RELATO DE CASO: CÃO COM SARNA DEMODÉCICA

CASE REPORT: DOG WITH DEMODECTIC MANGE

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202410100758


Beatriz Belo do Amaral Lima;
Hermes dos Santos Bentos;
Luana Alves dos Santos;
Victoria Nascimento Araújo;
Orientador: Pedro Enriquece Navas Suárez


Resumo 

O ácaro da espécie Demodex, faz parte normalmente dos folículos pilosos e nas glândulas  sebáceas da pele dos mamíferos. Em cães o gênero é Demodex canis, que por algumas  circunstâncias como falha na imunidade celular, eles podem se multiplicar excessivamente e levar  a condições de pele, como a Demodiciose, também conhecida como “sarna demodécica”. Com  tudo é importante ressaltar que a Demodicose é classificada como: Demodiciose Localizada e  Demodiciose Generalizada . Quando Demodicose localizada o tratamento e agudo considerado  leve. Quando acomete a Demodicose generalizada na grande maioria dos casos é classificado  como severa e o tratamento tende a ser mais longo, podendo ter presença de bactérias oportunistas,  causando infecções secundarias, que pode levar os animais a óbito.  

Palavras-chave: Demodex canis; Demodicose; Cães;  

INTRODUÇÃO 

O ácaro Demodex é naturalmente encontrado na pele dos mamíferos. Geralmente não é um  ácaro prejudicial à saúde da pele. Mas em casos de imunossupressão, endoparasitísmos,  subnutrição ou período de estresses, pode haver a população excessiva causando lesões  cutâneas. O ácaro mede cerca de 100 micrômetros, cada mamífero tem afinidade a determinada  espécie deste ácaro, sendo que os canídeos são parasitados pelo Demodex canis. (SALZO,  2008).  

A Demodicose canina ou, mais conhecida popularmente como sarna demodécica, é uma  dermopatia parasitária inflamatória causada pelo ácaro do gênero Demodex canis em cães. Que  atua nos folículos pilosos nas glândulas sudoríparas da pele, o ácaro D. Sp., é adquirido pelo  animal através do contato direto com a mãe durante os primeiros dias de vida (ROCHA, 2008).  Esses ácaros se alimentam das células presentes na pele, penetrando profundamente no epitélio  e desencadeando um processo inflamatório com prurido intenso e crostas hemorrágicas,  alopecias e lesões decorrente de um intenso prurido, causando desconforto ao animal  (PICCININ et al., 2008)  

A Demodicose canina pode ser classificadas como Demodicose Localizada e Demodiciose  Generalizada.Quando Demodicose Localizada, o tratamento é agudo considerado leve. Quanto  acomete a Demodiciose Generalizada é a forma mais grave da doença e se apresenta como uma dermatite crônica com liquidificação, descamação, formação de crostas, hiperpigmentação,  piodermite e alopecia, atingindo grandes áreas do corpo (Medleau, 2003), na grande maioria dos  casos é classificado como severa e o tratamento tende a ser mais longo, podendo ter presença de  bactérias oportunistas, causando infecções secundarias. (SANTAREM, 2007)  

O diagnóstico é feito por um médico veterinário através de citologia da pele e análise em  microscópio. O tratamento varia com base na gravidade da doença e na idade do cão. A  demodicose localizada, geralmente responde bem a medicamentos antiparasitários tópicos ou  orais. A demodicose generalizada requer tratamento mais extenso, incluindo medicações  tópicas, orais e, em casos graves, antibióticos para tratar infecções secundárias. (NETO &  RUSCHEL, 2018)  

Embora não seja contagiosa para pessoas, algumas medidas podem ajudar a prevenir a  doença em cães como manter o sistema imunológico do cão forte com dieta balanceada,  exercícios regulares e ambiente livre de estresse, além de realizar consultas veterinárias  regulares, especialmente se o cão apresentar sinais de problemas de pele. (NETO & RUSCHEL,  2018).  

