REVISÃO BIBLIOGRÁFICA: TERAPIA HORMONAL COMO FERRAMENTA TERAPÊUTICA PARA A COVID-19

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7347014


Carlos Eduardo dos Santos Rocha 1
Prof. Dr. Paulo de Tarso Silva Barros 2


RESUMO

INTRODUÇÃO: A hormonioterapia como forma terapêutica alternativa para a COVID-19 é baseada no tratamento sintomático através do uso de corticosteroides em casos mais graves da doença, onde estudos apontam melhora na taxa mortalidade de pacientes internados com necessidade de ventilação mecânica e oxigênio. Além dos corticosteroides, outro estudo demonstra o possível uso clinico da progesterona em diferentes tipos de sintomatologias da doença.

OBJETIVOS: Efetuar uma revisão integrativa da literatura sobre o possível uso da hormonioterapia como ferramenta terapêutica na COVID-19, averiguando as o uso de hormônios e a relação com os sintomas da COVID-19. Pois estudos demonstram uma análise na efetividade dessa forma alternativa de terapia hormonal em diferentes momentos da doença. Entretanto essas formas de terapias necessitam um pouco mais de tempo e estudos.

METÓDOS: O presente trabalho trata-se de uma revisão integrativa da literatura nacional e internacional, a qual tem como finalidade reunir e resumir o conhecimento científico já produzido sobre o tema investigado. As buscas foram realizadas nas bases de dados Pubmed, PMC (PubMed Central), SCIELO (Scientific Electronic Library Online), Jounal of Intensive Medicine, Ministério da Saúde e OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde) por meio de descritores como “Corticoid AND COVID-19 treatment”, “Hormone AND COVID-19 treatment” sendo inclusos artigos relativos aos anos de 2020 a 2022, cujo perfil predominante é de estudos clínicos.

RESULTADOS: Foram encontrados um total de 1544 artigos, e a partir dos critérios de inclusão e exclusão, quatorze artigos foram selecionados e analisados na integra mediante a coerência de conteúdo do tema abordado.

CONCLUSÃO: Conclui-se que a terapia com hormônios na COVID-19 expressa grande importância como forma terapêutica coadjuvante, porém a elucidação concreta dessa forma de terapia é indagada ainda por muitos pesquisadores, devido ao método de tratamento e aos tipos diversificados de sintomatologias da doença. O que pode culminar em desequilíbrio na terapia, levando aos surgimentos de efeitos adversos podendo piorar o quadro do paciente.  

Palavras Chaves:  Hormonioterapia, corticosteroides, progesterona, COVID-19.

ABSTRACT

INTRODUCTION: Hormone therapy as an alternative therapeutic form in COVID-19 is based on symptomatic treatment through the use of corticosteroids in more severe cases of the disease, where studies point to an improvement in the mortality rate of hospitalized patients requiring mechanical ventilation and oxygen. In addition to corticosteroids, another study demonstrates the possible clinical use of progesterone in different types of disease symptoms. 

OBJECTIVES: To carry out an integrative review of the literature on the possible use of hormone therapy as a therapeutic tool in COVID-19, investigating the use of hormones and the relationship with the symptoms of COVID-19. For studies demonstrate an analysis of the effectiveness of this alternative form of hormone therapy at different times of the disease. However, these forms of therapies need a little more time and studies.

METHODS: The present work is an integrative review of national and international literature, which aims to gather and summarize the scientific knowledge already produced on the investigated topic. Searches were carried out in Pubmed, PMC (PubMed Central), SCIELO (Scientific Electronic Library Online), Journal of Intensive Medicine, Ministry of Health and PAHO (Pan American Health Organization) databases using descriptors such as “Corticoid AND COVID-19 treatment”, “Hormone AND COVID-19 treatment”, including articles related to the years 2020 to 2022, whose predominant profile is clinical studies.

RESULTS: A total of 1544 articles were found, and from the inclusion and exclusion criteria, fourteen articles were selected and analyzed in full through the consistency of content of the topic addressed.

CONCLUSION: It is concluded that hormone therapy in COVID-19 expresses great importance as an adjunctive therapeutic form, but the concrete elucidation of this form of therapy is still questioned by many researchers, due to the treatment method and the diverse types of symptoms of the disease. Which can culminate in an imbalance in the therapy, leading to the emergence of adverse effects that can worsen the patient’s condition.

Keywords: Hormone therapy, corticosteroids, progesterone, COVID-19.

1. INTRODUÇÃO

O coronavírus 2 da síndrome respiratória aguda grave (SARS-CoV-2), a causa da doença de coronavírus 2019 (COVID-19), surgiu na China no final de 2019 de uma fonte zoonótica. A maioria dos casos de COVID-19 é assintomática ou se manifesta como uma doença leve. No entanto, em uma proporção substancial de pacientes, desenvolve-se uma doença respiratória que requer hospitalização, e tais infecções podem progredir para doença crítica com insuficiência respiratória hipóxica que requer suporte ventilatório de longo prazo. (HORBY, et al 2021)

Segundo dados foi visto que no final da semana epidemiológica (SE) 1 de 2022, em 8 de janeiro de 2022, foi possível se confirmar 305.191.603 casos de COVID-19 no planeta. O Estados Unidos foi considerado o país com o maior número de casos de COVID-19 tendo um total de (59.767.221), em seguida a Índia com (35.528.004), Brasil (22.499.525), Reino Unido (14.366.203) e França (11.861.708). (BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO ESPECIAL 95)

