RESULTADOS PERINATAIS DE ROTURA PREMATURA PRÉ-TERMO DE MEMBRANAS: IMPORTÂNCIA DA ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7187063


Autora:
Gisele Pereira Viana Aguiar


RESUMO

Esta pesquisa teve como objetivo perceber a importância do pré-natal visando melhores resultados perinatais dos recém-nascidos (RN) de mulheres que apresentaram Rotura Prematura Pré-Termo de Membranas (RPPM), internadas no Hospital Municipal Esaú Matos (HMEM), município de Vitória da Conquista/BA. Para viabilizar a pesquisa foram utilizadas fontes teóricas e pesquisa de campo, esta última realizada no Serviço de Atendimento Médico e Estatístico (SAME) da referida instituição. De acordo com as variáveis de investigação, este estudo se classifica, quanto aos procedimentos técnicos, como documental, já quanto aos objetivos, é exploratória e descritiva e, de acordo com a natureza, quantitativa. A amostragem utilizada foi a não probabilística por conveniência, tendo como instrumento de coleta de dados um formulário. Foram avaliados 67 prontuários de RNs internados na UTI e Semi-intensiva, dentre esses, 22 eram egressos de gestações com RPPM, onde foram observadas que as gestantes com rotura eram, em sua maioria, adolescentes e que haviam realizado todas as consultas preconizadas pelo Ministério da Saúde. Concluiu-se que a taxa de mortalidade foi elevada, o que remete a uma reflexão sobre os vários fatores que influenciam para esses resultados, que não são apenas biológicos, mas também, socioeconômicos e culturais, bem como fatores de assistência à saúde.

PALAVRAS-CHAVE: Rotura pré-termo de membranas; Atuação do enfermeiro; Resultados perinatais.

INTRODUÇÃO

A gestação é um momento marcante na vida da mulher, sendo um período em que ocorrem diversas mudanças, tanto físicas como emocionais, esperadas para esse momento. No entanto, por conta de diversos fatores, a gestante pode apresentar intercorrências, como a Rotura Prematura Pré-termo de Membranas (RPPM) que traz sérias consequências à parturiente, feto e neonato. Nestes casos, as condutas assistenciais oferecidas às gestantes são imprescindíveis, pois contribuirão para reduzir os índices de morbimortalidade materna, fetal e dos recém-nascidos (RNs), que devido a RPPM são prematuros, de muito baixo peso e apresentam complicações físicas, principalmente, neurológicas. No intuito de melhores resultados frente a essa ocorrência, a assistência de enfermagem prestada para essa gestante deverá ser tanto preventiva como terapêutica.

Percebe-se, durante a experiência vivida como acadêmica de enfermagem, em estágio no setor de obstetrícia do Hospital Municipal Esaú Matos (HMEM), que vários RNs nascem prematuros, sendo uma das principais causas a RPPM. Sabe-se que a assistência prestada a qualquer paciente, como também neste caso, a equipe de enfermagem é fundamental para um bom resultado ou prognóstico, então, diante do importante papel dessa equipe e especificamente do enfermeiro surgiu a seguinte indagação: Qual a importância da atuação do enfermeiro nos resultados perinatais do RN, das gestantes que apresentaram RPPM?

A realização desta pesquisa vem evidenciar a importância da busca e disseminação dos conhecimentos a respeito desta temática, pelo enfermeiro, como também a utilização desse conhecimento adquirido, na execução de um pré-natal de qualidade, o que viria a evitar ou minimizar várias das prováveis sequelas aos RNs prematuros, provenientes da RPPM. A assistência da equipe multiprofissional, enfatizando aqui a de enfermagem, deve ser bem específica e conduzida da melhor maneira possível, propiciando assim, diminuição da incidência supracitada.

Diante do exposto, formulou-se como objetivo perceber a importância do pré-natal, visando melhores resultados perinatais dos RNs das mulheres que apresentaram RPPM, internadas no Hospital Municipal Esaú Matos (HMEM), em Vitória da Conquista-BA. Para tanto, identificou-se a incidência de RPPM das mulheres internadas no referido hospital, as principais consequências das roturas prematuras pré-termo de membranas para os RNs, discorrendo sobre a assistência preventiva e terapêutica voltada a esta patologia.

