RELAÇÕES FAMILIARES DE IDOSOS E ATIVIDADES DE VIDA DIÁRIA: REVISÃO INTEGRATIVA

ELDERLY FAMILY RELATIONSHIPS AND ACTIVITIES OF DAILY LIVING: INTEGRATIVE REVIEW

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202408240749


Andreia David de Oliveira1; Jordana Alves de Aguiar2; Kamylla Guedes de Sena3; Ivânia Vera4


Resumo

Introdução: O envelhecimento populacional previsto para os próximos anos, embora represente melhorias no acesso a bens e serviços de saúde, pode refletir em mudanças no sistema familiar. Objetivo: Sistematizar o conhecimento produzido acerca das relações familiares e capacidade funcional da pessoa idosa na execução das atividades de vida diária. Método: Revisão Integrativa (RI) de Literatura realizada nas bases de dados: Portal de Periódicos Capes/MEC (Ministério da Educação e Cultura); Scientific Electronic Library Online (SciELO), na base de dados/biblioteca digital de acesso aberto da Universidade Autónoma do Estado do México Sistema de Información Científica Rede de Revistas Científicas (Redalyc) e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) entre os meses de janeiro de 2012 e julho de 2022. Utilizou-se como Descritores em Ciências da Saúde (DeCS)/Medical Subject Heading (MeSh): “Family relationship AND aged AND activities of daily living”. Resultados: Foram selecionados 10 estudos nos quais evidenciaram independência para Atividades Instrumentais de Vida Diária (AIVD) relacionado a boa funcionalidade familiar. Mulheres muito idosas apresentaram melhor funcionalidade familiar e pior capacidade funcional. Considerações finais: A boa funcionalidade familiar foi prevalente nos estudos e despontou estar interrelacionada à capacidade funcional da pessoa idosa. Essas dimensões precisam ser consideradas conjuntamente no contexto de cuidado integral a esse grupo populacional em crescimento exponencial.

Palavras-chave: Relações familiares. Idoso. Atividades cotidianas. Depressão.

Abstract

Introduction: Population aging predicted for the coming years, although it represents an improvement in access to health goods and services, may reflect changes in the family system and does not necessarily represent active aging among elderly people. Objective: To systematize the knowledge produced about family relationships and the functional capacity of elderly people when performing activities of daily living. Method: Integrative Literature Review (IR) carried out in the Portal de Periódicos Capes/MEC (Ministry of Education and Culture) databases; Scientific Electronic Library Online (SciELO), in the open access digital library/database of the Autonomous University of the State of Mexico Sistema de Información Científica Network of Scientific Journals (Redalyc) and Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences (LILACS) between January 2012 and July 2022. The following were used as Descriptors in Health Sciences (DeCS)/Medical Subject Heading (MeSh): “Family relationship AND aged AND activities of daily living”. Results: Ten studies were selected in which they showed independence for Instrumental Activities of Daily Living (IADL) related to good family functionality. Very elderly women had better family functionality and worse functional capacity. Final considerations: Family functionality is interrelated to the functional capacity of the elderly person. These dimensions need to be considered together in the context of comprehensive care for this exponentially growing population group.

Keywords: Family relationship; Aged; Activities of daily living;Depression.

INTRODUÇÃO

O envelhecimento populacional é um fato e, no Brasil, a população idosa deve dobrar até 2042 (IBGE, 2018).  Apesar dos ganhos decorrentes do envelhecimento populacional, há um aumento das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) que gradualmente tornam-se responsáveis pelo aumento da morbimortalidade e dos gastos públicos em saúde (Veras; Oliveira, 2018), além de seus impactos na capacidade funcional da pessoa idosa. Essas alterações na dinâmica populacional podem aumentar a demanda de cuidados, os quais serão executados em sua maioria pela família (Elias et al., 2018).

A família é um sistema que irá se reorganizar diante dos desafios do envelhecimento em função das mudanças de papéis dos membros, da viuvez, das perdas e das incapacidades. O apoio familiar neste período é essencial e, embora haja chances de haver disfunção, também há potencial de crescimento e modificações positivas (Carter; Mcgoldrick, 1995).

Um sistema familiar dinâmico passa por diversas modificações e crises ao longo do tempo, cujo papel é fornecer afeto, proteção, apoio e bem-estar aos membros diante das próprias crises, propiciando desenvolvimento emocional e físico (Duarte; Domingues, 2020).

