RESPOSTAS SINTOMÁTICAS E FUNCIONAIS DE DIRECIONAMENTO TERAPÊUTICO APÓS SUBCLASSIFICAÇÃO SEMIOLÓGICA EM TRABALHADORES COM LOMBALGIA CRÔNICA INESPECÍFICA 

RESPUESTAS SINTOMÁTICAS Y FUNCIONALES A LA FOCALIZACIÓN TERAPÉUTICA DESPUÉS DE LA SUBCLASIFICACIÓN SEMIOLÓGICA EN LOS TRABAJADORES CON LUMBALGIA CRÓNICA INESPECÍFICA

SYMPTOMATIC AND FUNCTIONAL RESPONSES OF THERAPEUTIC FOCUS AFTER SEMIOLOGICAL SUBCLASSIFICATION IN WORKERS WITH INSPECIFIC CHRONIC LUMBAR PAIN

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10711580


Fernanda Pasini Berkenbrock¹
Kristian Madeira2
Willians Cassiano Longen3


RESUMO

Objetivo: Analisar as respostas sintomáticas e funcionais de direcionamento terapêutico após subclassificação semiológica em trabalhadores com lombalgia crônica inespecífica. Materiais e Métodos: O presente trabalho de pesquisa caracteriza-se como sendo um ensaio clínico não randomizado (quase-experimental), quantitativo analítico e longitudinal, que ocorreu no NUPAC-ST. A amostra envolveu 9 trabalhadores, com idades entre 19 a 46 anos e média de 33,33 (± 9,10), que realizaram com regularidade 8 atendimentos após a subclassificação e apresentavam lombalgia crônica inespecífica. Foram aplicados 3 questionários: STarT Back Screening Tool, Índice de Incapacidade Oswestry 2,0 e FABQ- Brasil. Para a subclassificação aplicou-se uma Ficha de Avaliação Fisioterapêutica para Classificação de Lombalgia. O grau de dor foi avaliado através da Escala Visual Analógica e Limiar de Dor à Pressão em kgf. Resultados: O subgrupo estabilização foi o mais frequente com 4(44.4%) dos pacientes classificados, seguido do subgrupo tração com 3(33.3%), após a intervenção fisioterapêutica os resultados apresentaram uma melhora significativa em todos os itens reavaliados, sendo de (p<0,001) no questionário STarT Back Screening Tool, (p<0,05) no Índice de Incapacidade Oswestry e (p<0,05) no  FABQ-Brasil . Houve melhora na amplitude de movimento, força muscular e na dor com a EVA (p<0,05) dos pacientes. Conclusão: A subclassificação da lombalgia mostra-se como uma estratégia facilitadora na avaliação e no direcionamento fisioterapêutico. Os resultados positivos encontrados neste estudo com melhoras sintomáticas e funcionais, na reavaliação dos trabalhadores, foram promissores.

Palavras-chave: Dor Lombar. Tração. Dor Crônica. Classificação. Terapia Combinada.

RESUMEN

Objetivo: Analizar las respuestas sintomáticas y funcionales de direccionamiento terapéutico después de la subclasificación semiológica en trabajadores con lumbago crónico inespecífico. Materiales y Métodos: El presente trabajo de investigación se caracteriza como un ensayo clínico no randomizado (cuasi experimental), cuantitativo analítico y longitudinal, que ocurrió en el NUPAC-ST. La muestra involucró a 9 trabajadores, con edades entre 19 y 46 años y media de 33,33 (± 9,10), que realizaron con regularidad 8 atendimientos después de la subclasificacióny presentaban lumbalgia crónica inespecífica. Se aplicaron 3 cuestionarios: STarT Back Screening Tool, Índice de Incapacidad Oswestry 2.0 y FABQ-Brasil. Para la subclasificación se aplicó una Ficha de Evaluación Fisioterapéutica para Clasificación de Lumbago. El grado de dolor fue evaluado a través de la Escala Visual Analógica y el umbral de dolor a la presión en kgf. Resultados: El subgrupo estabilización fue el más frecuente con 4 (44.4%) de los pacientes clasificados, seguido del subgrupo tracción con 3 (33.3%), después de la intervención fisioterapéutica los resultados presentaron una mejora significativa en todos los ítems reevaluados, (p <0,001) en el cuestionario STarT Back Screening Tool, (p <0,05) en el Índice de Incapacidad Oswestry y (p <0,05) en el FABQ-Brasil. Se ha mejorado en la amplitud de movimiento, fuerza muscular y en el dolor con la EVA (p <0,05) de los pacientes. Conclusión: La subclasificación de la lumbalgia se muestra como una estrategia facilitadora en la evaluación y en el direccionamiento fisioterapéutico. Los resultados positivos encontrados en este estudio con mejoras sintomáticas y funcionales, en la reevaluación de los trabajadores, fueron prometedores.

