RETRATOS DA PANDEMIA: UMA REFLEXÃO ACERCA DOS DESAFIOS DA DOCÊNCIA NO PERÍODO DA PANDEMIA.

REGISTRO DOI:10.69849/revistaft/th102412231049


LUCIENE de Souza Torres Gomes
willianderson marinho da silva


RESUMO

O presente trabalho objetivou promover uma reflexão acerca dos desafios da prática docente no período da pandemia, evidenciando os desafios que esses profissionais enfrentaram na adaptação da nova forma de ensino, ora a distância, ora híbrido e ainda contando com a pressão do vírus devastador que assolava o mundo naquele momento, evidenciando o transtorno causado pelo uso abrupto das tecnologias, acarretando em fatores emocionais aos docentes. O estudo, de enfoque Qualitativo e nível Descritivo teve como locus da pesquisa a Secretaria de Educação do Amazonas, dividindo-a em duas etapas principais: a primeira evidenciou a percepção docente em respeito às mudanças ocorridas em sua prática de trabalho e a segunda, direcionada a pesquisa de campo, realizada mediante aplicação de questionários e entrevistas semiestruturadas, todos aplicados com professores que atuaram na linha de frente no período pandêmico, e ainda um estudo de caso envolvendo 20 docentes de diferentes escolas da rede estadual, permitindo compreender a nova realidade educacional embasada na percepção docente, frente às exigências adotadas no novo modelo metodológico que teve que ser adotado por esses profissionais. A análise dos dados foi desenvolvida a luz dos teóricos: Bacich (217) Moran (2017), Libaneo(2018) Mercado (2018) Freire (1996) Especificamente, buscou-se descrever os desafios da prática docente a partir das demandas de trabalho na Secretaria e o enfrentamento ligado a fatores emocionais no contexto educacional nesse período nunca vivenciado.

  1. Introdução

Muito se tem discutido sobre as questões que envolvem tal temática, e entendendo que a atuação da classe docente, mais efetivamente nesses dois últimos anos, devido à pandemia que assolou o mundo, fora apontada como uma profissão que precisou repensar e colocar em prática um novo modo de fazer o seu trabalho por conta do caos vivenciado, por esta razão, essa pesquisa foi desenvolvida através da percepção docente, na intenção de evidenciar o impacto gerado por esse momento de mudança global, que levou docentes do mundo inteiro a repensar sua prática e ainda evidenciar os desafios que os docentes da rede pública estadual da capital do Amazonas enfrentaram para exercer seu tão relevante papel.

A pesquisabuscou compreender a nova realidade educacional frente às exigências adotadas no novo modelo metodológico que teve que ser adotado em toda parte do mundo no período de pandemia sempre prezando pela percepção docente, embasada nos relatos obtidos através dos docentes que aceitaram participar da pesquisa.

Para obtenção das informações foram colhidos depoimentos dos professores, respeitando as diferentes realidades de cada entrevistado, bem como, a realidade das escolas da Rede Estadual de Ensino que fizeram parte da pesquisa, tendo como um dos objetivos específicos, identificar quais foram as principais dificuldades encontradas pelos respectivos atores diante do mencionado cenário.

Em se tratando especificamente desse período de pandemia e na consequente interrupção do ritmo normal das escolas, é fato que os docentes enfrentaram dificuldade em se adequar a esse novo momento, onde foi possível perceber situações bem diferentes nesse cenário, dentre as quais: docentes que enfrentaram muitas dificuldades, mas diante disso encontraram novas formas de ensinar, de se comunicar, de sentir e de se relacionar com o próprio conhecimento, docentes que desenvolveram novas habilidades e competências, lidando com as novas ferramentas de estudo e trabalho com muita desenvoltura e tranquilidade e ainda, docentes que desistiram no meio do caminho, por fatores que vão de doenças a problemas financeiros, conforme dados obtidos através das entrevistas.

A importância da pesquisa se dá pelo fato de abordar a temática do uso das novas tecnologias e como professores lidaram com tal situação e ainda as perspectivas dos anos seguintes dos pós pandemia, tornando-se um fator relevante para a Educação do Estado do Amazonas.

A pesquisa trará contribuição tanto à classe docente quanto a sociedade em geral, porque se propõe analisar uma situação vivida pelos educadores acerca dos desafios encontrados com o uso das tecnologias para o ensino e a partir disso refletir sobre a prática docente e sobre como a educação precisa se modernizar, e como é necessária a elaboração de políticas públicas voltadas para esse tema, tendo em vista que a automatização da sociedade já é uma realidade presente no contexto educacional, porém a figura do professor ainda é imprescindível.

