RELATIONSHIPS BETWEEN THE INDISCRIMINATE USE OF NSAIDS AND RENAL IMPAIRMENT
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202411220825
Luana Fernandes Brito Rebouças Silva¹;
Natália Silva Batista²;
Pamera da Silva Santos Donato³.
Resumo
INTRODUÇÃO: A utilização de anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) é uma prática comum em diversos cenários clínicos, frequentemente motivada pela necessidade de alívio de condições como dor e inflamação, já que possuem ação analgésica, antipiréticas e anti-inflamatórias. Contudo, seu uso indiscriminado pode acarretar consequências, especialmente quando se trata de comprometimento renal. OBJETIVO: Analisar a prevalência do uso indiscriminado de AINEs e suas implicações renais em Unidade Básica de Saúde em Guanambi-BA. METODOLOGIA: Trata-se de um estudo transversal e descritivo com amostra de conveniência na UBS Eurivaldo Cardoso Vieira, em Guanambi-BA. Com uma análise dos dados por meio de cálculos de frequência absoluta (N) e relativa (%) das variáveis selecionadas. RESULTADOS E DISCUSSÃO: Diante da pesquisa foi observado predominância da faixa etária entre 26 e 40 anos, no qual as medicações de destaque foram o diclofenaco, a nimesulida e o ibuprofeno, sendo utilizados a fim de tratar dores articulares/musculares, cefaleias e cólica. CONCLUSÃO: Com as informações expostas no presente trabalho, sobre relação entre o uso indiscriminado de AINEs e comprometimento renal fica claro o quanto essas medicações são empregadas no cotidiano da população para alívio de sinais e sintomas de quadros de características principalmente aguda entre indivíduos laboralmente ativos, para redução de efeitos inflamatórios de diferentes patologias.
Palavras-chave: AINEs. Dor. Efeitos colaterais. Inflamação. Sistema renal.
Abstract
INTRODUCTION: The use of non-steroidal anti-inflammatory drugs (NSAIDs) is a common practice in various clinical settings, often motivated by the need to relieve conditions such as pain and inflammation, since they have analgesic, antipyretic and anti-inflammatory actions. However, their indiscriminate use can have consequences, especially when it comes to renal impairment. OBJECTIVE: To analyze the prevalence of indiscriminate use of NSAIDs and their renal implications in a Basic Health Unit in Guanambi-BA. METHODOLOGY: This is a cross-sectional, descriptive study with a convenience sample at the Eurivaldo Cardoso Vieira BHU in Guanambi-BA. The data was analyzed by calculating the absolute (N) and relative (%) frequencies of the selected variables. RESULTS AND DISCUSSION: The study found a predominance of people aged between 26 and 40 years old, and the most common medications were diclofenac, nimesulide and ibuprofen, used to treat joint/muscle pain, headaches and colic. CONCLUSION: With the information presented in this study on the relationship between the indiscriminate use of NSAIDs and kidney impairment, it is clear how much these medications are used in people’s daily lives to relieve the signs and symptoms of mainly acute conditions among people who work, to reduce the inflammatory effects of different pathologies.
KEYWORDS: NSAIDs. Pain. Side effects. Inflammation. Renal system.
1 INTRODUÇÃO
Os anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) são a classe de medicamentos mais utilizados, já que são facilmente obtidos, para o tratamento da dor de lesões teciduais, sendo os primeiros medicamentos escolhidos na escala de dor da OMS. Possuem ação analgésica, antipiréticas e anti-inflamatórias (SCHALLEMBERGER & PLETSCH, 2014). Grande parte da população faz uso de AINEs sem recomendação médica e desconhece os efeitos adversos e as interações medicamentosas, nesse sentido os números de casos de intoxicação são mais comuns em adultos e idosos (ALMEIDA et al., 2020).
