RELAÇÃO ENTRE TOSSE ASSISTIDA E O QUADRO RESPIRATÓRIO DE PACIENTES COM DOENÇAS NEUROMUSCULARES

UMA REVISÃO SISTEMÁTICA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7304289


Luana Brito Galvão De Almeida
Samyres Maria Dos Santos
Orientadora: Prof. Ma. Christiane Lopes Xavier


RESUMO

Fundamento: A insuficiência respiratória aguda (IRA) pode ocorrer frequentemente em pacientes com doenças neuromusculares agudas ou crônicas (DNMs). Com a progressão da doença, a perda de peso e fraqueza múscular, os indivíduos com DNM apresentam dificuldades para tossir e expelir secreções respiratórias de forma eficiente, fazendo se necessário a assistência multiprofissional. Objetivo: O estudo atual tem como foco apresentar uma comparação entre a relação entre tosse assistida e o quadro respiratório de pacientes com doenças neuromusculares. Metodologia: Trata-se de uma revisão sistemática, no qual a síntese narrativa foi feita através dos artigos selecionados pelas bases de dados Cochrane, PUBMED, PEDro. incluímos nessa revisão ensaios clínicos randomizados (ECRs), quase-ECRs e ensaios randomizados cruzados, estudos com texto completo sem restrições de idioma e data de publicação. Quanto ao tipo de participantes, incluímos adultos, adolescentes e crianças com diagnóstico de doença neuromuscular.

Resultados: Os cinco artigos incluídos eram artigos completos publicados, sendo três ensaios clínicos randomizados cruzados, e dois ensaios clínicos randomizados prospectivo. Os participantes foram, adultos e crianças (total de 174) com uma variedade de DNMs, variando a idade de 03 a 73 anos. Conclusão: Segundo os resultados da nossa revisão sistemática, o tradicional manejo para a desobstrução de vias aéreas realizados pela Fisioterapia Intensiva, juntamente com o ventilador e a tosse assistida pode ser mais trabalhoso ao profissional e cansativo ao paciente, mas ainda não pode ser descartado e reformulado para uma desobstrução de vias aéreas e dispositivos de tosse de forma completamente assistida e mecânica.

Palavras-chaves: Doenças Neuromusculares, Terapia De Assistência À Tosse, Insuflação Exsuflação Mecânica.

  1. INTRODUÇÃO

As doenças neuromusculares podem ser hereditárias ou adquiridas, muitas vezes, são de caráter progressivo. Elas afetam o sistema neuromuscular, levando a um comprometimento da força da musculatura respiratória, causando sérios problemas a qualidade de vida dos indivíduos afetados. (RACCA Et al. 2020)

Pacientes com distúrbios neuromusculares (DNMs), com a progressão da doença, a perda de peso e fraqueza muscular podem apresentar dificuldades para tossir e expelir secreções respiratórias de forma eficiente, isso pode surgir devido a insuficiência dos volumes inspiratórios e/ou velocidade de fluxo de ar expiratório reduzida, crescendo assim o risco de surgir uma insuficiência respiratória, podendo levar a uma aspiração, atelectasias, infecções respiratórias recorrentes, pneumonias e/ou obstrução das vias aéreas, a necessidade de uma traqueostomia ou até uma morte prematura. (ISHIKAWA Y ET. Al. 2011) e (MAHEDE ET AL.,2015)

Para Rao F et. Al. (2019), apesar dos pulmões propriamente ditos não estarem diretamente responsáveis pelo estado clínico de indivíduos com distúrbios neuromusculares (DMN), as deficiências respiratórias são comuns devido a diminuição da capacidade dos músculos inspiratórios e expiratórios, a expansão pulmonar e deficiência na ventilação alveolar, podendo acarreta baixos níveis sanguíneos de oxigênio e dióxido de carbono. Além de que, a expetoração é prejudicada com o fluxo expiratório insuficiente durante a tosse; acumulando saliva e muco nas vias aéreas superiores, podendo trazer infecções e a propagação desta no trato respiratório inferior e pulmões.

