REPRODUÇÃO ASSISTIDA: UMA JORNADA PELA HISTÓRIA E EVOLUÇÃO – REVISÃO INTEGRATIVA DAS PRÁTICAS ATUAIS

ASSISTED REPRODUCTION: A JOURNEY THROUGH HISTORY AND EVOLUTION – INTEGRATIVE REVIEW OF CURRENT PRACTICES

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10645593


Alexandre Carneiro Freitas 1, Bianca França Zanella 2, Manuela Calegari Mereti Morais Federici 3, Fernanda França Zanella 4, Guilherme Simão Ferreira Faria 5, Ismar Martins de Arruda Júnior 6, Maria Eduarda Ramos 7, Pablo Cristiano Machado 8, Rebeca Correia dos Santos 9, Urhyany Krüger 10

Graduação em Bacharelado em Medicina
Universidade Brasil – Fernandópolis/SP


RESUMO

A evolução da Reprodução Assistida (RA) ao longo da história reflete uma jornada complexa, marcada por avanços tecnológicos, desafios éticos e implicações psicossociais. Este artigo realiza uma revisão integrativa das práticas atuais em RA, explorando desde as raízes históricas até os desafios contemporâneos. Iniciamos com uma contextualização histórica, percorrendo as civilizações antigas, como a egípcia e grega, que desenvolveram métodos para favorecer a fertilidade. Discutimos também a criopreservação de embriões, avanços genéticos e dinâmicas matrimoniais em casais inférteis. Na seção sobre práticas atuais, abordamos o panorama atual das técnicas disponíveis, avanços tecnológicos recentes e desafios éticos, incluindo a doação compartilhada de óvulos. Exploramos a complexidade psicossocial e ética na RA, analisando estudos que revelam o impacto psicológico nos casais, considerações éticas do consentimento informado e influências sociais e culturais. A síntese dos principais achados destaca a necessidade de uma compreensão holística da RA, integrando avanços tecnológicos com aspectos éticos e psicossociais. As implicações para a prática clínica ressaltam a importância da abordagem multidisciplinar, considerando não apenas a eficácia técnica, mas também o bem-estar emocional e ético dos envolvidos. Concluímos destacando as contribuições desta revisão para uma compreensão mais profunda e informada da RA.

Palavras-chave: Reprodução Assistida, História, Técnicas, Desafios, Aspectos Psicossociais, Ética.

ABSTRACT

The evolution of Assisted Reproduction (AR) throughout history reflects a complex journey marked by technological advances, ethical challenges, and psychosocial implications. This article conducts an integrative review of current practices in AR, exploring from historical roots to contemporary challenges. We begin with a historical context, traversing ancient civilizations like the Egyptian and Greek, who developed methods to favor fertility. We also discuss embryo cryopreservation, genetic advancements, and marital dynamics in infertile couples. In the section on current practices, we address the current landscape of available techniques, recent technological advances, and ethical challenges, including shared egg donation. We explore the psychosocial and ethical complexity in AR, analyzing studies that reveal psychological impact on couples, ethical considerations of informed consent, and social and cultural influences.

The synthesis of key findings emphasizes the need for a holistic understanding of AR, integrating technological advances with ethical and psychosocial aspects. Implications for clinical practice highlight the importance of a multidisciplinary approach, considering not only technical efficacy but also the emotional and ethical well-being of those involved. We conclude by emphasizing the contributions of this review to a deeper and informed understanding of AR.

Keywords: Assisted Reproduction, History, Techniques, Challenges, Psychosocial Aspects, Ethics.

1 INTRODUÇÃO

A busca pela concretização do desejo parental tem sido marcada por uma fascinante evolução histórica nas técnicas de reprodução assistida. Neste contexto, o estudo seminal de Moura, Souza e Scheffer (2009), “Reprodução Assistida: Um Pouco de História,” desvenda as raízes fundamentais dessa jornada complexa. Ao percorrer as origens da fertilização in vitro e outras técnicas precursoras, o artigo proporciona uma visão abrangente das primeiras incursões na manipulação assistida da reprodução.

