RELATÓRIO FINAL DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM NUTRIÇÃO CLÍNICA NO HOSPITAL DE URGÊNCIA DE SERGIPE

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10277361


Eder Magnus Almeida Alves Filho
Orientador: Prof. José Valter Costa
Coorientadoras:
Prof.ª Maria Carollyne
Prof.ª Thabata Moraes
Prof.ª Vitória Monteiro


1.   CASO CLÍNICO 

1.1 INTRODUÇÃO 

1.1.1  Lesões Ósseas  

Os acidentes de trânsito são um problema de saúde pública e social em todo o mundo. A cada ano, milhões de pessoas são afetadas por esses incidentes, resultando em mortes, lesões e sequelas permanentes. A gravidade desses acidentes pode ser ainda maior quando se trata de acidentes envolvendo motocicletas, que representam uma parcela significativa dos acidentes de trânsito (Rocha & Schor, 2013).

Acidentes de moto são particularmente preocupantes, pois, os motociclistas estão mais expostos a lesões graves devido à falta de proteção adequada. Em geral, os acidentes de moto estão associados a ferimentos ósseos. Esses acidentes podem resultar em fraturas e lesões significativas, afetando a qualidade de vida do indivíduo (Golias; Caetano; Vianna, 2013).

Após o acidente de moto, a intervenção imediata na emergência é essencial para prevenir complicações e evitar danos adicionais. A atuação de uma equipe multidisciplinar é fundamental nesse momento, e um profissional importante nessa equipe é o nutricionista. O papel do nutricionista é auxiliar no suporte nutricional adequado para o acidentado, garantindo uma recuperação mais rápida e eficiente (Morais; Oliveira; Soares, 2008).

Além disso, o nutricionista desempenha um papel crucial na melhoria das fraturas e na preparação pré-operatória (Santos et al., 2018). Uma dieta equilibrada, rica em nutrientes essenciais como cálcio, vitamina D e proteínas, pode contribuir para acelerar o processo de cicatrização óssea e fortalecer o sistema imunológico, preparando o paciente para o procedimento cirúrgico (Guarniero et al., 2003).

Após a intervenção cirúrgica, o planejamento alimentar adequado continua sendo essencial durante o período de recuperação. O nutricionista pode auxiliar no desenvolvimento de um plano alimentar personalizado, considerando as necessidades específicas do paciente, a fim de promover uma cicatrização eficaz e completa (Anders et al., 2000).

Em conclusão, os acidentes de trânsito, especialmente os envolvendo motocicletas, representam um desafio significativo para a saúde pública. A intervenção imediata e a atuação de uma equipe multidisciplinar são fundamentais para garantir a recuperação adequada do acidentado. Nesse contexto, o nutricionista desempenha um papel vital na equipe, proporcionando suporte nutricional adequado antes e depois da intervenção cirúrgica, contribuindo assim para a melhora da saúde óssea e a promoção de uma recuperação mais eficiente.

1.2 DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DO PACIENTE

1.2.1 Nome (iniciais) M.A.S

1.2.2 Idade 44 anos

1.2.3 Diagnóstico Clínico ou Suspeita/Hipótese Diagnóstica Fratura óssea em fêmur e tíbia

1.3 HISTÓRIA ATUAL DA ACIDENTADA

No dia 20 de agosto de 2023, uma paciente de 44 anos de idade deu entrada no Hospital de Urgência de Sergipe (HUSE) após um terrível acidente de trânsito envolvendo duas motos. Infelizmente, o acidente resultou em dois óbitos imediatos, deixando apenas a paciente gravemente ferida.

Assim que chegou ao hospital, a paciente foi imediatamente encaminhada para a sala de cirurgia devido à gravidade de seus ferimentos. A equipe médica realizou uma cirurgia de emergência para salvar a vida da paciente, tratando de suas lesões e estabilizando seu estado de saúde.

Após a primeira cirurgia, a paciente apresentou uma recuperação gradual, mostrando força e determinação em superar os obstáculos que surgiram em seu caminho. No entanto, devido à complexidade das fraturas em seu fêmur e tíbia, a paciente precisou passar por uma segunda cirurgia no dia 11 de setembro de 2023.

