RELATO DE CASO: LEUCEMIA MASTOCITARIA CASE REPORT: MASTOCYTE LEUKEMIA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202502161133


Daniela Silveira Marques Branco
Ana Beatriz Gibaile de Freitas Mattos
Orientadora: Luciana de Castro Araújo


Resumo

Mastocitose é o nome amplo de um conjunto de enfermidades, dentre elas a Leucemia Mastocitária, doença rara causada pela proliferação descontrolada de mastócitos, levando ao seu acúmulo em tecido conjuntivo ou medula. O relato tem como objetivo enriquecimento científico ao trazer descrição de determinado quadro clinico, assim como critérios diagnóstico, tipo de terapêutica utilizado e por fim o desfecho do quadro, ressaltando que todos os dados foram retirados de prontuário eletrônico. Dessa forma, o maior contato com a doença, visa possibilitar diagnóstico mais precoce e logo terapêutica mais imediata aliado a busca por um melhor prognóstico.

Palavras chaves: Hematologia, Leucemia e Mastocitose.

Introdução

A leucemia mastocitária, uma subdivisão da mastocitose, é uma enfermidade rara causada pela proliferação e o acúmulo de mastócitos em locais que apresentam tecido conjuntivo e medula (rama, moreira, & delgado, 2020).

Os sinais e sintomas clínicos ocorrem através do aumento da produção ou liberação dos mediadores, que se disseminam na circulação hemolinfática e que provocam efeitos biológicos, sendo que a depender do local de acometimento os sinais e sintomas podem ser individualizados, exceto pelos sintomas constitucionais comum a doença. As alterações hematológicas de forma geral encontradas são anemia, trombocitopenia, leucopenia, eosinofilia e basofilia. Por outro lado o diagnóstico específico consiste em biópsia de medula óssea ou outro tecido (zenero, et al., 2022).

Dessa forma, a doença necessita de diagnóstico precoce para logo iniciar o tratamento, a fim de controle dos sintomas, minimizar danos orgânicos e prolongar sobrevida, entretanto, nem sempre é possível, e a doença é diagnosticada de forma mais tardia (zenero, et al., 2022).

Frente a isso, o trabalho foi baseado em análise de prontuário de uma paciente diagnosticada com determinada enfermidade, a fim de enriquecer meio científico e dessa forma proporcionar e difundir um diagnóstico mais precoce.

Fundamentação teórica

Mastocitose é caracterizada pela proliferação e consequentemente acúmulo de mastócitos na pele e/ou órgãos e tecidos, principalmente na medula óssea e no trato gastrointestinal (rama, moreira, & delgado, 2020).

A mastocitose pode ser dividida, de acordo com a classificação da World Health Organization (WHO) em mastocitose cutanea, mastocitose sistêmica indolente, mastocitose sistêmica associada a clonagem hematopoietica não mastocítica, mastocitose sistêmica agressiva, leucemia mastocitária, sarcoma mastocítico e mastocitoma extracutânea (maluf, filho machado, & barros, 2009).

Epidemiologicamente e sucintamente a mastocitose cutanea apresenta-se frequentemente na infancia, até 1 ano de vida. Por outro lado, a mastocitose sistêmica inicia-se a partir da 3° década de vida (fernandes & cestari, 2002).

O relato descrito terá como foco a leucemia mastocitária, enfermidade rara, com altas taxas de mortalidade, sobrevida média inferior a 6 meses (fernandes & cestari, 2002).

Cabe ressaltar que o mastócito origina da célula pluripotencial (CD 34+) e ao atingir tecido específico sofre maturação plena, assumindo morfologia definitiva. Os fatores que regulam o número e a diferenciação da respectiva célula são stem cell fator (SCF ou ligante C-KIT), do fator de crescimento do nervo e de outros mecanismos. Dessa forma, defeitos no C-KIT ou no gene do SCF acarretariam em mutações proto-oncogene, é o caso da mutação no C-KIT D816V, frequentemente detectada na mastocitose sistêmica (zanelli , 2023).

