RETURN OF THE ATHLETE TO SPORT AFTER REHABILITATION OF THE ANTERIOR CRUCIATE LIGAMENT: LITERATURE REVIEW
REGISTRO DOI: 7258143
Yago Aparecido Camargo Nogueira1
Rosemary Berto2
RESUMO
Introdução: A ruptura do ligamento cruzado anterior (LCA) está entre as lesões que mais acontecem no mundo esportivo. Nos Estados Unidos da América, estima-se que 80.00 a 250.000 pessoas sofrem com esta lesão por ano. O retorno ao esporte do atleta amador ou profissional vai depender de alguns fatores como o físico e o psicológico, parte mental do atleta ao longo da recuperação parece influenciar de forma significativa o sucesso do retorno. O fator físico é crucial para esses atletas, principalmente a força de membros inferiores, com mais enfoque em grupos musculares como quadríceps. O equilíbrio muscular se mostra um critério determinante no momento de testes isocinéticos para a liberação do atleta para retornar ao esporte. Objetivo: Analisar os aspectos e critérios que definem a liberação do atleta para retornar ao esporte praticado. Método: Foi realizada uma revisão de literatura por meio de pesquisas nas bases de dados sciELO, PubMed, BMJ journals, Medline (BVS) e repositórios com as palavras chaves: retorno ao esporte, ligamento cruzado anterior e reconstrução de ligamento cruzado anterior. Em inglês: return to sport; anterior cruciate ligament; anterior cruciate ligament reconstruction. Resultados: As buscas foram realizadas entre os meses julho e setembro de 2022, foram encontrados no total 193 artigos, após realizada a exclusão de acordo com os critérios propostos totalizaram 12 artigos para análise. Conclusão: O aspecto psicológico e o fator força e equilíbrio em membros inferiores parecem influenciar diretamente no retorno ao esporte do atleta amador ou profissional.
Palavras chave – Retorno ao esporte; ligamento cruzado anterior; reconstrução de ligamento cruzado anterior em atletas.
ABSTRACT
Anterior cruciate ligament (ACL) rupture is among the most common injuries in the sports world. In the United States of America, it is estimated that 80,000 to 250,000 people suffer from this injury every year. The return to sports for the amateur or professional athlete will depend on some factors such as the physical and psychological, the athlete’s mental part along the recovery seems to influence significantly the success of the return. The physical factor is crucial for these athletes, especially the strength of the lower limbs, with more focus on muscle groups such as the quadriceps. Muscle balance is a determining criterion when isokinetic tests are used to release the athlete to return to sports. Objective: To analyze the aspects and criteria that define the release of the athlete to return to the sport practiced. Method: A literature review was performed by searching the sciELO, PubMed, BMJ journals, Medline (BVS) and repository databases with the keywords: return to sport, anterior cruciate ligament and anterior cruciate ligament reconstruction. In English: return to sport; anterior cruciate ligament; anterior cruciate ligament reconstruction. Results: The searches were conducted between the months July and September 2022, were found in total ?????? articles, after performed the exclusion according to the proposed criteria totaled 13 articles for analysis. Conclusion: The psychological aspect and the factor of strength and balance in the lower limbs seem to directly influence the return to sport of the amateur or professional athlete.
Keywords: return to sport; anterior cruciate ligament; anterior cruciate ligament reconstruction in athletes.
INTRODUÇÃO
Atualmente os atletas estão se fortalecendo cada vez mais, estão mais rápidos e mais fortes em comparação a tempos antigos. Isso acontece porque o nível esportivo nos dias atuais é muito alto e demanda mais preparo físico e consequentemente a lesão de LCA é mais recorrente. A ruptura do LCA vai fazer com que a tíbia se desloque para frente junto com uma rotação interna, deixando a articulação instável podendo até causar danos ao menisco e à superfície articular. A cirurgia de reconstrução tem como objetivo restaurar a função da articulação lesada, trazendo de volta a estabilidade. Em contrapartida, após a cirurgia o paciente pode encontrar dificuldades em retornar ao esporte praticado pré-lesão e ainda pior, podendo até abandonar o esporte e ter um fim precoce na carreira. Alguns estudos mostram que atletas mulheres têm mais dificuldades em voltar as práticas esportivas por conta de aspectos musculares, a falta de força em extensores de joelho principalmente é um fator que pode ser determinante. (QIANG LI, 2021).
