REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10139744
Daniel Junior Moreira de Paiva1
Isabely Silva Casagrande2
Izabela Cristina Ferreira Silva3
RESUMO
Introdução: O tabagismo é considerado um fator de risco significativo pois, dificulta a resposta imune, mascara a doença por vasoconstrição, causa toxicidade celular nos tecidos bucais, altera o microbioma oral e leva à liberação de cotinina na saliva ou fluidos gengivais. Normalmente, os pacientes odontológicos são orientados a realizar medidas preventivas, como escovação e uso do fio dental corretamente, combinados com o enxaguatório bucal. Objetivo: Este trabalho busca descrever o relato de caso sobre a influência do fumo na doença periodontal a fim de desenvolver ações de promoção de saúde bucal direcionadas ao controle deste fator de risco sobre tratamento e acompanhamento de periodontite em paciente tabagista. Discussão: A pesquisa indica que os fumantes devem ser informados sobre as potenciais consequências em longo prazo de seus hábitos de fumar em sua saúde periodontal. Os profissionais de odontologia devem participar ativamente de campanhas antitabagismo para encorajar os fumantes a limitar suas perdas e melhorar sua saúde bucal. Conclusão: Propôs executar consultas regulares e orientar a paciente sobre o controle da sua doença periodontal. Apesar da prevalecia do uso do tabaco paciente segue com a contenção dentária e as orientações de higiene bucal com consultas periódicas para controle da doença.
Palavras chave: Periodontite, Tabagismo, Fumante, Saúde bucal.
ABSTRACT
Introduction: Tobaccoism is considered a significant risk factor as it has made difficult to determine the immune response, also it overshadows the disease through vasoconstriction, causes cellular toxicity in oral tissues, alters the oral microbiome and leads to the release of cotinine in saliva or gingival fluids. Many times, the dental patients are advised to perform preventive measures such as brushing and flossing correctly, combined with mouthwash. Aim: This work seeks to describe a case report on the influence of smoking on periodontal disease in order to develop oral health promotion actions aimed at controlling this risk factor in the treatment and monitoring of periodontitis in smoking patients. Discussion: This research indicates that the smokers should be informed about the possible long-term consequences of their smoking habits on their periodontal health. The odontology professionals must actively enroll in anti-smoking campaigns to encourage consumers to limit their losses and improve their oral health. Conclusion: It was proposed to execute regular consultations and counsel the patient on controlling their periodontal disease. Despite the prevalence of tobacco use, patients continue with dental retention and oral hygiene guidelines with periodic consultations to control the disease.
Keywords: Periodontitis, Tobaccoism, Smoker, Oral health.
INTRODUÇÃO
O tabagismo é um problema significativo de saúde pública exclusivo dos seres humanos. Apesar da criação de documentos governamentais que delineiam os efeitos negativos do tabagismo na saúde há mais de quarenta anos, o tabagismo continua sendo uma das principais causas de morte evitável no mundo (MENEZES et al, 2023). Estudos têm mostrado que fumar é um dos riscos mais substanciais para o aparecimento da doença periodontal, com base nos dados disponíveis. Pesquisas epidemiológicas indicam que a doença é mais prevalente e grave entre fumantes em comparação com não fumantes, apontando a influência direta do tabaco nos tecidos periodontais. Além disso, existe uma relação dose-dependente entre tabagismo e doença periodontal (ALBANDAR, 2020).
A doença periodontal é definida como um conjunto de processos inflamatórios e infecciosos, e esses processos afetam os tecidos periodontais. É considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) uma das doenças mais perigosas para a saúde bucal, com vários estágios que apresentam manifestações clínicas e padrões de progressão únicos (ALMEIDA, 2018). A natureza polimicrobiológica, multifatorial, episódica e dependente do local da doença periodontal a torna uma das ameaças mais significativas à saúde bucal. Existem inúmeros fatores de risco envolvidos na progressão desta doença, incluindo idade avançada, tabagismo, sexo, nível socioeconômico, etnia, doenças sistêmicas e patógenos periodontais. Esses fatores de risco estão presentes tanto em jovens quanto em adultos (BORBA et al., 2016).
