RELATO DE EXPERIÊNCIA: ASPERGILOSE PULMONAR EM PACIENTE IMUNOCOMPROMETIDO INTERNADO NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE (HU-UFS) VINCULADO À REDE EBSERH

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10249061544


Paula Akemi Fujishima1
Gilton José Ferreira da Silva2


RESUMO

Objetivo: Discutir as particularidades do diagnóstico e manejo da aspergilose em um ambiente hospitalar, especialmente em indivíduos com comprometimento imunológico internado na Clínica Médica 2 do Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe, vinculado à EBSERH. Relato de experiência: O paciente, um homem de 60 anos, com histórico de leucemia em remissão e tratamento prolongado com corticoterapia, apresentou quadro clínico de febre persistente, tosse produtiva e dispneia progressiva. A confirmação do diagnóstico foi realizada por meio de exames de imagem e microbiológicos, com detecção de Aspergillus fumigatus no lavado broncoalveolar. O tratamento antifúngico foi iniciado com voriconazol, resultando em melhora significativa do quadro clínico e resolução das lesões pulmonares.  Considerações finais: Este relato de caso sublinha a importância da vigilância em pacientes imunocomprometidos para o diagnóstico precoce e tratamento adequado da aspergilose, uma infecção potencialmente fatal.

Palavras-chave: Aspergilose pulmonar; imunocomprometido; diagnóstico; tratamento antifúngico

INTRODUÇÃO

A aspergilose é uma infecção fúngica oportunista causada por espécies do gênero Aspergillus, sendo Aspergillus fumigatus a espécie mais comumente envolvida em infecções humanas (LOPES, 2022). Em indivíduos imunocompetentes, a exposição ao Aspergillus geralmente não causa doença, devido à eficácia das defesas imunológicas do hospedeiro (POLONI, 2020). No entanto, em pacientes imunocomprometidos, como aqueles em tratamento prolongado com corticoides, portadores de neoplasias hematológicas ou submetidos a transplante de órgãos, a aspergilose pode se manifestar de forma invasiva, afetando principalmente os pulmões (LOPES,2022).

A aspergilose pulmonar invasiva (API) é uma condição grave, frequentemente associada a alta mortalidade, especialmente quando o diagnóstico é tardio. O reconhecimento precoce da doença, aliado a um tratamento antifúngico eficaz, é fundamental para melhorar os desfechos clínicos (SOUZA et al., 2021). O diagnóstico da API é desafiador, pois os sintomas são inespecíficos e podem ser confundidos com outras infecções pulmonares. As modalidades diagnósticas incluem exames de imagem, como tomografia computadorizada de tórax, e a identificação do fungo em amostras respiratórias através de métodos microbiológicos ou moleculares  (DE ALMEIDA ANDRADE et al., 2023).

Este relato de experiência detalha o manejo clínico de um paciente aspergilose pulmonar invasiva em um paciente imunocomprometido, admitido na Clínica Médica 2 do Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe, vinculado à EBSERH. O relato enfatiza os desafios clínicos enfrentados, as estratégias terapêuticas implementadas e os resultados obtidos. Abordando os desafios do diagnóstico e a resposta ao tratamento antifúngico.

RELATO DE EXPERIÊNCIA

O paciente, um homem de 60 anos, com histórico de leucemia mieloide crônica em remissão e uso prolongado de corticoides para manejo de pneumonite associada, foi admitido na Clínica Médica 2 do Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe, vinculado à EBSERH com quadro de febre persistente há duas semanas, associada a tosse produtiva e dispneia progressiva. O paciente havia sido tratado anteriormente com antibióticos de amplo espectro para pneumonia bacteriana, sem melhora clínica significativa, o que levantou a suspeita de infecção fúngica.

No exame físico, o paciente apresentava-se taquipneico, com saturação de oxigênio de 88% em ar ambiente, estertores crepitantes à ausculta pulmonar e sinais de esforço respiratório. Os exames laboratoriais mostraram leucopenia, com contagem de neutrófilos reduzida (900/mm³), elevação de marcadores inflamatórios (PCR de 15 mg/L) e função renal preservada. Foi realizada uma tomografia computadorizada (TC) de tórax, que revelou múltiplas lesões nodulares com halo de vidro fosco ao redor, típicas de aspergilose pulmonar invasiva.

Diante dos achados clínicos e radiológicos sugestivos de aspergilose, foi coletado lavado broncoalveolar (LBA) para análise microbiológica. A cultura do LBA revelou crescimento de Aspergillus fumigatus, confirmando o diagnóstico de aspergilose pulmonar invasiva. O paciente foi imediatamente iniciado em terapia antifúngica com voriconazol (400 mg/dia) por via intravenosa, com ajuste posterior da dose de manutenção para 200 mg a cada 12 horas, conforme a resposta clínica.