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA OU REVISÃO DA LITERATURA 

1 ETIOLOGIA  

 O Demodex canis pertence ao filo Arthopoda, subfilo Chelicerata, classe Arachinida,  subclasse Acari, ordem Acarina, subordem Trombidiforme, família Demodecidae  (SANTAREM, 2007)  

Morfologicamente, esses ácaros possuem o corpo dividido em cefalotórax e abdômen.  A forma larval é constituída de três pares de patas, a forma adulta e ninfa possuem quatro  pares de patas. (CORDERO DEL CAMPILLO et al., 1999). Os ácaros masculinos são mais curtos que os ácaros fêmeos. O macho adulto tem um comprimento de 146- 251 µm,  enquanto a fêmea de 177-265 µm (IZDEBSKA & FRYDERYK, 2011).  

O ácaro do gênero Demodex canis apresenta cinco diferentes estágios: ovo, larva  hexápode, dois estágios de ninfas, como protoninfa e deutoninfas, e o último estágio como  adulto. O ciclo de vida desse ácaro dura em média 18 a 24 dias. (SANTAREM, 2007)  

2 EPIDEMIOLOGIA  

Acredita que alguns fatores contribuem para o desenvolvimento da doença como  fatores genéticos, principalmente na demodicose juvenil e fatores imunológicos como  queda de resistência, imunossupressão, endoparasitismo, má nutrição, doenças sistêmicas  graves e uso de medicamentos que suprimem a ação do sistema imunológico  (DALL’ASTA, 2011).O ácaro D. Canis não é contagioso para humanos, e é rara em outros  animais e ocorre quando ácaros se proliferam desequilibrando a relação parasita hospedeiro.A demodiciose pode ser recorrente de uma imunossupressão por algumas  patologias como diabetes mellitus, alergias alimentares ou medicamentosas, doenças  hepáticas, neoplasias, hipotiroidismo, hiperadrenocorticismo e a administração de drogas  imunossupressoras também pode predispor à doença (FOSTER, 2000).  

3 PATOGENIA  

Demodex canis está presente em pequeno número na pele da maioria dos cães  normais. Os filhotes adquirem infestação por D. canis de suas mães durante o período de  amamentação, e a maioria dos casos de sarna demodécica ocorre entre 3 e 6 meses de  idade. Os cães afetados abrigam populações de D. canis muito maiores do que o  normal, resultado de imunodeficiência. Se as lesões permanecerem localizadas, o  prognóstico de recuperação clínica é excelente; A maioria desses casos é leve, e os animais  se recuperam espontaneamente com o alcance da maturidade sexual. No entanto, alguns casos persistem; Estes tendem a tornar-se generalizados e intratáveis e podem revelar-se  fatais. (BOWMAN, 2010)  

4 SINAIS CLÍNICOS  

D. Canis, se manifesta com discreta alopecia, com eritema e descamação, podendo  aparecer também, lesões como pápulas, pústulas, crostas e secreção piosanguinolenta  quando ocorre piodermite secundária. Na medida que a doença retrocede, é possível  observar mudanças na pele, como hiperpigmentação, aumento da espessura e alterações na  produção de oleosidade. Alguns animais podem apresentar sintomas de febre, prostração,  anorexia, e linfonodos reativos (DALL’ASTA, 2011).  

Na forma demodicose generalizada apresenta descamação na pele, formação de  crostas, liquenificação, descamação, eritema, hiperpigmentação e alopecia podem resultar  em escala de prurido moderado ao intenso e subsequente ato de coçar a área, ou de  piodermatite secundaria na forma de foliculite, furunculose ou celulite (WILLEMSE, 1998.  KUZNETSOVA et al., 2012).  

A demodicose na forma localizada manifesta-se de maneira restrita, afetando áreas  específicas do corpo, como o focinho e as patas, geralmente ocorre em formas de manchas  redondas de alopecia com discreto descamação e eritema, ou como máculas eritematosas  (WILLEMSE, 1998). Esta forma localizada da doença tende a resolver-se  espontaneamente, mas pode reaparecer na fase adulta do animal, desta vez manifestando-se  de forma generalizada. (SILVA, 2008).  

