RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE DESAFIOS E CUIDADOS A SAÚDE MENTAL DE PACIENTES PORTADORES DE HIV

REGISTRO DOI:10.69849/revistaft/ni10202504241233


Paula Cristina Sousa Teixeira1
Mônica Rodrigues da Silva2
Maraisa Paula Silveira Durães3


RESUMO

Introdução: A relação entre saúde mental e a recusa ao cuidado em pacientes portadores do HIV constitui um desafio significativo no contexto hospitalar, exigindo abordagens sensíveis e humanizadas. O impacto do sofrimento psíquico pode comprometer a adesão ao tratamento, tornando essencial a implementação de estratégias voltadas para o acolhimento e suporte emocional desses pacientes. Trata-se de um estudo descritivo do tipo relato de experiência, baseado na vivência em estágio supervisionado na área de infectologia de uma universidade federal do interior de Minas Gerais, entre maio e setembro de 2024. O caso analisado envolveu a observação da interação do paciente com a equipe de saúde e sua rede de apoio familiar, enfatizando os desafios enfrentados no cuidado hospitalar. Objetivo: Refletir sobre a experiência de assistência frente a um quadro clínico ocorrido na área de infectologia de uma universidade federal do interior de Minas Gerais, no qual um paciente portador do HIV demonstrava intenso desânimo e autonegligência, dificultando a adesão ao autocuidado. Discussão: A reflexão experiencial reforça a importância de estratégias que integrem a escuta sensível e o acolhimento na assistência hospitalar, reconhecendo que o sofrimento psíquico pode ser tão incapacitante quanto as manifestações físicas da doença. Intervenções interdisciplinares voltadas para a promoção da saúde mental são fundamentais para favorecer a adesão ao tratamento e melhorar a qualidade de vida desses pacientes. Considerações finais: A partir do vivenciado evidencia-se a relevância da assistência humanizada e da abordagem psicológica no cuidado a pacientes portadores do HIV. A implementação de práticas que priorizem o acolhimento emocional e a escuta ativa pode contribuir significativamente para a adesão ao tratamento e o bem-estar desses indivíduos, tornando-se um elemento essencial na assistência hospitalar.

Palavras-chave: Saúde Mental. HIV. Cuidados de Enfermagem.

1 INTRODUÇÃO

A relação entre saúde mental e adesão ao tratamento de pacientes portadores do HIV é um tema de crescente relevância no campo da infectologia e da assistência hospitalar. Estudos indicam que fatores psicológicos, como a depressão, a ansiedade e o preconceito internalizado, podem comprometer significativamente o autocuidado e a adesão às terapias antirretrovirais, impactando diretamente na evolução clínica dos pacientes (Santos; Santos; Souza, 2021). Nesse contexto, compreender as barreiras emocionais e sociais que interferem no tratamento é fundamental para o desenvolvimento de abordagens mais humanizadas e eficazes no manejo desses indivíduos.

A literatura aponta que a recusa ao cuidado em pacientes vivendo com HIV pode estar associada a múltiplos fatores, incluindo o estigma social, o isolamento emocional e a falta de suporte adequado por parte da equipe de saúde (Fonseca; Perez, 2023). A autonegligência, caracterizada pela dificuldade ou recusa em adotar práticas básicas de autocuidado, muitas vezes reflete um sofrimento psíquico profundo, o que demanda estratégias terapêuticas que integrem a escuta sensível e o acolhimento (Andrade et al., 2023). No ambiente hospitalar, esses desafios tornam-se ainda mais evidentes, exigindo da equipe multidisciplinar não apenas conhecimentos técnicos, mas também habilidades relacionais e empáticas que favoreçam a adesão ao tratamento.

A atuação da enfermagem no tratamento de pacientes com HIV é fundamental e abrange diversas áreas, desde a prevenção até o cuidado contínuo. Os enfermeiros desempenham um papel crucial na educação dos pacientes sobre a importância da adesão ao tratamento antirretroviral, bem como na monitorização dos efeitos colaterais e na gestão de comorbidades. Além disso, eles são responsáveis por realizar triagens regulares, oferecer suporte emocional e psicológico, e promover práticas de saúde seguras para evitar a transmissão do vírus. A abordagem holística da enfermagem, que considera as necessidades físicas, emocionais e sociais do paciente, é essencial para melhorar a qualidade de vida e os resultados do tratamento em pessoas vivendo com HIV.