A doença periodontal pode ser causada por uma variedade de fatores, incluindo, entre outros: nutrição inadequada, uso de próteses ou aparelhos dentários mal ajustados, mau alinhamento dos dentes, falta de contato entre os lábios e diabetes. Existem também vários fatores modificadores que podem elevar o risco de doença periodontal, como tabagismo, estresse, medicamentos e desequilíbrios hormonais. Esses fatores podem afetar a resposta imune de um hospedeiro, tornando-o mais suscetível à progressão e desenvolvimento da doença periodontal (LINS, 2023).
Em termos de tratamento, após a terapia periodontal regenerativa envolvendo enxertos, barreiras ou moduladores biológicos, os fumantes apresentam uma diminuição na redução da profundidade de sondagem, ganho de inserção clínica e porcentagem de preenchimento ósseo em comparação com não fumantes. Além disso, o ganho de inserção clínica na regeneração tecidual guiada é cerca de 50% menor para fumantes do que para não fumantes. Deve-se notar que os fumantes são mais suscetíveis a esses efeitos negativos (LINS, 2023). O tratamento da doença periodontal nem sempre traz resultados positivos, pois pode haver maior chance de complicações após o procedimento. Entre esses problemas estão a exposição da membrana e o aumento da dificuldade na remoção das bactérias causadoras da doença periodontal (KIM; VIANA; CAMINAGA, 2019).
Dessa forma, este trabalho buscará analisar o papel do fumo na doença periodontal a fim de desenvolver ações de promoção de saúde bucal direcionadas ao controle deste fator de risco e relatar um caso sobre tratamento e acompanhamento de periodontite crônica em paciente tabagista.
RELATO DE CASO
O presente relato de caso é um estudo observacional descritivo de paciente do sexo feminino, 51 anos de idade. Onde procurou a clínica odontológica da faculdade Fimca Unicentro localizada no município de Jaru/RO, queixando-se “estou com incomodo nos meus dentes porque estão moles”. Na anamnese relatou ser tabagista a muitos anos, e que não iria ao dentista a mais de 20 anos. Após a avaliação clínica foi constatado presença de tártaro dentário em todos os dentes inferiores, mobilidade nos incisivos centrais e laterais inferiores (Figura 1).
Figura 1: Condições clínica inicia. Fonte: Autoria Própria
A primeira consulta foi realizado exames complementares como raio-X e periograma (Figura 2) . Necessita-se de uma profilaxia antibiótica, devido a quantidade de secreção purulenta presente. Após 7 dias de medicamento, foi iniciado o tratamento. A primeira seção de raspagens se teve inicio com as raspagens supra gengivais, foi utilizado o cavitador sônico da microdont para remoção dos cálculos acima da gengiva.
Figura 2: Exame complementar periograma. Fonte: Autoria Própria
Antes de iniciar a raspagem subgengival, a paciente foi anestesiada com a solução anestésica Lidocaina 2% visando estancar o sangramento. Para a raspagem sub gengival foi utilizado a cureta grace 5/6 para as faces livres vestibulares e linguais, e a cureta ponta morse 00 para as proximais. (Figura 3).
Figura 3: Raspagem após primeira seção. Fonte: Autoria Própria
A segunda seção de raspagens foi terminada a parte subgengival, com a realização de uma profilaxia com jato de bicarbonato, foi realizado uma contenção de sustentabilidade. A contenção (Figura 4), foi feita com um fio de amarrilho de ortodontia, e para a fixação foi realizado o condicionamento ácido com ácido fosfórico 35%, adesivação com adesivo single bond e resina Opallis Flow.
Figura 4: Raspagem após segunda seção e instalção do fio de amarrilho com objetivo de permanecer os elementos em boca. Fonte: Autoria Própria
Diante a situação vinda para acompanhamento, com a presença de biofilme e um pouco de calculo (Figura 5 e 6 ) foi realizado nova raspagem e nova instrução de higienização.
Figura 5: Acompanhamento periódico. Fonte: Autoria própria.
Figura 6: Acompanhamento periódico. Fonte: Autoria própria
DISCUSSÃO
A doença periodontal é uma condição comum que pode ser definida como um inchaço e irritação persistente dos tecidos periodontais, resultante de uma infecção bacteriana e causada por um desequilíbrio entre as forças agressivas e defensivas nos tecidos protetores e de suporte do dente (LIM; KIM, 2014). A gengivite é uma variação desta condição que afeta o periodonto protetor enquanto a periodontite afeta o periodonto protetor e os tecidos de suporte (DHADSE; GATTANI; ROHIT, 2010; ARORA, MISHRA, CHUGH, 2014).