Os AINEs são utilizados no tratamento de desconfortos de dor, distúrbios músculo-esqueléticos, controle de osteoartrite e artrite reumatoide, pois minimizam os sinais flogísticos como dor, calor, rubor, edema e perda de função. Esse medicamento tem como mecanismo de ação a inibição da ciclo-oxigenase que tem como consequência a inibição da prostaglandina, que é uma substância fundamental para o funcionamento fisiológica do organismo, já que é produzida por quase todas as células para auxiliar no controle do fluxo sanguíneo e ações inflamatórias (OLIVEIRA et al., 2019).
A ciclo-oxigenase é uma enzima responsável pela produção de metabólicos do ácido araquidônico, e envolve duas isoformas, COX-1 e COX-2, que irão ser transformadas em prostaglandinas, prostaciclinas e tromboxanos. A COX-1 é a isoforma constitutiva em grande parte dos tecidos, na qual controla o fluxo sanguíneo renal, hemostasia, protege a mucosa gástrica e funções cardiovasculares e autoimunes pela ação da prostaglandina. A COX-2 é induzida por processos inflamatórios a partir de estímulos de citocinas e endotoxinas para o controle de lesões e danos (WHALEN, FINKELL & PANAVELIL, 2016).
Ademais, o uso indiscriminado sem devida orientação médica pode acarretar diversas intercorrências no trato urinário, desde um problema menor como irritação da bexiga até problemas maiores como o agravamento da função renal, causando assim uma insuficiência renal aguda ou uma doença renal crônica, o que resulta em impacto na qualidade de vida dos indivíduos afetados.
Nesse sentido, essa temática escolhida possui relevância tanto do ponto de vista clínico quanto social, logo, esse estudo visa analisar a prevalência do uso indiscriminado de AINEs e suas complicações renais na Unidade Básica de Saúde Eurivaldo Cardoso Vieira, em Guanambi-BA, já que essa classe de medicamentos pode desencadear efeitos colaterais, como o comprometimento da função renal. Esses efeitos adversos são desconhecidos por grande parte da população e impactam na qualidade de vida dos indivíduos significativamente, sendo que são influenciados por fatores como a clínica do paciente e a frequência do uso. Dessa forma, é crucial desenvolver a pesquisa para analisar as implicações dessa prática.
O presente trabalho tem como objetivo geral analisar a prevalência do uso indiscriminado de anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) e o impacto no comprometimento renal em uma Unidade Básica de Saúde Eurivaldo Cardoso Vieira, localizada no município de Guanambi, Bahia. Para atingir esse objetivo, serão abordados objetivos específicos, entre os quais se destacam: identificar a faixa etária predominante entre os pacientes que utilizam AINEs, descrever as principais comorbidades associadas ao seu uso, investigar as razões que levam os pacientes a fazer uso recorrente dessas medicações, análise das principais classes de medicamentos anti-inflamatórios utilizados pelos pacientes e avaliar o tempo de tratamento com AINEs, considerando possíveis efeitos adversos no trato urinário e na função renal.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Anatomia do sistema urinário
O sistema renal é dividido em vias urinárias superiores (dois rins e dois ureteres) e vias urinárias inferiores (bexiga e uretra). É um sistema responsável pela filtração sanguínea, eliminação de substâncias tóxicas manutenção da hemodinâmica, regulação da pressão sanguínea (a partir do SRAA- sistema renina-angiotensina-aldosterona), ativação da vitamina D e participa da produção das hemácias a partir da síntese da eritropoetina (GUYTON & HALL, 2021).
No interior de cada rim há mais de 250.000 de néfrons, que são unidades funcionais do sistema renal, responsáveis pela realização da filtração plasmática. Esse processo de filtração inicia no glomérulo, que impede a passagem de macromoléculas, seguindo para os túbulos nos quais ocorre a eliminação e reabsorção de substâncias para manter a hemostasia do organismo (AGUR, DALLEY & MOORE, 2022).
Há algumas diferenças anatômicas entre a bexiga e uretra relacionados ao sexo biológico, sendo que a bexiga masculina consegue armazenar 100 a 150 ml a mais de urina além de possuir o comprimento da uretra maior em relação a feminina (GUYTON & HALL, 2021).