A assistência multiprofissional pode incluir assistência à tosse manual e mecânica, ventilação não invasiva, intubação endotraqueal, ventilação mecânica invasiva ou traqueotomia. (CAMELA Et al. 2019)

Objetiva-se poder agregar as fontes de pesquisa e para a comunidade, informações sobre a relação do uso da terapia de tosse assistida sobre o comportamento da condição respiratória de pacientes com doenças neuromusculares e estudar a relação entre a melhora do quadro respiratório nas condições destes pacientes.

  1. OBJETIVO

2.1 OBJETIVO GERAL

Estudar a relação entre a melhora do quadro respiratório de pacientes que fazem uso da terapia de tosse assistida.

2.2 OBJETIVO ESPECÍFICO

  • Combinação de evidências entre a relação da tosse assistida e o quadro respiratório de pacientes com doenças neuromusculares;
  • Estudar a relação entre a melhora do quadro respiratório nas condições destes pacientes;
  • Agregar fontes de pesquisa e a comunidade com informações sobre os benefícios relacionados ao uso da terapia de tosse assistida.
  1. MATERIAIS E MÉTODOS

Trata-se de uma revisão sistemática. Onde se encontra uma forma de pesquisa que utiliza como fonte outros artigos devidamente selecionados sobre o tema. A seleção dos estudos foi realizada após a definição dos descritores e palavras-chave, estas: Doenças Neuromusculares, Terapia de Assistência á Tosse, Insuflação Exsuflação Mecânica. Forampesquisadas nas bases de dados: PEDro (Physioterapia Evidence Database), Cochrane Library e PubMed (National Library of Medicamento).

A seleção dos artigos foram feitas pela leitura, respectivamente, dos títulos, resumos e textos completos, sem restrição de idioma e datas. Extração de dados e gestão foi feita individualmente pelos dois alunos colaboradores, de forma independente e depois analisada e comparado os resultados, em quantidade, metodologia, e na leitura. Foram avaliadas de forma independente a qualidade dos artigos. Foi realizado um fluxograma da seleção e critérios dos artigos, bem como tabelas com estratégia PICO, estratégias de busca, pontuações dos artigos de acordo com os critérios da escala PEDro, relações dos artigos incluídos e a descrição metodológica dos estudos incluídos nessa revisão.

3.1 REGISTRO DE PROTOCOLO

O protocolo de revisão sistemática foi registrado no Registro Prospectivo Internacional de Revisões Sistemáticas (PROSPERO) sob o número CRD42022366964.

3.2 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO

Elaboramos a estratégia PICO (Tabela 1), e com base na pergunta de pesquisa, incluímos nessa revisão ensaios clínicos randomizados (ECRs), quase-ECRs e ensaios randomizados cruzados que avaliaram técnicas de aumento da tosse (recrutamento de volume pulmonar, tosse assistida manualmente e insuflação-exsuflação mecânica (MI-E)) em comparação com nenhum tratamento, técnicas alternativas, ou combinações dos mesmos. Incluímos estudos relatados como texto completo sem restrições de idioma e data de publicação. Quanto ao tipo de participantes, incluímos adultos, adolescentes e crianças com diagnóstico de doença neuromuscular (DNM) que pode afetar os músculos da respiração.

Tabela 1. Componentes da pergunta de pesquisa seguindo a estratégia PICO.

DescriçãoAbreviaçãoComponentes da Pergunta
PopulaçãoPAdultos, adolescentes e crianças com doença neuromuscular.
IntervençãoITécnicas de aumento da tosse.
ComparaçãoCNenhum tratamento, técnicas alternativas, ou combinações dos mesmos.
DesfechoOAumento do pico de fluxo de tosse e/ou redução da frequência e da duração das infecções respiratórias.
Tipos de EstudosEnsaios clínicos randomizados (ECRs), quase-ECRs e ensaios randomizados cruzados
Fonte: Elaborado pelas Autoras, em outubro de 2022, com base em (GALVÃO; PEREIRA, 2014)

3.3 CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO

Foram excluídos estudos incompletos até a data da pesquisa, e todos os outros estudos que não fossem Ensaios clínicos randomizados (ECRs), como ensaios controlados não randomizados, estudos de coorte prospectivos, estudos de coorte retrospectivos e estudos de caso-controle, revisões sistemáticas, e textos completos que não se encaixaram na definição da pesquisa.

