RELATO DE CASO: CORPO ESTRANHO ACESSANDO DANGER SPACE. 

CASE REPORT: FOREIGN BODY ACCESSING DANGER SPACE.

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/dt10202506271520


Thaís Antônia dos Anjos Ramos1; Flávio Cabral de Freitas Amaral2; Luanna Eugênia Camargo3; Amábille de Oliveira Martins4; Walquiria Gelinski Henicka5; Carlos Eduardo Dantas de Menezes6; Rayna Ferrer de Souza Gonçalves7


RESUMO

INTRODUÇÃO: As perfurações cervicais por corpos estranhos são incomuns, em especial no  espaço retrofaríngeo – danger space. Sua abordagem cirúrgica, bem como a técnica utilizada, depende da topografia e grau de lesão das vísceras cervicais e do desenvolvimento de sinais e  sintomas de infecção cérvico- mediastinal, guiadas pelo tempo de desenvolvimento do evento perfurante e sua adequada avaliação e manejo em centro especializado. OBJETIVO: Registrar a  ocorrência do trauma cervical perfurante por corpo estranho – fragmento ósseo de frango – com  lesão de laringe e hipofaringe dando origem a enfisema cervico-mediastinal em danger space, suas  correlações anátomo-clínicas, abordagem precoce e conduta resolutiva em centro especializado.  RELATO DE CASO: Indivíduo de 53 anos, sexo masculino, com deglutição de corpo estranho há  cerca de 2 horas da avaliação médica em pronto atendimento especializado de otorrinolaringologia. Apresentando ferimento perfurante na região cervical anterior, o corpo estranho alojou-se  majoritariamente em seio piriforme direito, com uma porção perfurando a parede posterior da  hipofaringe, continuando o pertuito até o danger space. Não há caso semelhante relatado na  literatura médica. A documentação radiológica é apresentada neste artigo. Apesar do potencial de  gravidade da lesão, paciente evoluiu bem após abordagem e não necessitou de abordagem cirúrgica  posterior à retirada do corpo estranho por vídeo laringofaringoscopia direta rígida. CONCLUSÃO:  O caso em questão documenta através de exames de imagem a complexa anatomia do espaço  retrofaríngeo e cervicais profundos, demonstrando a possibilidade de abordagem minimamente  invasiva em lesões traumáticas de laringe e hipofaringe, mediante avaliação adequada por  especialista e resoluta conduta tendo a acessibilidade de exames de imagem e intervenção vídeo  laringofaringoscopica.

Palavras-chave: corpo estranho perfurante ; corpo estranho cervical ; corpo estranho retrofaríngeo ;  corpo estranho em danger space. 

ABSTRACT

INTRODUCTION: Cervical perforations by foreign bodies are uncommon, especially in the  retropharyngeal space – danger space. Its surgical approach, as well as the technique used, depends  on the topography and degree of lesion of the cervical viscera and the development of signs and  symptoms of cervical- mediastinal infection, guided by the time of development of the piercing  event and its adequate evaluation and management in a specialized center. OBJECTIVE: We aim to  record the occurrence of piercing cervical trauma by a foreign body – chicken bone fragment – with  lesion of the larynx and hypopharynx giving rise to cervico-mediastinal emphysema in danger  space, its anatomical-clinical correlations, early approach and resolutive conduct in a specialized  center. CASE REPORT: Individual of 53 years, male, with foreign body swallowing about 2 hours  of medical evaluation in specialized otorhinolaryngology emergency room. Presenting a perforating  wound in the anterior cervical region, the foreign body lodged mostly in the right piriform sinus,  with a portion piercing the posterior wall of the hypopharynx, continuing the pertuito to the danger  space. There is no similar case reported in the medical literature. The radiological documentation is  presented in this article. Despite the potential severity of the injury, the patient evolved well after  approach and did not require a surgical approach after the removal of the foreign body by rigid  direct laryngopharyngeal video. CONCLUSION: The case in question documents through imaging  examinations the complex anatomy of the retropharyngeal space and deep cervicals, demonstrating  the possibility of a minimally invasive approach in traumatic lesions of the larynx and hypopharynx,  upon adequate evaluation by a specialist and resolute conduct having the accessibility of imaging  exams and laryngopharyngealscopic video intervention. 

Keywords: Piercing foreign body ; cervical foreign body ; retropharyngeal foreign body ; foreign  body in danger space. 

1. Introdução 

As perfurações cervicais por corpos estranhos (CE), com exceção aos ferimentos perfuro  cortantes ou armas de fogo, possuem uma casuística rara na literatura médica. Uma vez que as  perfurações que acessam essa topografia são raras. O espaço retrofaríngeo; danger space; espaço alar é um compartimento profundo da cabeça e  pescoço localizado posteriormente ao espaço retrofaríngeo e anterior ao espaço pré vertebral (entre  as divisões alar e pré-vertebral da camada profunda da fáscia cervical profunda), estendendo-se da  base do crânio até o mediastino. fig 1. Sendo seus limites compostos anteriormente pela fáscia alar,  posteriormente pela camada pré vertebral da fáscia cervical, superiormente pelo clivus na base do  crânio e inferiormente pelo mediastino posterior ao nível do diafragma.1.2

Fonte: Autores, 2024.

