RELAÇÃO SARCOPENIA E CARDIOPATIAS: UMA REVISÃO DE LITERATURA

RELATIONSHIP BETWEEN SARCOPENIA AND HEART DISEASE: A LITERATURE REVIEW

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202502131009


Juliano Luiz de Lima¹; Nayara Lisbôa Almeida Schonmeier²; Fernanda Novi Cortegoso Lopes³; Natália Veronez da Cunha⁴; Karoline Gleyse Alves⁵.


Resumo

Sarcopenia é a perda progressiva de massa, função e força muscular, sendo classificada como uma síndrome geriátrica. Resulta em quedas, fraturas e redução da qualidade de vida. Mecanismos como alterações neuromusculares, hormonais e inflamatórias contribuem para sua fisiopatologia. A sarcopenia pode impactar diretamente no desenvolvimento de doenças cardiovasculares (DCVs), sendo comum em idosos cardiopatas. Objetivo: Identificar, por meio de uma revisão integrativa de literatura, as relações entre sarcopenia e doenças cardiovasculares. Métodos: Trata-se de uma revisão conduzida no método dos Principais Itens para Análises Sistemáticas e Meta-análises (PRISMA). A busca ocorreu nas bases de dados MEDLINE, Periódicos CAPES, Cochrane e Scielo, com publicações dos últimos dez anos. Foram utilizados os descritores “Sarcopenia” AND “Cardiopatias” e seus respectivos em inglês. Resultados: A busca inicial resultou num total de 546 referências, que após exclusão por duplicidade e criteriosa análise de inclusão/exclusão foram selecionados 28 artigos. As pesquisas demonstraram uma conexão robusta entre sarcopenia e DCVs, sendo a sarcopenia reconhecida como um fator de risco significativo para DCVs. A redução da massa muscular atua como um fator risco independente para doenças cardíacas, resultando em menor sobrevivência livre de eventos cardiovasculares. Além disso, a inatividade física agrava ainda mais o risco de DCVs em indivíduos com sarcopenia. Uma melhor saúde cardiovascular está associada a uma menor prevalência de sarcopenia. Conclusão: Os estudos evidenciam uma forte relação entre sarcopenia e DCVs, com a baixa massa muscular sendo um fator de risco para doenças cardíacas e menor sobrevida livre de eventos cardiovasculares. Estratégias preventivas e exercícios físicos são essenciais para melhorar a saúde cardiovascular e reduzir o risco de DCVs.

Palavras-chave: Sarcopenia. Doença cardiovascular. Fator de risco. Inatividade Física.

1 INTRODUÇÃO

Do grego, significando “pobreza de carne” (Lutski et al., 2020), a sarcopenia é descrita como uma perda progressiva de massa muscular, e consequentemente função e força muscular (Zhang, x et al., 2023). Literatura recente relata que cerca de 50 milhões de pessoas possuem a sarcopenia, e até 2050, a síndrome atinja 500 milhões de pessoas em todo o mundo (Liu et al., 2023). A sarcopenia é classificada como uma síndrome geriátrica, relatada pela primeira vez por Rosenberg em 1988 (Rosenberg, 1997), associada a diversos desfechos negativos, como quedas, fraturas, redução da qualidade e função de vida e independência (Liu et al., 2023). Diferentes mecanismos podem estar associados a fisiopatologia da sarcopenia, como alterações a nível de função neuromuscular, alterações hormonais, níveis inflamatórios, gordura corporal, alterações nutricionais (Lutski et al., 2020), disfunção mitocondrial, estresse oxidativo, resistência metabólica, lipotoxicidade e alterações microvasculares (Zuo, Xinrong et al., 2023), que impactam em piores desfechos de saúde, como maior incapacidade, morbidade e mortalidade (Zhang, X et al. 2023).

Estudos relatam que a perda da força e massa muscular podem impactar diretamente no desenvolvimento de doenças cardiovasculares, visto que a sarcopenia é comumente vista em idosos cardiopatas (Kamiya et al., 2017; Liu et al., 2023; Zhang et al., 2023).

Cardiopatias são descritas como alterações patológicas no sistema cardiovascular, ou seja, alterações em vasos sanguíneos e coração, sendo uma das principais causas de óbito no mundo, com o número de 17,8 milhões de mortes por ano (Liu et al., 2023). Dentro das cardiopatias, destacam-se a doença cardíaca isquêmica, doença arterial coronariana, doença cardíaca congênita, arritmias cardíacas e insuficiência cardíaca (Zuo, Xinrong et al., 2023).

A sarcopenia impacta diretamente o miocárdio, e que por mecanismos fisiopatológicos semelhantes, resulta na atrofia e apoptose dos miocitos, juntamente com redução do trabalho das organelas (Liu et al., 2023). Ainda, a sarcopenia pode estar relacionada a diminuição do tamanho do ventrículo esquerdo e dos átrios (Keng, bryan mh et al. 2019). Assim, o paciente que possui cardiopatia pode também apresentar sarcopenia, visto que ambas doenças possuem etiologia e patogênese comuns (Keng, bryan mh et al. 2019).

Diante do exposto, a presente pesquisa teve como objetivo identificar, por meio de uma revisão integrativa de literatura, as relações entre sarcopenia e doenças cardiovasculares.