Mudanças de papéis dos membros podem causar desestruturação familiar, sobretudo em um sistema familiar imaturo, rígido e inflexível. No processo de envelhecimento, por exemplo, a pessoa idosa antes tido como provedor da família pode passar a ser visto pelos demais membros como alguém dependente de cuidados (Duarte; Domingues, 2020) e essa nova demanda pode fazer surgir, ruídos e instalação de disfuncionalidade familiar (DF).

Ademais, um sistema familiar desestruturado e/ou disfuncional pode refletir negativamente na qualidade de vida e, consequentemente, nas Atividades de Vida Diária (AVD) da pessoa idosa (Souza Júnior et al., 2022). Além disso, quando as relações familiares não são satisfatórias as chances de se ter um envelhecimento ativo são menores (Ferreira et al., 2019). Este é um dado importante, tendo em vista que o processo de envelhecimento é heterogêneo e vivenciado de acordo com as influências da comunidade e da família (Campos et al., 2017).

Frente aos diversos instrumentos para avaliar a capacidade da pessoa idosa em executar as atividades de vida diária, destacam-se o Índice de Pfeffer (Pfeffer et al., 1982; Dutra et al., 2015), o Índice de Barthel (Shah; Vanclay; Cooper, 1989; Minosso et al., 2010), o Índice de Katz (Katz et al., 1983; Lino et al., 2008) e a Escala de Lawton e Brody (Lawton; Brody, 1969; Santos; Virtuoso, 2008).

Neste estudo, optou-se pelo uso do Índice Katz, recomendado pelo Ministério da Saúde (MS) (Brasil, 2006) para avaliar a capacidade em desempenhar as Atividades Básicas de Vida Diária (ABVD). Ele é composto por seis perguntas que investigam a capacidade de alimentação, tomar banho, se vestir, usar o banheiro, transferir-se e continência (Katz et al., 1983; Lino et al., 2008). Em complementariedade, para avaliar as Atividades Instrumentais de Vida Diária (AIVD) optou-se pela Escala de Lawton e Brody, também recomendada pelo MS, avaliando algumas capacidades como: usar o telefone, ir a locais distantes, fazer compras, preparar a própria refeição, arrumar a casa, fazer pequenos trabalhos domésticos, lavar e passar roupa, tomar os medicamentos nas doses e horários corretos e cuidar das próprias finanças (Lawton; Brody, 1969; Santos; Virtuoso, 2008).

Desta forma, não há uma clareza na literatura sobre a maneira com a qual a disfunção familiar se relaciona com a (in)capacidade funcional na execução das AVD sejam elas, as cotidianas ou as instrumentais. Assim, considerando a complexidade da temática, objetivou-se sistematizar o conhecimento produzido acerca das relações familiares e capacidade funcional da pessoa idosa na execução das atividades de vida diária.

METODOLOGIA

Este estudo utilizou como metodologia a Revisão Integrativa (RI) da Literatura, que dentre os seus objetivos, busca agrupar e sumarizar pesquisas pertinentes a um tema e/ou questão específica (Mendes; Silveira; Galvão; 2019).  Foram seguidos seis passos: 1) definição da pergunta da revisão com delimitação do tópico de interesse; 2) busca e seleção dos estudos primários com determinação de critérios de inclusão e exclusão; 3) definição da extração de dados de interesse do investigador nos estudos primários; 4) avaliação crítica desses estudos, com aplicação do nível de evidência; 5) obtenção dos resultados da revisão, com síntese e discussão das evidências encontradas, com vistas a identificação de lacunas de conhecimento, bem como das limitações dos estudos; 6) apresentação da revisão (Mendes; Silveira; Galvão; 2019).

A questão norteadora foi edificada, tendo como base a estratégia PICO, em que P: pessoa idosa; I: não se aplica; C: não se aplica; O: influência ou não da funcionalidade familiar (FF) na execução das atividades de vida diária (Santos; Pimenta; Nobre, 2007), resultando em: “Qual a influência das relações familiares, medida pelo APGAR de Família, nas atividades de vida diária da pessoa idosa?”.

