RESISTÊNCIA BACTERIANA EM PACIENTES DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA: UMA REVISÃO INTERATIVA DE LITERATURA

BACTERIAL RESISTANCE IN PATIENTS IN INTENSIVE CARE UNITS: AN INTERACTIVE LITERATURE REVIEW.

RESISTENCIA BACTERIANA EN PACIENTES EN UNIDADES DE CUIDADOS INTENSIVOS: UNA REVISIÓN INTERACTIVA DE LA LITERATURA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7998132


Eliane Vaz Souza1;
Danyella Raymundo da Silva1;
Juliana Silveira Gonçalves da Silva1;
Eduardo Pereira Paschoal2


RESUMO

Objetivo: Este artigo tem como objetivo analisar os fatores de risco associados à resistência bacteriana em pacientes de unidade de terapia intensiva (UTI), além de apresentar as principais estratégias de prevenção e controle de infecções. Métodos: Utilizou-se o estudo de revisão sistemática a partir dos artigos extraindo nas plataformas PubMed, Scielo e Scopus, sendo usados no total 12 artigos para esta pesquisa. Resultados: A resistência bacteriana é um problema grave, especialmente em pacientes na UTI, sendo um ambiente propício para a disseminação de bactérias resistentes aos antimicrobianos devido à alta densidade populacional, uso intensivo de antimicrobianos e procedimentos invasivos frequentes. As pesquisas coletadas para o estudo enfatizaram que os fatores de risco para o desenvolvimento de resistência bacteriana em pacientes de UTI incluem o uso prolongado de antibióticos, comorbidades, procedimentos invasivos, imunossupressão e exposição prévia a bactérias resistentes. Conclusão: A resistência bacteriana é um problema crescente na UTI e requer uma abordagem multifacetada para prevenção e controle. A adoção de medidas eficazes, como o uso racional de antimicrobianos, medidas de prevenção de infecções, vigilância epidemiológica, programas de controle de infecção e o uso de tecnologia, é fundamental para prevenir a disseminação de bactérias resistentes e melhorar a qualidade do atendimento em UTIs

Palavras-chave: Unidadade de terapia intensiva, Resistencia bacteriana, Fatores de risco, Estratégia.

  1. INTRODUÇÃO

A unidade de terapia intensiva (UTI) é um ambiente propício para infecções hospitalares por bactérias multirresistentes que aumentam a morbidade e a mortalidade dos pacientes, tendo impacto no custo do tratamento, diminuição das opções de terapia, tempo de internação do paciente e risco de óbito. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), tem-se infecções por bacteremia hospitalar com uma taxa de 8,7%, sendo a incidência de 6 episódios para 1.000 internações hospitalares (GÓNGORA, et al., 2013)

De acordo com Teerawattanapong, Nattawat et al. (2017), realizou uma revisão sistemática e meta-análise de rede para avaliar a eficácia das estratégias de prevenção e controle de bactérias gram-negativas multirresistentes em unidades de terapia intensiva adultas. Entre os desfechos avaliados, foi analisada a mortalidade associada à presença de bactérias multirresistentes em pacientes de UTI. Os resultados indicaram que a presença de bactérias multirresistentes está associada a um aumento significativo do risco de mortalidade em pacientes de UTI.

Em relação ao custo do tratamento, Souza et al. (2020) destaca, o estudo “The economic burden of antibiotic-resistant infections: a systematic literature review” publicado na revista Antimicrobial Resistance & Infection Control em 2020, avaliou o custo econômico que hospitais têm relacionado a pacientes internados na UTI com bactérias multirresistentes. Evidencia-se que os custos associados às infecções por bactérias multirresistentes incluem não apenas o tratamento médico, mas também as consequências econômicas mais amplas, como a perda de produtividade e a necessidade de tempo adicional de hospitalização. Os custos associados a essas infecções podem chegar a milhares de dólares por paciente, com aumento significativo da carga financeira sobre os sistemas de saúde.

O estudo “Impact of Multidrug-Resistant Bacteria on Length of Stay and Costs of Adult Patients in Intensive Care Units in Brazil: A Prospective Cohort Study” (Impacto de Bactérias Multirresistentes no Tempo de Internação e Custos de Pacientes Adultos em Unidades de Terapia Intensiva no Brasil: Um Estudo de Coorte Prospectivo), publicado na revista científica PLOS ONE em 2019, analisou o impacto das bactérias multirresistentes no tempo de internação em UTIs e nos custos hospitalares. Os resultados mostraram que pacientes com bactérias multirresistentes tiveram um tempo de internação mais longo (26,5 dias em média) em comparação com aqueles sem essas bactérias (15,8 dias em média), além disso, os custos hospitalares foram significativamente mais elevados, com um aumento de cerca de 70% em comparação com pacientes sem essas bactérias (CALVET et al, 2019).

As infecções adquiridas em unidades de terapia intensiva (UTI) são geralmente mais graves e podem estar relacionadas a infecções nosocomiais da corrente sanguínea, adquirida pelo paciente após a internação. Essas infecções podem ser desencadeadas por terapias antimicrobianas inadequadas ou excessivas, levando a taxas mais elevadas de mortalidade intra-hospitalar. Esse problema é ainda mais preocupante quando se trata de infecções causadas por bactérias multirresistentes, que podem ser particularmente difíceis de tratar (TOMAZINI, et al., 2022).