1. REFERENCIAL TEÓRICO

1.1 ROTURA PREMATURA DAS MEMBRANAS E ROTURA PREMATURA PRÉ-TERMO DAS MEMBRANAS

A Rotura Prematura das Membranas (RPM) é definida como a rotura que ocorre espontaneamente com as membranas amnióticas após a 20ª semana de gestação e antes do início do trabalho de parto. A ruptura das membranas amnióticas antes de 20 semanas de gravidez pode provocar o quadro de abortamento inevitável, e quando essa rotura ocorre antes do termo, entre 20 a 37 semanas, é classificada como Rotura Prematura Pré-termo das Membranas (RPPM) (CORRÊA JR., 2007).

É relevante destacar que vários autores nomeiam essa intercorrência da gestação de formas diferentes. Para Belfort (2005), é a Amniorexe Prematura (AP); para Silva e Nomura (2006), Rotura Prematura de Membranas pré-termo (RPM-PT), sendo importante abordar que tanto a RPM com a RPPM são caracterizadas pelo rompimento das membranas (cório e âmnio), só que em idades gestacionais distintas.

A classificação do período das gestações ocorre da seguinte forma: gravidez pré-termo é aquela cuja idade gestacional encontra-se entre 22 e 37 semanas. A gestação prolongada, também referida como pós-datismo, é aquela cuja idade gestacional encontra-se entre 40 e 42 semanas e ainda a gravidez pós-termo, sendo a que ultrapassa 42 semanas de gestação. Já o abortamento, é a morte ou expulsão ovular ocorrida antes de 22 semanas de gestação ou quando o concepto tem peso inferior a 500g, sendo o abortamento precoce ocorrido até a 13ª semana e o tardio 13ª e 22ª semanas (BRASIL, 2006).

Em grande parte da RPPM, o âmnio e o cório se rompem ao mesmo tempo, isto ocorre pela forte aderência de ambas as membranas, com a camada esponjosa que os une, acarretando saída nítida e abundante de líquido amniótico pela vagina. Quando a rotura acontece a termo, a camada esponjosa, por gelatinização, permite o deslizamento do âmnio sobre o cório e ao dilatar-se o colo do útero acaba rompendo o cório que não consegue mais se estender por estar aderido à decídua e, posteriormente, ocorre o rompimento do âmnio (BELFORT, 2005).

Para Silva e Nomura (2006, p.366) “a RPM é comprovadamente situação clinica sem retorno, uma vez que não se tem notícia de cicatrização da membrana espontânea ou induzida artificialmente”.

De acordo com Montenegro e Rezende Filho (2010), a RPM no termo é, em sua maioria, acompanhada pelo início rápido do parto, 90 a 95% dentro de 24horas. Ocorre também o risco de infecção materna se o tempo de rotura for grande, existindo também risco de infecção fetal pela via ascendente. Já na RPPM com tratamento expectante, a paciente entra em trabalho de parto em uma semana e, quanto menor for a IG, maior será o período de latência (período entre a ruptura e o parto).

1.2 EPIDEMIOLOGIA, FATORES DE RISCO E PRINCIPAIS CAUSAS DA RPPM

De acordo com Fonseca (2007), a incidência da RPM é de aproximadamente 10%, dos quais, cerca de 7% a 8% ocorrem em gravidez a termo, e, 2% a 3% por RPPM, estando relacionada com um terço dos partos prematuros.

A RPPM é responsável por 30% a 40% dos partos prematuros, sendo uma relevante causa para a elevação de morbimortalidade neonatal. Tanto o feto quanto a gestante tem alto risco de infecção, sendo que a incidência geral da infecção intra-amniótica é de 0,7% a 1%, mas, na RPM, eleva-se para 3% a 15%, variando de 15% a 25% nos partos pré-termos. Na RPPM, a incidência de hipóxia e asfixia também é elevada, correspondendo a aproximadamente 8,5%, enquanto que de maneira geral é de 1,5% dos casos (FONSECA, 2007).

Silva e Nomura (2006, p. 362) também afirmam que:

A RPM-PT (Rotura prematura de membranas pré-termo) ocorre em cerca de 3% de todas as gestações, mas é responsável por até um terço (30-40%) de todos os partos pré-termo, contribuindo com 20% das mortes perinatais no período. (SILVA; NOMURA, 2006, p. 362).

