RELEVÂNCIA DA LEITURA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA ABORDAGEM SOBRE OBSTÁCULOS E POSSIBILIDADES

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202412141544


Ana Cláudia Neves Luz1;
Elle Waihte Rosa de Lima2;
Graziela Müller3;
Tony Leal Miranda Tenório4


RESUMO

Este estudo aborda os obstáculos e a importância da leitura na educação infantil, evidenciando as dificuldades enfrentadas pelos educadores ao trabalharem com essa prática nas salas de aula. Essas barreiras devem ser superadas devido ao papel essencial da leitura no desenvolvimento da imaginação e criatividade dos alunos, fundamentais para o processo de aprendizagem desde os primeiros anos escolares. A pesquisa busca responder à pergunta central: quais são os principais desafios encontrados pelos professores ao ensinar leitura na educação infantil? Além disso, explora as potencialidades da leitura como um meio de estimular a imaginação e a criatividade como fontes de aprendizado. Com o objetivo de refletir sobre a importância do hábito de leitura e o papel do professor nesse contexto, o trabalho adota uma abordagem qualitativa e exploratória, com uma metodologia baseada em pesquisa bibliográfica. Os resultados ressaltam a relevância da leitura desde a educação infantil e seu impacto no desenvolvimento do conhecimento dos alunos.

PALAVRAS-CHAVE: Leitura. Educação Infantil. Relevância da leitura. Desafios da leitura. 

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho explora os desafios relacionados à leitura na Educação Infantil, destacando a imaginação e a criatividade como elementos centrais para o aprendizado. O tema permite compreender a importância de reconhecer a leitura como um instrumento essencial para formar indivíduos capazes de pensar de forma crítica e agir com autonomia na sociedade. Assim, a prática da leitura contribui para o desenvolvimento das capacidades cognitivas e de habilidades fundamentais, como a comunicação oral e escrita, a fluência, a ampliação do vocabulário, o raciocínio lógico e a ativação de conhecimentos prévios — competências que precisam ser estimuladas desde os primeiros anos escolares.

A motivação para investigar a leitura na Educação Infantil nasceu das experiências vividas no exercício da docência, especialmente das dificuldades enfrentadas para despertar o interesse das crianças pela leitura e, consequentemente, aprimorar suas habilidades de leitura e escrita. Como professora atuante há seis anos em turmas multisseriadas de uma comunidade rural no município de Caturama-BA, tenho lidado frequentemente com esses desafios. Acredito que, quando a leitura é introduzida na rotina das crianças ainda na Educação Infantil, tanto pela escola quanto pela família, cria-se um vínculo mais forte que pode transformar a prática em um hábito natural e prazeroso.

Neste estudo, o foco foi compreender a relevância de práticas pedagógicas que promovam a leitura de forma eficaz, com atenção à necessidade de fornecer apoio aos professores no uso de estratégias diversificadas para incentivar a leitura. Dessa forma, busca-se criar condições que permitam aos alunos desenvolverem suas competências literárias e ampliarem sua percepção do mundo. Para embasar a discussão, foram utilizados os aportes teóricos de autores como Zilberman (2003, 2007), BRÄKLING (2004) e LIBÂNEO (2000), entre outros, que trouxeram contribuições valiosas ao tema. Sob essa perspectiva, a leitura é vista como uma habilidade indispensável, pois promove o desenvolvimento de novas competências e estimula a criatividade, o senso crítico e a reflexão. Por isso, é fundamental que os professores, enquanto mediadores da formação de futuros leitores, estejam dispostos a adotar novas abordagens e abandonar métodos tradicionalistas que já não atendem às demandas atuais.

O artigo destaca a relevância de apresentar a leitura como uma atividade lúdica e prazerosa. Livros oferecem inúmeras possibilidades e podem transformar a prática de ler em uma experiência envolvente e enriquecedora, capaz de abrir portas para mundos novos. Dessa forma, é crucial que as escolas reconheçam a importância da leitura, incentivando seu desenvolvimento desde a Educação Infantil e garantindo sua continuidade ao longo da trajetória escolar. Essa prática deve ser livre de cobranças que possam desmotivar os alunos, permitindo-lhes experimentar a leitura de maneira espontânea.