3.4 ESTRATÉGIA DE BUSCA

Dois revisores pesquisaram a literatura indexada durante o mês de outubro de 2022. Os bancos de dados eletrônicos pesquisados incluíram Cochrane Central Register of Controlled Trials (CENTRAL), Physiotherapy Evidence Database (PEDro) e PUBMED. A estratégia de busca incluiu descritores: Assisted Cough, Neuromuscular Diseases, Mechanical insufflation and exsufflation, Respiratory failure (Tabela 2).

Tabela 2. Estratégias de busca.

Bases científicasEstratégia de busca
PEDroassisted Cough OR neuromuscular diseases OR mechanical insufflation and exsufflation OR respiratory failure
PUBMEDassisted Cough AND neuromuscular diseases AND mechanical insufflation and exsufflation AND respiratory Failure
COCHRONEassisted Cough AND neuromuscular diseases AND mechanical insufflation and exsufflation AND respiratory Failure
Fonte: Elaborado pelas autoras em outubro de 2022.

3.5 SELEÇÃO E EXTRAÇÃO DOS DADOS

Os estudos identificados através das pesquisas nas bases de dados foram alocados para o Software Ryyan, onde dois revisores examinaram independentemente os títulos e resumos de todos os estudos identificados a partir da busca pelos critérios de inclusão, identificando e excluído as duplicatas. Após a seleção dos artigos de acordo com o título e resumo, os revisores avaliaram os artigos pelo texto completo. Em casos de discrepância um terceiro revisor foi consultado para uma decisão.

Dois revisores extraíram independentemente os dados dos resultados dos estudos incluídos, extraído de cada um dos dados-chave dos estudos incluídos: autor, ano de publicação, características dos participantes, resultados do estudo, complicações e eventos adversos, tamanho da amostra e conclusões.

3.6 RISCO DE VIÉS E AVALIAÇÃO DE QUALIDADE METODOLÓGICA

O risco de viés e qualidade metodológica dos estudos incluídos foram avaliados independentemente por dois revisores usando a escala PEDro (Tabela 3), que é baseada na lista Delphi desenvolvida por Verhagen et al. (1998). A pontuação do PEDro varia de 1 ponto (sem qualidade) a 10 pontos (qualidade excelente). Em casos de discrepância um terceiro revisor foi consultado para uma decisão.

Tabela 3 – Pontuações dos artigos de acordo com os critérios da escala PEDro.

PERGUNTAARTIGO/ANO
DEL AMO
CASTRILLO,
Et al., (2019)
KIM,
Et al.,
(2016)
LACOMBE,
Et al., (2014)
RAFIQ,
Et al.,
(2015)
SANCHO,
Et al.,
(2020)
1. Critérios de elegibilidadeSIMSIMSIMSIMSIM
2. Distribuição aleatória11011
3. Alocação secreta dos sujeitos00000
4. Semelhança inicial entre os sujeitos11111
5. Cegamentos dos sujeitos01100
6. Cegamento dos terapeutas00000
7. Cegamento dos avaliadores00000
8. Acompanhamento adequado11111
9. Análise da intenção de tratamento01011
10. Comparação intergrupos00011
11. Medidas de precisão e variabilidade11111
ESCORE TOTAL4/106/104/106/106/10
Fonte: Autores do estudo em outubro de2022.
  1. RESULTADOS

4.1 SELEÇÃO DOS ESTUDOS

Dos 50 artigos identificados nas 3 bases de dados, restaram 48 artigos após a remoção de duplicatas. Durante a avaliação dos artigos pelo título e resumo com o auxílio do Software Ryyan, excluímos 37 artigos, por não serem ensaios clínicos, restando apenas 11 artigos para leitura na íntegra. Após análise do texto completo dos 11 artigos, excluíram-se 3 estudos por não utilizarem pacientes neuropatas e 2 estudos de revisão sistemática, restando os 5 artigos que foram inclusos nessa revisão. A Figura 1 mostra o fluxograma descrevendo o processo de identificação, inclusão e exclusão de estudos.