A reconstrução do LCA tem como objetivo restaurar a estabilidade da articulação do joelho, restabelecer a capacidade funcional e esportiva ao nível anterior do atleta antes da lesão, e ainda, prevenir a ocorrência de lesões meniscais e osteoartrite secundária. Entretanto, entende-se que a restauração da função do joelho lesionado depende não apenas do próprio procedimento cirúrgico, como também depende de fatores anatômicos e biomecânicos envolvidos, e da relação entre os sistemas nervoso e musculoesquelético.
Além de suas funções mecânicas, o LCA age como órgão sensorial proprioceptivo por conta da presença de mecanorreceptores em torno de suas fibras. Esses mecanorreceptores tem como função promover estabilidade articular do joelho por realizarem as estimulações de contração muscular e coordenadas. Por esta razão, acredita-se que a preservação das fibras remanescentes do LCA possa ajudar no processo de cicatrização biológica do enxerto e consequentemente aumentar a recuperação da cobertura sinovial do ligamento reconstruído pelo procedimento cirúrgico realizado (DIAZ, REZENDE e MOSCON, 2020).
Nos Estados Unidos, há uma incidência de 80.000 a 250.000 rupturas de LCA em jovens. A lesão de LCA pode estar associado a osteoartrose secundária e que pode causar dano funcional e sobrecarga ao joelho do atleta ou paciente. Geralmente a cirurgia artroscópica realizada envolve enxerto autólogo usando tendão patelar ou tendão de flexores de joelho. Geralmente é necessário um tempo estimado em 6 meses para recuperação. Amplitude de movimento, eletroestimulação de alta intensidade combinados com exercícios funcionais podem ser usados para o tratamento da lesão. O objetivo desses tratamentos é a redução de dor, propondo ao joelho uma amplitude maior de flexão (VELÁZQUEZ, RUÍZ e RODRÍGUEZ et al. 2017).
Em outra perspectiva de porcentagem, 70% das lesões de ruptura ligamento cruzado anterior acontecem sem o contato físico, na maioria das vezes o atleta se lesiona sozinho nos esportes que geralmente envolvem movimentos de desacelerações bruscas, movimentos de pivô, saltos e cortes. Em relação a cirurgia, não há evidências que a intervenção ocasione resultados superiores ao tratamento conservador. A porcentagem de retorno ao esporte se assemelha com a incidência. A taxa varia de 8% e 82% em pacientes que realizaram a reconstrução do ligamento e 19% a 82% nos pacientes que não realizaram a cirurgia de reconstrução (ALMEIDA, ARRUDA e MARQUES, 2014).
O retorno ao esporte a nível pré lesão é o principal assunto tratando de esportistas, ou seja, o que mais é esperado pelo atleta. Entretanto a reconstrução de LCA não garante que o nível do atleta será igual, 81% dos indivíduos retornam a alguma atividade física, esportiva após a reconstrução de LCA, 65% conseguem retornar ao esporte com o mesmo nível da sua pré lesão e 55% retornam ao esporte competitivo. Atletas do sexo masculino, atletas de elite e os mais jovens são os que possuem melhores chances desse retorno ao esporte competitivo. Um detalhe muito importante é a força simétrica de quadríceps e adiar o retorno até 9 meses após reconstrução de LCA são fatores que reduzem o risco de relesão (ALBANO; LIMA e ALMEIDA, 2017).
No primeiro Congresso Mundial de Fisioterapia Esportiva em Berna, capital da Suíça, segundo Arden, Glasgow e Schneiders (2016) o retorno do atleta de alto nível ao esporte pode ser dividido em três etapas:
- primeira baseia se no atleta estar participando da reabilitação, em treinamento modificado ao seu nível físico atual, mesmo que no seu esporte, porém em um nível mais baixo de intensidade; o atleta é ativo fisicamente, mas ainda não está preparado para voltar a competir tanto pela parte física, mas também psicológica.