2 METODOLOGIA

Este estudo caracteriza-se como uma revisão integrativa conduzida conforme os Principais Itens para Análises Sistemáticas e Meta-análises – PRISMA Statement  (Page et al., 2021). Utilizou-se o acrônimo PICO como estratégia de coleta de dados, no qual a sigla representa um acrônimo para “P” – Patient (paciente) define a população ou problema da pesquisa, “I” – Intervention (intervenção) define a intervenção realizada, “C” – Comparison (comparação) identifica o grupo controle que será comparado ao grupo intervenção, “O” – Outcome (desfecho) define o desfecho a ser avaliado (Galvão; Pereira, 2014).

A descrição PICO utilizada nessa revisão está apresentada no Quadro 1, com objetivo de responder à pergunta: quais as relações entre sarcopenia e doenças cardiovasculares?

Quadro 1 – Descrição da estratégia PICO.

PIndivíduos cardiopatas
INão se aplica
CNão se aplica
OSarcopenia
Fonte: Pesquisadores (2024).


A busca de artigos ocorreu manualmente nas seguintes bases de dados: Cochrane library, MEDLINE (Pubmed), Portal da CAPES e Scielo, em março de 2024. Os descritores utilizados foram “Sarcopenia” AND “Cardiopatias” e seus respectivos em inglês. Foi utilizado o filtro de pesquisa para trabalhos dos últimos dez anos.

Os trabalhos encontrados inicialmente foram transferidos para o Rayyan – um software organizador de referências – e assim, após a eliminação dos artigos duplicados, foram submetidos à triagem por títulos e resumos. Os trabalhos obtidos foram lidos na íntegra pelos autores para definição de acordo com os critérios de elegibilidade.

Os critérios de inclusão considerados foram: (a) estudos que apresentaram uma relação entre sarcopenia e cardiopatias em geral; (b) com acesso ao texto completo online; (c) trabalhos em português e inglês. Os critérios de exclusão considerados foram: (a) textos incompletos; (b) livros; (c) dados metodológicos insuficientes sobre a intervenção e/ou desfecho; (d) textos pagos; (e) trabalhos em outras línguas.

Os artigos selecionados para revisão foram analisados e sistematizados por autoria e ano da publicação, tipo de pesquisa, objetivo principal, cardiopatia, principais resultados e conclusão.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

A busca resultou em 546 referências encontradas ao todo, sendo 466 na base Portal da CAPES, cinquenta e cinco (55) na MEDLINE (Pubmed), nenhum na base Scielo e 25 na base Cochrane. Na sequência, um total de 102 referências duplicadas foram excluídas no software Rayyan, e 444 passaram por uma triagem de títulos e resumos. Destas, apenas 49 foram elegíveis e lidas na íntegra. A partir dos critérios de inclusão e exclusão, 28 artigos foram eleitos para a análise final. O diagrama a seguir demonstra o processo de seleção dos estudos para a presente revisão sistemática (Figura 1).

Figura 1 – Diagrama do processo de seleção dos estudos para a revisão sistemática.

Fonte: Pesquisadores (2024).

Dentre os artigos analisados, os que apresentaram quais as DCVs envolvidas, observou-se uma prevalência de doença arterial coronariana (DAC – 13 artigos), seguida de insuficiência cardíaca (7), infarto agudo do miocárdio (5), hipertensão arterial sistêmica (5), acidente vascular encefálico (4), doença cardíaca congênita (2), pós cirúrgico cardíaco (1), doença arterial periférica (1), angina (1), doença cardíaca isquêmica (1) e arritmia cardíaca (1).

Os trabalhos demonstram uma ligação sólida entre a sarcopenia e as DCVs, indicando que a sarcopenia é um fator de risco importante para DCVs. Evidenciam que a diminuição da massa muscular é um fator de risco para doenças cardíacas, que resulta em uma menor sobrevida livre de eventos cardiovasculares. Ainda, apontam que a redução da massa muscular está associada a um aumento do risco de mortalidade geral e mortalidade específica por DCVs, além da inatividade física poder intensificar ainda mais o risco de DCVs em indivíduos com sarcopenia.

Os dados extraídos dos artigos que apresentaram as relações entre sarcopenia e doenças cardiovasculares selecionados para revisão são apresentados no Quadro 2.

Quadro 2 – Dados extraídos dos estudos incluídos na presente revisão integrativa.