Figura 1. Fluxograma dos estudos selecionados. Pct – Paciente. Fonte: Elaborado pelas autoras em outubro de 2022

4.2 ESTUDOS INCLUÍDOS

Os cinco artigos incluídos eram artigos completos publicados (Tabela 4), sendo que três eram ensaios clínicos randomizados cruzados (DEL AMO CASTRILLO, 2019; KIM, 2016; LACOMBE, 2014), e dois eram ensaios clínicos randomizados prospectivo (RAFIQ, 2015; SANCHO, 2020). Quanto a região de pesquisa, dois estudos incluídos eram da França (DEL AMO CASTRILLO, 2019; LACOMBE, 2014), um da Coréia (KIM, 2016), um da Espanha (SANCHO, 2020) e um da Inglaterra (RAFIQ, 2015).

Tabela 4. Relações dos artigos incluídos.

AutorAnoTítulo em InglêsTítulo em PortuguêsBase de Dados
Del Amo Castrillo et al., (2019)2019Comparison of two cough augmentation techniques delivered by a home ventilator in subjects with neuromuscular diseaseComparação de duas técnicas de aumento da tosse administradas por um ventilador doméstico em indivíduos com doença neuromuscularPUBMED
Kim, et al.,(20162016A comparison of cough assistance techniques in patients with respiratory muscle weakness.Uma comparação das técnicas de assistência à tosse em pacientes com fraqueza muscular respiratória .PUBMED
Lacombe et al., (2014)2014Comparison of three cough augmentation techniques in neuromuscular patients: mechanical insufflation combined with manually assisted coughing, isolated insufflation- exsufflation and insufflation-exsufflation combined with manually assisted coughingComparação de três técnicas de aumento da tosse em pacientes neuromusculares: insuflação mecânica combinada com tosse assistida manualmente, insuflaçãoexsuflação isolada e insuflaçãoexsuflação combinada com tosse assistida manualmenteCOCHRANE
Rafiq et al., (2015)2015A preliminary randomized trial of mechanical insufflatorexsufflator technique versus breath stacking technique in patients with amyotrophic lateral sclerosisUm estudo randomizado preliminar da técnica insufladorexsuflador mecânico versus técnica de empilhamento de respiração em pacientes com esclerose lateral amiotróficaPUBMED
Sancho et al., (2020)2020Usefulness of Oscillations Added to Mechanical InExsufflation in Amyotrophic Lateral SclerosisUtilidade das oscilações adicionadas à inexsuflação mecânica na esclerose lateral amiotróficaPUBMED
Fonte: Elaborado pelas autoras em outubro de 2022.

4.3 PARTICIPANTES, CONDIÇÕES DA DOENÇA E INTERVENÇÕES

Os participantes foram, adultos e crianças (total de 174) com uma variedade de doenças neuromusculares, com idade variando de três a 73 anos. O estudo de Del Amo Castrillo (2019) incluiu 20 adultos de 21 a 71 anos; Lacombe (2014) incluiu 18 adultos com idades entre 21 e 68 anos; Kim (2016) não relatou dados pediátricos e adultos separados, mas inscreveu 40 participantes com idade média de 20,9 anos; Sancho (2020) também não relatou dados pediátricos e adultos separados, com 56 indivíduos com idade média de 69,3 anos; Rafiq (2015) não relatou dados separados, seu estudo incluiu 40 indivíduos com idade média de 62,1 anos. Em relação as doenças relatadas, os estudos incluíram uma variedade de doenças neuromusculares. Os estudos de Lacombe (2014), Del Amo Castrillo (2019) e Kim (2016) incluiram doenças como: poliomielite ou síndrome pós-pólio, sarcoglicanopatia, deficiência de maltase ácida, Síndrome de Ulrich (dois participantes) e distrofia muscular fácio-escápuloumeral, miopatia vacuolar, desproporção congênita do tipo de fibra (miopatia), cintura escapular distrofia muscular, doença de Charcot-Marie-Tooth Tipo 1, distrofia muscular progressiva, miastenia gravis, distrofia muscular congênita. Já os estudos de Rafiq (2015) e Sancho (2020), utilizaram apenas indivíduos com Esclerose lateral Amiotrófica (ELA). A Tabela 5 resume a descrição das características dos estudos.

Tabela 5 – Descrição metodológica dos estudos incluídos nessa revisão.