Trabalhar com a leitura no ambiente escolar tem sido uma tarefa desafiadora, pois muitos alunos demonstram resistência às atividades propostas para o desenvolvimento dessa habilidade. Essa dificuldade pode estar relacionada à falta de estímulo tanto da família quanto da escola para integrar a leitura à rotina das crianças desde a primeira infância. Isso reflete, muitas vezes, a ausência de ações sistemáticas por parte dos professores para fomentar o gosto pela leitura na Educação Infantil. A partir disso, o artigo levanta a seguinte questão: quais são os principais desafios enfrentados pelos professores na promoção da leitura na Educação Infantil?

O objetivo geral deste estudo é analisar os desafios envolvidos no trabalho com a leitura na Educação Infantil. Além disso, busca-se refletir sobre a importância de criar hábitos de leitura desde cedo, investigar o uso de atividades lúdicas como ferramenta de incentivo e compreender o papel do professor como promotor do interesse pela leitura.

Para alcançar tais objetivos, utilizou-se uma abordagem qualitativa, conforme definida por Minayo (2014), que considera aspectos da realidade que não podem ser mensurados. A pesquisa qualitativa trabalha com significados, valores, crenças e atitudes. Trata-se, também, de um estudo exploratório, segundo Gil (2002), cujo propósito é permitir maior familiaridade com o problema e, eventualmente, propor hipóteses futuras. Os procedimentos metodológicos incluíram pesquisa bibliográfica baseada na análise de artigos, livros e teses, bem como a revisão de estudos de teóricos relevantes à temática.

O trabalho apresenta, em um segundo momento, uma análise aprofundada sobre a relevância do hábito de leitura na Educação Infantil e o papel do professor como figura central no incentivo à leitura. As discussões culminam em uma seção final que reúne as principais conclusões obtidas a partir das reflexões realizadas durante o estudo.

2 LEITURA NA EDUCAÇÃO INFANTIL 

2.1 Fundamentos teóricos

A prática da leitura deve ser incentivada desde os primeiros anos de vida, pois a formação de um leitor precisa estar relacionada a experiências cotidianas e prazerosas. Desde a infância, é essencial que a leitura se torne uma parte integrante da vida da criança, não apenas como uma atividade escolar, mas como um hábito que perdure ao longo da vida adulta. Esse processo contínuo possibilita que o indivíduo desenvolva habilidades de leitura crítica, dinâmica, ativa e engajada. Para os PCNs:

As atividades de leitura espontânea e de contar aos colegas o livro lido são sugeridos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais: o professor deve permitir que também os alunos escolham suas leituras. Fora da escola, os leitores escolhem o que leem. É preciso trabalhar o componente livre de leitura caso contrário, ao sair da escola, os livros ficarão para trás. (PCNs, 1998; p. 17). 

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) ressaltam a relevância da leitura no cotidiano dos alunos, apontando que ela deve ser entendida como um processo ativo em que o leitor emprega estratégias de compreensão e interpretação, considerando seus objetivos, conhecimentos prévios sobre o tema, informações sobre o autor e sua bagagem linguística. (PCNs, 1998, p.69-70). Sob essa ótica, o documento enfatiza que o leitor ideal é aquele que busca a leitura de forma espontânea, motivado pelo desejo de ler, capaz de transformar essa prática em uma experiência significativa e enriquecedora. Esse leitor desenvolve e adapta estratégias de leitura de acordo com suas necessidades e contextos. 

A BNCC destaca a leitura como elemento central das práticas pedagógicas na Educação Infantil. Essa abordagem transcende a simples valorização da leitura como etapa do processo de alfabetização, posicionando-a como uma ferramenta essencial para a construção de significados, a interpretação da realidade e o enriquecimento cultural das crianças. A proposta curricular enfatiza a necessidade de se cultivar o hábito da leitura desde cedo, tratando-a não apenas como uma habilidade técnica, mas como uma estratégia indispensável para o desenvolvimento integral da criança.