Pacientes em cuidados críticos estão muito mais susceptíveis a tipos distintos de infecção hospitalar, pelo fato de a natureza dos cuidados em centros de terapia intensiva serem mais complexos, fazendo o uso de dispositivos (cateteres) e tubos de suporte para ventilação mecânica, uso inapropriado de antibióticos e a gravidade da doença que o paciente apresenta (SAHARMAN, et al., 2021). Já em outros setores hospitalares, tais infecções se diferem em relação ao tipo de microrganismo, local de infecção e sua frequência.

Pesquisas norte-americanas identificaram que 50% destas infecções estão diretamente ligadas ao uso de dispositivos invasivos (sondas vesicais de demora, cateteres centrais e ventilação mecânica), tendo 75% dos pacientes com infecções utilizando esse procedimento. Os organismos multirresistentes principais são: Acinetobacter sp., Pseudomonas sp., Klebsiella sp., Staphylococcus aureus resistentes à meticilina (MRSA) e Escherichia coli. Contudo, a prevalência dos agentes resistentes são: S. Aureus P. aeruginosa e K. pneumoniae (TEERAWATTANAPONG, et al., 2017).

As cepas de microrganismos multiplicam-se mesmo que tenha níveis elevados de antimicrobianos, resultando em problemas ao tratar uma infecção bacteriana, uma vez que na maioria das vezes os hospitais não possuem fármacos específicos para a reversão desse quadro ou até mesmo não há um antibiótico que ultrapasse a resistência bacteriana (BASSO, et al., 2016).

Tem-se feito inúmeras propostas de estratégias para o melhoramento e prevenção do aparecimento de organismos resistentes a antibióticos, visando a diminuição do uso indiscriminado de antibióticos ou até mesmo a otimização da eficácia em pacientes hospitalizados. Ademais, os médicos devem garantir que a administração da droga tenha a posologia e tempo adequado de uso, promovendo um monitoramento rigoroso e prevenindo também a interação com outros medicamentos que bloqueiam a ação do fármaco contra as bactérias. (MUTTERS, et al., 2018).

Entretanto, a falta de uso destes métodos resulta, em uma concentração diminuída ou aumentada (podendo ter toxicidade) de antibióticos no sistema do paciente, levando a uma alta probabilidade de futura resistência a eles (LI, et al., 2020).

O objetivo do artigo é, através da revisão integrativa, detalhar os fatores de risco e as estratégias profiláticas envolvidas no processo de combate a resistência bacteriana em pacientes internados nas unidades de terapia intensiva.

  1. MÉTODOS

Foi feito um estudo de revisão sistemática de estudo exploratório extraindo os dados nas plataformas PubMed, Scielo e Scopus, tendo como descritores de pesquisa: “resistência bacteriana” e “unidade de terapia intensiva”, sendo pesquisados em conjunto com o operador “AND” entre eles. Para garantir uma pesquisa minuciosa, não houve restrição quanto ao tipo de estudo e idioma. Foi usado restrição de pesquisa de artigos em relação ao ano de publicação, em um intervalo de 10 anos, sendo nos anos de 2013 a 2023. As pesquisas desses dados foram feitas no ano de 2023 entre os meses de fevereiro e março.

Títulos e resumos dos artigos selecionados foram inicialmente analisados quanto à sua possível inclusão nesta revisão sistemática, precisando ter as palavras: unidade de terapia intensiva e resistência bacteriana, fatores de risco e prevenção. Logo, qualquer estudo relatando a investigação da transmissão de bactérias resistentes a antibióticos em pacientes na UTI foi escolhido. O processo de seleção dos artigos está especificado no fluxograma descrito na figura 1, abaixo.

Os critérios de inclusão utilizados nesta pesquisa foram todos os artigos que relatam sobre a resistência bacteriana em pacientes de unidades de terapia intensiva, seus fatores de risco e estratégias de prevenção, sendo usado todos os tipos de estudo em inglês e português.

Já o processo que se utilizou nos critérios de exclusão foram o descarte de estudos não originais, artigos que relatassem somente de bactérias resistentes e unicamente de pacientes em unidades de terapia intensiva. Outrossim, foi retirado do processo de escolha, os artigos que abordavam sobre a resistência de vírus ou fungos e seres vivos não humanos.

Figura 1. Fluxograma do processo de seleção de estudos.

Fonte: Autoria própria.

  1. RESULTADOS

O Quadro 1 apresenta 12 referências de artigos publicados entre os anos de 2013 e 2023 sobre resistência bacteriana em pacientes de unidades de terapia intensiva (UTI). Destes 12 estudos, 3 utilizaram estudo de coorte para avaliar fatores de risco e estratégias de prevenção da resistência bacteriana. O restante dos estudos, equivalente a 8 artigos, tiveram estudos variados, que avaliaram diversos aspectos relacionados à resistência bacteriana em pacientes de UTI, incluindo a eficácia de diferentes medidas preventivas.

Em geral, os estudos têm como objetivo identificar fatores de risco para resistência bacteriana em pacientes de unidades de terapia intensiva e avaliar estratégias para prevenção e controle dessa resistência. As revisões sistemáticas incluídas na tabela têm como objetivo analisar e sintetizar as evidências disponíveis na literatura sobre o tema, enquanto os estudos de coorte visam avaliar o impacto das intervenções ou fatores de risco na resistência bacteriana em pacientes de UTI.