Durante o procedimento cirúrgico, os médicos realizaram uma intervenção precisa para reparar as fraturas, utilizando técnicas avançadas e materiais de alta qualidade. A paciente mostrou resiliência durante a recuperação pós-operatória, seguindo todas as orientações médicas.

É importante ressaltar que a paciente não possui histórico de patologias, o que contribuiu para uma recuperação mais eficiente e promissora. Com o apoio amoroso de sua família e a assistência dedicada de toda a equipe médica, a paciente está progredindo em sua jornada de recuperação e gradualmente reconstruindo sua vida após esse trágico acidente de trânsito.

1.3.1 Data de Internação

20/08/2023 (Acompanhamento nutricional iniciado por estagiário no dia 06/09/2023)

1.3.2 Motivo da Internação Acidente de trânsito

1.3.3 Queixas no momento da admissão Dor por multifraturas

1.3.4 Sintomas Dor difusa na região da fratura.

1.4 AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL COMPLETA

1.4.1 Avaliação Física

1.4.2 Avaliação Antropométrica

Quadro 2. Evolução das medidas antropométricas da paciente
Medidas06/09/2314/09/23
Semi envergadura85 cm
Altura do joelho (AJ)49 cm
Circunferência do braço (CB)23 cm22 cm
Circunferência da panturrilha (CP)29,2 cm27,5 cm
Fonte: Lohman et al., 1988.

1.4.2.3 Cálculo das Necessidades Nutricionais
Peso estimado (Chumlea et al., 1988)

  • Peso: (AJ x 1,01) + (CB x 2,81) – 60,04

Altura estimada (Chumlea; Roche; Steinbaugh, 1985)

  • Altura: 70,25 + (1,87 x AJ) – (0,06 x idade)

IMC (WHO, 1995)

  • IMC = Peso atual/Altura²

Peso ideal (WHO, 1985)

  • IMC ideal = IMC ideal x (altura)²

*Porcentagem de adequação de peso (Blackburn; Thornton, 1979)

  • Adequação do peso (%) = Peso atual x 100/Peso ideal

Porcentagem de mudança do peso (Blackburn et al., 1977)

  • Perda de peso (%) = (peso usual – peso atual) x 100/peso usual

Adequação da CB (Blackburn; Thornton, 1979)

*Percentil 50 (Frisancho, 1990)

  • Adequação da CB (%) = CB obtida/CB percentil 50* x 100

1.4.2.4 Cálculo Necessidades Energética

Fórmula de Bolso (Arends, et al, 2009)

  • VET = peso estimado x Kcal

(Ganho de peso / Cirurgia eletiva 30 a 35 kcal/kg/dia)

Harris Benedict (Goiânia, 2013)

  • TMB (mulher): 655,1 + 9,6 x peso (kg) + 1,9 x altura (cm) – 4,7 x idade (anos)
  • GET: TMB x FA x FI x FT
  • Fator atividade (FA): Acamado 1,2
  • Fator injúria (FI): Fraturas múltiplas 1,2 a 1,35
  • Fator térmico (FT): 38ºC 1,1

Média

  • (Fórmula de bolso + Harris Benedict/2)

Justificativa: Em relação à oferta de energia, a dieta será hipercalórica e hiperproteica, determinada através da média entre a Harris Benedict e a Fórmula de bolso. Essa fórmula calcula que o paciente que deseja ganhar peso deve consumir 30 a 35Kcal por Kg de peso. O Valor Energético Total (VET) obtido a partir deste cálculo é suficiente para manter o estado nutricional da paciente e prevenir a desnutrição.

1.4.3 Avaliação Dietética

A paciente não apresenta alergia alimentar, mas possui aversões específicas a suco de jenipapo e mingau. Não há dificuldade para se alimentar ou necessidade de mudança de consistência na dieta. A paciente relata sentir gosto estranho ou ausência de gosto nos alimentos. Além disso, utilizava suplementos em casa, como creatina e whey protein.

Aceitação da dieta ofertada:

Dados06/09/2313/09/2314/09/2318/09/23
Dieta (kcal)2.3562.3562.3562.356
NEE (Kcal)2.077,582.077,582.004,372.004,37
% ingestão37,566,6662,550
% cobertura42,5275,5973,4658,77
Os dados relativos à dieta da paciente encontram-se disponíveis no Anexo 1.