Nesse sentido, a BNCC promove a inclusão de diversos gêneros textuais, ressaltando sua relevância no processo de aprendizagem e produção de leitura. Além disso, a interação social nas atividades de leitura é amplamente estimulada, reforçando a ideia de que a formação literária deve ser plural, significativa e conectada ao universo das crianças.

Cagliari (2001) argumenta que é crucial que os professores abandonem métodos tradicionais, como roteiros de interpretação sem bases pedagógicas sólidas, para incentivar práticas que deem voz ativa aos alunos no ato da leitura. Ele recomenda atividades voltadas para o discurso, nas quais os estudantes participem ativamente da construção dos significados textuais. Para alcançar isso, é fundamental que os educadores estejam abertos a novas metodologias que priorizem a criatividade e a participação dos alunos, criando espaços que tornem a interpretação dos textos instigante e dinâmica.

Desde a Educação Infantil, é possível e necessário fomentar essas práticas, dado que é nesse estágio que as habilidades comunicativas começam a se consolidar. Nesse contexto, a convivência com a leitura e a escrita é determinante para que as crianças compreendam a relação entre as letras e os sons das palavras. Bakhtin (2010) sustenta que o aprendizado ocorre em situações discursivas, e, por isso, os professores devem empregar atividades que facilitem a compreensão e estimulem os alunos a interagir com diferentes linguagens.

Esse processo promove a percepção de linguagens híbridas, integrando elementos verbais e não verbais, e consolida a leitura como prática dialógica no ato comunicativo. Assim, o estudo da aquisição da linguagem e suas interações com a leitura ganha relevância, destacando-se como tema central da Teoria Linguística e da cognição humana.

Portanto, a formação de leitores críticos na Educação Infantil deve ser conduzida respeitando os princípios da alfabetização e alinhada a metodologias participativas, como a pesquisa-ação. Segundo Thiollent (2002, p. 75 apud VAZQUEZ e TONUZ, 2006, p. 2), “com a orientação metodológica da pesquisa-ação, os pesquisadores em educação estariam em condição de produzir informações e conhecimentos de uso mais efetivo, inclusive ao nível pedagógico”, o que promoveria condições para ações e transformações de situações dentro da própria escola.

Formar leitores autônomos também significa formar lei tores capazes de aprender a partir de textos. Para isso, quem lê deve ser capaz de interrogar-se sobre sua própria compreensão, estabelecer relações entre o que lê e o que faz parte do acervo pessoal, questionar seu conhecimento e modifica-lo, estabelecer generalização que permitam transferir o que foi aprendi do para outros contextos diferentes […] (SOLÉ, 1998, p. 72).

Esse método permite que os educadores desenvolvam práticas reflexivas e criativas, promovendo uma aprendizagem significativa e voltada para a construção do pensamento crítico desde as primeiras etapas da vida escolar. 

Desde os primeiros anos da Educação Infantil, as práticas de leitura apresentam inúmeras possibilidades no processo comunicativo, já que a comunicação é algo intrínseco ao indivíduo e ao ambiente em que ele vive. Nesse contexto, é essencial reconhecer que esse processo está permeado por diversas questões que demandam atenção tanto da família quanto da escola. Ambos os agentes têm papel importante na busca por soluções para esses desafios. Assim, é fundamental que as escolas avaliem e reflitam sobre os métodos utilizados para introduzir a leitura no processo de alfabetização das crianças nessa fase inicial da educação. 

É necessário destacar que, assim como não existem formas de falar que possam ser consideradas “certas” ou “erradas”, as leituras também não devem ser classificadas como “melhores” ou “piores”. O que existe é uma riqueza de variações que se manifesta também nas práticas de leitura. Essa diversidade deve ser explorada de acordo com a visão de cada educador, comunidade ou indivíduo, sempre respeitando a compreensão e o desenvolvimento das crianças. De acordo com AGUIAR (2002):

Leitura é, basicamente, o ato de perceber e atribuir significados através de uma conjunção de fatores pessoais com o momento e o lugar, com as circunstâncias. Ler é interpretar uma percepção sob as influências de um determinado contexto. Esse processo leva o indivíduo a uma compreensão particular da realidade. (AGUIAR, 2002, p. 22)

Portanto, ler e interpretar são ações que fazem parte de um processo amplo e integrado. Esse processo deve ser encarado como uma forma de compreender o mundo a partir de características e particularidades específicas, orientadas pela interação com o outro por meio das palavras, que são sempre utilizadas em um contexto específico. 