Palabras Clave: Dolor de la Región Lumbar. Tracción. Dolor Crónico. Clasificación. Terapia Combinada

ABSTRACT

Objective: Analyze the symptomatic and functional responses of therapeutic targeting after semiological subclassification in workers with nonspecific chronic low back pain. Materials and Methods: This study is characterized as a non-randomized (quasi-experimental), quantitative analytical and longitudinal, which realized in NUPAC-ST. The sample composed by 9 workers with non-specific chronic low back pain, and ages between 19 and 46 years with a mean of 33.33 (± 9.10), who were the patients in this study, in which were regularly performed 8 appointments after subclassification. Three questionnaires were applied: STarT Back Screening Tool, Oswestry Disability Index 2.0 and FABQ- Brazil. For the subclassification was applied a Fisioterapeutic Evaluation Sheet for Low Back Pain Classification. The degree of pain was evaluated through the usage of Visual Analog Scale and Pressure Pain Threshold in kgf. Results: The Stabilization Subgroup had the highest incidence with 4 (44.4%) of the patients followed by the traction subgroup with 3 (33.3%), after the physiotherapeutic intervention the results showed a significant improvement in all items reassessed, with (p <0.001) in the STarT Back Screening Tool questionnaire, (p <0.05) in the Oswestry Disability Index, and also (p <0.05) in FABQ-Brasil, the results also showed too an improvement in range of motion and muscle strength with EVA (p <0.05). Conclusion: The subclassification of low back pain is shown as a facilitating strategy in the evaluation and physical therapy direction. The positive results found in this study through the reassessment of symptomatic and functional improvements in workers were promising.

Key Words: Low Back Pain. Traction. Chronic Pain. Classification. Combined Modality Therapy.

INTRODUÇÃO

 A lombalgia, também conhecida como dor lombar, é um grande problema de saúde em todo o mundo e uma das principais causas de despesas médicas, absenteísmo e deficiência1. Na população geral, a prevalência de lombalgia varia entre 44,1 e 84,0%, sendo que acomete mais o sexo feminino2,3. Além disso, mais de um quarto da incapacidade relacionada à lombalgia (28%) é causada pelas exposições ocupacionais e 5% a 10% dos trabalhadores perdem mais de sete dias de trabalho devido a esta doença4.

A lombalgia é uma condição clínica complexa e heterogênea que inclui uma ampla variedade de sintomas. Essa condição é definida como dor e/ou um desconforto localizado abaixo do rebordo costal e acima da linha glútea superior, podendo apresentar dor em membro inferior. A lombalgia é considerada crônica se os sintomas persistirem por mais de três meses5.

O diagnóstico tem como proposito combinar a apresentação clínica do paciente com a abordagem de tratamento mais eficaz.  Por se tratar de uma patologia de causa indefinida, o diagnóstico torna-se difícil6.

