RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE: A ESPECIALIZAÇÃO PADRÃO OURO DO SUS SEGUNDO OS QUE VIVENCIAM O PROCESSO

MULTIPROFESSIONAL RESIDENCE IN HEALTH: THE GOLD STANDARD SPECIALIZATION OF SUS ACCORDING TO THOSE WHO EXPERIENCE THE PROCESS.

RESIDENCIA MULTIPROFESIONAL EN SALUD: LA ESPECIALIZACIÓN PATRÓN ORO DEL SUS SEGÚN QUIEN VIVE EL PROCESO.

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10465610


Matias Mendes da Silva1
Evandro Gonzalez Tarnhovi2
Danielle de Oliveira Felipe3


RESUMO

Objetivo: Este estudo busca compreender as experiências dos profissionais de saúde durante a formação na Residência Multiprofissional em Saúde. Métodos: Realizou-se uma revisão integrativa da literatura. A pesquisa foi conduzida através da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), que contém bases de dados eletrônicas na área da saúde (por exemplo, PubMed, Scopus, Scielo, Lilacs). Os critérios de inclusão foram: artigos publicados a partir de 2019, indexados em bases de dados nacionais e internacionais, disponibilidade completa dos textos nas plataformas de pesquisa, e publicação em português, inglês. Foram excluídos: artigos não disponíveis integralmente, publicações fora do período estabelecido, estudos duplicados e aqueles que não tratavam de maneira explícita e adequada o tema proposto. Resultados: Após a aplicação dos critérios, 15 artigos foram analisados. A Residência Multiprofissional demonstrou ser uma estratégia eficaz para promover práticas interprofissionais, apesar de algumas fragilidades identificadas, tais como: descompasso teórico-prático, insuficiente suporte durante a execução de atividades e carga horária exaustiva. As implicações dessas fragilidades vão desde a diminuição na qualidade do atendimento ao paciente até a potencial de comprometimento da qualidade de vida. Conclusão: A Residência Multiprofissional em Saúde apresenta potencial significativo para aprimorar a qualidade do serviço e favorecer a especialização dos profissionais. Entretanto, para otimizar seus benefícios, é crucial abordar os desafios enfrentados pelos residentes, como carga horária extenuante, descompasso teórico-prático, excessiva centralização do poder médico, e desgaste físico e emocional. Soluções possíveis para essas questões incluem a revisão dos currículos e carga horária, além da implementação de um suporte mais estruturado para os residentes. Futuras pesquisas devem continuar a investigar maneiras eficazes de melhorar este valioso programa de formação.

Palavras chaves: Residência Multiprofissional, Especialização, SUS, Processo, Vivência.

ABSTRACT

Objective: To analyze the contribution of Multiprofessional Residency in Health to the training of qualified professionals to work in the Brazilian Unified Health System (SUS), considering the perspectives of the residents. Methods: Conduct an integrative literature review to synthesize available evidence on Multiprofessional Residency in Health as a strategy for training and capacitating professionals for the SUS. A search will be conducted in electronic databases (e.g. PubMed, Scopus, Lilacs) and in bibliographies of relevant systematic reviews and primary studies. Inclusion criteria will be: studies published in English, Portuguese, or Spanish, addressing training in Multiprofessional Residency in Health, including the residents’ points of view, as well as evaluating the acquired competencies and the effectiveness of Multiprofessional Residency in Health. The selected studies will be evaluated for methodological quality, and data will be synthesized in an integrative review. Results: The selected studies from the systematic review indicated that Multiprofessional Residency in Health is an effective strategy for training and capacitating professionals for the SUS. Residents reported the acquisition of technical, behavioral, and ethical competencies, as well as a greater knowledge and understanding of the functioning of the SUS. Preceptors highlighted the importance of Multiprofessional Residency in Health for the training of professionals capable of working in interdisciplinary and integrated teams in the SUS. Additionally, the review identified that residents trained in Multiprofessional Residency in Health programs provided better quality care to the population and showed greater adherence to the principles and guidelines of the SUS. Conclusion: The systematic review showed that Multiprofessional Residency in Health is an effective strategy for training and capacitating professionals for the SUS, contributing to the improvement of the quality of care provided to the population and the formation of professionals with expanded competencies.

Key words: Multiprofessional Residency, Specialization, Brazilian Unified Health System (SUS), Process, Experience.

RESUMEN

Objetivo: Analizar la contribución de la Residencia Multiprofesional en Salud en la formación de profesionales capacitados para trabajar en el Sistema Único de Salud (SUS), considerando las perspectivas de los residentes. Métodos: Realizar una revisión integrativa de la literatura para sintetizar las evidencias disponibles sobre la Residencia Multiprofesional en Salud como estrategia de formación y capacitación de profesionales para el SUS. Se llevará a cabo una búsqueda en bases de datos electrónicas (por ejemplo, PubMed, Scopus, Lilacs) y en bibliografías de revisiones sistemáticas y estudios primarios relevantes. Los criterios de inclusión serán: estudios publicados en inglés, portugués o español, que aborden la formación en Residencia Multiprofesional en Salud, incluyendo los puntos de vista de los residentes, además de evaluar las competencias adquiridas y la efectividad de la Residencia Multiprofesional en Salud. Los estudios seleccionados serán evaluados en cuanto a su calidad metodológica y los datos serán sintetizados en una revisión integrativa. Resultados: A partir de la revisión sistemática realizada, los estudios seleccionados indicaron que la Residencia Multiprofesional en Salud es una estrategia efectiva de formación y capacitación de profesionales para el SUS. Los residentes informaron la adquisición de competencias técnicas, comportamentales y éticas, además de un mayor conocimiento y comprensión sobre el funcionamiento del SUS. Los preceptores destacaron la importancia de la Residencia Multiprofesional en Salud para la formación de profesionales capaces de trabajar en equipos interdisciplinarios e integrados al SUS. Además, la revisión identificó que los residentes formados en programas de Residencia Multiprofesional en Salud presentaron una mejor calidad en la atención prestada a la población y una mayor adherencia a los principios y directrices del SUS. Conclusión: La revisión sistemática demostró que la Residencia Multiprofesional en Salud es una estrategia efectiva de formación y capacitación de profesionales para el SUS, contribuyendo a la mejora de la calidad de la atención prestada a la población y la formación de profesionales con competencias ampliadas.

