RESTAURAÇÃO SEMIDIRETA NO ELEMENTO 37

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10783855


Jessica Cunha Duarte¹
Natalia Santos de Souza²
Lorâine Perez Manzoli3


RESUMO

Introdução: As resinas compostas são amplamente reconhecidas como materiais excelentes para restaurações diretas, tanto em dentes posteriores quanto anteriores, pois conseguem restabelecer satisfatoriamente tanto a estética quanto a função dentária. Na literatura, são discutidas diversas técnicas para a utilização de resina composta na restauração dentária, sendo uma delas a técnica semidireta. A técnica semi direta permite, que o preparo do dente seja moldado e posteriormente restaurado utilizando uma peça, confeccionada em resina composta, previamente prepara, com a forma oclusal e anatômica adequada e fotopolimerizada, o que proporciona uma maior conversão de polimerização, dureza, resistência ao desgaste e melhor adesão. O objetivo desse caso clínico é apresentar um caso de restauração com resina composta, em dente posterior, utilizando a técnica semidireta.

Palavras-chave: Cavidade MOD. Restauração semidireta. Técnica.

SUMMARY

Introduction: Composite resins are widely recognized as excellent materials for direct restorations, both in posterior and anterior teeth, as they can satisfactorily restore both aesthetics and dental function. In the literature, several techniques for using composite resin in dental restoration are discussed, one of which is the semi-direct technique. The semi-direct technique allows the preparation of the tooth to be molded and subsequently restored using a piece, made of composite resin, previously prepared, with the appropriate occlusal and anatomical shape and photopolymerized, which provides greater polymerization conversion, hardness, resistance to wear and better adhesion. The objective of this clinical case is to present a case of composite resin restoration in a posterior tooth, using the semi-direct technique.

Keywords: MOD cavity. Semi-direct restoration. Technique.

Introdução

As resinas compostas são amplamente reconhecidas como materiais excelentes para restaurações diretas, tanto em dentes posteriores quanto anteriores, pois conseguem restabelecer satisfatoriamente tanto a estética quanto a função dentária. Avanços na tecnologia resultaram na diminuição do tamanho das partículas e no aumento da quantidade de carga na composição das resinas compostas, o que melhorou significativamente suas propriedades mecânicas, garantindo um desempenho satisfatório ao longo do tempo (KRAMER N. et al. 2009).

Embora as restaurações de resina composta feitas com a técnica direta possuam boas propriedades mecânicas, elas também apresentam algumas desvantagens, como contração de polimerização, baixa resistência à fratura e ao desgaste em cavidades amplas, além da dificuldade de reconstruir margens proximais livres de defeito com contatos proximais satisfatórios. Em situações de cavidades extensas com términos proximais profundos ou intra sulculares, a técnica indireta pode ser necessária para superar a maioria desses problemas (MONTEIRO, et al. 2017).

Na literatura, são discutidas diversas técnicas para a utilização de resina composta na restauração dentária, sendo duas delas amplamente difundidas, sendo elas a técnica direta e indireta. A técnica direta envolve o tratamento realizado diretamente na cavidade oral, com mínimo desgaste dental, términos cervicais supra gengivais, preservação do máximo de esmalte remanescente e utilização mínima de material restaurador. No entanto, em casos de grandes cavidades, é comum enfrentar dificuldades para obter forma e contornos adequados, além de alcançar contatos proximais e oclusais precisos e uma adaptação marginal satisfatória(SILVA, 2020).

A técnica de aplicação da resina de forma indireta é recomendada para casos de cavidades extensas com perdas de uma ou mais cúspides e preparos cavitários com términos subgengivais. Por meio dessa abordagem, a técnica semedireta permite que o preparo do dente seja moldado e posteriormente restaurado utilizando uma peça em resina composta, previamente confeccionada, com a forma oclusal e anatômica adequada e fotopolimerizada, o que proporciona uma maior conversão de polimerização, dureza, resistência ao desgaste e adesão. Além disso, é possível alcançar uma melhor adaptação marginal e ponto de contato interproximal após a cimentação (TONOLLI, et al. 2010).