- segunda etapa consiste no retorno do atleta ao seu esporte definido, porém o atleta ainda não está no nível de competição desejado; no momento do retorno, o atleta pode se sentir satisfeito por ter chego a esta etapa e que pode significar um possível sucesso para o indivíduo. Portanto a segunda etapa o atleta se encontra bem em relação ao seu psicológico e também em relação a parte física; essa relação física e psicológica pode ser um fator crucial para o retorno ao esporte em alto nível.
- terceira etapa que consiste no retorno gradual do atleta ao esporte competitivo e que já está atuando no nível da sua pré lesão ou acima; nessa fase, para alguns atletas isso pode significar um crescimento pessoal, profissional no que se refere ao desempenho e também no aspecto mental. Esse sucesso no tratamento, pode ser definido pelo retorno ao esporte competitivo o mais rápido possível. E o sucesso para os médicos, fisioterapeutas pode ser definido pela prevenção de novas lesões ou lesões recorrentes.
O objetivo principal deste trabalho é analisar o caminho do atleta para retornar ao esporte após a lesão de LCA com ou sem reconstrução.
METODOLOGIA
Foi realizada uma revisão de literatura, por meio de uma busca bibliográfica na base de dados sciELO, PubMed, BMJ journals, Medline (BVS) e repositórios com as palavras chave: retorno ao esporte; ligamento cruzado anterior; reconstrução do ligamento cruzado anterior. Em inglês: Return to sport; anterior cruciate ligament; anterior cruciate ligament reconstruction. Foram incluídos estudos de casos, consensos e estudos randomizados de 2012 a 2022, na língua inglesa e portuguesa que dissertavam sobre lesão do LCA e retorno aos esporte pós recuperação. Foram excluídos artigos de revisão bibliográfica, artigos com datas anteriores a 2012, artigos de idiomas que não fossem português, inglês e espanhol e artigos que não continham nenhuma relação direta com o tema.
RESULTADOS
As buscas dessa revisão aconteceram entre os meses de julho a setembro de 2022 nas bases de dados, onde foram selecionados 193 artigos, e após analise nos critérios de inclusão, foram selecionados 11, citados e demonstradas na figura 1.
Figura 1 – Aspectos gerais dos artigos escolhidos
AUTOR/ANO | OBJETIVO | METODOLOGIA | RESULTADOS |
Ghaderi et al. 2021 | Analisar os efeitos de treinamentos neuromusculares com enfoque na biomecânica, propriocepção e função | 24 participantes do sexo masculino, atletas que realizaram a reconstrução de LCA, divididos em 2 grupos, grupo experimental (12) que participaram de um protocolo de treinamento neuromuscular de 8 semanas e o grupo controle (12) que continuou um programa placebo. O grupo experimental recebeu treinamentos de fortalecimento muscular, treino neuromuscular, exercícios pliométricos, treinos de equilíbrio e retreinamento de padrão de movimento. | Os atletas do grupo experimental aumentaram os ângulos de flexão de tronco, quadril e joelho, e diminuição de rotação interna e valgo durante a aterrisagem após o tratamento. Entretanto o grupo controle não evoluiu em nenhum aspecto em relação ao grupo experimental no mesmo período de tempo. |
Qiang Li, 2021 | Explorar o efeito da recuperação nervosa em atletas após a prática de esportes | Foram recrutados para o estudo 35 indivíduos com reconstrução de LCA divididos em dois grupos, grupo controle (17) e grupo experimental (18). Após 6 semanas, o grupo experimental recebeu treinamento isocinético centripeto e excêntrico por 8 semanas enquanto o grupo controle não recebeu nenhum tipo de treinamento | Foi observado que antes do experimento não houve diferenças significativas entre os dois grupos, após o tratamento do grupo experimental, notou-se que a potência absoluta de flexores e extensores de joelho, potência explosiva e resistência muscular aumentou em média 17% em relação ao grupo controle. |