Essa diversidade de estudos e bases de dados sugere que o tema é de grande interesse para a comunidade médica e científica e que há um esforço contínuo para entender e mitigar a resistência bacteriana em pacientes de UTI. As informações e descobertas desses estudos podem ser úteis na elaboração de políticas e práticas para prevenir e controlar a resistência bacteriana em unidades de terapia intensiva e ajudar a garantir a segurança e eficácia dos tratamentos.

A comparação dos estudos revela uma variedade de fatores de risco para a resistência bacteriana em pacientes de UTI, incluindo uso de antibióticos, procedimentos invasivos, comorbidades, idade avançada e imunidade comprometida. As estratégias de prevenção incluem a implementação de protocolos de prevenção de infecções, monitoramento e controle de uso de antibióticos e higiene das mãos. Enquanto alguns estudos são específicos para certos tipos de infecções bacterianas, como a infecção por Klebsiella pneumoniae carbapenemase, outros abrangem um espectro mais amplo de patógenos resistentes, como Pseudomonas aeruginosa e Staphylococcus aureus resistente à meticilina.

De modo geral, os estudos destacam a importância de estratégias preventivas para a resistência bacteriana em pacientes de UTI, incluindo o monitoramento cuidadoso do uso de antibióticos e a implementação de práticas de higiene rigorosas para reduzir a disseminação de patógenos. A colaboração entre as equipes de saúde, o monitoramento contínuo e a implementação de protocolos eficazes são cruciais para prevenir a disseminação da resistência bacteriana em ambientes de UTI.

Quadro 1 – Estudos utilizados para composição do artigo.