Palabras clave: Residencia Multiprofesional, Especialización, Sistema Único de Salud (SUS) brasileño, Proceso, Experiencia.

INTRODUÇÃO

A Residência Multiprofissional em Saúde (RMS) é considerada a especialização padrão-ouro do Sistema Único de Saúde (SUS) para qualificar profissionais de diversas áreas a atuarem de forma interdisciplinar e integrada na assistência à saúde da população. Essa modalidade de pós-graduação lato sensu tem como principal característica o aprimoramento em serviço, buscando a articulação teórico-prática e a formação de profissionais capazes de enfrentar os desafios do SUS (BRASIL, 2007; SILVA LB, 2018).

A residência foi inicialmente desenvolvida para a área médica, com o objetivo de fornecer prática durante seu processo de especialização. Em 1977, a Comissão Nacional de Residência Médica foi criada, regulamentando esse modelo de especialização (BRASIL, 1977). Com o sucesso da residência médica, outras áreas da saúde também começaram a ter esse tipo de treinamento, iniciando com os enfermeiros que lutaram para estabelecer a residência em enfermagem na década de 70 (LOPES GT, 2002). A mudança da residência em Medicina Comunitária para multiprofissional em 1978 foi um grande marco no desenvolvimento das residências multiprofissionais. A regulamentação das RMS ocorreu em 2005, com o objetivo de fortalecer o SUS, solidificar a atenção básica e inserir mão de obra qualificada no mercado de trabalho (BRASIL, 2005; BRASIL, 2007).

Qualificar os profissionais de saúde torna-se de extrema relevância visto que desempenham um papel crucial no fortalecimento do SUS, mas muitas vezes a formação acadêmica enfoca habilidades em diagnóstico, tratamento e prevenção, em detrimento de habilidades em lidar com demandas como acolhimento, cuidado e conhecimento do SUS. É necessário adaptar a formação para preparar futuros profissionais de saúde para essas demandas e propiciar um redimensionamento da educação em saúde (CECCIM RB, FEUERWERKER LCM, 2004).

Existe um desafio crucial a ser abordado: como preparar os profissionais adequadamente para atender às demandas específicas do serviço? De que forma adaptar a formação para suprir essa necessidade? Diversas estratégias têm sido adotadas com o objetivo de preencher a lacuna entre a educação e a experiência profissional, tais como o redesenho da estrutura curricular dos cursos superiores e, mais recentemente, a implementação de programas de residência multiprofissional. (BRASIL, 2006; BRASIL, 2007).

A residência representa uma oportunidade valiosa para a capacitação dos profissionais de saúde, uma vez que proporciona vivências práticas focadas no atendimento e estimula o aprendizado interprofissional, a utilização de metodologias ativas e a criação de espaços para debate. Contudo, há vulnerabilidades no processo de especialização que afetam a formação e geram desafios enfrentados pelos residentes ao longo do programa (FLOR TBM, et al., 2022).

Um estudo que analisou o programa de residência com base nas percepções dos residentes identificou diversas lacunas nos programas, incluindo carga horária extenuante, falta de apoio durante a realização das atividades, tutoria insuficiente no cotidiano dos residentes, carga horária teórica desconectada da prática e situações de desrespeito no ambiente de trabalho. A dinâmica de poder e hierarquia entre preceptores/tutores e residentes pode contribuir para esses problemas. Muitas vezes, os residentes se sentiam tratados como mão de obra no setor, em vez de serem considerados pós-graduandos, e em outras situações, experimentavam insegurança (KRÄMER J, MARTINS AB, MARCHI RJD, 2020).

A integração de profissionais residentes nos serviços de saúde tem sido um tema amplamente discutido, apresentando tensões e desafios para todos os envolvidos. De um lado, a presença desses profissionais promove a introdução de novos conhecimentos, resultados mais eficientes e estimula debates enriquecedores para toda a equipe. Por outro lado, frequentemente os residentes são inseridos nas equipes para suprir a falta de profissionais em áreas específicas, fazendo com que seu processo de especialização se concentre primordialmente na prestação de serviços, atuando como mão de obra no setor, em vez de focar no desenvolvimento de sua formação acadêmica e profissional (RODRIGUES TF, 2016).

Dessa forma, é essencial estabelecer uma compreensão clara do papel dos profissionais residentes nos serviços de saúde. Embora estejam legalmente autorizados a exercer suas práticas, eles também são estudantes em busca de aperfeiçoamento e especialização. Portanto, não devem ser vistos ou tratados como meros trabalhadores que integram a equipe, mas sim como aprendizes que necessitam de supervisão, orientação e espaços para discussão e desenvolvimento do conhecimento (TERUYA KY, et al., 2021).

Infelizmente, a residência multiprofissional tem sido associada ao aumento de ansiedade e estresse. Os residentes frequentemente se sentem sobrecarregados devido à alta carga horária, à desconexão entre teoria e prática, à falta de suporte e à pressão para suprir as demandas dos serviços de saúde, comprometendo a qualidade do serviço prestado e afetando sua vida pessoal. Portanto, é fundamental que as instituições de saúde elaborem políticas claras e eficazes para garantir que o processo de especialização seja conduzido de maneira justa e equilibrada, valorizando a formação dos residentes e, ao mesmo tempo, atendendo às necessidades dos serviços de saúde. Só assim será possível assegurar um ambiente de trabalho saudável e produtivo para todos os envolvidos (TERUYA KY, et al., 2021).