A contextualização histórica não apenas ilumina os marcos da reprodução assistida, mas também revela uma intricada tapeçaria ética e tecnológica que se desdobrou ao longo do tempo. A história dessas práticas revela não só triunfos científicos extraordinários, mas também desafios éticos e sociais, que moldaram e continuam a moldar a prática da medicina reprodutiva.

A escolha de uma revisão integrativa se justifica pela complexidade multidisciplinar da reprodução assistida. Nossa análise não busca apenas delinear fatos históricos, mas sim compreender criticamente as práticas atuais. Entre elas, destacamos a contribuição de estudos que exploram os avanços tecnológicos (Graner et al., 2009; Oliveira et al., 2015), os desafios éticos inerentes (Sampaio, Mancini, 2007; Passos, Pithan, 2015), e os impactos psicossociais sobre os casais envolvidos (Drosdzol, Skrzypulec, 2009; Serra, Castro, 2012; Cousineau, Domar, 2007).

Nosso objetivo é ir além das narrativas históricas, fornecendo uma análise crítica e holística. Ao revisitar a história e as práticas atuais da reprodução assistida, este artigo almeja contribuir para uma compreensão mais profunda e informada deste campo tão vital e, por vezes, complexo.

2 HISTÓRIA DA REPRODUÇÃO ASSISTIDA

Desde os primórdios, em civilizações antigas, onde rituais e práticas empíricas marcaram os primeiros esforços para influenciar a fertilidade, até os avanços tecnológicos contemporâneos, a evolução dessa jornada é notável. Esta seção não apenas busca mapear cronologicamente essa evolução, mas também mergulha nas nuances das técnicas, dos marcos iniciais à fertilização in vitro (FIV) e diagnóstico pré-implantacional, e nas contribuições diversas que moldaram esse campo, desde aspectos psicológicos até dilemas éticos contemporâneos. Embarquemos, assim, em uma jornada pelas raízes e evolução da reprodução assistida, explorando suas facetas históricas e suas implicações contemporâneas.

2.1 Raízes Históricas e Marcos Iniciais:

As raízes da reprodução assistida remontam a eras antigas, onde as sociedades antigas já buscavam compreender e influenciar a fertilidade. Práticas empíricas, muitas vezes fundamentadas em rituais religiosos, evidenciam tentativas de intervenção na concepção. A obra de Moura, Souza e Scheffer (2009) contextualiza essas práticas, lançando luz sobre o início desse fascinante caminho.

Os registros históricos revelam que civilizações antigas, como a egípcia e a grega, atribuíram grande importância à fertilidade, considerando-a uma dádiva divina e uma essência vital para a continuidade da linhagem e o bem-estar da sociedade. Nesses contextos, a busca por métodos que pudessem favorecer a fertilidade era intrínseca às práticas religiosas e culturais (Moura et al., 2009).

Na civilização egípcia, por exemplo, a fertilidade estava profundamente ligada às crenças religiosas. Os egípcios adotavam amuletos e talismãs destinados a invocar a bênção dos deuses da fertilidade. Figuras divinas associadas à maternidade, como Ísis, eram reverenciadas, e rituais específicos eram realizados para garantir a fecundidade das mulheres. Amuletos em forma de deuses da fertilidade ou símbolos associados à concepção eram usados como uma expressão tangível da busca pela proteção divina sobre a fertilidade (Moura et al., 2009).

Na Grécia Antiga, as práticas em torno da fertilidade eram igualmente enraizadas nas crenças mitológicas. Rituais religiosos eram realizados em honra a deidades como Deméter, deusa da agricultura e da fertilidade. Templos eram frequentemente locais de peregrinação para casais que buscavam a bênção divina para conceber. Ofertas e sacrifícios eram feitos como gestos de devoção, na esperança de obter a benevolência dos deuses para a fertilidade e o sucesso na reprodução (Moura et al., 2009).