Albano et al. 2017 | Verificar os fatores do retorno do atleta ao nível pré lesão e suas interações em pacientes que realizaram a cirurgia de reconstrução. | O estudo contou com 146 participantes que através de telefonemas, divulgações em mídias sociais que haviam tratado a ruptura de LCA há no mínimo 6 meses e que faziam algum tipo de esporte pelo menos uma vez por semana. No início foi aplicado uma ficha de avaliação e o indivíduo deveria responder se retornou ao esporte ou não. Em seguida os participantes foram convidados a responder dois questionários, realizar uma avaliação de estabilidade postural e a avaliação de força e potência muscular. International Knee Documentation Committee (IKDC) e Anterior Cruciate Ligament – Return to Sport After Injury (ACL-RSI) -é uma escala de medida do impacto psicológico do retorno ao esporte após cirurgia de reconstrução do LCA. | As variáveis mais preditoras foi o questionário de ACL-RSI com notas de corte de 72,85%. O modelo de questionário consegue verificar em 60% das vezes quem não consegue retornar ao esporte. |
Velazquez et al. 2017 | Determinar a intensidade da dor , ADM, estabilidade e melhora da função do joelho adicionando o agulhamento a seco de ponto gatilho(Trp-DN) dos quadríceps associado ao protocolo de reabilitação(Rh) para pacientes com reconstrução de LCA. | Esse estudo incluiu 44 pacientes sub-agudos com reconstrução de LCA. Foram divididos em 2 grupos. Um contou com tratamento do protocolo de reabilitação (Rh) e o segundo grupo com Rh + tratamento com agulhamento a seco. Foram avaliados intensidade, ADM, estabilidade e funcionalidade em A1 (24h), A2 (1 semana) 3 (5 semanas) e A4 (após o primeiro tratamento). | Comparando estatisticamente os dois grupos, a intensidade da dor em A1, melhora da ADM em A1, A2, e A3, e melhora da funcionalidade em A2, A3, A4 foram notadas para ambos os grupos em geral. Nos aspectos restantes não houve mudança significativa. Podemos concluir que o tratamento com agulhamento a seco adicionado ao protocolo de reabilitação foi bom em relação a ganho de ADM a curto prazo e funcionalidade a curto e médio prazo. |
Schmitt et al. 2016 | Investigar o efeito da assimetria de força dos quadríceps na biomecânica da aterrisagem do joelho no momento do retorno do atleta ao esporte pós reconstrução de LCA. | Participaram do estudo 124 indivíduos. Foram divididos em 2 grupos: Grupo ACLR com 77 participantes que estavam retornando ao esporte após a lesão de LCA e e o grupo CTRL (grupo controle sem lesão) que contou com 47 indivíduos. O grupo CTRL foi subdividido em HQ – quadrícepsalto >=90% e LQ – quadríceps baixo <= 85%. Os dados foram coletados durante uma manobra de salto vertical em queda. | O grupo LQ (quadríceps baixo) mostrou pior assimetria em todas as variáveis cinéticas e de força de reação ao solo em comparação com os grupos HQ (quadríceps alto) e o CTRL. Entre os grupos de HQ e CTRC não observou se diferenças nos padrões de pouso em nenhuma variável. Pode se concluir que atletas com quadríceps mais fracos tendem a ter alterações biomecânicas em relação a aterrisagens. Por outro lado, pacientes reconstruídos de LCA parecem ter a mesma capacidade de aterrisagem de um indivíduo não lesionado após o tratamento. |
Lima et al. 2015 | Analisar a força muscular concêntrica de abdução e adição do quadril em atletas pós reconstrução de LCA que terminaram o protocolo de reabilitação e foram autorizados a voltar a praticar esportes. | Foram avaliados 54 atletas, divididos em dois grupos: Grupo LCA (n=27) operados de lesão do LCA e Grupo Controle (n=27) não operados. Foi realizada a dinamometria isocinética dos abdutores e adutores do quadril em duas velocidades, 30 e 60°/seg. | Na avaliação de força e potência muscular dos abdutores do quadril houve maior atividade muscular do lado operado na velocidade de 60º/seg e menor na velocidadede de 30°/seg na comparação com o lado operado. |