Pesquisas recentes trazem na literatura o sistema de classificação baseado em subgrupos, que utiliza informações da história e exame físico para classificar o paciente em grupos de tratamento separados, com a função de facilitar a abordagem terapêutica utilizada para cada paciente, no intuito de aumentar a probabilidade de sucesso na reabilitação6.  

O sistema de classificação baseado em subgrupo se divide em quatro, são eles: 1) Manipulação – pacientes apresentam hipomobilidade lombar e início recente da dor; 2) Estabilização – possuem sinais e sintomas de instabilidade/hipermobilidade lombar; 3) Exercícios específicos – que se subdivide em flexão (centralização dos sintomas na flexão do tronco), extensão (centralização dos sintomas na extensão do tronco) e inclinação lateral (desvio visível dos ombros com relação a pelve no plano frontal); 4) Tração- pacientes apresentam sinais e sintomas de compressão da raiz nervosa7.

Estes subgrupos são classificados de acordo com os achados clínicos na avaliação, por exemplo, se ao exame relata-se teste positivo de elevação da perna estendida (Teste de Laségue), o subgrupo tração é o mais indicado. Se não houver dor irradiada, verifica-se se a dor pode ser influenciada por movimentos específicos e se é amenizado pelo movimento oposto, com esta apresentação de sintomas, este grupo é classificado como o subgrupo de movimentos específicos. No subgrupo manipulação, o sintoma da dor lombar é de início recente. Dores lombares recidivas e em grupos mais jovens são manifestações do subgrupo estabilização8.

O sistema muscular é de importância fundamental para a estabilidade e o movimento da coluna vertebral9. O descondicionamento muscular, devido a fatores congênitos ou por uma diminuição da atividade muscular, pode ser visto como uma causa da dor lombar inespecífica ou até mesmo uma consequência desta condição9,10.

Uma grande variedade de intervenções terapêuticas está disponível para o tratamento da lombalgia5. Entre estas, pode ser citada a tração, que é utilizada para melhorar a mobilidade e aliviar os sintomas11,12.

A tração é a aplicação de uma força que separa dois ossos adjacentes uns dos outros, a fim de aumentar o espaço comum compartilhado13. Dessa forma, o objetivo geral da tração lombar é fornecer forças de tração paralelas ao longo eixo central da coluna em uma tentativa de esticar os tecidos moles e reduzir as cargas compressivas que atuam no espaço intervertebral dos discos14.

Uma das estratégias de tratamento recomendadas para lombalgia é o programa de tratamento multimodal, sendo provado que possui resultados superiores em comparação com outras opções de tratamentos isolados15

O objetivo deste estudo foi analisar as respostas sintomáticas e funcionais de direcionamento terapêutico após subclassificação semiológica em trabalhadores pacientes do Núcleo de Promoção e Atenção Clínica a Saúde do Trabalhador- NUPAC/ST com lombalgia crônica inespecífica submetidos a um tratamento multimodal.

MÉTODOS

O presente trabalho de pesquisa caracteriza-se como sendo um ensaio clínico não randomizado (quase-experimental), quantitativo analítico e longitudinal, que ocorreu no Núcleo de Promoção e Atenção Clínica a Saúde do Trabalhador (NUPAC-ST) que tem suas atividades de reabilitação realizadas na Clínica de Fisioterapia, junto às Clínicas Integradas da Universidade do Extremo Sul Catarinense-UNESC. 

O NUPAC-ST nos meses de agosto e setembro de 2020 realizou atendimento a 90 trabalhadores formais e informais da região carbonífera de Santa Catarina-Brasil. Deste total, 28 possuíam alguma disfunção relacionada ao segmento lombar. Foram excluídos 19 trabalhadores que não se enquadraram nos critérios de inclusão por possuírem: diagnóstico clínico específico, mais que 55 anos ou por apresentarem dor lombar a menos de 3 meses. A amostra envolveu 9 trabalhadores, com idades entre 19 a 46 anos e média de 33,33 (± 9,10), sendo os casos que realizaram com regularidade 8 atendimentos após a subclassificação e que apresentavam lombalgia crônica inespecífica. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa e Humanos da UNESC (CEP) em junho de 2020, pelo parecer de número 2.744.916.

