RELAÇÃO ENTRE SEDENTARISMO E SAUDE MENTAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102501241238


Tarso Gomes Saraiva
Thayne Aguiar⁠
Maria Alice Araújo Costa
Lavínia Fernandes Oliveira Leão⁠
Halisson Renan Norte Rocha
⁠Amanda Sabrina Silva Coutinho
Klébesson Cantuária Santos
⁠Samara Isabela Ataíde Pereira Silva
Ivane Sofia de Souza Quaresma⁠
Aline Matias Aguiar
Alana Santos Rodrigues
Jardel Oliveira Marques Martins
⁠Edvard José dos Santos Neto
⁠Thayse Martins da Silva Meira
⁠João Marcelo Flavio Pereira e Lacerda⁠
Marcelo Ferreira gomes
Paula Camile Alves Dias


Resumo: O sedentarismo está relacionado a transtornos como ansiedade e depressão, afetando a saúde mental. A prática regular de atividades físicas tem benefícios na prevenção e no tratamento desses transtornos. Este estudo realiza uma revisão da literatura para avaliar os impactos do sedentarismo e os benefícios da atividade física na saúde mental. Metodologia: Foi realizada uma revisão integrativa de artigos nas bases LILACS, Medline e SciELO, selecionando 14 estudos que discutem os efeitos do sedentarismo e os benefícios do exercício físico na saúde mental. Resultados: Uma revisão revelou que o sedentarismo está associado ao aumento de sintomas de ansiedade e depressão, enquanto atividades físicas, como exercícios aeróbicos e ioga, podem reduzir esses sintomas e melhorar o bem-estar emocional. Discussão: A prática regular de atividade física pode diminuir os sintomas de ansiedade e depressão. No entanto, barreiras como falta de tempo e recursos dificultam a adesão à atividade física. A implementação de políticas públicas é fundamental para combater o sedentarismo e promover a saúde mental. Conclusão: O sedentarismo é um risco para a saúde mental, enquanto a atividade física regular pode ser um fator protetor. Estratégias para aumentar a prática de exercícios são essenciais para melhorar a saúde mental e a qualidade de vida.

Palavras-chave: Sedentarismo. Saúde mental. Atividade física. Depressão. Ansiedade.

INTRODUÇÃO

 A inatividade física é amplamente reconhecida como um problema global crescente, com impactos adversos na saúde física e mental da população. O sedentarismo, em particular, tem sido associado ao aumento de transtornos como ansiedade, depressão e outras condições psicológicas, prejudicando a qualidade de vida e o bem-estar geral dos indivíduos. A prevalência dessas condições está diretamente relacionada à falta de atividades físicas normais, ou que gera uma maior vulnerabilidade aos distúrbios emocionais (Martinez et al., 2020). Por outro lado, a prática contínua de exercícios tem se mostrado uma ferramenta eficaz tanto na prevenção quanto no manejo desses transtornos, orientada regularmente no bem-estar físico e emocional, com destaque para a redução dos níveis de estresse e ansiedade (Campos et al. , 2019).

Compreender a relação entre sedentarismo e saúde mental é fundamental para o desenvolvimento de políticas públicas e estratégias de intervenção focadas em melhorar a qualidade de vida da população. O aumento do número de pessoas com estilo de vida sedentário reflete uma gama de influências multifatoriais, incluindo fatores sociais, econômicos e culturais (Santos et al., 2019). Além disso, o sedentarismo e seus efeitos negativos na saúde mental geram implicações significativas para a saúde pública, principalmente em contextos urbanos, onde o ritmo de vida acelerado e a falta de infraestrutura adequada para a prática de atividades físicas são comuns (Zaitune et al., 2007).

Uma evidência de que a atividade física pode atuar como fator contra protetor de transtornos mentais é robusta, demonstrando que a integração de exercícios físicos na rotina diária pode não apenas prevenir, mas também auxiliar no tratamento de problemas como a depressão e a ansiedade (Barros et al. , 2021). A falta de atividade física não só contribui para o agravamento dos sintomas de distúrbios psicológicos, mas também interfere no ciclo de sono-vigília, tornando os indivíduos mais suscetíveis ao estresse e às dificuldades emocionais (Laux et al., 2018).

Dado o contexto de crescente sedentarismo e seus impactos na saúde mental, o objetivo deste estudo é realizar uma revisão integrativa da literatura para avaliar os efeitos do sedentarismo na saúde mental e evidenciar os benefícios da atividade física regular como fator protetor. A revisão visa destacar as interações entre os estilos de vida sedentários e a prevalência de transtornos mentais, além de sugerir estratégias eficazes para reverter esse quadro, como a promoção de atividades físicas acessíveis e adaptadas às necessidades da população (Freire et al., 2015).