Autor e anoTipo de pesquisaObjetivo principalCardiopatiaPrincipais resultadosConclusão
Boonpor et al., 2024Estudo de coorte prospectivoInvestigar a associação da sarcopenia com a incidência de DCVs em pessoas com diabetes tipo 2.IC e IAM.Pessoas com sarcopenia têm riscos mais elevados de DCVs, com taxas de incidência semelhantes às de indivíduos sem sarcopenia 14,5 anos mais velhos.A sarcopenia aumentou o risco de desenvolver DCVs, o que pode ocorrer mais cedo do que naqueles sem sarcopenia.
Cardiology department, yeditepe university Hospital, istanbul, turkey; simsek, 2022Estudo transversalO mostrar o efeito da massa muscular esquelética medida pela Tomografia computadorizada no tempo de internação hospitalar, na internação na unidade de terapia intensiva e na necessidade de ventilação mecânica invasiva.HASHAS foi o principal fator de risco em pacientes com menor massa muscular, associado a maior necessidade de UTI e ventilação mecânica, além de maior mortalidade hospitalar. Diabetes e HAS aumentaram a mortalidade, enquanto maior massa muscular reduziu esse risco.A sarcopenia em pacientes com COVID-19 aumenta a mortalidade hospitalar e a necessidade de unidade de terapia intensiva. Este estudo destaca o impacto negativo da sarcopenia e sua associação com doenças cardiovasculares e inflamatórias.
Charkiewicz et al., 20231 Estudo transversal  Avaliar parâmetros de saúde, nutricionais, sarcopenia e fragilidade associados à IC em pacientes internados em enfermaria geriátrica.ICPacientes com IC eram geralmente mais velhos, homens, obesos, com múltiplas comorbidades e fisicamente inativos, apresentando maior incidência de doenças como doença cardíaca isquêmica, fibrilação atrial e diabetes, especialmente entre mulheres. Embora o desempenho muscular fosse similar, pacientes com IC tinham menor velocidade de marcha, menor força de preensão e menor circunferência do braço, indicando sarcopenia grave e dinapenia, mesmo após ajustes por diversos fatores.A sarcopenia está independentemente associada à IC em idosos com multimorbidade e incapacidade hospitalizados em um serviço geriátrico.
Chen et al., 2022Estudo transversalInvestigar a relação entre massa muscular, força muscular e desempenho físico e risco cardiovascular entre idosos residentes na comunidade.DACNeste estudo com 709 participantes, homens dinapênicos mostraram 17,70 ± 5,08% de escore de risco de Framingham (ERF), enquanto mulheres sarcopênicas apresentaram 7,74 ± 6,06% de ERF. Participantes com pré-sarcopenia também mostraram ERF mais baixo (homens: 15,41 ± 5,35%; mulheres: 5,25 ± 3,70%).Homens mais velhos com dinapenia e mulheres mais velhas com sarcopenia mostraram maior risco de doença coronariana em 10 anos. Idosos em estágio pré-sarcopênico apresentaram o menor risco de doença coronariana em ambos os sexos.
Chen et al., 2021Estudo de coorte prospectivoInvestigar os efeitos aditivos da DAC e da sarcopenia no risco de novos sintomas depressivos em idosos.DAC Grupos exclusivos de sarcopenia, DAC ou ambos mostraram riscos aumentados de sintomas depressivos em comparação ao grupo sem essas condições.A combinação de DAC e sarcopenia aumenta significativamente o risco de sintomas depressivos em idosos, destacando a necessidade de detecção precoce e intervenções adequadas.
Chen et al., 2022Estudo transversalO determinar a relação entre saúde cardiovascular ideal e sarcopenia usando dados da Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição (NHANES) de 2011–2018Não avalia nenhuma cardiopatia especifica, As métricas de saúde cardiovascular ideal incluem quatro comportamentos de saúde (tabagismo, atividade física, índices de dieta saudável e IMC) e três fatores de saúde (nível de colesterol total, pressão arterial e nível de glicose plasmática em jejum.Após ajustes, participantes com melhor saúde cardiovascular tiveram menos sarcopenia. Cada ponto adicional nas métricas de saúde cardiovascular ideal reduziu as chances de sarcopenia, especialmente quando mais de 5 métricas ideais estavam presentes, diminuindo as chances em até 84%.Os resultados indicam uma ligação entre saúde cardiovascular ideal e sarcopenia em adultos, apoiando esforços para alcançar metas de saúde pública até 2030. Isso pode incluir iniciativas para reduzir a prevalência da sarcopenia por meio da promoção da saúde cardiovascular.
Dvoretskiy et al.,2020Revisão sistemáticaDeterminar se existe uma relação entre a saúde do músculo esquelético e a função macro e microvascular.HASTodos os 33 estudos mostraram uma associação significativa entre a função vascular e a saúde do músculo esquelético. Associações negativas significativas foram relatadas entre disfunção vascular e força muscular (10 estudos), massa muscular (9 estudos) e função muscular (5 estudos). Nove estudos encontraram correlações positivas entre massa muscular e saúde microvascular.Estudos mostraram uma associação entre a saúde vascular e a saúde do músculo esquelético em adultos saudáveis. Destaca a importância de rastrear a saúde muscular em adultos com disfunção vascular para iniciar cedo intervenções nutricionais e de exercício, visando melhorar o declínio funcional.
Gao et al., 20222 Estudo longitudinal  Investigar a relação entre o status de sarcopenia e DCVs na população chinesa de meia-idade e mais velha.IAM, angina, DAC, IC, AVE ou outros problemas cardíacos.A prevalência de DCVs foi maior entre indivíduos com possível sarcopenia e sarcopenia em comparação com aqueles sem sarcopenia. Durante o acompanhamento de 3,6 anos, possível sarcopenia e sarcopenia foram associadas a um risco aumentado de desenvolver DCVs incidente.A possível sarcopenia e a sarcopenia, conforme os critérios da AWGS 2019, foram associadas a um aumento do risco de doenças cardiovasculares em adultos chineses de meia-idade e mais velhos.
He, Huang, Li, Zha e Yuan, 20233 Estudo de randomização mendeliana bidirecionalExaminar a correlação genética de características relacionadas à sarcopenia com doença coronariana.DAC  A maior massa magra apendicular geneticamente prevista, juntamente com maior FPP e ritmo de caminhada, reduziu o risco de DAC. A predisposição genética para doença coronariana não influenciou características relacionadas à sarcopenia.Maior massa magra apendicular, FPP e ritmo de caminhada estão associados a um menor risco de DAC. Vários mediadores foram identificados como intermediários nas relações entre características da sarcopenia e DAC sugerindo que intervenções direcionadas a esses fatores podem ser benéficas na prevenção da DAC em pacientes com sarcopenia.