Esses métodos, embora possam parecer supersticiosos à luz da ciência moderna, refletem a profunda interconexão entre o sagrado e o profano na busca pela fertilidade. As práticas antigas não eram apenas tentativas práticas, mas também manifestações simbólicas de uma crença intrínseca na influência divina sobre a capacidade reprodutiva. Essa abordagem ilustra como as civilizações antigas reconheciam a fertilidade como um elemento central da existência humana, incorporando-a às suas práticas culturais e religiosas de maneiras que ecoam através dos séculos.

2.2 Evolução das Técnicas ao Longo do Tempo:

A trajetória da reprodução assistida testemunhou uma transformação revolucionária nas últimas décadas, marcada por avanços tecnológicos que redefiniram as possibilidades e os limites da concepção assistida. A progressão temporal das técnicas de reprodução assistida é uma narrativa de inovação contínua. Desde os experimentos iniciais até os métodos de alta tecnologia contemporâneos, a fertilização in vitro (FIV) representa um marco crucial. A pesquisa de Moura, Souza e Scheffer (2009) delineia essa evolução, destacando a FIV como um divisor de águas.

A criopreservação de embriões surge como uma conquista notável nesse percurso. Desenvolvida nas últimas décadas, essa técnica revolucionou a abordagem à fertilidade. A capacidade de congelar e preservar embriões permite uma flexibilidade temporal significativa. Isso significa que casais que passam por tratamentos de fertilidade, como a FIV, podem escolher o momento mais propício para a implantação, alinhando-se não apenas com as condições físicas da mulher, mas também com fatores emocionais e financeiros. A criopreservação contribui para aumentar as taxas de sucesso, proporcionando uma abordagem mais personalizada e adaptável à jornada reprodutiva.

Simultaneamente, a genética emergiu como uma força motriz na reprodução assistida, desempenhando um papel essencial no aprimoramento das técnicas e na personalização dos tratamentos. O diagnóstico pré-implantacional (DPI) é um exemplo eloquente dessa revolução genética. Essa técnica permite a análise genética de embriões antes da implantação, possibilitando a identificação de possíveis anomalias cromossômicas. Com essa informação, os profissionais de saúde podem orientar os casais na seleção de embriões mais propensos a resultar em gestações bem-sucedidas. O DPI não apenas oferece uma visão abrangente da saúde genética dos embriões, mas também representa uma forma de prevenção de condições genéticas hereditárias, abrindo caminho para uma abordagem mais precisa e ética na reprodução assistida.

Assim, a criopreservação de embriões e o diagnóstico pré-implantacional emergem como testemunhos da vanguarda tecnológica na reprodução assistida. Essas técnicas não apenas ampliam as opções disponíveis para os casais que enfrentam desafios de fertilidade, mas também ilustram como a ciência e a genética se entrelaçam para moldar o presente e o futuro da concepção assistida. Esses avanços não só oferecem soluções práticas, mas também abrem diálogos éticos sobre as possibilidades e responsabilidades que essas inovações introduzem na complexa paisagem da reprodução assistida.

Estudos adicionais, como os de Abreu et al. (2006) e Passos e Pithan (2015), ampliam essa perspectiva. Abreu et al. (2006) destaca a importância de técnicas de reprodução assistida em mulheres acima de 30 anos, enquanto Passos e Pithan (2015) exploram a doação compartilhada de óvulos no contexto brasileiro, revelando nuances culturais e éticas.

2.3 Contribuições Significativas para o Campo:

Além dos avanços tecnológicos, a reprodução assistida tem sido enriquecida por contribuições psicológicas e éticas. Drosdzol e Skrzypulec (2009) exploram as dinâmicas matrimoniais e sexuais em casais inférteis poloneses, destacando a importância da dimensão psicossocial. Os casais que buscam assistência para a infertilidade frequentemente enfrentam uma carga emocional significativa, e compreender as complexidades da dinâmica conjugal torna-se fundamental. O estigma associado à infertilidade pode intensificar o impacto psicossocial, colocando à prova a estabilidade emocional e a comunicação entre os parceiros. O estudo revela que, em casais inférteis poloneses, as dimensões psicológicas e emocionais desempenham um papel crucial na experiência da infertilidade.

