RELAÇÃO ENTRE USO DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS E AS ATITUDES DE SEGURANÇA DO PACIENTE

RELATION BETWEEN ALCOHOL USE AND OTHER DRUGS AND ATITUDES PATIENT SAFETY

RELACIÓN ENTRE CONSUMO DE ALCOHOL Y OUTRAS DROGAS Y ACTITUDES SEGURIDAD DEL PACIENT

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10070663


Samantha Pimenta Godoi
Priscila Castro Cordeiro Fernandes
Maria Cristina de Moura Ferreira
Carla Denari Giuliani
Gerusa Tomaz Faria
Ana Rosa Ribeiro Elias
Alessandra Ferreira Mendes Jiticovski
Kariciele Cristina Corrêa
Vanessa Cristina Bertussi
Marcelle Aparecida de Barros Junqueira


RESUMO

Objetivo: levantar dados sobre a caracterização do uso/abuso de substâncias psicoativas entre profissionais de enfermagem e sua relação nas atitudes de segurança do paciente. Método: Estudo quantitativo, transversal, analítico do tipo exploratório; realizado com 226 profissionais de enfermagem de um hospital universitário do Triângulo Mineiro no período de 10 de novembro a 21 de dezembro de 2020 através de questionário estruturado e autoaplicável, dividido em Informações sociodemográficas e profissionais. Resultados: A média de idade dos profissionais foi de 42,22 anos e a jornada de trabalho média de 39,14 horas semanais. Identificou-se que 35,9% fazem uso abusivo do álcool, 18,1% já usaram outros medicamentos além dos necessários e 17,3% dos profissionais sentem dificuldade de parar de usar essas drogas se necessário. Conclusão: Evidenciou-se que o álcool é a droga de maior frequência dos profissionais e pode prejudicar o clima de trabalho em equipe, interferindo negativamente nos cuidados prestados ao paciente.

Descritores: Transtornos relacionados ao uso de substâncias; Segurança do paciente; Equipe de enfermagem.

ABSTRACT

Objective: to collect data on the characterization of the use/abuse of psychoactive substances among nursing professionals and their relationship to patient safety attitudes. Method: Quantitative, cross-sectional, analytical exploratory study; carried out with 226 nursing professionals from a university hospital in Triângulo Mineiro from November 10 to December 21, 2020 through a structured and self-administered questionnaire, divided into sociodemographic and professional information. Results: The average age of the professionals was 42.22 years and the average working day was 39.14 hours per week. It was identified that 35.9% abuse alcohol, 18.1% have used other medications in addition to those necessary and 17.3% of professionals find it difficult to stop using these drugs if necessary. Conclusion: It was evidenced that alcohol is the drug most frequently used by professionals and can harm the teamwork climate, negatively interfering with the care provided to the patient.

Descriptors: Substance-related disorders; Patient Safety; Nursing Team.

RESUMEN

Objetivo: recolectar datos sobre la caracterización del uso/abuso de sustancias psicoactivas entre profesionales de enfermería y su relación con las actitudes de seguridad del paciente. Método: Estudio cuantitativo, transversal, analítico exploratorio; realizado con 226 profesionales de enfermería de un hospital universitario en Triângulo Mineiro del 10 de noviembre al 21 de diciembre de 2020 a través de un cuestionario estructurado y autoadministrado, dividido en información sociodemográfica y profesional. Resultados: La edad media de los profesionales fue de 42,22 años y la jornada laboral media fue de 39,14 horas semanales. Se identificó que el 35,9% abusa del alcohol, el 18,1% ha usado otros medicamentos además de los necesarios y el 17,3% de los profesionales tiene dificultad para dejar de usar esas drogas si es necesario. Conclusión: Se evidenció que el alcohol es la droga más utilizada por los profesionales y puede perjudicar el clima de trabajo en equipo, interfiriendo negativamente en el cuidado prestado al paciente.

Descriptores: Transtornos Relacionados com substancias; Seguridad del paciente; Grupo de Enfermería

INTRODUÇÃO

O abuso de álcool e outras substâncias é um grande problema de saúde pública, e entre profissionais de enfermagem apresenta dois desdobramentos negativos: um relacionado à própria saúde do profissional e o outro que diz respeito ao vínculo mantido com os pacientes. Dessa forma, além de contribuir para aumentar o volume de afastamentos e reivindicações de aposentadoria por incapacitação e invalidez, o abuso de substâncias pode estar relacionado ao aumento no número de acidentes de trabalho 1,2.