 Ao final do SE 1 (Semana epidemiológica 2 a 8/1/2022) teve um total de 208.018 novos casos foram registrados, representando pelo aumento de 266% em relação ao número de casos registrados na SE 52 (26/12/2021 a 1/1/2022) 56.881, (diferença +151.137 casos). Em relação a taxa de mortalidade, a SE 1 terminou com 832 novos óbitos registrados demonstrando um aumento (+22%) (diferença +151 óbitos) em relação aos novos óbitos da SE 52 totalizando 681 óbitos. (BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO ESPECIAL 95) 

Em termos de mortalidade, 5.484.782 casos foram confirmados em todo o mundo até o dia 8 janeiro de 2022. Os Estados Unidos foram o país com maior número de mortes (837.264), seguido pelo Brasil (619.937), Índia (483.790), Rússia (309.041) e México (300.303). (BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO ESPECIAL 95)

O Ministério da Saúde (MS) foi notificado do primeiro caso confirmado de COVID-19 Brasil no dia 26 de fevereiro de 2020. Com base em dados diários relatados pelas secretarias de saúde ao Ministério de Saúde, desde o primeiro caso de COVID-19 até o dia 8 de janeiro de 2022, foram relatados no Brasil 22.499.525 casos confirmados de covid-19 e 619.937 óbitos. No país, a incidência de taxa acumulada foi de 10.625,2 casos por 100.000 habitantes, enquanto a taxa de mortalidade foi de 292,8 óbitos por 100.000 habitantes. (BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO ESPECIAL 95) 

O SARS-CoV-2 (Síndrome Respiratória Aguda Grave CoronaVirus-2), o agente etiológico do COVID-19 (Doença de CORONAVÍRUS 2019), pertence à família dos Coronavírus, que é um grupo de vírus envelopados com RNA de fita simples. O SARS-CoV-2 possui quatro proteínas estruturais: glicoproteína de superfície (Spike) (S), proteína do envelope (E), proteína da matriz (M) e proteína do nucleocapsídeo (N). (Wang, et al 2020) 

A modificação da proteína S introduzida pelo SARS-CoV-2 é a mais importante do ponto de vista clínico-epidemiológico, dado seu importante papel no processo infeccioso. A proteína S é a principal glicoproteína transmembrana presente fora dos coronavírus. A proteína é dobrada por proteólise para formar as subunidades S1, que são responsáveis ​​por anunciar o vírus na superfície celular, e S2, que promove a fusão do envelope viral com a membrana plasmática da célula. A infecção celular ocorre através da interação do domínio RDB (domínio de ligação ao receptor) da subunidade S1 do vírus com o receptor da enzima conversora de angiotensina-2 (ACE-2) na célula-alvo. (Wang, et al 2020

Desde o início da pandemia de COVID-19, a análise genética do SARS-CoV-2 em vários países e em diferentes momentos revelou que o vírus mudou várias vezes. Mutações são eventos naturais de replicação viral, mais comuns em vírus de RNA. A maioria das mutações são neutras, ou seja, não conferem nenhuma vantagem ou desvantagem ao vírus. No entanto, um pequeno número de mutações genéticas pode transferir novas propriedades químicas para proteínas virais, levando a mudanças na forma como o vírus se comporta em doenças. (Michelon, 2021) 

O grupo de trabalho da OMS que acompanha a evolução do SARS-CoV-2, examinando vários fatores, incluindo transmissibilidade, virulência, alterações fenotípicas e disseminação, dividiu as variantes circulantes globais em variantes preocupantes (VOC) e variantes de interesse em saúde pública (VOI). A variedade alfa (B.1.1.7) originalmente identificada no Reino Unido, Beta (B.1.351) encontrada na África do Sul, Gama (B.1.1.28.1) originária do Brasil (Manaus) foi isolada pela categoria VOC e Delta (B.1.617.2) identificada na Índia. No grupo VOI, a variante Eta (B.1.525), encontrada em vários países, Epsilon (B.1.427/B.1.429) identificada nos Estados Unidos da América (Califórnia), Zeta (B.1.1.28.2 ) do Brasil (Rio de Janeiro), Teta (B.1.1.28.3) encontrada nas Filipinas e Japão, Iota (B.1.526) ​​encontrada nos Estados Unidos da América, Cape (B. 1.617.1) encontrado na Índia, e Lambda originária do Peru. (Michelon, 2021)

A infecção pelo SARS-CoV-2 pode ocorrer clinicamente em uma das três principais situações: portadores assintomáticos, pessoas com síndrome respiratória aguda (SAR) ou pacientes com pneumonia de diferentes graus de gravidade. Alguns casos aparecem em pessoas sem sintomas e sem diagnóstico laboratorial confirmado, mas essa avaliação de pacientes assintomáticos por meio de testes moleculares parece ser complicada, pois o manejo dos casos suspeitos varia de país para país. (XAVIER, et al 2020)

É visto que esse desafio se torna ainda maior na detecção de casos pediátricos, que acometem grande proporção de portadores assintomáticos, exigindo maior atenção para evitar infecção. No entanto, os sintomas são mais aparentes em pacientes com testes moleculares positivos e manifestações respiratórias e exames de imagem compatíveis com o diagnóstico de pneumonia. (XAVIER, et al 2020)