Almeida et al. 2014 | Descrever e verificar o efeito do tratamento conservador com a fisioterapia em uma situação em que ambos os joelhos foram lesionados em momentos diferentes. | Foi observada uma paciente mulher com 28 anos de idade, 1,72 m e 62kg que luta muay-thay e joga handebol de forma recreativa mas que participa de competições em ambos os esportes. Sofreu uma lesão de LCA e tratou de forma não cirúrgica, três meses depois lesionou o LCA contralateral e também não houve cirurgia. | Em ambas as lesões não houveram episódios de intercorrências como dores, instabilidades e etc. Após o tratamento foi verificado que as funções musculares e de amplitudes de movimentos estavam normais e houve melhora de forma considerável nas escalas de função do joelho, assim colocando o paciente em situação de retorno ao esporte. |
Santos et al.2014 | Avaliar o índice de retorno à prática do futebol entre atletas amadores submetidos à reconstrução do LCA , utilizando-se como enxerto os tendões semitendíneo e grácil. | Foram avaliados 97 pacientes submetidos à reconstrução do LCA com seguimento mínimo de 2 anos. A avaliação foi feita através da escala de Lysholm e do questionamento direto a respeito do retorno à prática de esportes, com ênfase ao retorno à prática do futebol amador. | 60,8% dos pacientes operados voltaram a jogar futebol. Entre aqueles que não voltaram a praticar futebol, 9,3% continuaram a prática de outros esportes, sem que este fato estivesse relacionado com a lesão do joelho e 11,4% pararam de praticar esportes, relacionando o abandono da prática diretamente a sintomas no joelho operado. Um grande número (18,5%) de pacientes informou que não retornou ao futebol devido a variadas causas relacionadas a fatores psicológicos tais como: perda de motivação, medo de uma nova lesão e mudança de estilo de vida. |
Villa et al. 2012 | Descrever o processo de recuperação e o tempo para atingir os resultados clínicos e objetivos funcionais em uma população de jogadores de futebol após LCA cirurgia reconstrutiva seguindo uma reabilitação específica protocolo focado na fase final do esporte funcional | Participaram do estudo 50 jogadores de futebol competitivos que seguiram um protocolo de reabilitação esportivo específico para o futebol foram avaliados durante o período de recuperação até o retorno à competição. A avaliação dos resultados funcionais foi realizada por meio da Knee Outcome Survey-Sports Activity Scale e testes de aptidão isocinética e aeróbica. | O início médio da reabilitação em campo foi de 90 ± 26 dias após a cirurgia; o tempo médio de retorno às competições foi de 185 ± 52 ?????dias. A melhora no Knee Outcome Survey-Sports Activity Scale durante a reabilitação em campo foi significativa. Os testes de aptidão isocinética e aeróbica mostraram uma melhora significativa da força muscular (extensores do joelho, flexores do joelho, e limiar aeróbico, a partir do início ao fim da reabilitação em campo. |
Pedersen et al. 2022 | Investigar a proporção de pacientes por meio de uma bateria de testes em relação ao retorno ao esporte e observar os resultados após um tratamento de 3 meses em pacientes que lesionaram o LCA e não fizeram a reconstrução do ligamento. | O estudo contou com 39 pacientes, sendo 54% do sexo feminino e idade média de 28 anos. O estudo aconteceu no período entre 2016 e 2019 na Dinamarca. Os participantes realizaram testes compostos por exercícios de MMSS, treinos proprioceptivos e o questionário (KOOS) Knee Lesion and Osteoarhritis Outcome Score que visa avaliar dor, sintomas, qualidade de vida e funções nos esportes. Esses testes se baseiam em testes de força muscular e testes de saltos. | Os resultados mostraram que após 3 meses de tratamento em pacientes não reconstruídos, foi observado uma melhora estastisticamente significativa em dores, funções diárias e na função esportiva, porém de modo recreativo. Notou se uma melhora também na força de quadríceps e isquiotibiais. Porém, apenas 1 entre 10 participantes passaram em todos os testes realizados. |