O levantamento informacional deu-se nas bibliotecas eletrônicas: Portal de Periódicos Capes/MEC (Ministério da Educação e Cultura); Scientific Electronic Library Online (SciELO), na base de dados/biblioteca digital de acesso aberto da Universidade Autónoma do Estado do México Sistema de Información Científica Rede de Revistas Científicas (Redalyc) e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) no mês de julho 2022.

Para tanto, foram selecionados os descritores controlados em Ciências da Saúde (DeCS)/Medical Subject Heading (MeSh): “Family relationship AND aged AND activities of daily living” de modo sistematizado nas bibliotecas/bases acima mencionados. Estes foram escolhidos por retratar a tríade relações familiares-idoso-atividades de vida diária.  

Os critérios de inclusão adotados nessa RI foram: artigos científicos de pesquisas originais, com textos na íntegra e completos, de livre acesso, disponíveis eletronicamente que abrangessem o tema relações familiares, pessoa idosa e AVD publicados entre 1º de janeiro de 2012 e 23 de junho de 2022, nos idiomas inglês, espanhol e português.

Na primeira etapa foram utilizados os descritores selecionados, seguido da aplicação dos filtros: idioma, período escolhido e textos completos. Na 3ª etapa foi realizada a leitura do título e resumo para ver se os textos preenchiam os critérios de inclusão. Posteriormente, nos textos selecionados, foi realizada a busca manual (hand search) com vistas a ampliar os achados. Os artigos selecionados que se repetiam nas bases escolhidas foram excluídos.

A baixa inserção de novos artigos na hand seach, se referem a datas das referências usadas pelas pesquisas iniciais, que foram inferiores o tempo estipulado nessa RI. Os passos estão demonstrados na Figura 1.

Figura 1: Diagrama de fluxo do processo de seleção dos artigos da amostra, 2012-2022.

Fonte: os autores.

A análise do nível de evidência se deu pela classificação hierárquica a seguir: nível I – caracteriza evidências obtidas por meio do resultado de metanálise de estudos clínicos controlados e com randomização; nível II – caracteriza evidências obtidas em estudos de desenho experimental; nível III – caracteriza evidências obtidas de pesquisas quase experimentais; nível IV – caracteriza evidências obtidas de estudos não experimentais, descritivos ou com abordagem metodológica qualitativa; nível V – caracteriza evidências obtidas de relatos de caso ou experiência; e, nível VI – caracteriza evidências baseadas em normas ou legislação ou opiniões de especialistas (Stetler et al., 1998).

Após a leitura minuciosa dos textos selecionados, houve a extração das informações de interesse: autoria/ano, local da pesquisa, título do manuscrito, tipo de estudo/faixa etária da amostra, instrumento usado (APGAR de Família), instrumento de avaliação das AVD, características da amostra e principais resultados como exposto no Quadro 1 (Ursi, 2005).

Após, foi elaborado pelos autores um único texto construído a partir dos resultados dos artigos, com o objetivo de processar e analisar esses dados por meio do software IRAMUTEQ® (Interface de R pour lês Analyses Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires), versão 0.7 alpha 2, que analisou o texto (corpus desta RI) e o dividiu em três classes, nomeadas de acordo com as informações agrupadas, um dendograma com a Classificação Hierárquica Descendente (CHD).

  Por fim, foi elaborada uma nuvem de palavras por meio do programa Microsoft Office Word® versão 2401 utilizando as seguintes informações dos estudos: coluna dos instrumentos utilizados e principais resultados.

RESULTADOS

Esta RI resultou em uma amostra de dez artigos, sendo cinco (50%) encontrados na Capes, três (30%) na Redalyc, um (10%) na SciELO e um (10%) proveniente da hand search.  Com vistas a apresentação dos resultados de modo integrado e sumarizado, elaborou-se um quadro com a cartografia dos achados, momento em que se preservou o idioma de origem, destacando a relações familiares medida pelo APGAR de Família (Smilkstein, 1975; Duarte; Cianciarullo, 2001) e a capacidade funcional avaliada pelos pesquisadores por diferentes instrumentos, descritos no Quadro 1.

Quadro 1. Síntese dos artigos da revisão integrativa, 2012-2022.