Os registros clínicos dos pacientes no início da infecção mostram que os sintomas mais comuns são febres, tosse, mialgia e fadiga, podendo vir acompanhados de falta de ar, cefaleia, hemoptise e diarreia. (XAVIER, et al 2020) 

Estudos revelam que pacientes com COVID-19 podem desenvolver sintomas leves, como febre, tosse seca e cansaço, sintomas semelhantes aos de uma gripe.  Além dos sintomas descritos, o paciente pode apresentar sintomas moderados, como a perda do paladar ou olfato, dor de garganta, dores musculares ou dores nas juntas, cefaleia, calafrios e alguns tipos de erupções cutâneas. Caso evolua o quadro os sintomas podem se tornar graves como dificuldade de respirar ou pressão no tórax, saturação de oxigênio menos que 95% mesmo em ambientes abertos e coloração azulada dos lábios.  (ISER, et al 2020).  

É visto que alguns sintomas iniciais da COVID-19 são semelhantes a outras doenças respiratórias causadas por vírus como Norovírus e Influenza. Entretanto a Dispneia e febre alta são os sintomas que definem a principal diferença clínica entre a COVID-19 e o resfriado comum, que é acompanhada de congestão nasal, lacrimejamento, espirros e coriza, inicialmente hialina, mas que com o passar dos dias se torna esverdeada ou amarelo. Por outro lado, quando comparado à infecção por Influenza, a COVID-19 apresenta sintomas clínicos semelhantes, mas com maior incidência de doenças graves e críticas, necessitando de tratamento com oxigênio e suporte ventilatório. (XAVIER, et al 2020) 

Além desses tipos de sintomas, existem os pacientes assintomáticos que têm a capacidade de transmitir a doença, mesmo não se sentindo doente, o contágio acontece através de gotículas expelidas por meio de tosses e espirros, podendo infectar a pessoa e consequentemente desenvolver a doença. (Organização Pan-Americana da Saúde, 2021) 

Diferentes estudos mostram que cerca de 86% dos pacientes não apresentam complicações da doença; apenas 14% necessitaram de oxigenoterapia em unidade hospitalar e menos de 5% deste grupo necessitaram de cuidados intensivos. (Lu et al 2020) realizaram uma meta-análise que incluiu a apresentação clínica de pacientes de diferentes estudos. Os principais sintomas foram: febre (88,3%); tosse (68,6%); mialgia ou fadiga (35,8%); expectoração (23,2%); dispneia (21,9%); cefaleia ou tontura (12,1%); diarreia (4,8%) e vômitos ou náuseas (3,9%). (XAVIER, et al 2020)

 O coronavírus é considerado um desafio médico global. Terapias e medicamentos baseados em comprovação cientifica estão sendo testados e algumas vacinas já foram desenvolvidas. O SARS-CoV-2 exibe tipos diferentes de padrões de infecção e apresentações clínicas, bem como diferentes resultados da doença. Essas propriedades sugerem fortemente a existência de algumas variáveis ​​interindividuais que influenciam o curso da infecção por SARS-CoV-2 e os sintomas de COVID-19 (doença de coronavírus 2019). 

Com o avanço da pandemia, houve a necessidade de padronizar tratamentos rápidos para a tentativa de combate da doença. Apesar do empenho dos cientistas de todo o mundo na questão de desenvolvimento de novos medicamentos, a duração da pesquisa clínica de eficácia e segurança de fármacos para uma nova doença é longa, por ser um método complexo e também devido à COVID-19 ser uma doença uma doença recente. (FERREIRA, et al 2020). 

Os corticosteroides mostram exercer suas atividades anti-inflamatórias e imunossupressoras intervindo em diferentes etapas da regulação do sistema imune. Por conta das suas propriedades imunossupressoras e anti-inflamatórias, essa classe de medicamentos foi prescrita para pacientes infectados, com Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) com condição pulmonar grave, com o objetivo de reduzir o processo inflamatório associado à produção exacerbada de citocinas, o edema pulmonar, e o dano alveolar; melhorando, consequentemente, a hipóxia e reduzindo o risco de falência respiratória. (Ministério da Saúde, 2021) 

Essa classe de medicamentos/hormônios parece prevenir e reduzir a inflamação nos tecidos e na circulação por meio de efeitos não genômicos e genômicos no tratamento da COVID-19. Ensaios controlados randomizados e metanálises forneceram embasamentos de que os corticoides aumentam a chance de sobrevida e aliviam o tratamento de suporte à vida com dexametasona na dose de 6 mg por dia ou uma dose equivalente de hidrocortisona ou de corticosteroides baseados em prednisolona. (Annane, 2021)   

 A terapia com corticosteroides não foi associada a um risco aumentado de infecção bacteriana ou depuração viral retardada. Na prática diária, os médicos podem ser encorajados a usar corticosteroides ao tratar pacientes com COVID-19 que necessitam de oxigênio suplementar. (Annane, 2021)   