Ikeue et al., 20224 Estudo transversal  Identificar pacientes obesos com alto risco de DCVs utilizando um índice combinado de obesidade e sarcopenia.HAS, diabetes mellitus e dislipidemia.A CC e QM foram identificadas como os índices mais associados aos escores de risco de DCVs. O risco de DCVs foi significativamente maior nos grupos com baixa CC e baixo QM) e alta CC e baixo QM .A CC e QM estão intimamente associadas ao acúmulo de fatores de risco para DCVs em pacientes obesos japoneses. A combinação desses índices reflete o risco cardiovascular de forma consistente.
Kamiya et al., 2017Estudo observacional transversalInvestigar a prevalência e o valor prognóstico da sarcopenia em pacientes idosos com DCVs.IC, DAC e pós cirúrgico cardíaco.A prevalência de sarcopenia foi de 29,7%. Taxas de prevalência por condição foram: DAC 17,8%, pós-cirurgia cardíaca 31,8%, IC 35,2%. Ocorreram 175 mortes. Pacientes com sarcopenia mostraram risco 1,44 vezes maior de mortalidade por todas as causas comparado aos não sarcopênicos.A sarcopenia é comum em idosos com DCVs e está ligada a um maior risco de morte. Nossos resultados indicam a importância de aumentar a conscientização e implementar estratégias preventivas eficazes para sarcopenia nesse grupo de pacientes.
Keng et al., 2019Estudo de coorteInvestigar a associação entre massa muscular esquelética e estrutura e função miocárdicaHAS, medidas das paredes cardíacas, FEVEOs sarcopênicos apresentaram menores dimensões do ventrículo esquerdo (VE) e da parede posterior, além de menor massa e volume do átrio esquerdo (AE).Em idosos com função cardíaca preservada, a sarcopenia está ligada a menores dimensões do VE e do AE. A massa muscular esquelética mostrou associação independente com parâmetros estruturais do miocárdio.
Khajali et al., 2021Estudo observacionalAvaliar a prevalência de sarcopenia em pacientes adultos com DCC.DCCPacientes do estudo (44,7% homens, idade 16-48 anos) com DAC (56,5%). Sarcopenia diagnosticada em 28,2%, mais comum em mulheres, casos graves de DAC, síndrome de Eisenmenger, e sem intervenções corretivas prévias. Sarcopenia associada a redução no TC6, hemoglobina e hematócrito elevados.O estudo revelou que adultos com doenças cardíacas complexas apresentam deficiência de força muscular e redução de massa muscular, com uma alta prevalência de sarcopenia, mesmo em idades mais jovens.
Ko et al., 2016Estudo transversalInvestigar se a massa muscular está relacionada à calcificação da artéria coronária em uma grande amostra de adultos assintomáticos de meia-idade.DACA baixa massa muscular mostrou uma associação inversa significativa com os índices de pontuação de aterosclerose, mesmo após ajustes para fatores de confusão, incluindo resistência à insulina.A massa muscular relativa mostrou uma associação negativa com a prevalência de calcificação coronariana, indicando que a baixa massa muscular é um fator de risco independente para DAC.
Kwon et al., 2023Estudo transversal  Determinar a relação entre a PA e diversas características clínicas usando dados da Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição da Coreia (KNHANES) e examinar as mudanças na PA e a prevalência de baixa massa muscular de acordo com a idade dos participantes.HASO grupo com PA elevada era composto por indivíduos de maior idade e apresentava valores mais altos de HAS, diabetes e hiperlipidemia, em comparação com o grupo controle. Esse grupo também mostrou uma maior prevalência de baixa massa muscular em todos os modelos analisados.Uma PA elevada está significativamente ligada a uma maior prevalência de baixa massa muscular. Assim, o monitoramento da PA pode ser útil para identificar indivíduos em risco de sarcopenia e direcionar intervenções para melhorar os resultados de saúde.
Lai et al., 2024Estudo de coorteExplorar as associações de Atividade Física e sarcopenia com doença cardíaca isquêmica incidente, bem como seus subtipos, e a associação dose-resposta entre o volume de Atividade Física  autorreferida e Doença cardíaca isquêmica incidente.Doença cardíaca isquêmicaA falta de atividade física foi associada a maior risco de doença cardíaca, especialmente em indivíduos com sarcopenia. A combinação de baixa atividade física e sarcopenia aumentou significativamente o risco de DIC, especialmente para infarto agudo do miocárdio e doença cardíaca isquêmica crônica.Os achados indicam uma interação sinérgica entre a falta de atividade física e sarcopenia no aumento do risco de doença cardíaca. Este estudo sugere que estratégias de prevenção primária direcionadas podem ser melhoradas com base nessa interação.
Lee et al., 2021Estudo transversalAvaliar se a qualidade muscular abdominal está associada ao risco de calcificação das artérias coronárias.DACEm mulheres, aumentos nos quartis de área muscular de atenuação normal/área muscular abdominal total foram associados a menores chances de calcificação significativa da artéria coronária, após ajustes para fatores de risco cardiovascular. Nos homens, essas chances também foram significativamente menores.A má qualidade do músculo esquelético pode ser um importante fator de risco para DAC.
Liu et al., 2023Estudo de randomização mendeliana bidirecionalDescobrir a conexão potencial entre características relacionadas à sarcopenia e DCVs em nível genético.DAC, AVE e IAM.A maior massa muscular de membros tem um efeito causal negativo sobre DAC, AVE e IAM. A força de preensão da mão esquerda é um fator de proteção significativo para DAC e IAM, mas não para AVE. A força de preensão da mão direita também protege contra doença coronariana e IAM, sem efeito significativo sobre AVE.Há uma relação causal unidirecional entre sarcopenia e DCVs. A perda de massa e força muscular desempenham um papel significativo na promoção e desenvolvimento de DCVs, servindo como uma referência importante para a prevenção e tratamento de comorbidades em idosos.  
Lutski, Weinstein, Tanne e Goldbourt, 2020Estudo observacional transversalInvestigar a associação entre sobrepeso, obesidade e sarcopenia entre homens residentes na comunidade em Israel com DCVs.IAMEncontrou sarcopenia em 54,3% dos participantes obesos, 37,0% dos com excesso de peso e 24,8% dos com peso normal. Aqueles com IMC ≥ 25,0 apresentaram 5,31 vezes mais chances de ter sarcopenia em comparação com os com IMC < 25,0, após ajustes para covariáveis.Identificou uma ligação positiva entre obesidade e sarcopenia tardia, indicando que a obesidade pode ser um relevante fator de risco modificável para sarcopenia.
Matsubara et al., 2017Estudo transversal retrospectivoInvestigar a relação entre sarcopenia e eventos cardiovasculares para facilitar o desenvolvimento de estratégias adequadas de gestão de risco para pacientes com isquemia crítica de membros e sarcopenia.Doença arterial periférica e revascularizaçãoFoi identificado sarcopenia em 53 pacientes. A sobrevida livre de eventos cardiovasculares em três anos foi significativamente menor entre os pacientes com sarcopenia, em comparação aos sem sarcopenia. A doença cardiovascular causou mais mortes entre os pacientes com sarcopenia, especialmente doença cardíaca isquêmica.A sarcopenia aumenta o risco de pior sobrevida livre de eventos cardiovasculares em pacientes com isquemia crítica de membros.