A abordagem não se refere apenas à capacidade tecnológica do docente, mas pensando, sobretudo, em uma atuação crítico reflexiva.

Por outro lado, a pesquisa aborda questões emocionais, através da percepção docente no que se refere àqueles educadores que não conseguiram se adaptar com a mesma facilidade, ficando frustrados, desestimulados diante da carga psicológica sofrida e com isso acarretando danos irreversíveis para sua saúde e com isso impossibilitando sua prática docente, fato que ficou evidenciado nesse estudo.

2. AS DIFICULDADES NO PROCESSO DE ENSINO NO PERÍODO DA PANDEMIA: DO USO DAS TECNOLOGIAS A FATORES EMOCIONAIS

De acordo com o Jornal da USP de 08/12/2020, desde março de 2020, cerca de 48 milhões de estudantes deixaram de frequentar as atividades presenciais nas mais de 180 mil escolas de ensino básico, espalhadas pelo Brasil como forma de prevenção à propagação do coronavírus.

No Amazonas essa realidade não foi diferente. Segundo dados da SEDUC/AM, a Rede Estadual de Educação do Amazonas, dispõe de cerca de 219,660 mil estudantes e 23,412 mil educadores entre professores e pedagogos, espalhados pelos 62 municípios que os compõe, muitos deles com difícil acesso tiveram que rapidamente se adaptar, não somente a um novo estilo de vida, frente à necessidade do afastamento social, mas também a ensinar (e aprender) dentro de um novo modelo de educação mediada por tecnologia.

Importante salientar que a presente pesquisa se debruçou especificamente na capital Manaus, tendo como local de seu estudo, a Secretária de Educação, onde obteve informações dos setores relacionados à pesquisa como: GEMAT, GAAS, CENTRO DE MÍDIAS, DEGESC E DEPPE.

De acordo com informações da Gerência de matrícula/GEMAT, a Secretaria de Educação e Desporto do Amazonas, registrou no ano de 2020, o quantitativo de 107.841 alunos matriculados somente no ensino médio e em 2021, registrou o total de 112.371 na capital Manaus, divididos entre: ensino regular, EJA e Mediação tecnológica para o atendimento desses alunos, no ano de 2020 Secretaria dispunha de 23.932 professores efetivos na capital, sendo que 161 atendem no Centro de mídias , distribuídos nas disciplinas que contemplam a grade do ensino médio.

Para garantir a oferta de aulas e atividades e, ao mesmo tempo, oferecer em tempo real formação aos seus educadores, a Secretaria de Educação do Estado do Amazonas criou o Aula em casa, ministrada através do Centro de Mídias, localizado no município de Manaus, que já funcionava normalmente com as aulas de ensino presencial por mediação tecnológica, ofertadas há alguns municípios do Amazonas, como projeto aula em casa, o Centro de mídias acabou sendo de grande relevância para colaborar nesse novo processo de ensino.

Na capital do Amazonas, devido ao grande número de casos de Covid-19, com situações expostas inclusive em grandes veículos de comunicação, gerando à época grande comoção e também muita especulação sobre a sociedade amazonense, houve grande preocupação em assegurar que os docentes conseguissem continuar ministrando suas aulas, mesmo que de forma remota, os docentes que precisaram de assistência psicológica, puderam contar com o serviço oferecido pela Gerência de Admissão e Atenção ao Servidor – GAAS.

Diante desse cenário, vale destacar a importância do serviço dessa Gerência, trabalho este que atualmente é realizado na Sede da Secretaria de Educação do Amazonas, onde desenvolve práticas que facilitam a seleção, promoção e integração dos servidores, promovendo ações de melhoria das relações de trabalho, além de prestar assistência sociopsicológica aos servidores.