MÉTODOS

Este trabalho consiste em uma revisão integrativa da literatura, cuja investigação foi orientada pela seguinte questão norteadora: “Como a Residência Multiprofissional em Saúde, reconhecida como a especialização padrão ouro do Sistema Único de Saúde (SUS), é vivenciada pelos profissionais de saúde durante seu processo de formação especializada?”

A busca bibliográfica foi conduzida em maio de 2023, utilizando como principal recurso a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), uma plataforma que integra importantes bases de dados como Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Scientific Electronic Library Online (SCIELO) e PubMed. Para a seleção dos documentos, foram empregados os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): “Internship, Nonmedical”.

Os critérios de inclusão aplicados foram: artigos publicados a partir de 2018, artigos indexados em bases de dados nacionais e internacionais, textos completos disponíveis nas plataformas de pesquisa, idioma de publicação em português, inglês ou espanhol. Por outro lado, foram excluídos da análise: artigos não disponíveis na íntegra, publicações fora do período estabelecido, estudos duplicados e aqueles que não abordam de maneira explícita e adequada o tema proposto.

Este estudo busca compreender a vivência dos profissionais de saúde durante a sua formação na Residência Multiprofissional, com o intuito de contribuir para o aprimoramento deste importante dispositivo de formação e prática em saúde.

RESULTADOS

Na pesquisa inicial realizada nas bases de dados, foram identificados 2.036 artigos. Dentre estes, aplicando-se os critérios estabelecidos, foram excluídos: 1.829 artigos publicados há mais de 5 anos, 125 que não possuíam relação direta com o tema proposto, 22 cujos textos completos não estavam disponíveis, e 43 que não estavam escritos nos idiomas pré-definidos: inglês, português e espanhol.

Consequentemente, foram pré-selecionados 197 artigos para uma leitura do título e resumo. Após esse processo de análise, restaram 15 artigos que atendiam plenamente aos critérios de inclusão e abordavam de forma pertinente a questão norteadora da pesquisa. Esses artigos compõem a amostra final deste estudo e o processo de busca e seleção está representado no fluxograma da Figura 1.

FONTE: DADOS DO AUTOR

Quadro 1 – Artigos selecionados para esta revisão integrativa. 