Foi utilizada a avaliação da ingestão oral (AIO), que é um método utilizado para observar o percentual de ingestão de alimentos e líquidos por parte do paciente. Essa avaliação é extremamente útil para monitorar a nutrição da paciente.

No caso específico da paciente em questão, foi constatada uma alteração na necessidade energética (NEE) devido a uma perda de peso detectada na avaliação antropométrica. Essa perda de peso foi identificada através da medida de circunferência do braço (CB), uma vez que essa medida é utilizada para calcular o peso estimado.

Nesse caso, a perda de 1 cm na circunferência do braço indica uma possível perda de massa muscular e/ou de tecido adiposo.

Através desta medida, foi possível estimar o peso corporal e, consequentemente, calcular a NEE da paciente. A NEE representa a quantidade de energia necessária para manter o funcionamento adequado do corpo.

1.4.4 Dados Hemodinâmicos

Quadro 3. Evolução dos dados hemodinâmicos
Data / Horário28/08/202311/09/202312/09/2023ClassificaçãoAutor
Pressão Arterial (PA)130/70 mmHg110/70 mmHg120/73 mmHgNormal(Sociedade Brasileira    de Cardiologia, 2023)
Frequência Respiratória (FR)17 rpm18 rpm16 rpm  Normal(Tubelo, 2023)
Frequência Cárdica (FC)90 bpmNormal(Tubelo, 2023)
Temperatura (T)36,2º C36,5º C36º CNormal(Ciência  e Tecnologia de 
Santa Catarina, 2020)
Saturação (SaO2)97%96%Normal(Pereira Júnior et al., 1998)

Fonte: Elaborado pelo autor (2023).

1.4.5 Farmacologia

Quadro 4. Síntese dos medicamentos utilizados, sua indicação, interação droga- nutriente e efeitos colaterais importantes para a nutrição
MedicamentosIndicaçãoInteraçãoTipo de interaçãoAutores
Dipirona 2mlDor e FebreSimPrejudica a absorção e a formação da forma coenzimática da vitamina B1(Araújo, 2018)
Bromoprida 2mlNáuseas e VômitosNão(Almeida; Genaro, 2019)
Omeprazol 40mgProtetor gástricoSimInibe a secreção gástrica dificultando
a absorção de vitamina B12, e Ferro
(Lopes et al., 2013)
Tramal 100mgDores moderadas      e fortesSimPrejudica a absorção de vitaminas B1, B6, C, K e ácido fólico. E a formação da forma coenzimática da vitamina B1(Araújo, 2018)
Profenid 100mgAnti- inflamatórioSimO  uso concomitante com alimentos pode retardar a absorção do medicamento, entretanto não foram observadas interações clinicamente significativas(Ferreira; Júnior; Baracho, 2022)
Clexane 40mgProfilaxia de trombose (anticoagulante)Não  –(Ferreira; Júnior; Baracho, 2022)
Glicose 25% (SOS)HipoglicemiaSimPode levar a retenção de sais e água e aumento da excreção de potássio com corticosteroides(Caetano, 2014)
Captopril 25mg (SOS)HipertensãoSimMaior excreção urinária de zinco(Fernandes, 2022)
Fonte: Elaborado pelo autor (2023).

1.4.6 Exames Laboratoriais

Hemoglobina (Diminuído): A hemoglobina é uma proteína responsável pelo transporte de oxigênio no sangue. Quando os valores estão baixos, pode indicar anemia, que pode ser causada por sangramentos internos (Pereira; Lopes, 2022), como o que ocorreu devido ao acidente.

Hematócrito (Diminuído): O hematócrito é a porcentagem de células vermelhas no sangue. Baixos níveis podem estar associados à perda de sangue (Pereira; Lopes, 2022), o que ocorreu no acidente.

CHCM (Diminuído): CHCM significa Concentração de Hemoglobina Corpuscular Média. Valores baixos podem indicar anemia ou uma alteração na síntese de hemoglobina (Pereira; Lopes, 2022). Isso pode estar relacionado a um possível sangramento causado pelo acidente.

