RELATO DE CASO: MANEJO DE TOXOPLASMOSE EM PACIENTE IMUNOCOMPETENTE INTERNADO EM UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE SERGIPE VINCULADO A REDE EBSERH

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10249071116


Paula Akemi Fujishima1
Gilton José Ferreira da Silva2


RESUMO

Objetivo: Descrever o manejo e cuidados adotados para um paciente com toxoplasmose internado na Clínica Médica 2 no Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe, vinculado à Rede de Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – EBSERH. Relato de experiência: Destaca o paciente, um homem de 28 anos, apresentou quadro clínico de febre, cefaleia, linfadenopatia cervical e mialgia. O diagnóstico de toxoplasmose foi confirmado por sorologia, evidenciando alta positividade para anticorpos IgM e IgG. O tratamento incluiu a administração de pirimetamina e sulfadiazina, além de ácido folínico para prevenir efeitos colaterais hematológicos. Considerações finais: Este caso ilustra a importância de um diagnóstico rápido e preciso em casos de toxoplasmose, bem como o manejo adequado, mesmo em pacientes imunocompetentes.

Palavras-chave: Toxoplasmose; diagnóstico diferencial; manejo clínico; imunocompetente.

INTRODUÇÃO

A toxoplasmose é uma infecção causada pelo protozoário Toxoplasma gondii, um dos parasitas mais comuns no mundo (RODRIGUES et al., 2022). Estima-se que cerca de um terço da população mundial esteja infectada, embora a maioria dos casos seja assintomática ou se manifeste de forma leve em indivíduos imunocompetentes (GAVA, 2022). No entanto, em determinadas circunstâncias, como em casos de imunossupressão ou infecção congênita, a toxoplasmose pode levar a quadros clínicos graves, afetando órgãos como o cérebro, olhos, pulmões e coração (SOUSA et al., 2019).

A infecção humana ocorre principalmente pela ingestão de cistos presentes em carne crua ou malcozida, por contato com fezes de gatos infectados, ou por transmissão vertical da mãe para o feto durante a gravidez (SERRAN0, 2016). O ciclo de vida do T. gondii é complexo, envolvendo hospedeiros intermediários, como humanos e outros animais de sangue quente, e o gato doméstico como hospedeiro definitivo, onde o parasita completa sua fase sexual (MEDEIROS et al., 2019; MUNO et al., 2015).

Clinicamente, a toxoplasmose pode se manifestar de várias formas, desde infecções assintomáticas até casos graves de encefalite, coriorretinite e miocardite, dependendo do estado imunológico do hospedeiro (MARTIN MORAL, 2020). Em pacientes imunocompetentes, a forma mais comum de apresentação é a linfadenite toxoplásmica, que se caracteriza por linfadenopatia cervical, febre, mialgia e mal-estar geral, muitas vezes levando a um diagnóstico diferencial difícil com outras doenças infecciosas, como mononucleose e citomegalovírus (SILVA et al., 2011).

O diagnóstico da toxoplasmose é predominantemente sorológico, com a detecção de anticorpos IgM e IgG específicos que indicam infecção aguda ou recente (FOSCHIERA; CARTONILHO; TELES, 2021). No entanto, o diagnóstico diferencial é essencial, especialmente em regiões endêmicas onde outras infecções podem ter apresentações clínicas semelhantes (DE OLIVEIRA DAMACENA et al., 2021). A toxoplasmose é uma doença autolimitada na maioria dos pacientes imunocompetentes, mas o tratamento é recomendado em casos sintomáticos para acelerar a resolução dos sintomas e prevenir complicações (SANTOS et al., 2021) .

Este artigo apresenta um relato de caso de um paciente imunocompetente admitido na Clínica Médica 2 do Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe, vinculado à Rede de Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – EBSERH com diagnóstico de toxoplasmose. O objetivo é discutir o manejo clínico, os desafios no diagnóstico diferencial e as intervenções terapêuticas aplicadas, contribuindo para o aprimoramento dos protocolos de tratamento da toxoplasmose em ambientes hospitalares e a capacitação das equipes de saúde para o manejo adequado dessa infecção.