Vários fatores estão associados ao aumento do risco da RPM, como por exemplo: tabagismo, alcoolismo, trabalho de parto pré-termo, RPM prévios, sangramento genital, insuficiência cervical, vaginose bacteriana, útero distendido devido a macrossomia, gemelaridade ou polidrâmnio, procedimentos invasivos como a realização de biópsia de vilo corial, amniocentese, cordocentese, deficiências nutricionais principalmente devido a vitamina C e doenças maternas como a drepanocitose (CORRÊA JR., 2007).

Para Corrêa (1994), os fatores que podem contribuir para desencadear a RPPM são antecedentes gestacionais e ginecológicos, fatores relacionados ao tipo de assistência pré-natal, condições demográficas e socioeconômicas, fatores iatrogênicos, os traumatismos de qualquer natureza, principalmente quando atingem diretamente o abdome da gestante, pois podem provocar contrações uterinas, deslocamento  prematuro  de  placenta,  fatos  esses  que,  direta  ou  indiretamente contribuem para o parto pré-termo.

Diante de todos esses fatores de risco citados acima, Silva e Nomura (2006) afirmam que os fatores de risco para RPM podem ser didaticamente considerados como remediáveis e irremediáveis. Entre os fatores irremediáveis estariam as cervicovagenites; a incompetência istmocervical; o tabagismo; os procedimentos semiológicos pré-natais, como a amniocentese e biópsia do vilo coriônico, o coito, a deficiência de vitamina C e exames cervicais repetidos. E entre os irremediáveis estariam os antecedentes de RPM, sangramento vaginal, patologias placentárias, antecedentes de cirurgias prévias, poliidrâmnio e gemelidade.

Quanto às causas, Corrêa Jr. (2007) e Fonseca (2007) relatam que as principais causas da RPM são a infecção e a atividade inflamatória nas membranas, pois é visto que em até 70% dos casos, a infecção pode ser comprovada histologicamente, sendo que as bactérias produzem enzimas como proteases, colagenases e elastases que atuam sobre as membranas e este acontecimento desencadeiam o enfraquecimento e à rotura das mesmas, além do que, vários são os marcadores inflamatórios que estão presentes no líquido amniótico, sendo destacado as interleucinas 6 e 8.

As infecções por Trichomonas vaginalis, Neisseria gonorrhoeae, Chlamydia trachomatis e estreptococos do grupo B, assim com bacteriúria assintomática, vaginose bacteriana e infecções do trato urinário, associam-se ao parto prematuro, sendo recomendado nesses casos, uma triagem mais ativa e tratamento para esses distúrbios durante a gestação, bem como em mulheres que anseiam engravidar (LANDY, 2007).

Muitas das causas relacionadas à prematuridade já estão presentes antes da gravidez e, portanto, a abordagem pré-concepcional é de suma importância. A avaliação pré-gestacional das condições físicas, psíquicas e sociais visa detectar possíveis riscos para a futura gestação, tais como os relacionados com a idade materna (adolescente ou idosa), quadros infecciosos, situações de estresse, uso de drogas, medicamentos, desvios nutricionais, entre outros (BITTAR; ZUGAIB, 2006).

Para Yazlle e Patta (2000), deve ser dada uma atenção especial ao pré-natal das adolescentes, sendo observado que os resultados gestacionais neste grupo de gestantes são insatisfatórios, com altas taxas de recém-nascidos prematuros e PIG (pequenos para idade gestacional). Quando os cuidados pré-natais são ofertados de forma precoce às adolescentes grávidas, percebe-se uma diminuição importante das complicações gestacionais e, como resultado, um aumento no número de RNs saudáveis.

2. METODOLOGIA

De acordo as variáveis de investigação, este estudo se classifica quanto aos procedimentos técnicos como documental, já quanto aos objetivos exploratória e descritiva, e de acordo a natureza quantitativa.

A pesquisa ocorreu no Hospital Municipal Esaú Matos (HMEM) e a coleta de dados foi realizada no Serviço de Atendimento Médico e estatística (SAME). O Hospital tem como mantenedora a Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista e atende ao município e macrorregião sudoeste, sendo referência regional no atendimento às gestações de alto risco. A unidade tem sua assistência voltada para atenção materno-infantil e atende diversas áreas como: cirurgia geral e ginecologia; clínica geral e neonatologia, UTI neonatal e unidade intermediária neonatal, além de obstetrícia clínica e pediatria cirúrgica (BRASIL, 2011).