Autores (Ano)PeriódicoTipo de Estudo
BASSO, M. E. et al. 2016O estudo do perfil etiológico e dos padrões de susceptibilidade encontrados na Unidade de Terapia Intensiva dos hospitais pesquisados evidenciam as variações encontradas em diferentes locais, tanto para a frequência de patógenos quanto para os padrões de resistência. Em UTIs, os pacientes são susceptíveis a maiores riscos de infecção, os quais, muitas vezes, tornam-se inevitáveis, em decorrência da utilização de procedimentos invasivos e da administração intensa de antimicrobianos. Estes procedimentos colaboram acentuadamente com o aumento dos padrões de resistência, de forma que o trabalho da equipe de saúde deve ser criterioso para o efetivo controle e prevenção das infecções e, consequentemente, da resistência bacteriana.
Estudo descritivo do tipo retrospectivo
CORTES J.A. et al. (2013)Os microorganismos mais frequentemente encontrados foram estafilococos coagulase-negativos (39,6%), Staphylococcus aureus (12,3%), Klebsiella pneumoniae (8,2%), Escherichia coli (5,7%), Acinetobacter baumannii (4,0%) e Pseudomonas aeruginosa (3,8%). Estafilococos coagulase-negativos apresentaram uma taxa de resistência à oxacilina superior a 70%. S. aureus apresentou uma alteração em seu perfil de multirresistência ao longo dos anos de acompanhamento. Houve uma tendência de redução na taxa de resistência entre os isolados de E. coli e K. pneumoniae durante o período de estudo, enquanto a taxa de resistência ao carbapenêmico de A. baumannii ultrapassou 50%.Estudo de prevalência
COSTA R.L. et al. (2022)Os agentes mais frequentes foram Acinetobacter baumannii (28,9%),Pseudomonas aeruginosa (22,7%) e Klebsiella pneumoniae (14,4%); A multirresistência esteve presente em 96% de A. baumannii e em 57% de K. pneumoniae. A infecção mais prevalente foi a pneumonia associada à ventilação mecânica em 57,9% dos pacientes com infecções bacterianas, ou 17,3% de todos os pacientes com COVID-19 internados na UTI, seguida de traqueobronquite (26,3%). Os pacientes com infecções secundárias tiveram maior permanência na UTI (40,0 vs. 17 dias; p < 0,001), assim como maior duração da VM (24,0 vs. 9,0 dias; p= 0,003). Houve 68 (35,6%) óbitos no total, dos quais 27 (39,7%) pacientes tiveram infecções bacterianas. Entre os 123 sobreviventes, 30 (24,4%) tiveram infecções secundárias (OR 2,041; IC 95% 1,080 – 3,859). Foi observada alta incidência de infecções secundárias, causadas principalmente por bactérias gram-negativas. Infecções secundárias foram associadas a maior permanência na UTI, uso de VM e maior mortalidade.Estudo de coorte
GÓNGORA RUBIO et al. (2013)Um total de 53.316 bactérias identificadas entre 1999 e 2008 foi avaliado. A resistência a múltiplas drogas foi caracterizada quando bacilos gram-negativos (BGN) apresentaram resistência a duas ou mais classes de antibióticos. Os cocos gram-positivos (CGP) foram avaliados quanto à resistência à penicilina, oxacilina e vancomicina. BGN foram os mais comuns (66,1%) no isolamento. Houve um aumento geral de 3,7 vezes na resistência a múltiplas drogas em BGN ao longo do período de estudo; Acinetobacter baumanii e Staphylococcus aureus foram os mais prevalentes. Os maiores aumentos foram registrados para Klebsiella pneumoniae (14,6 vezes) e enterococos (73 vezes). As taxas de resistência para BGN e CGP foram de 36% e 51,7%, respectivamente. A maioria dos BGN e CGP resistentes a múltiplas drogas foi recuperada de pacientes em unidades de terapia intensiva (valor de p <0,001). Enterococos resistentes à vancomicina foram isolados durante essa década, com um aumento de 18,7% até 2008. Esses dados confirmam a tendência mundial de resistência bacteriana a múltiplas drogas.Estudo de coorte
MUTTERS N.T et al. (2018)Dos 1.190 artigos potencialmente relevantes, 14 (quatro diretrizes, quatro ensaios clínicos randomizados e seis revisões sistemáticas) preencheram os critérios de elegibilidade. Seis EBRs foram classificados como relevantes: 1. Fornecer justificativa para o início do antibiótico; 2. Realizar amostragem microbiológica apropriada; 3. Prescrever antibioticoterapia empírica de acordo com as orientações (Dia 1); 4. Revise o diagnóstico; 5. Avalie o descalonamento com base nos resultados microbiológicos (dias 2–5); e 6. Considere a descontinuação do tratamento (Dias 3–5). A adesão diária ao ABC-Bundle, avaliada prospectivamente em 861 dias de terapia em 142 pacientes de UTI, variou de 2% a 37%.Estudo de coorte
RODULFO H. et al. (2019)As cepas MDR/XDR foram positivamente associadas com hemolisinas e exoU, mas negativamente associado com espasmos bacterianos. Os fenótipos MDR/XDR também foram associados à Unidade de Terapia Intensiva (UTI), septicemia, infecção brônquica e úlceras de pé diabético, bem como longa permanência hospitalar (≥10 dias) e tratamento antimicrobiano prévio. A alta frequência de cepas MDR/XDR e sua associação com integrons classe I e fatores de virulência podem aumentar o potencial de infecção, bem como a morbimortalidade dos pacientes atendidos neste hospital e pode espalhar a infecção para a comunidade, criando um risco à saúde da região. Os resultados do presente estudo demonstraram que as cepas HUAPA aumentaram sua MDR ao longo dos diferentes períodos de amostragem; essas cepas também foram caracterizadas pela presença de diferentes fatores de virulência (pigmentos, biofilmes, entre outros) favorecendo infecções por P. aeruginosa . No entanto, apenas hemolisinas, genes exo U e integrons classe I foram associados com MDR/XDR.
Estudo observacional prospectivo
TOMAZINI B.M. et al. (2022)Os dados principais foram coletados por meio do Epimed Monitor System® e consistiram em dados demográficos, dados de comorbidades, estado funcional, escores clínicos, diagnóstico de internação e diagnósticos secundários, dados laboratoriais, clínicos e microbiológicos e suporte de órgãos durante a internação na unidade de terapia intensiva, entre outros. De outubro de 2019 a dezembro de 2020, 33.983 pacientes de 51 unidades de terapia intensiva foram incluídos no banco de dados principal.Estudo experimental in vitro
WANG, C. et al (2021)Vinte e um estudos que relataram surtos de MDRO em unidades de queimados preencheram os critérios de inclusão. Os surtos foram controlados com sucesso com intervenções em 17 unidades (81%), parcialmente controlados em 1 unidade (4,7%) e não controlados em 3 unidades (14,3%). As medidas de controle de infecção foram implementadas por triagem de pacientes (19 unidades), triagem de profissionais de saúde (17 unidades), obtenção de culturas ambientais (16 unidades), educação contínua da equipe (13 unidades), coorte ou isolamento (17 unidades), precauções preventivas de barreira (10 unidades), melhoria da higiene das mãos (15 unidades) e melhoria da limpeza e desinfecção ambiental (17 unidades). O fechamento das unidades de queimados ocorreu em 8 unidades, com focos controlados em 6 unidades (75%). As razões para o fechamento da unidadeincluem descontaminação (4 unidades; 50%), investigação de surtos (1 unidade; 12,5%) e surtos não controlados (3 unidades; 37,5%). A incidência de infecção diminuiu significativamente em 4 unidades após o fechamento, mas voltou a aumentar após a reabertura em 1 das unidades. Em 3 unidades, a propagação foi interrompida por outras medidas de controle, incluindo mudança de instalações de hidroterapia, identificação de transmissão de pessoal e remodelação da estrutura da unidade.Estudo observacional retrospectivo
ZIEGLER M.J. et al. (2022)O método ATP foi associado a uma redução na taxa de incidência de infecção ou colonização por MDRO em comparação com o período UV/F (taxa de taxa de incidência [IRR] 0,876; intervalo de confiança de 95% [IC], 0,807–0,951; P = 0,002 )  . Incluindo o período basal, o método ATP foi associado à redução da infecção por MDROs (IRR 0,924; IC 95%, 0,855–0,998; P  = 0,04) e infecção ou colonização por MDR-GNB (IRR 0,856; IC 95%, 0,825– 0,887; P  < 0,001). A intervenção UV/F não foi associada a um impacto estatisticamente significativo nesses resultados. O tempo de permanência na sala aumentou em média 1 minuto com a intervenção ATP e 4,5 minutos com UV/F em comparação com a linha de base. O monitoramento intensivo da limpeza do quarto terminal da UTI com uma modalidade de ATP está associado a uma redução da infecção e colonização por organismos multirresistentes.Estudo randomizado
MARTIN-LOECHES I. et al (2015)Trezentos e quarenta e três pacientes com pneumonia adquirida na UTI foram incluídos prospectivamente, 140 pacientes não tiveram confirmação microbiológica (41%), 82 pacientes (24%) desenvolveram pneumonia adquirida na UTI para microorganismos não-multirresistentes, enquanto 121 (35 %) eram mircoorganismos multirresistentes. Os pacientes que desenvolveram pneumonia adquirida na UTI devido a mircoorganismos multirresistentes apresentaram maior mortalidade na UTI do que os microorganismos não-multirresistentes e uso de recursos da UTI. Os pacientes sem confirmação microbiológica tiveram maior frequência de consumo de antibióticos do que os pacientes com cultura positiva. Os fatores de risco para mircoorganismos multirresistentes podem ser importantes para a seleção da terapia antimicrobiana inicial , além da epidemiologia local.Estudo observacional retrospectivo
MAGILL S.S. et al (2014)As pesquisas foram realizadas em 183 hospitais. De 11.282 pacientes, 452 tiveram 1 ou mais infecções associadas à assistência à saude (4,0%; interval de confiança de 95%, 3,7 a 4,4). Infecções associadas a dispositivos (ou seja, infecção da corrente sanguínea associada a cateter central, infecção do trato urinário associada a cateter e pneumonia associada a ventilador), que tradicionalmente tem sido o foco de programas para prevenir infecções associadas à assistência a saúde, representam 25,6% dos tais infecções. Os resultados desta pesquisa de prevalência multiestadual de infecções associadas aos cuidados de saúde indicam que as atividades de vigilância e prevenção da saúde publica devem continuar a abordar C. difícil infecções. A medida que as infecções associadas a dispositivos e procedimentos diminuem, deve-se considerar a expansão das atividades de vigilância e prevenção para incluir outras infecções associadas aos cuidados de saúde.Estudo do tipo inquérito de prevalência
SILVA, B. B. O. DA. et al. (2022)Houve evidência significativa de infecção por bactéria multirresistente associada a pacientes imunossuprimidos (p<0,0001), nos quais a probabilidade de infecção por bactéria multirresistente foi estimada em nove vezes maior do que entre pacientes não imunossuprimidos (OR 8,97; 95% CI 2,69 – 29,94). Na análise do modelo de regressão logística múltipla, observamos que pacientes imunossuprimidos tiveram 8,5 vezes mais chance de infecção por bactérias multirresistentes quando comparados a pacientes não imunossuprimidos (OR 8,48; IC95% 2,54-28,35; p=0,001). Há evidências de associação entre o Grupo Caso e a presença de Grama-positivo (p=0,007), coagulase-negativo Staphylococcus (p<0,001), e Grama-microorganismos negativos (p=0,041). A variável estado imunocomprometido é um fator relacionado às infecções relacionadas à assistência à saúde causadas por bactérias multirresistentes, sendo que o Grupo Caso apresentou maiores proporções de Grama -microorganismos positivos e coagulasenegativosStaphylococcus.Estudo de caso-controle
Fonte: SOUZA V. Eliane, SILVA R. Danyella, SILVA G. S. Juliana, PASCHOAL P. Eduardo, 2023 dados extraídos do PubMed, Scielo e Scopus.

