RESTAURAÇÃO BIOMIMÉTICA EM DENTE TRATADO ENDODONTICAMENTE: RELATO DE CASO CLÍNICO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202410271649


Kássia Alves Costa1; Katia Beatriz Guilherme2; Eduarda Honda Monteiro3; Gabriela de Araújo Amaral4; Louise Tolentino Precioso Salgado5; Tauana Marcela Rosa Vanzella6; Leonardo Pimentel Fiori7; João Bosco Formiga Relvas8


RESUMO

A odontologia biomimética está em constante evolução, buscando inspiração na natureza para desenvolver tecnologias e materiais biocompatíveis que imitam a estrutura e função dos tecidos dentários naturais. Essa abordagem inovadora visa aprimorar a eficácia dos tratamentos odontológicos, preservando a estrutura dental, melhorando a adesão dos materiais restauradores, restaurando a integridade estrutural e replicando a biomecânica natural. Com foco na regeneração e substituição de tecidos dentários perdidos, a odontologia biomimética promete revolucionar a prática clínica, oferecendo soluções mais eficazes e seguras aos pacientes por meio de produtos biomiméticos com propriedades aprimoradas. Este trabalho teve por objetivo relatar um caso clínico de restauração em dente tratado endodonticamente, empregando os princípios da odontologia biomimética para preservar a estrutura dentária. Foram realizadas pesquisas nos bancos de dados eletrônicos: National Library of Medicine (PUBMED), Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Brasil Scientific Electronic Library Online (SciELO) dos anos de 2019 a 2024. Seguindo a abordagem da Odontologia Biomimética, evitou-se o uso de pinos intrarradiculares na restauração do dente, priorizando métodos que melhoram a adesão e reduzem a contração da resina composta. Essas técnicas foram consideradas suficientes para realizar a restauração, mesmo em casos de extensa perda dental após o tratamento de canal.

Palavras-chave: Endodontia. Biomimética. Polietileno. Adesivos Dentinários.

ABSTRACT

Biomimetic dentistry is constantly evolving evolution, seeking inspiration from nature to develop technologies and biocompatible materials that mimic the structure and function of natural dental tissues. tissues. This innovative approach aims to improve the effectiveness of dental treatments by preserving tooth structure, improving the adhesion of restorative restorative materials, restoring structural integrity and replicating natural biomechanics. With a focus on regenerating and replacing lost dental tissues, biomimetic dentistry promises to revolutionise clinical practice, offering practice, offering more effective and safer solutions to patients through biomimetic products with improved properties. This study aims to aim of this study is to report a clinical case of restoration of a tooth treated tooth, using the principles of biomimetic dentistry to preserve tooth structure the tooth structure. Research was carried out in the following electronic databases databases: National Library of Medicine (PUBMED), Virtual Health Library (BVS), Brazil (BVS), Brazil Scientific Electronic Library Online (SciELO) from 2019 to 2024. Following the Biomimetic Dentistry approach, the use of intracanal pins was avoided in the restoration was avoided, prioritising methods that improve adhesion and reduce resin shrinkage and reduce the shrinkage of the composite resin. These techniques were considered sufficient to carry out the restoration, even in cases of extensive tooth loss after root canal treatment after root canal treatment.

Keywords: Endodontics. Biomimetics. Polyethylene. Dentin-Bonding Agents.

INTRODUÇÃO

Com o propósito de criar tecnologias e materiais inspirados na natureza para desenvolver técnicas e produtos biocompatíveis que possam substituir estruturas perdidas, a biomimética vem se destacando na Odontologia. Essa abordagem busca imitar a natureza para inovar no campo odontológico, visando aprimorar a eficácia dos tratamentos e a compatibilidade dos materiais utilizados (Upadhyay et al., 2020).

A odontologia biomimética promete revolucionar o reparo e a substituição de tecidos dentários doentes, com materiais bioativos capazes de regenerar os tecidos. A mineralização biomimética da dentina, com análogos de proteínas não colágenas (NCP) e materiais biomiméticos, tem potencial para tratar a dentina cariada desmineralizada. Novas abordagens de engenharia de tecidos e regeneração do complexo dentino-pulpar, baseadas em conceitos biomiméticos, podem representar uma mudança significativa na odontologia (Singer, Fouda e Bourauel, 2023).

As revisões sistemáticas atuais destacaram a importância da abordagem biomimética em dentes tratados endodonticamente, ressaltando a necessidade de estudos clínicos mais robustos para orientar o planejamento do tratamento. A aplicação da biomimética pode beneficiar a estrutura dentária, especialmente na redução do impacto das fissuras e na melhoria do prognóstico a longo prazo. Compreender a distribuição de tensão em dentes submetidos a procedimentos endodônticos é fundamental para a escolha adequada de técnicas restaurativas (Kimble et al., 2023).

A biomimética na odontologia é fundamental para desenvolver materiais que substituam tecidos dentários perdidos, como dentina, esmalte, cemento e polpa, em vez de simples substituições. Essa abordagem inovadora tem o potencial de revolucionar a área, mas cada procedimento enfrenta desafios devido à complexidade da estrutura dentária natural. O uso de materiais biomiméticos para restaurar com sucesso esmalte, dentina, junção dentino-esmalte, cemento e tecido pulpar será essencial no futuro. O desenvolvimento de substitutos que imitem o tecido dentário natural está em progresso, e mais pesquisas são necessárias para explorar o papel de diversas moléculas e materiais biomiméticos (Paryani et al., 2023).

Experimentos iniciais indicam que abordagens biomiméticas em endodontia regenerativa, como terapias com células-tronco, implantes pulpares, andaimes, impressão 3D de células e terapia gênica, têm potencial para regeneração pulpar e mineralização tecidual. No entanto, são necessários mais estudos para confirmar a eficácia clínica da regeneração tecidual. Alguns materiais bioativos favorecem osteocondução, osseointegração e diferenciação celular, mas suas propriedades físico-mecânicas requerem mais investigações. Embora a pesquisa sobre matriz do esmalte e derivados da matriz da dentina para regeneração dentinária seja promissora, há falta de dados validados cientificamente (Kumar et al., 2022).