Utilizou-se para coleta dos dados um formulário que norteou os requisitos analisados, por meio do livro de registro de internação dos RNs na UTI e Semi-intensiva, ficha de internação obstétrica e partograma, evolução clínica, histórico de enfermagem em neonatologia e prontuários da parturiente e do recém-nascido.

O formulário foi composto por informações referentes às iniciais da mãe, idade, idade gestacional, informação sobre a existência de RPPM e o tempo decorrido da ocorrência, sobre consulta pré-natal, antecedentes obstétricos, tipo de parto, peso do RN ao nascer, APGAR e uso de O2, diagnóstico médico do RN e alterações apresentadas por este. Estes dados, referentes as mulheres que pariram nos meses de janeiro e fevereiro de 2012, encontram-se arquivados no SAME do hospital em estudo, tendo a coleta sido realizada nos dias 14, 15 e 16 de maio de 2012.

A amostragem foi não probabilística por conveniência aquela em que a seleção dos elementos da população para compor a amostra depende, ao menos em parte, do julgamento do pesquisador ou do entrevistador no campo (OLIVEIRA, 2000).

Durante a coleta de dados foram descartados os prontuários dos RNs com IG > 37 semanas e < de 22 semanas, como também aqueles que relatavam outras patologias além da RPPM, pois estes não interessavam a essa pesquisa. Após levantamento dos dados, os mesmos foram analisados, tabulados e consolidados, por meio de tabelas, gráficos e quadros, em seguida formulados na planilha Microsoft Excel 2007 e Microsoft Word 2007, para serem analisados e discutidos.

A pesquisa foi realizada respeitando a resolução n° 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), sendo realizada a coleta dos dados com a liberação do núcleo interno de educação científica do Hospital em estudo, que ocorreu após assinatura do Termo de Consentimento e Anuência do Gestor.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com base nos registros do SAME do HMEM, ocorreram 647 partos nos meses de janeiro a fevereiro de 2012. Desses, 67 foram para UTI e SI e 22 prontuários se encaixaram nos critérios de inclusão da pesquisa sobre Rotura prematura pré-termo de membranas. Conforme dados da Tabela 1, observa-se que dos 647 (100%) partos ocorridos nos meses de janeiro a fevereiro de 2012, 67 (10%) foram partos dos quais os RNs tiveram que ficar internados na UTI e SI, com algum tipo de complicação. Desses 67 internados, 22 (3%) eram RNs egressos de gestações com RPPM.

Extratificando ainda mais os dados, podemos observar na Figura 1, que dos 67 (100%), 22 RNs internados correspondiam a 33% e os 45 RNs que estavam internados por outras causas correspondiam a 67%.

Concernente a incidência de Rotura Prematura Pré-termo de Membranas, Silva e Nomura (2006) afirmam que pode ocorrer em aproximadamente 3% de todas as gestações, mas é responsável por até um terço (30-40%) de todos os partos pré-termo, contribuindo com 20% das mortes perinatais no período. O descrito pelos autores acima confirma a incidência apresentada no hospital em estudo, conforme dados apresentados na Tabela 1 e Figura 1.

A idade materna variou de 15 a 36 anos (Figura 2), sendo que, a maior parte eram de mães adolescentes, com idade entre 15 a 22, correspondendo a 64% da amostra, de 23 a 30 anos correspondeu a 9% e 31 a 36 anos correspondeu a 27%. Fica demonstrado, a partir do percentual apresentado, que houve uma elevada taxa de mães adolescentes.

Para Yazlle e Patta (2000), deve ser dada uma atenção especial ao pré-natal das adolescentes, uma vez que se observa que os resultados gestacionais neste grupo de gestantes são insatisfatórios, com altas taxas de recém-nascidos prematuros e PIG (pequenos para idade gestacional). Quando os cuidados pré-natais são ofertados de forma precoce às adolescentes grávidas, percebe-se uma diminuição importante das complicações gestacionais e, como resultado, um aumento no número de RNs saudáveis.

Quanto aos antecedentes obstétricos ou paridade percebe-se que primigestas, correspondem a 36,4% (8), secundigesta 27,2% (6), e multigestas 36,4% (8), como demonstrado na Figura 3. Corrêa (1994) relata que apresentam maior risco de RPPM as gestantes multíparas, em especial as que têm prévio histórico de rotura pré-termo. Contudo, a despeito do que afirma o referido autor, os dados coletados surpreenderam ao apresentar mesma porcentagem nas primigestas.