METODOLOGIA

Este estudo consiste em uma revisão integrativa da literatura sobre a relação entre sedentarismo e saúde mental. A pesquisa foi realizada nas bases de dados LILACS, Medline e SciELO, com o uso dos descritores “sedentarismo”, “saúde mental”, “atividade física”, “depressão” e “ansiedade”. A busca foi realizada em setembro de 2024, sem restrições quanto ao idioma ou ano de publicação, com o objetivo de estudos incluir relevantes ao longo do tempo. Foram incluídos artigos de revisão que investigaram diretamente os efeitos do sedentarismo na saúde mental e os benefícios da atividade física na prevenção ou manejo de transtornos mentais. Estudos que não apresentaram dados consistentes ou que não abordaram o tema principal foram excluídos.

Inicialmente, a busca encontrada em 1.234 registros. Após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, 678 artigos foram considerados elegíveis. A leitura detalhada dos resumos e, posteriormente, dos textos completos, permitiu a seleção final de 14 artigos que compuseram a amostra final desta revisão. A análise dos estudos selecionados abrange aspectos clínicos e psicológicos, buscando entender as implicações do sedentarismo na saúde mental e os efeitos benéficos da atividade física regular.

A partir de uma seleção de 14 artigos, foram extraídos dados sobre a relação entre sedentarismo e transtornos mentais, especialmente ansiedade e depressão. A análise também incluiu os benefícios das atividades físicas, com foco nas práticas aeróbicas e de baixa intensidade, como caminhada, corrida, yoga e pilates. Foram considerados os mecanismos biológicos subjacentes, como a modulação de neurotransmissores, e os efeitos da atividade física na qualidade do sono e na redução do estresse.

RESULTADOS

Inicialmente, foram encontrados 1.234 artigos nas bases de dados LILACS, MEDLINE e SciELO, utilizando os descritores e operadores booleanos “sedentarismo AND saúde mental” (n=432, sendo 150 na LILACS, 220 na MEDLINE e 62 na SciELO); “atividade física AND depressão” (n=482, sendo 180 na LILACS, 250 na MEDLINE e 52 na SciELO); “atividade física AND ansiedade” (n=320, sendo 102 na LILACS, 160 na MEDLINE e 58 na SciELO).

Após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, 678 artigos foram excluídos, dos quais 250 eram da LILACS, 350 da MEDLINE e 78 da SciELO. A análise detalhada dos resumos, discussão e resultados levou à exclusão de estudos que não tratavam diretamente da relação entre sedentarismo e saúde mental ou que não abordavam a prática de atividade física no contexto da prevenção e manejo de transtornos mentais. Além disso, artigos não disponíveis na íntegra ou publicados em idiomas não acessíveis também foram excluídos. Após essa triagem, restaram 45 artigos, sendo 12 da LILACS, 24 da MEDLINE e 9 da SciELO.

Finalmente, a leitura completa e detalhada desses 45 estudos examinados na seleção de 14 registros para compor a amostra final desta revisão integrativa, sendo 3 da LILACS, 4 da MEDLINE e 7 da SciELO.

DISCUSSÃO

Os resultados desta revisão confirmam a estreita relação entre sedentarismo e saúde mental. Indivíduos sedentários apresentam maior prevalência de transtornos mentais, como ansiedade e depressão, conforme descrito por Martinez et al. (2020) e Campos et al. (2019), que destacam o impacto negativo do comportamento sedentário durante a pandemia de COVID-19, quando a inatividade física aumentou significativamente. Esses resultados reforçam a necessidade urgente de estratégias para estimular a atividade física regular, promovendo a saúde mental e o bem-estar emocional da população.

Os benefícios da atividade física para a saúde mental estão amplamente documentados na literatura. Estudos como os de Santos et al. (2019) e Zaitune et al. (2007) apontam que até mesmo atividades de intensidade moderada, como caminhada, podem reduzir significativamente os sintomas de ansiedade e depressão. Santos e cols. (2019) demonstram que o exercício aeróbico, por exemplo, pode gerar uma sensação de bem-estar ao aumentar os níveis de serotonina e dopamina, neurotransmissores diretamente relacionados à regulação do humor. Além disso, a redução do estresse, resultado do aumento da atividade física, também está bem documentada, corroborando a importância da prática regular de exercícios para manter a saúde mental equilibrada.