RELATO DE EXPERIÊNCIA

O paciente, um homem de 28 anos, residente em Aracaju, Sergipe, admitido na Clínica Médica 2 do Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe, vinculado à Rede de Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – EBSERH apresentando sintomas de febre intermitente, cefaleia intensa, mialgia generalizada e linfadenopatia cervical dolorosa. Os sintomas haviam começado cerca de 10 dias antes da admissão, e o paciente relatou que a febre era baixa no início, mas havia se intensificado nos últimos dias. Ele negou antecedentes de doenças crônicas, uso regular de medicações, ou contato recente com pessoas doentes. O paciente também informou que havia consumido carne malcozida e teve contato frequente com gatos domésticos, o que levantou a suspeita inicial de toxoplasmose.

No exame físico, foi observado que o paciente estava com febre, com temperatura de 38,5°C, e apresentava linfonodos cervicais bilateralmente aumentados e dolorosos à palpação. Não foram encontradas outras alterações significativas nos sistemas cardiovascular, respiratório ou gastrointestinal. Os exames laboratoriais iniciais revelaram leucocitose leve (12.500/mm³) com predomínio de linfócitos, além de aumento discreto das enzimas hepáticas (AST e ALT). Considerando o quadro clínico, foi realizada uma investigação sorológica para doenças infecciosas, incluindo mononucleose, citomegalovírus e toxoplasmose.

Os resultados sorológicos para toxoplasmose foram positivos, com títulos elevados de anticorpos IgM (20 UI/mL) e IgG (150 UI/mL), confirmando a infecção aguda por Toxoplasma gondii. Os testes para mononucleose infecciosa e citomegalovírus foram negativos, o que excluiu essas condições como diagnósticos diferenciais. A ultrassonografia cervical revelou linfonodos reativos, sem sinais de abscessos ou outras complicações. Diante desses achados, foi iniciado o tratamento com pirimetamina (50 mg/dia) e sulfadiazina (2 g/dia), juntamente com ácido folínico (5 mg/dia) para prevenir os efeitos colaterais hematológicos da pirimetamina.

O paciente foi monitorado diariamente durante a internação, com avaliações clínicas e laboratoriais regulares. Houve melhora progressiva dos sintomas após os primeiros dias de tratamento, com redução da febre e alívio da cefaleia e mialgia. A contagem de plaquetas e os níveis de leucócitos permaneceram dentro dos limites normais, sem sinais de mielossupressão. Após sete dias de tratamento, o paciente relatou alívio completo da dor cervical, e os linfonodos diminuíram significativamente de tamanho.

No décimo quarto dia de internação, o paciente foi considerado clinicamente estável e apresentou normalização dos parâmetros laboratoriais. A febre havia desaparecido, e não foram observados efeitos adversos significativos relacionados ao tratamento. O paciente recebeu alta hospitalar com orientações para continuar o tratamento com pirimetamina e sulfadiazina por mais duas semanas em casa, além de recomendações para evitar o consumo de carnes malcozidas e contato com fezes de gatos para prevenir a reinfecção.

O paciente foi agendado para seguimento ambulatorial no HU-UFS após a conclusão do tratamento, e, em visita de retorno após um mês, estava assintomático, sem evidências de linfadenopatia residual ou outros sinais de complicações tardias da toxoplasmose. Este caso destaca a eficácia do diagnóstico precoce e do tratamento adequado na gestão de infecções por Toxoplasma gondii em pacientes imunocompetentes, ressaltando a importância da identificação correta do agente etiológico para a escolha do tratamento mais apropriado e para a prevenção de complicações.

DISCUSSÃO

A toxoplasmose, apesar de ser uma infecção frequentemente assintomática em indivíduos imunocompetentes, pode manifestar-se com sintomas graves em alguns casos, como linfadenopatia cervical, febre e mialgia  . O diagnóstico diferencial é crucial, especialmente em áreas endêmicas, onde outras infecções podem apresentar manifestações clínicas semelhantes. A sorologia é a principal ferramenta diagnóstica, sendo os títulos elevados de IgM e IgG indicativos de infecção aguda ou recente .

