RESISTÊNCIA DA UNIÃO DE SISTEMAS ADESIVOS À DENTINA: INFLUÊNCIA DO HIPOCLORITO DE SÓDIO

SYSTEMS UNION RESISTANCE BUMPER TO DENTIN: INFLUENCE OF SODIUM HYPOCHLORIT

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202409072124


Rosana Maria Coelho Travassos1, Heloisa Helena Pinho Veloso2, Luciano Barreto Silva3, Glauco dos Santos Ferreira4, Pedro Guimarães Sampaio Trajano Dos Santos5, Adriana da Costa Ribeiro6, Thiago Alves Costa7, Juliana Perez Leyva Ataíde8, Rodolfo Scavuzzi Carneiro Cunha9, Ailton Coelho de Ataíde Filho10, Eudoro de Queiroz Marques Filho11


RESUMO

A sanificacão do sistema de canais radiculares é de suma importância para o sucesso do tratamento endodôntico. O presente trabalho teve o objetivo de avaliar a influência do hipoclorito de sódio em concentrações de 2,5% e 4,5% em tempos de 30 e 60 minutos na resistência de união da resina composta à dentina. Utilizou-se para esse estudo 20 dentes, os quais foram divididos em cinco grupos de quatro elementos, cada elemento componente do grupo experimental foi imerso em tempo e concentração de hipoclorito de sódio característico de seu grupo e o controle imerso em soro fisiológico. Posteriormente foram realizadas três restaurações de resina composta em cada dente, totalizando uma amostra de 60 restaurações. Cada restauração teve sua união à dentina submetida ao teste de microcisalhamento, sendo os resultados analisados através dos testes estatísticos: de normalidade, anova e variações múltiplas. Não foram observados influências na adesividade da resina composta à dentina na concentração de 2,5%, em tempos de 30 e 60 minutos, e concentração de 4,5%, em tempo de 30 minutos. Observou-se influência apenas na concentração de 4,5% após um tempo de 60 minutos. Conclui-se que o hipoclorito de sódio a 4,5% em contato com a dentina durante um tempo de 60 minutos causa influência na resistência de união da resina composta, podendo causar recontaminacão do sistema de canais.

Palavras-chave: Hipoclorito de Sódio, Resistência de união, Adesivos dentinários.

ABSTRACT

The modification of the root canal system is of paramount importance to the success of endodontic treatment. This study aimed to evaluate the influence of sodium hypochlorite at concentrations of 2.5% and 4.5% in times of 30 and 60 minutes on the bond strength of composite resin to dentin. We used for this study teeth 20, which were divided into five groups of four elements, each element of the experimental group was immersed in a characteristic time and concentration of sodium hypochlorite of their group and the control immersed in saline. Later there were three composite restorations on each tooth, totaling a sample of 60 restorations. Each restaurant had its bonding to dentin submitted to microshear test, and the results were analyzed through statistical tests: the normal, anova and multiple variations. No significant influence on the adhesion of composite resins to dentin at a concentration of 2.5% at times of 30 and 60 minutes, and concentration of 4.5% in 30 minutes time. There was only influences the concentration 4.5% after a time of 60 minutes. It is concluded that sodium hypochlorite at 4.5% in contact with the dentine for a time of 60 minutes because influence on the bond strength of resin composite, which may cause recontamination of the channel system.

Keywords: Sodium Hypochlorite, Bond strength, Dentin adhesives.

INTRODUÇÃO

A Endodontia é a especialidade da Odontologia que tem como principal objetivo realizar a desinfecção dos condutos radiculares, e em seguida realizar o selamento hermético com material restaurador definitivo. Após o tratamento endodôntico espera-se manter ou promover a saúde periapical do elemento dental recuperando seus aspectos funcionais e estéticos1.

De acordo com Fabro et al.2 (2010), o hipoclorito é o irrigante endodôntico mais utilizado mundialmente, sendo utilizado em diferentes concentrações, variados tempos e não atuando apenas na região pulpar, mas em toda dentina. A dentina é constituída de material orgânico e inorgânico, ocorrendo ao contato com hipoclorito a liberação de gás oxigênio e gás cloro no interior dos canalículos dentinários, podendo interferir na adesividade da resina composta ao elemento dental3.

De acordo com Cecchin et al.4 (2011) uma melhor ligação dos materiais restauradores às paredes de dentina aumenta a probabilidade de um bom selamento marginal, durabilidade das restaurações e resistência mecânicas as forcas mastigatórias no dente tratado endodonticamente.