Tibuakuu et al., 2018Estudo de coorteEstudo procurou investigar três questões: (1) se a massa muscular baixa da coxa está associada à DAC. (2) se a baixa massa muscular da coxa está associada à gravidade da estenose coronariana; e (3) se tais associações, se presentes, diferem de acordo com o estado serológico do HIV.DACBaixa massa muscular na coxa, com prevalência de 20%, foi associada a um risco 2,5 vezes maior de estenose coronária obstrutiva, independentemente do status sorológico para HIV e outros fatores de risco.A baixa massa muscular da coxa está significativamente associada à estenose coronária obstrutiva subclínica.  
Tsuchida et al., 2018Estudo de coorte observacional prospectivoInvestigar o impacto da sarcopenia existente na gravidade da doença da IC, e avaliar a utilidade do método de massa muscular sem gordura com referência à medição da massa muscular derivada da técnica padrão em pacientes com IC.ICA sarcopenia estava presente em 52,6% dos pacientes com DAC.A sarcopenia está ligada à gravidade da doença na DAC.
Von haehling, 2018Revisão narrativaResumir o conhecimento disponível sobre perda muscular e sarcopenia em pacientes com ICICA sarcopenia aumenta a mortalidade em idosos, especialmente mulheres, prolongando hospitalizações e aumentando o risco de mortalidade. É prevalente em unidades de terapia intensiva, com mitocôndrias disfuncionais e anorexia como fatores contribuintes. Ferramentas de triagem incluem SARC-F e ultrassonografia, enquanto DEXA, tomografia computadorizada ou ressonância magnética, são métodos diagnósticos padrão-ouro. Exercício físico e suplementação podem ser eficazes no tratamento da sarcopenia.Em idosos, baixa atividade física prediz sarcopenia, aumentando morbidade, mortalidade e duração de internações. Tratamentos incluem suplementos, exercícios e medicamentos.
Xue et al., 20215 Revisão sistemática e meta-análise  Realizar uma meta-análise para avaliar se a sarcopenia pré-operatória pode ser usada para prever os resultados após cirurgia cardíaca em pacientes idosos com DAC.DACDez estudos com 3.707 pacientes mostraram que sarcopenia está associada a uma taxa mais alta de eventos cardiovasculares adversos principais (HR = 2,27, IC 95%: 1,58-3,27, P < 0,001). O uso do índice PMI para definir sarcopenia também confirmou essa associação (HR = 2,86, IC 95%: 1,84-4,46, P < 0,001). No entanto, sarcopenia não mostrou associação com maior mortalidade tardia, mortalidade por todas as causas ou hospitalização por IC.Sarcopenia está associada a piores resultados de eventos cardiovasculares adversos em pacientes com DAC. Os resultados sugerem a identificação de subgrupos que podem necessitar de monitoramento especial pós-cirurgia de DAC. No entanto, considerando a variedade de participantes incluídos, a interpretação deve ser feita com cautela devido à possibilidade de heterogeneidade.
Zhang et al., 2019Estudo prospectivo e observacionalInvestigar a prevalência de sarcopenia em pacientes idosos hospitalizados com DAC e avaliar prospectivamente o efeito da sarcopenia no prognóstico de curto prazo desses pacientes.DAC345 idosos com doença coronariana revelou uma prevalência de sarcopenia de 22,6%. Pacientes sarcopênicos tiveram mais retornos não programados e menor tempo de sobrevida livre de eventos cardíacos e cerebrais adversos maiores em comparação com não sarcopênicos.Idosos hospitalizados com DAC e sarcopenia apresentam alta prevalência de sarcopenia, associada a menor sobrevida livre de eventos cardíacos e cerebrais adversos, além de mais retornos não programados. É crucial que os médicos atentem ao estado funcional desses pacientes e à gestão das síndromes geriátricas.
Zhang et al., 2023Pesquisa transversalInvestigar se os riscos de mortalidade específica por todas as causas e DCVs diferem de acordo com o status de baixa massa muscular em sobreviventes de câncer e uma coorte compatível sem histórico de câncer.Todas as causas e DCVs.No geral, 22,2% dos sobreviventes de câncer e 19,7% da coorte correspondente tinham baixa massa muscular. A baixa massa muscular foi associada à maior mortalidade por todas as causas e específica por DCVs em sobreviventes de câncer.Sobreviventes de câncer com baixa massa muscular apresentam risco aumentado de mortalidade por todas as causas e mortalidade específica por DCVs.
Zhang et al., 2023Estudo longitudinalInvestigar a associação de sarcopenia e índice de redondeza corporal com DCVs na população chinesa de meia-idade e idosa.Doença cardíaca, diabetes e/ou AVE.Durante o acompanhamento de 8 anos, participantes com sarcopenia e índice de redondeza corporal elevado apresentaram maior risco de doenças cardiovasculares, incluindo AVE e multimorbidade.A presença simultânea de sarcopenia e um alto BRI está relacionada a um aumento do risco de DCVs. Detectar e intervir precocemente na sarcopenia e no índice de redondeza corporal não apenas permite a aplicação de estratégias terapêuticas, mas também oferece uma oportunidade para reduzir o risco de desenvolvimento de DCVs.
Zuo et al., 2023Revisão sistemática e metanaliseAvaliar e comparar evidências convincentes sobre a prevalência de sarcopenia em pacientes com DCVs e se as DCVs aumentariam a incidência de sarcopenia.IC, DAC, DCC, Arritmia cardíaca ou DCVsA sarcopenia é prevalente em pacientes com doenças cardiovasculares, variando de 10,1% a 68,9% em diferentes condições como insuficiência cardíaca, doença arterial coronariana, arritmias e outras formas de DCVs. Em comparação, a prevalência na população geral é significativamente menor, variando de 2,9% a 28,6%.A sarcopenia é mais prevalente em pacientes com DAC, IC e arritmias em comparação com a população geral, sugerindo uma correlação positiva com doenças cardiovasculares. Destaca-se a necessidade de identificar populações de alto risco para intervenções precoces, como o exercício, para mitigar seu impacto.
Fonte: Pesquisadores (2024).
Legenda: AVE (Acidente vascular encefálico); AWGS (Asian Working Group for Sarcopenia); CC (circunferência de cintura); DAC (Doença arterial coronariana);  DCC (Doença cardíaca congênita); DCVs (Doenças cardiovasculares); DEXA (Absorciometria bifotónica de raio X);  FEVE (Fração de ejeção do ventrículo esquerdo);  FPP  (Força de preensão palmar); HAS (Hipertensão arterial sistêmica);  IAM (Infarto agudo do miocárdio);  IC (Insuficiência cardíaca);  PA (Pressão arterial) e QM (Qualidade Muscular).