Este estudo descritivo, baseado em uma experiência vivida durante estágio curricular supervisionado na área de infectologia de uma Universidade federal do interior de Minas Gerais, busca relatar um caso clínico que evidencia a complexidade da interação entre o paciente, a equipe de saúde e sua rede de apoio familiar.

O estágio curricular supervisionado do curso de graduação em enfermagem tem como finalidade primordial na complementação da formação do futuro enfermeiro proporcionar a vivência da prática profissional. Durante esse período, o aluno é orientado e supervisionado por enfermeiros preceptores que exercem atividades na área. Assim, este relato de experiência tem como objetivo descrever as observações e a atuação de uma estudante do curso de graduação em enfermagem durante o desenvolvimento do estágio curricular supervisionado em um ambiente hospitalar, especificamente no setor de infectologia.

2 METODOLOGIA

Trata-se de um estudo descritivo do tipo relato de experiência, referente ao Estágio Curricular Supervisionado (ECS) do curso de Graduação em Enfermagem, realizado entre maio e setembro de 2024, em uma Universidade federal do interior de Minas Gerais especificamente no setor de Infectologia. O relato tem como objetivo apresentar as atividades desenvolvidas durante o estágio, bem como refletir sobre as experiências adquiridas e sua relevância para a formação acadêmica e profissional da enfermagem.

3 DESENVOLVIMENTO

O estágio curricular supervisionado é uma atividade obrigatória destinada aos estudantes de graduação, que possibilita a aplicação dos conteúdos teóricos aprendidos em sala de aula em um contexto prático. O objetivo primordial desse estágio é proporcionar ao estudante uma experiência abrangente e concreta da sua futura profissão, em diversos cenários de assistência à saúde.

O estágio contabilizou uma carga horária total de quatrocentos e oitenta  horas distribuídas ao longo do semestre. As atividades desenvolvidas envolveram tanto ações assistenciais diretas ao paciente quanto tarefas administrativas e gerenciais. Dentre as principais atividades realizadas, destacam-se, acompanhamento da equipe de enfermagem, administração de medicamentos, realização de curativos, elaboração de escalas de trabalho, distribuição de tarefas, verificação e reposição do carro de emergência, evolução e prescrição de enfermagem, aplicação de escalas e instrumentos de avaliação, realização de anamneses e exames físicos e integração com a equipe multiprofissional.

Local de desenvolvimento da experiência

A universidade federal do interior de Minas Gerais é uma instituição de grande porte vinculada à rede pública de saúde, atualmente administrado pela EBSERH – Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares. O setor de infectologia é responsável pelo atendimento a pacientes com doenças infecciosas de diversas etiologias, incluindo infecções bacterianas, virais, fúngicas e parasitárias, além de atuar no acompanhamento de casos crônicos como HIV/AIDS e hepatites virais. A equipe multiprofissional do setor é composta por médicos infectologistas, enfermeiros, técnicos de enfermagem, farmacêuticos, fisioterapeutas, assistentes sociais e psicólogos, garantindo um atendimento integral e humanizado aos pacientes.

O setor conta com uma estrutura física organizada, composta por dezesseis leitos distribuídos em oito quartos, sendo cada quarto equipado com dois leitos. Desses quartos, cinco estão localizados no corredor direito e três no corredor esquerdo. Ao centro, encontra-se o posto de enfermagem. Todos os quartos possuem banheiro e dispenser de álcool em gel e cada corredor possui uma pia para  higienização das mãos. Além disso, cada quarto tem uma sacada com tela de proteção de nylon. É importante ressaltar que não há pressão negativa para isolamento respiratório; quando necessário, a porta do quarto deve ser mantida fechada e sinalizada adequadamente. Os quartos destinados ao isolamento são identificados com placas de sinalização apropriadas, que indicam os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) necessários, conforme as diretrizes padronizadas pelo Ministério da Saúde. Adicionalmente, o setor dispõe de dois expurgos, um em cada corredor. As instalações incluem ainda uma sala de guarda de materiais, sala dos médicos, sala de enfermagem, copa, espaço para descanso da equipe de enfermagem e rouparia. Para armazenamento adequado, existem três geladeiras: uma para medicamentos, outra para dietas e uma terceira destinada ao armazenamento de amostras biológicas.

Desafios e reflexões vivenciados

Durante experiência no setor de infectologia da universidade federal observou-se um cenário desafiador que me proporcionou valiosas reflexões sobre a importância do cuidado integral ao paciente. Um caso específico chamou a atenção da equipe médica: um paciente que manifestava recusa em ser atendido pelas estagiárias. Essa resistência não era meramente uma questão de preferência, mas refletia um estado profundo de desânimo e vulnerabilidade.