FonteTítuloAutores (Ano)objetivo / Metodologia / Resultados / conclusão
1Fatores associados à qualidade de vida de residentes multiprofissionais em saúdePAI DD, et al. (2022)Objetivos: Examinar componentes relacionados ao bem-estar de profissionais em formação no programa de Residência Multiprofissional em Saúde. Métodos: Adotou-se um modelo transversal e analítico, com a participação de 94 residentes que preencheram um questionário abrangendo informações pessoais, o Maslach Burnout Inventory, o Self-Reporting Questionnaire e o World Health Quality of Life. Os dados foram processados por meio de regressão linear múltipla, com p < 0,05. Resultados: Disfunções psicológicas menores aumentaram, respectivamente, 0,31, 0,64 e 0,35 nas áreas de Saúde Física, Saúde Psicológica e Qualidade de Vida Geral. O esgotamento emocional exibiu uma influência reversa de 0,28 nos domínios de Saúde Física e Ambiente. A contentamento com a residência ampliou em 0,20 o índice geral de qualidade de vida; Viver isoladamente acrescentou em 0,02 o domínio Psicológico; e a raça/cor em 0,19 o campo Ambiental. Conclusões: Existe uma correlação entre o esgotamento emocional decorrente do burnout, disfunções psicológicas menores e a qualidade de vida de profissionais em formação na Residência Multiprofissional.
2A Residência Multiprofissional em Saúde: expectativas de ingressantes e percepções de egressosCARNEIRO EM, et al. (2021)Objetivo: Identificar expectativas de residentes multiprofissionais e contrastá-las com as impressões dos graduados. Método: Adotou-se um método qualitativo com entrevistas abertas com 12 novos residentes e um grupo de discussão com sete graduados. Resultados: As expectativas dos novos residentes dividiram-se em quatro subcategorias: pessoais, profissionais, relacionais e estruturais. As impressões dos graduados revelaram que nem todas as expectativas foram atingidas, apesar de algumas aspirações terem sido cumpridas durante o programa. Conclusão: Compreender as aspirações e impressões dos residentes pode proporcionar melhorias na estrutura e implementação do ensino, aumentando a qualidade do programa de Residência.
3  Representações de profissionais residentes acerca das estratégias pedagógicas utilizadas no processo formativo da residência multiprofissionalMACHADO LDS, et al. (2018)Objetivo: Investigar as percepções dos residentes sobre as táticas pedagógicas de um programa de Residência Multiprofissional em Saúde. Método: Estudo de caso com enfoque qualitativo, fundamentado na Teoria das Representações Sociais. Os dados foram coletados por meio de questionários aplicados aos residentes. O software ALCESTE foi utilizado para a análise lexical do conteúdo. Resultados: Os questionários foram respondidos por 15 residentes. A análise destacou a relevância educacional de uma ferramenta de Educação a Distância, a importância de enfocar o conteúdo teórico e sua estruturação, integrando-os à experiência prática, e a predileção dos participantes por ambientes dinâmicos que promovam a comunicação e a análise crítica e reflexiva do dia a dia. Conclusão: Existe uma necessidade de apreciação de estratégias e métodos de ensino-aprendizagem que sejam significativos para o residente e que contribuam para a formação em saúde.
4Engagement de residentes multiprofissionais em saúdeRotta DS, et al. (2019)Objetivo: Avaliar o engajamento de residentes multiprofissionais em saúde em uma instituição no noroeste de São Paulo. Método: Estudo transversal utilizando a Escala de Engajamento no Trabalho de Utrecht. Resultados: Entre os 50 participantes, 82% estavam satisfeitos com o programa e 56% já pensaram em desistir. Conclusão: Apesar das insatisfações, os profissionais apresentaram bons níveis de engajamento e relação com preceptores e supervisores, mostrando a importância do apoio e reconhecimento no início da carreira.
5Formação de residentes multiprofissionais em saúde: limites e contribuições para a integração ensino-serviço  Mello, A. L., (2018)Objetivo: Analisar limites e contribuições na formação de residentes multiprofissionais em saúde para integração ensino-serviço. Método: Pesquisa qualitativa com 13 docentes de um Programa de Residência Multiprofissional em Saúde, utilizando entrevistas semiestruturadas e análise temática. Resultados: A formação dos residentes enfrenta limitações como a falta de trabalhadores nos serviços de saúde e o estranhamento do papel dos residentes como integrantes provisórios das equipes. A valorização das atividades dos residentes contribui para a atenção à saúde e para os serviços de saúde. Conclusão: A discussão sobre a formação profissional é importante para refletir sobre as transformações das práticas em saúde na perspectiva multiprofissional e de acordo com as necessidades locorregionais.
6Formação para o cuidado em liberdade: reflexões sobre uma residência multiprofissional em Saúde Mental ColetivaPires RR, et al. (2019)  Objetivo: Refletir sobre os processos formativos é relevante para aprimorar e avaliar tais programas. Método: relato de experiência. Resultado: foi abordado neste relato as atividades vivenciadas, refletindo sobre avanços e desafios encontrados. Conclusão: A experiência de uma residência multiprofissional em Saúde Mental Coletiva mostrou avanços e desafios, trazendo mudanças positivas aos serviços e formando profissionais comprometidos com o cuidado em liberdade.
7A formação multiprofissional em saúde sob a ótica do residenteCorreio NGM; Correio DAM. (2018)Objetivo: Relatar as experiências vivenciadas enquanto Enfermeira integrante da 1ª turma de Residência Multiprofissional em Saúde do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle e descrever as atividades realizadas durante o exercício prático e teórico do curso. Métodos: Trata-se de um estudo descritivo de análise situacional e caracterizado como relato de experiência. Resultados: O programa, iniciado em fevereiro de 2011, contava com profissionais de Enfermagem, Nutrição, Fonoaudiologia e Fisioterapia. Tinha duração de dois anos e uma carga horária semanal de 60 horas. Abrangia diferentes cenários do hospital e incluía um período destinado à Atenção Básica, com o objetivo de promover a experiência da integralidade da atenção à saúde. Conclusão: A interação prolongada entre os residentes multiprofissionais proporcionou um grande aprendizado em relação ao trabalho coletivo, aumentando o respeito, valorização e conhecimento entre as diferentes profissões.
8PERCEPÇÕESDE RESIDENTES EM URGÊNCIA E EMERGÊNCIA SOBRE SUA FORMAÇÃO: DESAFIOS PARA A APRENDIZAGEMAPARECIDA ARTICO, G. et al. (2020)Objetivo: Identificar a percepção dos profissionais em um Programa de Residência Multiprofissional em Urgência e Emergência sobre sua formação. Método: Estudo descritivo, exploratório e qualitativo com residentes do segundo ano do programa. A coleta de dados ocorreu entre junho e agosto de 2018, por meio de entrevistas individuais e semiestruturadas. Os dados foram processados utilizando o software IRAMUTEQ® e a análise foi baseada em categorias temáticas. Resultados: Onze residentes participaram, incluindo enfermeiros, farmacêuticos e psicólogos. A análise revelou duas categorias principais: Contribuições da residência para o desenvolvimento profissional e Desarticulação entre o eixo transversal e específico. Considerações Finais: A residência adquirida aos participantes experiências de aprendizado teórico-prático e compartilhamento de conhecimentos por meio de discussões de casos clínicos em equipe multiprofissional. No entanto, houve intensa insatisfação com a organização do programa e do processo de trabalho. Os residentes apontaram a restrição de aporte teórico dos docentes e preceptores, dificuldade em articular as atividades assistenciais e educacionais de forma multidisciplinar e sobrecarga de trabalho com desvio de suas atividades.