Embora os dados de coortes observacionais sejam inconclusivos, os dados de ensaios clínicos randomizados e revisões sistemáticas e meta-análises de alta qualidade apoiam fortemente o uso de corticosteroides em pacientes com COVID-19 que necessitam de suporte de oxigênio. Os corticosteroides não devem ser usados ​​em pacientes que não necessitam de oxigênio suplementar. Dependendo da gravidade clínica da doença, as formas farmacêuticas intravenosas ou orais, como dexametasona, hidrocortisona ou metilprednisolona, ​​devem ser usados. (Annane, 2021)   

Uma característica fundamental da terapia com corticosteroides é sua duração, especialmente em pacientes com COVID-19 com opacidade em vidro fosco persistente. Atualmente, uma extensão a terapia de corticosteroides além de 10 dias é considerada apenas em casos graves selecionados de COVID-19. A justificativa para o tratamento prolongado é prevenir a fibrose pós-mórbida em pacientes com COVID-19 cujos fatores podem ser identificados como risco para fibrose pulmonar. (Mishra, et al, 2021)

A resposta de um paciente à infecção por SARS-CoV-2, a gravidade dos sintomas e o resultado da doença são amplamente determinados por suas respostas imunes para derrotar o vírus e sua capacidade de modular adequadamente essas respostas imunes. (SHAH, 2021)

A capacidade de recuperação da COVID-19 depende da capacidade do paciente de superar a infecção e equilibrar a imunidade mediada por células aprimorada por meio do desenvolvimento da imunidade humoral, bem como de outros mecanismos regulatórios. A falha em fazê-lo cria um desequilíbrio imunológico que pode levar a alterações fisiopatológicas que se manifestam como sintomas da doença. (SHAH, 2021)

 Existe uma forte interação entre os hormônios sexuais e o sistema imunológico. As células imunes possuem receptores hormonais através dos quais os hormônios circulantes podem modular o sistema imunológico. (SHAH, 2021)

É visto que vários esforços em busca de pesquisas foram feitos, porém muitos sem uma resposta positiva estabelecendo dessa maneira um papel de uma resposta imune desregulada ao coronavírus 2, resultando em uma inflamação sistêmica. (Annane, 2021)   

Em comparação com o estrogênio e a testosterona, menos estudos investigaram o potencial terapêutico da progesterona na redução da carga da doença em pacientes com COVID-19, especialmente em adultos mais velhos indivíduos mais idosos não produzem hormônios sexuais. O possível efeito antiviral da progesterona contra o SARS-CoV-2 justifica uma investigação mais aprofundada onde evidências demostraram de efeitos antivirais da progesterona contra os vírus HIV e influenza A (Okpechi SC et al, 2021). 

Também foi relatado que a progesterona reduz eventos inflamatórios em locais de mucosa, como o intestino após infecções virais respiratórias. Em 2010, um estudo relatou que pacientes com SARS tinham níveis significativamente mais baixos de progesterona em comparação com controles saudáveis. Isso significa que a via de sinalização da progesterona pode estar envolvida nas respostas imunes antivirais. Além disso, um outro estudo relatou que a progesterona tem efeitos anti-SARS-CoV-2. (Okpechi SC, et al, 2021). 

Desse modo, o presente trabalho possui a finalidade de investigar, por meio de revisão de literatura, as evidências que existem sobre o uso de corticoide e outros hormônios na terapia de pacientes com COVID-19. 

2 MÉTODOS

2.1 Critérios para o Levantamento de Artigos 

O presente estudo se configura como uma revisão bibliográfica, em que pretende se apresentar uma síntese de diversas pesquisas publicadas. Para o levantamento dos artigos, realizou-se uma busca sistemática nas bases de dados: Pubmed, PMC, (PubMed Central), SCIELO (Scientific Electronic Library Online), Journal of Intensive Medicine, Ministério da Saúde e OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde).

Os descritores utilizados em inglês “Corticoid AND COVID-19 treatment”, “Hormone AND COVID-19 treatment”.

As buscas nas bases foram efetuadas durante o mês de janeiro de 2020 até novembro de 2022, avaliando a compatibilidade dos dados encontrados. Os critérios de inclusão foram: artigos redigidos em português ou inglês, publicados entre o ano de 2020 a 2022 e artigos do tipo estudo clínico, envolvendo o tratamento com corticoide e COVID-19 e Tratamento hormonal e COVID-19, compatível a responder o objetivo norteador da revisão bibliográfica.

Foram excluídos todos os artigos que estavam fora do período redigido, artigos do tipo publicações de livros, estudos teóricos ou modelos experimentais com animais, atualizações, artigos repetidos e que não respondiam o tema proposto da revisão.

 3. RESULTADO

Considerando que a hormonioterapia seja algo complementar para o enfrentamento dos sintomas da COVID-19, tem se questionado muito, quanto aos hormônios que deveriam ser utilizados, a duração do tratamento e posologia. Dessa forma, este estudo foi relevante para elaborar uma investigação dentre o pensamento de diversos autores sobre o tema proposto.

Nessa etapa da revisão foram encontrados um total de 1544 artigos de acordo com os critérios adotados na metodologia. No entanto, destes 1544 trabalhos, apenas quatorze trabalhos traziam resultados referente ao tema da terapia hormonal como ferramenta terapêutica para COVID-19.

Encontram-se detalhados os principais aspectos da composição da amostra, da revisão dos artigos selecionados no Quadro 1 e na Tabela 1, abaixo.