5 DIAGNÓSTICO  

Diagnóstico é através do raspado cutâneo profundo, a pele afetada deve ser raspada  na direção dos pelos, até que se observe sangramento capilar, tendo como recomendação a  compressão da pele durante a raspagem para expulsar os ácaros dos folículos pilosos,  porém, as lesões nas patas e na face são mais difíceis de raspar (BENSIGNOR, 2003). O diagnóstico se dá quando é observado muitos ácaros adultos ou pelo achado de uma relação  aumentada de ovos, larvas ou ninfas em relação aos adultos. Quando acomete a  demodicose localizada é difícil achar um ácaro no raspado, mas não devemos descartar a  hipótese do animal estar com a doença, portanto o melhor seria realizar vários raspados  antes de se excluir o diagnóstico (SCOTT; MULLER; GRIFFIN, 2017).  

A confirmação diagnóstica deve ser estabelecida sempre que um raspado cutâneo de  um animal com clínica compatível de demodiciose apresentar cinco ou mais ácaros por  campo. Nos casos da D. Canis em animais jovens o resultado deve ser feito o raspados de  pele, aos dois, seis e doze meses. Se após esse período o resultado do terceiro raspado for  negativo podemos considerar que o animal está curado, mas pode ocorrer recidivas em cães  adultos mesmo tratados quando jovens. (SANTAREM, 2007).  

5.1 EXAME PARASITOLÓGICO DO PELAME (EPP)  

O exame parasitológico de pelame é uma opção menos invasiva e é recomendado para  animais que têm dificuldade em realizar o exame parasitológico de raspado cutâneo,  especialmente em áreas como a região periocular, onde as lesões podem dificultar a coleta  adequada de amostras. (SALZO,2008)  

A técnica consiste na remoção do pelame, onde o material coletado é colocado em  uma lâmina de vidro contendo gotas de hidróxido de potássio a 10%. Em seguida, a lâmina  é coberta por uma lamínula e examinada ao microscópio para análise. (DELAYT, 2002).  

 Impressão em fita adesiva (IFA)  

A técnica de impressão com fita adesiva é realizada beliscando a pele lesionada para  expor os ácaros presentes no folículo piloso. Em seguida, a face adesiva da fita é  pressionada sobre a área comprimida, capturando os ácaros e resíduos para análise  posterior. (MOTTA;HAYECK, 2008). Após esse procedimento, a fita é colada em uma  lâmina de vidro e analisada ao microscópio óptico com ampliações de 40X e 100X. 

(MOTTA; HAYECK, 2008). A técnica de impressão em fita adesiva demonstrou ser eficaz  no diagnóstico da demodiciose canina em comparação com o exame parasitológico de  raspado cutâneo. Além disso, apresenta a vantagem de ser de baixo custo e de fácil  execução. Outro benefício é que não causa danos à pele do animal, evitando assim qualquer  desconforto e não desapontando os proprietários. (MOTTA e HAYECK, 2008)  

5.2 EXAME HISTOPATOLÓGICO  

 O exame histopatológico é um teste de diagnóstico adequado, especialmente quando  há suspeita de demodiciose e os raspados cutâneos comuns resultam negativos. Isso é  particularmente frequente em pacientes que apresentam lesões crônicas ou cicatrizes, como  nos casos de pododemodiciose. Além disso, cães da raça Shar Pei são conhecidos por terem  dificuldades na realização de raspados cutâneos eficazes, o que pode exigir a utilização do  exame histopatológico para obter um diagnóstico preciso. (KINGA, 2006).  

 A biópsia cutânea revela diferentes graus de perifoliculite, foliculite e furunculose. Os  folículos afetados estão preenchidos com ácaros, resíduos queratinosos e uma quantidade  variável de diversos tipos de células inflamatórias. É comum também observar a presença  de infecção bacteriana secundária. (SCOTT; MULLER; GRIFFIN, 2006).  