Leucócitos (Aumentado): Os leucócitos são células do sistema imunológico e sua contagem alta pode ocorrer em resposta a um processo inflamatório (Pereira; Lopes, 2022), como uma lesão, como provocada pelo acidente.

Linfócitos (Diminuído): Os linfócitos também são células do sistema imunológico. Valores abaixo do normal podem ocorrer em situações de estresse, inflamação e infecções recentes (Pereira; Lopes, 2022), que tem relação ao acidente.

Eosinófilos (Diminuído): Os eosinófilos são um tipo de célula sanguínea envolvida na resposta alérgica e na defesa contra parasitas. Baixos níveis podem estar mais relacionados a um estresse agudo (Pereira; Lopes, 2022), como provocado pelo acidente.

Neutrófilos (Aumentado): Os neutrófilos são células de defesa do sistema imunológico e seu aumento pode ocorrer em resposta a infecções, lesões e inflamações (Pereira; Lopes, 2022), assim como ocasionado pelo acidente.

Monócitos (aumentado): Os monócitos também fazem parte do sistema imunológico e estão envolvidos na fase inicial da resposta inflamatória (Pereira; Lopes, 2022). Valores elevados indicam uma reação inflamatória em resposta ao acidente.

Plaquetas (Aumentado): A única alteração entre o primeiro e o segundo exame, que pode ser uma resposta do organismo para compensar a diminuição de outras células sanguíneas, como os glóbulos vermelhos (hemoglobina e hematócrito), que estão relacionados com a anemia. Quando há uma diminuição nos glóbulos vermelhos, a medula óssea pode produzir mais plaquetas para tentar equilibrar o sistema sanguíneo (Pereira; Lopes, 2022). Uma outra relação seria também a medicação anticoagulante Clexane 40mg (Araújo, 2018), que é usada para prevenir a formação de coágulos sanguíneos. No entanto, a mediação não tem efeito direto sobre as plaquetas, que são as células sanguíneas responsáveis pela coagulação do sangue. Em algumas situações em que haja uma redução das plaquetas devido a algum problema de saúde, esta medicação ajuda a prevenir a formação de coágulos que poderiam agravar ainda mais a condição.

1.5 DISTRIBUIÇÃO DOS MACRONUTRIENTES

1.5.1 Proteínas

  • Pacientes catabólicos 1,2 a 2g/kg (MIRTALLO et al., 2004)
  • (peso estimado x 2g)

1.5.2 Lipídeos

1.5.3 Carboidratos

Quadro resumido (Proteínas, Lipídeos e Carboidratos)

1.6 DIAGNÓSTICO NUTRICIONAL CONCLUSIVO (EBSERH, 2023)

  • IN – 1.2 (Ingestão inadequada de energia)
  • IN – 5.2 (Desnutrição)
  • IN – 5.7.1 (Ingestão inadequada de proteínas)

1.6.1 Diagnóstico Nutricional justificado

A paciente passou por um acidente de trânsito de moto recentemente, onde encontra-se em um estado de risco nutricional devido à perda de peso desde o dia de sua entrada no hospital. A causa dessa perda de peso vai além dos impactos físicos do acidente, que resultaram em cirurgia e dias internada.

Além de lidar com as lesões físicas decorrentes do acidente, a paciente também enfrentou o triste fato de perder uma amiga no mesmo incidente. Essa notícia devastadora tem afetado significativamente o estado emocional da paciente, resultando em uma certa depressão.

A falta de vontade de comer relatada pela paciente é um sintoma comum associado à depressão e ao estresse emocional. Durante momentos de intenso sofrimento, é comum que o apetite diminua e que a pessoa perca o interesse em se alimentar adequadamente.

No entanto, é crucial que a paciente receba atenção e suporte adequados para recuperar sua saúde nutricional, uma vez que, a perda de peso adicional pode agravar seu estado emocional e físico.

A equipe de saúde deve trabalhar em conjunto para proporcionar um acompanhamento nutricional personalizado, com o objetivo de garantir que a paciente receba os nutrientes necessários para sua recuperação. Isso pode incluir a elaboração de um plano alimentar adaptado às preferências e necessidades da paciente, incentivando a ingestão regular de refeições equilibradas e fornecendo orientações sobre alimentos ricos em nutrientes.