9Interdisciplinaridade e interprofissionalidade no trabalho em equipe: percepções de residentes multiprofissionais em Cuidados Hospitalares.Baquião APS, et al. (2021)Objetivo: O estudo investigou as percepções de residentes multiprofissionais em Cuidados Hospitalares sobre interdisciplinaridade e interprofissionalidade no trabalho em equipe. Metodologia: Participaram do estudo 29 residentes, todos do gênero feminino, nas áreas de psicologia, assistência social, enfermagem, fisioterapia e nutrição. Resultados: mostraram que a maioria teve seu primeiro contato com a interdisciplinaridade durante a faculdade, associando-a à ação conjunta. Poucos participantes tinham conhecimento sobre a interprofissionalidade, mas valorizaram a horizontalização das relações entre os profissionais de saúde. Algumas condições importantes relacionadas a esses conceitos não foram enfatizadas pelos participantes. Estudos adicionais são necessários para ampliar o entendimento dessas temáticas na saúde pública. Conclusão: os resultados apresentados revelam certas limitações e potenciais dos Programas de Residência Multiprofissional em Saúde (PRMSs) no aprimoramento dos modelos de formação e prática na área da saúde. É crucial que esse processo se concentre nos usuários, levando em consideração que, desde a implementação do Sistema Único de Saúde (SUS), eles têm direito a uma assistência de qualidade e resolutiva.
10PROCESSO SAÚDE-DOENÇA E QUALIDADE DE VIDA DO RESIDENTE MULTIPROFISSIONALCoêlho P, et al. (2018)Objetivo: Refletir sobre a relação da Residência Multiprofissional em Saúde no processo saúde-doença e na qualidade de vida do profissional de saúde residente. Método: Estudo qualitativo e reflexivo que utilizou pesquisa documental e revisão da literatura, buscando 16 artigos nas bases de dados PUBMED/MEDLINE, LILACS e biblioteca virtual SCIELO. Resultados: Destacam-se as categorias “Condicionantes legislativos da residência e a interface na saúde do trabalhador” e “Residência versus qualidade de vida”. Conclusão: Verificou-se a presença de condicionantes negativos relacionados à residência, os quais podem influenciar o adoecimento dos residentes. Espera-se que essa pesquisa contribua para aprimorar políticas públicas voltadas à residência e sirva como material para melhorar os regulamentos internos dos cursos, bem como para desenvolver diretrizes que favoreçam boas práticas na formação e saúde.
11Resistências à colaboração interprofissional na formação em serviço na atenção primária à saúdeLago LP de M, et al. (2022)Objetivo: analisar resistências à colaboração interprofissional nas práticas profissionais de residentes na atenção primária à saúde. Método: Foi conduzido uma pesquisa sócio-clínica qualitativa com 32 residentes de uma Residência Multiprofissional no período de 2017 a 2018. Os dados foram coletados por meio de análise institucional das práticas profissionais, análise documental, diário do pesquisador e observação, e analisados utilizando conceitos da Análise Institucional. Resultados revelaram contradições entre a ênfase na reprodução da educação uniprofissional com foco na especialidade e as práticas colaborativas interprofissionais. A análise resistencial identificou dois eixos: o “não-saber” como um fator de resistência à colaboração e as interferências interprofissionais e relações de poder. As práticas dos residentes foram identificadas por resistência à colaboração interprofissional. Conclusão: análise resistencial na Residência Multiprofissional evidenciou movimentos contraditórios entre assimilação e disputas com o poder médico-centrado, gerados em lucros para o compartilhamento do cuidado e comunicação interprofissional. A análise coletiva questionou a formação de profissionais de saúde, destacando a importância de uma abordagem de cuidado integral orientada pelas necessidades dos usuários.
12Análise da formação em Programas de Residência Multiprofissional em Saúde no Brasil: perspectiva dos egressosFlor TBM, et al. (2023) Objetivo: analisou a formação em Programas de Residência Multiprofissional em Atenção Básica (PRMAB) no Brasil, utilizando a perspectiva de egressos de 20 programas no período de 2015 a 2019.
 Método: As dimensões investigadas foram a Abordagem Pedagógica (AP) e os Cenários de Educação em Serviço (CES), avaliadas por meio de uma escala Likert. Participaram do estudo 365 egressos de programas localizados em 12 estados.
Resultados mostraram que na dimensão AP, os critérios relacionados à concepção ampliada do cuidado e à formação integral obtiveram as melhores pontuações (P50=10), enquanto a preceptoria foi identificada como um aspecto com baixo desempenho (P50=7). Em relação aos CES, as potencialidades foram observadas nas atividades educativas em grupo (P50=9), enquanto fragilidades foram encontradas em critérios como espaço físico adequado nas unidades de saúde (P50=6), participação dos residentes em Conselhos (P50=6) e articulação com Programas de Residência Médica (P50=5).
Conclusão: no geral, a formação nos PRMAB está alinhada com os paradigmas atuais da atenção à saúde, com foco na integralidade e prevenção. No entanto, os programas precisam investir na capacitação de preceptores e melhorar as fragilidades identificadas nos cenários de prática.
13FORMAÇÃO PARA O TRABALHO NA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA: EXPERIÊNCIA DA RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDEFernanda CC, et al. (2018)Objetivo:  descrever uma proposta de ensino voltada para a atuação na Estratégia Saúde da Família, desenvolvida por meio de um eixo específico em um Programa de Residência Multiprofissional de um Hospital Público de Ensino no Triângulo Mineiro.
Metodologia: A proposta envolveu 100 horas/aula, guiadas pelo Planejamento Estratégico Situacional em Saúde, e abrangeu atividades como concentração em sala, leitura crítica e elaboração de relatórios técnicos, além de interações com a comunidade e equipes de saúde da família.
Resultado: O diagnóstico situacional revelou desafios como a rotatividade médica, a troca de servidores enfermeiros e a presença de microáreas sem cobertura nas equipes, que impactavam a oferta de serviços e geravam angústia entre os trabalhadores. Os residentes consideraram ter capacidade de influenciar positivamente a reestruturação do processo de trabalho dessas equipes, evidenciando uma governabilidade elevada.
Conclusão: Embora essa experiência seja específica para a integração entre ensino e serviço, ela tem potencial para contribuir para a produção científica sobre o tema e para a formação interprofissional voltada para a atuação na Saúde da Família.
14O treinamento e o processo de trabalho na Residência Multiprofissional em Saúde como estratégia inovadora.Bernardo MS, et al. (2020)Objetivos: Refletir sobre a educação na área da saúde e o processo de trabalho em três programas de residência multiprofissional em Florianópolis, no estado de Santa Catarina. Método: Realização de um estudo reflexivo acerca dos programas de residência multiprofissional em saúde na cidade de Florianópolis. Resultados: A residência multiprofissional se destaca por proporcionar formação aos profissionais da área da saúde por meio de uma abordagem educacional baseada no serviço. Esses programas têm como propósito aprimorar a especialização dos profissionais, por meio de atividades que fomentem o exercício profissional e fortaleçam o trabalho em equipe, visando oferecer cuidados de saúde integrais e de qualidade. Considerações finais: Os programas de residência multiprofissional promovem a educação interdisciplinar e estimulam a troca de conhecimentos entre os residentes e outros profissionais, incentivando o desenvolvimento de habilidades inovadoras.  
15Dez anos da residência multiprofissional do Complexo Hospital de Clínicas da Universidade Federal do ParanáPivatto LF, et al. (2021)Objetivos: Relatar a experiência de dez anos do Programa de Residência Multiprofissional em Atenção Hospitalar no Complexo Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná. Método: Elaboração de relatório com base em documentos internos e relatórios de coordenadores e tutores. Resultados: Ao longo dos dez anos, trezentos e setenta e dois profissionais foram capacitados. Houve avanços significativos, como o aumento de vagas e especialidades, consolidação do Regulamento Interno, implementação de sistema computadorizado de gerenciamento acadêmico, estímulo à pesquisa e melhoria da assistência hospitalar. Considerações finais: A experiência de uma década enfrentou desafios, incluindo a desconstrução da visão uniprofissional e a promoção de paradigmas inovadores. Houve transformação das práticas profissionais, desenvolvimento de habilidades de trabalho em equipe, integração entre ensino e trabalho, e avanço na formação dos residentes. Essa experiência foi essencial para preparar profissionais de saúde de forma ampla e interprofissional.