No contexto da promoção da leitura já na educação infantil, com o objetivo de formar leitores críticos, é imprescindível planejar cuidadosamente as atividades realizadas em sala de aula, considerando o desenvolvimento dos alunos e o processo de ensino e aprendizagem como um todo. Essa atenção dedicada à leitura também abrange a escrita, especialmente durante a alfabetização. Conforme Zilberman (2003), a leitura deve estar presente continuamente na vida das pessoas desde as séries iniciais, promovendo reflexões, mesmo quando se trata de obras classificadas como “entretenimento”, “subliteratura” ou “literatura de massas”. Dessa forma, incorporar a leitura como prática pedagógica é essencial para que os alunos possam dialogar com seus colegas e alcançar uma compreensão compartilhada.

Assim, a leitura deve ser uma prática cotidiana na Educação Infantil, e o professor tem a responsabilidade de estimular essa atividade. Ele deve adotar estratégias e metodologias que atendam às necessidades dos alunos, inserindo-os no universo da leitura e, consequentemente, no da escrita. A linguagem e a oralidade adquiridas no convívio social refletem nossa interação com o meio e precisam ser valorizadas no processo de leitura, contribuindo para a formação de leitores críticos.

2.2 Literatura Infantil: Um Alicerce para o Hábito de Leitura na Primeira Infância

A prática da leitura na Educação Infantil é amplamente reconhecida como essencial por educadores, psicólogos e especialistas em desenvolvimento infantil. Isso porque a leitura desempenha um papel fundamental em diversas áreas do desenvolvimento das crianças, contribuindo de forma significativa para o crescimento intelectual, emocional e social. Introduzir a leitura desde os primeiros anos amplia as oportunidades de desenvolvimento cognitivo, já que proporciona contato com novas palavras e estruturas linguísticas, enriquecendo o vocabulário e aprimorando as habilidades de comunicação. Além disso, o hábito de ler regularmente nessa fase ajuda as crianças a desenvolver maior capacidade de concentração e disciplina para atividades que demandam atenção.

A prática da leitura na educação infantil é essencial, pois contribui para o desenvolvimento social das crianças, aprimorando suas competências interpessoais. Por meio dos livros, elas entram em contato com situações de interação social, aprendendo a se comunicar melhor e a lidar com problemas de forma construtiva. Além disso, a leitura desempenha um papel significativo no acesso à cultura e à diversidade, ao apresentar diferentes perspectivas, tradições e estilos de vida, o que favorece uma visão mais ampla do mundo e estimula o respeito às diferenças.

[…] sociedade leitora é condição essencial para promover o desenvolvimento social e humano sustentável; a inclusão social e cultural de milhares de brasileiros e a construção plena da cidadania; e que temos uma dívida histórica a ser superada; certamente concordamos que melhorar os índices de leitura no Brasil é urgente e deve ser tarefa para toda a sociedade e garantidas por políticas públicas construídas com a participação de todos (FAILLA, 2012, p. 51).  

No âmbito emocional, estimular a leitura na infância também traz benefícios importantes. Por meio de histórias com personagens e situações variadas, as crianças têm a chance de explorar diferentes emoções e perspectivas, promovendo a empatia. A narração de histórias, por exemplo, pode ajudá-las a compreender e lidar com sentimentos, além de oferecer exemplos de como enfrentar desafios e resolver conflitos. Assim, a leitura se torna uma ferramenta valiosa para o desenvolvimento integral na infância. Segundo os PCN de Língua Portuguesa do Ensino Fundamental,

A leitura, como prática social, é sempre um meio, nunca um fim. Ler é resposta a um objetivo, a uma necessidade pessoal. Fora da escola, não se lê só para aprender a ler, não se lê de uma única forma, não se decodifica palavra por palavra, não se responde a perguntas de verificação do entendimento preenchendo fichas exaustivas, não se faz desenho sobre o que mais gostou e raramente se lê em voz alta. Isso não significa que na escola não se possa eventualmente responder perguntas sobre a leitura, de vez em quando desenhar o que o texto lido sugere, ou ler em voz alta quando necessário. No entanto, uma prática constante de leitura não significa a repetição infindável dessas atividades escolares. (BRASIL: 1997, p. 41)