O paciente, visivelmente abatido, apresentava uma notável falta de autocuidado, negando-se a realizar atividades básicas como tomar banho, alimentar-se ou cuidar da própria saúde. Essa recusa parecia ser um reflexo de uma intensa luta interna, marcada por um preconceito que ele nutria em relação a si mesmo. A cada dia de internação, a qual muitas vezes se estendendo por meses, a sensação de desvalorização e resignação se tornava mais acentuada, evidenciando a necessidade de intervenções que transcendessem o tratamento físico.

A presença constante do pai do paciente ao longo desse processo era notável. Embora visivelmente preocupado e triste com a condição do filho, ele se mostrava um suporte emocional inabalável em meio ao turbilhão emocional que ambos enfrentavam. No entanto, essa relação também expunha a complexidade dos vínculos familiares, onde o amor e o medo do sofrimento se entrelaçavam. Enquanto nos esforçávamos para oferecer apoio e compreensão, tornava-se evidente que a batalha interna do paciente estava profundamente enraizada, complicando ainda mais o caminho para sua recuperação.

Essa experiência levou a reflexão sobre a importância de abordagens empáticas e sensíveis na promoção da saúde mental, especialmente em contextos hospitalares. O preconceito interno pode ser tão debilitante quanto as doenças físicas que os pacientes enfrentam. Reconhecer essa realidade é essencial para proporcionar um cuidado mais abrangente e humanizado, essencial para o processo de recuperação dos pacientes.

Assim, esta vivência reafirma a necessidade de integrar cuidados físicos e emocionais na prática clínica, promovendo um ambiente onde os pacientes se sintam valorizados e compreendidos em sua totalidade. A experiência demonstrou que o cuidado humanizado é fundamental na busca pela recuperação plena dos indivíduos internados.

Segundo Pereira et al., 2023, o número de indivíduos vivendo com HIV/AIDS tem aumentado, e esse crescimento é acompanhado por uma elevada prevalência de sinais e sintomas depressivos. O apoio social, familiar e profissional se configura como um fator protetor essencial para a qualidade de vida e saúde mental dos afetados. É fundamental manter o interesse dos pesquisadores em relação a essa temática, especialmente diante dos quase 170.000 casos de AIDS registrados no Brasil, conforme o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde em 2020. A luta contra a AIDS e os transtornos mentais associados, demanda novos esforços e políticas governamentais, além de resiliência, persistência e estímulo à comunidade acadêmica, bem como o engajamento da sociedade civil. Ademais, é crucial contar com o apoio e a participação ativa dos profissionais da saúde, visando à redução do sofrimento daqueles que convivem com o HIV/AIDS.

A relação entre a saúde mental e a adesão ao tratamento do HIV é um fator determinante para o prognóstico desses pacientes. De acordo com Gomes (2023), a depressão e a ansiedade são condições frequentemente associadas ao diagnóstico do HIV, o que pode resultar em resistência ao cuidado e abandono do tratamento. A falta de apoio psicológico e social pode intensificar esse quadro, levando à autonegligência e ao isolamento social, como observado no caso relatado. Dessa forma, estratégias que integrem o suporte emocional ao tratamento clínico são fundamentais para melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

Além dos aspectos emocionais, a autoimagem e o estigma internalizado desempenham um papel crucial na recusa ao cuidado. Para Santos et al. (2020), muitos pacientes soropositivos vivenciam sentimentos de vergonha e culpa, influenciados por estereótipos sociais negativos em relação à doença. Esse fenômeno, conhecido como “autossabotagem terapêutica”, compromete não apenas a adesão à medicação, mas também a busca por assistência médica e o envolvimento em práticas de autocuidado. Assim, os profissionais de saúde devem estar preparados para oferecer um atendimento que minimize essas barreiras, promovendo um acolhimento que fortaleça a autoestima dos pacientes.

Outro fator relevante é o impacto da estrutura familiar na aceitação do tratamento. Conforme apontado por Camargo, Capitão e Felipe (2024), o suporte familiar pode tanto favorecer quanto dificultar a adesão ao cuidado. No caso descrito, a presença constante do pai representava um amparo emocional significativo, mas também evidenciava desafios relacionados à dependência emocional do paciente. A dinâmica familiar, quando mal administrada, pode reforçar sentimento de impotência e resignação, dificultando a autonomia do indivíduo em relação ao seu próprio tratamento. Nesse sentido, intervenções que envolvam a família no processo terapêutico são essenciais para promover maior engajamento no cuidado.