6 ACHADOS MACROSCÓPICOS  

 Na Demodiciose canina localizada são observadas lesões com áreas alopecia,  eritematosa e eritrodermia. (DELAYTE, et al. 2006). Essas manchas podem variar em  tamanho e cor, apresentando diferentes tonalidades na pele afetada. Essas lesões são tipicamente encontradas na face e nos membros anteriores do animal. (CARLTON et  al.,1998).  

7 ACHADOS MICROSCÓPICOS  

No exame microscópico, observa-se perifoliculite linfoplasmocitária acompanhada de  hiperqueratose, adenite sebácea e uma leve degeneração focal das células do estrato basal.  Além disso, é comum encontrar incontinência pigmentar e a presença de ácaros dentro dos  folículos pilosos, localizados principalmente no terço superior dos mesmos. (CARLTON et  al.,1998).  

8 TRATAMENTO  

O tratamento da demodicose canina envolve uma abordagem terapêutica multifacetada,  com o uso de diferentes classes de medicamentos, incluindo antibióticos, anti-histamínicos,  corticosteroides, ectoparasiticidas, além de banhos terapêuticos. A escolha dos  medicamentos e a duração do tratamento variam de acordo com a gravidade da condição e  a resposta do animal. (LARSON & LUCAS,2022)  

8.1 ANTIBIOTICOTERAPIA  

A antibioticoterapia desempenha um papel fundamental no manejo de infecções  bacterianas secundárias frequentemente associadas à demodicose canina. O uso de  antibióticos visa controlar a proliferação bacteriana que pode complicar o quadro clínico,  agravando as lesões cutâneas e retardando a recuperação do animal. Entre os antibióticos  comumente utilizados no tratamento da demodicose, destacam-se a Cefalexina, a  Amoxicilina associada ao Clavulanato, a Cefovecina e a Enrofloxacina. A escolha do antibiótico é baseada na gravidade da infecção, e a duração do tratamento varia de 15 a 30  dias, dependendo da resposta do animal.  

A Cefalexina é um antibiótico de amplo espectro frequentemente prescrito para  infecções cutâneas bacterianas devido à sua eficácia e segurança. A Amoxicilina com  Clavulanato, por sua vez, oferece uma excelente cobertura contra bactérias resistentes,  enquanto a Cefovecina, com sua formulação de liberação prolongada, proporciona  conveniência ao reduzir a necessidade de doses frequentes. (WAGNER, R.2000)  

8.2 ANTI-HISTAMÍNICO  

Os anti-histamínicos desempenham um papel importante no controle dos sintomas  associados à demodicose canina, especialmente no alívio do prurido. O prurido é uma das  principais queixas clínicas em casos de demodicose, frequentemente resultando em  irritação da pele e lesões adicionais provocadas pelo ato de coçar. Entre as opções  terapêuticas para o controle do prurido, destacam-se os anti-histamínicos. Fumarato de  clemastina: administrado na dosagem de 0,05 a 0,1 mg/kg, duas vezes ao dia (BID), é uma  escolha comum para reduzir o desconforto e a resposta inflamatória. (OLIVEIRA, Leticia,  2021).  

Hidroxizina: utilizada em doses de 2 a 3 mg/kg, por via oral, com a frequência de duas a  três vezes ao dia (BID/TID), a hidroxizina atua como um potente agente anti-histamínico,  promovendo o alívio dos sintomas cutâneos. Cetirizina com uma dosagem de 0,5 a 1  mg/kg, administrada uma vez ao dia (SID), a cetirizina é conhecida por seu efeito anti histamínico prolongado, sendo uma opção prática para a rotina de tratamento.  Fexofenadina prescrita na dose de 18 mg/kg, por via oral, uma vez ao dia (SID), a fexofenadina é outra alternativa eficaz no manejo do prurido. (CRIVELLENTI, Leandro Z.  2023)  