DISCUSSÃO

A Residência Multiprofissional em Saúde, uma prática que incentiva a interdisciplinaridade e o trabalho em equipe, tem sido fundamental para a abrangência e eficácia da saúde. Como destacado por Bernardo MS, et al., (2020), esses programas visam ao cuidado integral do paciente, formação multiprofissional e troca de conhecimentos entre os profissionais. Este estudo salienta que a residência oferece uma oportunidade única para uma visão holística do processo saúde-doença, permitindo aos profissionais atuarem com segurança e qualidade no SUS. Assim, o fortalecimento desse processo formativo traz benefícios à todos: profissionais, tutores, serviço e comunidade, contribuindo para a melhoria da atenção integral à saúde e para o desenvolvimento científico e tecnológico.

Em continuidade, a experiência de conviver com profissionais de diferentes áreas possibilita uma abordagem holística, que ultrapassa as técnicas isoladas. Tal percepção é endossada por Baquião APS, et al. (2021), onde se evidencia que a abordagem multiprofissional em programas de residência tem um efeito positivo para todos os envolvidos, favorecendo um cuidado integral aos pacientes. Neste sentido, o estudo destaca que a residência multiprofissional propicia um entendimento mais claro do conceito de práticas interprofissionais, reforçando a importância da colaboração e do trabalho em equipe.

Segundo Fernanda CC, et al. (2018) a formação qualificada para o Sistema Único de Saúde (SUS) é fundamental no contexto contemporâneo, especialmente diante das discussões globais sobre a implementação de sistemas de saúde universais para promover o bem-estar e a saúde das populações. No entanto, o estudo levantou a problemática de que a formação multidisciplinar e as políticas nacionais exigem a adoção de estratégias pedagógicas que permitam vivências e produção de conhecimento no nível primário de atenção.

Embora ofereça ganhos ponderais para todos os envolvidos é de suma importância destacar o que os estudos atuais apontam sobre as residências multiprofissionais, em especial como os principais atores os residentes estão vivenciando seu processo de especialização. No estudo sobre aspectos que afetam a qualidade de vida dos residentes Pai DD, et al.(2022) demonstrou que os residentes sofriam prejuízos principalmente relacionados a fatores psicológicos, assim como o meio ambiente, físico e relações sociais, segundo o estudo essas alterações decorrem da intensa jornada de trabalho, demandas de responsabilidades, alta demanda de atividades práticas e teóricas e ausência de tempo para o término do trabalho de conclusão de residência. Além de lidar com as demandas inerentes ao programa o profissional inserido na residência acomete-se com questões pessoais como cobranças, relações no trabalho e sua expectativa para o futuro.  Todos esses fatores segundo o estudo demonstram sofrimento psíquico, desgaste físico e emocional.

A análise de Coêlho P, et al. (2018) vai além e destaca que a residência multiprofissional em saúde é um tipo de formação que demanda atenção na qualificação dos profissionais envolvidos, incluindo a gestão e a preceptoria. A falta de preparo desses profissionais pode prejudicar a qualidade da formação e a saúde dos residentes. Por outro lado, é imprescindível desenvolver estratégias para prevenir e controlar os fatores de estresse que afetam o dia a dia dos residentes visando melhorar sua qualidade de vida e a assistência prestada, as resoluções que regulamentam a residência visam o bom funcionamento dessa, entretanto é necessário adotar uma abordagem mais abrangente, envolvendo os residentes em uma perspectiva de cuidado e ciência que vá além do funcionamento básico do programa.

Corroborando com o estudo de Pai DD (2022), que discute os desafios inerentes à especialização, Pivatto LF et al. (2021) apresentaram uma análise abrangente dos obstáculos enfrentados ao longo dos dez anos de implementação do programa de residência do Complexo Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná. Entre as dificuldades identificadas que foram enfrentadas, destacam-se a necessidade de promover uma atuação interdisciplinar efetiva, a fragilidade da estrutura física e a dificuldade de compreensão por parte dos profissionais estabelecidos em reconhecer a relevância e o impacto da residência, nesse sentido deve-se assim como nessa residência buscar dirimir as dificuldades enfrentadas.

Na prática, o trabalho interdisciplinar enfrenta um grande desafio que é o poder médico centrado, o estudo de Lago LP, et al. (2019) evidenciou as resistências na prática profissional dos residentes em relação ao poder médico-centrado e à colaboração interprofissional. Essas resistências geram tensões e conflitos que precisam ser enfrentados para alcançar maior integração de práticas, colaboração e integralidade no cuidado em saúde. As disputas de poder prejudicam o compartilhamento do cuidado e a comunicação entre profissionais.

 Aparecida AG, et al. (2020) em seus resultados revelaram que a residência proporcionou experiências significativas de aprendizado teórico-prático, assim como o compartilhamento de conhecimentos e saberes por meio de discussões de casos clínicos conduzidas pela equipe multiprofissional. No entanto, identificou-se uma intensa insatisfação dos residentes em relação à organização do programa e ao processo de trabalho. Essa insatisfação decorreu da escassez de aporte teórico por parte dos docentes e preceptores, bem como da dificuldade em articular as atividades assistenciais e educacionais de forma multi e interdisciplinar. Além disso, a sobrecarga de trabalho resultou no desvio das atividades previstas.