Conforme a Figura 4, em relação à idade gestacional observou-se a ocorrência de RPPM, em 27% (6) com IG de 22 a 28 semanas, 27% (6) com IG 28 a 32 semanas, e 45% (10) com IG de 32 a 37 semanas.

O corte das semanas foi baseado na abordagem de Kierse (apud CORRÊA; CORRÊA JR., 2005) que propôs pontos de corte em 28, 32 e 37 semanas de gestação, classificando como parto pré-termo o ocorrido com menor de 37 semanas de gestação; pré-termo moderado entre 32 e 36 semanas; muito pré-termo de 28 a 32 semanas incompletas; pré-termo extremo, menor que 28 semanas.

Percebe-se, no entanto, pela Figura 4 (acima), que a grande parte das roturas ocorreram em idades gestacionais entre 32 a 37 semanas, sendo estas mais próximas ao termo. De acordo com Lopes (2007), os RNs que nascem abaixo de 30 semanas correm um risco mais elevado de problemas respiratórios, uma vez que o feto só alcança a maturidade pulmonar por volta da 35ª semana de gestação. Apesar disso, a partir da 22ª semana o feto humano já apresenta estruturas pulmonares aptas a realizar trocas gasosas e produzir fosfolipídios com capacidades surfactantes, com isso pode-se compreender que as modificações anatômicas, histológicas, citológicas e bioquímicas que vão ocorrendo gradativamente no pulmão fetal sejam capazes de permitir ao RN prematuro a possibilidade de sobreviver no ambiente extrauterino.

Com relação ao pré-natal, na Figura 5 observa-se que 86% (19) realizaram pré-natal e 14% (3) não realizaram nenhuma consulta. Landy (2007 p. 184) afirma que: “A ausência de assistência pré-natal está fortemente associada a taxas mais altas de parto pré-termo, baixo peso ao nascer e mortalidades materna e infantil”. Sendo assim, é de suma importância a realização do mesmo, pois é através deste acompanhamento que são realizadas todas as condutas preventivas e terapêuticas da gestação.

Ao avaliar o número de consultas realizadas pelas gestantes verifica-se, através da Figura 6, que 16% (3) das mães realizaram menos de 3 consultas, que 63% (12) realizaram de 3 a 5 consultas e 21% (4) realizaram 6 ou mais consultas.

É interessante salientar que o Ministério da Saúde preconiza, no mínimo 6, consultas de pré-natal durante a gestação (BRASIL,2006).

Através da figura 7, observa-se que a porcentagem de partos normais foi muito maior do que partos cesáreos, sendo 91% (20) partos normais e 9% (2) partos cesáreos.

Santos et al. (2006) argumentam que já foi abordado por diversas pesquisa que, do ponto de vista materno, o parto por via baixo possui menor risco de endometrite, além de outras complicações frequentes na cesariana. Na amniorexe prematura (AP), entretanto, a progressão para um quadro infeccioso pode comprometer seriamente o concepto, sendo necessário analisar os riscos e benefícios, tanto maternos quanto fetais.

A passagem da criança pelo canal do parto tem uma função importante, pois seu estreitamento auxilia o bebê no processo de instalação da respiração pulmonar. A cesariana, contudo, é a melhor opção nos partos em que o sofrimento fetal (a falta de oxigenação adequada) põe em risco a vida da criança ou quando existem problemas obstétricos, tais como a desproporção cefalopélvica (SANTOS et al., 2006). Daí a importância de avaliar e optar por uma via de parto que resulte em menores complicações para mãe e concepto.

Quanto ao peso do recém-nascido, a Figura 8 demonstra que 9% dos RNs pesavam mais de 2.500g, 68% apresentaram de 1.000 a 2.500g e 23% dos RNs tiveram menos de 1.000g.

Corrêa e Corrêa Jr. (2005) destacam a necessidade de se considerar além da IG uma outra categoria de recém-nascidos, o que causa frequente confusão com o termo prematuridade, que são os de baixo peso ao nascer.

Conforme Freitas et al. ( 2000):

Classifica-se como recém-nascido de baixo peso aquele que, ao nascer, pesa entre 1.000 e 2.500 gramas,de muito baixo peso aquele que, ao nascer, pesa entre 1.000 e 1.500 gramas e de elevado baixo peso ao que pesa menos de 1.000 gramas. (FREITAS et al., 2000, p. 131).