A técnica semidireta foi introduzida na década de 80 e corresponde a um método simplificado de reparo indireto, combinando melhorias nas propriedades mecânicas do material, menores custos, reduzo de tempo e número de consultas e melhor adaptado de borda por ser fabricada diretamente na cavidade a ser reparada (ALHARBI et al., 2014; SOARES et al., 2018).

Com a introdução da Técnica de Restauração semidireta, os resultados têm sido promissores e eficazes, especialmente em casos de perda dentária de até duas cúspides e cavidades proximais amplas com pouco ou nenhum esmalte residual, permitindo uma morfologia oclusal e adaptação da margem subgengival mais adequada(HIGASHI, et al. 2017). Isso proporciona melhor visualização e controle durante a escultura da resina, resultando em um vedamento marginal mais eficaz (TONOLLI, et al. 2010). Além disso, essa técnica reduz o tempo de cadeira do profissional, pois permite a preparação, moldagem, confecção da restauração e cimentação em uma única sessão clínica, de forma eficiente, com menor custo e mantendo a qualidade (SILVA, 2020).

Portanto, o objetivo deste trabalho foi apresentar uma revisão, um caso clínico, sobre restaurações posteriores utilizando técnicas semidiretas extra-orais e intra-orais, como também suas vantagens e técnicas.

RELATO DO CASO CLÍNICO

Paciente D.E.C 42 anos, gênero Feminino, procurou atendimento a clínica escola odontológica da Faculdade de Teologia, Filosofia e Ciências Humanas Gamaliel (FATEFIG)  de Tucuruí do Pará, com a  principal queixa que era o desconforto estético do molar, (fig. 1) Onde foi realizado anamnese, exames extra e intra oral e exames radiográfico.

Através da radiografia constatou-se que o segundo molar inferior direito, elemento 37, apresentava uma lesão cariosa extensa. Após avaliação clínica, optou-se por realizar um tratamento de restauração semidireta. (fig. 2). 

O plano de tratamento foi delineado durante a primeira sessão. Primeiramente foi realizado o isolamento relativo (BARATIERI), seguido do anestésico tópico (Tópico Benzotop Tutti-Frutti 20% – Nova Dfl) e anestésico local (Lidocaína 2% 1:2.500 – SSwhite 100), posteriormente foi iniciado a remoção da restauração antiga e a limpeza completa da cavidade, utilizando broca diamantada Esférica 1012 (Invicta FG) (fig. 3). Em seguida, foi selado as entradas dos canais com Cimento Coltosol com Flúor(Coltene).

Para iniciar a fase de preparação da estrutura dental, realizou-se a aplicação do ácido fosfórico 37% (Allprime), especificamente na área do esmalte, seguido do enxágue e  secagem do dente, após decorreu a aplicação do sistema adesivo (Ambar – FGM) ativamente por 20 segundos, conforme recomendação pelo fabricante, utilizando o Microbrush (aplicador kg Sorensen Brush regular), imediatamente procedeu-se a secagem suave com jato de ar por 10 segundo e polimerização por 20 segundo. Em seguida aplicou-se uma única camada da resina Flow (FGM Resina Opallis Flow) na superfície interna do dente e fotopolimerizado por 20 segundo, conforme instrução do fabricante, utilizando uma broca diamantada, foi   removido o excesso que possa lesar na moldagem e na confecção da peça. Por fim, foi inserido uma material restaurador temporário (Obturador Provisório – indusbello), para proteger o dente. (fig. 4)

No decorrer do intervalo de uma semana, foi observada uma evolução na saúde pulpar e uma remineralização parcial do tecido dentário adjacente. 

Na segunda sessão, após a preparação do substrato dental, é realizada a moldagem utilizando (silicone de adição Reflex – Yller), utilizando a técnica de 2 passos. Primeiro é feita a moldagem inicial com silicone denso, em seguida pela moldagem com o silicone leve por cima do silicone denso.  Posteriormente o molde foi vazado com gesso do tipo IV (Venus), após a secagem completa do modelo, iniciou-se a confecção da restauração da peça em resina composta. 