Além disso, a equipe de saúde deve estar atenta aos sinais de depressão e oferecer suporte emocional adequado. Isso pode incluir o encaminhamento para um profissional de saúde mental que possa ajudar a paciente a lidar com o luto, o estresse pós-traumático ou qualquer outro problema emocional que esteja afetando seu apetite e bem-estar geral.

É importante ressaltar que a recuperação física e emocional está intrinsecamente ligada à nutrição adequada. Portanto, é fundamental garantir que a paciente receba todo o suporte necessário para superar esse momento difícil, reforçando a importância da alimentação como parte integrante do processo de recuperação.

1.6.2 Objetivos nutricionais

  • Promover uma dieta apropriada a paciente restabelecendo o aporte proteico e energético;
  • Desenvolver um plano alimentar completo e personalizado para combater a desnutrição.

1.7 CONDUTA NUTRICIONAL COM JUSTIFICATIVA

Conduta: Prescrição de dieta livre, hipercalórica e hiperproteica.
Adicionada de suplemento a base de proteína.

Justificativa: O principal objetivo foi garantir uma alimentação adequada que contribuísse para a recuperação e reabilitação da lesão óssea da paciente.

Ao analisar a ingestão oral da paciente, observou-se que ela apresentava uma parcial aceitação da dieta ofertada, principalmente no que diz respeito à ceia. Dessa forma, é importante destacar que a avaliação da ingestão oral (AIO) é uma ferramenta essencial para avaliar a aderência e os possíveis obstáculos na dieta.

Um dos principais objetivos dessa abordagem foi atingir a necessidade diária de proteínas, visto que o hospital oferta 95g de proteína por dia. Entretanto, foi identificado que a paciente está apresentando um baixo consumo de proteínas, o que pode comprometer o processo de reabilitação da sua lesão óssea.

Nesse sentido, foi necessária a prescrição de uma dieta hipercalórica e hiperproteica, a fim de suprir as necessidades nutricionais da paciente adequadamente. A dieta hipercalórica visou fornecer um maior aporte calórico, garantindo que a paciente tenha energia suficiente para enfrentar o processo de cicatrização e recuperação.

Já a dieta hiperproteica teve como objetivo fornecer uma quantidade adequada de proteínas, especialmente neste caso em que a paciente precisa de uma quantidade maior de proteínas para auxiliar na reconstrução dos tecidos ósseos. As proteínas são fundamentais para estimular a síntese de colágeno e outras substâncias essenciais para a recuperação de lesões.

Além disso, a adição de um suplemento à base de proteínas pode ser uma alternativa viável para garantir o aporte necessário de proteínas diárias, especialmente nas refeições em que a paciente apresenta dificuldades em consumir a dieta prescrita.

Por fim, ressalta-se que a prescrição da dieta livre hipercalórica e hiperproteica, associada a um suplemento à base de proteína, foi baseada em uma análise aprofundada da situação da paciente, levando em consideração suas necessidades nutricionais específicas para a reabilitação da lesão óssea. A intenção foi oferecer uma alimentação completa e adequada, garantindo um melhor processo de cicatrização e recuperação.

1.7.1 Suplemento Ofertado

Figura 1. Informação Nutricional do suplemento Cubitan sabor morango

Fonte: Danone, 2023.

No período de 06/09/2023 a 18/09/2023, foram registrados os seguintes dados de ingestão de proteína: 35,62g, 63,32g, 59,37g e 47,5g, totalizando uma quantidade de 205,81g. Para calcular a média de ingestão diária, somaram-se esses valores e os dividiram por 4, chegando a um resultado de 51,45g.

Cálculo: 35,62g + 63,32g + 59,37g + 47,5g = 205,81g/4 = 51,45g

É importante ressaltar que durante esse período, a paciente teve duas necessidades energéticas diferentes, devido às mudanças de peso durante sua internação. Com base nisso, a necessidade proteica também foi considerada. Somaram-se as quantidades de proteína ingeridas e as dividiram por 2, obtendo uma necessidade de 105,35g.