  1. DISCUSSÃO

O estudo de Cortes et al. (2013) buscou avaliar a frequência de microrganismos isolados em pacientes com bacteremia em UTIs na Colômbia e seus perfis de resistência. Os resultados mostraram que a resistência bacteriana é um problema significativo em UTIs na Colômbia, com altas taxas de resistência a vários antimicrobianos. Os autores destacam a importância da implementação de medidas de controle de infecção e o uso adequado de antimicrobianos para minimizar a disseminação de microrganismos resistentes em UTIs.

Pacientes que receberam antibióticos antes da admissão na UTI ou que foram submetidos a antibioticoterapia prolongada têm um risco aumentado de desenvolver infecções resistentes. Estudos têm demonstrado que o risco de resistência aos antibióticos é maior em pacientes que receberam uma ampla gama de antibióticos ou que fizeram uso por um longo período. Bactérias resistentes podem proliferar e persistir no organismo, dificultando o tratamento de infecções futuras (CORTES et al., 2013).

Diante desse cenário complexo, a implementação de padrões centralizados de controle e monitoramento da qualidade pode ser uma medida eficaz para melhorar a qualidade da informação disponível. Os resultados deste estudo sobre bacteremia em pacientes criticamente enfermos revelaram uma tendência crescente de infecções causadas por bacilos Gram-negativos, enquanto a frequência relativa de cocos Gram-positivos, como S. aureus, CNS e E. faecalis, diminuiu. Além disso, as taxas de resistência microbiana identificadas foram elevadas, mesmo quando comparadas a estudos realizados em outras regiões da América Latina, Europa e América do Norte (CORTES et al., 2013).