Depois de aplicar vaselina Sólida (Rioquímica) no modelo, a restauração semidireta é feita usando a mesma técnica incremental usada para resinas diretas, a resina composta é adicionada em pequenas quantidades e fotopolimerizada no modelo de gesso já preparado. (fig. 5)

Logo após a confecção da peça, ela foi polida com taças de borracha (MK Life) e pasta de polimento (Diamond Universal – Maquira).

A preparação da peça é realizada com um ataque ácido na superfície utilizando Ácido Fosfórico 37% – (AllPrime), seguido pela lavagem com água e secagem da peça por 20 segundos. Em seguida, aplica-se o sistema adesivo (Ambar – FGM), para remover os excessos foi aplicado um spray de ar por 10 segundos, antes da restauração ser fotopolimerizada por 20 segundos.

Posteriormente foi realizado o isolamento relativo (BARATIERI, 2002), seguida do condicionamento da superfície com Ácido Fosfórico 37% (AllPrime), após realizou-se a  aplicação do sistema adesivo (Ambar – FGM) e fotopolimerizado por 20 segundos. O cimento resinoso (FGM Allcem Veneer APS) é aplicado na peça preparada, seguido do posicionamento da mesma no dente, realizando uma leve pressão, imediatamente removeu-se os excessos do cimento resinoso, para melhor adaptação.  Por fim, foi fotopolimerizado por 30 segundos cada face do dente.

 Para finalização, realizou-se o ajuste oclusal e polimento com taças de borracha, escova de silicone com pasta de polimento(MK Life) e (Diamond Universal – Maquira). (Fig. 6)

Discussão

As restaurações semidiretas oferecem uma abordagem interessante para o tratamento de lesões extensas de cárie, particularmente onde a preservação da estrutura dentária é crucial. Esta abordagem permite uma fase de remineralização do tecido dentário antes da aplicação da restauração final, potencialmente promovendo melhor adesão e selamento marginal. Além disso, reduzir a exposição à umidade durante a restauração pode minimizar o risco de contaminação bacteriana e prolongar a vida útil da restauração(FILTER et al, 2011).

A infiltração marginal, resultante de falhas na interface entre o material restaurador e a estrutura dentária, é uma das principais razões para a substituição de restaurações de resina composta utilizando a técnica diretas. O objetivo ao optar pela técnica semidireta, no presente estudo, foi reduzir as limitações da técnica direta, reduzindo a contração de polimerização e, por conseguinte, aprimorando a adaptação marginal.( MONTEIRO, et al 2017)

Uma das vantagens da técnica semidireta é a precisão e o melhor vedamento marginal. Em cavidades com caixas proximais divergentes, pode haver dificuldades na adaptação de matriz e cunha interproximal, o que pode resultar em falhas na adaptação marginal (Ravasini et al. 2018). Além disso, outros benefícios incluem a redução da contração de polimerização, o que diminui a sensibilidade pós-operatória, e o controle de umidade, já que a resina é confeccionada fora do meio bucal (SILVA, et al 2020).

Entretanto, as técnicas de restauração  semidiretas também trazem desafios, incluindo a necessidade de monitoramento cuidadoso durante os tratamentos para assegurar a saúde pulpar e a estabilidade dentária. Além disso, a escolha de materiais provisórios adequados e técnicas de aplicação são cruciais para o sucesso do procedimento. Considerações como ajuste oclusal e estética também devem ser cuidadosamente avaliadas para atender às expectativas estéticas e funcionais do paciente (SILVA, et al 2020).

Dentre as vantagens da técnica semidireta em comparação  a técnica direta, temos a facilidade de ajuste à margem subgengival devido a  visualização direta da restauração nas margens do preparo no modelo. Como também, a pós-polimerização das restaurações semidiretas diminui a geração de estresse de contração na hora da polimerização, pois a contração de polimerização ocorre antes da cimentação(Espreafico et al. 2005).

Em um estudo clínico, foi observado que restaurações semidiretas de resina composta inlay e onlay apresentaram boa durabilidade ao longo de 11 anos, com excelente adaptação marginal e baixa incidência de cárie secundária (Van Dijken, 2000). Outro estudo, ao comparar as técnicas direta e semidireta em restaurações de resina composta classe II, observaram desempenho clínico e adaptação marginal similares ao longo de 3,5 anos de acompanhamento. Ambos os estudos confirmam que a técnica semidireta é uma boa opção de tratamento restaurador em cavidades amplas, quando comparados a técnica direta (Espreafico et al. 2005).