Cálculo: 108,16g + 102,54g = 210,7g/2 = 105,35g

Com base nesses cálculos, prescreveu-se o suplemento Cubitan Morango Danone Nutricia 200ml, a ser consumido duas vezes ao dia, lanche da manhã e ceia. Essa prescrição visou oferecer uma alimentação completa e adequada, a fim de garantir um melhor processo de cicatrização e recuperação para a paciente.

1.8 EVOLUÇÃO NUTRICIONAL

Evolução – Primeira vez: 06/09/2023

M.A.S, sexo feminino, 44 anos, internada com diagnóstico de fratura em Fêmur e Tíbia (lado direito). No momento da visita encontrava-se colaborativa, interagindo bem com o avaliador, em decúbito dorsal no leito, Lote, BEG. Na avaliação dietética, nega alergias e intolerância alimentares.

Afirmava boa aceitação do cardápio (37,5%). Sem demais queixas. Em relação aos sintomas gastrointestinais, ritmo intestinal e urinário normal, negou náuseas, êmeses e demais sintomas gastrointestinais. Na avaliação antropométrica, peso estimado 54,08Kg, peso ideal 53,1Kg, altura 159cm, IMC 21,46Kg/m² (EUTROFIA), CB 23cm, adequação da CB 77,44% (DESNUTRIÇÃO MODERADA).

Diagnósticos de nutrição: Com risco nutricional. Objetivos: Recuperar o estado nutricional. NEE: 2.077,58Kcal, NP 108,16g (2g/kg/peso). Prescrevo dieta via oral, livre, hipercalórica e hiperproteica, fracionada em seis refeições dia.

Evolução de acompanhamento: 13/09/2023

No momento da visita, a paciente encontrava-se em decúbito dorsal, Lote, BEG, colaborando e interagindo bem com o avaliador, encontrava-se com diagnóstico de fratura em Fêmur e Tíbia (lado direito). Realizou-se acompanhamento nutricional, paciente afirmou uma boa aceitação do cardápio (66,66%), diurese: presente, dejeções: presente.

CD: Prescreveu-se suplemento alimentar hiperproteico (lanche da manhã, e ceia).

Evolução de acompanhamento: 14/09/2023

No momento da visita a paciente encontrava-se em decúbito dorsal, Lote, BEG, colaborando e interagindo bem com o avaliador, encontra-se com diagnóstico de fratura em Fêmur, e Tíbia lado direito. Realizou-se acompanhamento nutricional, paciente afirmou uma boa aceitação do cardápio (62,5%). Sem demais queixas. Em relação aos sintomas gastrointestinais, ritmo intestinal e urinário normal, nega náuseas, êmeses e demais sintomas gastrointestinais.

Na avaliação antropométrica, Peso estimado 51,27Kg, peso ideal 53,1Kg, altura 159cm, IMC 20,34Kg/m² (EUTROFIA), CB 22cm, adequação da CB 74,07% (DESNUTRIÇÃO MODERADA).

Diagnósticos de nutrição: Com risco nutricional. Objetivos: Recuperar o estado nutricional. NEE: 2.004,37Kcal, NP 102,54g (2g/kg/peso).

CD: Manteve-se conduta nutricional.

Evolução final: 18/09/2023

No momento da visita a paciente encontrava-se em decúbito dorsal, Lote, BEG, colaborando e interagindo bem com o avaliador, encontra-se com diagnóstico de fratura em Fêmur e Tíbia (lado direito). Realizou-se acompanhamento nutricional, paciente afirmou uma boa aceitação do cardápio (50%). Sem demais queixas. Em relação aos sintomas gastrointestinais, ritmo intestinal e urinário normal, nega náuseas, êmeses e demais sintomas gastrointestinais.

Diagnósticos de nutrição: Com risco nutricional.

CD: Realizou-se orientações nutricionais para alta hospitalar, entrego folheto. Paciente e familiares cientes.