Conclui-se então, a partir da classificação de Freitas et al. (2000), que dentre os bebês avaliados a grande maioria eram RNs de baixo peso ao nascer. Interessante relatar que a RPPM não tem qualquer relação com o peso, ou seja, o baixo peso observado não é uma consequência direta da RPPM. Infere-se deste modo que o baixo peso dos RNs está relacionado apenas à prematuridade, mas que por sua vez, nestes casos, é oriunda da RPPM.

Quanto aos diagnósticos dos RNs (Tabela 2), os prontuários continham diagnósticos médicos de Prematuridade nos 100% (22) dos internados e, associados a prematuridade, a Sepse precoce em 63% (14), como também a doença da membrana hialina em 9% (2). Já quanto as alterações, 100% (22) dos recém-nascidos cursaram com DRP (Desconforto Respiratório Precoce), 32% (7) tiveram associados ao desconforto cianose e 13% (3) também associados a DRP, tiveram gemência. Esses dados demonstram a associação direta da prematuridade a DPR, até por conta de os pulmões ainda não estarem prontos para a vida extrauterina.

Segundo Júnior Corrêa (2007) são diversas as complicações para o feto e o neonato, sendo as mais importantes a infecção neonatal (sepse em quase 19% dos casos), a síndrome da angústia respiratória neonatal (SAR), as complicações decorrentes da prematuridade, o descolamento prematuro de placenta, a hipoplasia pulmonar, o prolapso do cordão e as deformidades fetais, em caso de oligoidrâmnio persistente. As informações da literatura corroboram os resultados da pesquisa que evidenciam elevados índices de prematuridade e sepse, bem como alterações respiratórias nos RNS decorrentes de RPPM.

De acordo com a Tabela 3, dos 22 RNs internados na UTI/SI, 10 permaneceram de 1 a 7 dias, com alta apenas para 4, e óbito para 6. De 8 a 15 dias, 6 RNs ficaram internados, desses, 5 receberam alta e 1 foi a óbito. De 16 a 22 dias 4 RNs estavam internados, 3 receberam alta e 1 foi a óbito. E acima de 1 mês, 2 RNs estavam internados, ambos recebendo alta.

As complicações da prematuridade, que ocorrem por conta da RPPM, não se resumem apenas a problemas no período perinatal. De acordo Cecatti e Aquino (2006), o período perinatal é estabelecido a partir da 22ª semana de gestação, com término sete dias após o nascimento do concepto, pois se tratando de RN prematuro, há um envolvimento também quanto às dificuldades no atendimento imediato a esse bebê, que com muita frequência é atendido em Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Além disso, sua permanência no hospital é prolongada e, mesmo após sua alta, ele continua dependendo de cuidados especiais, não sendo raras as ocorrências de reinternações (CORRÊA, 1994).

Os dados da Figura 9 complementam a Tabela 3, destacando a elevada incidência de óbito perinatal e neonatal, sendo que dos 22 RNs internados, 36% (8) foram a óbito e 64%(14) receberam alta hospitalar. Demonstrando uma elevada taxa de mortalidade por conta da patologia.

Segundo Belfort (2005) o concepto prematuro oriundo da RPPM apresenta elevado risco de sofrer ou até mesmo morrer, principalmente por conta da imaturidade pulmonar.

É ponto pacífico na literatura que a ausência de assistência pré-natal está fortemente associada a taxas mais altas de parto pré-termo e outros acometimentos negativos a vida materna e infantil (LANDY, 2007), o que evidencia a importância da realização do pré-natal, iniciado até o primeiro trimestre para todas as gestantes, com objetivo de identificar precocemente fatores de risco gestacional, que venham a influenciar em mau prognóstico para a gestante e para o RN. O risco de a gestante ter parto pré-termo é maior quando ela não realiza o PN ou o faz de maneira inadequada, pois as medidas que poderiam ser adotadas nas pacientes de risco acabam não sendo realizadas (CORRÊA, 1994).

Segundo a Constituição Federal de 1988, por meio da portaria do Gabinete do Ministro (GM) nº 569 de 1º de junho de 2000, foi instituído o Programa de Humanização no Pré-Natal e Nascimento (PHPN) no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), cujo objetivo primordial é que os profissionais de saúde acolham a mulher desde o início da gravidez, assegurando, no fim da gestação, o nascimento de uma criança saudável e a garantia do bem-estar materno e neonatal.