Esses medicamentos são administrados por períodos que podem variar de 7 a 30 dias,  dependendo da gravidade dos sintomas e da resposta clínica do paciente. Além de  proporcionar alívio ao animal, o uso dos anti-histamínicos contribui para a prevenção de  lesões cutâneas secundárias ao ato de coçar, evitando complicações no quadro clínico. A  escolha do anti-histamínico mais adequado deve considerar a resposta individual do  paciente e possíveis efeitos adversos. (OLIVEIRA, Leticia, 2021)  

8.3 CORTICÓIDE  

Os corticosteróides, como a prednisona, são medicamentos potentes com ação anti inflamatória e imunossupressora, amplamente utilizados no controle de doenças  dermatológicas inflamatórias. No contexto da demodicose canina, o uso desses fármacos  deve ser cuidadosamente monitorado, uma vez que sua ação imunossupressora pode  agravar a infecção subjacente, especialmente se não administrados corretamente. A  dosagem recomendada de prednisona é de 0,5 mg/kg, administrada por via oral, podendo  ser dada uma ou duas vezes ao dia (SID/BID), dependendo da gravidade do quadro clínico.  Devido ao risco de exacerbação da infecção demodécica, o uso dos corticosteróides deve  ser restrito a um período limitado, entre 4 e 7 dias. Durante esse intervalo, é essencial  monitorar rigorosamente a resposta do animal, ajustando a terapêutica conforme a  necessidade clínica, sempre com o objetivo de evitar a imunossupressão prolongada, que  poderia comprometer a capacidade do organismo de combater o ácaro Demodex canis e as infecções bacterianas secundárias frequentemente associadas à demodicose.  (CRIVELLENTI, Leandro Z. 2023)  

8.4 ECTOPARASITICIDAS  

A eliminação do ácaro Demodex canis é essencial para o sucesso do tratamento da  demodicose, e os ectoparasiticidas são a base dessa abordagem terapêutica. Entre as opções  disponíveis, destacam-se as isoxazolinas, (CARITHERS et al., 2016), como fluralaner,  afoxolaner, sarolaner e lotilaner, administradas a cada 30-35 dias. A duração média do  tratamento com essas drogas é de aproximadamente três meses, sendo eficazes no controle  da infestação. Além das isoxazolinas, a ivermectina também é uma opção relevante, com  uma dosagem de 0,1 a 0,4 mg/kg, administrada por via oral ou subcutânea (SID) durante 7  dias, podendo ser repetida conforme necessário. (CRIVELLENTI, Leandro Z. 2023) O  monitoramento é feito por meio de raspados de pele ou exames impressos a cada 30 dias,  permitindo a avaliação contínua da resposta ao tratamento. Outras alternativas incluem a  moxidectina (1%, 0,05 mL/kg, VO/SC) e a doramectina (0,5-1 mg/kg, VO/SC), que podem  ser administradas a cada 72 horas, com acompanhamento rigoroso da evolução clínica.  (WAGNER, R.). No caso de raças sensíveis, como Collies e Border Collies, que possuem  maior suscetibilidade a drogas como a ivermectina, recomenda-se o uso da selamectina  (Revolution®), administrada a cada 21 dias. Deve-se evitar o uso desses fármacos em  filhotes com menos de três meses de idade, devido ao risco potencial de reações adversas  graves. (CRIVELLENTI, Leandro Z.2023)  

8.5 TRATAMENTO PARA DEMOCICOSE PERIOCULAR E PODAL  

Em casos específicos de demodicose periocular, o uso de Epitezan ou Amitraz diluído  em óleo mineral é indicado. Esses tratamentos tópicos devem ser aplicados diretamente nas  áreas afetadas a cada 72 horas, até a melhora clínica visível. Para demodicose podal, a  aplicação de pedilúvios com Amitraz diluído em água tem se mostrado eficaz, sendo  aplicados conforme a resposta clínica do animal. Esses tratamentos combinados, tanto sistêmicos quanto locais, visam controlar a proliferação do ácaro Demodex ,além de  prevenir e tratar infecções bacterianas secundárias. O manejo cuidadoso e o  acompanhamento regular são fundamentais para garantir a recuperação completa do  animal, minimizando complicações inflamatórias graves. (CRIVELLENTI, Leandro Z.  2023)  