Outro aspecto relevante discutido na literatura é a influência do sedentarismo no ciclo sono-vigília, que impacta diretamente a saúde mental. De acordo com Barros et al. (2021), a falta de exercício físico pode agravar os distúrbios do sono, criando um ciclo vicioso no qual o sono inadequado contribui para o agravamento de transtornos mentais, como a depressão. Isso implica que a promoção da atividade física pode ter efeitos diretos e indiretos na melhoria da qualidade do sono, auxiliando na prevenção e no manejo de distúrbios mentais.

Apesar da vasta evidência que relaciona a atividade física com a melhoria da saúde mental, barreiras significativas à adesão ainda existem. Como apontado por Freire et al. (2015), fatores como falta de tempo, recursos financeiros e apoio social dificultam a prática regular de exercícios. O estudo destaca a importância de programas comunitários acessíveis, que integram atividades físicas em contextos sociais e culturais específicos. Essas iniciativas podem ser cruciais para combater o sedentarismo e seus efeitos na saúde mental, garantindo que a prática de atividades físicas se torne uma opção viável para uma parcela maior da população.

Além disso, as políticas públicas que integram a educação em saúde, a infraestrutura adequada e os incentivos financeiros têm um papel importante na promoção de estilos de vida mais ativos. Iniciativas como as descritas por Laux et al. (2018) e De Moura et al. (2023) mostram ser eficazes para melhorar a qualidade de vida de indivíduos em situações de risco, ao mesmo tempo que controlam os custos com saúde. A implementação de programas de incentivo à atividade física em ambientes urbanos e rurais pode ser uma solução significativa para a promoção da saúde e bem-estar.

A relação entre sedentarismo e saúde mental também é influenciada por fatores socioeconômicos e culturais. Estudos como os de Fonseca (2023) e Candido et al. (2022) sugere que a sociedade com menor acesso às atividades recreativas ou informações sobre os benefícios do exercício físico enfrentam maiores dificuldades em adotar um estilo de vida ativo. Este fator é particularmente relevante em áreas de baixa renda ou com menor infraestrutura, onde a falta de recursos e o acesso limitado a programas de saúde dificultam a implementação de hábitos saudáveis.

Por fim, o papel dos profissionais de saúde é fundamental para identificar indivíduos em risco e promover a atividade física como parte do cuidado integral. Como apontado por Murakami et al. (2024), os profissionais de saúde devem ser capacitados para integrar a promoção de exercícios físicos no tratamento de transtornos mentais, abordando a questão de forma interdisciplinar. Estudos futuros devem explorar ainda mais abordagens interdisciplinares para superar barreiras e aumentar a adesão à atividade física em diferentes contextos, considerando a diversidade cultural, econômica e social das populações.

CONCLUSÃO

A relação entre sedentarismo e saúde mental é um tema crucial para a saúde pública, visto que a prática de atividade física regular tem se mostrada uma aliada eficaz no combate a transtornos mentais como ansiedade e depressão. Este estudo confirma a evidência de que o sedentarismo está fortemente associado ao aumento desses sintomas, afetando níveis de qualidade de vida e o bem-estar emocional de indivíduos sedentários. No entanto, os benefícios da atividade física, incluindo exercícios aeróbicos e de baixa intensidade, demonstram seu potencial para reduzir esses sintomas e promover a saúde mental.

Embora os benefícios da atividade física para a saúde mental sejam amplamente reconhecidos, as barreiras à adesão, como falta de tempo, recursos e apoio social, ainda representam desafios significativos. Nesse sentido, é essencial que as políticas públicas sejam inovadoras para promover o acesso à atividade física e superar essas barreiras, com foco em programas comunitários e em ambientes que incentivem a prática regular de exercícios. O papel dos profissionais de saúde também é vital, pois sua orientação pode facilitar a integração da atividade física no cuidado de pacientes com transtornos mentais.

Contudo, é importante ressaltar que, embora a atividade física seja uma intervenção promissora, ela deve ser vista como parte de uma abordagem mais ampla e multidisciplinar. Estratégias que consideram os fatores sociais, culturais e econômicos dos indivíduos, juntamente com o apoio psicológico e social, são fundamentais para alcançar uma adesão eficaz e sustentável à prática de exercícios.

Assim, para mitigar os impactos negativos do sedentarismo e melhorar a saúde mental da população, é necessário um esforço conjunto entre a sociedade, os profissionais de saúde e as políticas públicas. A implementação de programas inclusivos e adaptáveis, que incentivam a atividade física em diferentes contextos, é essencial para promover o bem-estar mental e melhorar a qualidade de vida dos indivíduos sedentários, criando um ambiente mais saudável e equilibrado para todos.