Esse não é um caso isolado o estudo apresentado por Carneiro EM, et al. (2021) abordou a percepção dos egressos do programa de residência, e as queixas dos profissionais envolviam, predominantemente, questões ligadas à defasagem teórico-prática. A dificuldade em exercer a prática multiprofissional em virtude da logística do programa era um problema recorrente, assim como a relação entre residentes e profissionais da unidade, muitas vezes vista de forma pouco saudável. Os residentes eram tratados como funcionários e não como pessoas em busca de maior conhecimento e dispostas a aprender. Acrescenta-se a esse cenário a ausência de preceptoria, recurso que os ingressantes esperavam para auxiliar no desenvolvimento de novas habilidades, evidenciando uma distância entre o que é preconizado pelo MEC e a prática observada.

Ao explorar a normativa do Ministério da Educação (MEC) (RESOLUÇÃO CNRMS Nº 2, DE 13 DE ABRIL DE 2012), percebe-se que preceptores e tutores possuem papéis fundamentais em um programa de residência. O preceptor, que deve ter formação mínima de especialista, supervisiona diretamente as atividades práticas dos residentes nos serviços de saúde. Seu papel abrange a orientação dos residentes em suas atividades, elaboração de escalas de trabalho e identificação de possíveis dificuldades dos residentes, colaborando para o seu crescimento profissional. Também avalia o progresso do residente e do plano pedagógico do programa.

Da mesma maneira, o tutor, que necessita de formação mínima de mestre e experiência profissional mínima de três anos, atua na orientação acadêmica de preceptores e residentes. Seus deveres incluem implementação de estratégias pedagógicas integradas, organização de reuniões para avaliação do plano pedagógico do programa, participação no planejamento e implementação de atividades de educação permanente para os preceptores e desenvolvimento de ações voltadas à qualificação dos serviços. Além disso, é responsável por desenvolver novas tecnologias para a atenção e gestão em saúde. Na articulação entre preceptores, residentes e outros programas, o tutor é essencial, contribuindo para a avaliação e melhoria do programa (RESOLUÇÃO CNRMS Nº 2, DE 13 DE ABRIL DE 2012).

Contudo, é notável que a prática no campo da residência diverge do que deveria ser implementado. MACHADO LDS, et al. (2018) destacaram que os residentes da Residência Multiprofissional em Saúde mostraram insatisfação com o processo formativo presencial, evidenciando desafios a serem superados. Entre eles estão a falta de cumprimento do cronograma, a desconexão entre teoria e prática e a comunicação conflituosa. Mesmo com esses problemas, foram identificadas potencialidades na qualidade teórico-metodológica das rodas de campo e no potencial de transformação proporcionado aos profissionais residentes. Isso ressalta a necessidade de revisar as práticas pedagógicas adotadas, visando melhorar a formação e assegurar uma educação em saúde alinhada às necessidades da população e do território.

Diante de tais dificuldades, um caminho para aumentar o engajamento dos residentes é a valorização destes enquanto profissionais, reconhecendo suas contribuições para a equipe. No estudo de Rotta DS, et al. (2019), é reforçada a importância dessa abordagem para intensificar o compromisso e o desempenho dos residentes no programa. A valorização dos residentes fomenta o engajamento no programa, mesmo diante de insatisfações. Salienta-se a necessidade de apoio e reconhecimento do desempenho, especialmente no início da carreira. A satisfação e engajamento podem ser aprimorados através de mudanças no ambiente de trabalho, valorização, colaboração, maior autonomia e integração com docentes e preceptores, resultando em melhor desempenho, produtividade e qualidade no atendimento à comunidade.

A necessidade de respeito e valorização dos profissionais em residência também é evidenciada por Mello AL (2018), que argumenta que eles desempenham um papel crucial nos serviços de saúde e no atendimento aos pacientes. Dada a temporariedade dos residentes e a escassez de funcionários de diversos núcleos nos serviços, torna-se crucial dar atenção à integração entre educação e serviço. Portanto, investir em estratégias que facilitem esta relação, como a criação de espaços para discussão e planejamento de atividades voltadas para a formação de residentes, é crucial.

Ao expandir o âmbito da discussão, Pires RR et al. (2019) enfatizam o potencial das residências em aprimorar a prestação de serviços de saúde, citando o desenvolvimento de novos fluxos assistenciais e a inclusão de atividades de educação contínua. No entanto, o estudo também destaca os desafios presentes, como a falta de recursos financeiros e infraestrutura adequada, que podem limitar a eficácia do programa e seu impacto na formação profissional e na comunidade. Além disso, garantir a continuidade do programa é fundamental para atrair e reter talentos, bem como para garantir resultados consistente.

Em sintonia com esta visão, Correio NGM e Correio DAM (2018) salientam que, apesar das dificuldades enfrentadas pelos residentes, elas devem ser encaradas como obstáculos a serem superados, e não como impedimentos ao desenvolvimento do programa. Destacam o potencial dos programas de residência para promover a troca de conhecimentos entre teoria e prática. A interação contínua entre os residentes multiprofissionais permite um aprendizado valioso sobre o trabalho em equipe, reforçando o respeito, a valorização e a compreensão entre as diversas áreas profissionais.

Evidenciando ainda mais os aspectos positivos, o estudo de Flor TBM et al. (2023) mostra que os programas de residência em Atenção Básica estão alinhados com as demandas atuais de saúde, com foco na integralidade e prevenção. Embora haja limitações estruturais e de recursos humanos, a satisfação dos egressos com a formação no cenário de prática indica que a aprendizagem significativa supera esses desafios. Desenvolvidos dentro do contexto do SUS, esses programas promovem o compromisso com a realidade social e a interprofissionalidade, através de abordagens pedagógicas críticas e reflexivas, além de ensino e trabalho compartilhado. Essa formação também contribui para a educação permanente dos profissionais, reforçando o cuidado prestado, especialmente em Instituições de Educação Superior fora das capitais.