Antes do início das avaliações, todos os participantes forneceram por escrito o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para participar do estudo e responderam um questionário de identificação com dados sociodemográficos. Os procedimentos e instrumentos de avaliação da condição sintomática e funcional foram realizados pré e pós o tratamento mediante a subclassificação. Foram utilizados 3 questionários, o STarT Back Screening Tool (STarT),  constituído por nove itens, quatro são relacionados a dor, disfunção e comorbidades e cinco itens relacionados a parte psicossocial como: incômodo, medo, ansiedade e depressão16, o questionário Índice de Incapacidade Oswestry 2.0, composto por dez questões sendo a primeira referente à avaliação da dor e as outras nove avaliando o efeito da dor sobre as Atividades de Vida Diária – AVDs17 e o questionário Fear Avoidance Beliefs validado na versão Brasileira (FABQ-Brasil), composto de 16 perguntas, as cinco primeiras referentes às crenças relacionadas a atividades físicas e as outras 11 perguntas relacionadas a crenças ocupacionais18.

A avaliação fisioterapêutica foi composta pela avaliação dos movimentos da coluna vertebral, mensurados de forma angular pela goniometria do segmento lombar e quadril, testes específicos de segmento lombar envolvendo o Teste de Laségue, aplicado em uma maca com o voluntário em decúbito dorsal, o Slump Test realizado com o indivíduo sentado em uma maca, o teste Sinal das Pontas “De Séze”, realizado em ortostase, o teste de instabilidade em prono, o teste de Thomas que verifica encurtamento de iliopsoas e reto femoral. Foram aplicados da mesma forma testes de quadril para descarte de disfunções relacionadas a este segmento, como o Teste de Patrick e Gaenslen. Foi realizada avaliação postural para verificar desvio dos ombros com relação ao quadril no plano frontal. Foram testados os reflexos profundos patelar e aquileu e Dinamometria lombar para verificar a força muscular desse segmento em kgf. 

  Utilizou-se a Escala Visual Analógica da Dor (EVA) através da régua para visualização e indicação do valor da escala de 0 a 10, bem como, foi utilizado o Limiar da Dor à Pressão (LDP) para a avaliação do músculo iliocostal lombar e multifídios bilateralmente, através de um algômetro do tipo dinamômetro eletrônico de pressão da marca Kratos modelo DDK com medidas até 100 kgf. Os algômetros são usados para medir a sensibilidade dos músculos e outros tecidos moles. O limiar de dor à pressão pode ser usado para avaliar o aumento ou a diminuição da sensibilidade muscular induzida empiricamente19. Aplicado com o indivíduo em decúbito ventral e solicitado a pressionar um botão que bloqueia a tela do algômetro quando a sensação de pressão se transformou em dor. Os valores em kgf foram registrados após cada verificação.

Após a aplicação dos questionários e avaliação, os mesmos foram analisados e serviram para enquadrar os participantes em subgrupos, verificando assim a melhor forma de tratamento para cada quadro apresentado. Os pacientes dos subgrupos manipulação e tração tiveram em seu tratamento multimodal técnicas como terapia manual, exercícios e uso da mesa de flexo-distração, já os pacientes do subgrupo exercícios específicos e estabilização receberam como tratamento multimodal técnicas de Terapia Manual e Exercícios.

Os atendimentos ocorreram por um período de 8 sessões com duração de 40 minutos cada. O tratamento fisioterapêutico foi realizado de acordo com a necessidade de cada paciente com Fisioterapia convencional. A terapia manual contou com técnicas como do método Cyriax e liberação miofascial20,21. Os exercícios consistiram de exercícios para a região lombo pélvica, tendo como base o Método Mckenzie, exercícios de Williams e exercícios posturais convencionais para fortalecimento22,23 .Os subgrupos que receberam atendimento multimodal e que incluíram a mesa de flexo-distração Techmec®, contaram em cada sessão com a sua utilização variando entre 7 a 15 minutos e com velocidade entre 30 a 50%.