A Classificação Internacional de Segurança do Paciente (ICPS), proposta pela Organização Mundial de Saúde (OMS), define como segurança do paciente a redução de riscos de danos ou lesões, associada ao cuidado em saúde, dentro de uma aceitação mínima; risco como a probabilidade que um incidente ocorra; o erro como a falha, a ação que ocorre fora do planejado ou aplicação incorreta do plano, e ainda, os Eventos Adversos (EAs), como qualquer dano ou lesão causada ao paciente pela intervenção da equipe de saúde 3.

A qualidade do serviço ofertado tem sido uma meta nas instituições de saúde, considerando os constantes aperfeiçoamentos das práticas que buscam a integralidade do cuidado para a satisfação das necessidades de saúde e de segurança de quem depende desses trabalhadores e de seus serviços 4.

A satisfação no trabalho relacionada aos recursos humanos e organizacionais tem sido objeto de questionamentos no que se refere às implicações para a segurança do paciente. Nas unidades onde se desenvolve um estilo de cuidado mais centrado no paciente a satisfação dos profissionais de enfermagem no trabalho aumentou, bem como o número de erros de medicações foi reduzido, o que os deixava mais seguros para a notificação dos erros 5.

Profissionais de enfermagem fazem uso de substâncias psicoativas na mesma quantidade em relação à população geral, porém, somente buscam ajuda para esse problema tardiamente, muitas vezes por vergonha do julgamento moral e tabus que infelizmente envolvem essa questão 1-2, assim esse estudo se justifica que uma vez instalado esse desafio, tem-se uma perda considerável de sua produtividade e qualidade da assistência, colocando em risco a segurança do paciente.

O estudo tem como objetivo caracterizar o uso e abuso de substâncias psicoativas entre profissionais de enfermagem e analisar a relação do uso e abuso de substâncias psicoativas com as atitudes de segurança do paciente entre os profissionais de enfermagem.

MÉTODO

Trata-se de um estudo quantitativo, transversal, analítico do tipo exploratório; realizado com profissionais de enfermagem (enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem), no total 1.193 profissionais, sendo 293 enfermeiros e 900 técnicos e auxiliares de enfermagem, de um hospital universitário de grande porte do Triângulo Mineiro.

Para o estudo, o plano de amostragem foi do tipo não probabilística, a esmo, por quotas, sendo população estudada dividida em cinco setores (ou quotas) de atuação da enfermagem: Pronto-socorro, internação clínica e cirúrgica, materno-infantil, ambulatórios e centro cirúrgico/unidades de terapia intensiva.

Os critérios de inclusão foram ser enfermeiro, ou técnico/auxiliar de enfermagem e estar em atuação no hospital universitário no momento da coleta; já como critérios de exclusão estavam profissionais que estavam afastados do trabalho por quaisquer razões e que não desejavam participar do estudo.

Considerando um intervalo de confiança de 95%, com uma margem de erro de 5%, a amostra do estudo seria de 215 participantes (número mínimo de participantes da pesquisa); considerando uma margem de segurança para possíveis recusas, em cada setor foram entregues 65 instrumentos de coleta de dados, totalizando 325 entregues. Desse número, 99 sujeitos se recusaram a participar ou devolveram o instrumento totalmente em branco, totalizando uma amostra de 226 participantes para o estudo, incluindo-se profissionais que trabalham no mínimo há três meses na instituição e excluindo-se os que estavam licenciados, de férias ou afastados de suas atividades profissionais.