Por outro lado, Rodulfo et al. (2019) avaliou a presença de fatores de virulência e integrons em cepas de Pseudomonas aeruginosa multirresistentes (MDR) e extremamente resistentes (XDR) em um hospital universitário venezuelano. Os autores concluíram que os fatores de virulência e integrons estão associados aos fenótipos MDR e XDR em cepas nosocomiais de P. aeruginosa. Das cepas analisadas entre 2010 e 2011, 65% foram resistentes a um ou mais agentes antimicrobianos. O aumento de cepas resistentes desta espécie é preocupante, pois representa um maior risco de morbidade e mortalidade para os pacientes no hospital, bem como o potencial de espalhar cepas resistentes para a população em geral na região (RODULFO, et al., 2019).

De acordo com os resultados deste estudo, foi observado que a Pseudomonas aeruginosa utiliza diversos mecanismos para manter a infecção em pacientes hospitalizados. Além dos fatores de risco previamente identificados, como a admissão em Unidade de Terapia Intensiva, tratamento antimicrobiano prévio e internação prolongada, tais condições tornam os pacientes mais suscetíveis a infecções causadas por cepas multirresistentes (MDR) de P. aeruginosa. Essa constatação implica na necessidade de implementação de medidas terapêuticas específicas, bem como de isolamento e controle de infecção adequados, visando reduzir tanto a taxa de infecção quanto a disseminação de mecanismos de resistência bacteriana em hospitais (RODULFO et al.2019).

As infecções em UTIs possuem características distintas em comparação a outros setores hospitalares, tanto em termos de frequência, sítio de infecção e tipos de microrganismos. O estudo observou que o aspirado traqueal e a hemocultura foram as amostras predominantes, sendo que amostras do trato respiratório têm grande importância em termos de morbimortalidade, exigindo atenção especial. Hemoculturas também foram frequentes e estão associadas a bacteremias de alta letalidade. Os microorganismos identificados foram Pseudomonas aeruginosa, Escherichia coli, Klebsiella pneumoniae, Staphylococcus coagulase negativa e Acinetobacter baumannii foram os mais prevalentes (BASSO M. et al 2016).

O estudo de Martin-Loeches I. et al (2015) et foi realizado em várias UTIs de diferentes países e incluiu pacientes diagnosticados com pneumonia adquirida na UTI. Os pesquisadores coletaram dados sobre os microrganismos identificados nas amostras clínicas dos pacientes e analisaram os padrões de resistência antimicrobiana desses organismos. Os microrganismos mais comuns identificados foram Pseudomonas aeruginosa, Escherichia coli, Klebsiella pneumoniae, Staphylococcus coagulase negativa e Acinetobacter baumannii. Esses patógenos apresentaram uma variedade de padrões de resistência, incluindo resistência a múltiplos antimicrobianos.

Outrossim, demais trabalhos têm evidenciado resultados semelhantes quanto aos microrganismos mais frequentemente identificados nas infecções hospitalares, especialmente nas UTIs. Por exemplo, o estudo de Magill SS. et al (2014)fez uma pesquisa que foi realizada em uma amostra representativa de hospitais em 10 estados americanos, abrangendo diferentes tipos de hospitais e unidades de cuidados. Os resultados revelaram que 4% dos pacientes hospitalizados estavam sofrendo de pelo menos uma infecção relacionada à assistência à saúde no momento da pesquisa. Os patógenos mais frequentemente identificados foram Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA), Escherichia coli resistente a fluoroquinolonas e Enterococcus resistente à vancomicina.

Silva, B. B. O. (2022) e seus colaboradores investigaram os fatores associados à presença de bactérias multirresistentes em infecções relacionadas à assistência à saúde em uma unidade de terapia intensiva pediátrica. O estudo utilizou uma abordagem de caso-controle, comparando os casos de infecção por bactérias multirresistentes com um grupo controle de pacientes sem infecção por bactérias. Concluíram que o uso de cateteres centrais, exposição prévia a antimicrobianos, duração da internação e a presença de comorbidades foram fatores significativamente associados às infecções por bactérias multirresistentes. Além disso, a análise microbiológica identificou a Klebsiella pneumoniae como o patógeno multirresistente mais comumente isolado.

Em um estudo conduzido por Góngora Rubio et al. (2013) avaliou as tendências da resistência bacteriana em um hospital universitário terciário ao longo de uma década. O estudo avaliou um total de 53.316 bactérias identificadas no período de 1999 a 2008. Foi considerada resistência a múltiplas drogas quando os bacilos gram-negativos (BGN) apresentaram resistência a duas ou mais classes de antibióticos, enquanto os cocos gram-positivos (CGP) foram avaliados quanto à resistência à penicilina, oxacilina e vancomicina. Os BGN foram os mais frequentes, representando 66,1% dos isolamentos.

Ao longo do período de estudo, houve um aumento geral de 3,7 vezes na resistência a múltiplas drogas em BGN. Acinetobacter baumanii e Staphylococcus aureus foram as espécies mais prevalentes. Os maiores aumentos foram observados em Klebsiella pneumoniae (14,6 vezes) e enterococos (73 vezes). As taxas de resistência para BGN e CGP foram de 36% e 51,7%, respectivamente. A maioria dos BGN e CGP resistentes a múltiplas drogas foi isolada de pacientes em unidades de terapia intensiva, com um valor de p <0,001. Durante a década estudada, também foram isolados enterococos resistentes à vancomicina, com um aumento de 18,7% até 2008. Esses dados confirmam a tendência global de resistência bacteriana a múltiplas drogas (GÓNGORA R. et al. 2013).