Um estudo laboratorial demonstrou que as restaurações de resina composta classe II realizadas por meio da técnica semidireta apresentaram uma menor ocorrência de microinfiltração marginal em comparação com as restaurações feitas pela técnica direta. Isso sugere que a fase de pós-polimerização da resina composta na técnica semidireta é benéfica para mitigar a microinfiltração marginal cervical em tais restaurações.2

Conclusão 

Essa técnica permite  a reprodução exata da anatomia oclusal e proximal com melhor adaptação marginal, contração de polimerização consideravelmente reduzida durante a fixação peça no dente, sendo normalmente limitado a camada de cimento resinoso, já que a maior parte da contração ocorre na fotopolimerização durante a confecção da peça, sendo, o que proporciona uma maior conversão de polimerização, melhorando as propriedades mecânicas, física do material.  Além disso, é possível alcançar uma melhor adaptação e adesão marginal e ponto de contato interproximal após a cimentação. 

 Vale ressaltar que as restaurações semi diretas ajudam a preservar a estrutura dentária remanescente, minimizam a necessidade de intervenções invasivas, como coroas ou canais radiculares, e ajudam a manter a saúde bucal do paciente a longo prazo.

Referências

1. FILTER, V. P. et. al. RESTAURAÇÃO SEMIDIRETA ASSOCIADA A UM RETENTOR INTRARRADICULAR EM DENTE ANTERIOR. Revista Dentistica on line. n. 21. 2011. Disponivel em: http://coral.ufsm.br/dentisticaonline/1009.pdf.

2.LIBERMAN R, Ben-Amar A, Herteanu L, Judes H. INLAYS MARGINAIS USANDO DIFERENTES TÉCNICAS DE POLIMERIZAÇÃO . J Oral Rehabil. 1997; 24(1):26-9. 

3. SILVA, J. B , “Técnica de Restauração Semi Direta em Resina Composta : Relato de caso,”2020 facsete, accessed February 20, 2024, https://faculdadefacsete.edu.br/monografia/items/show/3809.

4. SPREAFICO RC, KREJCI I, DIETSCHI D. Desempenho Clínico E Adaptação Marginal De Restaurações Compostas Diretas E Semidiretas De Classe Ii Ao Longo De 3,5 Anos Em Vitro . J Dent. 2005; 33(1): 499–507. 

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6. MONTEIRO, R. V.; TAGUCHI, C. M. C.; MONTEIRO JUNIOR, S.; BERNARDON, J. K. Técnica Semidireta: Abordagem Prática E Eficaz Para Restauração Em Dentes Posteriores. Revista Ciência Plural, [S. l.], v. 3, n. 1, p. 12–21, 2017. DOI: 10.21680/2446-7286.2017v3n1ID11546. Disponível em: https://periodicos.ufrn.br/rcp/article/view/11546. Acesso em: 20 fev. 2024.

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8. HIGASHI C, ARITA C, GOMES JC, HIRATA R. Estágio Atual Das Resinas Indiretas. Rev.Assoc.Bras.Odontol. 2007; 20:1-48.

9. KRAMER N, REINELT C, RICHTER G, PETSCHELT A, FRANKENBERGER R. NANOHÍBRIDO VS. Compósito Em Cavidades Classe Ii: Resultados Clínicos E Análise De Margens Após Quatro Anos. Dente Mater. 2009;25(6):750–9.

10. TONOLLI G, HIRATA R. Técnica De Restauração Semi-Direta Em Dentes Posteriores: Uma Opção De Tratamento. Rev Assoc Paul Cir Dent 2010; Ed Esp(1): 90-6

11. HIGASHI, CRISTIAN; ARITA, CARLA; GOMES, JOÃO CARLOS; HIRATA, RONALDO.2017 Estágio Atual Das Resinas Indiretas.  Pro-odonto/Estética/SESC