A presente revisão demonstrou, por meio dos trabalhos encontrados, uma forte conexão entre a sarcopenia e as doenças cardiovasculares (DCVs), apontando-a como um fator de risco significativo. A perda de massa muscular é considerada um risco independente para problemas cardíacos, reduzindo a sobrevida sem eventos cardiovasculares. Além disso, a diminuição da massa muscular está associada a um aumento nas taxas de mortalidade geral e por DCVs, e a inatividade física pode amplificar esse risco em indivíduos com sarcopenia.

Chen et al. (2022) mostram que durante a perda de massa muscular esquelética, a função endócrina pode ser comprometida e resultar em desfechos desfavoráveis para as DCVs, visto que as células musculares desempenham uma função endócrina ao secretarem miocinas. Estas possuem efeitos benéficos no sistema cardiovascular (Chen et al., 2022). Liu et al. (2023) reforçam, relatando que a perda constante da massa e força muscular causadas pela sarcopenia leva ao envelhecimento e declínio funcional do sistema locomotor e isso consequentemente, a restrição de atividade física, que aumenta o risco de DCVs.

A sarcopenia tem sido associada à fatores como resistência à insulina e à inflamação sistêmica, fatores de risco conhecidos para doença arterial coronariana, insuficiência cardíaca congestiva e arritmias em comparação com a população geral, sugerindo um efeito deletério com doenças cardiovasculares (Tibuakuu et al., 2018; Tsuchida et al., 2018; Zuo et al., 2023).