A infiltração coronária faz com que fluidos orais e microorganismos penetrem da cavidade bucal para os canalículos dentinários, ocasionando recontaminação do dente. Sendo assim, as restaurações pós tratamento necessitam de uma correta adequação físico-química para proporcionar uma boa adesão dos sistemas que utilizam condicionamentos ácidos, pois o selamento definitivo da cavidade é de suma importância para o sucesso do tratamento3-5.

Em virtude dos endodontistas e cirurgiões dentistas utilizarem o hipoclorito de sódio como principal irrigante durante a sanificação do sistema de canais radiculares, expondo a dentina intra e extra radicular a variadas concentrações e variados tempos dessa substância durante as sessões, e o fato da endodontia contemporânea salientar a importância do selamento coronário para o sucesso do tratamento endodôntico, o presente trabalho almeja alertar o cirurgião dentista sobre influência dessa substância na falha da hibridização, durante o selamento com a restauração definitiva do elemento dentário. Nesse sentido, influenciando em um maior número de insucessos em decorrência da recontaminação do sistema de canais radiculares6.

O objetivo desse trabalho foi avaliar a influência do hipoclorito de sódio em diferentes concentrações e tempos na resistência de união da resina composta á dentina. Com isso, alertar aos profissionais, na possibilidade dessa influência e com isso minimizar o número de falhas nas restaurações, retratamentos e perdas de dentes.

MATERIAL E MÉTODO

O universo foi composto de 20 pré-molares hígidos, livres de trincas e alterações morfológicas ou hipoplásicas doados pelo banco de dentes da Universidade Federal da Paraíba.

Quadro 1: Materiais utilizados na Pesquisa.

01Resina composta Z250 XT 3M ESPER
02Adesivo Adper  Single  Bond  3M ESPER
03Ácido fosfórico attaque gel da Biodinâmica
04Cera 7 da Lysnda
05Disco de dupla face KG Sorensen
06Motor peça reta da denty cleer
07Hipoclorito de Sódio da Dilecta
08Fotopolimerizador STI Radii Cal (SDI).
09Mandril da Microdont
10Lixas d`agua da 3M
11Polimetriz da Arotec
12Cano meia polegada Amanco

Os dentes foram armazenados em solução fisiológica e refrigerados até sua utilização. Cada dente foi cortado na linha amelodentinária com disco diamantado dupla face, separando a coroa dental das raízes (figura 1a), em seguida foi inserido cera 7 na câmara pulpar de cada elemento, para evitar a entrada de Hipoclorito de sódio nesse compartimento. As coroas dos elementos dentários foram colocadas em cima de um placa de cera 7, com face vestibular voltada para cera (figura 2a). Em cada coroa foi colocado um cano de PVC de 2cm de altura e diâmetro de 2,5cm, posteriormente inseriu-se resina acrílica até recobrir toda a coroa, afim de fixar o dente  no cano e sua face vestibular ficar voltada para o exterior.

A face vestibular da coroa dentária foi lixada utilizando lixas d`água de granulações crescentes, 180, 320 e 600 em uma polimetriz da Arotec, para  haver  maior exposição  e  formação do smear layer. A lixa de granulação 180 foi utilizada até aparecer o primeiro sinal de dentina, a de granulação 320 por 5s e por fim a de granulação 600 por 10s. Cada grupo de dentes foi inserido em suas respectivas soluções (Quadro 1)

Quadro 1: Grupo com Soluções Pré-determinadas.

GrupoConcentração e tempo
1Soro Fisiológico
2Hipoclorito de sódio a 2,5% durante 60 minutos
3Hipoclorito de sódio a 2,5% durante 30 minutos
4Hipoclorito de sódio a 4,5% durante 60 minutos
5Hipoclorito de sódio a 4,5% durante 30 minutos

Foi feita uma matriz de Tygon (modelo tygon  tubing,  TYG-030,  Saint-Gobain  Performance Plastic, Maime Lakes, FL, USA),  para a inserção da resina composta.