Quadro 1: Artigos utilizados nesta revisão bibliográfica.

ProcedênciaTítulo do TrabalhoAutoresPeriódicoConsiderações relevantes do trabalho
PubmedCOVID-19 and Progesterone: Part 1. SARS-CoV-2, Progesterone and its potential clinical useShilpa Bhuaptrai ShahEndocrine and Metabolic Science, Volume 5, 2021Examina o possível efeito terapêutico da progesterona em pacientes com COVID-19 em vários âmbitos.
PubmedThe genetic sequence, origin, and diagnosis of SARS-CoV-2Huihui Wang, Xuemei Li, Tao Li, Shubing Zhang, Lianzi Wang, Xian Wu, Jiaqing LiuEuropean Journal of Clinical Microbiology & Infectious DiseasesMostra a origem do vírus, como se instala no organismo, a maneira que se beneficia de enzimas atuantes dos indivíduos e é discutindo as vantagens e limitações dos métodos diagnósticos atuais.
PubmedCorticosteroids for COVID-19: the search for an optimum duration of therapyGyanshankar P Mishra, Jasmin MulaniThe Lancet Respiratory MedicineTenta através de bases cientificas identificar a duração ideal e terapia correta do possível uso dos corticosteroides na COVID-19.
PMC (PubMed Central)Global Sex Disparity of COVID-19: A Descriptive Review of Sex Hormones and Consideration for the Potential Therapeutic Use of Hormone Replacement Therapy in Older AdultsSamuel C Okpechi, Jordyn T Fong, Shawn S Gill, Jarrod C Harman, Tina H Nguyen, Queendaleen C Chukwurah, IfeanyiChukwu O Onor, Suresh K AlahariAging and disease ›› 2021, Vol. 12 ›› Issue (2)Identifica associações da dinâmica hormonal e o possível tratamento de reposição hormonal em pacientes idosos.
SCIELO (Scientific Electronic Library Online)COVID-19: clinical and laboratory manifestations in infection with the new coronavirusAnalucia R. Xavier, Jonadab S. Silva, João Paulo C. L. Almeida, Johnatan Felipe F. Conceição, Gilmar S. Lacerda e Salim KanaanEpidemiologia e Serviços de SaúdeRepassa as diferentes maneiras de sintomatologias acarretas pela COVID-19.
SCIELO (Scientific Electronic Library Online)Definition of a suspected case of COVID-19: a narrative review of the most frequent signs and symptoms among confirmed casesBetine Pinto Moehlecke Iser, Isabella Sliva, Vitória Timmen Raymundo, Marcos Bottega Poleto, Fabiana Schuelter-Trevisol, Franciane BobinskiEpidemiologia e Serviços de SaúdeMostra o grau e as diversidades de sintomatologias em diferentes tipos de pacientes.
SCIELO (Scientific Electronic Library Online)Medicines and treatments for Covid-19Leonardo L. G. Ferreira, Adriano D. AndricopuloEpidemiologia e Serviços de SaúdePossíveis medicamentos, duração e formas de tratamento na COVID-19.
SCIELO (Scientific Electronic Library Online)A Review of the Evidence for Corticosteroids in COVID-19Meagan Johns, PharmD, MBA, BCPS, BCCCP, BCNSP, Stephy George, PharmD, BCPS, BCCCP, PharmD, Margarita Taburyanskaya, PharmD, BCPS, and Yi Kee Poon, PharmDJournal of Pharmacy PracticeJornal farmacêutico que traz evidencias baseadas em comprovação científica do uso de corticosteroides como forma de tratamento em pacientes com COVID-19.
SCIELO (Scientific Electronic Library Online)Therapeutic role of corticosteroids in COVID-19: a systematic review of registered clinical trialsTherapeutic role of corticosteroids in COVID-19: a systematic review of registered clinical trialsReshma Raju, Prajith V., Pratheeksha Sojan Biatris & Sam Johnson Udaya Chander J.Future Journal of Pharmaceutical SciencesRevisão que mostra a resposta de pacientes submetidos ao tratamento coadjuvante de corticosteroides. 
SCIELO (Scientific Electronic Library Online)Corticosteroids for COVID-19: worth it or not?Fariya Akter, Yusha Araf & Mohammad Jakir HosenMolecular Biology ReportsEvidencia se é necessário e seguro o uso de corticosteroides na COVID-19.
Journal of Intensive MedicineCorticosteroids for COVID-19Djillali Annane Journal of Intensive MedicineMostra a atividade dos corticosteroides no tratamento da COVID-19
OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde)Organização Pan-Americana da SaúdeFolha informativa sobre COVID-19Uma base de dados da América do Sul com atualização sobre a COVID-19.
Ministério da saúde BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO ESPECIAL sobre COVID-19 Doença pelo Novo Coronavírus – COVID-19Secretaria de Vigilância em Saúde  Boletim epidemiológico especial COVID-19Base de dados da Secretaria de Vigilância em Saúde com a atualização sobre a COVID-19.
Ministério da saúdeDexametasona paratratamento de pacientescom COVID-19Secretaria de ciência, tecnologia, inovação e insumos estratégicos em saúde, departamento de gestão e incorporação de tecnologias e inovação em saúde, coordenação-geral de gestão de tecnologias em saúde e coordenação de monitoramento e avaliação de tecnologias em saúdeNota técnica sobre dexametasona Avaliação do uso da dexametasona no tratamento de pacientes com COVID-19.
Fonte: Autor, 2022.  

