RELATO DE EXPERIÊNCIA: EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE E O IMPACTO NOS HÁBITOS DE VIDA SAUDÁVEIS 

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102501030910


Bianca Lopes Barros¹
Ana Gabriela Gomes Pires¹
Weruskha Abrantes Soares Barbosa²


RESUMO:

            O presente artigo visa relatar a experiência do projeto: Educação Popular em Saúde, desenvolvido pelos docentes e discentes da Faculdade De Medicina e Enfermagem Nova Esperança, em João Pessoa, Paraíba. O projeto no dia 27 de Março de 2018 realizou uma ação com o tema de alimentação saudável, cujo objetivo foi promover, e disseminar hábitos saudáveis, visto que problemas de saúde, como diabetes, obesidade, hipertensão, estão sendo cada vez mais presentes no cotidiano dos brasileiros. Como metodologia professores e alunos desenvolveram atividades de forma integrada e colaborativa como: apresentação da pirâmide alimentar com o uso de cartazes, paródias, e dinâmicas, nas quais criou-se uma roda de conversa para trocas de saberes e incentivo a uma rotina mais saudável.

INTRODUÇÃO

           Diante do contexto atual e da evolução dos padrões atuais da saúde, a ação visou à conscientização das crianças sobre a urgência de aderir a hábitos alimentares balanceados afim de diminuir a prevalência das doenças crônicas não transmissíveis e evitáveis. No ano de 1975 as taxas de obesidade nas crianças e adolescentes do mundo aumentavam menos de 1% (equivalente a cinco milhões de meninas e seis milhões de meninos), em 2016 o índice subiu para quase 6% em meninas (50 milhões) e quase 8% em meninos (74 milhões). Combinados, o número de obesos de cinco a 19 anos aumentou mais do que dez vezes no mundo, de 11 milhões em 1975, para 124 milhões em 2016, o problema torna-se ainda maior pois o país não tem um Sistema de saúde preparada para lidar com um número tão alto de jovens nessas condições.

            Portanto, é necessário encorajar a busca por alimentos de origem mais natural como frutas, verduras, e leguminosas, alertando para o consumo desenfreado de industrializados que  contém quantidades elevadas de açúcares e gorduras. Além disso, uma alimentação saudável é rica em nutrientes, como vitaminas e minerais. Caso o organismo não os receba em quantidades ideais, estará sujeito a doenças, como desnutrição, anemias, problemas hormonais, podendo ter seu desenvolvimento físico e psicomotor prejudicado.

            Hoje, é um consenso na comunidade científica que doenças crônicas não transmissíveis podem ter origem em etapas precoces da vida, podendo estar relacionadas com a má alimentação durante a infância. Portanto, elas são de alto impacto epidemiológico, destacando-se as doenças cardiovasculares, o diabetes mellitus, a hipertensão arterial, o câncer, a obesidade e as dislipidemias (alterações nas frações de gorduras no sangue).

PALAVRASCHAVE: educação; saúde; alimentação

MÉTODOS

A ação foi embasada no “Guia Alimentar para a População Brasileira” do Ministério da Saúde. Foi desenvolvida por alunas do curso de medicina e de enfermagem da Faculdade de Medicina e Enfermagem Nova Esperança (FAMENE), acompanhadas pela professora orientadora e farmacêutica Dra. Danielle Serafim e a coordenadora do projeto Dra. Weruskha Abrantes, tendo como público-alvo alunos do 1° e 2°anos do ensino fundamental.

Na manhã do dia 27 de março de 2018, nas salas de aula da escola municipal, as estudantes ilustraram, através de material expositivo, a importância de uma alimentação balanceada e nutritiva no desenvolvimento do ser humano. Os instrumentos consistiam em uma breve palestra associada a cartazes contendo imagens a respeito da pirâmide alimentar, do diabetes, do raquitismo e da obesidade, doenças associadas aos hábitos alimentares. Após a explicação, foi aberto um período para esclarecimento de dúvidas das crianças.

Ao final da discussão, visando à fixação do conteúdo ministrado e o incentivo à inserção de frutas e legumes na rotina alimentar, uma dinâmica foi realizada. Esta consistia em vendar algumas crianças e oferecer a elas um pedaço de fruta para degustação, cabia à criança adivinhar a fruta em questão.

Para concluir a apresentação, a equipe responsável pela ação presenteou as crianças e os professores com uma maçã e um chocolate, tendo como intuito simbolizar o equilíbrio que deve existir na alimentação diária.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

            A comparação das variáveis sociodemográficas familiares das crianças estudadas demonstrou semelhanças entre os grupos, permitindo a avaliação do efeito da intervenção. As variáveis renda familiar e escolaridade materna e paterna exemplificam a condição socioeconômica desprivilegiada da população estudada. No foco de políticas e programas em saúde pública, a melhor estratégia é priorizar boas condições de saúde para mulheres e crianças, visando romper o ciclo da pobreza e má-nutrição.