Segundo informações obtidas no site da Secretaria de Educação e Desporto Escolar do Amazonas, são atribuições da Gerência de Admissão ao Servidor GAAS:

  • Desenvolver ações que visem à melhoria da qualidade de vida dos servidores da SEDUC/AM (capital e interior), oferecendo atendimento e acompanhamento psicossocial; promover ações voltadas à saúde física e emocional dos servidores da SEDUC/AM, por meio do Programa ValorizaRH;
  • Atuar na elaboração e execução dos processos de solicitação, editais, avisos e quaisquer atos referentes a concursos públicos e processos seletivos para ingresso de servidores no quadro funcional da SEDUC/AM bem como providenciar sua divulgação;
  • Atender e cadastrar os candidatos convocados por meio de concursos públicos e Processos Seletivos Simplificados (PSS), e encaminhar à Gerência de Pessoal a documentação necessária para finalização da posse e contratação junto à folha de pagamento;
  • Acompanhar e controlar ações referentes ao Programa de Estágio-Bolsa Auxílio, e buscar parcerias com empresas que oportunizem a criação do banco de talentos aos estagiários que obtiverem destaque em suas atribuições dentro da SEDUC/AM;
  • Planejar, elaborar e acompanhar a implementação do Plano Anual de Desenvolvimento dos Servidores e Estagiários da SEDUC/AM;
  • Viabilizar parcerias com outros órgãos e instituições que contribuam para o desenvolvimento dos servidores da SEDUC/AM;
  • Coordenar e promover a participação dos servidores e estagiários da SEDUC/AM em workshops, palestras, cursos presenciais e à distância, grupos formais de estudos, seminários e congressos, que contribuam para a atualização e desenvolvimento profissional.

Dentre as atribuições aqui dispostas, durante a pandemia, o serviço do psicossocial ficou evidenciado e foi imprescindível para dar suporte aos docentes que procuraram pelo serviço.

No ano de 2020, na capital, foram realizados 461 atendimentos a servidores de forma presencial na Secretaria de Estado da Educação, porém os atendimentos foram suspensos devido a PANDEMIA DO COVID 19 (SARS-COV 19), nesse contexto, o serviço psicossocial precisou se adequar às condições do distanciamento social, elaborando um projeto emergencial de trabalho multifuncional que aconteceu de forma online e atendeu 280 profissionais, totalizando 741 atendimentos, para atender a grande demanda decorrente do período pandêmico.

No ano de 2021, os atendimentos continuaram, mas ainda em adequação, pois houve uma forte onda do vírus na cidade de Manaus, nesse ano foram realizados 260 atendimentos psicossociais na Capital.

No ano de 2022, os atendimentos se intensificaram devido todo impacto causado pela pandemia, nesse período foi realizado 893 atendimentos psicossociais. Nesta ocasião por oportuno da pesquisa somente constam os números de atendimentos referentes aos servidores da capital Manaus – Amazonas.

A pandemia marcou a vida das pessoas e o funcionamento dos órgãos públicos. A classe docente por sua vez, também sofreu com as consequências do tão temido vírus, que infelizmente ceifou a vida e alegria de tantas famílias. Na data de 17 de fevereiro de 2021, um vídeo produzido pela Secretaria de Educação circulava pelo Whatsapp em homenagem aos mais de 300 docentes, vítimas de COVID 19 no ano de 2020.

Dos vários relatos obtidos durante a pesquisa, os fatores emocionais figuram entre os grades desafios enfrentados pelos docentes nas escolas de Manaus-AM na Secretaria de Estado de Educação entre os anos de 2020-2022, e foi necessário organizar todos esses fatores para se manter a Educação no Estado, como tudo foi realizado de forma necessária e urgente, a força tarefa exigiu conhecimento e muito trabalho pelas lideranças que assumiram esse compromisso.

De acordo com Sancho (1998, p. 13) docentes e alunos precisam de um conhecimento que possibilite a organização de ambientes de aprendizagem (físicos, simbólicos e organizacionais) que situem os alunos e o corpo docente nas melhores condições possíveis para perseguirem metas educacionais consideradas pessoal e socialmente valiosas. Isso sem cair na ingenuidade de crer que com isso acabaremos com os problemas do ensino, nem no engano de pensar que, ignorando o que ocorre ao nosso redor, salvaguardaremos a escola dos perigos tecnológicos.

Grandisoli, Jacobi e Marchini (2020, p.01) afirmam que: o fechamento das escolas trouxe à tona a necessidade urgente da adoção de novas estratégias que garantissem a continuidade do trabalho dos educadores e seus estudantes e, consequentemente, dos processos de ensino-aprendizagem, via novos modelos de educação mediada por tecnologia.