As lesões de laringe e hipofaringe que acessam essa região por trauma decorrente de agente  externo são raras e quando ocorrem, podem levar ao comprometimento das vias aéreas e digestivas  superiores (VADS), além de complicações como lesões vasculares, neurais e infecções dos espaços  cervicais profundos e do mediastino. 1.2 

Apesar dessas potências complicações, os traumas da laringe e hipofaringe podem ser tratados de  maneira conversadora. Fica reservado a abordagem cirúrgica para casos selecionados, como nas  lesões extensas das vísceras cervicais ou quando há sinais ou sintomas de abscesso cervical.1.3 Para a  tal manejo é necessário avaliação clínica direcionado, exame físico adequado e a possibilidade de  uso da laringofaringocospia direta com aparelho rígido ou flexível e exame de tomográfico da região pescoço e tórax.4.5 Além do treinamento técnico e habilidade cirúrgica do médico  otorrinolaringologista que conduzirá o procedimento.

2. Relato do Caso 

Indivíduo masculino, 53 anos de idade, cor branca, busca atendimento em pronto atendimento  especializado em otorrinolaringologia com relato de ingesta alimentar – pedaço de frango – há cerca  de 2 horas com sensação de corpo estranho em orofaringe. Paciente relata odinofagia discreta, sem  prejuízo à fonação. Nega dispneia ou desconforto respiratório. Nega tosse ou hemoptise. Nega  limitação ou dor à mobilidade de região cervical. O paciente apresenta se, ao exame físico,  eupneico, ausência de sialorréia excessiva, fonação adequada, com mobilidade cervical preservada e  abertura bucal sem restrições. Não há referência de dor à palpação cervical e ausência de enfisema  em tecido subcutâneo. Em oroscopia direta, não há visualização de corpo estranho ou sangramentos  de mucosa. A tomografia de pescoço mostra CE junto à 6ª vértebra cervical e enfisema em danger space. Fig  2 ; Fig 3 ; Fig 4. Não foi observado qualquer imagem sugestiva de coleções ou acometimento de  estruturas neurais e vasculares.

Fonte: Autores, 2024.

O exame endoscópico por vídeo laringofaringocospia direta com ótica rígida, sob anestesia local  com xilocaína 10%, visualiza corpo estranho majoritariamente em seio piriforme direito, com uma  porção perfurando a parede posterior da hipofaringe, continuando o pertuito até o danger space. Fig 5. Sendo o mesmo retirado com auxílio de pinça girafa giratória 360° Fig6. em primo tentativa  realizando pinçamento com anteriorização e abaixamento do CE a fim de retirar com menor trauma  possível à mucosa e não expandir o orifício de penetração do CE. O procedimento é realizado sem  intercorrências, com retirada de CE íntegro, com mínimo sangramento em orifício de penetração.

Fora instituído ao paciente profilaxia antimicrobiana, orientações sobre sinais de alarme, restrições  dietéticas e controle de imagem 7 dias após o ocorrido. O paciente evoluiu favoravelmente, com  ausência de queixas clínicas e imagens de controle mostrando reabsorção do enfisema cervico mediastinal. Fig 8 ; Fig 9. 

3. Conclusão 

O caso em questão documenta através de exames de imagem a complexa anatomia do espaço  retrofaríngeo e cervicais profundos, demonstrando a possibilidade de abordagem minimamente  invasiva em lesões traumáticas de laringe e hipofaringe, mediante avaliação adequada por  especialista e resoluta conduta tendo a acessibilidade de exames de imagem e intervenção vídeo  laringofaringocospica com benefício total ao paciente minimizando o risco de desenvolvimento de  complicações ou sequelas. 

4. Referências Bibliográficas 

1. Fetterman BL, Shindo ML, Stanley RB, Armstrong WB, Rice DH. Management of traumatic  hypopharyngeal injuries. Laryngoscope 1995; 105:8-13. 

2. McConnell DB, Trunkey DD. Management of penetrating trauma to the neck. Adv Surg 1994;  27:97-127. 

3. Maunder RJ, Pierson DJ, Hudson LD. Subcutaneous and mediastinal emphysema.  Pathophysiology, diagnosis, and management. Arch Intern Med 1984; 144:1447-1453 

4. Johnson JT. Abscesses and deep space infections of the head and neck. Infect Dis Clin North Am 1992; 6:705-717.

5. Kiukaanniemi MAJH, Pirilä T, Jokinen K. Perforation in hypopharynx and deep cervical  emphysema caused by blunt external trauma. Mil Med 1995; 160:479-481.


1Médica residente em Otorrinolaringologia pelo Hospital Otorrino de Cuiabá, Cuiabá, MT.
Email: thaisramos0@gmail.com, ORCID: https://orcid.org/0009-0009-9475-122X

2Médico Otorrinolaringologista pelo Hospital Otorrino de Cuiabá, Cuiabá, MT.
Email: flaviocabralorl@gmail.com, ORCID: https://orcid.org/0009-0006-9093-748X

3Médica residente em Otorrinolaringologia pelo Hospital Otorrino de Cuiabá, Cuiabá, MT. Email:luanninhacamargo@hotmail.com, ORCID: https://orcid.org/0009-0008-5643-359X

4Médica residente em Otorrinolaringologia pelo Hospital Otorrino de Cuiabá, Cuiabá, MT. 
Email: aamabillemartins@gmail.com, ORCID: https://orcid.org/0009-0007-2731-5415

5Médica residente em Otorrinolaringologia pelo Hospital Otorrino de Cuiabá, Cuiabá, MT.
Email: walquiriahenicka@hotmail.com, ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7057-9212 

6Médico residente em Otorrinolaringologia pelo Hospital Otorrino de Cuiabá, Cuiabá, MT.  Email:dantaseduardodr@outlook.com, ORCID: https://orcid.org/0009-0008-5982-1264

7Médica, pela Universidade de Cuiabá , Cuiabá, MT.
Email:rah_ferrer@hotmail.com, ORCID: https://orcid.org/0009-0000-2240-4557