O período destinado a coleta dos dados foi de 10 de novembro a 21 de dezembro de 2020. Foi entregue um instrumento de coleta de dados sendo questionário estruturado e autoaplicável, contendo quatro blocos de informações:

  • a-) Informações sociodemográficas e profissionais, elaborado pelos pesquisadores.
  • b-)Questionário CAGE (acrônimo referente às suas 4 perguntas- Cut down, Annoyed by criticism, Guilty e Eye-opener) é utilizado com um ponto de corte de 2 respostas afirmativas sugerindo screening positivo para abuso ou dependência de álcool 6.
  • c-) Drug Abuse Screen Test (DAST-10) é uma escala dicotómica (sim ou não) que procura contextualizar os principais aspectos em torno do consumo de drogas. O consumo é considerado de risco com 1 ou 2 pontos; considerado prejudicial de 3 a 5 pontos e considerado substancial/severo com resultados maiores de 6 pontos 7.
  • d-) O Safety Attitudes QuestionnaireShort Form 2006 foi criado em 2006 e tem se mostrado uma ferramenta confiável para comparar as atitudes de segurança em diferentes grupos de profissionais prestadores de cuidados de saúde. Permite a obtenção de dados para se pensar em atividades de melhoria para a segurança do paciente, bem como, atitudes de mudança ao longo do tempo 8. A SAQ é composto por 41 itens que englobam seis domínios: clima de trabalho em equipe, clima de segurança e de satisfação no trabalho, percepção do estresse, percepção da gerência da unidade e do hospital e condições de trabalho. Os participantes atribuem uma pontuação a cada afirmação, contida no instrumento, com base em uma escala bipolar do tipo Likert de 5 pontos: discordo totalmente (0 ponto), discordo parcialmente (25 pontos), neutro (50 pontos), concordo parcialmente (75 pontos) e concordo totalmente (100 pontos). O resultado final da soma das pontuações é dividido pelo número de itens do domínio. Considera-se clima de segurança positivo o escore final geral maior ou igual a 75 9.

Os dados quantitativos foram gerenciados com informações digitadas, tabuladas e consolidadas no programa Microsoft Excel por dupla entrada e digitadores independentes visando minimizar falhas na entrada do banco de dados. Os bancos foram analisados no programa estatístico Software Statistical Package for Social Sciences (SPSS) versão 21.0. Foram realizadas as análises exploratórias (descritivas) dos dados, a partir da apuração de frequências simples absolutas e percentuais para as variáveis categóricas e as numéricas analisadas conforme as medidas de centralidade (média, mediana) e de dispersão (desvio padrão, mínimo e máximo).

Para verificar possíveis correlações entre as características socioeconômicas e demográficas e entre os instrumentos, foi utilizado o teste de Correlação de Pearson nas análises entre variáveis quantitativas (bivariadas) e a Correlação de Spearman, que é uma medida não paramétrica da correlação de postos (dependência estatística do ranking entre duas variáveis),

O Teste t de Student foi usado para amostras independentes de dois grupos, onde as médias de uma variável dessa população possui uma distribuição normal e, quando necessário, o teste de Mann-Whitney, como alternativa não paramétrica. O protocolo de pesquisa foi aprovado por Comitê de Ética em Pesquisa em seres humanos da instituição envolvida e todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

RESULTADOS

Dentre os 226 profissionais de enfermagem que participaram do estudo, 25,7% são enfermeiros e 73,5% são auxiliares/técnicos de enfermagem, sendo a maioria pertencente ao sexo feminino (85,4%), com faixa etária predominante entre de 31 a 40 anos (38,5%), sendo o estado civil predominante casado/Amasiado (56,6%), e consideradas pessoas religiosas (82,3%). A média de idade dos profissionais foi de 42,22 anos, e têm uma jornada de trabalho média de 39,14 horas semanais, sendo a média de atuação como trabalhadores de enfermagem de 17,7 anos.

Entre os resultados obtidos pelo questionário CAGE (Tabela 1), 38,5% dos trabalhadores relatam que deveriam diminuir a quantidade de bebida ou parar de beber e 33,6% se sentem criticados pelo modo de beber. Outros 35% se sentem culpados pela maneira que costumam beber e 31% necessitam beber para diminuir o nervosismo ou a ressaca pela manhã. No total dos entrevistados, foram identificados que 35,9 % fazem uso abusivo do álcool.