8.6 BANHOS TERAPÊUTICOS  

Os banhos terapêuticos desempenham um papel fundamental no manejo da  demodicose canina, atuando tanto no controle da carga microbiana quanto na promoção da  hidratação e cicatrização das lesões cutâneas. A utilização de soluções antimicrobianas e  hidratantes é amplamente recomendada, sendo a clorexidina a 2-3% uma das substâncias  mais indicadas. Sua ação antimicrobiana potente auxilia na redução da colonização  bacteriana secundária, frequentemente presente em quadros de demodicose. (CARLOS,  Diana Isabel, 2014). A clorexidina pode ser associada à glicerina (2%) e à ureia (2-6%),  ambas substâncias com propriedades hidratantes e restauradoras da barreira cutânea. A  glicerina promove a retenção de umidade na pele, enquanto a ureia atua como um  queratolítico suave, facilitando a descamação e a renovação celular, além de melhorar a  capacidade da pele em reter água. Essas formulações são recomendadas para banhos  terapêuticos de 1 a 3 vezes por semana, dependendo da gravidade do quadro clínico.  (CRIVELLENTI, Leandro Z. 2023)  

A prática regular desses banhos não apenas reduz a carga de ácaros Demodex,mas  também contribui para o alívio do prurido e da inflamação, sintomas frequentemente  associados à demodicose. Além disso, a melhoria da hidratação cutânea acelera o processo de cicatrização das lesões e previne a formação de novas feridas, garantindo uma  recuperação mais eficaz e confortável para o animal. (CARLOS, Diana Isabel, 2014)  

9. RELATO DE CASO: CÃO COM SARNA DEMODÉCICA  

9.1- Introdução  

Um canino, fêmea, da raça Shih tzu de 7 meses de idade, não castrada, peso corporal  3kg, sem histórico de anteriores, deu entrada em clínica veterinária com a queixa principal,  lesões pelo dorso e região cervical. O animal apresentava comportamento ativo,  normodipsia e normorexia, normoquesia. Não apresenta êmese, vacinação e controle de  endoparasitas estavam atualizadas. No exame clínico temperatura sem alteração, mucosas  normocoradas, eritemas pelo dorso e região de pescoço do animal. Durante o tratamento  nessa clinica o animal apresentou uma piora do quadro indo para um prognostico reservado  a ruim. Apresentava anorexia, desidratação severa, êmeses e quadros de diarreias, havendo  uma piora nas lesões, atingindo quase o corpo inteiro do animal. Os tutores encaminharam  o animal para um hospital veterinário.  

9.2 – Anamnésico.  

06/10/2023 – Tutores relatam piora progressiva das lesões mesmo após início de  tratamentos anteriores. No momento estava fazendo uso de ração hipoalergênica Premier  Cordeiro. Refere diminuição de apetite, que paciente está cada vez mais prostrado e com  tremores. Relata que o animal se arrasta pelos moveis para se coçar. Já usou shampoo com  clorexidina, miconazol, gaviz, cefaxilord, omega 3, otogard, agemox em tratamentos  anteriores.  

No exame animal apresentava mucosas hipocorada, taquipneica, desidratação leve, com  desconforto abdominal, apático, prostado, e com o escore corporal baixo. A pele estava com odor fétido, eritemas com secreção purulenta e postulações distribuído pelo corpo.  Presença de ulcera de córnea bilateral.  

Foi solicitado em exames laboratoriais, como raspado de pele, hemograma e  bioquímico.  

Em retorno tutora relata que houve melhora significativa. Paciente está mais ativa, não  está apresentando prurido e houve melhora na pele. Normorexia, normodipsia,  normoquesia e urina sem alteração. Nega êmese e diarréia. Exame físico mucosas  normocaradas, temperatura 39, 1°C. Melhora significativa nas lesões com vesículas,  paciente mais ativa.  