O programa de tratamento foi realizado com os objetivos de melhorar a capacidade funcional, reduzir a dor e aumentar o conhecimento dos pacientes sobre as técnicas, através de orientações diretas e individuais. Ao final do tratamento os pacientes foram reavaliados e analisadas as respostas sintomáticas e funcionais de direcionamento terapêutico após subclassificação semiológica nesta amostra de trabalhadores com lombalgia crônica inespecífica.

Os dados coletados foram analisados com auxílio do software IBM Statistical Package for the Social Sciencies (SPSS) versão 22.0. As variáveis quantitativas foram expressas por média e desvio padrão quando apresentaram distribuição normal e por mediana (amplitude) quando não seguiram esse tipo de distribuição. As variáveis qualitativas foram expressas por meio de frequência e porcentagem.

Os testes estatísticos foram realizados com um nível de significância α = 0,05 e, portanto, confiança de 95%. A distribuição dos dados quanto à normalidade foi avaliada por meio da aplicação do teste de Shapiro-Wilk. A comparação entre as médias foi realizada por meio da aplicação do teste t de Student para amostras em pares.

RESULTADOS

Os dados do perfil sócio demográfico da amostra foram registrados especialmente envolvendo aspectos considerados relevantes para a melhor compreensão dos quadros de lombalgia (Tabela1). 

O estudo classificou os pacientes em subgrupos, através dos questionários e dos principais achados clínicos da avaliação fisioterapêutica para classificação da lombalgia (Quadro1)

Os 9 participantes foram classificados em 4 subgrupos a partir dos critérios de avaliação voltados para a subclassificações (Tabela 2).

Na verificação dos resultados pré e pós tratamento foram analisadas as existências de diferenças estatisticamente significativas nos questionários (Tabela 3).

Para avaliar a dor foi utilizado o Limiar de Dor a Pressão em kgf mostrando significância na reavaliação e a amostra da EVA que avalia a intensidade da dor houve na maioria dos relatos intensidade moderada com 66,7% na avaliação e de intensidade leve em 77,8% na reavaliação, mostrando significância (Tabela 4).

A pesquisa verificou a mobilidade através da goniometria nos segmentos lombares, observando aumento no grau do movimento no pré e pós tratamento nesses segmentos corporais. A dinamometria lombar verificou a força muscular desse segmento em kgf mostrando significância (Tabela 5).

DISCUSSÃO

Estudos indicam que aproximadamente 80% da população terá um ou mais episódios de dor lombar em algum momento da vida24. No Brasil, 19% da população adulta relata dor espinhal crônica, 15,26% (± 4,56) homens e 20, 8% (±4,11) mulheres3.O presente estudo contou com 9 trabalhadores ativos, com idade entre 19 e 46 anos dos quais 6 (66,7%) trabalhavam por mais de 5 anos na mesma profissão e 7 (77,8%) eram do sexo feminino, sendo este o público mais acometido por dor autorreferida na coluna no Brasil3,25.

A dor lombar é uma das quatro doenças mais comuns e é um grande problema econômico em muitos países, a sua etiologia na maioria dos casos é desconhecida ou inespecífica em até 85% dos casos26. Enquanto o tratamento ideal para dor lombar inespecífica não é bem estabelecido, nem conta com consenso, criam-se sistemas como o de classificação em subgrupos que tem o intuito de desenvolver um programa de tratamento adaptado, com potencialidade para produzir bons resultados27.Os 9 trabalhadores do estudo foram classificados em 4 subgrupos (Tabelas 2), de acordo com os achados clínicos (Quadro 1). Desta forma, foram submetidos a 8 sessões fisioterapêuticas com o tratamento direcionado a cada subgrupo.