Utilizando-se a matriz de tygon, inseriu-se resina composta na dentina exposta dos elementos dentários, onde cada elemento dentário recebeu três cilindros (figura 4b), totalizando 12 cilindros por grupo. Após a polimerização dos respectivos cilindros, a matriz foi retirada com o auxílio de um bisturi evitando-se qualquer força de tração aos corpos de prova. O sistema adesivo foi utilizado obedecendo às indicações do fabricante. Logo a nossa amostra foi composta por 60 cilindros de resina composta.: Etapas das restaurações. Quadro 2.

Quadro 2: Etapas das restaurações.

ETAPAS DAS RESTAURAÇOES
 1Lavar o dente em água corrente por 10s
 2Secar com papel absorvente
 3Colocar ácido fosfórico somente em dentina por 15 s
 4Lavar por 10s
 5Secar com papel absorvente
 6Colocar adesivo por 15s somente em dentina e esfregando
 7Secar com jato de ar por 10s e a 10cm
 8Colocar outra camada de adesivo em dentina sem esfregar
 9Secar com jato de ar por 10s e a 10cm
10Polimerizar por 10s
11Colocar a resina na matriz e inserir no dente
12Polimerizar por 20s

Foi utilizada para a realização do ensaio mecânico a máquina de microcisalhamento do centro de tecnologia da Universidade Federal da Paraíba.

Os 60 cilindros de resina composta foram colocados em uma estufa por 24h, em cada cilindro de resina composta foi envolvido um fio de aço (0,3 mm de diâmetro). O fio de aço foi fixado no dispositivo para microcisalhamento acoplado à maquina universal de ensaio Instron (4411/Instron Corp, Canton MA, USA), equipada com uma célula de carga 50N. A carga foi aplicada com velocidade de 0,5 mm/min até a falha do espécime. Os resultados foram obtidos em Kgf/cm2 e expressos em Mpa..

Os testes de microcisalhamento foram realizados com a máquina universal de ensaio (4411/Instron Corp, Canton MA, USA). Os resultados foram postos em planilhas. Os dados fornecidos pela máquina universal de ensaio (4411/Instron Corp, Canton MA, USA) foram analisados comparando a resistência da união dos cilindros de resina composta a dentina exposta a várias concentrações do hipoclorito de acordo com os grupos analisados. A estatística foi realizada pelos testes de normalidadeShapiro-Wilk, de variância anova e variações múltiplas benferroni.

RESULTADOS

A partir dos dados obtidos em laboratório, após o rompimento da resina composta com o elemento dentário, utilizou-se os números referentes a máxima tensão, em N/mm2, aos quais foram realizados  testes estatísticos, afim de avaliar a relação dos diversos grupos com o grupo controle, e observar a possível existência de grupos com diferenças estatisticamente significantes.

Teste de normalidade Shapiro-wilk

Realizou-se o teste de normalidade Shapiro-Wilk, usado para verificar a distribuição normal da amostra.

Os resultados tiveram valores acima de 0,05 sendo comprovada que não há evidencias contra a normalidade dos dados e assim podendo realizar teste normal paramétrico.( Tabela 1).

Tabela 1: Teste de Normalidade

      MPaVAR00002 
EstatísticaDfSig.
1,000,963080,841
2,000,882100,138
3,000,953100,709
4,000,937090,555
5,000,911090,326

Teste de normalidade
Grupo1= soro fisiológico Grupo 2= 2,5% 60 min Grupo3= 2,5% 30 min Grupo4= 4,5% 60 min
Grupo5- 4,5% 30 min

Teste Anova

Realizou-se o teste de analise de variância (ANOVA), o qual é indicado para verificar a existência de diferença significativa entre os grupos estudados. Como o valor de Sig foi inferior a 0,05 sabe-se que existe diferença significante entre as médias das variáveis estudadas. (Tabela 2).

Tabela 2: Teste de variância Anova

MpaSomaDfMean SquareFSig.
Entre Grupos236,4800459,1202,7760,039
Dentro dos grupos873,2434121,299  
Total1109,72245   

Variações múltiplas

Utilizando o teste de variações múltiplas Bonferroni descobriu-se que o grupo em que houve diferença estatística significativa foi o grupo 4,5% de hipoclorito de sódio por 60 minutos, devido ao seu Sig ser inferior a 0,05 quando comparado ao grupo controle. (Tabela 3).

