aplicativo, caso houvesse essa opção no sistema de saúde, principalmente porque ele fornece acesso conveniente e flexível em tempo real. Outro aspecto muito valorizado foi o fato de receberem atendimento individualizado de especialistas em reabilitação cardíaca.  Também foi considerado positivo o monitoramento, a prescrição de exercícios por níveis de intensidade e cuidados com a segurança aos pacientes pós-agudos iniciantes. Houve alta satisfação com o automonitoramento offline, com a definição de metas, o feedback dos resultados e a acessibilidade universal (pacientes recebiam apoio de intervenção mesmo durante viagens nacionais e internacionais). Quase todos os participantes consideraram que receberam suporte adequado, porém alguns gostariam de acompanhamento via telefone ou maior extensão de treinamento. Alguns também consideraram que seria bom ter maior tempo de “follow-up” para progredir para exercícios independentes. Um terço gostaria que fosse possível interação social com os outros participantes, via aplicativo. Um terço dos participantes relataram dificuldades relacionadas à tecnologia tais como: bateria de celular, atraso  na conectividade do “bluetooth” (para conectividade de um equipamento “wearable” para monitorar atividade), problemas com a internet e períodos de manutenção dos servidores do aplicativo usado (“Remote-CR”). 

DISCUSSÃO

O sedentarismo e as afecções musculoesqueléticas são responsáveis por limitações funcionais no indivíduo idoso e comprometem a qualidade de vida com aumento do risco de dependência e imobilismo, Também sabemos da relevância do exercício físico para essa faixa etária e que a sua interrupção leva a prejuízos que podem ser irreversíveis. Por isso, buscamos pesquisas que incluíram idosos e que estudaram a telereabilitação, mas não encontramos nenhum estudo exclusivamente com idosos longevos (80 anos e mais)  ou que tenha sido realizado no Brasil. A telereabilitação ainda é subutilizada na população idosa.

Os profissionais devem investir em educação dos pacientes sobre os benefícios dessa modalidade, ouvir e conversar sobre receios e buscar a participação deles na escolha do cuidado.(19) Uma percepção geral entre os pacientes foi de que a telereabilitação síncrona não substitui a terapia presencial. As principais questões para estas percepções estão relacionadas à limitação das ações com exame físico, segurança do paciente e relacionamento, apreensão com as tecnologias, perda da independência e mudanças nos serviços de saúde. 

A falta do contato físico na telereabilitação tem sido relatada como preocupação inclusive por fisioterapeutas. No entanto, a telereabilitação mista de pacientes com OA de joelho e quadril, surpreendeu ao mostrar menor necessidade de mobilizações ativas e passivas dos pacientes(17), sugerindo que essa modalidade encoraja o usuário a ser ativo em seu cuidado, sendo menos necessária a intervenção direta do profissional.

Dificuldades relacionadas a tempo e locomoção são uma das barreiras para o tratamento fisioterapêutico e a telereabilitação(14,15,19,20) por facilitar essas barreiras, a telereabilitação aumentou a aderência à sua prática, em alguns estudos.(14,20)

A aplicação dessa modalidade pode ajudar na mudança de paradigmas negativos em relação às tecnologias. Ter contato e controlar aparelhos que são utilizados por mais jovens foi considerado positivo na percepção dos participantes. A terapia mista (presencial e online) pode ser  positiva para o suporte do paciente, tanto tecnológico quanto dos exercícios, assim como suporte via telefone e via cartilhas de instruções.(13,14,20)

Há também a percepção de independência que o idoso tem, ao realizar a telereabilitação.(14) A experiência deve trazer sensação de satisfação e evitar outras frustrações e ansiedade, caso contrário, irá afetar na adesão da tecnologia.(21) 

A aplicação de qualquer intervenção online deve se estruturar segundo a “Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais” (lei 13.709/2018 e emenda 13.853/2019)(22) que defende os direitos e deveres constitucionais no ambiente online, como posse e acesso a informações pessoais, privacidade e liberdade de expressão. O paciente tem o direito de saber quais dados estão sendo armazenados, qual a sua finalidade e ter a possibilidade de escolha da utilização para tal fim.(2,14,20) 

As análises de custo-efetividade parecem fornecer evidência que a telereabilitação é mais custo-efetiva que o atendimento tradicional em centros (15,18). Custos com equipamentos (computador, celular, etc), manutenção, rede de internet de alta velocidade, tempo de planejamento das sessões, relatórios, entre outros, devem ser considerados na estruturação dos programas de telereabilitação para custo-efetividade.   