Tabela 1. Resultados da busca nas bases de dados.

Base de dadosDescritores UtilizadosArtigos Encontrados
PubmedCorticoid AND COVID-19 treatment.304
Corticoid AND COVID-19 treatment AND Mild symptomatic patients.
3

Corticoid AND COVID-19 treatment AND Moderate symptomatic patients.


1

Corticoid AND COVID-19 treatment AND Severe symptomatic patients.
4
Hormone AND COVID-19 treatment.
626

Hormone AND COVID-19 treatment AND Mild symptomatic patients.
3


Hormone AND COVID-19 treatment AND Moderate symptomatic patients.
3



Hormone AND COVID-19 treatment AND Severe symptomatic patients


7

Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS)0
Base de dadosDescritores UtilizadosArtigos Encontrados
PMC (PubMed Central)Corticoid AND COVID-19 treatment.
43
Corticoid AND COVID-19 treatment AND Mild symptomatic patients.
4

Corticoid AND COVID-19 treatment AND Moderate symptomatic patients.


5

Corticoid AND COVID-19 treatment AND Severe symptomatic patients.
5
Hormone AND COVID-19 treatment.
302

Hormone AND COVID-19 treatment AND Mild symptomatic patients.
78


Hormone AND COVID-19 treatment AND Moderate symptomatic patients.

67


Hormone AND COVID-19 treatment AND Severe symptomatic patients


85

Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS)0
Base de dadosDescritores UtilizadosArtigos Encontrados
SCIELO (Scientific Electronic Library Online)Corticoid AND COVID-19 treatment.0
Corticoid AND COVID-19 treatment AND Mild symptomatic patients.
0

Corticoid AND COVID-19 treatment AND Moderate symptomatic patients.

0


Corticoid AND COVID-19 treatment AND Severe symptomatic patients.
0
Hormone AND COVID-19 treatment.
0

Hormone AND COVID-19 treatment AND Mild symptomatic patients.
0


Hormone AND COVID-19 treatment AND Moderate symptomatic patients.

0


Hormone AND COVID-19 treatment AND Severe symptomatic patients

0


Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS)0
Base de dadosDescritores UtilizadosArtigos Encontrados
OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde)Corticoid AND COVID-19 treatment.0
Corticoid AND COVID-19 treatment AND Mild symptomatic patients.
0

Corticoid AND COVID-19 treatment AND Moderate symptomatic patients.

0

Corticoid AND COVID-19 treatment AND Severe symptomatic patients.
0
Hormone AND COVID-19 treatment.
0

Hormone AND COVID-19 treatment AND Mild symptomatic patients.
0


Hormone AND COVID-19 treatment AND Moderate symptomatic patients.

0



Hormone AND COVID-19 treatment AND Severe symptomatic patients


0

Folha informativa sobre COVID-19
1
Base de dadosDescritores UtilizadosArtigos Encontrados
Ministério da saúdeCorticoid AND COVID-19 treatment.0
Corticoid AND COVID-19 treatment AND Mild symptomatic patients.
0

Corticoid AND COVID-19 treatment AND Moderate symptomatic patients.

0

Corticoid AND COVID-19 treatment AND Severe symptomatic patients.
0
Hormone AND COVID-19 treatment.
0

Hormone AND COVID-19 treatment AND Mild symptomatic patients.
0


Hormone AND COVID-19 treatment AND Moderate symptomatic patients.

0



Hormone AND COVID-19 treatment AND Severe symptomatic patients


0


Ministério da saúde 2
Base de dadosDescritores UtilizadosArtigos Encontrados
Journal of Intensive MedicineCorticoid AND COVID-19 treatment.0
Corticoid AND COVID-19 treatment AND Mild symptomatic patients.
0

Corticoid AND COVID-19 treatment AND Moderate symptomatic patients.

0

Corticoid AND COVID-19 treatment AND Severe symptomatic patients.
0
Hormone AND COVID-19 treatment.
0

Hormone AND COVID-19 treatment AND Mild symptomatic patients.
0


Hormone AND COVID-19 treatment AND Moderate symptomatic patients.

0



Hormone AND COVID-19 treatment AND Severe symptomatic patients


0

Journal of Intensive Medicine1
TOTAL1544

4. REVISÃO INTEGRATIVA

A pandemia da COVID-19 surgiu como uma ameaça preocupante à saúde global desde dezembro de 2019, foram afetadas em torno de 221.648.869 pessoas, e entre elas, 4.582.338 vieram a óbito. A sintomatologia e a gravidade dessa doença são muito profusos. As pessoas podem variar seu quadro clínico de não-sintomático para ter apenas alguns sintomas leves ou pneumonia grave, dificuldade respiratória aguda, falência de vários órgãos, levando à morte.  (AKTER, et al 2021)

 O SARS-CoV-2 (Síndrome respiratória aguda grave coronavirus 2) é o agente causador do COVID-19 que afeta múltiplos órgãos de humanos, ligando seu pico de glicoproteína ao receptor da enzima conversora de angiotensina 2 (ACE2) presente nos pulmões de células endoteliais vasculares, coração, cérebro, rins, intestino, fígado, faringe. (AKTER, et al 2021)