De acordo com Grandisoli, Jacobi e Marchini (2020, p.01)

Apesar de fundamentais nesse momento, as mudanças trazidas por esse novo modelo de ensino aliadas aos desafios do afastamento social trouxeram impactos aos profissionais da educação, estudantes e também às famílias, que se viram à frente de uma nova realidade bastante desafiadora dos pontos de vista técnico e educacional, a qual precisa ser melhor compreendida em suas diferentes dimensões.

Como se sabe, a aprendizagem é um processo, é necessário se pensar nas competências que precisam ser desenvolvidas, alunos não são como robôs, que se programa e está tudo certo. Segundo Moran (2018, p.35)

As pesquisas atuais da neurociência comprovam que o processo de aprendizagem é único e diferente para cada ser humano, e que cada pessoa aprende o que é mais relevante e o que faz sentido para si, o que gera conexões cognitivas e emocionais.

Nesse sentido, o principal papel do uso das tecnologias digitais, é que esta possibilite a amplitude de possibilidades ao docente nesse novo modelo de ensinar e possibilite aos alunos, o entendimento e a integração com as habilidades e competências que se pretende desenvolver.

Para Moran (2018, p.1).

Aprendemos ativamente desde que nascemos e ao longo da vida, em processos de design aberto, enfrentando desafios complexos, combinando trilhas flexíveis e semiestruturadas, em todos os campos (pessoal, profissional, social) que ampliam nossa percepção, conhecimento e competência para escolhas mais libertadoras e realizadoras.

Sabe-se que o aprendizado se dá ao longo da vida, seja na prática ou na teoria, sempre haverá desafios a serem vencidos, obstáculos a serem superados, no entanto as interações entre as docentes e alunos sempre se farão necessárias, pois ambos são protagonistas nesse processo, estar aberto ao aprendizado é trilhar o caminho para liberdade, apesar dos desafios encontrados durante o percurso, com o cenário vivido na pandemia, a práxis docente foi imprescindível para a sociedade.

Para Mercado (2002, p.11).

O reconhecimento de uma sociedade cada vez mais tecnológica, dever ser acompanhada de uma conscientização da necessidade de incluir nos currículos escolares as habilidades e competências para lidar com as novas tecnologias

Para isso, considera-se importante que o professor conheça as possibilidades metodológicas que as tecnologias trazem para trabalhar o conteúdo, portanto, a formação, o envolvimento e o compromisso de diretores, professores e pedagogos no processo educacional tornam-se imprescindíveis, para que situações como as vivenciadas na pandemia sejam minimizadas.

3. IMPACTOS E DESAFIOS DO PROCESSO EDUCATIVO NO PERÍODO PANDÊMICO

Toda essa conjuntura estabelecida com a pandemia do Corona vírus, afetou de igual modo as instituições escolares, que tiveram que fechar suas portas temporariamente, por comportarem muitos sujeitos que circulam diariamente em seus espaços, dessa forma, tiveram que procurar novos meios de continuar efetivando o processo de ensino-aprendizagem com os alunos, de modo que o ano letivo não fosse totalmente “perdido”.

A saída para tal situação foi a implementação do ensino remoto, ou seja, a realização da educação a distância com a utilização de plataformas ou ambientes virtuais disponibilizados e acessíveis pelas ferramentas tecnológicas.

Enquanto os docentes recebiam as diretrizes sobre a implementação das novas formas de ministração das aulas, as dúvidas e incertezas começavam a surgir, muitas indagações eram feitas a respeito de como seriam os próximos passos, desde o estabelecimento, até contato com alunos e responsáveis, a organização e o planejamento das aulas, a realização de avaliação, das atividades, enfim, eram muitas as incertezas naquele momento.

Esse processo de adaptação a um novo jeito de ensinar e aprender com o uso das tecnologias, mesmo que vivendo na era das Tecnologias da Informação e Comunicação, e da cultura digital, foi lento, gradual e apresentou diversos desafios para todos os envolvidos, permitindo a reflexão sobre os dilemas enfrentados enquanto escola pública, especialmente no que se refere à infraestrutura e recursos.

O ensino remoto, apesar de ter sido uma boa solução (na realidade a única possível no período crítico da pandemia), mostrou-se incompatível com a realidade de uma parte dos alunos que frequentam as escolas públicas brasileiras, nas escolas públicas de Manaus (área da pesquisa) essa realidade não foi diferente, tendo em vista que em algumas áreas da cidade, muitos ainda não possuem as condições básicas para viver em suas residências (saneamento, luz, alimentos), e por isso não tem acesso a aparelhos tecnológicos com internet para o acompanhamento das aulas, fato esse que foi muito mencionado durante a pesquisa.