Ademais, enfatiza-se que uma atenção Pré-natal (PN) e puerperal qualificada e humanizada se dá por meio da incorporação de condutas acolhedoras e sem intervenções desnecessárias; do fácil acesso a serviços de saúde de qualidade, com ações que integrem todos os níveis da atenção: promoção, prevenção e assistência à saúde da gestante e do recém-nascido, desde o atendimento ambulatorial básico até o atendimento hospitalar para alto risco (BRASIL, 2006).

Já na primeira consulta, deve-se investigar possíveis fatores de risco tentando corrigi-los, colhendo dados sobre gestações anteriores, verificando quanto ao uso do cigarro durante a gestação, além de realizar a anamnese e exame físico de maneira cuidadosa. Devem ser solicitados também os exames de rotina do PN e para as gestantes que foram identificados com fatores de risco para RPPM, solicitar exames como sumário de urina tipo I e avaliar resultados, orientar quanto à higiene, prevenção e, se necessário, tratamento de vaginoses.

O encaminhamento ambulatorial para as gestantes com quadro clínico de risco deve ser realizado a cada duas ou três semanas e, a depender até semanalmente, quando são avaliadas as contrações uterinas, o conteúdo vaginal, a posição, o comprimento e a dilatação do colo uterino pelo toque vaginal. É imprescindível que as gestantes tenham conhecimento dos sinais e sintomas do Trabalho de Parto Prematuro (TPP), ou seja, o aparecimento de contrações uterinas regulares mesmo que indolores; sensações de peso no baixo ventre, dor lombar persistente e alteração no fluxo vaginal (BITTAR, 2007). Pois na ocorrência das alterações acima, se houver intervenção oportuna, a reversão do quadro ou a redução de complicações é muito mais provável quando existe precocidade no atendimento.

Quanto à assistência a gestante com RPM:

Geralmente a hospitalização com repouso no leito é indicação universal para RPM. Reconhecendo que na maioria das vezes o período de latência é relativamente curto, que a temível infecção intra-uterina e fetal é de reconhecimento difícil e muitas vezes de aparecimento muito rápido, além de risco de acidentes funiculares, a hospitalização é prioritária e de bom senso (SILVA; NOMURA, 2006, p. 371).

Silva e Nomura (2006) evidenciam a necessidade de repouso e, muitas vezes, internação hospitalar para as gestantes acometidas pela RPM, pelo fato de que há um risco elevado de infecção e do início de trabalho de parto.

Quanto à assistência preventiva Braga e Okasaki (2004, p. 53) explicam que as “gestantes socioeconomicamente desfavorecidas, em que há falta de adequado acompanhamento pré-natal e de um tratamento sistemático das infecções vaginais tendem a sofrer mais com ruptura prematura de membranas”. Nesse sentido, a gestante deve ser inserida em consultas de pré-natal e grupos de gestante, para que possa ser orientada sobre o autocuidado, dando enfoque em higiene e educação alimentar, na medida em que uma boa nutrição favorece o desenvolvimento e o crescimento do feto, assim como a prevenção de leucorréias.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclui-se, com base nos dados obtidos, que ocorreram grande número de internamentos de RNs egressos de mães com RPPM, destacando-se que muitas dessas mães, eram adolescentes, primigestas e multigestas, sendo que nem todas completaram as seis consultas do pré-natal preconizadas pelo Ministério da Saúde e que algumas, nem mesmo realizaram o acompanhamento do pré-natal.

É interessante relatar ainda a ausência de informações importantes no prontuário, concernentes aos diagnósticos médicos em relação às mães, pois o diagnóstico não estava descrito conforme a idade gestacional, mas sim de forma generalizada, diagnosticando, por exemplo, como amniorrexe prematura ou TPP, quando, na verdade, as gestantes apresentavam RPPM, sendo constatado através da idade gestacional abaixo de 37 semanas, classificada pela literatura como Rotura prematura pré-termo de membranas.

Faz-se necessário abordar que foram observadas altas taxas de óbito perinatal e neonatal, o que remete a uma reflexão sobre os vários fatores que influenciam para esses resultados, que não são apenas biológicos, mas também, socioeconômicos, culturais e de assistência à saúde.

REFERÊNCIAS

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