Segundo Boonpor et al. (2024), pessoas com sarcopenia têm riscos mais elevados de DCVs, com taxas de incidência semelhantes às de indivíduos sem sarcopenia 14,5 anos mais velhos. Outros autores corroboram estes dados, incitando que baixa massa muscular é um fator de risco independente para doença cardíaca (Chen et al., 2021; Gao et al., 2022; Khajali et al., 2022; Ko et al., 2016; Lee et al., 2021; Liu et al., 2023; Simsek, 2022; Zhang et al., 2019).

Tibuakuu et al. (2018) reforçam que sarcopenia foi associada a um risco 2,5 vezes maior de DAC. A sobrevida livre de eventos cardiovasculares foi significativamente menor entre os pacientes com sarcopenia (Matsubara et al., 2017), e, além do menor tempo de sobrevida livre de eventos cardíacos, pacientes com doença coronariana revelaram uma prevalência de sarcopenia de 22,6% (Zhang et al. 2019). Além de aumentar o risco de desenvolver DCVs, o que pode ocorrer mais cedo do que naqueles sem sarcopenia (Boonpor et al., 2024), também está associada a piores resultados em pós cirúrgico de pacientes com DAC (Xue et al., 2021).

A qualidade muscular está intimamente associada ao acúmulo de fatores de risco para DCVs em pacientes obesos japoneses, como excesso de citocinas inflamatórias e estresse oxidativo, que gera um estado pró-inflamatório, resistência à insulina, alterações hormonais e (Ikeue et al., 2022). Citocinas pró-inflamatórias podem ser liberadas e induzir perda de apetite, degradação de proteínas e redução da síntese proteica, levando a perda de massa muscular (Ikeue et al., 2022).

Essa inflamação está associada a um risco aumentado de morte e a desfechos cardiovasculares adversos, pois o desequilíbrio entre anabolismo e catabolismo é um evento metabólico desfavorável, fortemente relacionado à fragilidade, ao declínio funcional e à falência de órgãos em humanos, que está associado a uma expectativa de vida mais curta  (Zhang et al., 2019; Kamiya et al., 2017).

Pacientes com sarcopenia mostraram risco 1,44 vezes maior de mortalidade e hospitalizações por todas as causas quando comparados aos não sarcopênicos (Simsek, 2022; Kamiya et al., 2017; Kwon et al., 2023; Matsubara et al., 2017; Von haehling, 2018).

 Pacientes geriátricos com IC frequentemente enfrentam fragilidade, obesidade, multimorbidade e polifarmácia, tornando-os mais propensos a ter baixa força muscular e limitações funcionais, especialmente mulheres mais velhas (Charkiewicz et al., 2023). Além de apresentarem alterações como pressão arterial elevada, que está significativamente ligada a uma maior prevalência de baixa massa muscular, também associado a maior necessidade de UTI e ventilação mecânica, além de maior mortalidade hospitalar (Simsek, 2022).

Dvoretskiy et al., (2020) mostram uma associação negativa entre a saúde vascular e a saúde do músculo esquelético em adultos saudáveis, mostrando que um tecido muscular inferior pode ser associado à maior rigidez arterial, esses resultados indicam uma ligação entre saúde cardiovascular ideal e sarcopenia em adultos. Participantes com melhor saúde cardiovascular tiveram menos sarcopenia, cada ponto adicional nas métricas de saúde cardiovascular ideal reduziu as chances de sarcopenia (Chen et al., 2022).

Uma maior proporção de músculo de boa qualidade foi fortemente associada a uma menor prevalência de problemas cardíacos (Simsek, 2022; Lee et al., 2021). Corroborando com tal achado, Liu et al., (2023) relatam que maior massa muscular dos membros tem um efeito causal negativo sobre DAC, AVE e IAM. Ainda, He et al. (2023) mostram que quanto maior massa magra apendicular, força de preensão manual (FPP) e ritmo de caminhada, menor risco de doença coronariana.

A FPP é uma medida amplamente utilizada para avaliar a força muscular global e funcionalidade em diferentes populações, sendo especialmente relevante em estudos relacionados à sarcopenia e condições crônicas (Liu et al., 2023). Sua avaliação é realizada por meio de um dinamômetro de mão, que mede a força máxima exercida durante o aperto, tem sido associada a importantes desfechos clínicos, como o risco de mortalidade e doenças cardiovasculares, sendo um preditor confiável de fragilidade e funcionalidade física (Liu et al., 2023; He et al. 2023).

A força de preensão palmar foi utilizado como método de prevenção significativo para doença coronariana e IAM, identificando indivíduos que não possuíam força o suficiente para o teste (Liu et al., 2023).