A humanização no atendimento a pacientes com HIV também se configura como uma diretriz essencial na prática hospitalar. De acordo com a Política Nacional de Humanização do SUS (Silva, et al., 2023), o cuidado integral deve considerar não apenas as necessidades biológicas dos pacientes, mas também seus aspectos emocionais e sociais. Profissionais capacitados para atuar com empatia e sensibilidade podem contribuir significativamente para a redução da recusa ao tratamento e para a construção de um vínculo de confiança entre paciente e equipe de saúde. Dessa forma, o investimento em capacitação profissional e em práticas humanizadas deve ser uma prioridade para as instituições de saúde.

A experiência vivenciada no setor de infectologia reforça a importância de uma abordagem multidisciplinar no atendimento a pessoas vivendo com HIV. Psicólogos, assistentes sociais e enfermeiros desempenham um papel crucial na identificação e no manejo dos fatores psicossociais que influenciam a recusa ao cuidado. A adoção de estratégias como grupos de apoio, aconselhamento individualizado e terapias integrativas pode ser determinante para melhorar a adesão ao tratamento. Portanto, reconhecer a complexidade das vivências desses pacientes e implementar ações que vão além do tratamento medicamentoso são medidas indispensáveis para garantir um cuidado de qualidade e humanizado.

Aspectos positivos da experiência

O estágio possibilitou uma vivência prática enriquecedora, consolidando conhecimentos adquiridos ao longo da graduação e permitindo o desenvolvimento de habilidades técnicas e interpessoais. A supervisão adequada dos enfermeiros preceptores, a organização do setor e a abordagem multidisciplinar foram fatores essenciais para a experiência exitosa.

Além disso, a atuação no setor de Infectologia proporcionou um aprendizado valioso sobre o manejo de doenças infecciosas, a importância da biossegurança e a necessidade de um cuidado humanizado e individualizado para pacientes em condições de vulnerabilidade. A interação com profissionais experientes e a participação em atividades gerenciais contribuíram significativamente para a construção do perfil profissional do estagiário, preparando-o para os desafios da prática assistencial e do gerenciamento em enfermagem.

O estágio curricular supervisionado no setor de infectologia proporcionou um contato direto com pacientes portadores do HIV, permitindo uma compreensão mais ampla sobre os desafios enfrentados por essa população. A vivência possibilitou reflexões sobre a importância da assistência humanizada e da consideração dos aspectos psicológicos no tratamento desses pacientes, destacando a relevância da abordagem multiprofissional e do acolhimento no processo de cuidado. Dessa forma, a experiência contribuiu para o desenvolvimento de uma visão holística da enfermagem, reforçando a necessidade de práticas que integrem aspectos clínicos, emocionais e sociais no atendimento a pacientes em condições de vulnerabilidade.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

O Estágio Supervisionado configura-se como um mecanismo fundamental que promove a interação do estudante com sua futura profissão, permitindo a aplicação prática dos conhecimentos previamente adquiridos. A vivência prática é um componente essencial para garantir a qualidade do desempenho profissional, uma vez que proporciona ao indivíduo a experiência em diversas situações e o prepara para o mercado de trabalho (Laguna et al., 2023). É nesse contexto que se torna possível vivenciar o papel do enfermeiro, consolidando a prática profissional, atuando com segurança e fomentando a reflexão crítica, além de cultivar valores éticos e morais sob a orientação de enfermeiros da instituição e docentes supervisores (Fonseca; Perez, 2023).

A realização dessa atividade, especialmente nos setores previamente mencionados, revelou-se de suma importância para suprir as lacunas de aprendizado identificadas no ensino de infectologia no curso de graduação em enfermagem. Essa experiência favoreceu a integração com a equipe multidisciplinar, desenvolveu empatia em relação aos pacientes e promoveu a autonomia do enfermeiro na tomada de decisões voltadas à promoção, proteção e recuperação da saúde do paciente. Adicionalmente, possibilitou o aprimoramento de técnicas e contribuiu para o crescimento tanto pessoal quanto profissional. A construção de vínculos com os pacientes e seus acompanhantes fortaleceu a confiança mútua, transcendeu o âmbito profissional e favoreceu um enfrentamento mais eficaz da doença por parte do paciente. Isso se deve ao fato de que o estabelecimento de laços entre todos os envolvidos proporciona conforto e apoio, além do compartilhamento de conhecimentos sobre o tratamento que auxilia os pacientes nos cuidados básicos e na gestão dos efeitos adversos em domicílio (Andrade et al., 2023).