O desenvolvimento de biomateriais restauradores biomiméticos está em estágios iniciais, com avanços significativos, mas a complexidade dos tecidos dentários requer mais investigação. A engenharia biomimética de tecidos está crescendo, porém sua aplicação clínica necessita de mais estudos. Implementar esses materiais em larga escala para tratar lesões dentárias pode exigir mais de uma década de esforço. Novas modalidades de tratamento podem surgir com descobertas em genética, biologia molecular, biologia celular e ciência dos materiais (Zafar et al., 2020).

Essa nova abordagem restauradora na odontologia surge como uma alternativa de tratamento, pois preserva a estrutura dental, melhora a adesão, reduz o estresse residual, restaura a integridade estrutural e replica a biomecânica natural por meio do uso de materiais biomiméticos. Além disso, busca manter o equilíbrio entre os aspectos biológicos, mecânicos, adesivos, funcionais e estéticos (Palma et al., 2021).

A odontologia biomimética, com base em pesquisa avançada em níveis molecular, ambiental e físico, tem o potencial de transformar a prática odontológica diária. Os produtos biomiméticos, como cimentos e materiais de preenchimento, possuem características como reforço radicular, excelente capacidade de selamento, propriedades antibacterianas aprimoradas e biocompatibilidade, representando uma evolução promissora na odontologia para oferecer soluções mais eficazes e seguras aos pacientes (Mohanty, Govind e Behera, 2021).

Este trabalho teve por objetivo relatar um caso clínico de restauração em dente tratado endodonticamente, empregando os princípios da odontologia biomimética para preservar a estrutura dentária.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1. Biomimética.

A odontologia biomimética envolve a arte e a ciência de reparar dentes danificados utilizando restaurações que mimetizam os tecidos vivos, como esmalte, dentina, osso e cemento, em termos de sua aparência, função e resistência. Um objetivo secundário é desenvolver materiais restauradores que possam reproduzir a biomecânica do dente natural. A biomimética é aplicada em níveis moleculares para promover a cicatrização de feridas e a regeneração de tecidos moles e duros. Em termos macroestruturais, busca-se preservar a integridade biomecânica, estrutural e estética dos dentes com diversos materiais restauradores biomiméticos. Essa abordagem é amplamente utilizada na odontologia para melhorar os tratamentos, desenvolvendo materiais e técnicas que imitam a natureza. A biomimética trabalha ativamente no desenvolvimento de materiais restauradores que replicam a estrutura e as propriedades dos tecidos dentários naturais, como esmalte e dentina, agregando valor e novas aplicabilidades aos materiais já utilizados na odontologia. Ela também faz uso de biomateriais bioativos e biomiméticos para promover a regeneração dos tecidos dentários e implementa técnicas de engenharia de tecidos para regenerar estruturas danificadas visando restaurar a função e a estética dos dentes de forma mais natural. Além disso, adota abordagens restauradoras que preservam ao máximo a estrutura natural dos dentes e evitam a remoção excessiva de tecido dental saudável (Singer, Fouda e Bourauel, 2023).

A biomimética emergiu como uma ciência que possui aplicabilidade em diversas disciplinas biomédicas, incluindo biomateriais e odontologia. Na odontologia a biomimética pode ser utilizada dentro de todas as especialidades visto que seu objetivo principal seria a imitação e mimetização das estruturas naturais através de estudos estruturais reproduzindo-os em uma forma sintética. Seus conceitos e atribuições podem ser utilizadas em uma variedade de aplicações como restaurações extensas buscando a reconstrução do elemento visando a imitação dos tecidos naturais, esmalte e dentina, remineralização, biomateriais bioativos e biomiméticos e na engenharia regeneradora. Avanços nos estudos sobre materiais restauradores adesivos, compreensão do material e suas propriedades como cor, morfologia e resistência (Zafar et al., 2020).

A biomimética na regeneração oral e dentofacial busca imitar processos biológicos naturais para desenvolver materiais e técnicas que promovam a regeneração dos tecidos bucais. Biomateriais inspirados na natureza, como derivados de conchas de ostras e esponjas marinhas, são utilizados para reconstruir estruturas dentárias e ósseas danificadas. Esses biomateriais mimetizam as propriedades dos tecidos naturais, estimulando a formação de novos tecidos e integrando-se ao ambiente biológico. A pesquisa interdisciplinar em biomimética odontológica avança para terapias personalizadas que visam restaurar função e estética dos tecidos orais e faciais, representando uma fronteira promissora na regeneração tecidual e no desenvolvimento de tratamentos mais eficazes e sustentáveis (Upadhyay et al., 2020).

De acordo com Paryani et al., (2023) a biomimética é uma área odontológica que busca estudar o produto biológico e imitar os tecidos naturais. O princípio é baseado na compreensão dos dentes, considerando não só sua estrutura, mas também função e estética. A biomimética aplica princípios da natureza em aplicações tecnológicas, como materiais nanofiller na odontologia. A necessidade de novos materiais bioinspirados levou à composição de ligação biomimética. O objetivo é imitar propriedades biológicas para restaurar dentes, os métodos de biomimética e materiais restauradores são revisados para substituir tecidos dentários danificados. Ao comparar o método convencional de restauração ao método da biomimética, constatou que as vantagens da biomiméticas se sobressaem onde apresentam melhor prognóstico e mais biocompatibilidade, substitui de forma eficaz os tecidos perdidos de forma a imitar os tecidos naturais e suas propriedades e possui menor invasividade. A odontologia biomimética abre uma nova era, permitindo a substituição de dentina, esmalte, cemento e polpa perdidos. Apesar do crescimento na odontologia, cada procedimento tem desvantagens devido à complexidade natural dos dentes.

Por meio da remoção seletiva da dentina cariada afetada e parcialmente desmineralizada, a técnica biomimética prioriza a preservação da dentina sadia e recém exposta para garantir uma melhor adesão dos materiais restauradores. A utilização de evidenciadores de lesão de cárie auxilia na identificação precisa da dentina desmineralizada, contribuindo para valores significativos de adesão na camada híbrida em dentina. Além disso, a aplicação de resinas compostas reforçadas com Fitas de Fibras de Polietileno e a técnica de Endocrown são exemplos de abordagens biomiméticas que têm se mostrado eficazes na restauração de dentes tratados endodonticamente, promovendo uma restauração minimamente invasiva e preservando a integridade estrutural do dente comprometido. A combinação de técnicas adesivas, materiais biocompatíveis e procedimentos que replicam a biomecânica natural dos dentes é essencial para o sucesso do tratamento biomimético em dentes tratados endodonticamente, visando a longevidade e a funcionalidade dos elementos dentários tratados (Palma et al., 2021).