No terceiro retorno tutora relatava que paciente está ativa, brincando e com ótimo  apetite. Relata que saiu cerúmen fétido em ouvido (bilateral) presença de menios cefálico e  prurido. Em exame físico mucosas noemocoradas, melhora no aspecto geral da pele. No  conduto auditivo bilateral presença castanha e eritema. Foi mantido tratamento já  prescrição anteriormente. Nosocomial limpeza de ambos condutos auditivos.  

No quarto retorno tutora relata ótima melhora do paciente, bom estado geral. Nega  prurido ou lambedura de pata, paciente está ativa e dormindo bem, relata normorexia ,  normodipsia ,normoquesia e urina sem alteração. Nega êmese e diarréia ,nega tosse, espirro  e secreção. Não está realizando passeio devido vacina incompleta. Já acabaram todas todo  tratamento solicitado, atualmente está utilizando Simparic a cada 35 dias e realizando  banho com Protex cream aplicação de hidratante em casa.  

Exame físico mucosas normocoradas , linfonodos não reativos, hidratação adequada,  pressão arterial sem alteração, ACP sem alterações, frequência cardíaca e frequência respiratória normais, temperatura 38,6°C e ECC 4/9. Paciente com pele totalmente integral  e com pelos repilação .  

9.3 Diagnostico.  

Após o exame físico, realizou-se hemograma completo e exame parasitológico do  raspado cutâneo profundo, o qual por meio de análise microscópica revelou a presença do  ácaro Demodex canis.  

9.4 Tratamento.  

Para tratamento imediato no hospital, foi realizado fluido terapia com vitamina b12,  dipirona25mg/kg/SC para melhor confronto e dexametasona0,2mg/kg/IM, Bionew  0,2mg/kg, Convenia 0,1mg/kg/SC e Mitriz 2mg/Oral.  

Para o tratamento foram para casa foram prescritos medicamentos de uso tópico, o  sabonete Protex e o sabonete Clorexidina 2%®, para serem utilizados em forma de banhos  a cada 3 dias, de forma que hidrate e debele os ácaros, respectivamente, até novas recomendações. Para uso sistêmico, o Simparic® 10mg, devendo administrar 1  comprimido por via oral a cada 35 dias. A Dipirona ® na dose de 1 gota/kg, por via oral a  cada 12 horas, durante 3 dias. Prediderm ® 5mg, meio comprimido SID, por 7 dias. Refos  Derme ® meio comprimido SID por 40 dias, Hemolitan Pet® um comprimido por 30 dias,  Colirio para os olhos Vigamox ® uma gota em cada olho QID por 10 dias e Tobrex® QID.  Ograx ® 3500 SID por 60 dias. EDTARID/ANR; Organnace Complet; Primer Soft lare;  Sebolytica. Aurigen BID por 14 dias mais prelone 0,5ml Sid por 7dias, após 0,25ml Sid por  7dias e k-treat.  

RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS 

Resultados 

O caso clínico analisado envolveu um cão diagnosticado com sarna demodécica,  especificamente a forma generalizada da doença. O diagnóstico foi confirmado através de raspado cutâneo profundo, onde foi observada a presença significativa de ácaros  Demodex canis. Observou-se que as lesões cutâneas apresentavam características  típicas, como alopecia, eritema e crostas, evidenciando a gravidade da infecção. Durante  o tratamento, foram utilizados antiparasitários tópicos e orais, além de antibióticos para  controlar infecções secundárias, que se mostraram comuns nesta forma da doença. 

A resposta ao tratamento foi monitorada ao longo de várias semanas, com  melhorias significativas notadas na condição da pele e redução dos sintomas de prurido.  Após um período de três meses, o cão apresentou uma recuperação clínica com  diminuição das lesões e normalização da pelagem. A análise dos raspados subsequentes  indicou uma redução no número de ácaros, corroborando a eficácia do tratamento  administrado. 