ReferênciaDEL AMO CASTRILLO, Et al. (2019)KIM, Et al. (2016)LACOMBE, Et al (2014)RAFIQ, Et al. (2015)SANCHO, Et al. (2020)
Delineamento do estudoEstudo randomizado, aberto, unicêntrico, cruzado, com abordagem quantitativa.Ensaio clínico randomizado cruzado e controlado unicêntrico.Randomizado, aberto, unicêntrico, cruzado, com abordagem quantitativa.Estudo prospectivo de intervenção, randomizado controlado, de abordagem quantitativa.Estudo prospectivo, randomizado com abordagem quantitativa.
ObjetivosComparar o VCM com o breath stacking durante ventilação mandatória contínua controle volume indivíduos ventilação mecânica invasiva longa dur em casa.Avaliar a capacidade de um inexsuflador
mecânico (MIE), sozinho ou em combinação
com impulso
manual, para
aumentar a tosse em pacientes
com doença
neuromuscular
(DNM) e
disfunção
muscular
respiratória.
Comparar os efeitos da insuflação mecânica combinada combinada com MAC em pacientes neuromusculares que necessitam de assistência à tosse.Determinar se o MI-E oferece eficácia clínica combinada com MAC em pacientes neuromusculares que necessitam de assistência à tosse.Determinar se a adição de oscilações ao MI- E permite uma
redução no uso de
procedimentos
invasivos de
gerenciamento de
secreção (ou seja,
broncoscopia ou
traqueostomia) em
indivíduos com
ELA.
Metodologia20 indivíduos com doença neuromuscular causando disfunção muscular respiratória grave com pico de fluxo de tosse (PCF) <270 L/min ou pressão expiratória máxima < 45 cmH2O. Cada indivíduo testou o breath stacking e o VCM em ordem aleatória.40 pacientes com DNM estável participaram deste estudo que estavam em ventilação mecânica não invasiva e familiarizados com MI-E no momento da inscrição. O PCF foi medido sob quatro condições diferentes: sem assistência, impulso manual após uma manobra MIC, MI-E e MI-E em combinação com impulso manual.18 pacientes neuromusculares com disfunção muscular respiratória grave e pico de fluxo de tosse (PCF) menor que 3 litros/s ou pressão expiratória máxima (PEmáx) menor que +45 cm H2O. Os pacientes foram estudados em três condições de tosse assistida, que foram usadas em ordem aleatória: insuflação por respiração com pressão positiva intermitente (RPPI) combinada com MAC, MI-E e MI-E + MAC40 pacientes elegíveis com ELA foram randomizados para a técnica de breath stacking usando uma bolsa de recrutamento de volume pulmonar (n = 21) ou insufladorexsuflador mecânico MI-E (n = 19) e acompanhados em intervalos de três meses por pelo menos 12 meses ou até a morte.56 indivíduos com ELA foram randomizados para um acompanhamento de 12 meses. Um grupo foi tratado com oscilações além de MI-E (MI-E+O/ n=27), e o outro grupo foi tratado com MI-E convencional (n=29).
Principais ResultadosPCF aumentou com ambas as técnicas, mas foi maior com VCM do que com breath stacking em 16 indivíduos. Em 17 sujeitos, o PCF foi maior com a técnica que produziu maior capacidade inspiratória.O PCF médio no estado não assistido foi de 95,7 L/min. Após auxílio manual após manobra de MIC, o PCF foi de 155,9 L/min. Após MI-E sozinho e em combinação com empuxo manual, os PCFs foram 177,2 e 202,4 L/min, respectivamente Todas as três intervenções melhoraram significativamen te o PCF. No entanto, a assistência manual após uma manobra MIC foi significativamen te menos eficaz do que MI-E sozinho. O impulso manual mais MI-E foi significativamen te mais eficaz do que ambas as intervenções.PCF foi maior com RPPI + MAC do que com MI-E + MAC ou MI-E sozinho. Os resultados indicam que a adição do dispositivo MI-E ao MAC não é útil em pacientes cujo PCF com técnica de insuflação e MAC excede 5 litros/s. Isso ocorre porque o fluxo expiratório produzido pelo esforço do paciente e MAC ultrapassa transitoriamente a capacidade de vácuo do dispositivo MI-E, tornando-se, portanto, uma carga transitória contra o PCF.Os resultados mostraram que houve 13 episódios de infecção torácica no grupo breath stacking e 19 episódios no grupo MI-E (p = 0,92). A duração média dos sintomas por infecção torácica foi de 6,9 dias no grupo breath stacking e 3,9 dias no grupo MI-E (p = 0,16). Houve seis episódios de internação em cada grupo (p = 0,64). A chance de internação, no caso de infecção torácica, foi de 0,46 no grupo breath stacking e 0,31 no grupo MIE (p = 0,47). A sobrevida mediana no grupo breath stacking foi de 535 dias e 266 dias no grupo MIE (p = 0,34).Cinco indivíduos (8,9%) necessitaram de técnicas invasivas para controle de secreção (3 no grupo MI-E e 2 no grupo MI-E+O, P = 0,70). O tratamento com MI-E+O não alterou o risco de procedimentos invasivos. Ao final do estudo, os achados demonstraram que durante uma infecção respiratória aguda, a adição de oscilações ao MIE para fins de melhorar o manejo da secreção respiratória não reduzir o risco de procedimentos invasivos (por exemplo, broncoscopia ou traqueostomia) sendo necessária para a remoção de secreções. Além disso, não foram encontradas diferenças em 1 ano sobrevida entre os grupos MI-E e MI-E+O.
Fonte: Elaborado pelas autoras em outubro de 2022.