A abordagem de engenharia de tecidos na endodontia regenerativa envolve a substituição de dentes não vitais por um complexo dentino-pulpar funcional e saudável. Nesse contexto, o tratamento de canal radicular é a opção padrão para casos em que a polpa dentária está irreversivelmente afetada, envolvendo a remoção do tecido mole e o preenchimento do espaço com um material sintético. A formação de dentina tubular e tecido semelhante à polpa ocorre quando células-tronco são transplantadas para o canal radicular com um suporte estrutural adequado. Em resumo, a abordagem de engenharia de tecidos na endodontia regenerativa inclui três componentes principais: suporte estrutural, diferenciação e crescimento celular, e recrutamento de células-tronco na região periapical ou dentro da polpa (Kumar et al., 2022).

Em relação à aplicação de abordagens biomiméticas na regeneração da polpa dentária e em procedimentos endodônticos. Essas abordagens visam imitar as propriedades e funções naturais dos tecidos dentários, promovendo a regeneração dos tecidos danificados e a melhoria dos tratamentos endodônticos. Os resultados foram obtidos através de uma análise bibliográfica sendo um comparativo da utilização de materiais biocompatíveis avaliando sua eficácia em termos de propriedades antibacterianas, citotoxicidade e resistência de união. Destacou-se assim a importância da biomimética na busca por soluções mais eficazes e biocompatíveis para a prática clínica da endodontia (Kumar et al., 2022).

Kimble et al., (2023) relataram que os dentes que passaram por tratamento endodôntico frequentemente apresentam um desafio restaurador devido ao comprometimento estrutural, incluindo cavidades profundas, fissuras, múltiplas paredes ausentes e restaurações anteriores extensas. A diminuição significativa na rigidez e resistência das cúspides dentárias é mais atribuída à perda da estrutura coronal do que à remoção adicional de dentina durante o tratamento endodôntico convencional. Observaram que os procedimentos endodônticos resultaram em uma redução de apenas 5% na rigidez relativa das cúspides de pré-molares, em comparação com uma preparação cavitária oclusal (20%) e uma preparação cavitária mésio-ocluso-distal (MOD) (63%). Por isso, preservar a estrutura dentária é crucial para protegê-la contra fraturas sob cargas oclusais e garantir sua longevidade. No entanto, não há consenso sobre a escolha da restauração definitiva para dentes tratados endodonticamente. Geralmente, as decisões restaurativas são baseadas em fatores como a falta de paredes proximais, a quantidade de dentina remanescente e a natureza da estrutura do canal radicular. No passado, os dentes desvitalizados eram frequentemente restaurados com pinos e núcleos fundidos, o que exigia preparos extensos e remoção de dentina. Qualquer procedimento restaurador, seja ele direto ou indireto, que comprometa essas estruturas de suporte de carga resultará em uma significativa perda de resistência à fratura do dente. Para imitar eficazmente as propriedades físicas e mecânicas do dente, é essencial adotar técnicas minimamente invasivas que preservem essas estruturas de suporte de carga, ao mesmo tempo em que utilizam materiais e técnicas que reconstruam a camada multifásica do dente.

Num estudo realizado por Zafar et al., (2020) uma análise dos materiais biomiméticos odontológicos foi conduzida, destacando suas características e usos. Na prática clínica odontológica, a biomimética visa reparar a dentição danificada, replicando as propriedades de um dente natural em termos de aparência e habilidades biomecânicas e funcionais. No contexto da endodontia, examinaram, ainda, os irrigantes endodônticos, enfatizando sua importância e eficácia, destacando que o fracasso endodôntico muitas vezes ocorre devido à persistente presença de microrganismos nos canais radiculares, enfatizando a necessidade de protocolos de irrigação para cessar a atividade bacteriana. Também discutiram o papel dos medicamentos intracanais como complemento aos irrigantes na desinfecção dos canais e prevenção do crescimento bacteriano. Examinou, ainda, o impacto desses medicamentos na sobrevivência e remineralização da dentina.

Dionysopoulos e Gerasimidou, (2020) enfatizaram a introdução de materiais restauradores compósitos avançados na prática clínica, respeitando a natureza e integridade dos tecidos dentários. Protocolos restauradores biomiméticos são divididos em redução de estresse e maximização de vínculo, visando minimizar o estresse nos tecidos dentários e maximizar a adesão dos materiais restauradores. A importância de novas abordagens para intervir precocemente no processo de cárie, especialmente em pacientes com alto risco, é destacada. A mineralização biomimética baseada na histogênese normal do esmalte é mencionada como uma estratégia para atrair e organizar íons cálcio e fosfato, induzindo a precipitação de hidroxiapatita. Em resumo, a odontologia biomimética busca preservar os tecidos dentários saudáveis remanescentes, seguindo princípios que imitam a natureza e integridade dos dentes naturais, com o objetivo de ser o menos invasiva possível no tratamento odontológico.

Mohanty, Govind e Behera, (2021) abordaram a aplicação e relevância dos materiais biomiméticos na odontologia, destacando sua capacidade de imitar as propriedades dos tecidos biológicos para restaurar funcionalidade e estética dentária. Discute-se a importância de materiais como vidro ionômero de base de metal e resina, vidro bioativo e compósito de resina, ressaltando suas propriedades benéficas, como biocompatibilidade e resistência. Tecnologias inovadoras, como o Mineral Trioxide Aggregate (MTA) e a cerâmica de hidroxiapatita, são mencionadas por estimularem a regeneração do ligamento periodontal e serem utilizadas na fabricação de tecido ósseo. O Bioagregado destaca a evolução dos materiais biomiméticos na odontologia, visando superar desafios clínicos e aprimorar as técnicas de restauração a longo prazo, representando uma abordagem promissora para a prática odontológica.

Kimble et al., (2023) investigaram a tomada de decisão na restauração de dentes tratados endodonticamente, com foco no treinamento em odontologia biomimética. Os resultados mostraram que dentistas treinados em biomimética tendem a preferir restaurações diretas ou inlays/onlays em vez de coroas de cobertura total, especialmente em casos de perda dentária menor. A idade do dentista não teve impacto significativo nas decisões restaurativas. Recomenda-se considerar abordagens conservadoras e biomiméticas para preservar a estrutura dentária remanescente e evitar preparos invasivos.