2.2 Anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs)
Os anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) são medicamentos utilizados para o tratamento da dor de lesões teciduais, sendo os primeiros escolhidos na escala de dor da OMS. Possuem 3 principais ações: antipirética, analgésica e anti-inflamatória. Eles propiciam o alívio de diversos sintomas, como febre, dores, cefaleias e são úteis no tratamento de dores odontológicas, pós-operatórias, menstruais, enxaqueca (RANG & DALE, 2020).
Esses medicamentos atuam inibindo as enzimas cicloxigenases (COXs), que são sintetizadas a partir da degradação do ácido araquidônico (AA) que, por sua vez, é convertido da síntese das prostaglandinas (PGs), tromboxanos (Tx) e prostaciclinas (PGI2) (SANTOS, FILHO & GUEDES, 2021). O AA é um importante precursor das PGs, é liberado dos fosfolipídios pela ação da fosfolipase A2. A partir do AA, há duas principais vias para a síntese de eicosanoides (prostanoides, leucotrienos e lipoxinas): a via da cicloxigenase e a via da lipoxigenase (WHALEN, FINKELL & PANAVELIL, 2016).
As PGs apresentam diversas ações variando de acordo com o tecido e as enzimas específicas daquela via. As prostaglandinas, PGD2, PGE2, PGF2α, permitem a vasodilatação e o edema. A prostaciclina (PGI2) tem função de vasodilatação e redução da agregação plaquetária. O tromboxano A2 (TxA2) é um vasoconstritor e aumenta a agregação plaquetária. Desse modo, esses mediadores prostanoides da inflamação produzem os sinais flogísticos como dor, calor, rubor, edema e perda de função (WHALEN, FINKELL & PANAVELIL, 2016).
Existem três isoformas, COX-1, COX-2, COX-3. A COX-1 é uma enzima constitutiva ou fisiológica que está presente em vários tecidos como os rins, o coração, as plaquetas e o estômago e exerce a função de manutenção do organismo, promovendo assim a homeostase dos tecidos. É responsável pela produção de prostaglandinas com funções protetora gástrica, agregação plaquetária, autorregulação do fluxo sanguíneo renal e no início do parto. A COX-2 é uma isoforma considerada indutiva, sendo evidenciada por células que participam do processo inflamatório, macrófagos, monócitos e sinoviócitos. É expressa de forma constitutiva no rim, produzindo prostaciclina, no qual possui papel na homeostase renal e no sistema nervoso central (SNC). A COX-3 é uma isoforma variante da COX-1, recém descoberta, que pode ser encontrada no SNC, no coração e na medula espinhal (RANG & DALE, 2020; SANDOVAL et al., 2017).
Apesar da potência dos AINEs ser relativa para cada isoforma da enzima COX, a maior parte dos AINEs (não-seletivos) inibe os dois tipos, COX-1 e COX-2. Considera-se que o efeito anti-inflamatório dos AINEs possui associação com a inibição da COX-2, e seus efeitos adversos surgem da inibição da COX-1. Nesse sentido, existem os AINEs seletivos para COX-2 (COXIBEs), que atuam normalmente na inflamação porém não causam tantos efeitos colaterais gastrointestinais, devido a disponibilidade da COX-1 no organismo, realizando sua função de proteção gástrica (RANG & DALE, 2020).
Os AINEs apresentam também outros possíveis mecanismos de ação, que incluem inibição da quimiotaxia, regulação negativa da produção de interleucina 1 (IL-1), produção reduzida de radicais livres e superóxido e mediação nos eventos intracelulares realizados pelo cálcio (KATZUNG & VANDERAH, 2023).
2.3 Uso indiscriminado dos AINEs
O uso incorreto dessa classe de medicamento pode desencadear alterações em diversas sistemas, como no sistema gastrointestinal (o mais comum) com manifestações de diarreia, úlceras e vômitos, mas é importante salientar que o acometimento renal é significativo com o uso indiscriminado deste medicamento (SANDOVAL, FERNANDES & SILVA, 2017).