  1. DISCUSSÃO

Diante desta revisão sistemática, o estudo de Rafiq, Et al. (2015), afirma que o uso de MIE pode gerar mais casos de infecção torácica do que o uso de Breath Stacking. A sobrevida mediana no grupo Breath Stacking foi de 535 dias e 266 dias no grupo MI-E. Assim como no estudo de Sancho, Et al. (2020) no qual, os achados demonstraram que durante uma infecção respiratória aguda, a adição de oscilações ao MI-E para fins de melhorar o manejo da secreção respiratória não reduz o risco de procedimentos invasivos (por exemplo, broncoscopia ou traqueostomia) sendo necessária para a remoção de secreções. Além disso, não foram encontradas diferenças em 1 ano na sobrevida entre os grupos MI-E e MI-E+O.

Para Lacombe, Et al (2014), o que obteve maior resultado na PCF foi a insuflação por respiração com pressão positiva intermitente (RPPI) combinada com MAC, quando comparada à MI-E + MAC ou MI-E sozinho. Chegando a uma conclusão de que a adição do dispositivo MI-E ao MAC não é útil em pacientes cujo PCF com técnica de insuflação e MAC excede 5 litros/s. Isso ocorre porque o fluxo expiratório produzido pelo esforço do paciente e MAC ultrapassa transitoriamente a capacidade de vácuo do dispositivo MI-E, tornando-se, portanto, uma carga transitória contra o PCF.

Del Amo Castrillo, Et al. (2019), constatou no seu estudo que o PCF aumenta mais com o uso de VCM quando comparado ao uso de Breath Stacking por reproduzir maior capacidade inspiratória.

Kim, Et al. (2016),confirma os resultados de estudos anteriores sobredispositivos MI-E, como por exemplo o estudo de Lemoine TJ, et. Al. 2012, que discorre sobre essas técnicas para promoção da tosse e do crescimento da depuração mucociliar que vem sendo designados como os principais tratamentos para pacientes com DNM para a deterioração respiratória aguda e também utilizado de forma proativa, constatando o benefício clínico do MI-E em indivíduos que vivem com DNM.

O mesmo autor, este, consolida a afirmação acima, ao realizar um estudo com 40 pacientes, utilizando impulso manual após uma manobra MIC, MI-E e MI-E em combinação com impulso manual. Como resultado, o PCF médio no estado não assistido foi de 95,7 L/min, após auxílio manual e manobra de MIC, o PCF foi de 155,9 L/min, após MI-E sozinho, o PCF foi de 177,2 e MI-E em combinação com empuxo manual, o PCF foi de 202,4 L/min. Todas as três intervenções melhoraram significativamente o PCF. No entanto, a assistência manual após uma manobra MIC foi significativamente menos eficaz do que MI-E sozinho. O impulso manual mais MI-E foi significativamente mais eficaz do que ambas as intervenções.