É pertinente ressaltar a relevância da equipe multiprofissional nos cuidados prestados, especialmente no setor de internação. Segundo Moura, Luna e Nascimento (2024), a presença da equipe multidisciplinar não apenas promove autonomia como também estimula o autocuidado dos pacientes. Ademais, busca-se a qualidade de vida ao respeitar o ambiente e as circunstâncias nas quais cada indivíduo está inserido. Os autores ainda afirmam que a atuação conjunta da equipe multiprofissional melhora a adesão dos pacientes ao tratamento. A discussão colaborativa de casos entre os membros da equipe exerce um impacto positivo na tomada de decisões e no planejamento das intervenções necessárias.

Algumas das atribuições do enfermeiro no manejo de DST’S incluem identificação de fatores de risco, notificar, supervisionar e executar intervenções voltadas ao tratamento e à educação de pacientes e familiares sobre medidas preventivas e terapêuticas relacionadas à saúde do paciente. Entretanto, uma questão que merece atenção em todos os setores visitados é a implementação incompleta do Processo de Enfermagem (PE). De acordo com a resolução COFEN n° 358/2009 em seu artigo 3°, o PE deve ser fundamentado em um suporte teórico para coleta de dados, definição de diagnósticos e planejamento das intervenções de enfermagem que também sirvam como base para avaliação dos resultados.

Conforme exposto por Moura, Luna e Nascimento (2024), a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) visa minimizar complicações e facilitar tanto a adaptação quanto a recuperação dos pacientes. O autor enfatiza que as etapas do processo permitem ações flexíveis e dinâmicas que são modificáveis conforme necessário e fundamentadas cientificamente. Além disso, essa abordagem propicia uma gestão organizada e qualitativa dos cuidados. Considerando que a assistência envolve dimensões físicas, sociais e psicológicas, podemos concluir que a ausência desse processo pode impactar diretamente na capacidade de planejar cuidados sistematizados e individualizados para assegurar uma assistência de qualidade ao paciente portador do vírus HIV. Uma possível solução para essa lacuna seria promover capacitações profissionais voltadas à implementação dessa rotina integralmente nas práticas diárias.

5 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Estágio Curricular Supervisionado no setor de Infectologia de uma universidade federal do interior de Minas Gerais se revelou essencial para a formação acadêmica e profissional na enfermagem. A vivência prática no ambiente hospitalar, aliada à aplicação dos conhecimentos teóricos, proporcionou um aprendizado profundo e transformador. A interação com a equipe multiprofissional e a imersão nas rotinas diárias do cuidado foram fundamentais para o desenvolvimento de habilidades técnicas e para a construção de uma visão crítica sobre a prática da enfermagem.

Além disso, essa experiência destacou a importância do estágio como um momento crucial para fortalecer não apenas as competências práticas, mas também para fomentar uma reflexão mais ampla sobre o papel do enfermeiro na saúde. O contato direto com os desafios enfrentados na área da infectologia permitiu uma compreensão mais rica das necessidades dos pacientes e do trabalho em equipe, além de revelar a relevância da Sistematização da Assistência em Enfermagem para garantir um cuidado integral.

Agradeço imensamente ao setor e à equipe que me acolheu, cuja dedicação foi imprescindível para o sucesso dessa etapa formativa. Este estágio não apenas ampliou meu conhecimento técnico, mas também despertou emoções e reflexões que confirmaram minha escolha pela profissão, preparando-me para os desafios futuros com confiança e comprometimento.

REFERÊNCIAS

ANDRADE, Jaynne Maria Vieira de et al. A importância da enfermagem no tratamento dos pacientes portadores de HIV+. Revista JRG de Estudos Acadêmicos, São Paulo, ano 6, v. VI, n. 13, p. 1–12, jul./dez. 2023. Disponível em: https://revistajrg.com/index.php/jrg/article/view/796/749. Acessado em: 14 jan. 2025.