Essa classe de medicamentos não necessita de prescrição médica para realizar a compra, o que acarreta falta de orientação para o uso correto e facilita o acesso, logo, contribui para o uso incorreto e indiscriminado desses fármacos. Além disso, é válido ressaltar que as propagandas desses medicamentos incentivam a automedicação sem a avaliação necessária, por afirmar a eficácia em diversas enfermidades, porém sem informações sobre as interações medicamentosas e efeitos adversos (SANTOS, ESCOBAR & RODRIGUES, 2021).
O uso indiscriminado a partir da automedicação pode desencadear prejuízos ao paciente, pois pode provocar reações alérgica, quadros de intoxicação, atrasar o diagnóstico e tratamento adequado, por minimizar e mascarar os sinais e sintomas por um curto período de tempo, o que pode evoluir para problemas mais graves como a internação ou óbito. Ademais, devido a ausência de uma avaliação médica, o paciente também pode realizar gastos desnecessários (LIMA & DUARTE, 2022).
2.4 Efeitos colaterais dos AINEs
As PGs exercem de maneira indireta uma ação nos músculos lisos vasculares colaborando para regulação do sistema cardiovascular, de modo que a prostaciclina (PGI2) está vinculada com o relaxamento e o tromboxano A2 (TxA2) com a contração desses músculos. Com resultado do uso dos AINEs, esse processo é dificultado, ocasionando consequências cardiovasculares, como infarto agudo do miocárdio, tromboembolismo, aumento da pressão arterial, fibrilação atrial, dentre outros. A taxa pode ser elevada em casos de pacientes com doenças cardiovasculares preexistentes (SANTOS & BERTOLLO, 2020).
As prostaglandinas (PGs) perdem seu efeito vasodilatador devido a inibição da COX pelos AINEs, o que causa um bloqueio no funcionamento renal levando a vasoconstrição e a redução na taxa de filtração glomerular. Assim, ocorre um prejuízo na filtração do sangue, reabsorção de nutrientes, controle da volemia, equilíbrio eletrolítico e pressão arterial. Dessa forma, o uso de AINEs podem levar a necrose tubular aguda, nefrite intersticial aguda, glomerulonefrite membrana, síndrome nefrótica, insuficiência renal crônica, hipertensão arterial sistêmica, hipercalemia e retenção hidrossalina. Além disso, os AINEs podem causar uma doença renal crônica, devido a perda progressiva da função dos rins (SIQUEIRA et al., 2020).
Os AINEs promovem a liberação de citocinas pró-inflamatórias, uma vez que impossibilita o efeito inibitório das PGs sobre os linfócitos T, proporcionando a ativação constante dessas células. Além disso, aumentam a síntese dos leucotrienos pró-inflamatórios devido ao deslocamento do ácido araquidônico para a via das lipoxigenases (MELGAÇO et al., 2010).
3 METODOLOGIA
Trata-se de um estudo transversal e descritivo com amostra de conveniência na UBS Eurivaldo Cardoso Vieira, em Guanambi-BA, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa. A população do estudo foi constituída de pacientes, maiores de 18 anos, de ambos os sexos, cadastrados na unidade. Foram incluídos pacientes e voluntários que fazem uso indiscriminado de AINEs que aceitaram participar do estudo voluntariamente e assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para preencher o questionário com 26 perguntas objetivas. O estudo garantiu a privacidade e a confidencialidade de todas as informações dos participantes.