Pacientes com IC mais velhos, homens, obesos, com múltiplas comorbidades e fisicamente inativos, apresentam maior incidência de doenças como doença cardíaca isquêmica, fibrilação atrial e diabetes, especialmente entre mulheres. Embora o desempenho muscular fosse similar, pacientes com IC tinham menor velocidade de marcha, menor força de preensão e menor circunferência do braço, indicando sarcopenia grave e dinapenia (Charkiewicz et al., 2023; Lutski et al., 2020). A nível estrutural do coração,  a sarcopenia está ligada a menores dimensões do ventrículo esquerdo (Keng et al., 2019).

A combinação de baixa atividade física e sarcopenia contribui de maneira significativa para o aumento do risco de desenvolvimento de doenças cardíacas (Lai et al., 2024). A inatividade física, aliada à perda progressiva de massa muscular, mostrou-se um fator determinante na elevação desse risco, reforçando a importância de intervenções direcionadas à prevenção e tratamento dessas condições (Lai et al., 2024).

Exercício físico e suplementação podem ser eficazes no tratamento da sarcopenia (Zhang et al., 2023b), O risco de DCVs diminui rapidamente à medida que a prática do exercício físico aumenta ( Zhang et al., 2023b Lai et al., 2024), pois reduz o declínio funcional do indivíduo (Dvoretskiy et al., 2020; He et al., 2023;Von haehling, 2018; Zuo et al., 2023).

Lai et al., (2023) investiga como a falta de atividade física, especialmente em pessoas com sarcopenia aumenta o risco de doenças cardíacas isquêmicas, e relata que a inatividade física é um fator de risco significativo para doenças cardíacas, especialmente em indivíduos com sarcopenia, e com isto destaca a importância da atividade física na prevenção de doenças cardíacas, mesmo em pessoas que estão perdendo massa muscular devido à idade. E isso é corroborado com Zhang et al., (2023b) que menciona brevemente o exercício físico como um fator que pode atenuar ou reverter a perda de massa muscular.

Zuo et al., (2023) discute como o exercício físico, especialmente o treinamento de resistência, pode ser um tratamento promissor para sarcopenia. O exercício físico aumenta o débito cardíaco, melhora o transporte de oxigênio para os tecidos periféricos e beneficia a saúde cardiopulmonar, o treinamento de resistência, em particular, pode melhorar a força muscular, qualidade muscular, a massa muscular e a função física em adultos de meia-idade e idosos (Zuo et al., 2023). E Dvoretskiy et al., (2020) reforça, com a relação entre a disfunção vascular e a massa, força e função muscular esquelética em adultos saudáveis, destacando como diferentes tipos de exercício como aeróbico, de resistência e até mesmo subir escadas podem impactar positivamente tanto a função muscular quanto a saúde vascular, como melhora da função muscular, aumento da capacidade aeróbica, aumento da massa muscular e força, além de melhora da saúde vascular como diminuição da rigidez arterial e melhor fluxo sanguíneo.

A literatura destaca a importância de aumentar a conscientização e implementar estratégias preventivas para a detecção precoce e eficaz para sarcopenia (Chen et al., 2022; Kamiya et al., 2017; Kwon et al., 2023), bem como iniciativas para reduzir a prevalência da mesma por meio da promoção da saúde cardiovascular (Chen et al., 2022a).

A promoção da saúde cardiovascular engloba estratégias que visam prevenir doenças cardiovasculares (DCV) por meio de modificações no estilo de vida e envolvimento da comunidade, é essencial, dada a carga global das DCVs, que continua sendo a principal causa de morbidade e mortalidade (Chen et al., 2022a; Kamiya et al., 2017).

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente revisão evidencia a forte relação entre sarcopenia e DCVs, com a baixa massa muscular sendo um fator de risco independente para doenças cardíacas e menor sobrevida livre de eventos cardiovasculares. A massa muscular reduzida está associada a um risco aumentado de mortalidade por todas as causas e específica por DCVs. Além disso, a falta de atividade física agrava ainda mais o risco de DCVs em indivíduos com sarcopenia.

É essencial aumentar a conscientização e implementar estratégias preventivas para a detecção precoce da sarcopenia, promovendo a saúde cardiovascular por meio de exercício físico. O monitoramento adequado e intervenções direcionadas podem melhorar os resultados de saúde e reduzir o risco de desenvolvimento de DCVs.

Isso contribui para um melhor embasamento sobre a importância de realizar exercícios físicos quando se trata de pacientes sarcopenicos e cardiopatas, a fim de evitar desfechos negativos, e promover a saúde, significando que o exercício físico propõe o benefício de reduzir morbidade e mortalidade no indivíduo praticante.

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¹Mestrando em Ambiente e Saúde pela UNIPLAC. E-mail: Julianolima@uniplaclages.edu.br
²Doutoranda em Ambiente e Saúde pela UNIPLAC. E-mail: nayaralisboa@uniplaclages.edu.br
³Doutora em Fisiologia Humana. E-mail: fer_cortegoso@hotmail.com
⁴Doutora em Fisiologia Humana; docente do Programa de Pós-graduação em Ambiente e Saúde da UNIPLAC. E-mail: Nat_cunha@uniplaclages.edu.br
⁵Fisioterapeuta, Pós-Graduada em Ortopedia, Traumatologia e Desportiva. E-mail: kgleyse9614@gmail.com