Por meio da análise com o software IRAMUTEQ®, o dendograma evidencia as palavras que aparecem com maior frequência e as categorias. O produto analisado foi subdividido em três classes denominadas conforme segue: a Classe 1 foi denominada – “Quanto maior a independência nas AIVD, melhor a funcionalidade familiar”, e correspondeu a 25,8% do corpus; a Classe 2, denominada como “A funcionalidade familiar sofre influência do gênero, idade e AIVD”, representou 38,7% do corpus textual; e, a Classe 3, denominada por “Mulheres, mais idosas apresentam pior capacidade funcional”, representou 35,5% do corpus.

Figura 2. Dendograma da Classificação Hierárquica Descendente.

Fonte: Software IRAMUTEQ®.

Quanto à caracterização dos estudos, houve avaliação das relações familiares em diferentes grupos quanto ao gênero, etnia e nacionalidade. Estes estudos transpassam desde a associação da FF e independência para ABVD e AIVD (50%) (Rabelo; Neri, 2015; Vera et al., 2015a; Vera et al., 2015b; Campos et al., 2017; Pavarini et al., 2017) qualidade de vida (30%) (Campos et al., 2014; Xie et al., 2017; Alonso et al., 2022), sintomas depressivos (10%) (Zou et al., 2018) e envelhecimento ativo (10%) (Campos; Ferreira e Ferreira; Vargas, 2015).

Em relação à origem dos estudos, 7 (70%) eram provenientes da América Latina, 2 (20%) provenientes da Ásia e 1 (10%) da América Central. No que se refere ao tipo de revista científica, houve predomínio de publicações nacionais com 8 (80%) artigos, seguido por 2 estudos (20%) provenientes de revistas internacionais.

No que concerne ao idioma, apenas 1 (10%) está na língua portuguesa, 1 (10%) pertence à língua espanhola e 8 (80%) restantes à língua inglesa. Destes, 6 (60%) são de origem nacional, porém estão na língua inglesa. O ano com maior número de publicações foi o de 2015 e 2017, com 3 artigos (30%) cada. Em 2014 houve 2 (20%) estudos seguidos por 1 (10%) em 2018 e 1 (10%) em 2022. Não houve publicações dos anos de 2012, 2013, 2016, 2019, 2020 e 2021 nesta amostragem. Houve abordagem descritiva experimental em 100% dos estudos, caracterizando, portanto, classificação hierárquica de evidência nível IV (Stetler et al., 1998).

Em 90% dos estudos houve predominância de mulheres na amostra estudada (Campos; Ferreira e Ferreira; Vargas, 2015; Rabelo; Neri, 2015; Vera et al., 2015a; Vera et al., 2015b; Campos et al., 2017; Pavarini et al., 2017; Xie et al., 2017; Alonso et al., 2022). A idade apresentada variou entre 60 e 84 anos nos artigos que preencheram os critérios de inclusão.

A prevalência de ABVD e AIVD, foi apresentada em três artigos. Em relação às ABVD, houve variação de: independente 96,6% a 93,1%, dependência parcial 6,1% a 2,2% e dependência total 1,5% a 0,7%. Enquanto que, para as AIVD: independência total 58,2% a 18,3% e dependência parcial 81,7% a 55,7% (Vera et al., 2015a; Vera et al., 2015b; Rabelo; Neri, 2015).

Houve um estudo que relacionou as AVD com a FF medida pelo APGAR de Família. A BFF em relação a ABVD foi: totalmente dependentes (3,2%); dependência parcial (4,3%) e independência total (92,5%). Em relação a AIVD, foi: dependência total (10,3%), dependência parcial (18,2%) e independência total (71,5%). A Moderada Disfuncionalidade Familiar (MDF) revelou dependência completa (5,8%), dependência parcial (4,5%) e independência total (89,7%) para ABVD e para a AIVD: dependência completa (13,2%), dependência parcial (23,2%) e independência (63,5%). As pessoas idosas com Elevada Disfuncionalidade Familiar (EDF) revelaram dependência total (4,0%), dependência parcial (2,3%) e independência total (93,8%) para ABVD e para AIVD dependência completa (8,5%), dependência parcial (14,7%) e independência total (76,8%) (Campos et al., 2017).