Os dados coletados foram registrados, organizados e analisados por meio do software Microsoft Office Excel® (2019). Foi realizada uma análise dos dados por meio de cálculos de frequência absoluta (N) e relativa (%) das variáveis selecionadas, os quais foram apresentados na forma de gráficos e tabelas.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A pesquisa investigou uma amostra de 40 participantes da UBS Eurivaldo Cardoso Vieira. É válido ressaltar que a coleta de dados não foi igualitária entre os gêneros, como visto na Tabela 1, sendo que a divisão entre os participantes entrevistados foi 28 pessoas do sexo feminino, correspondente a 70% da amostra, e 12 pessoas do sexo masculino, correspondente a 30% da amostra. Por conta disso, essa diferença entre a quantidade gênero entrevistado influenciaram nos dados obtidos, na construção dos gráficos e na análise das variáveis.
Tabela 1 – Participação dos entrevistados de acordo com gênero
Gênero | Frequência Absoluta | Frequência Relativa | Porcentagem (%) |
Feminino | 28 | 0,7 | 70 |
Masculino | 12 | 0,3 | 30 |
Total | 40 | 1,00 | 100 |
Na análise da variável dos principais medicamentos utilizados é importante salientar que era possível o participante escolher mais de uma alternativa. Conforme dados referentes a Tabela 2 e o Gráfico 1, é possível observar na amostra do estudo que houve a maior participação na faixa etária entre 26 a 40 anos, correspondente a 40%, sendo os medicamentos mais utilizados por esse grupo o diclofenaco, nimesulida e ibuprofeno. Já faixa etária entre 41 a 60 anos (30% da amostra) e os indivíduos acima de 60 anos (22,5% da amostra) demonstraram um maior uso de diclofenaco e ácido acetilsalicílico. Outrossim, o grupo mais jovem, de 18 a 25 anos, foram menos incidentes, equivalente a 7,5%, com o uso moderado e com poucas menções a nimesulida e ibuprofeno. Portanto, é possível observar que apesar da maioria dos participantes estar concentrada nas faixas intermediárias de idade, o diclofenaco e nimesulida foram os AINEs mais prevalentes entre os participantes, independentemente da idade.
Tabela 2 – Participação dos entrevistados de acordo com a faixa etária
Faixa etária | Frequência Absoluta | Frequência Relativa | Porcentagem (%) |
18-25 anos | 3 | 0,075 | 7,5 |
26-40 anos | 16 | 0,4 | 40 |
41-60 anos | 12 | 0,3 | 30 |
Acima de 60 anos | 9 | 0,225 | 22,5 |
Total | 40 | 1,00 | 100 |
Gráfico 1 – Participação dos entrevistados de acordo com os principais AINEs utilizados por cada faixa etária.
Relativo aos dados do gráfico 1, corrobora Katzung & Vanderah (2023) sendo observado que AINEs como diclofenaco e nimesulida são frequentemente utilizados para o manejo de dores agudas e crônicas, especialmente em adultos com estilos de vida ativos laboralmente, o que reflete a maior prevalência do uso da faixa etária entre 26 a 40 anos.
Referente a tabela 2, os dados encontrados da participação de idosos no uso de AINEs contou com um resultado menor que o esperado, visto que nessa faixa etária as condições crônicas são mais comuns. Segundo estudos de Almeida et al. (2020), o consumo de AINEs por automedicação costuma ocupar efetivamente um lugar de destaque entre os idosos, considerando que o seu consumo está relacionado ao tratamento da dor e inflamação, sintomas comuns nessa fase. Esse padrão pode ser explicado pela prevalência de condições inflamatórias e dolorosas que surgem ou se agravam com o avanço da idade, como lesões musculares, dores articulares e condições crônicas em adultos jovens, conforme o padrão visto no estudo de Lima & Duarte (2022) o uso desses medicamentos para alívio rápido de sintomas.
Vale destacar que os principais medicamentos utilizados pelas faixas etárias entre 41 a 60 anos e acima de 60 anos o uso de diclofenaco e ácido acetilsalicílico (AAS) foi mais comum, o que pode ser confirmado nos estudos de Melgaço et al. (2010) e Oliveira et al. (2019), que apontam que o diclofenaco é mais eficaz no controle da dor crônica em adultos mais velhos e o AAS promove a ação antiplaquetária para prevenir complicações cardiovasculares, o que justifica o uso nessas faixas etárias.