Tabela 3: Variações múltiplas

(I) VAR00002(J) VAR00002Mean Difference (I-J)Std. ErrorSig.95% Confidence Interval
     Lower BoundUpper Bound
1,004,00  -7,20112*  2,24251  0,026  5477  13,8545  
4,001,00  7,20112*  2,24251  0,026  -13,8545  -,5477  

*A diferença média é significativa ao nível de 0,05
*Teste de variações múltiplas Benferroni
*Grupo 1 = Soro fisiológico  * Grupo 2 = 2,5% 60 min * Grupo 3 = 2,5% 30 min * Grupo 4 = 4,5% 60min
*Grupo 5 = 4,5% 30min

DISCUSSÃO

Existe uma grande discussão em relação a influência ou não do hipoclorito de sódio na adesividade da resina composta durante a restauração do dente tratado endodonticamente , onde foi utilizado como substância  irrigante o hipoclorito de sódio.

Zahed Mohammadi7 (2008), em seu trabalho de analise de diversos aspectos do hipoclorito na endodontia, argumenta em uma pesquisa onde a dentina radicular é submetida a irrigações de hipoclorito de sódio na concentração de 2,5% e 6% a diferentes tempos de 5, 10 e 20 minutos, chegando a conclusão de haver uma diferença significativa na microdureza quando irrigados em tempos de 10 e 20 minutos com a mesma concentração. No atual trabalho também houve uma diferença em relação ao tempo na concentração de 4,5%, onde ocorreu diferença significativa somente no tempo de 60 minutos, em comparação ao tempo de 30 minutos com a mesma concentração. Em seu trabalho também afirma que a diminuição da microdureza nos elementos irrigados com concentração de 6% foi bastante considerável em comparação com os irrigados a 2,5%. O mesmo acontece na atual pesquisa, quando se compara o mesmo tempo de 60 minutos, ocorrendo influência significativa somente no grupo de maior concentração, hipoclorito a 4,5%. No seu trabalho ainda atesta que uma exposição de 2h de dentina ao hipoclorito de sódio com concentração maior do que 3%, diminue consideravelmente o módulo de elasticidade e flexão da dentina humana e que hipoclorito a 5% induz alterações no colágeno, glicosaminoglicanos, hidroxiapatita e na permeabilidade da dentina intertubular.

O hipoclorito de sódio libera gás cloro e oxigênio dentro dos canalículos dentinários durante o preparo químico mecânico, sendo o oxigênio liberado o principal agente que define a resistência de bactérias e o cloro é muito importante para a total limpeza e desinfeção dos canais, ao lado do hidróxido de cálcio, que auxilia na dissolução de tecidos8.

Zahed Mohammadi7 (2008) atesta que a dentina é composta de 22% de material orgânico, principalmente fibras colágenas tipo I, que contribuem consideravelmente para suas propriedades. O hipoclorito fragmenta longas cadeias de polipeptídicos e cloram grupos terminais de proteína, degradando as substancias orgânicas da dentina. A resistência de união, força de ligação e adaptação marginal entre dente e resina diminui consideravelmente, influência esta, do gás oxigênio.

Marques9 (2011)em seu trabalho de pesquisa sobre a influência da instrumentação e da substância química auxiliar na resistência adesiva de pinos de fibra de vidro a dentina radicular, corrobora com esta pesquisa ao afirmar que o hipoclorito de sódio influência na não formação da camada hibrida, pois degrada lipídios, ácidos graxos, altera proteínas, fibras colágena e ao quebrar-se em cloreto de sódio e oxigênio, existe a permanência de uma rica camada de oxigênio na superfície da dentina, inibindo a polimerização de materiais resinosos e reduzindo a capacidade de adesão. A geração de bolhas de oxigênio na interface entre resina e dentina pode interferir na penetração de resina para o interior dos túbulos dentinários.

Discordando dos referentes resultados desta pesquisa, Ribeiro et al.10 (2011)em seu trabalho de ação dos agentes desproteinizantes e antioxidantes sobre a resistência de união à microtração de sistemas adesivos convencionais, que foram avaliados os efeitos do NaOCl, ascorbato de sódio e ácido ascórbico sobre a resistência de união dos sistemas adesivos convencionais (3 e 2 passos) à dentina humana através do teste de resistência de união à microtração, afirma que o uso do hipoclorito seja uma das estratégias de adesão dentinárias, pois a remoção de fibrilas durante seu uso poderia elevar a força de união, devido ao aumento da capacidade de molhamento, resultando em uma superfície hidrofílica, já que a hidroxiapatita é um substrato com elevada energia de surpefície e o colágeno tem baixa energia de superfície. A aplicação do desproteinizante altera a superfície de dentina condicionada, deixando-a mais irregular, aumentando a área, alargando os túbulos dentinários e ainda expondo a rede secundária de canais, proporcionando uma boa retenção mecânica do monômero resinoso ao substrato dentinário, sendo mais indicada a utilização do hipoclorito com concentração de 10% por 60 minutos. Uma desvantagem da desproteinização está relacionada aos radicais livres liberados na dentina pelo hipoclorito de sódio, ocasionando uma polimerização incompleta devido a finalização prematura da cadeia polimérica. Mas, o uso de um agente antioxidante, como o ácido ascórbico, reverteria esses efeitos adversos