Orientações Nutricionais para Alta Hospitalar

  1. Consuma alimentos ricos em proteínas: A proteína é essencial para a formação de tecido ósseo e reparação de lesões. Certifique-se de incluir proteínas magras em todas as refeições, como carnes magras, peixes, ovos, laticínios com baixo teor de gordura, leguminosas (feijões, lentilhas, grão-de-bico).
  2. Consuma alimentos ricos em cálcio: O cálcio desempenha um papel importante na manutenção da saúde óssea. Alimentos como leite e derivados, folhas verdes escuras (espinafre, couve), sementes de chia e sardinha são boas fontes desse mineral.
  3. Consuma alimentos ricos em vitamina D: A vitamina D é essencial para a absorção de cálcio no organismo. Alimentos fortificados com vitamina D, como leite, cereais, salmão, atum e ovos, são boas opções. A exposição solar moderada também ajuda o corpo a produzir vitamina D.
  4. Consuma alimentos ricos em vitamina C: A vitamina C é importante para a síntese de colágeno, uma proteína essencial para o tecido conjuntivo, incluindo os ossos. Frutas cítricas, como laranjas e limões, pimentões, morangos e kiwis, são ricos nessa vitamina.
  5. Consuma alimentos ricos em zinco: O zinco é importante para a cicatrização de feridas e regeneração óssea. Alimentos como carne, aves, peixes, nozes, sementes e leguminosas são fontes de zinco.
  6. Mantenha-se hidratado: A hidratação adequada é essencial para a saúde óssea e a cicatrização de feridas. Beba bastante água ao longo do dia e evite bebidas açucaradas e alcoólicas.
  7. Evite alimentos processados e ultraprocessados: Esses alimentos podem ser ricos em açúcares, gorduras trans e aditivos, que podem prejudicar a saúde óssea e a cicatrização de feridas. Opte por alimentos naturais e minimamente processados.

Material elaborado pelo acadêmico em Nutrição: Eder Magnus Almeida Alves Filho
Supervisionado por Thabata Moraes e Vitória Monteiro

1.9 PLANO ALIMENTAR

Para calcular o VET da paciente, utilizou-se a fórmula de bolso e o método de Harris-Benedict. Após calcular-se a NEE individualmente, tirou-se a média dos resultados, que resultou em uma quantidade de 2.000,94Kcal. Na fórmula utilizada, levou-se em consideração o peso ideal da paciente, devido à sua perda grave de peso. O peso ideal é determinado com base em fatores como altura, sexo e índice de massa corporal saudável. Com base nesses cálculos, estabeleceu-se um planejamento com o objetivo de alcançar um ganho de 1,83kg em 45 dias.

Ao utilizar o peso ideal na fórmula, é possível estabelecer uma meta específica de consumo de energia para a paciente, adequada ao seu objetivo de ganho de peso. Essa quantidade de energia será necessária para fornecer os nutrientes e calorias adequados para a recuperação e o aumento da massa corporal.

Ao montar o planejamento alimentar, percebeu-se que a dieta ficou com um valor de 89kcal a menos que o VET. Entretanto, é permitido uma diferença de até 10%, para mais ou para menos, durante o planejamento, o que seria equivalente a 200,09Kcal. Portanto, a dieta ainda está dentro da faixa permitida de variação. Já para determinar a quantidade de água que deve ser ingerida

diariamente, foi utilizada a fórmula de peso corporal multiplicado por 40ml.  Essa fórmula é considerada uma referência para calcular a quantidade recomendada de água. No entanto, a quantidade que a paciente deve ingerir de água foi calculado em cima do peso estimado, que ficou em 2 litros e 50ml/dia.

1.9.1 Avaliação quantitativa da dieta ofertada X necessidades nutricionais

  • Segundo (Carvalho et al., 2018), é permitido que a ingestão de gordura saturada seja inferior a 10% do valor energético total (VET) na alimentação.

Além disso, é ressaltado que o planejamento alimentar do paciente deve ser adaptado de forma individualizada, levando-se em consideração sua condição de saúde e preferências pessoais, a fim de aumentar a adesão ao plano alimentar. É importante destacar que, para o sucesso do tratamento, é necessário manter as mudanças na alimentação ao longo da vida, evitando dietas muito restritivas, embora elas possam ser utilizadas por um período limitado de tempo. Um planejamento alimentar mais flexível, considerando as preferências e estilo de vida do paciente, e que se concentre na reeducação alimentar, costuma ser mais eficaz a curto e longo prazo. Além disso, o contato frequente entre o nutricionista e o paciente pode contribuir significativamente para alcançar e manter a perda ou ganho de peso desejado.