Pelo cálculo da prevalência, foi demonstrado que apenas 7,5% dos participantes fazem uso crônico de AINEs, em contrapartida os que não realizam o uso crônico tiveram prevalência de 92,5%. Essa diferença sugere que a maioria dos participantes utiliza AINEs de forma esporádica ou para tratamentos de curto prazo, o que pode estar relacionado a condições temporárias de dor ou inflamação. É importante salientar que para os usuários crônicos é crucial uma avaliação médica cuidadosa, devido aos possíveis efeitos colaterais a longo prazo associados ao uso frequente de AINEs.
Esse padrão pode indicar que os AINEs são amplamente utilizados para o alívio de dores ou inflamações temporárias, o que está em consonância com as observações de Lima & Duarte (2022) sobre a automedicação e o uso pontual de AINEs para tratar sintomas agudos. A facilidade de acesso a esses medicamentos contribui para essa tendência, principalmente em faixas etárias intermediárias, que fazem uso mais frequente de AINEs para condições inflamatórias temporárias, conforme discutido por Pedroso & Batista (2017).
Na análise dessa variável é importante salientar que era possível o participante escolher mais de uma alternativa. A partir disso, o Gráfico 3 revela que a maioria dos participantes não se automedica, mas entre os que o realizam essa prática, 11 participantes, correspondente a frequência relativa de 27,5% dos entrevistados, alegaram que fazem a automedicação por orientação de farmacêuticos e balconistas, sendo destaque para o principal motivo da automedicação. Outros dois fatores relevantes para automedicação são a falta de tempo para buscar assistência médica e influência familiar.
Gráfico 3 – Participação dos entrevistados de acordo com indicação para automedicação
A automedicação com AINEs com indicação dos farmacêuticos é a mais prevalente em nosso estudo, e como Katzung & Vanderah (2023) destacam que, apesar de os farmacêuticos terem um conhecimento técnico sobre medicamentos, a ausência de uma prescrição médica adequada pode resultar no uso indiscriminado de AINEs, sem a consideração de contra indicações ou possíveis interações medicamentosas, o que pode potencializar o desenvolvimento de efeitos colaterais e agravos na saúde. Além disso, a agilidade e conveniência de comprar AINEs diretamente em farmácias sem necessidade de consulta médica são aspectos que, segundo Lima & Duarte (2022), favorecem essa prática da automedicação. E no caso da indicação de amigos e familiares é mais preocupante, já que frequentemente não têm o conhecimento necessário para recomendar o uso seguro desses fármacos, como dito em Schallemberger & Pletsch (2014), que ressaltam os riscos do uso não supervisionado de anti-inflamatórios. Nesse sentido, a prática da automedicação por indicações não médicas aumentam os possíveis efeitos colaterais e podem mascarar o desenvolvimento de condições mais graves.
Observou-se que apesar de 40% dos participantes relataram ter conhecimento acerca dos efeitos colaterais do uso de AINEs e dos riscos da automedicação. Entretanto, 12,5% destes pacientes concordam que, ainda assim, esses medicamentos devem ser vendidos sem prescrição médica, o que corrobora com os resultados encontrados na adesão a outras indicações para o uso de AINEs além da prescrição médica. Esse dado reflete um problema frequente na prática da automedicação, onde o conhecimento sobre os perigos nem sempre resulta em comportamentos mais cautelosos. Como discutido por Lima & Duarte (2022), o fácil acesso a AINEs, associado à automedicação, contribui para o uso inadequado desses fármacos, muitas vezes sem supervisão médica.