A exposição contínua a textos escritos desempenha um papel fundamental no aprimoramento da alfabetização e no desenvolvimento das habilidades de escrita. Segundo Ziberman, “dominar a leitura é o primeiro passo para absorver os valores da sociedade”. Para uma criança, aprender a ler simboliza um marco de independência, pois não dependerá mais de um adulto para compreender o mundo ao seu redor e poderá acessar livremente os bens culturais, transformando-os em ferramentas de aprendizado e expressão.

Além disso, o hábito de leitura compartilhada entre pais e filhos reforça os vínculos familiares, criando momentos de afeto e conexão. Quando os pais leem para seus filhos, atuam como exemplos de comportamento leitor, incentivando-os a incorporar essa prática ao longo da vida. Introduzir a leitura no cotidiano infantil é altamente benéfico, pois desperta o gosto pelos livros desde cedo e aumenta a probabilidade de que as crianças cultivem esse hábito na vida adulta. Esse contato com a leitura também estimula a curiosidade e o desejo de aprender, encorajando as crianças a explorar e compreender o mundo ao seu redor. Para Lopes e Navarro (2014, p.17), “o momento do conto precisa ser colocado como uma arte, a arte da linguagem, deve privilegiar a emoção, os sentimentos e, assim, proporcionar prazer”.

O uso da literatura infantil como forma de inserir as crianças no universo da leitura desde a Educação Infantil é crucial para a formação de leitores proficientes. Tal abordagem deve ser amplamente debatida e promovida entre os professores, considerando seu papel como facilitadores no processo de formação leitora. Bakhtin (2010) ressalta que as interações humanas ocorrem por meio do discurso, recriando práticas discursivas. Nesse sentido, trabalhar com a literatura infantil exige dedicação e seriedade, dado seu potencial formativo e sua contribuição para o desenvolvimento das competências de escrita. Gêneros literários como fábulas, romances, canções e novelas são carregados de interação e representam um valioso recurso educativo.

Segundo Mallmann (2011, p.14), “a literatura infantil é um recurso fundamental e significativo, para a formação do sujeito, de um leitor crítico e ainda pode desenvolver os valores morais”. Os livros infantis frequentemente apresentam mundos imaginários, personagens fantásticos e situações inusitadas que estimulam a imaginação e a criatividade das crianças. A introdução da literatura infantil nas primeiras etapas da educação escolar é fundamental para o desenvolvimento da imaginação e da criatividade das crianças. Isso ocorre porque os livros e as narrativas proporcionam um espaço onde elas podem explorar cenários, personagens e situações que vão além do seu contexto imediato, estimulando a capacidade de sonhar e criar.

Por isso, é fundamental ressaltar o papel da literatura infantil como uma ferramenta essencial para introduzir as crianças no universo da leitura. Nessa perspectiva, a literatura infantil “reflete a realidade do leitor, inclusive suas dimensões mais pessoais, utilizando uma simbologia que, embora requeira uma interpretação mais profunda para análise, é captada pela sensibilidade natural da criança” (ZILBERMAN, 2007, p. 19). Quanto à introdução da literatura no cotidiano das crianças, Coelho (2002) salienta que ela deve ser direcionada, entre outras coisas, a objetivos como

Sua intenção de estimular a consciência crítica do leitor; levá-lo a desenvolver sua própria expressividade verbal ou sua criatividade latente; dinamizar sua capacidade de observação e reflexão em face do mundo que o rodeia; torná-lo consciente da complexa realidade em transformação que é a sociedade, em que ele deve atuar quando chegar a sua vez de participar ativamente do processo em curso. (COELHO, 2000, p.68)

Essas afirmações destacam que, ao introduzir a literatura infantil desde cedo na vida das crianças, é possível fomentar o gosto pela leitura ao longo de toda a sua existência. Quando as crianças têm contato com livros que capturam seu interesse e curiosidade, elas tendem a formar uma relação positiva com a leitura, o que terá reflexos em sua vida adulta. Esse hábito de ler, especialmente quando cultivado de forma independente, é um dos fatores determinantes para o sucesso escolar e para a busca contínua por conhecimento.