Com base nos estudos selecionados para a revisão observa-se que é de grande importância a hormonioterapia para a COVID-19, onde é visto que o tratatamento sintomático por meio do uso de costicosteroides mostraram resultados promissores em pacientes graves com COVID-19 que nessecitam de suporte respiratório ou ventilação mecânica. (Annane, 2021)   

 Outra forma de tratamento avaliada é com o uso clinico da progesterona, onde Hall OJ et al da Johns Hopkins descobriram que a progesterona promove uma recuperação mais rápida após a infecção pelo vírus influenza A em camundongos do sexo feminino (Hall et al., 2016). Outro estudo concluiu que a progesterona é anti-inflamatória e tem efeitos analgésicos. (SHAH, 2021)

Portanto, a análise dos artigos nesse estudo permitiu identificar a possível forma alternativa de terapia com hormônios na COVID-19. Os artigos selecionados foram agrupados mediante a coerência de seus conteúdos. Sendo dividido em duas categorias: Terapia com corticosteroides na COVID-19 e Possível uso da progesterona na COVID-19.

4.1 Terapia com corticosteroides na COVID-19

Apesar de que os antivirais e os antimaláricos sejam considerados opções de tratamento para a doença coronavírus 2019 (COVID-19), não é encontrado antivirais específicos disponíveis atualmente para seu tratamento. Segundo estudos foi visto que a eficácia dos corticosteroides em alguns pacientes com SARS-CoV-2 sucedeu em uma aplicação disseminada desta terapia na COVID-19, em particular nos pacientes que estavam na UTI com infecções graves, pois essa classe de medicamento previne lesões pulmonares causadas por pneumonia severa adquirida pela comunidade (SCAP) por desempenhar seus potenciais efeitos farmacológicos na supressão de inflamações abundantes e disfuncionais sistemáticas. (RAJU, et al 2021)

 As diretrizes da Infectious Disease Society of America (IDSA) recomendam fortemente o uso de dexametasona em pacientes críticos para o tratamento da síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA) e inflamação sistêmica, apoiada por evidências moderadas. Recomenda-se a dexametasona na dose diária total de 6 mg IV ou PO por 10 dias (ou até a alta) ou glicocorticóides alternativos, como metilprednisolona 32 mg e prednisona 40 mg. O nível de recomendação diminui com a diminuição da gravidade da doença. Na COVID-19 leve, o uso de glicocorticóides não é recomendado por falta de evidências confiáveis. (RAJU, et al 2021)

Diferentes estudos observacionais e ensaios controlados randomizados (RCTs) confirmaram o efeito benéfico dos corticosteroides, incluindo, redução da taxa de mortalidade e a exigência de ventilação mecânica. Além disso, outro estudo retrospectivo relatou que o uso de  corticosteroides em pneumonia grave por COVID-19 ajuda a diminuir o risco de intubação e ventilação orotraqueal na UTI. Um estudo observacional relatou que os corticosteroides em pacientes COVID-19 são protetores aos pacientes da UTI, mas foram considerados ineficazes em pacientes com sintomas leves. (AKTER, et al 2021)

A aplicação de corticosteroides também mostrou menor duração da febre e melhor saturação de oxigênio em pacientes COVID-19. A meta-análise e os RCTs também revelaram que a aplicação de CSs em pacientes covid-19 gravemente doentes diminui a taxa de mortalidade. (AKTER, et al 2021)

Os corticosteróides atuam como agonistas dos receptores de glicocorticóides e/ou receptores de mineralocorticóides, os receptores de glicocorticóides produzem os efeitos anti-inflamatórios e hiperglicêmicos associados aos esteróides, enquanto os receptores de mineralocorticóides afetam o sistema renina-angiotensina-aldosterona e causam retenção de sódio, levando à retenção de volume e hipernatremia. (JOHNS, et al 2021)

É visto que como glicocorticóide puro, a dexametasona pode fornecer desejáveis efeitos anti-inflamatórios. Os efeitos com estimulação mineralocorticóide leva à retenção de sódio e líquidos, o que pode agravar ainda mais o dano pulmonar. Além disso, a dexametasona pode proporcionar uma vantagem clínica devido à sua longa meia-vida, o que permite a redução gradual do tratamento. Em contraste, a hidrocortisona tem igual afinidade pelos receptores de glicocorticóides e mineralocorticóides. Assim, as propriedades mineralocorticóides da hidrocortisona podem ser benéficas no choque vasodilatador para manter o volume intravascular, mas podem ser indesejáveis ​​em pacientes com SDRA. (JOHNS, et al 2021)

4.2 Possível uso da progesterona na COVID-19

Estudos apontam que, quatro em cada oito mulheres grávidas infectadas com SARS-CoV-2 não apresentavam sintomas antes do parto, mas desenvolveram sintomas após o parto, sugerindo ainda que a progesterona pode proteger contra a infecção por SARS-CoV-2. Essa descoberta fornece mais evidências de que a progesterona, que aumenta durante a gravidez e diminui repentinamente durante o parto, pode ter propriedades  eficazes contra os sintomas da COVID-19. Além disso, outro estudo recente também relatou que, além do estrogênio e da testosterona, a progesterona tem efeitos anti-SARS-CoV-2 principalmente em idosos. Um ensaio clínico [NCT04365127] está em andamento para investigar a segurança e eficácia da progesterona no tratamento de homens hospitalizados com COVID-19. Os resultados deste ensaio clínico fortalecerão ou enfraquecerão as evidências existentes de que a progesterona tem atividade antiviral contra o SARS-CoV-2. (Okpechi, et al 2021)