Bacich (2017, p.254) cita:

Quando pensamos sobre a forma como os estudantes podem fazer uso das tecnologias digitais como fonte de informações e recurso para construção de conhecimentos, é importante a reflexão sobre o que é solicitado deles como tarefas de aprendizagem.

Esse pensamento nos remete aos seguintes questionamentos: que ambiente propício ao estudo esses estudantes terão, caso não haja uma infraestrutura adequada? E como farão em caso de dúvidas na realização das atividades propostas, a quem pedirão auxílio? E quando o aluno não tem o suporte adequado, como poderá realizar as atividades? Ademais, será que realmente é possível a aprendizagem nessas circunstâncias? E ainda, como os docentes trabalharão o processo avaliativo desses alunos?

Libâneo (2018, p.17) ainda afirma que:

Os educadores comprometidos com a transformação precisam dispor de conhecimentos para repensar formas de funcionamento das escolas, de desenvolvimento da profissionalização, de participação nas relações cotidianas da comunidade escolar.

Nesse sentido, o comprometimento com a educação na prática docente, se torna essencial, fica claro que se alunos e professores não tiverem recursos adequados para o tipo de ensino remoto, o ensino e a aprendizagem decerto ficarão prejudicados, porém, mesmo com toda dificuldade e até desespero pelo período vivenciado, um professor compromissado, é capaz de fazer toda diferença no processo de ensino.

O período pandêmico deixou explícita a questão da desigualdade social, quando parecia que todos estavam passando pelas mesmas situações difíceis, um olhar mais atento, perceberia que essa não seria uma verdade, pois, nem todos dispunham dos mesmos recursos. Tal situação revela novamente a desigualdade socioeconômica presente na sociedade que é refletida nas instituições sociais, como a escola, e são visibilizadas nas relações desenvolvidas que acabam se perpetuando.

Libâneo (2018 p.17) afirma:

É verdade que faltam coordenadas sociais, políticas, econômicas e educacionais mais claras de um projeto político progressista, mas os educadores que atuam na linha de frente do sistema escolar não podem esperar essa clareza, porque a cada manhã, a cada tarde e a cada noite, os alunos e as alunas estão chegando para mais uma jornada de aulas, junto com seus professores e professoras.

Nesse sentido, fica evidente que a prática docente vai além da questão profissional, ela é a esperança de transformação de uma realidade social, mesmo sabendo que existem diferentes âmbitos e lugares sociais em que a práxis da aprendizagem se desenvolve e que acabam por influenciar na formação dos cidadãos desde a infância. Contudo, a instituição escolar, enquanto produto histórico da ação humana individual e coletiva, constituída pelo imaginário social que lhe atribui sentidos e significados pela linguagem, torna-se o espaço destinado às aprendizagens explícitas, propositais e sistemáticas, por esse motivo, muitos foram os questionamentos de como se faria educação em meio a pandemia, em meio ao distanciamento social, aulas remotas, aulas online, tudo urgente e novo, geraram desconfianças e incertezas sobre a qualidade do ensino.

Porém, em meio às dificuldades encontradas, há o aspecto positivo de que a sociedade em geral, está sendo levada a ter um olhar crítico sobre a escolarização, reconhecendo a função específica exercida pela escola, através da ação desencadeada pelo professor com os alunos em sala de aula, mesmo que de forma remota, o que leva ao reconhecimento do papel imprescindível desse profissional para toda sociedade.

O docente é aquele que estabelece a mediação entre o aluno e os objetos de conhecimento, valendo-se para isso, de uma pedagogia e didática diferenciada que os pais/responsáveis, por exemplo, não possuem para ajudar os filhos nesse momento de pandemia.

Diante de tantas ocorrências e desafios, as dimensões do trabalho docente ficaram mais complexas, exigindo mais do que o domínio do saber ou conteúdo a ser ensinado, tendo o dever de tornar esses objetos conceituais compartilháveis, organizando condições facilitadas de aprendizagem, reconhecendo que cada aluno é um ser único e diferenciado.

Noutro giro, é importante salientar que também necessitou desenvolver a capacidade de trabalhar com novas ferramentas, através de novas plataformas digitais, úteis e eficazes, exercitando a cooperação mútua na resolução de problemas.