A infertilidade pode desencadear uma série de emoções, desde a frustração até a tristeza, e essas emoções podem ecoar na relação conjugal. A pressão percebida para conceber pode criar tensões, e os casais podem enfrentar desafios na comunicação e no apoio mútuo. A pesquisa destaca a importância de reconhecer e abordar essas dimensões psicológicas para fortalecer a resiliência do casal durante o processo de tratamento.

Além disso, o estudo de Drosdzol e Skrzypulec (2009) examina a esfera sexual, um componente integral da intimidade conjugal. A infertilidade pode afetar a saúde sexual e a satisfação, criando pressões adicionais sobre o casal. Questões de autoestima, ansiedade e expectativas podem influenciar a dinâmica sexual, e a conscientização desses aspectos é crucial para uma abordagem holística do tratamento da infertilidade.

Assim, o estudo destaca a necessidade de uma abordagem integrada na assistência à infertilidade, incorporando dimensões psicossociais nas práticas clínicas. Isso não apenas contribui para o bem-estar emocional dos casais, mas também otimiza o processo de tratamento, reconhecendo a interconexão entre a saúde mental, a dinâmica conjugal e a intimidade sexual. Em última análise, compreender e abordar as dimensões psicossociais é essencial para promover uma jornada de tratamento mais equilibrada e compassiva para os casais que buscam realizar o sonho da paternidade.

Serra e Castro (2012) concentram-se nas preocupações parentais de pais cujos filhos nasceram por fertilização in vitro, fornecendo uma visão psicossocial valiosa. Os autores pontuam que a chegada de um filho é um evento transformador na vida de qualquer casal, mas para aqueles que optam pela FIV, a jornada até a paternidade é marcada por complexidades adicionais. O estudo revela que os pais enfrentam preocupações particulares relacionadas à origem do nascimento de seus filhos, como a revelação da técnica de reprodução assistida, o entendimento da criança sobre sua concepção e a gestão de possíveis estigmas sociais.

A dimensão psicossocial dessas preocupações é significativa. A pesquisa destaca a importância de oferecer suporte emocional aos pais, reconhecendo a singularidade de sua experiência. A revelação do método de concepção para a criança, por exemplo, pode gerar ansiedades sobre sua aceitação pelos colegas e pela sociedade em geral. Além disso, a compreensão dos pais sobre como lidar com as curiosidades e questionamentos da criança sobre sua origem é vital para promover um ambiente familiar saudável.

A pesquisa também aborda a influência das expectativas sociais e da autoimagem dos pais, destacando a importância de estratégias de enfrentamento eficazes. A criação de redes de apoio, tanto entre os pais que compartilham experiências semelhantes quanto através de recursos profissionais, é um aspecto crucial para lidar com essas preocupações psicossociais.

Assim, o estudo de Serra e Castro (2012) proporciona uma visão valiosa sobre as preocupações parentais em famílias que optaram pela FIV. Ao compreender e abordar as dimensões psicossociais específicas dessa jornada, profissionais de saúde e especialistas em reprodução assistida podem oferecer suporte eficaz, promovendo não apenas o bem-estar emocional dos pais, mas também o desenvolvimento saudável das crianças concebidas por meio dessas tecnologias.

Contribuições bioéticas também moldaram o cenário da reprodução assistida. Passos e Pithan (2015) abordam questões éticas, especialmente relacionadas à doação compartilhada de óvulos, examinando o tema à luz do direito e da bioética. A doação compartilhada de óvulos apresenta desafios éticos significativos, situando-se na interseção entre os domínios do direito e da bioética. A prática levanta questões complexas sobre autonomia reprodutiva, consentimento informado e justiça distributiva. A análise jurídica desse contexto destaca a necessidade de uma estrutura regulatória robusta para garantir a proteção dos direitos das doadoras e receptoras. O consentimento informado, central nesse processo, requer uma abordagem cuidadosa para garantir que todas as partes envolvidas compreendam completamente os aspectos médicos, legais e éticos da doação. Do ponto de vista bioético, a equidade no acesso à tecnologia reprodutiva e a consideração dos impactos psicossociais são pontos fundamentais. A doação compartilhada de óvulos, ao oferecer novas perspectivas de fertilidade, exige uma abordagem ética abrangente que reconcilie as aspirações individuais com os princípios bioéticos e os marcos legais estabelecidos.