Portanto, observa-se que a função da literatura infantil na formação do leitor vai além da simples aprendizagem de leitura e escrita, pois ela também desempenha um papel crucial na transmissão de valores culturais e na construção da identidade pessoal. Nesse sentido, é essencial reconhecer que, com o apoio do ambiente cultural e a dedicação dos educadores, as crianças, desde os primeiros anos de vida, podem entender a importância da leitura e compreender que a literatura envolve uma estrutura de interpretação contínua de textos, que, quando bem realizada, resulta em uma codificação eficaz do conteúdo (SCANTAMBURLO, 2012).

Assim, a literatura infantil sempre será fundamental tanto para a formação do leitor quanto para o desenvolvimento global das crianças, já que, por meio das histórias, elas não só aprendem sobre o mundo ao seu redor, mas também adquirem ferramentas para desenvolver habilidades e valores que serão essenciais ao longo de toda a sua vida. Por isso, é crucial que pais, educadores e toda a sociedade reconheçam a importância de promover o acesso à literatura infantil de qualidade desde os primeiros anos escolares.

2.3 Educação e Leitura: Como a Escola Contribui para a Formação do Leitor

Em meio às diversas transformações observadas no cenário educacional, é fundamental que as escolas promovam atividades eficazes desde a educação infantil, com o professor assumindo o papel central de articulador e mediador no processo de ensino-aprendizagem. Dessa forma, torna-se essencial que o docente esteja constantemente atento às possibilidades de aprimorar sua formação, pois um professor bem preparado é capaz de escolher o método mais adequado às necessidades de seus alunos, sem depender de abordagens prontas.

Quando se propõe a introdução de leitura e escrita na educação infantil, independentemente do método escolhido, é crucial que as crianças compreendam esses processos como interativos e inseridos no contexto de sua vivência cotidiana. Portanto, o professor deve criar situações no ambiente escolar que permitam à criança realizar sua própria leitura, mesmo que de forma não convencional, incentivando o desenvolvimento de um pensamento crítico e individualizado (BARROS, 2013).

Com essa perspectiva, o educador poderá gerar oportunidades que promovam mudanças significativas no processo de aprendizagem da leitura e da promoção de hábitos de leitura na Educação Infantil. Apesar das dificuldades enfrentadas pelas crianças, tanto no ambiente familiar quanto escolar, é importante reconhecer que a escola desempenha um papel essencial na formação do leitor, sendo necessário que todos os envolvidos no processo educacional se conscientizem de suas responsabilidades enquanto mediadores dessa formação.

Nesse sentido, a escola, como espaço de ampliação do conhecimento, deve ser capaz de expandir seus horizontes para que seus alunos tenham acesso aos bens culturais da humanidade, especialmente por meio da leitura. O professor, nesse processo, atua como um importante facilitador dessa formação (SILVA, 2012). Por isso, é crucial incentivar a leitura desde a educação infantil, contribuindo para a formação do conhecimento e preparando o estudante para sua inserção na sociedade.

É evidente que o trabalho com a leitura está intimamente ligado às ações dos profissionais da educação. O prazer e a magia proporcionados pela leitura, desde os primeiros anos, nem sempre são uma realidade para todos os alunos nas escolas brasileiras. Portanto, é fundamental que a escola, juntamente com os profissionais que atuam diretamente ou indiretamente com as crianças, reconheçam o impacto negativo de privar os alunos de momentos de leitura, mesmo que eles ainda não compreendam completamente o que está sendo lido. A escola tem a responsabilidade de estruturar e adaptar seu currículo para incluir estratégias eficazes de leitura, visando à formação de leitores críticos e qualificados, além de promover a conscientização sobre questões sociais que a escola, por vezes, não pode abordar diretamente (KRUG, 2015).