O estudo teve como objetivo observar e comparar os resultados no pré e pós tratamento dos pacientes classificados pelo sistema de subgrupos, não tendo grupos placebo por julgar impróprio que pacientes sintomáticos permaneçam sem um tratamento adequado. Mas sabe-se que para analisar a eficiência da classificação, comparando dois subgrupos, seria necessário haver um subgrupo com potencialidade para trazer benefícios e outro inerte. Contudo, da mesma forma, este parece um cenário muito improvável quando os tratamentos são comparados com um placebo, uma lista de espera, ou nenhum tratamento, sendo mais sustentável quando os tratamentos ativos são comparados em ensaios de eficácia comparativa27.

A adoção de uma vida ativa constitui um fator de proteção para uma vida saudável, sendo que quanto mais ativo um indivíduo for, menor será o número de enfermidades28. Promover a reativação física gradual e evitar o repouso são recomendados no tratamento da dor lombar. Entretanto, essas recomendações podem não ser realizadas por indivíduos que possuem crenças errôneas, atitudes de evitação ou medo de atividade física. Essas pessoas podem gerar uma ideação catastrófica sobre possíveis danos, o que, por sua vez, aumenta a incapacidade e a dor, interferindo no curso clínico e na adesão ao tratamento. O Fear Questionance Beliefs Questionnaire- FABQ, explica como a presença de crenças de medo e/ou evitação à atividade física e atividades ocupacionais, relacionam-se ao prognóstico da cronicidade em pessoas com lombalgia29. Um estudo realizado no México com 80 pessoas (33 homens e 47 mulheres), com idade média de 34,19, correlacionou os achados do FABQ, com a dor (EVA) e incapacidade (Questionário Roland Morris). Uma correlação positiva foi encontrada entre a incapacidade funcional e a dor, com altas pontuações no FABQ29.

No presente estudo, os comportamentos de medo e evitação dos pacientes com lombalgia crônica predisseram uma proporção no grau de incapacidade e dor. Os valores do FABQ-Físico e FABQ-Trabalho, apresentaram redução significativa na reavaliação (Tabela 3), mostrando que o medo e evitação dos pacientes diminuiu após a intervenção fisioterapêutica, assim como, os valores da Escala Visual Analogia-EVA e da incapacidade funcional (Índice de Incapacidade de Oswestry), apontaram para melhora significativa na reavaliação. Na EVA inicial 6(66,7%) dos pacientes apresentavam dor moderada e na reavaliação 7(77,8) passaram a apresentar dor leve (p<0,001) (Tabela 4).

A dor é subjetiva, o que torna difícil a sua quantificação, mas existem ferramentas que auxiliam a mensurá-la, por exemplo, através da verificação da sensibilidade dos músculos e tecidos moles, determinado pelo Limiar de Dor a Pressão-LDP19. Neste estudo foi possível observar melhora significativa em todos os músculos testados, mostrando uma maior tolerância à dor por pressão principalmente no músculo iliocostal lombar (p<0,001), corroborando com a redução encontrada da intensidade da dor medida pela EVA (p<0,001). Entretanto Imamura et al., correlaciona negativamente o Limiar da Dor à Pressão (LDP) com a dor e função, por haver outros fatores influenciadores como os aspectos afetivos, motivacionais, depressivos e funcionais, podendo desta forma afetar o limiar de dor, sendo necessário prudência na hora de interpretar os resultados30.