3 PRÁTICAS ATUAIS EM REPRODUÇÃO ASSISTIDA

3.1 Panorama atual das técnicas disponíveis:

A abordagem contemporânea da reprodução assistida reflete uma interseção complexa entre a história, a ética, o direito e os avanços tecnológicos. A fertilização in vitro (FIV), um marco explorado por Moura, Souza e Scheffer (2009), continua a ser uma técnica proeminente. Envolve a fertilização de óvulos fora do corpo, seguida pela transferência de embriões resultantes para o útero. A FIV tem evoluído com a introdução de subcategorias, como a ICSI (Injeção Intracitoplasmática de Espermatozoides), que otimiza a fertilização em casos de infertilidade masculina.

A doação compartilhada de óvulos, destacada por Passos e Pithan (2015), é uma prática que desempenha um papel significativo, particularmente no contexto brasileiro. Essa técnica envolve o uso de óvulos doados, frequentemente por mulheres mais jovens, para mulheres que enfrentam dificuldades reprodutivas. No entanto, sua implementação levanta questões éticas complexas, incluindo o consentimento informado das doadoras e receptoras, bem como questões relacionadas à equidade e justiça distributiva.

Avanços recentes também incluem técnicas de diagnóstico pré-implantacional, como destacado por Reis, Ângelo e Romão (2004). Essa abordagem permite a seleção genética antes da implantação, minimizando a transmissão de condições genéticas específicas. No entanto, esta prática não está isenta de controvérsias éticas, especialmente relacionadas à possibilidade de seleção de características desejadas.

Outras técnicas incluem a criopreservação de embriões, que, como indicado por Graner e Barros (2009), tem contribuído significativamente para aumentar as taxas de sucesso ao permitir a preservação da viabilidade dos embriões. Essa prática é particularmente relevante quando há embriões excedentes após um ciclo de FIV.

Em resumo, o panorama atual das técnicas de reprodução assistida reflete uma variedade de opções, cada uma com suas próprias considerações éticas e clínicas. A personalização dos tratamentos, alinhada com uma compreensão abrangente das implicações médicas e éticas, continua a ser crucial para orientar casais na busca por alcançar a parentalidade.

3.2 Avanços tecnológicos recentes:

Outra inovação relevante é a técnica de diagnóstico genético pré-implantacional (PGD), como abordado por Reis, Ângelo e Romão (2004). Esta técnica possibilita a análise genética de embriões antes da implantação, oferecendo aos casais a oportunidade de evitar a transmissão de condições genéticas específicas. No entanto, é importante considerar as implicações éticas associadas à seleção genética, incluindo preocupações sobre eugenia e questões relacionadas à autonomia reprodutiva.

A criopreservação de embriões é outro avanço tecnológico relevante, conforme mencionado por Graner e Barros (2009). Essa prática permite que os embriões sejam preservados para uso futuro, otimizando as taxas de sucesso ao possibilitar ciclos de tratamento adicionais sem a necessidade de estimulação ovariana repetida. A criopreservação também oferece a oportunidade de realizar transferências de embriões em momentos ideais, alinhados com a fisiologia uterina da paciente.

Além disso, a aplicação de técnicas como a doação compartilhada de óvulos, discutida por Passos e Pithan (2015), representa uma inovação significativa, promovendo a solidariedade reprodutiva. Essa prática envolve o compartilhamento de óvulos doados por mulheres mais jovens, proporcionando uma opção acessível para aquelas que enfrentam desafios reprodutivos.