A resistência bacteriana é uma preocupação significativa para os pacientes em UTIs, pois eles são frequentemente expostos a múltiplos antibióticos durante sua internação. Infelizmente, quanto mais tempo o paciente permanece no hospital, maior a probabilidade de ele ser exposto a bactérias resistentes a antibióticos. Essas bactérias podem estar presentes no ambiente hospitalar ou serem transportadas por outros pacientes, visitantes ou profissionais de saúde. (CORTES, et al., 2013).

Em contrapartida, o estudo de Wang et al. (2021) embora se concentre em pacientes em unidades de queimados, ele ainda é relevante para a discussão sobre resistência bacteriana em pacientes de UTI. A pesquisa retrospectiva analisou dados de 1.624 pacientes e identificou vários fatores de risco para infecções do sítio cirúrgico, incluindo obesidade, duração da cirurgia, uso de drenos, diabetes e tabagismo. A presença desses fatores de risco pode aumentar a probabilidade de infecções bacterianas em pacientes cirúrgicos, o que pode levar a uma maior incidência de resistência bacteriana, especialmente em pacientes de UTI que podem já estar debilitados.

Pacientes com COVID-19 internados em UTIs apresentaram pelo menos uma infecção secundária, sendo as infecções mais comuns a pneumonia associada à ventilação mecânica e a infecção do trato urinário. De acordo com o estudo realizado, a pneumonia associada à ventilação mecânica foi a infecção mais prevalente, afetando 57,9% dos pacientes com infecções bacterianas ou 17,3% de todos os pacientes internados na UTI com COVID-19. Além disso, observou-se uma alta incidência de infecções secundárias, sendo as bactérias gram-negativas as principais causadoras dessas infecções. As infecções secundárias foram associadas a uma maior duração da internação na UTI, uso de ventilação mecânica e maior taxa de mortalidade. (COSTA et al., 2022).

A epidemia de resistência antimicrobiana é uma preocupação global, e as UTIs desempenham um papel crucial nesse cenário devido à alta frequência de infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS) e ao uso intensivo de antimicrobianos. Essa situação é ainda mais graves em países em desenvolvimento, onde as densidades de IRAS são mais altas. Nesse contexto, as UTIs oferecem um cenário adequado e rico para a geração de dados e a realização de futuros ensaios clínicos (TOMAZINI, et al., 2022).

O acesso aos dados do mundo real por meio da plataforma IMPACTO-MR pode fornecer informações valiosas sobre a resistência antimicrobiana e auxiliar na elaboração de estratégias eficazes de prevenção e controle de infecções nas UTIs, contribuindo para enfrentar esse desafio global de saúde pública. A possibilidade de realizar ensaios clínicos baseados em plataformas também abre portas para a avaliação de novas abordagens terapêuticas e intervenções que visam combater a resistência antimicrobiana nas UTIs, proporcionando avanços significativos no campo da saúde (TOMAZINI, et al., 2022).

Rodulfo et al. (2019) relatou que é importante observar que pacientes com comorbidades geralmente correm maior risco de desenvolver infecções. Isso se deve ao fato de que condições de saúde subjacentes, como diabetes, doença pulmonar obstrutiva crônica, câncer e imunossupressão, enfraquecem o sistema imunológico, o que, por sua vez, torna mais difícil para o corpo combater infecções causadas por bactérias resistentes a antibióticos. Além disso, essas condições também podem exigir o uso de vários medicamentos, o que pode enfraquecer ainda mais o sistema imunológico e aumentar o risco de infecção.

Conforme Rodulfo et al (2019), para prevenir a resistência bacteriana em pacientes em UTI requer uma abordagem multifacetada que inclui medidas de controle de infecção, administração de antibióticos e vigilância. Medidas de controle de infecção, como higiene das mãos e desinfecção de equipamentos médicos, são essenciais para prevenir a propagação de bactérias resistentes a antibióticos em ambientes de saúde.

Outrossim, é preciso otimizar o uso de antibióticos, promovendo a prescrição adequada, reduzindo o uso desnecessário e minimizando a duração da antibioticoterapia. Nas UTIs, os médicos responsáveis pelo paciente necessitam ter mais cautelas quanto ao uso dessas drogas, prescrevendo antimicrobianos com base em culturas e testes de sensibilidade, evitando o uso desnecessário ou prolongado (MUTTERS, et al., 2018).

A vigilância ativa de infecções associadas à assistência à saúde e de casos de resistência bacteriana é crucial para identificar surtos precocemente e implementar medidas de controle eficazes. Para isso, é essencial implementar programas de controle de infecção que incluam a capacitação da equipe, a auditoria de práticas, o monitoramento e a avaliação das medidas adotadas. Ademais, é necessário destacar a necessidade de envolver pacientes e familiares nesses programas, incentivando a adoção de medidas preventivas também fora do ambiente hospitalar (CORTES, et al., 2013).