Segundo Peres (2013), ressalta-se que as doenças periodontais se manifestam como indícios clínicos de processos inflamatórios de natureza infecciosa que impactam tanto os tecidos protetores (gengivite) quanto os tecidos de suporte dos dentes (periodontite). Essas doenças são geradas por reações inflamatórias e imunológicas nos tecidos periodontais que foram alterados por microrganismos presentes no biofilme dental, levando ao comprometimento do tecido conjuntivo e do osso alveolar.
Arora, Mishra e Chugh (2014) observam que os níveis de nicotina salivar estão positivamente correlacionados com a intensidade da doença periodontal. O impacto do tabaco no periodonto impede o fluxo sanguíneo gengival, levando a alterações no número de vasos sanguíneos na gengiva marginal e reduzindo a resposta imunológica. Além disso, alertam contra os efeitos tóxicos da nicotina que prejudicam a inserção dos fibroblastos na superfície radicular. O processo de recuperação fica prejudicado pois, o tabagismo diminui os níveis séricos de vitamina C, essencial para a cicatrização, conforme observado por BIZZARRO et al. (2013).
Sabe-se que o ato de fumar resulta em uma variedade de complicações de saúde devido à presença de inúmeras substâncias citotóxicas no tabaco, como a nicotina. Essas substâncias podem permear os tecidos moles da cavidade oral, aderir às superfícies dos dentes ou até mesmo entrar na corrente sanguínea (ARORA; MISHRA; CHUGH, 2014).
Descobriu-se que fumar está associado a um risco 2 a 8 vezes maior de perda óssea e perda de inserção periodontal. É crucial enfatizar os resultados do estudo comparativo de Coretti et al. (2017), que revelou que os fumadores correm um risco significativamente maior de apresentar problemas de saúde periodontal e perda dentária em comparação com os não fumadores.
O desenvolvimento da periodontite é consequência da interação entre a resposta imune do hospedeiro e um estímulo bacteriano. Esta condição é influenciada por uma série de fatores que podem aumentar a probabilidade de seu aparecimento ou exacerbar os sintomas existentes. Esses fatores incluem fatores odontológicos locais, estresse, baixo status social e econômico, doenças sistêmicas e consumo de álcool e produtos de tabaco (BORBA et al., 2016).
A ligação entre tabagismo e doença periodontal não é totalmente compreendida em termos de como a gravidade da doença está relacionada com a quantidade de fumo. A questão da dependência da nicotina foi identificada como um problema significativo de saúde pública, levando a Organização Mundial da Saúde a estabelecer objetivos específicos que visam reduzir o consumo de tabaco e as taxas de mortalidade em todo o mundo. Fumar tem um impacto profundo na saúde geral e sistêmica.
Consequentemente, estudiosos como Santos e Siqueira (2016), Monteiro et al. (2013) e Camargo et al. (2016) enfatizaram a necessidade de promulgar mais políticas públicas para regular e controlar o tabagismo, com ênfase em medidas preventivas. Al Harthi et al. (2013) reiteraram que os esforços para combater o tabagismo devem incluir a implementação de leis proibitivas que desencorajem o uso do tabaco, especialmente em espaços públicos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Propôs executar consultas regulares e orientar a paciente sobre o controle da sua doença periodontal. Apesar da prevalecia do uso do tabaco paciente segue com a contenção dentária inferior e as orientações de higiene bucal com seus devidos cuidados, para manutenção do controle da doença.
REFERÊNCIAS
- AL HARTHI, L. S. et al. The impact of periodontitis on oral health-related quality of life: A review of the evidence from observational studies. Aust Dent, v. 58, n. 384, p. 274-7, 2013.
- ALBANDAR, J. Global risk factors and risk indicators of periodontal diseases. Periodontal v29, p.177-209, 2020.
- ALMEIDA, R. F. et al. Associação entre doença periodontal e patologias sistêmicas. Revista Portuguesa Clínica Geral, v22 p.379-390, 2018.