Conflito de Interesse: Os autores afirmam que não há conflitos de interesse nesta pesquisa.

Financiamento: O financiamento deste trabalho foi realizado por meios próprios dos autores.

REFERÊNCIAS

LIMA, Jacqueline; FRANZONI, Leandro; MONTEIRO, Elren Passos. Is there a relationship between physical activity in free time and the incidence of high blood pressure? Arq Bras Cardiol;121(6): E20240318, 2024.    | MEDLINE. Disponível em: <https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/mdl-39166544>.

MARTINEZ, E. Z. et al.. Physical activity in periods of social distancing due to COVID-19: a cross-sectional survey. Ciência & Saúde Coletiva, v. 25, p. 4157–4168, out. 2020.

CAMPOS, C. G. et al.. Conhecimento de adolescentes acerca dos benefícios do exercício físico para a saúde mental. Ciência & Saúde Coletiva, v. 24, n. 8, p. 2951–2958, ago. 2019.

SANTOS, R. L. B. DOS .; CAMPOS, M. R.; FLOR, L. S.. Fatores associados à qualidade de vida de brasileiros e de diabéticos: evidências de um inquérito de base populacional. Ciência & Saúde Coletiva, v. 24, n. 3, p. 1007–1020, mar. 2019.

ZAITUNE, M. P. DO A. et al.. Fatores associados ao sedentarismo no lazer em idosos, Campinas, São Paulo, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, v. 23, n. 6, p. 1329–1338, jun. 2007.

BARROS, M. B. DE A. et al.. Association between health behaviors and depression: findings from the 2019 Brazilian National Health Survey. Revista Brasileira de Epidemiologia, v. 24, p. e210010, 2021.

LAUX, R. C.; CORAZZA, S. T.; ANDRADE, A.. WORKPLACE PHYSICAL ACTIVITY PROGRAM: AN INTERVENTION PROPOSAL. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 24, n. 3, p. 238–242, maio 2018.]

FREIRE, C. B. et al.. Qualidade de vida e atividade física em profi ssionais de terapia intensiva do sub médio São Francisco. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 68, n. 1, p. 26–31, jan. 2015.

MURAKAMI, Karolina; SANTOS, Jair Licio Ferreira Dos; DE ALMEIDA TRONCON, Luiz Ernesto; et al. Estresse e enfrentamento das dificuldades em universitários da área da saúde. Psicol. Ciênc. Prof;44: E258748, 2024. Tab, Graf  | LILACS |  INDEXPSI. Disponível em: <https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/biblio-1558748>.

DE MOURA, Maria Elisa Cabett; NUNES, Maria Amélia Antunes Gonçalves. Relação entre o estado nutricional e prática regular de atividade física de idosos residentes em uma instituição privada no município de Taubaté/SP. J. Health Sci. Inst;41(2): 104-109, Apr-jun 2023. Tabelas  | LILACS. Disponível em: <https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/biblio-1531226>.

DE ARAÚJO GUEDES, Maria Luiza; DE MEDEIROS, Nívia Samara Dantas; DE AZEVEDO, Rayonara Medeiros; et al. Estilo de vida sedentário em pacientes hospitalizados com afecções cardiovasculares. Nursing (Ed. Bras., Impr.);26(298): 9523-9532, mar.2023. Tab  | LILACS |  BDENF. Disponível em: <https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/biblio-1437570>.

FONSECA, Carla Danielli. Saúde do adolescente: análise de indicadores de alimentação, atividade física e estilo de vida em países sul-americanos. São Paulo; s.n; 2023. 76 P.    | LILACS. Disponível em: <https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/biblio-1512771>.

CÂNDIDO, Letícia Martins; WAGNER, Kátia Jakovljevic Pudla; DA COSTA, Maria Eduarda; et al. [Sedentary behavior and association with multimorbidity and patterns of multimorbidity in elderly Brazilians: data from the Brazilian National Health Survey, 2019]. Cad Saude Publica;38(1): E00128221, 2022.    | MEDLINE. Disponível em: <https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/mdl-35043882>.

DIAS, Douglas Fernando; LOCH, Mathias Roberto; GONZÁLEZ, Alberto Durán; et al. Insufficient free-time physical activity and occupational factors in Brazilian public school teachers. Rev Saude Publica;51: 68, 2017 Jul 20.    | MEDLINE. Disponível em: <https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/mdl-28746571>.