O manejo clínico da toxoplasmose em pacientes imunocompetentes geralmente é conservador, com tratamento farmacológico sendo reservado para casos sintomáticos ou complicados  . No caso relatado, a combinação de pirimetamina e sulfadiazina foi eficaz, com resolução completa dos sintomas e sem efeitos colaterais significativos. Este regime terapêutico é bem estabelecido na literatura e é considerado o padrão-ouro para o tratamento da toxoplasmose aguda, especialmente em casos com manifestações sistêmicas .

Este caso ressalta a importância de considerar a toxoplasmose no diagnóstico diferencial de pacientes com febre e linfadenopatia, mesmo em indivíduos imunocompetentes. Além disso, destaca a necessidade de um tratamento adequado para prevenir complicações, mesmo em casos que não envolvam pacientes imunossuprimidos. A experiência clínica adquirida com este caso contribui para o fortalecimento dos protocolos de manejo da toxoplasmose no contexto hospitalar.

REFERÊNCIAS

RODRIGUES, Nássarah Jabur Lot et al. Atualizações e padrões da toxoplasmose humana e animal: revisão de literatura. Veterinária e Zootecnia, v. 29, p. 1-15, 2022.

GAVA, Mariana Zanchetta. Infecção pelo Toxoplasma gondii em pacientes vivendo com HIV/Aids: sororreatividade e perfil clínico. 2022.

SOUSA, Layane Alencar Costa Nascimento et al. Avaliação do uso terapêutico de extrato do fungo Trichoderma stromaticum na infecção experimental de camundongos C57BL/6 com Toxoplasma gondii. 2019.

SANTOS, Amanda Carolina et al. Histoplasmose pulmonar: relato de caso Pulmonary histoplasmosis: case report. Brazilian Journal of Health Review, v. 4, n. 5, p. 21736-21748, 2021.

DE OLIVEIRA DAMACENA, Vitória et al. Aspectos clínicos e laboratoriais da co-infecção de dengue e covid-19: suas correlações e medidas de prevenção Clinical and laboratory aspects of dengue and covid-19 co-infection: their correlations and prevention measures. Brazilian Journal of Development, v. 7, n. 12, p. 121484-121504, 2021.

FOSCHIERA, Ariane Ilsa Clymaco; CARTONILHO, Gleense; TELES, Carolina Bioni Garcia. Prevalência da toxoplasmose em pacientes atendidos no laboratório central de saúde pública de Porto Velho-RO. Saber Científico (1982-792X), v. 2, n. 1, p. 92-103, 2021.

SERRANO, Marcos Guilherme Inácio et al. Toxoplasmose na gravidez: revisão bibliográfica. Connection Line-Revista Eletrônica do Univag, n. 14, 2016.

MEDEIROS, Letícia Campos et al. Interação de Toxoplasma gondii e células epiteliais intestinais de felinos in vitro. 2019. Tese de Doutorado.

MUNO, Renata Morley de et al. Toxoplasma gondii-células epiteliais de felinos: novos aspectos do ciclo enteroepitelial in vitro. 2015. Tese de Doutorado.

MARTIN MORAL, Juan Miguel. Toxoplasma gondii e toxoplasmose: epidemiologia, patologia, diagnóstico e novos tratamentos. 2020. Tese de Doutorado.

SILVA, Jonatas Abinadabe Oliveira et al. Nursing and Medical Students’ knowledge about toxoplasmosis. Revista de Enfermagem UFPE on line, v. 5, n. 3, p. 788-797, 2011.


1 Hospital Universitário de Sergipe da Universidade Federal de Sergipe, vinculado a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH), Aracaju – SE. *E-mail: paula.fujishima@ebserh.gov.br.

2 Universidade Federal de Sergipe (UFS), São Cristóvão – SE.