          No imaginário social manifesto no campo da Nutrição, observamos uma forte tendência à racionalização da ideia de alimentação saudável, que, tal como os demais saberes biomédicos ocidentais contemporâneos (LUZ, 1997), está pautada nas finalidades comuns, teóricas e práticas, de prevenção e de combate à doença, reproduzindo o paradigma mecanicista e tecnicista moderno. Desse ponto de vista, a terapêutica nutricional é centrada nas quantidades e nos horários em que os alimentos devem ser ingeridos, de modo a estabelecer uma vida com os menores riscos possíveis de adoecimento (CARVALHO et al., 2011). O ser humano não é visto em sua integralidade individual viva e em sua inserção na sociedade. O caráter pluridimensional da comida fica perdido na fragmentação disciplinar característica do paradigma científico contemporâneo. A exclusão das Ciências Humanas de uma das disciplinas do campo das Ciências da Vida a Nutrição contribui para a perda da totalidade temática de cada um dos seus objetos específicos de pesquisa. Contudo, cabe destacar recentes tentativas de mostrar, por meio de pesquisas, o caráter miscigenado com as Humanidades, que marca essa área disciplinar (LUZ, 2011; PRADO et al., 2011; GRACIA-ARNAIZ, 2011).

          Observamos que, no campo da alimentação, atualmente, a comida assume uma conotação médica em que a orientação é direcionada à conservação da saúde através da manutenção de um funcionamento regular do organismo e do respeito às regras alimentares que valorizam o componente nutricional da dieta (MOTTA, 2010). Afinal, existem evidências científicas suficientes que sustentam o papel relevante que tem a alimentação no plano individual na prevenção e controle da morbidade e mortalidade prematuras resultantes das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), incluindo obesidade, diabetes mellitus tipo 2, doenças cardiovasculares e alguns tipos de câncer. Dessa forma, tem-se considerado a alimentação um dos principais determinantes modificáveis, com fortes efeitos, positivos e negativos, sobre a saúde ao longo da vida. Ajustes na dieta podem não só influenciar a saúde atual como determinar se um indivíduo irá ou não desenvolver DCNT mais tarde em sua vida (WHO, 2002).

           As políticas públicas em alimentação e nutrição, assim, se reconfiguram e recomendam, convencem que precisamos deslocar o consumo de alimentos ditos como pouco saudáveis devido a componentes alimentares específicos, como gorduras trans, açúcares livres e sódio, para alimentos mais saudáveis, em especial frutas e hortaliças, cereais integrais e frutos secos. Ademais, recomenda-se manter um equilíbrio energético e um peso normal (WHO, 2004), que constitui usualmente em manter-se dentro de uma faixa de normalidade de peso, categorizada de acordo com o Índice de Massa Corporal (IMC) do indivíduo o qual, apesar de sua utilidade, é passível de críticas pelas limitações que apresenta (GARN et al.,1986). Além disso, reduz-se o referido peso normal a uma média determinada por padrões de um grupo populacional específico, com padrão socioeconômico e constituição racial diversa.

            Consideramos, assim, que manter um peso normal é manter-se dentro de uma média fisiológica ideal. Devemos direcionar nossas escolhas alimentares, predominantemente, a partir de uma normatividade fisiológica, normalizando nossa alimentação Canguilhem (1982) faz essa crítica ao abordar as noções de norma e média, lembrando que considerar os valores médios das constantes fisiológicas humanas como a expressão de normas coletivas de vida seria apenas dizer que a espécie humana, inventando gêneros de vida, inventa, ao mesmo tempo, modos de ser fisiológicos. (p. 68). Esses discursos da promoção de saúde, em que a alimentação saudável está incluída, como diria Foucault (2005), nos atravessam, constituem e oferecem uma ética, segundo Coveney (1998), no sentido de um meio pelo qual podemos avaliar nossos desejos, atitudes e condutas em relação aos estabelecidos pelos especialistas. Como tal, a promoção da saúde e da alimentação saudável é uma forma do governo operar seu poder, em acordo com Foucault, fazendo de nós o que somos hoje.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

            Evidencia-se, portanto, a relevância do desenvolvimento da ação acerca da alimentação saudável, posto que esta é a base da regulação do organismo e é através dela, sobretudo, que o ser humano preserva sua saúde. Além disso, a abordagem dessa temática foi fundamental para alertar os estudantes sobre a relação entre o consumo excessivo de determinadas classes de comidas e o desenvolvimento de doenças crônicas.

REFERÊNCIAS

CARVALHO M.C.V.S. et al. Comer, alimentar e nutrir: categorias analíticas instrumentais no campo da pesquisa científica. Ciênc.saúde coletiva. Rio de Janeiro, v. 16, n. 1, p. 155163, 2011.

FOUCAULT, M. Vigiar e punir. Petrópolis: Vozes, 1987.

PRADO, S.D. et al. A pesquisa sobre Alimentação no Brasil: sustentando a autonomia do campo Alimentação e Nutrição. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 16, n. 1, jan. 2011.

LUZ, M. Novos saberes e práticas na saúde coletiva. Estudo sobre racionalidades médicas e atividades corporais. São Paulo: Hucitec, 2003.

MOTTA, G. La historia, la comida, la salud: Un vínculo siempre más estrecho entre alimentación y medicina. Med. segur. trab., v. 56, n. 218, p. 93-99, mar. 2010.