A bioinspiração em endodontia representa uma abordagem inovadora e promissora que busca imitar a natureza para regenerar os tecidos dentários de forma eficaz. Por meio da utilização de materiais biomiméticos, que reproduzem a estrutura e função dos tecidos naturais, é possível promover a regeneração da polpa dentária danificada ou ausente. A engenharia de tecidos e a impressão celular tridimensional emergem como técnicas essenciais nesse processo, permitindo a criação de andaimes personalizados que direcionam o crescimento celular e a formação dos tecidos restaurados. Além disso, a regulação epigenética das células-tronco e a terapia com células-tronco mesenquimais oferecem novas perspectivas para o tratamento de condições complexas na endodontia, visando resultados mais eficazes e duradouros. Assim, a aplicação da biomimética na endodontia não apenas busca restaurar a estrutura dentária perdida, mas também promover a saúde bucal e o bem-estar dos pacientes, representando um avanço significativo na prática clínica odontológica (Shetty et al., 2023).

A biomimética na endodontia envolve a utilização de materiais e técnicas que imitam a estrutura e função dos tecidos dentários naturais. Isso inclui o uso de biomateriais como o Biodentine, que estimula a liberação de fatores de crescimento e a mineralização da polpa dentária. Além disso, a engenharia de tecidos é aplicada para regenerar tecidos dentários defeituosos, com potencial para avanços significativos na prática endodôntica (Thakur, Sharma e Minocha, 2024).

A odontologia conservadora e estética tem se destacado devido aos avanços em materiais restauradores e à crescente demanda por restaurações estéticas, mesmo em dentes posteriores. Enquanto a abordagem tradicional se baseia em preparos extensos que resultam em maior desgaste da estrutura dental, a abordagem biomimética preconiza a preservação da estrutura dentária natural por meio de preparos mais conservadores. A adesão é um elemento crucial para a durabilidade das restaurações, sendo fundamental o manejo adequado do substrato após o preparo dentário. A técnica de restauração semidireta surge como uma alternativa vantajosa, combinando aspectos positivos das técnicas direta e indireta, reduzindo custos e tempo de procedimento. Essa abordagem representa um avanço significativo no tratamento restaurador, permitindo resultados superiores ao mesmo tempo em que preserva a integridade da estrutura dentária (Rocha et al., 2024).

O selamento dentinário imediato (SDI) é um procedimento crucial na odontologia biomimética, que busca imitar a natureza para restaurar a estrutura dentária danificada. Ao expor a dentina durante preparos para restaurações indiretas, como inlays e onlays, surgem desafios de adesão e sensibilidade. O SDI consiste na aplicação imediata de um sistema adesivo sobre a dentina preparada, antes da moldagem, criando uma superfície livre de contaminantes para a adesão dos materiais restauradores. Essa técnica não apenas promove uma adesão eficaz, mas também contribui para a preservação da estrutura dentária e a longevidade das restaurações parciais. Assim, o SDI se destaca como um princípio essencial da odontologia biomimética, permitindo a reprodução dos tecidos vivos, como esmalte e dentina, com benefícios significativos para a prática clínica odontológica (Brasil e Teruya, 2024).

A adesão em restaurações biomiméticas desempenha um papel fundamental na odontologia moderna, permitindo a criação de restaurações que imitam a estrutura e função dos dentes naturais. Por meio de protocolos específicos, é possível estabelecer uma interface adesiva de alta qualidade entre o dente e o material restaurador, promovendo não apenas uma união resistente, mas também um selamento marginal eficaz. A abordagem biomimética busca replicar a complexidade e a eficiência da estrutura dentária natural, visando não apenas a estética, mas também a funcionalidade e a longevidade das restaurações. Ao adotar técnicas como o SDI e o uso de adesivos padrão-ouro, é possível maximizar a adesão, reduzir a sensibilidade pós-operatória e garantir resultados de alta qualidade e durabilidade. Em suma, a adesão em restaurações biomiméticas representa um avanço significativo na prática odontológica, permitindo a realização de procedimentos restauradores mais conservadores, estéticos e funcionais (Rosas et al., 2024).

2.2. Endocrowns

A endocrown é uma técnica inovadora de restauração para dentes tratados endodonticamente, introduzida como uma alternativa às restaurações convencionais. Diferencia-se por ser uma restauração única que substitui a coroa e a restauração do núcleo, proporcionando estabilidade e retenção superiores. Seus benefícios incluem preparo mínimo, facilidade de aplicação, maior resistência à fratura devido à espessura oclusal aumentada e melhor suporte à estrutura dentária. A técnica da endocrown visa a odontologia minimamente invasiva, promovendo uma restauração estética e mecânica duradoura. É importante considerar fatores como a técnica de preparo, espessura oclusal e módulos elásticos ao optar por essa abordagem inovadora na reabilitação de dentes tratados endodonticamente. Estudos clínicos a longo prazo são necessários para avaliar a taxa de sucesso e estabelecer a endocrown como uma opção restauradora confiável (Gupta et al., 2021).

Sedrez et al., (2019) investigaram o desempenho mecânico e o comportamento de fratura de restaurações de endocrown, uma técnica utilizada para restaurar dentes não vitais danificados. Foram comparados diferentes materiais restauradores, incluindo resinas menos viscosas, resinas compostas bulk fill, resina composta convencional e vitrocerâmica. Os resultados indicaram que as endocrowns fabricadas com resinas menos viscosas ou bulk fill apresentaram melhor desempenho mecânico, sendo mais resistentes a fraturas agressivas. A presença de adesivos resinosos entre as camadas do compósito convencional ou o uso do compósito bulk fill contribuíram para a maior resistência das restaurações. No entanto, os autores ressaltaram a necessidade de considerar as limitações do estudo, especialmente em relação às condições experimentais de carga axial estática. Em suma, a escolha adequada dos materiais restauradores e a compreensão das potencialidades e limitações das restaurações de endocrown são essenciais para garantir a durabilidade e eficácia dessas restaurações em reabilitações dentárias (Sedrez et al., 2019).