É importante reafirmar que na amostra houve maior participação de mulheres, correspondente a 70% da amostra, e partir da análise dos dados obtidos demonstrados no Gráfico 4, foi observado que as mulheres utilizam AINEs com mais frequência que os homens para tratar condições como dor articular/muscular, cefaleia e cólicas, o que revela uma tendência maior ao uso de AINEs para diferentes tipos de dor e desconforto pelo sexo feminino. Essa disparidade pode estar ligada a diferenças biológicas, culturais ou até comportamentais entre os gêneros, refletindo as necessidades específicas e padrões de cuidado de saúde de cada grupo. É válido ressaltar que o uso para finalidade do controle da dor articular/muscular e cefaleia foram os mais prevalentes em ambos os sexos. Em relação à finalidade do uso, cada participante pode escolher mais de uma alternativa.
Gráfico 4 – Participação dos entrevistados de acordo com gênero e a finalidade do uso de AINEs.
Katzung & Vanderah (2023) afirmam também que as mulheres, por questões hormonais e fisiológicas, podem ser acometidas a certas condições dolorosas específicas do gênero, como a maior prevalência de enxaqueca e a presença de dismenorreia, que frequentemente demanda o uso de AINEs para alívio de cefaleias e controle de cólicas menstruais, respectivamente. Conforme discutido em Schallemberger e Pletsch (2014), que apontam que o uso frequente de anti-inflamatórios têm maior prevalência em situações de dor decorrente, foi semelhante com o resultado encontrado neste estudo já as principais finalidades de usos de AINEs são para dores de comorbidades frequentes.
5 CONCLUSÃO
Com as informações expostas no presente trabalho, sobre relação entre o uso indiscriminado de AINEs e comprometimento renal fica claro o quanto essas medicações são empregadas no cotidiano da população para alívio de sinais e sintomas de quadros de características principalmente aguda, podendo assim, comprometer a saúde dos indivíduos.
Nesse sentido, observa-se que a amostra analisada apresentou como principal faixa etária para o uso de AINEs os indivíduos entre 26 a 40 anos, no qual o diclofenaco, a nimesulida e o ibuprofeno foram as medicações mais prevalentes pelos usuários. Sendo assim, é importante ressaltar que essa classe de medicamentos são a primeira escolha na escala da dor na OMS, visto que são utilizados em presença de dores aguda e crônicas, comuns entre indivíduos laboralmente ativos, para redução de efeitos inflamatórios de diferentes patologias.
O desenvolvimento do presente estudo possibilitou uma análise acerca da prevalência de uso de AINEs na população, sendo expressivo sua utilização em mulheres para tratar condições, como dor articular/muscular, cefaleia e cólica, o que corrobora com questões hormonais e fisiológicas específicas do sexo feminino e com características de quadros mais agudos. Contudo, esse resultado significativo pode ter sido observado devido um maior predomínio de mulheres entrevistadas durante a pesquisa.
E apesar da maioria dos participantes não realizarem a automedicação, os 27,5% dos entrevistados relataram que fazem a automedicação por orientação de farmacêuticos e balconistas, o que pode acarretar prejuízos à saúde do paciente, por mascarar sintomas por um curto período, e ocasionar em gastos desnecessários.
Além disso, apesar de comprovado prejuízo no sistema renal pelo uso indiscriminado dos AINEs, diante a amostra analisada, não foi possível obter uma grande relevância dessa relação nos pacientes entrevistados, devido a quantidade de indivíduos escolhidos para compor a amostra e por ser um local no qual os pacientes buscam assistência por múltiplas comorbidades e não um centro especializado para tratamento de acometimentos renais.
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WHALEN, K.; FINKELL, R.; PANAVELIL, T. A. Farmacologia ilustrada. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016.
¹Discente do Curso Superior de Medicina das Faculdades Integradas Padrão – FIP Campus Guanambi. E-mail: luana.silva@aluno.fip-gbi.edu.br
²Discente do Curso Superior de Medicina das Faculdades Integradas Padrão – FIP Campus Guanambi. E-mail: natalia.batista@aluno.fip-gbi.edu.br
³Docente do Curso Superior de Medicina das Faculdades Integradas Padrão – FIP Campus Guanambi. Mestre em Biotecnologia (UFBA). E-mail: pamera.santos@fip-gbi.edu.br