No trabalho de Cecchin et al.4 (2010) em que avaliou a influência do hipoclorito de sódio e EDTA na resistência de sistemas adesivos auto – condicionantes a dentina, onde utilizou-se grupo controle sem solução de irrigação, um  grupo expondo a dentina a 5 ml de hipoclorito de sódio na concentração de 1% a cada 5 minutos durante 1h, e um terceiro grupo usou-se o mesmo protocolo do anterior com adição de 5 ml de EDTA no final por 5 minutos para simular uma restauração realizada após a conclusão endodôntica. Em seguida foi realizado teste de microtração e com base nos resultados obtidos e de acordo com a metodologia empregada, concluiu-se que nenhum dos irrigantes afetou negativamente a resistência de união do sistema adesivo autocondicionante à dentina. Embora a utilização de 1% de NaOCl sozinho resultou em resistência de ligação mais elevada do que os outros tratamentos e a combinação de 1% de NaOCl e 17% de EDTA produziu uma força de ligação semelhante ao de dentina não tratada. Afirmando que a dentina irrigada somente com hipoclorito de sódio ou em associação com EDTA não influência a ligação autocondicionante do sistema adesivos a dentina. Corroborando com os resultados obtidos, onde o hipoclorito a 2,5% por 30 e 60 minutos não alterou a resistência de união da resina composta á dentina.

O clareamento odontológico é realizado utilizando, na maior parte dos casos, peroxido de carbamida 10% a 22% (caseiro) ou peroxido de hidrogênio 35% a 37% (consultório), tanto para dentes vitais quanto para elementos não vitais. Devido a facilidade do peroxido de se difundir, ao seu baixo peso molecular e a permeabilidade dentinária, o oxigênio penetra nos canalículos dentinários com o intuito de quebrar as moléculas pigmentadas em moléculas menores, através da reação de oxi-reducão, e posteriormente essas moléculas menores irá realizar difusão pelos canalículos11.

Durante o clareamento dentário, o peroxido libera gás oxigênio, mesmo gás liberado pelo hipoclorito de sódio durante o tratamento endodôntico. Para a realização da restauração definitiva no elemento dentário após o tratamento clareador é esperado entre sete e quatorze dias devido ao oxigênio residual, radical livre, do agente clareador, que interfere na hibridização da resina composta, causando falha na união entre dente e restauração, provocando microinfiltração e posteriormente podendo causar sérios problemas clínicos, como cárie secundaria, descoloração marginal, inflamação pulpar, hipersensibilidade, contaminação do elemento dental e podendo chegar a corroborar com os resultados encontrados na atual pesquisa, pois também ocorreu falha na hibridização da resina composta com a dentina depois de utilizar o hipoclorito de sódio na concentração de 4,5% por 60 minutos11.

Já Braz et al.12 (2004) relata que o próprio sistema adesivo promove falha no vedamento entre dente e restauração, pois a característica de resiliência e diferença na expansão térmica podem interferir na adesividade da resina, a médio ou longo prazo. Já a contração de polimerização sofrida pela resina durante a fotopolimerização e as deformações sofridas pelos dentes, principalmente durante a mastigação, podem provocar o rompimento das ligações adesivas imediatamente. Diante dessa premissa foi realizado o estudo com 80 terceiros molares restaurados e depois esses foram submetidos a um carregamento oclusal alternado em ciclos de cargas de 1kg e 17kg e posteriormente imersos em corantes específicos para a avaliação de infiltração marginal em teste de ciclagem mecânica, além de avaliar a eficiência dos sistemas adesivos autocondicionantes em promover um selamento marginal hermético, fala que independente do número de ciclos mecânicos aplicados ao dente haverá infiltração marginal.