Estudos sugerem que as endocrowns podem ter desempenho igual ou superior às restaurações convencionais, enfatizando a importância de abordagens menos invasivas. A escolha do material para endocrowns é crucial, com pesquisas biomecânicas avaliando diversas opções cerâmicas e resinas compostas. A cimentação adesiva, especialmente com o Panavia V5, desempenha um papel fundamental na durabilidade das endocrowns, reduzindo a microinfiltração. Indicações específicas incluem molares com extensa destruição coronal, onde a preservação da estrutura dentária é essencial, evitando a necessidade de pinos intrarradiculares. Estudos de longo prazo evidenciam o sucesso das endocrowns na restauração de dentes posteriores danificados, destacando a importância das considerações biomecânicas e da avaliação do comportamento à fadiga para assegurar resultados duradouros. Em síntese, as endocrowns representam uma promissora abordagem, preservando a estrutura dentária e proporcionando estabilidade e longevidade às restaurações em dentes tratados endodonticamente (Papalexopoulos, Samartzi e Sarafianou, 2021).

Essas restaurações são protéticas e se fixam dentro da câmara pulpar do dente despolpado, utilizando técnicas de cimentação adesiva para retenção. A abordagem endocrown é menos invasiva do que as restaurações com retentores intrarradiculares, preservando mais a estrutura dental remanescente. Os estudos destacaram a eficácia e os benefícios funcionais e estéticos das restaurações endocrown em molares tratados endodonticamente. Embora os resultados sejam promissores, são necessários mais estudos clínicos para avaliar a viabilidade dessa técnica em pré-molares e dentes anteriores. A restauração endocrown é considerada uma estratégia restauradora confiável e eficaz, com potencial para se tornar uma opção amplamente utilizada na prática odontológica (Bettencourt et al., 2021).

Caracterizada por uma construção monolítica que invade apenas a câmara pulpar, a endocrown retém o máximo de esmalte para melhorar a adesão e a retenção, preservando uma estrutura dentária mais sólida. Com a utilização de tecnologias avançadas, como CAD/CAM, a adaptação marginal precisa e o desenho rápido da endocrown são garantidos, proporcionando resultados duradouros e estéticos. Esta abordagem representa uma alternativa eficaz às restaurações tradicionais, com excelentes taxas de sobrevivência a curto, médio e longo prazo, tornando-se uma escolha conveniente para molares com coroas clinicamente baixas, canais radiculares calcificados ou estreitos. Em suma, a endocrown oferece uma solução inovadora e eficaz para restaurar molares danificados, combinando funcionalidade, estética e preservação da estrutura dentária (Boudabous et al., 2024).

2.3. Reforço com Fibras de polietileno.

A escolha da melhor técnica de restauração para dentes tratados endodonticamente ainda é motivo de controvérsia na literatura, com uma variedade de opções disponíveis, como amálgamas, resinas compostas diretas e indiretas, e resinas de cobertura total. A introdução de avanços tecnológicos na tecnologia adesiva e fibras tem levado à investigação de novas abordagens para melhorar a resistência à fratura desses dentes (Bahari et al., 2019).

O estudo in vitro detalhado sobre o comportamento de fratura de restaurações MOD em terceiros molares inferiores abordou a importância do reforço com fibras na resistência dessas restaurações. Ao preparar cavidades MOD em terceiros molares intactos e dividir os espécimes em doze grupos, os pesquisadores puderam avaliar o desempenho de diferentes materiais reforçados com fibra. A etapa de tratamento adesivo e reconstrução das paredes interproximais com compósito antes da aplicação dos materiais reforçados foi crucial para simular condições clínicas realistas (Sáry et al., 2019).

A utilização de fita de fibra de polietileno e fibra de vidro em restaurações extensas representa uma abordagem inovadora e eficaz na odontologia restauradora. Esses materiais atuam como reforço estrutural nas restaurações de resina composta, proporcionando benefícios significativos na prevenção de fraturas e trincas dentárias, além de restaurar a função e estética dos dentes comprometidos. Estudos demonstram que as restaurações reforçadas com fibras apresentam um desempenho mecânico superior em comparação com os compósitos convencionais, sendo uma opção viável para dentes vitais e não vitais com comprometimento estrutural (Silva, Silva e Catunda, 2023).

Os compósitos reforçados com fibras (FRCs) desempenham um papel crucial na odontologia restauradora, especialmente em grandes restaurações posteriores. Os tipos mais comuns de FRCs utilizados são as fibras de polietileno e de vidro, que têm sido associadas ao aumento da resistência à fratura de restaurações dentárias, tanto em dentes tratados endodonticamente quanto não tratados. Além disso, essas fibras contribuem para melhorar a microinfiltração e a integridade marginal das restaurações, fatores essenciais para a longevidade e eficácia dos tratamentos odontológicos. A resistência à fadiga do material é um aspecto crucial a ser considerado, especialmente em restaurações submetidas a forças mastigatórias significativas. A inclusão de fibras nas restaurações compostas pode ajudar a reduzir a microinfiltração, melhorar a adaptação marginal e reforçar a estrutura dentária, contribuindo para a preservação da integridade do dente restaurado. Portanto, a escolha do tipo de reforço de fibra adequado desempenha um papel fundamental na qualidade e durabilidade das restaurações dentárias em casos de cavidades extensas (Mangoush et al., 2021).

Resinas compostas reforçadas com fibras na restauração de dentes tratados endodonticamente. Esses materiais, compostos por fibras curtas de vidro e cargas inorgânicas em uma matriz orgânica, foram utilizados em restaurações extensas para melhorar a resistência à fratura em áreas sujeitas a tensões. A pesquisa demonstrou que as resinas compostas reforçadas com fibras apresentaram significativas melhorias na resistência à fratura em comparação com outros materiais restauradores, como amálgama e ionômero de vidro. Portanto, a utilização dessas resinas compostas reforçadas com fibras curtas pode ser considerada uma estratégia eficaz para restaurações em dentes tratados endodonticamente, contribuindo para aprimorar a resistência estrutural e a durabilidade das restaurações (Gamal, Abdou e Salem, 2022).

O reforço de dentes com fibras longas é uma estratégia promissora para aumentar a resistência à fratura em casos de grandes cavidades MOD em dentes posteriores. Estudos in vitro demonstraram que a imobilização horizontal com fibras longas pode melhorar significativamente a resistência desses dentes restaurados, comparada às restaurações convencionais de compósito. A colocação estratégica das fibras longas, como o polietileno, cria uma camada de absorção de tensão que pode interromper a propagação de fissuras, contribuindo para um padrão de fratura mais favorável. A padronização dos métodos de preparo das amostras e a avaliação criteriosa dos estudos destacam a eficácia e a relevância do reforço com fibras longas na odontologia restauradora, oferecendo uma abordagem promissora para fortalecer dentes enfraquecidos e melhorar sua durabilidade a longo prazo (Jakab et al., 2022).