Para melhorar o atendimento de pacientes com lombalgia, foi desenvolvido o questionário Start back Tool (STarT). Ele ajuda na tomada de decisões iniciais, por subagrupar pacientes com base em seu prognóstico e ajuda a direcionar o tratamento de acordo com o prognóstico. Uma suposição por trás do uso de STarT é a capacidade de prever a melhoria funcional31. Um estudo realizado com 475 pacientes, investigou a capacidade de STarT de prever uma melhora de 30% no escore do questionário de incapacidade lombar de Roland Morris, onde após 8 semanas os pacientes de alto risco tiveram  61% mais chances de não alcançar uma melhora de 30% na pontuação do Roland Morris, em comparação com o grupo  de pacientes com médio risco e o de baixo risco. Estes achados mostram que o STarT foi preditivo para a melhora funcional em pacientes de clínica geral com dor lombar31

Neste estudo 5 (55,6%) dos pacientes apresentavam alto risco no STarT na avaliação, ou seja, um mal prognóstico, já na reavaliação apenas 1 (11,1%) apresentou alto risco e 8 (88,9%) baixo risco (p<0,001). Com relação a capacidade funcional verificada através do Índice de Incapacidade Oswestry 2.0, os pacientes apresentaram em sua maioria incapacidade moderada 5 (55.6%) na avaliação e 8 (88,9%) passaram a apresentar incapacidade mínima na reavaliação (p<0,001). Estes resultados mostram que apesar dos STarT indicar que os pacientes possuíam um mal prognóstico, os mesmos obtiveram em sua maioria uma melhora na capacidade funcional significativa estatisticamente (Tabela 3). Na reavaliação os valores do STarT da mesma forma demonstraram melhoria, corroborando com a noção de que o STarT pode estar ligado com a capacidade funcional e não diretamente com o prognóstico de melhora. 

Tanto a força quanto a flexibilidade muscular são frequentemente relacionadas com a dor lombar, especialmente quando há retração de isquiotibiais e da banda iliotibial, fraqueza da musculatura abdominal e dos eretores espinhais, o que pode predispor a uma maior incidência de quadros dolorosos28. Os pacientes deste estudo, após a intervenção fisioterapêutica, apresentaram melhora significativa em todos os movimentos da coluna lombar, com ênfase na amplitude de movimento em flexão e extensão da coluna lombar (p<0,05) (Tabela 5). Com relação a força muscular, medida através do Dinamometria lombar em kgf, foi possível observar um aumento médio passando de 42,56 kgf (± 11,29) na avaliação para 58,56 kgf (± 19,65) na reavaliação (p<0,05). Estes achados sugerem que nos pacientes em fase de reabilitação a melhora do quadro sintomático e funcional está ligada a melhor mobilidade articular e maior força muscular.

CONCLUSÃO

A subclassificação da lombalgia mostra-se como uma estratégia facilitadora para a avaliação e o direcionamento adequado das opções de tratamento fisioterapêutico. Os resultados positivos encontrados neste estudo com melhoras sintomáticas e funcionais, na reavaliação dos trabalhadores, foram promissores. Os comportamentos de medo e evitação dos pacientes com lombalgia crônica, verificados através do Fear Questionance Beliefs Questionnaire-FABQ, predisseram uma proporção no grau de incapacidade e dor. O Questionário de STarT pode estar ligado com a capacidade funcional e não diretamente com o prognóstico de melhora. Os resultados sugerem que nos pacientes em fase de reabilitação a melhora do quadro sintomático e funcional está ligada a melhor mobilidade articular e maior força muscular.

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1Universidade do Extremo Sul Catarinense-UNESC. Acadêmica do Curso de Fisioterapia. Bolsista do Núcleo de Promoção e Atenção Clínica à Saúde do Trabalhador-NUPAC-ST. E-mail: fernandaberken@outlook.com https://orcid.org/0000-0001-9921-5324
2Universidade do Extremo Sul Catarinense. Doutor em Ciências da Saúde. Professor de Bioestatística. Matemático. E-mail: kristian@unesc.net https://orcid.org/0000-0002-0929-9403
3Universidade do Extremo Sul Catarinense. Doutor em Ciências da Saúde. Professor do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva-PPGSCol /UNESC. Coordenador do Núcleo de Promoção e Atenção Clínica à Saúde do Trabalhador-NUPAC-ST. Fisioterapeuta. E-mail: wcl@unesc.net http://orcid.org/0000-0001-8336-2311