RETORNO AO ESPORTE EM LESÕES NO OMBRO EM ATLETAS DE VÔLEI

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Dr. Vinícius Soares Santos (RJ)

Graduação em Fisioterapia na PUC-Campinas; Mestre em Ciências da Reabilitação na UNISUAM-RJ; Especialização em Fisioterapia Musculoesquelética na Santa Casa-SP; Especialista em Fisioterapia Esportiva pela SONAFE; Fisioterapeuta das seleções brasileiras masculinas de vôlei de 2013 a 2018; Fisioterapeuta e sócio fundador da clínica VINCI Fisioterapia

CONTEXTUALIZAÇÃO:

O vôlei tem uma alta demanda do membro superior, principalmente o ombro nos movimentos de ataque. É considerado um esporte de arremesso pela característica do movimento de ataque, com rotações ocorrendo em velocidades próximas a 800º/seg. Portanto adaptações biomecânicas nessa articulação, além de sobrecarga em tendões, cápsula e músculos ocorrem. Uma avaliação pré-temporada é de suma importância para identificação de fatores de risco e desenvolvimento de um programa individual para cada atleta, objetivando prevenção ou atenuação dos fatores que podem aumentar o risco de lesão.

Apesar da incidência baixa de lesões no esporte, o ombro é a 3ª articulação mais lesionada no vôlei, sendo a 1ª no ranking de tempo de afastamento por lesão. Na presença de lesão, o processo de reabilitação envolve recursos para alívio de dor e uma nova avaliação para detecção de alterações comparado a avaliação inicial. Possíveis causas são alterações como aumento brusco de volume de ataques, déficit de força de rotadores externos de ombro (fase excêntrica principalmente, com dinamômetro isométrico ou isocinético), presença de discinese escapular (através de avaliação de movimento com elevação do braço com carga), redução da mobilidade de ombro (rotação interna principalmente, com inclinômetro ou goniômetro), testes funcionais deficitários, entre outros fatores.

DESENVOLVIMENTO:

Entre os testes funcionais descritos na literatura para retorno ao esporte, encontramos diversos, entretanto os mais utilizados são o CKCUEST, Y Balance Test de membro superiores e arremesso de medicine ball na posição sentada. Já englobando os outros fatores citados acima encontramos os psicossociais (questionários), mobilidade torácica (inclinômetro ou goniômetro), estabilidade CORE (testes de resistência muscular) para melhor transmissão de forças por meio da cadeia cinética e retração de peitoral menor.

Após a identificação dos fatores que provavelmente estão interferindo na causa dessa lesão, uma relação entre eles é traçada e as abordagens específicas para atenuá-los se inicia. Um trabalho inicial envolvendo recursos para analgesia como terapia manual e eletrotermofototerapia, ativação muscular com contrações isométricas de rotadores externos, exercícios de fortalecimento de cintura escapular e exercícios em cadeia cinética fechada para sinergismo entre músculos do manguito e cintura escapular em conjunto, podem ser iniciados caso não haja dor durante a execução. Além disso, superfícies instáveis como bolas suíças, discos e bastões podem ser inseridos desde o início, com aumento progressivo da demanda e complexidade dos exercícios com esses dispositivos.

Com evolução adequada dos exercícios de força e mobilidade, iniciam-se exercícios pliométricos e de dupla tarefa, podendo esta ser uma estratégia para automatização de padrões de movimento, se o objetivo for otimizar controle motor. Não esquecendo da interdisciplinaridade em todas as fases do processo, tanto com técnicos, quanto principalmente com o educador/preparador físico, para controle de carga e atuação nos outros segmentos do corpo que contribuirão para melhor transmissão de força e dissipação de energia.

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Por fim, reavalia-se o atleta por meio de testes de força, mobilidade, testes funcionais, questionários, e compara-se com a avaliação inicial ou com a última feita (no caso de ter havido alguma reavaliação durante o tratamento). Aumenta-se a exposição gradual em gestos com demanda maior para o ombro, tanto na quantidade de vezes, quanto na intensidade dos saques ou ataques, preconizando a manutenção dos exercícios propostos mesmo após o retorno.

LEITURA COMPLEMENTAR:

Ardern CL, Glasgow P, Schneiders AG, Witvrouw E, Clarsen B, Cools AM, Gojanovic B, Griffin S, Khan K, Moksnes H, Mutch S, Phillips N, Reurink G, Sadler R, Gravare Silbernagel K, Thorborg K, Wangensteen A, Wilk K, Bizzini M. Infographic: 2016 Consensus statement on return to sport from the First World Congress in Sports Physical Therapy, Bern. Br J Sports Med. 2017 Jul;51(13):995. doi: 10.1136/bjsports-2016-097468.

Bittencourt NFN, Meeuwisse WH, Mendonça LD, Nettel-Aguirre A, Ocarino JM, Fonseca ST. Complex systems approach for sports injuries: moving from risk factor identification to injury pattern recognition-narrative review and new concept. Br J Sports Med. 2016 Nov;50(21):1309-1314. doi: 10.1136/bjsports-2015-095850.

Cools AM, Vanderstukken F, Vereecken F, Duprez M, Heyman K, Goethals N, Johansson F. Eccentric and isometric shoulder rotator cuff strength testing using a hand-held dynamometer: reference values for overhead athletes. Knee Surg Sports Traumatol Arthrosc. 2016 Dec;24(12):3838-3847. doi: 10.1007/s00167-015-3755-9.

Kibler WB, Ludewig PM, McClure PW, Michener LA, Bak K, Sciascia AD. Clinical implications of scapular dyskinesis in shoulder injury: the 2013 consensus statement from the \’Scapular Summit\’. Br J Sports Med. 2013 Sep;47(14):877-85. doi: 10.1136/bjsports-2013-092425.

Wilk KE, Macrina LC, Fleisig GS, Porterfield R, Simpson CD 2nd, Harker P, Paparesta N, Andrews JR. Correlation of glenohumeral internal rotation deficit and total rotational motion to shoulder injuries in professional baseball pitchers. Am J Sports Med. 2011 Feb;39(2):329-35. doi: 10.1177/0363546510384223.

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