Entretanto, sabemos que as tecnologias digitais, apesar de nos aproximarem e permitirem o desenvolvimento do ato educativo nesse período difícil, não é capaz de substituir e se igualar à presença física, a companhia e interação realizada em uma sala de aula concreta, bem como promover a socialização livre e sem intermediários nos espaços destinados ao recreio, esse fato ficou evidente no período pandêmico.

Paro (2018, p.39), cita que:

Se o educando só aprende fazendo-se sujeito, se esta é a condição primeira para o aprendizado, então, é preciso, para educar, que se conheça e se leve em conta como esse ser se faz sujeito no decorrer de seu desenvolvimento.

Nesse contexto o autor corrobora com a ideia que é necessária a socialização, a troca de conhecimento para que se efetive o aprendizado, porém, em período de pandemia, essa socialização foi realizada de forma diferente, foi mais um grande desafio para a práxis docente.

A atividade docente passou a ser marcada por grandes desafios no contexto escolar, as mudanças, os reflexos sociais, as constantes transformações relacionadas ao trabalho, acarretaram inúmeras exigências, e geram consequências nos dias de hoje para a classe docente em efetivo exercício.

Libâneo (2018, p.19) afirma que:

Como educadores responsáveis pela formação intelectual, afetiva e ética dos alunos, os professores precisam ter consciência das determinações sociais e políticas, das relações de poder implícitas nas decisões administrativas e pedagógicas do sistema e como isso afeta as decisões e ações levadas a efeito na escola e nas salas de aula.

No que tange o papel dos órgãos educacionais, é salutar o dever de criar estratégias que promovam o prazer no contexto educacional, e que favoreça as ações de escuta e integração, propiciando a troca de experiências que repercute na construção de um clima favorável e saudável no ambiente escolar tanto para docentes quanto para alunos, ações essas que possibilitarão uma aprendizagem mais abrangente e significativa, em se tratando do período pandêmico os desafios se tornaram ainda maiores, pois as ações se tornaram urgentes, o fazer do professor necessariamente tornou-se diferente, sua percepção mudou, sua vida mudou, e com isso um novo olhar e perfil docente se instalam na sociedade, levando-os a novos desafios de sua práxis, como será visto no decorrer de toda pesquisa.

4. METODOLOGIA

Além da pesquisa bibliográfica, foi utilizada pesquisa de campo que proporcionou observar como os docentes se mantiveram ativos em sua prática na cidade de Manaus, e como os docentes estão sendo assistidos e orientados pela Secretaria de Educação.

Foi aplicado questionário não estruturado investigativo com perguntas subjetivas aos docentes que deram aceite para participação na pesquisa, na Secretaria de Estado de Educação do Amazonas.

O relato de estudo de caso envolveu 20 (vinte) docentes de diferentes escolas estaduais da cidade de Manaus no Amazonas, que se encontram em efetivo exercício das suas atividades laborativas.

Neste estudo de caso, serão relatados todos os acontecimentos durante o período de observação direta dos docentes. A pesquisa junto à instituição enriquecerá significativamente o trabalho e aumentará sua contribuição para o delineamento de estudos similares na área educacional, visando a melhoria da qualidade de vida do docente em efetivo exercício na cidade de Manaus.

Portanto, o método da pesquisa foi misto, com triagem e observação direta aos vinte (20) profissionais da Secretaria de Educação. Os docentes que participaram da pesquisa assinaram o Termo De Consentimento Livre E Esclarecido (TCLE); as técnicas utilizadas e instrumentos de dados foram feitos através da pesquisa bibliográfica, da observação direta e da entrevista estruturada, tendo como campo de pesquisa a própria sede da Secretaria, totalizando 29 meses de pesquisa e registros do cotidiano docente. As entrevistas ocorreram pelo método da associação livre, entrevista não direcionada, aplicada em 20 (vinte) servidores atuantes no período da pandemia, servidores em efetivo exercício.

A amostragem ocorreu pelo levantamento dos números de professores ativos no período da pandemia em efetivo exercício. Os dados foram adquiridos através dos relatos das experiências vividas por participante. E ainda pela pesquisa realizada por meio do levantamento, dos atendimentos efetuados no Serviço Psicossocial nos anos de 2020 a 2022. Tais informações, estão disponibilizadas no controle de atendimento anual do arquivo da Secretaria com informações sigilosas quanto aos nomes dos atendidos, por uma questão de ética e preservação de imagem dos mesmos.