A matriz presente na maioria das resinas é representado por monômeros a base de metacrilato. A quantidade de luz utilizada na reação de polimerização influência diretamente na contração de fotopolimerização, transformando a fase plástico-viscosa presente na resina em fase rígido-elástica, acarretando um aumento no módulo de elasticidade, diminuição da capacidade de escoamento e contração volumétrica do material. Quanto menor for o número de superfícies livres da camada de resina, menor é a liberação de tensão provocada pela reação de polimerização e consequentemente maior a chance de não haver um bom vedamento marginal, provocando assim uma microinfiltração. A presença de partículas com cargas na resina composta reduz consideravelmente a contração em 9 a 10% em volume em relação a sem carga12.

Complementando o trabalho de Almeida et al.13 (2011)o qual afirma que os principais fatores para a recontaminação do dente tratado endodonticamente são: superfície radicular destruída e exposta ao meio bucal, fratura da obturação coronária ou do dente, preparo do espaço para retentor intraradicular e retardo da restauração definitiva após o tratamento endodôntico para não perder a eficiência do material restaurador temporário, este trabalho apresenta que a restauração definitiva do elemento dentário levado a um  tratamento de canal com hipoclorito a 4,5% por um tempo de 60 minutos não deve ser realizada logo após a conclusão do tratamento, para não favorecer a formação  de microinfiltracões entre dente e restauração provocado pela interferência do hipoclorito de sódio  na união da resina, evitando a recontaminacão por meio da entrada de microorganismos e fluidos no elemento dentário concluindo o trabalho endodôntico com a correta sanificação coronária.

Foi observado que houve influência do hipoclorito de sódio 4,5% por um tempo de 60 minutos na adesividade da resina composta ao elemento dental, mas não pode-se afirmar se foi causada pelo gás oxigênio ou pelo gás cloro liberados pelos resíduos do hipoclorito. Entretanto, acredita-se que a influência seja causada pelo gás oxigênio em face ao que acontece com os materiais clareadores no elemento dental, o oxigênio é a causa comprovada da falha na hibridização com a destruição das fibras colágenas11. O oxigênio liberado pelos resíduos de hipoclorito irá interferir na hibridização, causando uma falha na resistência de união da resina ao dente7-9. Sugere-se, portanto, que novas pesquisas devam ser realizadas para esclarecer melhor estas dúvidas e propiciar um melhor resultado clínico.

CONCLUSÃO

Não existiu influência da solução de hipoclorito de sódio na concentração de 2,5% por um tempo de 30 e 60 minutos na resistência de união da resina composta a dentina. Também não houve a  influencia do hipoclorito de sódio na concentração de 4,5% durante um tempo de 30 minutos na adesividade da resina composta ao elemento dental. Houve influência do hipoclorito de sódio na concentração de 4,5% por um período de 60 minutos, pois houve a diminuição da resistência de união da resina compota a dentina.

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1ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4148-1288
Universidade de Pernambuco, Brasil
E-mail: rosana.travassos@upe.br

2ORCID :0000 0002 8988-2462
Univesidade Federal da Paraiba
E-mail : heloisa.veloso@academico.ufpb.br

3ORCID: http://orcid.org/0000-0002-1508-4812 Universidade de Pernambuco-Brasil
E-mail: lucianobarreto63@gmail.com

4ORCID: (https://orcid.org/0000-0002-6539-5424)
FACSETE – Faculdade Sete Lagoas
glauco_sf@hotmail.com

5ORCID: https://orcid.org/0009-0001-5720-603X
Faculdade de Odontologia do Recife
E-mail: pedroguimaraessampaio@gmail.com

6ORCID: http://orcid.org/0009-0005-8337-8096
Faculdade de Odontologia de Pernambuco
E-mail: adriana.costaribeiro@upe.br

7ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2954-3941
Univesidade Federal da Paraiba
E-mail: :thiagoac1012@gmail.com

8juliana.ataide@upe.br ORCID: 0009-0000-3673-7651
https://orcid.org/0009-0000-3673-7651

9ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7110-848X
Faculdade de Odontologia do Recife, Brazil
E-mail: scavuzzi@gmail.com

10ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8105-4259
Faculdade de Odontologia do Recife, Brazil
E-mail: ailtonataide@hotmail.com

11ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9794-0311
Faculdade de Odontologia do Recife, Brazil
E-mail: eudoromarques@hotmail.com