Tabela 1 – Risco à dependência de álcool, segundo CAGE, pelos profissionais de enfermagem do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia-MG, 2020 (n = 226)

CAGESimNãoNão responderam
N%N%N%
Alguma vez sentiu que deveria diminuir a quantidade de bebida ou parar de beber?8738,511952,7208,8
As pessoas o (a) aborrecem porque criticam o seu modo de beber?7633,612756,22310,2
Se sente culpado (a) pela maneira com que costuma beber7935122542511,1
Costuma beber pela manhã (ao acordar), para diminuir o nervosismo ou a ressaca703113459,3229,7
Pontuação total de uso prejudicial segundo o CAGE7935,914164,1

Quanto ao uso de outras substâncias psicoativas (exceto álcool) os dados da Tabela 2, 18,1% dos respondentes afirmaram que já usaram outros medicamentos além dos necessários e 9,7% usam mais de um medicamento por vez; 17,3% dos profissionais sentem dificuldade de parar de usar essas substâncias se necessário, e uma pequena porcentagem (3,1%) afirma que já teve apagões pelo uso dessas substâncias. No total dos entrevistados, foram identificados que 30,5% das pessoas têm um consumo de risco para drogas. As outras variáveis tiveram um baixo quantitativo em relação ao percentual estudado, sendo menor que 2% da amostra.

Tabela 2 Caracterização do uso e abuso de substâncias psicoativas segundo o DAST, pelos profissionais de enfermagem de um um hospital universitário de grande porte do Triângulo Mineiro, 2020 (n = 226)

DAST
Sim N %Não N %Não responderam N %
Você já usou outros medicamentos além dos necessários por razões médicas?41 18,1182 80,53 1,3
Abusa de mais de um medicamento por vez?22 9,7201 88,93 1,3
Você sempre pode parar de usar drogas quando quiser?187 82,731 13,78 3,5
Você teve ‘apagões’ ou ‘flashbacks’ como resultado do uso de drogas?7 3,1202 89,417 7,5
Você já se sentiu mal ou culpado pelo uso de drogas?4 1,8213 94,29 4
Seu cônjuge (ou pais) já se queixa de seu envolvimento com drogas?1 0,4208 9217 7,5
Você negligenciou sua família por causa do uso de drogas?2 0,9210 92,914 6,2
Você se envolveu em atividades ilegais para obter drogas?1 0,4210 92,915 6,6
Você já experimentou sintomas de abstinência (sentiu-se mal) quando parou de tomar drogas?3 1,3207 91,616 7,1
Teve problemas médicos como resultado do uso de drogas?3 1,3207 91,615 6,6
Total geral para consumo de risco DAST 1067 30,5145 65,9

Fonte: Dados coletados pela autora (2020).

Quanto aos resultados das atitudes de segurança do paciente, a análise da Tabela 3 mostra que a média da pontuação dos escores dos domínios são inferiores a 75 pontos, fato que denota atitudes negativas em quase aspectos, com exceção ao domínio “Satisfação no trabalho”, onde se obteve uma pontuação de 76,48 pontos.

Tabela 3 – Média de escores obtidos a partir da avaliação dos profissionais de enfermagem do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia-MG, 2020 (n = 226), segundo as dimensões do questionário SAQ

DomíniosNMédiaMínimoMáximoDesvio padrão
Clima de trabalho em equipe22366,82010019,12
Clima de segurança22359,73010019,27
Satisfação no trabalho22376,48010021,5
Percepção do estresse22071,74010027,33
Percepção da gerência (Adminis.)20951,6010026,17
Percepção da gerência22043,53010022,8
Condições de trabalho22143,74010027,96

Fonte: Dados coletados pela autora (2020).

De acordo com a Tabela 4, verifica-se que os indivíduos classificados como “Uso de baixo risco ou abstêmico” tendem a ter uma média maior, significativamente estatística, na pontuação do domínio “Clima de trabalho em equipe”; indicando assim melhores atitudes nesse domínio, comparados aos participantes classificados como de uso abusivo de álcool.