A metodologia de pesquisa foi um ponto limitante na análise dos resultados: Questões relacionadas à randomização13,16, baixo número de participantes13, alta porcentagem de perda de dados 18 e viés de escolha dos participantes19 foram encontrados nos estudos, limitando a força de evidência. Revelou-se a necessidade de mais estudos para validar a aplicação desta modalidade na população idosa, principalmente longeva.     

CONCLUSÃO

A Telereabilitação tem sido aplicada com boa aceitação em idosos, mas estudos serão necessários para avaliar a sua aplicabilidade no contexto brasileiro, especialmente para longevos. 

CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES

Silva EC e Cendoroglo MS contribuíram na pesquisa, seleção, análise dos artigos e redação do artigo. Affonso PM contribuiu com a revisão crítica do presente artigo e discussões sobre a temática pesquisada. Almada Filho CM contribuiu com discussões sobre a temática pesquisada. 

REFERÊNCIAS 

1. Hwang R, Elkins MR. Telephysiotherapy. J Physiother. 2020;66(3):143-4.

2. Dantas LO, Barreto RP, Ferreira CH. Digital physical therapy in the COVID-19 pandemic. Braz J Phys Ther. 2020;24(5):381-3.

3. Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO). Resolução n. 516, de 20 de Março de 2020 – Teleconsulta, Telemonitoramento e Teleconsultoria. Dispõe sobre a suspensão temporária do Artigo 15, inciso II e artigo 39 da Resolução COFFITO n. 424/2013 e artigo 15, inciso II e artigo 39 da Resolução COFFITO n. 425/2013 e estabelece outras providências durante o enfrentamento da crise provocada pela Pandemia do COVID-19 [Internet]. COFFITO; 2020 [citado 2020 Ago 5]. Disponível em: https://www.coffito.gov.br/nsite/?p=15825

4. Bini SA, Mahajan J. Clinical outcomes of remote asynchronous telerehabilitation are equivalent to traditional therapy following total knee arthroplasty: a randomized control study. J Telemed Telecare. 2017;23(2):239-47.

5. Sarfo FS, Adusei N, Ampofo M, Kpeme FK, Ovbiagele B. Pilot trial of a tele-rehab intervention to improve outcomes after stroke in Ghana: A feasibility and user satisfaction study. J Neurol Sci. 2018;387:94-7.

6- Laver KE, Adey‐Wakeling Z, Crotty M, Lannin NA, George S, Sherrington C. Telerehabilitation services for stroke. Cochrane Database of Systematic Reviews 2020, Issue 1. Art. No.: CD010255. 

7. Maddison R, Rawstorn JC, Stewart RA, Benatar J, Whittaker R, Rolleston A, et al. Effects and costs of real-time cardiac telerehabilitation: randomised controlled non-inferiority trial. Heart. 2019;105(2):122-9.

8. Hwang R, Bruning J, Morris NR, Mandrusiak A, Russell T. Home-based telerehabilitation is not inferior to a centre-based program in patients with chronic heart failure: a randomised trial. J Physiother. 2017;63(2):101-7. 

9. Inskip JA, Lauscher HN, Li LC, Dumont GA, Garde A, Ho K, et al. Patient and health care professional perspectives on using telehealth to deliver pulmonary rehabilitation. Chron Respir Dis. 2018;15(1):71-80.

10. Bernocchi P, Vitacca M, La Rovere MT, Volterrani M, Galli T, Baratti D, et al. Home-based telerehabilitation in older patients with chronic obstructive pulmonary disease and heart failure: a randomised controlled trial. Age Ageing. 2018;47(1):82-8. 