A Fitas de Fibras de Polietileno (FFP) Ribbond é um material inovador amplamente utilizado na odontologia para reforçar restaurações diretas em dentes estruturalmente comprometidos. Composto por mais de duzentas fibras longitudinais de polietileno de alto peso molecular, a FFP Ribbond oferece alta resistência à torção e capacidade de absorção de tensões, contribuindo para a resistência dental e prevenção de fraturas. Sua superfície tratada por plasma de gás frio permite uma junção química eficaz com a estrutura dentária e a matriz orgânica da resina composta, enquanto sua arquitetura entrelaçada proporciona reforço em múltiplas direções, facilitando a distribuição do estresse. Além disso, a FFP Ribbond é biocompatível, esteticamente adequada e de fácil manipulação, tornando-a uma escolha ideal para restaurações que exigem alta resistência e durabilidade (Soares et al., 2023).

O uso de fibras de polietileno em combinação com compósito reforçado com fibras curtas tem sido amplamente estudado devido ao seu potencial para melhorar a resistência à fratura em dentes tratados endodonticamente. Estudos anteriores, destacaram a capacidade das fibras de polietileno de formar uma camada que absorve o estresse, prevenindo possíveis fraturas e aumentando a resistência à fratura. Além disso, a orientação das fibras de polietileno também desempenha um papel crucial. Essas descobertas ressaltaram a importância da seleção criteriosa de materiais e técnicas restauradoras para garantir restaurações duráveis e resilientes em dentes tratados endodonticamente (Hazar e Hazar, 2024).

A combinação da fita de fibra de polietileno e fibra de vidro em restaurações extensas representa um avanço significativo na odontologia restauradora, promovendo a saúde bucal dos pacientes e melhorando a qualidade e durabilidade das restaurações dentárias (Silva, Silva e Catunda, 2023).

3. MATERIAIS E MÉTODOS

Em relação ao referencial teórico, foi realizado levantamento bibliográfico dos últimos 5 anos nos sites de busca científicos a seguir descritos: National Library of Medicine (PUBMED), Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Brasil Scientific Electronic Library Online (SciELO), utilizando como descritores em português: Endodontia. Biomimética. Polietileno. Adesivos Dentinários, como as principais fontes de pesquisa. E descritores em inglês: Endodontics. Biomimetics. Polyethylene. Dentin-Bonding Agents.

Para esta revisão da literatura foram adotados os alguns critérios de inclusão, sendo eles: 1) ter sido publicado no período de 2019 a 2024; 2) o assunto descrito ser pertinente ao objeto do estudo; 3) objetivo claro e ser fiel ao estudo realizado.

Nas bases consultadas foram encontrados um total de 30 artigos. Os artigos incluídos nesta revisão de literatura foram selecionados após a adoção dos critérios de inclusão citados, sendo que após a análise metodológica, foram utilizados 28 trabalhos.

4. RELATO DE CASO CLÍNICO

Paciente, I.A.S, 31 anos, sexo feminino, compareceu a Clínica Escola de Odontologia do Centro Universitário São Lucas, Porto Velho – RO, em busca de tratamento restaurador no dente 47, pois queixava-se de dor. O elemento em questão estava com uma lesão extensa por cárie. Na anamnese, o paciente não referia doenças sistêmicas ou cardíacas e não fazia uso de medicamentos ou drogas. Após anamnese e exame físico intra e extraoral, foi realizada radiografia periapical (Figura 1) e tomografia computadorizada de feixe cônico (TC) a fim de analisar a anatomia dos canais radiculares (Figura 2). Através da TC constatou-se que o canal mesial no terço cervical percorre por um conduto único e se bifurca no terço médio e terço apical o que tornou o preparo biomecânico dos canais radiculares desafiador. Foi observado que o dente 47 apresentava uma ampla destruição envolvendo as faces mésio-ocluso-lingual (MOL).

Figura 1 – Radiografia periapical dente 47.

Fonte: Próprio autor

Figura 2 – Tomografia computadorizada de feixe cônico corte axial dente 47.

Fonte: Próprio autor

O tratamento endodôntico do dente 47 foi realizado no Centro Oodntológico São Lucas – Afya na Clínica Integrada. Ao analisar o dente clinicamente foi possível identificar presença de lesão cariosa mesmo após conclusão do tratamento endodôntico. Inicialmente, realizou-se radiografia periapical do elemento 47 para verificar o tratamento endodôntico. Após análise foi possível identificar êxito no tratamento de canal do dente em questão. A seguir, foram feitos registros fotográficos de todas as faces dentais, e efetuado o isolamento absoluto com lençol de borracha (Sanctuary, K-Dent, São Paulo, Brasil) utilizando o grampo 26 (Golgran, São Paulo, Brasil) e remoção do selamento provisório (figura 3). Foi realizada radiografia periapical do elemento dentário após a remoção do selamento provisório (figura 4). Com o objetivo de detectar a proporção da cárie, foi inserido na cavidade o evidenciador de cárie Evicárie (Biodinâmica, Paraná, Brasil – figura nº 5). Para remover a lesão cariosa foi utilizada a ponta diamantada 1014 (KG Sorensen, São Paulo, Brasil) em alta rotação, sob refrigeração. Após completa remoção da lesão, foi realizada profilaxia da cavidade com jateamento de óxido de alumínio (Azdent, Henan, China – figura 6).

Figura 3 – Após a remoção do selamento provisório

Fonte: Próprio autor

Figura 4 – Radiografia após a remoção do selamento provisório 

Fonte: Próprio autor

Figura 5 – Uso do evidenciador de cárie (Evicárie)

Fonte: Próprio autor

Figura 6 – Imagem após o jateamento de óxido de alumínio.