Tabela 4 – Uso de álcool e a segurança do paciente entre os profissionais de enfermagem do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia-MG, 2020, de acordo com o questionário de atitudes de segurança do paciente


NMédiaMínimoMáximoDesvio padrãoValor de p
Clima de trabalho em equipe Uso abusivo de álcool Uso de baixo risco de álcool

80 143


62,97 68,98


0 29,17


100 100


21,62 17,27


0,03*
Clima de segurança Uso abusivo de álcool Uso de baixo risco de álcool
80 143

56,72 61,42

0 14,29

96,43 100

20,74 18,26


0,09
Satisfação no trabalho Uso abusivo de álcool Uso de baixo risco de álcool
80 143

75,69 76,92

0 0

100 100

24,29 19,84


0,7
Percepção do estresse Uso abusivo de álcool Uso de baixo risco de álcool
80 140

68,57 73,56

0 0

100 100

29,74 25,79


0,21
Percepção da gerência (Adminis.) Uso abusivo de álcool Uso de baixo risco de álcool

76 133


54,04 50,2


0 0


100 100


27,67 25,28


0,32
Percepção da gerência Uso abusivo de álcool Uso de baixo risco de álcool
78 142

40,15 45,38

0 0

95,83 100

24,05 22

0,11
Condições de trabalho Uso abusivo de álcool Uso de baixo risco de álcool
79 142

40,77 45,39

0 0

100 100

27,8 28


0,24

* valores de p que tiveram significância estatística.

Teste t e Teste F (com teste post-hoc de Tukey)

Fonte: Dados coletados pela autora (2020).

Não houve uma associação estatisticamente significante do uso abusivo de álcool ou drogas com as variáveis sociodemográficas. No entanto, em relação às associações entre os dominios da SAQ e as características sociodemográficas, o teste t demonstra que existem evidencias estatísticas, ao nível de 95% de confiança de que os indivíduos do sexo “Feminino” e maiores de 60 anos de idade tendem a ter uma maior concordância com o domínio “Satisfação do trabalho” em relação aos indivíduos do sexo “Masculino”, e de faixas etárias menores. Ainda de acordo com a faixa etária, existem evidências estatísticas, de que os indivíduos com mais de 60 anos de idade tendem a ter uma maior concordância com o domínio “Condições de trabalho” em relação a outros indivíduos de faixas etárias menores. Em relação ao estado civil, os indivíduos “Solteiro / Viúvo” tendem a ter uma menor concordância com o domínio “Percepção da gerência” em relação a outros indivíduos classificados em outros estados civis.

DISCUSSÃO

Assim como em outros estudos, a média de idade da força de trabalho dos profissionais da enfermagem se caracterizou com 42,2 anos, com predomíno do sexo feminino 10. Conforme os dados obtidos, tem-se um abuso de álcool em torno de 35,9% pelos profissionais de saúde da instituição do estudo; tal dado é importante, pois o uso nocivo de álcool é o terceiro motivo para afastamento do trabalho e a oitava causa de auxílio-doença concedido pela Previdência Social. Seu uso está diretamente relacionado à violência, negligência, ao preconceito do trabalhador em relação ao seu trabalho, absenteísmo e aumento dos acidentes de trabalho, principalmente devido a mudanças na reação, percepção e reflexo 11, além disso, identifica-se que não é uma questão apenas brasileira, mas também evidenciada em outros países 12.

A prevalência de abuso de outras substâncias psicoativas na população de enfermagem no presente estudo é paralela ao da população em geral. Aproximadamente 10% da população de enfermagem usa álcool ou drogas e 6% têm problemas de abuso, o suficiente para interferir com suas habilidades para praticar 12-13 uma assistência segura.

Sobre o clima de segurança do paciente no contexto da presente pesquisa, indicou que os profissionais de enfermagem têm percepção considerada positiva apenas para o domínio satisfação no trabalho (76,48 pontos); para os demais domínios, as respostas indicaram baixo envolvimento da instituição com a segurança do paciente, com valores menores ou iguais a 75. Essa avaliação não é muito positiva, pois a criação de uma cultura de segurança leva tempo e exige investimentos de longo prazo da instituição. A percepção de uma atitude de segurança positiva no ambiente de trabalho pode ser evidenciada pela satisfação no trabalho e pela autonomia profissional, bem como pelo comprometimento e pelo desempenho de uma assistência de qualidade 2. Investigação realizada no Brasil 9 têm mostrado um clima de segurança do paciente insatisfatório e com fragilidade na percepção do estresse, na percepção da gestão e nas condições de trabalho.