- ARORA, N.; MISHRA, A.; CHuGH, S. Microbial role in periodontitis: Have we reached the top? Some unsung bacteria other than red complex. J Indian Soc Periodontol, v. 18, n. 3, p. 9-13, 2014.
- BIZZARRO, S. et al. Subgingival microbiome in smokers and non-smokers in periodontitis: An exploratory study using traditional targeted techniques and a next-generation sequencing. J Clin Periodontol, v. 40, n.4, p. 483-92, 2013.
- BORBA, T. T. et al. Associação entre periodontite e fatores sociodemográficos, índice de massa corporal e características do estilo de vida. Revista de Epidemiologia e Controle de Infecção, Santa Cruz do Sul, v. 6, n. 4, p. 2238-3360, 2016.
- CAMARGO, G. A. et al. Aspectos clínicos, microbiológicos e tratamento periodontal em pacientes fumantes portadores de doença periodontal crônica: revisão de literatura. Rev. bras. odontol., Rio de Janeiro, v. 73, n. 4, p. 325-30, 2016.
- CORETTI, L. et al. Subgingival dysbiosis in smoker and non-smoker patients with chronic periodontitis. Molecular Medicine Reports, 2017; 15 (1): 2; 07-14.
- DHADSE, P. GATTANI, D. ROHIT, M. The link between periodontal disease and cardiovascular disease: How far we have come in last two decades? J Indian Soc Periodontol, v. 14, n. 3, p.148–54, 2010.
- JOHNSON, G. K; GUTHMILLLER, J. M. The impacto f cigarette smoking on periodontal disease and treatment. Journal Periodontology, v4ww4, p.178-194, 2020.
- KIM, Y. J; VIANA, A.C; CAMINAGA, R.M. Influência de fatores genéticos na etiopatogênese da doença periodontal . Revista de Odontologia da UNESP, v36, n2, p.175- 180, 2019.
- LIM, H. C.; KIM, C. S. Oral signs of acute leukemia for early detection. J Periodontal Implant Sci. v. 44, n. 2, p. 293-9, 2014.
- LINS, R.D.A.U. O relevante papel do fumo como fator modificador da resposta imune na doença periodontal. Revista Brasileira de Odontologia, v62, n1 e2, p.128-131, 2023.
- MENEZES, A. M. B. et al. Diretrizes para cessação do tabagismo. Jornal Brasileiro de Pneumologia, São Paulo, v30, n2, ago 2023.
- MINAS GERAIS. Secretaria de Estado de Saúde. Atenção em Saúde Bucal, Belo Horizonte: SAS/ 1°ed, p.124-126,290p., 2018.
- MONTEIRO, F. et al. Characterization of the oral fungal microbiota in smokers and non smokers. Eur J Oral Sci. v. 121, n. 2, p. 132-5, 2013.
- ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (OMS). Relatório de OMS sobre global de tabagismo. Sumário Executivo, 2018.
- PERES, M. A. Perdas dentárias no Brasil: análise da Pesquisa Nacional de Saúde Bucal 2010. Rev. Saúde Publica, v. 47, n. 4, p. 78-89, 2013.
- ROSEMBERG, J. Nicotina: Droga Universal, São Paulo: SES/CVE, p.174, 2023.
- SALUM, A. W; NETO, J. B. C; SALLUM; E. J. Tabagismo e a doença periodontal. Revista Periodontia, v17, n2, p.45-53, jun 2019.
- SANTOS, V; SIQUEIRA, L. C. Tabaco e Doenças Periodontais. Rev. Cient. In FOC, v. 1, n. 1, p. 89-98, 2016.
1Orientador, Docente no Centro Universitário Aparício Carvalho – FIMCA- Unicentro, Cirurgiã-Dentista pela formado no Centro Universitário Aparício Carvalho – FIMCA- PORTO VELHO (2013) dr.daniel.paiva@gmail.com;
2Co-coordenador, Docente no Centro Universitário Aparício Carvalho – FIMCA- Unicentro,
³Acadêmico de Odontologia, Centro Universitário Aparício Carvalho–FIMCA – Unicentro, izzahferreira714@gmail.com Acadêmico de Odontologia, Centro Universitário Aparício Carvalho – FIMCA – Unicentro, issahcasagrande@gmail.com