A progesterona demonstrou ter um forte efeito no alívio de certos sintomas nos estágios inicial e tardio da infecção por Sar-Cov-2, como pressão arterial, controle de trombose, equilíbrio eletrolítico, redução da carga viral, modulação da resposta imune, reparo de danos, reversão de hipóxia etc. As células que compõem o sistema imunológico têm receptores hormonais, então uma forte relação foi notada, e os hormônios sexuais são conhecidos por desempenhar um papel na regulação do sistema imunológico. (SHAH, 2021)

É do conhecimento científico que, ao longo dos anos, os hormônios sexuais masculinos e femininos diferiram em certa medida. Esses hormônios são conhecidos por desempenhar um papel benéfico na imunidade e no combate de infecções. Existem três hormônios sexuais principais a testosterona, estrogênio e progesterona. O papel da progesterona na COVID-19 ainda precisa ser mais explorado, mas com base em estudos detalhados em camundongos fêmeas, Hall OJ et al., da Universidade Johns Hopkins, descobriram que a progesterona promove rápida recuperação contra o vírus influenza A. Outros estudos mostraram que a progesterona tem propriedades analgésicas e também é precursora do estrogênio e da testosterona. Isso valida o papel da progesterona na infecção humana por Sar-Cov-2 e COVID-19. (SHAH, 2021)

 A função desse hormônio foi analisada em vários estágios da infecção pelo Sar-Cov-2, e o mesmo foi observado em ambos os estados imunes de regulação e desregulação. A progesterona é capaz de expressar atividade antiviral em três fases da infecção por Sar-Cov-2, no trato respiratório superior, trato respiratório inferior e dentro das células e neurônios. (SHAH, 2021)

A principal entrada do vírus é pelo trato respiratório superior, onde a progesterona aumenta o inibidor secreto de leucócitos protease (SLPI), uma serpentina secretada pelas células epiteliais nasais humanas e pela saliva. Esta é uma importante proteína de defesa do hospedeiro do trato respiratório que confere proteção local contra infecções microbianas, fúngicas e virais. Já no trato respiratório inferior, é notório observar que para o Sar-Cov-2 se estabelecer no pulmão são necessários a presença de duas enzimas a ACE2 (enzima conversora de angiotensina 2) e a TMPRSS2 (protease transmembrana serina 2). Para que o Sar-Cov-2 se instale com sucesso no organismo, é necessário ligar-se sua proteína espigão a ACE2 (enzima conversora de angiotensina 2), para acontecer essa ligação ele precisa da TMPRSS2 (protease transmembrana serina 2) onde vai preparar seu espigão proteico. (SHAH, 2021)

 É observado que os androgênios tem uma regulação positiva sobre a TMPRSS2 facilitando a estabilização do SAR-COV-2 dentro da célula. Visto que a progesterona tem efeitos anti-androgênicos, podendo bloquear essa regulação positiva da TMPRSS2. A alfa-1-antitripsina e a progesterona, ambas bloqueiam a TMPRSS2. Pelo fato da COVID-19 ser algo novo para todos, o nosso corpo não possui memoria imunológica celular especifica para o vírus, quando ocorrer o contato desse vírus em nosso organismo, os anticorpos de reações cruzadas ou de bloqueios, se por sua vez existirem, vão agir como a primeira barreira imunológica. O Sar-Cov-2 é considerado um agente infeccioso, ou seja, a resposta imunitária é primordial para a eliminação do vírus. (SHAH, 2021)

5. CONCLUSÃO

As evidências apresentadas na amostra dos estudos demonstram a importância uso de corticosteroides na COVID-19 apesar de ter sido rejeitado no início das pesquisas, porém atualmente tem sido adotado para pacientes com quadros mais graves da doença e consequentemente diminuindo a taxa de mortalidade causada pela doença. Por outro lado, a identificação oportuna do estado hiperinflamatório causada pela infecção por SARS-CoV-2 e seu tratamento podem ser cruciais para interromper a cascata, levando a prevenção de danos pulmonares irreversíveis e morte.

Além da terapia com corticosteroides demonstrar benefícios no combate dos sintomas da COVID-19, a progesterona mostrou ter um impacto positivo também no quadro das sintomatologias dos pacientes acometidos pela doença desde a fase inicial quanto a fase final da infecção pelo vírus Sars-CoV-2, como exemplo na pressão arterial, controle de trombose, redução da carga viral e regulação das respostas imunológicas. 

Diante dos fatos apresentados, existe ainda necessidades de mais estudos sobre esse tema, para formulação de dados clínicos sobre o uso de hormônios no enfrentamento dos sintomas da doença, com a intenção de auxiliar no tratamento clínico dos pacientes com COVID-19.

REFERÊNCIAS

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1Acadêmico do Curso de Farmácia, Universidade CEUMA.
Artigo científico apresentado à Universidade CEUMA, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Farmácia.

2Docente e orientador do Curso de Farmácia, Universidade CEUMA.