Fonte: Próprio autor

Com a cavidade limpa foi feito o condicionamento ácido em dentina por 15 segundos e  em esmalte com ácido fosfórico 37% (Ultradent, São Paulo, Brasil ) por 30 segundos. Após o condicionamento do tecido dentário, foi realizada a sucção do material, seguido de lavagem abundante com água por 60 segundos, seguido por secagem com jato de ar. A seguir foi aplicado o sistema adesivo de dois passos OptiBond™ FL + Primer (Kerr, Califórnia, Estados Unidos). Inicialmente foi realizado o preparo da dentina com aplicação do primer por toda a cavidade com auxílio de um microaplicador Cavibrush (FGM, Santa Catarina, Brasil – figura nº 7) sob fricção ativa por 15 segundos. Após essa etapa, aguardamos a evaporação do material solvente com auxílio de leve jato de ar por 20” e logo em seguida aplicamos uma camada de Bond sobre a cavidade (Figura 8).

Figura 7 – Aplicação do Primer

Fonte: Próprio autor

Figura 8 – Aplicação do Bond

Fonte: Próprio autor

Na sequência, procedeu-se a fotopolimerização por 60 segundos (MaxCure 9, Refine, Guilin, China), na potência de 1200 mw/cm².

Feito o Selamento dentinário imediato (SDI), foi cronometrado cinco minutos para conceder a maturação da camada híbrida. Atingido o tempo, foi confeccionado o Resing coatgin (RC) com resina Flow Grandioso Heavy Flow (Voco, São Paulo, Brasil – figura nº 9) em uma camada com cerca de 0,5mm, utilizamos a sonda milimetrada de Carolina do Norte (Hu-Friedy, Frankfurt am Main, Alemanha) para verificar a espessura do material dispensado. Em seguida foi introduzida à cavidade uma fita de fibra de polietileno de alta resistência com espessura de 3mm de comprimento Ribbond (Oraltech, Paraná, Brasil – figura nº 10) embebida em adesivo, sobre a parede pulpar, unindo as paredes no sentido mesio-distal seguida de fotoativação por 40 segundos.

Figura 9 Resing coating (RC) com resina fluída.

Fonte: Próprio autor

Figura 10 – Inserção da fita de fibra de polietileno.

Fonte: Próprio autor

Dessa forma, foi realizada inserção da Resina Composta DA3 em incrementos horizontais de 1 mm, utilizando resina composta nano-híbrida Forma A3 (Ultradent, São Paulo, Brasil – Figura nº 11). Após foi feita a Inserção da Resina Composta EA3 nano-híbrida Forma A3 (Ultradent, São Paulo, Brasil – Figura nº 12) em incremento único.

Figura 11 – Inserção da Resina DA3 em incrementos horizontais de 1mm.

Fonte: Próprio autor

Figura 12 – Inserção da Resina Composta (EA3) em incremento único.

Fonte: Próprio autor

Por último, aplicou-se um gel bloqueador de oxigênio (Power Block, BM4, Paraná, Brasil) sobre a restauração após a fotopolimerização final e realizou-se uma fotopolimerização adicional. Esse procedimento é necessário porque a presença de oxigênio interfere na polimerização da resina composta. Terminada a restauração e removido o isolamento absoluto, foi realizado o ajuste oclusal utilizando tiras de carbono extrafinas (Parkell, Nova Iorque, Estados Unidos).

Para acabamento e polimento, foi utilizada a sequência de borrachas grossa, média e fina (American Burrs, Rio Grande do Sul, Brasil), disco de lixa para acabamento proximal (TDV Dental, Santa Catarina, Brasil). Aspecto final do procedimento restaurador (figura nº 13). Paciente retornou após duas semanas e observou-se polimento satisfatório da restauração (figura nº 14). Não houve relato de problemas em relação à oclusão e dificuldade de higienização por parte da paciente, sendo ela orientada em relação à importância das consultas de manutenção.

Figura 13 – Aspecto final do procedimento restaurador.

Fonte: Próprio autor

Figura 14 – Aspecto final do procedimento restaurador após 2 semanas.

Fonte: Próprio autor

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Em relação a abordagem da odontologia biomimética, os dentistas com esse conhecimento adotaram abordagens restauradoras mais conservadoras, alinhadas com sua capacitação, em comparação com aqueles sem esse treinamento específico na área (Kimble et al., 2023).

Zafar et al., (2020); Upadhyay et al., (2020) destacaram à importância dos biomateriais na regeneração do tecido oral e dentário, também concordaram que embora a odontologia tenha avançado consideravelmente no campo da medicina regenerativa, ainda há desafios a superar.

Os autores Upadhyay et al., (2020), Zafar et al., (2020) e Paryaniet al., (2023) ressaltaram à importância contínua da pesquisa e desenvolvimento de biomateriais e técnicas de engenharia de tecidos para avançar na odontologia regenerativa e na prática clínica.

Estudos indicaram que a abordagem biomimética, seja adaptando materiais existentes ou criando novos, tem maior sucesso, melhor prognóstico e maior biocompatibilidade do que a substituição convencional por materiais dentários (Paryaniet al., 2023).

Dentes que passaram por tratamento endodôntico podem obter vantagens com a aplicação de princípios biomiméticos. Isso se torna ainda mais claro devido ao impacto negativo das rachaduras na previsão de longo prazo, sendo que essa abordagem pode auxiliar na contenção ou na redução dos efeitos das rachaduras na estrutura dentária (Kimble et al., 2023).

A endodontia regenerativa visa promover a regeneração do complexo dentino-pulpar em dentes permanentes, embora os resultados nem sempre sejam previsíveis, destaca-se a importância da desinfecção adequada do canal radicular e do fornecimento de fatores de crescimento e células-tronco para promover a regeneração tecidual polpa (Kumar et al., 2022).

Shetty et al., (2023) defendem que a utilização de técnicas como terapia gênica, impressão celular tridimensional e engenharia de tecidos abrem novas perspectivas para a regeneração de tecidos dentários danificados ou perdidos. Thakur, Sharma e Minocha (2024) indicaram materiais como biodentina e bioagregado são fundamentais nessas terapias.

Em relação ao uso das Endocrowns, Gupta et al., (2021) defenderam que são uma opção favorável para a restauração de dentes tratados endodonticamente, visando à abordagem de odontologia minimamente invasiva para a restauração estética e funcional.

Papalexopoulos, Samartzi e Sarafianou, (2021); Sedrez et al., (2019); Bettencourt et al., (2021) concordaram que são necessários mais estudos clínicos e pesquisas para avaliar o uso da técnica em pré-molares e dentes anteriores.