Discussão 

A demodicose canina, particularmente na forma generalizada, representa um  desafio significativo para a saúde veterinária, especialmente em cães com predisposição  genética ou condições imunossupressoras. Como descrito na literatura, a infecção por  Demodex canis não é contagiosa, mas a sua proliferação excessiva pode resultar de  fatores como estresse, nutrição inadequada e doenças subjacentes. A identificação  precoce e o tratamento adequado são cruciais para evitar a progressão da doença para  formas mais graves e potencialmente fatais. 

A eficácia do tratamento varia conforme a severidade da demodicose. No caso  estudado, o uso de medicamentos antiparasitários combinados com antibióticos foi  fundamental para o controle das infecções secundárias, que frequentemente ocorrem em  casos mais severos. A escolha do protocolo terapêutico deve ser individualizada,  levando em conta a idade do animal, a gravidade da infecção e a presença de  comorbidades. 

Além disso, a prevenção é um aspecto importante a ser considerado. Manter a  saúde do sistema imunológico do cão, através de uma dieta balanceada e cuidados  veterinários regulares, pode ajudar a evitar a recorrência da demodicose. A identificação  de fatores predisponentes, como doenças sistêmicas ou o uso de medicamentos  imunossupressores, deve ser uma prioridade no manejo de cães afetados.

Em conclusão, o caso clínico apresentado demonstra a relevância do diagnóstico  precoce e do tratamento adequado da demodicose canina. Embora a recuperação seja  possível, a prevenção e a monitorização contínua são essenciais para garantir a saúde a  longo prazo dos animais afetados. A literatura destaca a importância de uma abordagem  abrangente que inclua tanto o tratamento da infecção quanto o suporte à saúde geral do  animal, visando minimizar o risco de recorrências futuras. 

CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS 

A partir da revisão da literatura, fica claro que a demodicose canina, uma doença parasitária em  cães, causada por um ácaro chamado Demodex canis, é uma condição complexa que  eventualmente pode se apresentar de forma localizada ou generalizada. O agente  etiológico, a morfologia e o ciclo de vida do D. canis salientam a importância do  diagnóstico preciso da doença e da implementação de medidas terapêuticas para evitar a  disseminação da parasita assim como as complicações relacionadas. Os fatores  predisponentes levam à demodicose, como predisposições hereditárias e imunossupressão,  com a saúde imunológica dos animais devem ser monitorados de perto, especialmente  durante os primeiros meses de vida.  

O diagnóstico geralmente feito por raspado cutâneo; no entanto, técnicas alternativas são o  exame parasitológico de pelame e biópsias também podem ser utilizadas, especialmente  quando o diagnóstico inicial é incerto. O tratamento para demodicose canina é uma  combinação de antibioticoterapia para infecções bacterianas secundárias, banhos  medicamentosos e acaricidas eficazes, tais como isoxazolinas e ivermectina. Além disso, a  seleção da droga para terapia deve ser cuidadosamente considerada de acordo com a raça e a condição clínica do animal, levando-se em conta que algumas drogas são tóxicas em  certas raças, mesmo em baixas doses. 

REFERÊNCIAS 

BARBOZA, G.; RIVERA, S.; PARRA, O.; FERNÁNDEZ, G.; RAMIREZ, R.; OTERO,  C. Evaluación de La respuesta inmunitaria em caninos infectados com sarna demodécica  tratados com amitraz o timoestimulina TP-1. Revista Científica, FCV-LUZ. v 10, p. 145- 152, 2000.  

BEZERRA, P. I. F. Ocorrência de sarnas em cães domiciliados no município de Patos,  Paraíba. Trabalho de Conclusão de Curso – Universidade Federal de Campina Grande,  Centro de Ciências e Tecnologia Rural, Patos – PB, 2013. Disponivel em:  http://lattes.cnpq.br/2570530566412439. Acessaso em 07/10/2024 

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