Clinicamente, sintomas constitucionais (febre, perda de peso e fraqueza) são os responsáveis pelo início do quadro clínico, é comum manifestação consistente com diagnóstico de úlcera péptica antes do diagnóstico da leucemia. Além disso, hepatoesplenomegalia e linfadenopatia periférica normalmente estão presentes (lavialle, 2013).

O diagnóstico baseia-se na presença de critérios, sendo necessário um critério maior e um menor ou três critérios menores (zanelli , 2023).

  • Critério maior: múltiplos infiltrados densos de mastócitos (> ou = 15 mastócitos agregados) na biópsia de medula óssea e/ou em outro tecido extracutanea,   confirmados   pela imuno-histoquímica ou outra coloração específica (zanelli , 2023).
  • Critérios menores: 25% ou mais de mastócitos alongados ou com morfologia atípica na biópsia de medula óssea ou de outros tecidos extracutaneo; detecção da mutação KIT no códon 816 na medula óssea, sangue ou outro tecido extracutaneo; presença de mastócitos na medula óssea, sangue ou outro tecido extracutânea com a coexpressão do CD 117 com CD2 e/ou CD25; triptase sérica persistentemente > 20ng/ml (zanelli , 2023).

Em relação ao tratamento não existem abordagens de tratamento padrão, devido a raridade da condição (silva, et al., 2017). Entretanto, estudos mostram eficácia com citorredutores (alfa-interferon, 2-clorodeoxiadenosina – cladribine e 2-cda). Alguns estudos sugerem que a esplenectomia pode prolongar a vida desses pacientes, entretanto, há controversias, assim como uso de corticoides sistêmicos. Terapia curativa consiste no transplante de medula óssea (lavialle, 2013).

Portanto, é nítido que a leucemia mastocitária é uma comorbidade rara, ainda em processo de estudos para melhor elucidação, principalmente, na parte do tratamento clínico; dessa forma, torna-se essencial relatos de casos que tragam para o meio científico as apresentações clínicas, assim como respostas aos tratamentos terapêuticos.

Metodologia

O trabalho foi realizado em formato de relato de caso, e os métodos empregados foram revisão de prontuário, com base na história clínica da paciente, revisão de exames laboratoriais e de imagem, assim como imunofenotipagem e o tratamento instituído com evidências de evolução clínica.

Os beneficios do relato se baseiam no quesito informação, pois possibilitará conhecimentos clinicos sobre uma comorbidade rara.

A descrição do relato consiste em uma única paciente, em que o diagnostico foi realizado a nivel hospitalar e posteriormente seguimento ambulatorial.

Relato de caso

Paciente MTL, sexo feminino, 44 anos, diabetica insulinodependente, relata dor de moderada a grande intensidade em região lombar há 3 meses da admissão associado a perda ponderal de 35kg no periodo citado e sudorese noturna. Além disso, relata que há 1 mês evoluiu com redução abrupta de movimentos em membros inferiores.

A princípio avaliada pela equipe de neurocirurgia detectado lesão expansiva comprometendo a musculatura paravertebral de C2 a C5 e torácica posterior, iniciando-se no nível C7-T1 estendendo-se até a transição toraco-lombar, além de aumento do número de linfonodos cervicais com linfonodomegalias.

Frente ao quadro realizado biopsia cervical e descompressão toracica, entretanto biópsia apresentou-se inconclusiva; assim como realização de mielograma, presença de 26% de mastócitos. Além disso, em tomografia de tórax visualizado espessamento pleural nodular, não podendo excluir neoplasia pleural. Realizado toracocentese com análise de líquido pleural evidenciando células neoplásicas positiva, sugestivo de doença linfoproliferativa, por outro lado biópsia de pleura descartou achados histológicos de malignidade na amostra, excluindo a principio uma neoplasia de pleura.