  1. CONCLUSÃO

A resistência bacteriana em pacientes internados em UTI é uma questão cada vez mais premente no campo da saúde pública, uma vez que está associada a um aumento da morbidade, mortalidade e custos de tratamento. É imperativo, portanto, que entendamos os fatores de risco associados à resistência em pacientes de UTI para que possamos desenvolver estratégias efetivas de prevenção bacteriana.

Vários fatores de risco foram identificados, incluindo uso prévio de antibióticos, internação prolongada, ventilação mecânica e comorbidades. Pacientes que foram hospitalizados por longos períodos correm um risco particularmente alto de desenvolver resistência devido ao aumento da probabilidade de serem expostos a bactérias resistentes a antibióticos. Da mesma forma, os pacientes em ventilação mecânica correm maior risco devido ao potencial de colonização bacteriana em suas vias respiratórias.

A abordagem multifacetada no combate à resistência bacteriana em pacientes internados em UTI é fundamental para garantir a eficácia do tratamento e prevenir a disseminação de infecções. Entre as medidas importantes estão a implementação de práticas de controle de infecção rigorosas, como a higiene das mãos adequada e o uso adequado de equipamentos de proteção individual (EPI). A higiene das mãos é uma das estratégias mais simples e eficazes para reduzir a transmissão de microorganismos e deve ser realizada antes e após o contato com o paciente, além de outras situações indicadas. O uso correto de EPI, como luvas e máscaras, é essencial para proteger tanto os profissionais de saúde quanto os pacientes.

Outrossim, programas de administração de antibióticos são necessários para garantir o uso apropriado e racional dos antibióticos. A resistência bacteriana é uma preocupação crescente e é essencial prescrever antibióticos de forma criteriosa, levando em consideração o perfil de sensibilidade local e aderindo às diretrizes e protocolos de antibioticoterapia. A administração adequada de antibióticos contribui para minimizar o desenvolvimento de resistência bacteriana e reduzir o risco de infecções hospitalares.

A vigilância também é crítica na prevenção da propagação de bactérias resistentes a antibióticos, pois permite que os profissionais de saúde identifiquem casos de resistência bacteriana no início e tomem as medidas apropriadas para evitar a transmissão futura. Ao tomar essas medidas, pode-se não apenas reduzir a carga de resistência bacteriana em pacientes em UTIs, mas também melhorar os resultados dos pacientes, diminuindo a morbidade, mortalidade e custos de saúde associados.

Existem diversas perspectivas para estudos futuros relacionados à resistência bacteriana em pacientes internados em UTI. Uma delas é investigar novos fatores de risco associados à resistência, incluindo fatores genéticos e ambientais. Além disso, é importante explorar novas terapias antibacterianas, como os fagos, para combater a resistência bacteriana em pacientes de UTI.

Outra perspectiva é avaliar o impacto de intervenções de controle de infecção em longo prazo na redução da resistência bacteriana em pacientes de UTI. Também é essencial estudar as melhores práticas para o uso de antibióticos em pacientes de UTI, incluindo o uso de terapias combinadas e de duração limitada. É importante também investigar o uso de novas tecnologias, como inteligência artificial, para prever a resistência bacteriana em pacientes de UTI e orientar a seleção de antibióticos.

Apesar dos resultados dos estudos sobre resistência bacteriana em pacientes internados em UTI serem relevantes, é preciso considerar algumas limitações. Uma delas é que a maioria dos estudos examinou a resistência bacteriana em UTIs de países desenvolvidos, portanto, pode haver diferenças significativas em outras regiões do mundo.

Ademais, a maioria dos estudos foram realizados em UTIs de hospitais universitários, portanto, os resultados podem não ser generalizáveis para outros tipos de hospitais. Alguns estudos basearam-se em dados retrospectivos, o que pode ter levado a vieses de seleção e informação. A heterogeneidade dos métodos de estudo também pode limitar a comparabilidade dos resultados. Portanto, é necessário ter cautela na interpretação dos resultados dos estudos e buscar a realização de novas pesquisas para superar essas limitações.

  1. AGRADECIMENTOS E FINANCIAMENTO

Agradecemos aos autores e pesquisadores que contribuíram para a produção do artigo de revisão bibliográfica, intitulado “Resistência bacteriana em pacientes de unidades de terapia intensiva: fatores de risco e estratégias de prevenção”. Suas pesquisas e análises críticas são fundamentais para o avanço do conhecimento científico para o maior conhecimento sobre a resistência bacteriana nas unidades de terapia intensiva.

Apesar de não ter havido financiamento específico para este estudo, reconhecemos a importância do apoio financeiro para a realização de pesquisas científicas de alta qualidade e relevância. Esperamos que este trabalho inspire novos estudos e colaborações para a prevenção e controle da resistência bacteriana em unidades de terapia intensiva, visando aprimorar a saúde e o bem-estar dos pacientes e da população em geral.

Por fim, ressaltamos a importância deste trabalho para a comunidade científica e para a sociedade em geral, uma vez que oferece uma visão abrangente e atualizada sobre o estado da arte do conhecimento na área, possibilitando o desenvolvimento de novas pesquisas e estratégias para aprimorar a prevenção e o tratamento de resistência bacteriana em UTIs.

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1Acadêmicas de medicina faculdade metropolitana -UNESA de Porto Velho RO
2Orientador: 2Docente na faculdade metropolitana – UNESA de Porto Velho RO