CONCLUSÃO:

As residências multiprofissionais em saúde têm o potencial de melhorar a qualidade e a eficiência dos serviços prestados, promovendo a interdisciplinaridade e o trabalho em equipe. No entanto, estudos mostram que os residentes enfrentam diversas dificuldades, como desgaste físico e emocional, insatisfação com o processo formativo, defasagem teórico-prática e resistências relacionadas ao poder médico-centrado. Para superar esses desafios, é crucial investir em estratégias que promovam a integração ensino-serviço, valorizem os residentes, melhorem as práticas pedagógicas e facilitem a colaboração interprofissional. Dessa forma, será possível garantir que os programas de residência multiprofissional cumpram seu objetivo de formar profissionais qualificados e comprometidos com a saúde coletiva, capazes de atuar com segurança e qualidade no Sistema Único de Saúde (SUS).

REFERÊNCIAS:

1. Artico GA, et al. Percepções de residentes em urgência e emergência sobre sua formação: desafios para a aprendizagem. Ciênc Cuid Saúde. 2020;19:e50149.

2. Baquião APS, et al. Interdisciplinarity and interprofessionality in teamwork: perceptions of multiprofessional residents in Hospital Care. Acta Sci Health Sci. 2021;43:e54332.

3. Bernardo MS, et al. Training and work process in Multiprofessional Residency in Health as innovative strategy. Rev Bras Enferm. 2020;73(6):e20190635.

4. Brasil. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF; 1988.

5. Brasil. Decreto no 80.281, de 5 de setembro de 1977. Brasília, DF; 1977.

6. Brasil. Institui o Programa Nacional de Inclusão de Jovens – ProJovem. Brasília, DF; 2005.

7. Brasil. Ministério da Educação. Ministério da Saúde. Portaria Interministerial no 45, de 12 de janeiro de 2007. Brasília, DF; 2007.

8. Brasil. Ministério da Saúde. Ministério da Educação. Pró-saúde: Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde. Brasília: Editora do Ministério da Saúde; 2007.

9. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Residência multiprofissional em saúde: experiências, avanços e desafios. Brasília: Ministério da Saúde; 2006.

10. Carneiro EM, et al. A Residência Multiprofissional em Saúde: expectativas de ingressantes e percepções de egressos. Physis. 2021;31(3):e310314.

11. Ceccim RB, Feuerwerker LCM. O quadrilátero da formação para a área da saúde: ensino, gestão, atenção e controle social. Physis: Revista de Saúde Coletiva. 2004;14(1):41-65.

12. Coêlho PDL, et al. Processo saúde-doença e qualidade de vida do residente multiprofissional. Rev Enferm UFPE Online. 2018;12(12):3492-3499.

13. Costa ACAC, et al. Educational Environment Assessment by Multiprofessional Residency Students: New Horizons Based on Evidence from the DREEM. Med Sci Educ. 2021;31(2):429-437.

14. Correio NGM, Correio DAM. A formação multiprofissional em saúde sob a ótica do residente. Rev Pesqui (Univ Fed Estado Rio J, Online). 2018;10(2):593-598.

15. Fernanda CC, et al. FORMAÇÃO PARA O TRABALHO NA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA: EXPERIÊNCIA DA RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE. Revista de Enfermagem e Atenção à Saúde [Internet]. 2018-08-07;7(1).

16. Flor TBM, et al. Formação na Residência Multiprofissional em Atenção Básica: revisão sistemática da literatura. Ciência & Saúde Coletiva. 2022;27(3):91-93.

17. Krämer J, et al. Evaluation of the Residency Programs of the Federal University of Rio Grande do Sul from the residents’ view. Revista de Odontologia da UNESP. 2020;49(00):1-12.

18. Lago LP, et al. Resistência à colaboração interprofissional na formação em serviço na atenção primária à saúde. Rev enferm USP [Internet]. 2022;56:e20210473.

19. Lopes GT. A luta das enfermeiras residentes do Rio de Janeiro pela consolidação da residência na década de 70. Revista de Enfermagem. 2002;V. 6(3):375-385.

20. Machado LDS, et al. Representações de profissionais residentes acerca das estratégias pedagógicas utilizadas no processo formativo da residência multiprofissional. Rev esc enferm USP. 2018;52:e03386.

21. Mello AL, et al. Formação de residentes multiprofissionais em saúde: limites e contribuições para a integração ensino-serviço. Rev Enferm Centro-Oeste Mineiro. 2018;8.

22. Pai DD, et al. Factors associated with the quality of life of multi-professional health residentes. Rev Bras Enferm. 2022;75(6):e20210541.

23. Pivatto LF et al. Dez anos da residência multiprofissional do Complexo Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná. Cogitare Enferm [Internet]. 2021;26:e76053.

24. Pires RR, et al. Formação para o cuidado em liberdade: reflexões sobre uma residência multiprofissional em Saúde Mental Coletiva. Saúde Redes. 2019;5(1):181-190.

25. Rodrigues TF. “Residências Multiprofissionais Em Saúde: Formação Ou Trabalho?” Serviço Social & Saúde. 2016;V.15(1):71–82.

26. Rotta DS, et al. Engagement of multi-professional residents in health. Rev enferm USP. 2019;53:e03437.

27. Silva LB. Residência Multiprofissional em Saúde no Brasil: alguns aspectos da trajetória histórica. Revista Katálysis. 2018;21(01):200-209.

28. Teruya KY, et al. Ansiedade e estresse na residência multiprofissional em saúde. Brazilian Journal of Health Review. 2021;4(2):6689-6709.

29. Zahavi E, et al. Methylphenidate use and misuse among medical residents in Israel: a cross-sectional study. Hum Resour Health. 2023 Jan 31;21(1):5. doi: 10.1186/s12960-023-00792-x. PMID: 36721145; PMCID: PMC9890881.


1Residente da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), programa de especialização em Reabilitação Física. Campo Grande – Mato Grosso do Sul

2Orientador do artigo. Fisioterapeuta, professor adjunto da UFMS.

3Coorientadora do artigo. Mestranda em Ciências do movimento na UFMS.