Um estudo de revisão sistemática conduzido por Sedrez-Porto et al., (2019) analisou a sobrevivência e resistência à fratura in vitro de restaurações endocrown em comparação com tratamentos convencionais, como pinos intrarradiculares, resina composta direta ou restaurações inlay/onlay. Os resultados indicaram que as endocrowns podem apresentar desempenho igual ou superior aos tratamentos convencionais. Singer, Fouda e Bourauel, (2023) completaram que materiais biomiméticos, como as resinas compostas com nanopartículas de hidroxiapatita, simulam as propriedades mecânicas e ópticas da estrutura dental, resultando em restaurações mais estéticas e duráveis.

Com base nas análises in vitro de resistência à fratura, distribuição de tensões, critérios de preparo e materiais empregados, foi constatado que a Endocrown é uma opção confiável para restaurações em molares e mostra potencial promissor para pré-molares. Destaca-se a resina composta e vitrocerâmica de dissilicato de lítio entre os materiais avaliados (Papalexopoulos, Samartzi e Sarafianou, (2021); Boudabous et al., 2024).

No que se refere ao reforço de fibras de polietileno, esse uso representa uma evolução nos tratamentos restauradores, ao preservar a estrutura dental, melhorar a adesão e imitar a biomecânica natural.  A consideração das características dos materiais, como a absorção do adesivo na fibra, é essencial para resultados ideais. A integração de aspectos biológicos, mecânicos, adesivos, funcionais e estéticos é crucial para o sucesso a longo prazo das restaurações biomiméticas (Palma et al., 2021).

Bahari et al., (2019) concluíram que a restauração com resina composta é capaz de restabelecer a resistência à fratura de pré-molares tratados endodonticamente a um nível semelhante ao de dentes saudáveis. A adição de reforço de fibra não proporciona um aumento adicional na resistência à fratura de pré-molares maxilares tratados endodonticamente e restaurados com resina composta. Para Sáry et al., (2019) o emprego de fibras de polietileno demonstra benefícios consistentes, sem importar sua localização específica dentro da cavidade ou da restauração.

Bahari et al., (2019) recomendam o uso de fibras de polietileno em conjunto com resinas compostas do tipo Flow para forramento em dentes tratados endodonticamente com cavidades MOD, visando aumentar a resistência à fratura. Essas fibras atuam como substitutos da dentina, absorvendo tensões e melhorando a resistência à fratura do dente, preservando as cúspides proximais. Essa estratégia pode fortalecer as restaurações em dentes tratados endodonticamente e prolongar sua durabilidade, conforme evidenciado no estudo.

Estudos in vitro fornecem evidências consistentes de que as FRCs (Fibras de Reforço de Compósito) têm a tendência de fortalecer restaurações em dentes estruturalmente comprometidos, resultando em uma melhoria significativa na resistência à fratura em comparação com restaurações compostas sem reforço de fibra. Porem destacaram que, em relação à Ribbond, por se tratar de uma fita não impregnada, pode ocorrer uma absorção inadequada do adesivo pela fibra, o que pode resultar em espaços vazios entre a matriz, diferentemente das fibras de vidro pré-impregnadas (Mangoush et al., 2021).

Soares et al., (2023) enfatizaram que a eficácia da FFP Ribbond se deve ao seu importante peso molecular, que reforça as tensões mastigatórias em restaurações complexas com resina composta, aumentando a resistência à fratura. Sua trama de polietileno de alta resistência, combinada com sua estética e fácil adaptação, a tornam uma escolha vantajosa.

É importante ressaltar que a abordagem adesiva convencional e autocondicionante também podem ser consideradas, ampliando as opções disponíveis para os profissionais da área odontológica. (Brasil e Teruya, 2024).

A adesão desempenha um papel fundamental na odontologia moderna, permitindo restaurações mais conservadoras, estéticas e duradouras. Rosas et al., (2024) definem que os protocolos recomendados para maximizar a adesão incluem a remoção do tecido cariado, a limpeza da cavidade, o uso de adesivos padrão ouro, o selamento dentinário imediato e a aplicação de uma camada hidrofóbica de resina fluida.

Em relação à realização do selamento dentinário imediato (SDI), Rocha et al., (2024); Brasil e Teruya (2024) concordam que essa prática é fundamental odontologia biomimética, pois a aplicação do sistema adesivo sobre a dentina logo após o preparo dentário pode contribuir significativamente para a eficácia da adesão dos procedimentos restauradores.

O SDI não apenas ajuda a evitar falhas de adesão, mas também proporciona uma superfície ótima para a execução de procedimentos adesivos, garantindo uma adesão eficaz e duradoura. Além disso, a utilização do SDI pode resultar em uma diminuição da sensibilidade pré e pós-operatória, minimizando a infiltração de bactérias e promovendo maior longevidade das restaurações indiretas (Brasil e Teruya, 2024).

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Seguindo a abordagem da Odontologia Biomimética, evitou-se o uso de pinos intracanais na restauração do dente, priorizando métodos que melhoram a adesão e reduzem a contração da resina composta. Essas técnicas foram consideradas suficientes para realizar a restauração, mesmo em casos de extensa perda dental após o tratamento de canal.

REFERÊNCIAS

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ZAFAR, MS. et al. Biomimetic Aspects of Restorative Dentistry Biomaterials. Biomimetics (Basel). v.5, p. 34, 2020.


1Acadêmica do curso de Odontologia do Centro Universitário São Lucas – Porto Velho. E-mail: denteacademica@gmail.com

2Acadêmica do Curso de Odontologia do Centro Universitário São Lucas – Porto Velho. E-mail: katiabeatriz18@gmail.com

3Acadêmica do curso de Odontologia do Centro Universitário São Lucas – Porto Velho. E-mail: eduarda8h@gmail.com

4Acadêmica do Curso de Odontologia do Centro Universitário São Lucas – Porto Velho. E-mail: gabyaraujoamaral@gmail.com

5Acadêmica do curso de Odontologia do Centro Universitário São Lucas – Porto Velho. E-mail: louisetprecioso@hotmail.com

6Acadêmica do Curso de Odontologia do Centro Universitário São Lucas – Porto Velho. E-mail: Tauanavanzella7@gmail.com

7Professor do curso de Odontologia do Centro Universitário São Lucas – Porto Velho. E-mail: leonardo.fiori@saolucas.edu.br

8Orientador e Professor do curso de Odontologia do Centro Universitário São Lucas – Porto Velho e Professor do curso de Pós-graduação em Endodontia SOEP – FACSete. E-mail: joao.relvas@saolucas.edu.br