** A ingestão adequada de água junto com fibras é importante para facilitar a eliminação de fezes ressecadas. A hidratação é essencial para manter a  saúde, participando de diversas funções no organismo. A recomendação diária de água é de no mínimo 30 mL/kg de massa corporal ou 1 mL/Kcal. A baixa ingestão de água com aumento do consumo de fibras pode causar problemas intestinais, como constipação e desconforto abdominal (Gomes; Insfran; Genaro, 2021). Aumentar a dose de água em 40mL/kg não trará malefícios à saúde com relação à proporção de fibras elevadas. Portanto, ao aumentar a dose de água, garante-se a hidratação necessária para evitar esses problemas e promover o bom funcionamento intestinal.

* (Amorim; Tirapegui, 2008), em um estudo realizado, ficou evidenciado que até 500mg de Magnésio é considerado uma quantidade suficiente, estando dentro dos limites permitidos e não apresentando riscos para a saúde.

** (Nascimento et al., 2017), evidenciou-se que o consumo mínimo de 3.500 mg de potássio é suficiente para atender as necessidades nutricionais. Portanto, ao aderir a uma dieta que ofereça essa quantidade, não há riscos à saúde relacionados à ingestão de potássio.

*** (Quadros; Oliveira, 2016), benefícios pleotrópicos atribuídos à vitamina D, a exposição à luz solar é considerada a melhor fonte natural de obtenção de vitamina D. Para adultos jovens, a exposição de braços e pernas, em um período de 5 a 30 minutos, pode ser equivalente a uma dose oral entre 10.000 e 25.000 UI de vitamina D. Já (Lichtenstein et al., 2013) ressalta que as necessidades de vitamina D são de 600 UI/dia para pessoas de 1-70 anos, e que fontes endógenas de vitamina D duram duas vezes mais tempo no organismo que as exógenas. Assim, fazendo com que seja um maior benefício pedir que a paciente fique exposta ao sol todos os dias uma média de 15 minutos.

2 CONCLUSÃO

Durante o estágio, foi possível vivenciar de forma prática e real todo o conhecimento teórico adquirido ao longo da formação acadêmica. Essa experiência foi fundamental para a assimilação dos conteúdos e para o desenvolvimento das habilidades e atitudes necessárias para a minha prática profissional.

Ao lidar com os pacientes e enfrentar os desafios dentro do ambiente clínico, percebeu-se a importância de estar preparado não apenas tecnicamente, mas também emocionalmente. A interação com os pacientes, suas histórias e suas demandas trouxe uma nova perspectiva sobre o papel do profissional da saúde.

Foi durante o estágio que se compreendeu a importância do trabalho em equipe e da colaboração com outros profissionais. A troca de conhecimentos, a observação de diferentes abordagens e a participação ativa nas discussões clínicas ajudaram a ampliar a visão e a adotar uma postura mais aberta e flexível diante dos desafios encontrados.

A experiência do estágio também ensinou a lidar com a pressão e a tomar decisões rápidas e assertivas. Aprendeu-se a gerenciar o tempo e a priorizar as demandas, sempre buscando oferecer um atendimento de qualidade e ético.

Além disso, a vivência clínica proporcionou o aprimoramento do relacionamento interpessoal e a compreensão da importância da empatia e da escuta ativa na relação com os pacientes e seus familiares. Foi possível desenvolver a habilidade de ser solícito e empático, compreendendo que cada indivíduo é único e merece atenção e cuidado individualizado.

Assim, pode-se afirmar com convicção que o estágio foi uma etapa fundamental no processo de formação profissional. Através da vivência prática, pôde-se assimilar de forma significativa o conhecimento teórico adquirido, e desenvolver habilidades e atitudes valiosas para a prática profissional. Expressa-se a gratidão por essa oportunidade e confiança acerca do preparo para enfrentar os desafios da futura carreira.

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4 ANEXO