Diaz et al. 2020 | Analisar os resultados da cirurgia de LCA com preservação remanescente em comparação com a técnica convencional do retorno do atleta ao nível de atividade pré-lesão. | Foram incluídos 83 pacientes adultos com idade superior a 18 no período entre 2010 e2014. 34 pacientes realizaram a cirurgia com a preservação do remanescente e 49 a reconstrução convencional. Foram observados por 4 anos e 2 meses. | Não houve diferença em relação a característica demográfica. Em relação ao retorno ao esporte não houve diferença considerável entre os grupos. Em relação a frequência de atividades físicas não houve diferença. Porém houve em geral uma diminuição de atividade física entre os dois grupos. O esporte mais praticado entre os pacientes foi o futebol. Dos 44 pacientes que praticavam o futebol. 25 eram do grupo de remanescente e 19 da cirurgia convencional. Após o tratamento e acompanhamento em 4,2 anos,18 pacientes do grupo remanescente retornaram ao futebol comparado a 10 pacientes do grupo de cirurgia convencional. Porém não houveram diferenças estatísticas entre os dois grupos. |
DISCUSSÃO
O ligamento cruzado anterior (LCA) é uma das estruturas responsáveis pela estabilidade do joelho, e pode ser lesado por meio de movimentos de pivô, corte, salto e desaceleração, para Pedersen et al. (2022) os treinos baseados em saltos, propriocepção, equilíbrio e treinamento de força muscular principalmente de isquiotibiais e quadríceps, são importantes também nos pacientes que lesam o LCA mas não realizam a reconstrução, ou seja, a simetria/equilíbrio muscular é benéfica; porém, em seu estudo, a taxa de pacientes que passaram nos testes e retornaram as atividades esportivas é muito pequena, um a cada dez pacientes conseguiram passar em todos os testes. Em contrapartida, Almeida et al. (2014) verificou que o retorno ao esporte no nível pré-lesão é possível, nesse caso o paciente recebeu tratamento de fortalecimento muscular de membros inferiores (MMII), treinos pliométricos, de estabilidade articular, e treinamento de core que pode ser um importante auxílio na prevenção de novas lesões, segundo os autores, quando há um core definido, os riscos de lesões no joelho diminuem. Entretanto o estudo contou com apenas uma paciente, e desta forma é importante não generalizar essa recuperação a outros pacientes, necessitando de mais estudos. Porém, houve resultados benéficos, reafirmando a teoria de que um paciente com LCA rompido pode retornar as atividades esportivas sem precisar de intervenção cirúrgica.
Diaz et al. (2020) observaram a comparação dos resultados nos pacientes com reconstrução com fibras remanescentes do ligamento em relação a técnica convencional de cirurgia. No estudo não foi observado nenhuma diferença significativa entre os grupos no que diz respeito ao retorno ao esporte. Os autores conseguiram concluir que a taxa de retorno ao esporte diminuiu nos dois grupos. Porém, nos atletas que praticavam futebol, 72% do grupo de remanescentes retornaram ao esporte e 52% do grupo sem fibras remanescentes também retornaram. Apesar da taxa diminuída nos esportes em geral, no futebol, essa porcentagem de retorno é considerada significativa. Os autores sugeriram mais estudos para resultados melhores.
Schimitt et al. (2016) mostraram em sua pesquisa com mais participantes com LCA reconstruídos, que a força de quadríceps é crucial para o atleta, reafirmando a importância do grupo muscular, mas em uma situação em que há reconstrução de ligamento, ou seja, mostrando que os extensores de joelho são de suma importância nos joelhos com ligamento rompido, sejam eles reconstruídos ou não. Se o quadríceps estiver em um grau de força alto, ele terá, menos chance de se lesionar novamente durante a prática do esporte, caso contrário, se o atleta estiver em um grau de força de quadríceps baixo, o risco aumenta, principalmente durante o sétimo ao décimo segundo mês pós recuperação, de acordo com Velázquez et al. (2017) que também quiseram mostrar a importância de se trabalhar os músculos quadríceps em conjunto com a técnica de agulhamento a seco, onde observou se o aumento do arco de movimento a curto prazo e a melhora da funcionalidade a curto e a médio prazo. Tornando uma parte importante ao tratamento focado no retorno ao esporte.