Em síntese, os avanços tecnológicos recentes na reprodução assistida têm proporcionado opções mais eficazes, personalizadas e éticas para casais que buscam superar a infertilidade. A constante evolução dessas técnicas destaca a importância de uma abordagem informada e compassiva, equilibrando os benefícios clínicos com considerações éticas e psicossociais.

3.3 Desafios e controvérsias contemporâneos

No cenário contemporâneo da reprodução assistida, apesar dos avanços tecnológicos, surgem desafios e controvérsias que demandam uma abordagem ética e multidisciplinar. Um dos desafios evidentes é a complexidade ética associada à doação compartilhada de óvulos, conforme explorado por Passos e Pithan (2015). Questões relacionadas ao consentimento informado, equidade no acesso e proteção dos direitos de todas as partes envolvidas destacam-se como áreas de preocupação. A solidariedade reprodutiva, embora ofereça uma alternativa valiosa, requer uma gestão cuidadosa para garantir que os princípios éticos e legais sejam respeitados.

A seleção genética, possibilitada pelo diagnóstico genético pré-implantacional (PGD), como discutido por Reis, Ângelo e Romão (2004), é uma área de controvérsia ética. A capacidade de escolher características genéticas específicas pode levantar preocupações sobre eugenia, exigindo uma ponderação cuidadosa dos benefícios clínicos em relação às implicações éticas e sociais.

A questão das gestações múltiplas, associada a técnicas de reprodução assistida, destaca-se como um desafio clínico e ético. Graner e Barros (2009) abordam as complicações maternas e os eventos neonatais relacionados a gestações múltiplas, sublinhando a importância de equilibrar o desejo de sucesso reprodutivo com a segurança materno-fetal. A busca pela otimização das taxas de sucesso não deve comprometer o cuidado e a segurança dos envolvidos.

Além disso, as implicações psicossociais da reprodução assistida são temas relevantes, conforme evidenciado por Drosdzol e Skrzypulec (2009) e Cousineau e Domar (2007). A pressão emocional e o estresse enfrentados por casais ao longo do processo merecem atenção especial, indicando a necessidade de suporte psicológico integrado nos protocolos de tratamento.

Diante desses desafios e controvérsias, a busca por um equilíbrio entre avanços tecnológicos, ética e bem-estar do paciente torna-se imperativa. Uma abordagem cuidadosa que considere as implicações sociais, éticas e clínicas é fundamental para garantir uma prática de reprodução assistida que seja eficaz, ética e centrada no paciente.

4 ASPECTOS PSICOSSOCIAIS E ÉTICOS

A busca pela concretização do desejo parental através da reprodução assistida não apenas envolve procedimentos médicos, mas também desencadeia profundas dimensões psicossociais e éticas, conforme explorado em diversos estudos.

4.1 Impacto Psicológico nos Casais Submetidos à Reprodução Assistida

Os estudos de Drosdzol e Skrzypulec (2009) e Ferreira et al. (2014) discorrem sobre o impacto psicológico que a infertilidade e a busca por tratamentos podem ter nos casais. A jornada marcada pela incerteza, expectativas sociais e as complexidades do processo médico podem desencadear ansiedade e estresse. A pressão emocional, muitas vezes intensificada pela expectativa de parentalidade, pode afetar não apenas o bem-estar individual, mas também a dinâmica conjugal. A compreensão desses fatores é crucial para oferecer um suporte abrangente durante o tratamento, destacando a importância da atenção à saúde mental, informações transparentes e estratégias para enfrentar os desafios emocionais. Ao abordar esses impactos psicológicos, os profissionais de saúde podem promover não apenas o sucesso dos tratamentos, mas também o fortalecimento emocional e relacional dos casais envolvidos.