Camargo, Luiza Azem; Capitão, Cláudio Garcia; Filipe, Elvira Maria Ventura. Saúde mental, suporte familiar e adesão ao tratamento: associações no contexto HIV/Aids. Psico-USF, Itatiba, v. 19, n. 2, p. 193–203, ago. 2014. Disponível em: https://www.scielo.br/j/pusf/a/4ksqWN8bcKNtCTYs8qvDPXx/. Acessado em: 20 dez. 2024.

Fonseca, Gabrielly Sousa; Perez, Iara Maria Pires. Adesão ao tratamento dos pacientes portadores de HIV/AIDS: cuidados da equipe de enfermagem. Revista Saúde dos Vales, v. 1, n. 1, 2023. Disponível em: https://revistasaudedosvales.com.br/index.php/rsv/article/view/225/217. Acessado em: 2 jan. 2025.

Gomes, Maxwell Lopes. A importância do acompanhamento psicológico em pacientes com vírus da imunodeficiência humana (HIV). Revista de Casos e Consultoria, v. 14, n. 1, e13131008, 2023. Disponível em: https://periodicos.ufm.br/casoseconsultoria/article/view/31008/16894. Acessado em: 19 jan. 2025.

LAGUNA, Gabriela Garcia de Carvalho et al. Atualizações acerca da saúde mental de pessoas que vivem com HIV: uma revisão integrativa. Revista Saúde em Redes, v. 9, n. 3, 2023. Disponível em: https://revista.redeunida.org.br/index.php/rede-unida/article/view/3929/1395. Acessado em: 06 jan. 2025.

Moura, Taysa Juliana Santos de; Nascimento, Carlos Henrique Queiroz do; Luna, Izabel Cristina de Oliveira. Assistência de enfermagem à pessoa vivendo com HIV: uma revisão narrativa. Revista JRG de Estudos Acadêmicos, Juiz de Fora, v. 7, n. 15, jul./dez. 2024. Disponível em: https://www.revistajrg.com/index.php/jrg/article/view/1651/1370. Acessado em: 06 fev. 2025.

PEREIRA, Arthur Custódio et al. Percepção de enfermeiros frente ao HIV/ AIDS: Uma revisão integrativa. Caderno ESP/CE, Fortaleza, v. 17, 2023. Disponível em: https://cadernos.esp.ce.gov.br/index.php/cadernos/article/view/841/406. Acessado em: 11 nov, 2024.

SANTOS, Ana Caroline Melo dos et al. A percepção do profissional de enfermagem no cuidado ao paciente portador de HIV: revisão integrativa. Extensão em Debate, Maceió: Universidade Federal de Alagoas – UFAL, v. 7, n. esp. 6, 2020. Disponível em: https://www.seer.ufal.br/index.php/extensaoemdebate/article/view/11521/8338. Acessado em: 03 out. 2024.

Santos, Kehetellen Ellen Barbosa dos; Santos, Tamíres Ribeiro; Souza, Camila Silva e. A atenção à pacientes com HIV/AIDS e os cuidados de enfermagem para promoção da qualidade de vida. Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação – REASE, São Paulo, v. 7, n. 9, set. 2021. Disponível em: https://periodicorease.pro.br/rease/article/view/2358/958. Acessado em: 10 dez. 2024.

SOUZA, Gizélia dos Santos et al. Acadêmicos de enfermagem e a representação do cuidado à pessoa vivendo com HIV/AIDS. Lumen et Virtus, São José dos Pinhais, v. XV, n. XXXIX, p. 1796–1806, 2024. Disponível em: https://periodicos.newsciencepubl.com/LEV/article/view/154/262. Acessado em: 06 jan, 2025.

SILVA, Eulália Santana da et al.A atuação da enfermagem na assistência aos pacientes portadores de HIV-AIDS: revisão de literatura. Brazilian Journal of Development, Curitiba, v. 9, n. 2, p. 7713-7727, fev. 2023. Disponível em: https://ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/index.php/BRJD/article/view/57573. Acessado em: 04 nov. 2024.


1Discente do Curso de Graduação em Enfermagem do Instituto FAMED da Universidade Federal de Uberlândia-MG. e-mail: paula.teixeira@ufu.br. ORCID: https://orcid.org/0009-0007-4934-4292.

2Docente do Curso de Graduação em Enfermagem do Instituto FAMED da Universidade Federal de Uberlândia-MG. e-mail: mrsilva@ufu.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1661-6312.

3Enfermeira Coorientadora do Setor de Infectologia do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia-MG. e-mail: maraisa.duraes@gmail.com. ORCID: https://orcid.org/0009-0007-8581-7480.