Ao aplicar o questionário aplicado Anterior Cruciate Ligament – Return to Sport After Injury Albano et al. (2017) mostraram outro fator importante de retorno ao esporte é o psicológico, quando o atleta tem uma resposta positiva em relação ao fator psicológico, as chances de retornar aumentam em comparação a atletas que não respondem positivamente ao fator psicológico, de acordo com Santos et al. (2014), a incidência de retorno ao esporte, principalmente no futebol que é um dos esportes mais praticados, foi muito baixa, o que mais pode ter influenciado nesse resultado é o fator psicológico, quando há uma desconfiança, há um medo, e até falta de tempo, para amadores, esse retorno pode ser adiado ou pode nem haver um retorno as atividades esportivas; para Villa et al. (2012) o fator psicológico também é importante, no que diz respeito ao físico, os jogadores que foram submetidos ao protocolo de recuperação em campo com supervisão de profissionais tiveram mais facilidades para retornar ao esporte. Esse protocolo visa uma recuperação bem sucedida e que ajude os atletas a lidarem com a parte emocional, o medo, a insegurança, reafirmando o componente mental mais uma vez como um dos fatores determinantes para o retorno.
Outro fator a considerar segundo Quiang Li et al. (2021) é o treino neuromuscular, a potência, e resistência muscular, pois são fatores importantes de retorno ao esporte; os treinos isocinéticos parecem melhorar de forma significativa a potência, resistência e força explosiva do atleta de modo geral, foi observado na pesquisa que nos treinos isocinéticos houve mais efeito em extensores de joelho do que em flexores, ou seja, o efeito de equilíbrio muscular entre extensores e flexores não aconteceu. Por outro lado, Lima et al. (2015) mostrou como o treino isocinético pode ser importante para obter o equilíbrio em musculaturas agonistas e antagonistas, quando estudou adutores e abdutores; portanto, a comparação entre os dois estudos mostrou que, quando há um desequilíbrio muscular principalmente em grupos musculares grandes, a chance dos atletas se lesionarem novamente aumentam.
Ghaderi et al. (2021) também observaram que os treinos neuromusculares, exercícios pliométricos, treinos de equilíbrio e retreinamento de padrões de movimentos podem ser benéficos na reabilitação, podem ser um grande aliado para melhora nos testes de salto, pois os atletas aumentaram os ângulos de flexão de tronco, quadril e joelho, e diminuíram rotação interna e valgo de joelho durante a aterrisagem após o tratamento. Os testes de salto com as correções feitas melhoraram e possibilitam evitar recidivas de lesões.
Yaqing et al (2022) mostraram em seu estudo que o treinamento motor funcional pode contribuir para a recuperação total do joelho, melhorando a estabilidade articular, força muscular, propriocepção e equilíbrio. Dentro desse contexto, o autor conseguiu grandes resultados usando o treinamento funcional e o controle neuromuscular como parte da reabilitação, desse modo, os pacientes puderam conseguir uma diminuição do tempo de recuperação; o estudo fortaleceu a importância do treinamento de força, controle neuromuscular e treinamento funcional para os pacientes que desejam retornar as atividades esportivas.
CONCLUSÃO
Diante do exposto, pode se observar que o aspecto emocional é um grande fator para o atleta retornar ao esporte após a lesão, a insegurança, o medo pode atrapalhar, mas não é o único fator. Embora a fisioterapia esportiva conte cada vez mais com ferramentas e tecnologias que auxiliam o profissional, ainda há na literatura cientifica divergências que determinam os critérios de alta e retorno ao esporte, o que aponta para a necessidade de mais estudos com esse objetivo.
REFERÊNCIAS:
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1Discente do curso de Fisioterapia do Centro Universitário Sudoeste Paulista, UNIFSP, Avaré-SP
2Docente do curso de Fisioterapia do Centro Universitário Sudoeste Paulista, UNIFSP, Avaré-SP