Para fisioterapia respiratória é necessário um cuidado especial com medidas de remoção de muco e secreções das vias aéreas ou até mesmo ventilação mecânica não invasiva (VNI) positiva ou mesmo a ventilação mecânica invasiva, visando prevenir e reduzir a deformidade da parede torácica, melhorar o funcionamento e desenvolvimento pulmonar, reduzindo a dispneia. (BRASIL, 2019). Segundo o mesmo, a ventilação invasiva, normalmente com uso de cânula de traqueostomia, é uma opção para os pacientes em que a VNI não é efetiva. Essa decisão deve ser tomada considerando-se o estado clínico, prognóstico e qualidade de vida do paciente, baseada em uma discussão com a família.

  1. CONCLUSÃO

Segundo os resultados da nossa revisão sistemática, apesar de que o uso de MI-E poder gerar mais casos de infecção torácica quando comparada ao uso de Breath Stacking, o impulso manual + MI-E foi significativamente mais eficaz do que as intervenções de assistência manual + MIC que foi significativamente menos eficaz do que MI-E sozinho. Obteve-se também um maior resultado na PCF com a insuflação por respiração com pressão positiva intermitente (RPPI) combinada com MAC, quando comparada ao uso de MI-E + MAC ou MI-E sozinho, e com o uso de VCM quando comparada a Breath Stacking por reproduzir maior capacidade inspiratória.

Ou seja, o tradicional manejo para a desobstrução de vias aéreas realizados pela Fisioterapia Intensiva, juntamente com o ventilador e a tosse assistida pode ser mais trabalhoso ao profissional e cansativo ao paciente, mas ainda não pode ser descartado e reformulado para uma desobstrução de vias aéreas e dispositivos de tosse de forma completamente assistida e mecânica.

RELATIONSHIP BETWEEN ASSISTED COUGH AND THE RESPIRATORY FRAMEWORK OF PATIENTS WITH NEUROMUSCULAR DISEASES: A SYSTEMATIC REVIEW

Luana Brito Galvão De Almeida Samyres Maria Dos Santos Leader: Teacher Ma. Christiane Lopes Xavier

ABSTRACT

Acute respiratory failure (ARI) can frequently occur in patients with acute or chronic neuromuscular diseases (NMDs). With disease progression, weight loss and muscle weakness, individuals with NMD have difficulty coughing and expelling respiratory secretions efficiently, requiring multidisciplinary care. Objective: The current study focuses on presenting a comparison between the relationship between assisted coughing and the respiratory condition of patients with neuromuscular diseases. Methodology: This is a systematic review, in which the narrative synthesis was carried out through articles selected from the Cochrane, PUBMED, PEDro databases. we included randomized controlled trials (RCTs), quasi-RCTs and randomized crossover trials, full-text studies without language and publication date restrictions in this review. Regarding the type of participants, we included adults, adolescents and children diagnosed with neuromuscular disease. Results: The five articles included were complete published articles, three of which were randomized crossover clinical trials and two randomized prospective clinical trials. Participants were adults and children (total of 174) with a variety of NMDs, ranging in age from 3 to 73 years. Conclusion: According to the results of our systematic review, the traditional management for airway clearance performed by Intensive Physiotherapy, together with the ventilator and assisted coughing, can be more labor intensive for the professional and tiring for the patient, but it still cannot be discarded and reformulated for fully assisted and mechanical airway clearance and coughing devices.

Keywords: Neuromuscular Diseases, Cough Assist Therapy, Insufflation Mechanical Exsufflation.

REFERÊNCIAS

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GLOSSÁRIO

ELA – Esclerose lateral Amiotrófica

PEmáx – pressão expiratória máxima

VNI – ventilação mecânica não invasiva

IRA – insuficiência respiratória aguda

DNMs: doenças neuromusculares agudas ou crônicas

ECRs – revisão ensaios clínicos randomizadoS

PCF – Pico de fluxo de tosse;

VCM – Modo de tosse volumétrica;

MIC – Capacidade máxima de insuflação;

MAC – tosse assistida manualmente;

RPPI – Respiração com pressão positiva intermitente;

MI-E – Insuflação e exsuflação mecânica;

MI-E+O – Insuflação e exsuflação mecânica + Oscilações;

BREATH-STACKING – consiste em realizar 2 ou mais insuflações consecutivas no ventilador sem expirar;