Entre algumas considerações a respeito desses resultados, deve-se também considerar que, quando não é possível uma negociação entre o sujeito e a organização ou chefia, esta deve ser mais flexível e interferir nos problemas oriundos do trabalho para minimizar os efeitos do estresse na equipe e nos indivíduos, diminuindo, assim, o comprometimento da psique e, consequentemente, a sua exclusão. Quando isso não ocorre, o profissional desenvolve mecanismos de defesa que culminam em diminuição da pressão e da fonte de estresse e, se usado rotineiramente, podem tornar-se noviços e gerar resistência à mudança e à alienação, mascarando a ansiedade grave 11.

Pessoas acima de 60 anos (p=0,03) e do sexo feminino são mais propensas a ter uma satisfação no trabalho (p=0,02) dentre os profissionais estudados, e autores apresentam que a experiência no trabalho traz efeitos positivos, tanto no que concerne à percepção de segurança, quanto às habilidades para desenvolver as tarefas. Se for assim, os mais velhos estariam mais satisfeitos porque alcançaram equilíbrio entre as demandas e os modos operatórios graças aos atributos que a experiência lhes conferiu 15.

Há uma tendência à feminização em praticamente todas as profissões da saúde, sem exceção, assim como o fato de que as mulheres apresentaram os níveis mais elevados de satisfação global, sendo essa correlação estatisticamente significativa (p=0,02) e compactuando com outros estudos 14.

Percebeu-se que os profissionais de saúde que não ingerem bebidas alcoólicas têm mais chances de se sentirem satisfeitos com o trabalho do que aqueles que ingerem bebidas alcoólicas (p=0,03). A possível justificativa para o achado pode estar relacionada ao fato de que aqueles que costumavam beber álcool podem ficar entediados com seu trabalho não por causa do trabalho em si, mas por causa do problemas relacionados ao consumo de álcool que envolvem outros aspectos da vida desse profissional que não seja apenas da esfera do trabalho 17.

Alguns autores demonstram a necessidade de as gerências direcionar seus olhares nas questões que envolvem o adoecimento mental, incluindo-se o uso de álcool e outras drogas, pois pode-se observar que estas questões podem influenciar a cultura de segurança do paciente nos ambientes de trabalho17. Entre as limitações deste estudo estão o fato de limitar-se apenas uma instituição de saúde, ter sido realizada em plena pandemia de COVID-19, e carecer de maiores aprofundamentos de análises de técnicas de pesquisas tanto de caráter quantitativo, quanto qualitativo a fim de se expandir o conhecimento da complexidade que envolve o uso abusivo de álcool e outras drogas na enfermagem e suas consequências no cuidado prestado ao paciente.

Porém, o estudo pode contribuir para o desenvolvimento científico da enfermagem justamente por suscitar a discussão dessa temática, e levantar alguns dados que podem apontar para a existência das relações entre uso de substâncias e atitudes de segurança do paciente; fato que pode corroborar com a importância de se melhorar a gestão para influenciar na segurança do paciente, contribuindo para a diminuição dos entraves para implementação da segurança do paciente como prioridade.

CONCLUSÃO

Conclui-se que a substância psicoativa utilizada com maior frequência entre os profissionais de enfermagem foi o álcool, e, esse abuso pode interferir negativamente nos cuidados prestados ao paciente, pois os resultados desse estudo mostraram que os trabalhadores que não fazem uso de álcool acabam por ter um melhor clima de trabalho em equipe.

Em relação às atitudes de cultura do segurança do paciente, apenas a satisfação no trabalho foi considerada positiva, especialmente junto aos participantes do sexo feminino e com idade superior a 60 anos. Houve certa discordância com a gerência administrativa, principalmente entre pessoas solteiras/viúvas, sendo necessário realizar medidas para melhorar esse relacionamento e confiança na gerência, envolvendo mais os profissionais nas decisões a respeito do clima de segurança do paciente.

O envolvimento e atuação dos líderes e gestores são fundamentais para incentivar à equipe a olhar de forma diferenciada ao cuidado, tornando-o seguro. Ao perceber que a gestão se preocupa em melhorar a segurança do paciente é possível incentivar a equipe a aprender com os erros ocorridos, servindo como fonte potencial de inspiração para possíveis mudanças, capazes de intervir e adequar a gestão do cuidado com melhorias para uma assistência mais segura e de qualidade.

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