Outro artigo desta amostragem relacionou a porcentagem de independência de pessoas idosas residentes em área urbana, rural e em alta vulnerabilidade social. Os que residiam no contexto urbano apresentaram maior independência para ABVD (85,2%) e pouco mais de um terço, independência para AIVD (36,5%). Os residentes da zona rural revelaram maior independência para ABVD (84%) e quase metade deles, independência para AIVD (49,4%). Os que residiam em contexto de alta vulnerabilidade social apresentaram maior prevalência para independência para ABVD (94,5%) e quase metade, para AIVD (49,3%) (Pavarini et al., 2017).

Em relação associação entre a FF e as AVD, um artigo revelou não ter associação entre o BFF e as AVD em octogenários (Vera et al., 2015a) e outro artigo, a BFF foi associada com a independência nas AVD (Rabelo; Neri, 2015). Por outro lado, a BFF foi associada com dependência funcional para AIVD (Campos et al., 2017).

Os artigos que analisaram a Qualidade de Vida (QV), a BFF foi um fator preditor positivo para uma melhor QV, enquanto a dependência para AIVD foi um fator preditivo negativo para a QV (Xie et al., 2017). Em outro estudo, a limitação funcional e a DF foram associadas com a baixa QV (Campos et al., 2014), ao mesmo tempo que, em outro artigo, a DF não teve associação significativa com a independência para AVD (Vera et al., 2015b).

Quanto ao sexo, encontrou-se em um artigo que, o sexo feminino foi mais dependente quanto a capacidade funcional e DF (Campos; Ferreira e Ferreira; Vargas, 2015). Em outro estudo, a DF e dependência para AVD foram associadas a sintomas depressivos (Zou et al., 2018).

Um dos artigos estudou separadamente cuidadores idosos residentes em área urbana, em área rural e em contexto de alta vulnerabilidade social (de acordo com o Índice Paulista de Vulnerabilidade Social – IPVS). Este, evidenciou que, cuidadores idosos residindo em área urbana tem BFF comparado as que residem em área rural. As que se encontravam em contexto de alta vulnerabilidade social, apresentaram maior independência para AVD e pior funcionalidade familiar (Pavarini et al., 2017).

Abaixo, é revelado a representação visual das palavras relativas ao conteúdo (termos em texto) no Quadro 1 (Figura 3).

Figura 3.  Representação visual das palavras de maior destaque.

Fonte: os autores.

As palavras mais frequentes estão em tamanho e maior destaque ou importância, em relação as outras. Superficialmente, evidencia-se o destaque às palavras do objeto de estudo dessa RI: FAMILY, SCALE, IADL, ABVD e APGAR.

DISCUSSÃO

Evidencia-se, pelos conteúdos apreendidos das classes que houve associação entre a BFF e níveis de independência das pessoas idosas, neste sentido, a Classe 1, denominada “Quanto maior a independência nas AIVD, melhor a funcionalidade familiar” realça a relação diretamente proporcional entre independência para atividades cotidianas e funcionalidade familiar de pessoas idosas (Campos et al., 2014; Rabelo; Neri, 2015; Xie et al., 2017; Alonso et al., 2022). Quando a dependência existe, podem surgir conflitos nas relações, principalmente no cenário em que apenas um familiar é o principal responsável pelo cuidado prestado (Pimenta et al., 2018).

Considerando as particularidades da pessoa idosa, a funcionalidade familiar sofre influência do gênero, idade e AIVD (evidenciados na classe 2) (Campos et al., 2014; Campos; Ferreira e Ferreira; Vargas, 2015; Vera et al., 2015a; Campos et al., 2017; Xie et al., 2017; Pavarini et al., 2017; Zou et al., 2018). Corrobora com estes achados um estudo realizado com 637 pessoas idosas de um município do Triângulo Mineiro (MG). Os resultados evidenciaram que a idade possui correlação positiva com a BFF, ou seja, quanto mais velha é a pessoa idosa, melhor é a funcionalidade familiar (Marzola et al., 2020). Resultado semelhante encontrado em Vitória (ES), por meio de um estudo que avaliou 187 pessoas idosas das quais a maioria da amostra (59%) foi composta por mulheres mais velhas (média de idade de 70 anos), 74% apresentaram BFF e 79% eram funcionalmente capazes de acordo com avaliação do instrumento World Health Organization Disability Assesment Schedule (WHODAS 2.0) (Suzana et al., 2021). Observa-se que, um sistema familiar funcional, consegue fornecer o apoio e afeto necessários para que haja melhor adaptabilidade às mudanças ocasionadas pelo processo de envelhecimento. Desta forma, uma maior satisfação nas dimensões familiares pode significar maior disposição e habilidade para executar as atividades cotidianas (Souza Júnior et al., 2022).