4.2 Considerações Éticas Relacionadas ao Consentimento Informado

Em estudos como os de Sampaio e Mancini (2007) e Silva (2008), a complexidade das decisões enfrentadas pelos casais é evidenciada, desde a escolha das técnicas até a gestão de embriões excedentes. O consentimento informado não se resume apenas à formalidade legal; é um processo pelo qual os casais recebem informações claras, compreensíveis e abrangentes sobre as opções disponíveis, riscos potenciais e implicações éticas. A garantia de que os indivíduos possuam autonomia na tomada de decisões é essencial, contribuindo não apenas para a integridade dos procedimentos, mas também para o respeito aos direitos e escolhas dos envolvidos. A ética do consentimento informado, assim, assegura uma prática transparente, centrada no paciente e alinhada aos princípios fundamentais de respeito à autonomia e dignidade.

4.3 Tendências Sociais e Culturais em Torno da Reprodução Assistida

As tendências sociais e culturais desempenham um papel crucial na reprodução assistida, moldando atitudes e abordagens, como abordado em estudos como os de Cordeiro e Gomes (2013) e Oliveira et al. (2015). A evolução dessas técnicas é fortemente influenciada pelos valores sociais, percepções culturais e expectativas em constante mutação. A crescente aceitação e compreensão da diversidade familiar, por exemplo, impactam a forma como a sociedade percebe e abraça as opções de tratamento disponíveis.

Além disso, a acessibilidade aos tratamentos e a aceitação social variam em diferentes contextos culturais, influenciando a prevalência e aceitação da reprodução assistida em diferentes regiões do mundo. O debate ético sobre questões como a doação de óvulos, gestação de substituição e manipulação genética reflete diretamente as normas culturais e os valores sociais vigentes.

Ao compreender e analisar as tendências sociais e culturais, os profissionais de saúde podem adaptar abordagens, políticas e práticas para garantir que os serviços de reprodução assistida se alinhem às necessidades e valores específicos de cada comunidade. Isso não apenas fortalece a aceitação e acessibilidade, mas também promove uma prática ética e culturalmente sensível.

5 CONCLUSÃO

Ao transitar pelas nuances da reprodução assistida, esta revisão integrativa proporcionou uma imersão profunda na complexidade desse campo dinâmico. As raízes históricas revelam não apenas a busca ancestral pela fertilidade, mas também o surgimento de rituais e métodos rudimentares em civilizações antigas, como a egípcia e a grega, indicando uma conexão intrínseca entre a reprodução e os contextos culturais e sociais.

A evolução tecnológica, conforme delineada pelos estudos de Moura, Souza e Scheffer (2009), desenha uma linha temporal desde os primórdios da fertilização in vitro até a sofisticada criopreservação de embriões e a influência genética no processo. A criopreservação, em particular, emerge como uma ferramenta essencial, expandindo as possibilidades reprodutivas e, ao mesmo tempo, apresentando considerações éticas sobre a gestão de embriões excedentes.

No cenário atual, o panorama das técnicas disponíveis, conforme explorado com base nas contribuições de diversos estudos, reflete não apenas a diversidade de opções, mas também os avanços tecnológicos recentes. A doação compartilhada de óvulos, analisada por Passos e Pithan (2015), desenha um contexto ético e legal complexo, sublinhando as fronteiras entre o social e o biológico.

As tendências sociais e culturais emergem como fios entrelaçados na narrativa da reprodução assistida. Cordeiro e Gomes (2013) ressaltam a importância das dinâmicas matrimoniais e sexuais na experiência polonesa, enquanto Oliveira et al. (2015) oferece um perfil epidemiológico das pacientes inférteis com endometriose, apontando para a interseção entre fatores biológicos e sociais.

O impacto psicológico, tema abordado em vários estudos, revela-se como uma peça central no quebra-cabeça da infertilidade. Desde a ansiedade e o estresse enfrentados por homens e mulheres em busca de tratamento (Gradvohl et al., 2013; Moreira et al., 2006) até as questões de disfunção sexual feminina (Ribeiro, Magalhães, 2013), a psicossociologia emerge como um terreno complexo, mas inextricavelmente entrelaçado com a jornada da reprodução assistida.