Durante a internação, o paciente apresentou melhora gradual dos sintomas respiratórios, com redução da febre e da dispneia. A TC de controle, realizada após três semanas de tratamento, mostrou regressão significativa das lesões pulmonares, sem novas áreas de infiltração. O paciente foi desmamado progressivamente do oxigênio suplementar e, após estabilização clínica, recebeu alta hospitalar com prescrição de voriconazol oral para completar o curso total de seis meses de tratamento.

DISCUSSÃO

A aspergilose pulmonar invasiva é uma infecção potencialmente fatal que ocorre predominantemente em pacientes com imunossupressão significativa, como aqueles com neoplasias hematológicas ou em uso prolongado de corticosteroides (CASTRO et al., 2021). Este caso destaca a importância do reconhecimento precoce dos sinais clínicos e radiológicos da API, que são fundamentais para iniciar o tratamento antifúngico de forma oportuna e evitar a progressão da doença (MALAGÓN, 2021).

O diagnóstico da API é desafiador devido à inespecificidade dos sintomas e à necessidade de métodos diagnósticos especializados, como a TC de tórax e a análise microbiológica do LBA. A presença de lesões nodulares com halo de vidro fosco ao redor na TC é um achado clássico, mas não exclusivo, da aspergilose (DE MELLO JUNIOR, 2021). A confirmação microbiológica do Aspergillus no LBA ou em outros fluidos corporais é crucial para o diagnóstico definitivo, embora a ausência de crescimento fúngico não exclua a doença, devido à baixa sensibilidade dos métodos de cultura tradicionais (DIAS et al., 2022).

O voriconazol é o tratamento de primeira linha para a API, demonstrando eficácia superior em comparação com outros antifúngicos, como a anfotericina B (FONSECA et al., 2022). A resposta positiva ao tratamento no caso apresentado reforça a importância de iniciar a terapia antifúngica adequada o mais cedo possível. A monitorização clínica e radiológica contínua é essencial para avaliar a resposta ao tratamento e ajustar a terapia conforme necessário (CARRARO, 2022).

Este relato de caso sublinha a importância da vigilância clínica em pacientes imunocomprometidos, bem como a necessidade de protocolos de manejo que incluam a consideração de infecções fúngicas invasivas em pacientes que não respondem a terapias antimicrobianas convencionais.

REFERÊNCIAS

CARRARO, Rafael Medeiros. Achados histopatológicos em biópsias transbrônquicas dos pacientes transplantados de pulmão com e sem o diagnóstico da doença do refluxo gastroesofágico determinado por pHmetria esofágica. 2022. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.

CASTRO, Gabriela Souza de et al. Padronização da espectrometria de massa MALDI TOF MS para a identificação rápida de fungos leveduriformes a partir de hemoculturas positivas. 2021. Tese de Doutorado.

DE ALMEIDA ANDRADE, Eronildo et al. Perfil de pacientes com aspergilose pulmonar em hospital de referência em pneumologia em Recife/PE. Revista Eletrônica Acervo Saúde, v. 23, n. 11, p. e13658-e13658, 2023.

DE MELLO JUNIOR, Carlos Fernando. Radiologa Básica. Thieme Revinter, 2021.

DIAS, Renata Alves Barcelos et al. Frequência e impacto da detecção de anticorpos nas micoses de acometimento pulmonar em pacientes com COVID-19. 2022. Tese de Doutorado.

FONSECA, Lívia Maria Maciel da. Estudos moleculares de isolados clínicos do gênero Aspergillus de diferentes sítios anatômicos. 2022. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.

LOPES, Márcio Ajudarte. Caso clínico incomum de osteomielite mandibular por Aspergillus em paciente imunocompetente. 2022. Tese de Doutorado. [sn].

MALAGÓN, Alejandro Díaz. A evolução do consumo de antifúngicos em unidades de cuidados intensivos. 2021. Dissertação de Mestrado. Egas Moniz School of Health & Science (Portugal).

POLONI, José AntonioTesser. Insuficiência renal aguda em pacientes com COVID-19. A Tempestade do Coronavírus, v. 52, n. 2, p. 160-7, 2020.

SOUZA, Marcos Antônio Cavalari et al. Aspergillosis and advances in its treatment in the last decade: a literature review. Revista Científica Intellectus, v. 63, 2021.


1 Hospital Universitário de Sergipe da Universidade Federal de Sergipe, vinculado a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH), Aracaju – SE. *E-mail: paula.fujishima@ebserh.gov.br.

2 Universidade Federal de Sergipe (UFS), São Cristóvão – SE.