Houve em um estudo associação positiva entre BFF e dependência para AIVD (Campos et al., 2017). Este achado pode ser devido ao fato de que, em um sistema familiar funcional os membros frequentemente se ajudam (Brasil, 2006). Desta forma, atividades como fazer compras, realizar tarefas domésticas, dentre outras, ficam sob responsabilidade de pessoas não idosas como forma de “cuidar” daquelas acima de 60 anos (Brasil, 2006; Moreira et al., 2020).

Prosseguindo nas análises, a Classe 3 revelou que, mulheres mais idosas apresentam pior capacidade funcional (Campos et al., 2014; Campos; Ferreira e Ferreira; Vargas, 2015; Campos et al., 2017).A literatura evidencia piores níveis de envelhecimento ativo em mulheres idosas em decorrência das alterações hormonais envolvidas no climatério, desigualdades sociais e menores níveis de renda e escolaridade (Dias, Serra, 2018; Kanis et al., 2019).

A preservação da habilidade funcional, definida como “combinação e interação da capacidade intrínseca com o ambiente no qual a pessoa está inserida” (OPAS, 2020, p.6), tem sido objeto de estudo uma vez que é preciso intervir para desacelerar, interromper ou reverter o declínio funcional das pessoas idosas (OPAS, 2020). Ou seja, é necessário mudar a perspectiva sobre o processo de envelhecimento e desenvolver estratégias que preservem a capacidade funcional da pessoa idosa sobretudo das com idade mais avançada (OMS, 2021).

O predomínio de mulheres idosas na maioria da amostra desta RI (Campos et al., 2014; Rabelo; Neri, 2015; Vera et al., 2015a; Vera et al., 2015b; Campos; Ferreira e Ferreira; Vargas, 2015; Xie et al., 2017; Campos et al., 2017; Pavarini et al., 2017; Alonso et al., 2022) demonstra o fenômeno denominado feminização da velhice, tendo em vista que as mulheres são a maioria das usuárias dos serviços de saúde e se expõem com menos frequência a comportamentos de risco quando comparadas ao homem (Cepellos, 2021).       

CONCLUSÃO

Esta RI foi pioneira em buscar a sumarização de estudos que relacionem FF com os níveis de independência para AVD. Tal enfoque traz outro olhar sob o modo de cuidar da pessoa idosa, tendo em vista que as relações familiares devem ser consideradas pelos profissionais de saúde durante a elaboração de um plano de cuidados.

O objeto de estudo desta RI foi sistematizar o conhecimento produzido acerca das relações familiares e capacidade funcional da pessoa idosa na execução das AVD. Os estudos revelaram uma maior prevalência de BFF no público estudado; que FF e AVD não tiveram associação em pessoas muito idosas; DF e limitação funcional foram associadas a QV; que a BFF esteve associada a independência para as AVD; que pessoas idosas com DF foram mais independentes para AVD, assim como em pessoas com sintomas depressivos.

O estabelecimento de medidas que foquem na preservação da capacidade funcional de pessoas idosas na comunidade é uma estratégia importante com vistas a manter suas habilidades e, consequentemente, a independência na execução das AVD.

LIMITAÇÕES

Destaca-se como limitação, o método utilizado, o número escasso de artigos que atendessem aos critérios de inclusão adotados neste estudo. Ainda, dois estudos selecionados não descreveram a associação entre FF e as AVD e um artigo descreveu apenas a média e o desvio padrão dos resultados, dificultando a comparação com os demais que utilizaram porcentagem como medida de razão.

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1Discente no Programa de Pós Graduação em Gestão Organizacional. Universidade Federal de Catalão. E-mail: andreiadavid@discente.ufcat.edu.br.

2Mestre em Gestão Organizacional. Universidade Federal de Catalão. E-mail: jordanaaguiar@ufcat.edu.br.

3Mestre em Gestão Organizacional. Universidade Federal de Goiânia. E-mail: kamylla_g.s@hotmail.com.

4Doutorado em Enfermagem. Programa de Pós-Graduação em Gestão Organizacional. E-mail: ivaniavera@ufcat.edu.br.