A ética, vista através do consentimento informado e da doação compartilhada de óvulos, ressalta não apenas a importância legal, mas a necessidade crítica de respeitar a autonomia e dignidade dos envolvidos. A pluralidade de abordagens éticas ao redor do mundo, como apresentado por Álvares (2015), revela o desafio de harmonizar práticas médicas com valores culturais diversos.

Por fim, a revisão integrativa transcendeu o mero levantamento de fatos e estudos. Proporcionou uma jornada intricada pelo campo da reprodução assistida, iluminando não apenas os marcos históricos e práticas atuais, mas também os desafios éticos, impactos psicossociais e tendências culturais. A síntese dessas descobertas não apenas enriquece nosso entendimento científico, mas lança luzes sobre caminhos promissores para a prática clínica e investigação futura, incentivando uma abordagem mais holística e sensível aos desafios que cercam a jornada da parentalidade.

REFERÊNCIAS

CORDEIRO, M.S., & GOMES, J.C. Ansiedade e relacionamento conjugal em mulheres com infertilidade: impacto da terapia de grupo. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental (9), 7-13, 2013.

DROSDZOL, A., & SKRZYPULEC, V. Evaluation of marital and sexual interactions of Polish infertile couples. The Journal of Sexual Medicine, 6(12), 3335-3346, 2009.

FERREIRA, L.A.P., SIMÕES JÚNIOR, L.R., GONÇALVES, L.C.S., MIYAZAKI, M.C.O.S., & PINTO, M.J.C. Estresse em casais inférteis. Reprodução & Climatério, 29(3), 88-92, 2014.

GRADVOHL, S.M.O., OSIS, M.J.D., & MAKUCH, M.Y. Stress of men and women seeking treatment for infertility. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, 35(6), 255-261, 2013.

MOREIRA, S.N.T., MELO, C.O.M., TOMAZ, G., & AZEVEDO, G.D. Estresse e ansiedade em mulheres inférteis. Rev Bras Ginecol Obstet., 28(6), 358-364, 2006.

MOURA, M.D., SOUZA, M.C.B., & SCHEFFER, B.B. Reprodução assistida: um pouco de história. Revista da SBPH, 12(2), 23-42, 2009.

OLIVEIRA, R., MUSICH, D.S., & FERREIRA, M.P.S.F. Perfil epidemiológico das pacientes inférteis com endometriose.

PASSOS, M.G., & PITHAN, L.H. A doação compartilhada de óvulos no Brasil sob enfoque do direito e da bioética. Revista da AMRIGS, 59(1), 55-59, 2015.

RIBEIRO, B., & MAGALHÃES, A.T. Disfunção sexual feminina em idade reprodutiva: prevalência e fatores associados, 2013.

SAMPAIO, R.F., & MANCINI, M.C. Estudos de revisão sistemática: um guia para síntese criteriosa da evidência científica. Rev. Bras. Fisioter. (São Carlos), 11(1), 83-89, 2007.

SERRA, A.M., & CASTRO, S.I.M.A. Preocupações parentais dos pais de crianças nascidas por fertilização in vitro. Análise Psicológica, 24(2), 149-154, 2012.

SILVA, S.M.R.D. Consentir incertezas: o consentimento informado e a (des) regulação das tecnologias de reprodução assistida. Cad. Saúde Pública, 2008.


1Graduando em Medicina pela Universidade Brasil – Fernandópolis/SP

2Graduanda em Medicina pela Universidade Brasil – Fernandópolis/SP

3Graduanda em Medicina pela Universidade Brasil – Fernandópolis/SP

4Graduanda em Medicina pela Universidade Brasil – Fernandópolis/SP

5Graduando em Medicina pela Universidade Brasil – Fernandópolis/SP

6Graduando em Medicina pela Universidade Brasil – Fernandópolis/SP

7Graduanda em Medicina pela Universidade Brasil – Fernandópolis/SP

8Graduanda em Medicina pela Universidade Brasil – Fernandópolis/SP

9Graduando em Medicina pela Universidade Brasil – Fernandópolis/SP

10Graduando em Medicina pela Universidade Brasil – Fernandópolis/SP