Material do líquido pleural foi encaminhado para imunofenotipagem, com seguinte resultado população 1 (45,5% celulas) – cd 45dim, cd117++, cd25+, cd 33+, cd 123 -, cd 22 – e hla-dr- e população 2 (20,2% de celulas) – cd 17-, cd 25+, cd 33+, cdl 123-, cd 22-, hla-dr-, cd45dim; população 1 compatível com mastocitos e população 2 compatível com linhagem mieloide, logo sugestivo de leucemia mastocitaria, prescrito tratamento quimioterápico com cladribrina por 5 dias seguidos.

Durante internação paciente evoluiu com infecção de corrente sanguínea com foco no acesso venoso central associado a infecção do trato urinário realizado tratamento com meropenem e vancomicina durante 14 dias, sendo necessário leito em unidade de terapia intensiva, com melhora clínica , apta a alta para enfermaria, onde apresentou queda da propria altura, detectado fratura de fêmur distal direito sem indicação cirúrgica, com possibilidade de alta para casa.

Entretanto, paciente retorna ao serviço, devido quadro de dispneia súbita associado a desconforto respiratório, aventada hipótese de tromboembolismo pulmonar, descartado por angiotomografia sem presença de falhas de enchimento, mantendo como hipótese sepse de foco cutâneo (úlcera sacral infectada) e derrame pleural bilateral (líquidos exsudativo), iniciado tratamento com meropenem e vancomicina durante 14 dias, nessa internação apresentando pancitopenia, realizado controle com transfusões sanguíneas esporadicas, conforme tolerabilidade e afim de manutenção de estabilidade clínica. Após término de antibioticoterapia com condições de alta médica.

Porém, apresentou novo episódio de dispneia súbita com desconforto respiratório, sem instabilidade clínica para realização de angiotomografia, optado por anticoagulação plena. Frente ao quadro clínico e laboratorial, optado por abordagem de cuidados paliativos para a respectiva paciente, a fim de proporcionar cuidados proporcionados de vida e evitar sofrimento, assim como medidas invasivas. Paciente evolui para óbito nos próximos dias.

Conclusões

Diante do exposto fica claro o diagnóstico de leucemia mastocitaria, com base no achado do mielograma (critério menor) associado a imunohistoquimica com achados característicos (critério maior).

Dessa forma, o presente estudo tinha como objetivo trazer ao meio científico um relato de caso de uma enfermidade rara, a fim de proporcionar maior conteúdo e conhecimento para população médica com foco em um diagnóstico mais precoce, visto prognóstico muito desfavorável da enfermidade.

Referências

1. Fernandes, i. e., & cestari, t. (10/03/2002 de março de 2002). mastocitose na infancia: estudo anatomopatologico e imuno-histoquimico. mastocitose na infancia: estudo anatomopatologico e imuno-histoquimico. porto alegre, rio grande do sul, brasil: dissertação de mestrado.

2. Maluf, l., filho machado, c., & barros, j. (2009). mastocitose. an brasileira dermatologia, 213-225.

3. Rama, t., moreira, a., & delgado, l. (2020). abordagem diagnóstica e terapêutica das mastocitoses – uma proposta de orientação clinica. revista port imunoalergologia, 1-19.

4. Silva, p., matorelli, f., dullius, j., gonçalves, s., sanchez, m., ruiz, e., & cruz, g. (2017). leucemia de mastocitos: relato de caso. scientific eletronic archives, 1-5.

5. Lavialle, sophie georgin; dubreuil, patrice; chandesris, marie olivia; hermine, olivier; damaj, gandhi. mast cell leukemia. 8. ed. paris, france: georgin-lavialle, 2013. 1285-1295 p. v. 121.

6. Zanelli , magda; quintini, martina; magnasco, salvatore; aprile, lara; palicelli, andrea; zizzo, maurizio ; sanguedolce, francesca. mast cell leukemia: an update with a pratical review. 15. ed. italy: sérgio pina-oviedo, 2023. 1-17 p. v. 1.

7. Zenero, p., lima, g., elias, m., almeida, i., carvalho, l., marchi, l., . . . rocha, v. (2022). leucemia de celulas mastocitárias: relato de caso de uma doença pouco conhecida. hematol transfus cell ther, 161-162.