Dessa maneira, inicia-se o processo de leitura desde a Educação Infantil, ampliando a capacidade de leitura e o envolvimento das crianças com o universo da imaginação e da informação, mesmo que por meio de imagens gráficas e linguagem não verbal. Isso reforça a importância de inserir a leitura na vida das crianças desde cedo. As escolas devem assumir seu papel e elaborar políticas de formação de leitores em seus planejamentos pedagógicos.

Quando a leitura é introduzida ainda na Educação Infantil, as crianças se mostram mais preparadas e motivadas a explorar não apenas textos, mas também o ambiente ao seu redor, enriquecendo suas interações sociais e culturais. Como enfatiza Freire (1989), “a leitura de mundo precede a leitura da palavra”, ou seja, antes de aprenderem a ler e escrever, as crianças precisam desenvolver uma percepção sobre o mundo e o espaço onde vivem, o que lhes dá condições para iniciar o processo de alfabetização.

3 CONCLUSÃO

A leitura desempenha um papel fundamental na compreensão do mundo em que vivemos, sendo essencial para o desenvolvimento da visão crítica sobre a realidade. No entanto, para que essa compreensão aconteça, é preciso haver motivação e estímulos adequados. Cada pessoa traz consigo experiências e percepções sobre o que está ao seu redor, e é através delas que conseguimos construir o entendimento necessário para interpretar as palavras que lemos. De acordo com Cagliare, “a leitura é uma extensão da escola na vida das pessoas. A maior parte do aprendizado que se dá na vida ocorre fora da escola, por meio da leitura. A leitura é uma herança mais significativa do que qualquer diploma” (CAGLIARI, 2001, p.148).

Diante disso, é fundamental que a escola reconheça, desde a Educação Infantil, a importância de estabelecer objetivos claros durante o processo de leitura. Esses objetivos devem estar voltados para o aprendizado, a busca por informações e a análise de diferentes tipos de textos. Esses textos podem ser explorados por meio de metodologias que incentivem os alunos a escreverem ou, até mesmo, com a simples leitura por prazer. O papel do educador é identificar e promover propostas de leitura que despertem o interesse das crianças, tornando a Educação Infantil um ponto de partida para o desenvolvimento do leitor do futuro.

Na Educação Infantil, o incentivo à leitura pode ser integrado a atividades lúdicas, utilizando situações cotidianas de comunicação oral como ponto de partida para a formação de um leitor crítico. Nesse contexto, é essencial que as escolas adotem metodologias que atendam aos interesses das crianças e favoreçam a construção do conhecimento. A ludicidade e os diferentes recursos da comunicação devem ser explorados para tornar a leitura uma prática natural no cotidiano dos alunos.

Assim, independentemente do método adotado no processo de alfabetização e letramento, é importante que as crianças compreendam o significado da escrita e reconheçam sua função na comunicação. O trabalho dos educadores na Educação Infantil deve ser baseado em práticas de alfabetização que tornem a leitura mais acessível, leve e prazerosa, sem a pressão de uma leitura contínua e formal, mas com foco no desenvolvimento do letramento de maneira envolvente e contextualizada.

3. REFERÊNCIAS

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FAILLA, Z. (Org.) Retratos da leitura no Brasil 3. São Paulo: Instituto Pró livro/Imprensa oficial, 2012

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COELHO, Nelly Novaes. Literatura Infantil: teoria, análise e didática. São Paulo: Moderna. 2002.

FREIRE, Paulo. A importância de ler. In: ______. A importância de ler: em três artigos que se completam. 23. ed. São Paulo: Cortez, 1989. 

KRUG, FS A importância da leitura na formação do leitor. REI – Revista de Educação do IDEAU. v. 10, n. 22, julho – dezembro, 2015.

LIBÂNEO, J. C. Didática. São Paulo: Cortez, 1994. LIMA, C. N. do M. F. … 10-15, junho de.2000.

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MINAYO, Maria Cecília de Souza (org.). Pesquisa Social. Teoria, método e criatividade. 18 ed. Petrópolis: Vozes, 2001.

SCANTAMBURLO, S. C.. A literatura infantil como instrumento para o desenvolvimento do hábito da leitura nas séries iniciais do ensino fundamental. Monografia (Pós Graduação em Educação) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Medianeira, 2012. Acesso em 10 jun 2024

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