5. RESULTADOS OBTIDOS

Os resultados obtidos durante a pesquisa de campo apresentaram um retrato da pandemia no que diz respeito aos desafios enfrentados por docentes em sua práxis e suas perspectivas para a educação após o caos vivido, os dados que foram levantados mediante análise documental e observação direta aos docentes, através de entrevista individual e consentida pelo servidor teve o cuidado de prezar pela percepção docente.

Entre os entrevistados, todos possuíam vínculo empregatício, e para a coleta de dados foi utilizada a observação de campo e entrevistas individuais, as quais foram iniciadas em abril de 2020 e estenderam-se até setembro 2022, totalizando 29 meses de investigação.

A observação possibilitou compreender o contexto, oportunizando a percepção de ocasiões que não são identificadas pelos docentes, e fornecendo informações que não são conseguidas através da entrevista somente.

Depois de um determinado tempo, ao desenvolver as atividades, as entrevistas, e a observação direta, concluiu-se que o docente está ciente de que deve buscar qualidade de saúde mental para que as mudanças aconteçam na classe, para autonomia e para a formação de um cidadão e um profissional consciente de seus deveres e de suas responsabilidades sociais, sem que este precise ser obrigado a adaptar-se bruscamente às metodologias onde sejam necessários conhecimentos tecnológicos desenvolvidas no ambiente escolar.

Dessa forma a questão do aprendizado sobre novas tecnologias se torna mais interessante quando o docente é estimulado e sente segurança por parte do sistema. Para ser considerado satisfatório deve-se levar em consideração que o docente disponha de condições estruturais, com a disponibilidade de ferramentas para tal aprendizado, além da adaptação ao seu currículo às necessidades individuais e à sua realidade.

No entanto, há de se levar em consideração que para que isso de fato ocorra, é necessário apoio do sistema educacional, das autoridades, de um olhar mais atento e empático para esta classe tão necessária para sociedade.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo evidenciou, através da percepção docente, o desafio das práticas docentes no período pandêmico, mostrando que o advento da internet e o desenvolvimento das tecnologias digitais trouxeram consigo mudanças significativas na forma da sociedade se organizar, seus hábitos e preferências sofrem mudanças à medida que a tecnologia avança, e na docência não tem sido diferente. Foi no período da pandemia que os professores tiveram que se apropriar dos diversos recursos tecnológicos para implementar o ensino remoto de forma efetiva.

Foi possível identificar as ferramentas utilizadas na prática docente, ficou constatado que o período da pandemia foi o momento dos docentes ressignificarem sua prática, os profissionais ficaram impossibilitados de usar somente lousas e pincéis, necessitaram buscar novas metodologias voltadas para o ensino remoto que promovessem sua práxis.

Foi possível identificar que as tecnologias digitais foram utilizadas como grande ferramenta, em alguns casos, a única ferramenta da prática docente nesse período de caos vivido. Ficou evidente que quando implementada de forma eficaz, tais tecnologias promovem a melhoria na aprendizagem dos alunos, se tornando um suporte pedagógico para o professor, também ficou constatado que a figura do professor é imprescindível em qualquer parte do mundo, mesmo com toda tecnologia, pois o retrato da pandemia mostra que sem esse profissional, a educação estaria comprometida e muitos alunos prejudicados, e isso, posteriormente traria prejuízo à sociedade.

Conforme os dados obtidos foi possível detalhar profundamente, através da percepção docente, toda dificuldade enfrentada por esses profissionais que estiveram no centro de algo nunca vivido em todo mundo, uma pandemia global, uniu de certa forma, todas as gentes em um só propósito, tentar seguir, mesmo diante de tantas adversidades ressignificando a profissão docente.

O objetivo dessa pesquisa foi evidenciar os desafios enfrentados pelos docentes devido a rapidez com que tiveram que se adequar ao uso das tecnologias, acarretando fatores emocionais que os levaram ao adoecimento e desesperança em sua práxis.

Salutar destacar o importante trabalho desenvolvido pelo GAAS da Secretaria de Educação do Amazonas, que no período crítico da pandemia, tornou-se referência no atendimento aos docentes.

Por derradeiro, ao concluir esse estudo, a pesquisadora entende que se faz necessária outras buscas, pois o conhecimento não está pronto e acabado, ele é progressivo, não há limites para aprender.

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