11. Kalron A, Tawil H, Peleg-Shani S, Vatine JJ. Effect of telerehabilitation on mobility in people after hip surgery: a pilot feasibility study. Int J Rehabil Res. 2018;41(3):244-50. 

12. Bao T, Carender WJ, Kinnaird C, Barone VJ, Peethambaran G, Whitney SL, et al. Effects of long-term balance training with vibrotactile sensory augmentation among community-dwelling healthy older adults: a randomized preliminary study. J Neuroeng Rehabil. 2018;15(1):5. 

13. Hong J, Kim J, Kim SW, Kong HJ. Effects of home-based tele-exercise on sarcopenia among community-dwelling elderly adults: Body composition and functional fitness. Exp Gerontol. 2017;87(Pt A):33-9. 

14. Shulver W, Killington M, Morris C, Crotty M. ‘Well, if the kids can do it, I can do it’: older rehabilitation patients’ experiences of telerehabilitation. Health Expect. 2017;20(1):120-9.

15. Grona SL, Bath B, Busch A, Rotter T, Trask C, Harrison E. Use of videoconferencing for physical therapy in people with musculoskeletal conditions: a systematic review. J Telemed Telecare. 2018;24(5):341-55. Review. 

16. Peng X, Su Y, Hu Z, Sun X, Li X, Dolansky MA, et al. Home-based telehealth exercise training program in Chinese patients with heart failure: A randomized controlled trial. Medicine (Baltimore). 2018;97(35):e12069.

17. Kloek CJ, Bossen D, Spreeuwenberg PM, Dekker J, de Bakker DH, Veenhof C. Effectiveness of a Blended Physical Therapist Intervention in People With Hip Osteoarthritis, Knee Osteoarthritis, or Both: A Cluster-Randomized Controlled Trial. Phys Ther. 2018;98(7):560-70.

18. Kloek CJ, van Dongen JM, de Bakker DH, Bossen D, Dekker J, Veenhof C. Cost-effectiveness of a blended physiotherapy intervention compared to usual physiotherapy in patients with hip and/or knee osteoarthritis: a cluster randomized controlled trial. BMC Public Health. 2018;18(1):1082.

19. Lawford BJ, Bennell KL, Hinman RS. Consumer Perceptions of and Willingness to Use Remotely Delivered Service Models For Exercise Management of Knee and Hip Osteoarthritis: A Cross-Sectional Survey. Arthritis Care Res (Hoboken). 2017;69(5):667-76.

20. Rawstorn JC, Gant N, Rolleston A, Whittaker R, Stewart R, Benatar J, et al .End Users Want Alternative Intervention Delivery Models: Usability and Acceptability of the REMOTE-CR Exercise-Based Cardiac Telerehabilitation Program. Arch Phys Med Rehabil. 2018;99(11):2373-7. 

21. Morán AL, Ramírez-Fernández C, Meza-Kubo V, Orihuela-Espina F, García-Canseco E, Grimaldo AI, et al. On the Effect of Previous Technological Experience on the Usability of a Virtual Rehabilitation Tool for the Physical Activation and Cognitive Stimulation of Elders. J Med Syst. 2015;39(9):104.

22. Secretaria-Geral, Subchefia para Assuntos Jurídicos (Brasil). Lei 13.709/2018 e emenda 13.853/2019. Regulamenta a “Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais” disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/L13709.htm


1Fisioteraputa, pos-graduando, afiliado da Disciplina de Geriatria e Gerontologia da Universidade Federal de São Paulo
2Fisioterapeuta, afiliado da Disciplina de Geriatria e Gerontologia da Universidade Federal de São Paulo, mestre pela Universidade Federal de São Paulo
3Médico geriatra da Disciplina de Geriatria e Gerontologia da Universidade Federal de São Paulo, mestre e doutor pela Universidade Federal de São Paulo
4Médica geriatra da Disciplina de Geriatria e Gerontologia da Universidade Federal de São Paulo, mestre, doutora e livre-docente pela Universidade Federal de São Paulo